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Marcadores identitários brasileiros aplicados aos acessórios de moda

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Academic year: 2020

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Jamile Schmitz Goulart

Marcadores Identitários Brasileiros

Aplicados aos Acessórios de Moda

Jamile Schmitz Goulart

Outubro de 2014 UMinho | 201 4 Mar cador es Identit ár ios Br asileir os

Aplicados aos Acessór

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Outubro de 2014

Dissertação de Mestrado

Mestrado em Design de Comunicação de Moda

Trabalho efetuado sob a orientação do

Professor Hélder Carvalho

e co-orientação da

Professora Rita Gonçalves Ribeiro

Jamile Schmitz Goulart

Marcadores Identitários Brasileiros

Aplicados aos Acessórios de Moda

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Declaro ter atuado com integridade na elaboração da presente dissertação. Confirmo que em todo o trabalho conducente à sua elaboração não recorri à prática de plágio ou a qualquer forma de falsificação de resultados.

Mais declaro que tomei conhecimento integral do Código de Conduta Ética da Universidade do Minho. Universidade do Minho, _____ de ___________ de _____ Nome completo: _____________________________________________________________ Assinatura: ___________________________________________________________________

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V

AGRADECIMENTOS

A experiência de dois anos de vida em Portugal certamente foi um dos mais enriquecedores episódios que tive em minha vida. Primeiramente pelo fato de ter a oportunidade de estudar numa das universidades mais conceituadas da Europa que é a Universidade do Minho. Além disso, poder conhecer outras realidades culturais, de viver num país com diferentes costumes, longe da família e dos amigos foi realmente uma experiência de muito aprendizado.

Dedico o meu eterno agradecimento aos meus estimados pais Ricardo e Marize por acreditarem incondicionalmente nos meus projetos, me apoiarem financeiramente e emocionalmente durante toda essa incrível experiência. Ao meu querido afilhado e sobrinho Victor que, apesar da distância física, sempre foi a demonstração viva de carinho e amor.

Agradeço a Universidade do Minho pela oportunidade que me foi dada de poder estudar em Portugal, aos meus orientadores Hélder Carvalho e Rita Ribeiro por todos os conhecimentos que me foram passados e toda a atenção que tiveram comigo em todos os momentos durante esta pesquisa. Agradeço também os demais professores que tive durante todo o mestrado, especialmente a professora Ana Cristina Broega, por todas as nossas conversas durante este período, que foram cruciais para a evolução desta pesquisa. Gostaria de agradecer também todas as 684 pessoas que se dispuseram a responder o inquérito aplicado nesta dissertação, o que proporcionou uma ampla avaliação do estudo que realizei.

Um especial agradecimento a minha querida prima Elenice por toda a ajuda e incentivo dado por ela desde quando tomei a decisão de estudar em Portugal, e também, pela agradável experiência de vivemos juntas durante todo o ano de 2013. Agradeço ao Sr. Álvaro e Sra. Eva, grandes amigos portugueses que fiz aqui, que sempre me trataram como uma filha. A todos os demais amigos que fiz em Portugal, foram muitos, impossível citar o nome de todos, mas um agradecimento em especial para Mariana Righetto, Francisco, Rafael, Layla, Camila, Maiara, Rayane, Lila, Mariana Araújo, Agatha, Ana Maria, Ivo, Thales, Luan, Maria Fernanda, Gabriela e Luís, que deixaram os meus dias mais leves e ajudaram a amenizar a dor da saudade que senti da família e dos amigos que deixei no Brasil para viver esta indescritível experiência

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VII

RESUMO

Com este trabalho pretende-se ampliar os conhecimentos sobre os acessórios femininos, desde a pré-história até a contemporaneidade, passando por um levantamento de informações sobre a evolução dos adornos femininos na cultura brasileira e as influências recebidas das diversas culturas que contribuíram para a formação do Brasil. Este levantamento tem por objetivo último identificar os marcadores identitários da cultura brasileira reconhecidos universalmente nos adornos corporais. Para tal, ainda se mostrou necessário obter informações sobre o mercado da moda e do consumo, bem como informações sobre a indústria criativa brasileira, design artesanal de acessórios e uma reflexão acerca do marketing internacional voltado ao mercado de moda e as ferramentas necessárias para que uma marca de moda desenvolva vantagens competitivas no mercado internacional.

O Brasil possui diversas influências culturais, assim como riquezas naturais, que podem ser aplicadas em adornos femininos. Assim, pretende-se identificar os marcadores identitários da cultura brasileira e dar início à pesquisa de matérias-primas de origem brasileira relevantes ao desenvolvimento de acessórios.

A partir das informações obtidas por meio da pesquisa bibliográfica foi elaborado um questionário que objetiva observar a opinião das pessoas em relação à cultura brasileira e aos acessórios femininos com marcadores identitários brasileiros. A pesquisa visa compreender a visão dos estrangeiros em relação aos acessórios femininos ao verificar a capacidade de reconhecimento de peças desenvolvidas por designers e artesãos brasileiros com matérias-primas encontradas no Brasil e também pelos marcadores identitários brasileiros. Após efetuada a análise dos dados obtidos através dos 484 inquéritos válidos, dos quais 351 correspondiam a portugueses e 26 a indivíduos de outras nacionalidades, foi possível conhecer a perceção dos estrangeiros que correspondem a amostra analisada em relação aos elementos culturais brasileiros relevantes ao desenvolvimento de acessórios femininos com identidade brasileira. Verificou-se com a aplicação do inquérito que a cultura brasileira de um modo geral encontra-se fortemente marcada em Portugal, nacionalidade da maioria da amostra, considerando que a maioria dos inquiridos consegue identificar marcadores identitários brasileiros nos elementos de origem brasileira propostos neste estudo. Também na pequena amostra de inquiridos de outras nacionalidades se obtiveram resultados semelhantes.

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IX

ABSTRACT

This work aims to increase knowledge about women's accessories, from prehistoric to contemporary times, through a research of information about evolution of female ornaments in Brazilian culture and the influences received from the various cultures that have contributed to the colonization of Brazil. The final objective of this work is to identify the identity markers of Brazilian culture universally recognized body adornments. With this aim, it was necessary to analyse information on the fashion market and consumption, as well as issues of semiotics, handmade design applied to the creation of fashion accessories, aspects that are essential for a better definition of Brazilian identity markers within the context of the accessories. Furthermore, it was necessary to make a broad study of international marketing directed to the fashion market and the tools necessary for a fashion brand to develop competitive advantages in the international market.

Brazil has diverse cultural influences as well as natural resources, which can be applied in feminine adornments. Thus, we intend to identify the identity markers of Brazilian culture and begin the search for raw materials from Brazil relevant in the development of accessories.

From the information obtained through the literature review, a questionnaire was developed that aimed to observe people's opinions regarding the Brazilian culture and women's accessories with Brazilian identity markers. The survey aimed at understanding the vision of foreigners in relation to women's accessories, examining the respondent’s ability to recognize parts developed by designers and Brazilian craftsmen with materials found in Brazil and using Brazilian identity markers.

The analysis of the data obtained from 484 valid surveys, of which 351 were from Portuguese and 26 from individuals of other nationalities, made it possible to describe the perception of foreign individuals contained in the sample in relation to Brazilian cultural elements relevant to the development of women's accessories with Brazilian identity.

The survey allowed concluding that Brazilian culture is in general strongly marked in Portugal, nationality of the majority of the sample, given that the majority of respondents can identify Brazilian identity markers in the elements of Brazilian origin proposed in this study. In the small sample of respondents of other nationalities, similar results were obtained.

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XI

ÍNDICE

Capítulo1- INTRODUÇÃO ... 1

1.1 Enquadramento da problemática em estudo ... 3

1.2 Objetivos do trabalho ... 4

1.3 Metodologia ... 4

1.3.1 Estrutura do trabalho ... 4

Capítulo 2: ESTADO DA ARTE ... 7

2.1 O adorno corporal da antiguidade à contemporaneidade ... 9

2.1.1 A joalharia no século XX ... 16

2.1.2 O ouro vs dourado ... 19

2.1.3 O design contemporâneo em acessórios de moda ... 20

2.2 A joalharia no Brasil ... 22

2.2.1 A influência da cultura portuguesa nos adornos brasileiros ... 22

2.2.2 A influência da cultura indígena nos adornos brasileiros ... 25

2.2.3 A influência da cultura africana nos adornos brasileiros ... 28

2.3 Moda e consumo no contexto dos acessórios ... 33

2.4 A indústria criativa aplicada à moda brasileira ... 34

2.4.1 Marcadores da identidade brasileira ... 36

2.4.2 O design artesanal dos acessórios de moda no Brasil ... 41

2.4.3 O estudo dos signos aplicados aos acessórios de moda ... 44

2.4.4 A brasilidade aplicada aos acessórios de moda ... 46

2.5 Marketing internacional voltado ao mercado de moda ... 52

2.5.1 Elementos para o sucesso de uma marca de moda ... 54

2.5.2 Formas de diferenciação num produto ... 55

Capítulo 3: DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO EMPÍRICO ... 59

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XII

3.2 Amostragem ... 62

3.2.1 Instrumento de investigação e condições de aplicação ... 63

3.2.2 Aplicação do pré-teste do questionário ... 63

3.2.3 Instrumento de recolha de dados ... 64

Capítulo 4: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ... 71

4.1 Apresentação dos resultados ... 73

4.1.1 Perfil sócio demográfico dos inquiridos ... 73

4.1.2 Conhecimentos sobre moda e identidade brasileira ... 76

4.1.3 Análise de imagens ... 81

4.1.4 Análise dos resultados ... 96

Capítulo 5: CONCLUSÃO ... 99 5.1 Considerações Gerais ... 101 5.2 Perspetivas futuras ... 105 BIBLIOGRAFIA ... 107 ANEXOS ... 115 Anexo I ………..……… 117 Anexo II ………. 129 Anexo III ………... 131 Anexo IV ……….141

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XIII

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Aro de barqueiro adornando a egípcia ... 11

Figura 2: brinco encontrado na tumba de Tutankamon ... 12

Figura 3: Par de brincos masculino desenvolvido pelos índios Karajá ... 15

Figura 4: Par de brincos em ouro amarelo 18 K com cristais de rocha e diamantes – coleção Diane von Furstenberg por H. Stern. ... 21

Figura 5: Hércules Florence retrata em “Três mulheres apiaka” a maneira como era vista a figura dos índios no século XIX. ... 27

Figura 6: Plumária Aparai ... 28

Figura 7: variedade de joias utilizadas pelas crioulas afro-brasileiras. ... 30

Figura 8: Pulseira de contas que pertenciam as crioulas da Bahia. ... 31

Figura 9: Penca de balangandãs em prata. ... 32

Figura 10: Brincos produzidos em Capim dourado ... 43

Figura 11: Coleção Copa do Mundo (esquerda) e bracelete de 12 voltas produzido em fibra natural (direita) de Rita Prossi. ... 47

Figura 12: Criação de Fabrizio Giannone ... 48

Figura 13: Pulseira da Coleção Natureza de Sobral Design desenvolvida com gravetos encontrados nas praias do Rio de Janeiro e anel “Urca” da coleção Rio+Design que apresenta grafismo que simboliza o Morro do Pão de Açúcar. ... 49

Figura 14: Coleção Bretagne de João Sebastião ... 49

Figura 15: Esquerda - Colar com sementes de Açaí. Criação da Designer Maria Oiticica. Direita – Anel produzido em tiririca desenvolvido pela designer Mônica Carvalho ... 50

Figura 16: Bracelete e Colar desenvolvidos pela designer Flávia Amadeu. ... 50

Figura 17: Colar de crochet, coco e pérolas naturais da marca Flores de Gabi. ... 51

Figura 18: Criação da designer Adeguimar Arantes ... 51

Figura 19: Coleção Verão 2012/2013 São Paulo Fashion Week. ... 56

Figura 20: Imagens de acessórios de identidade brasileira referente as questões 14 a 33 do inquérito. ... 70

Figura 21: Nacionalidade dos inquiridos (questão 3). ... 74

Figura 22: Intervalos de idade das amostras de portugueses e outras nacionalidades (questão 1). ... 74

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XIV

Figura 24: Situação profissional dos inquiridos (questão 5)... 75

Figura 25: Avaliação do grau de envolvimento com a moda (questão 8). ... 76

Figura 26: Análise de palavras-chave relacionadas ao Brasil (questão 10). ... 77

Figura 27: Como os inquiridos imaginam que seja a moda brasileira (questão 11). ... 78

Figura 28: Como os inquiridos identificam a uma joia/adorno tipicamente brasileiro (questão 12) ... 79

Figura 29: Itens de ligação mais forte com o Brasil (questão 13). ... 81

Figura 30: Análise das imagens referente às questões 14 e 15 do questionário de acordo com a identidade do adorno. Razões apontadas para a identificação ou não identificação da identidade brasileira (esquerda) e identificação de outras identidades (direita). ... 82

Figura 31: Análise das imagens referente às questões 16 e 17 do questionário de acordo com a identidade do adorno. Razões apontadas para a identificação ou não identificação da identidade brasileira (esquerda) e identificação de outras identidades (direita). ... 83

Figura 32: Análise das imagens referente às questões 18 e 19 do questionário de acordo com a identidade do adorno. Razões apontadas para a identificação ou não identificação da identidade brasileira (esquerda) e identificação de outras identidades (direita). ... 84

Figura 33: Análise das imagens referente às questões 20 e 21 do questionário de acordo com a identidade do adorno. Razões apontadas para a identificação ou não identificação da identidade brasileira (esquerda) e identificação de outras identidades (direita). ... 86

Figura 34: Análise das imagens referente às questões 22 e 23 do questionário de acordo com a identidade do adorno. Razões apontadas para a identificação ou não identificação da identidade brasileira (esquerda) e identificação de outras identidades (direita). ... 87

Figura 35: Análise das imagens referente às questões 24 e 25 do questionário de acordo com a identidade do adorno. Razões apontadas para a identificação ou não identificação da identidade brasileira (esquerda) e identificação de outras identidades (direita). ... 89

Figura 36: Análise da imagem referente às questões 26 e 27 do questionário de acordo com a identidade do adorno. Razões apontadas para a identificação ou não identificação da identidade brasileira (esquerda) e identificação de outras identidades (direita). ... 91

Figura 37: Análise da imagem referente às questões 28 e 29 do questionário de acordo com a identidade do adorno. Razões apontadas para a identificação ou não identificação da identidade brasileira (esquerda) e identificação de outras identidades (direita). ... 92

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Figura 38: Análise da imagem referente às questões 30 e 31 do questionário de acordo com a identidade do adorno. Razões apontadas para a identificação ou não identificação da identidade brasileira (esquerda) e identificação de outras identidades (direita). ... 94 Figura 39: Análise da imagem referente às questões 32 e 33 do questionário de acordo com a identidade do adorno. Razões apontadas para a identificação ou não identificação da identidade brasileira (esquerda) e identificação de outras identidades (direita). ... 95 Figura 40: Razões de identificação da identidade brasileira nos adornos (mais que 50% das pessoas identificam). ... 97 Figura 41: Razões de identificação de outras identidades nos adornos (mais que 50% das pessoas identificam). ... 97

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XVII

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Respostas especificadas da alternativa “Outros” da pergunta 11 do questionário – amostra de portugueses. ... 79 Tabela 2: Respostas especificadas da alternativa “Outros” da pergunta 12 do questionário. .... 80 Tabela 3: Respostas especificadas na alternativa “Outros” da pergunta 19 do questionário. .... 85 Tabela 4: Respostas especificadas da alternativa Outros da pergunta 23 do questionário. ... 88 Tabela 5: Respostas especificadas da alternativa Outros da pergunta 27 do questionário. ... 90

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1.1 Enquadramento da problemática em estudo

Nos últimos anos a moda brasileira tem sido um tema bastante abordado pela imprensa especializada em moda e tem obtido reconhecimento cada vez maior no mercado internacional. Com isto, percebeu-se a oportunidade de exploração no que diz respeito aos acessórios femininos dotados de atributos da identidade cultural brasileira. O Brasil, país caracterizado por sua colonização híbrida, bem como por sua extensa dimensão territorial, possui imensas riquezas culturais, que têm sido traduzidas em tendências de moda. A partir disto, pretende-se fazer uma reflexão sobre o conceito de brasilidade e os caminhos para a sua aplicação nos acessórios de moda, além de observar a relação dos indivíduos com o consumo de acessórios. Conforme Freyre (2009), brasilidade é um modo característico e específico de ser do povo brasileiro, resultado da sua história e miscigenação social e cultural. Pensando nisto observou-se a possibilidade do desenvolvimento de um estudo dos marcadores identitários que caracterizem o Brasil e que possam ser aplicados no desenvolvimento de adereços. No cenário internacional, a brasilidade é reconhecida através das cores e símbolos, porém, os aspetos que caracterizam a brasilidade vão muito além desses símbolos, por exemplo, os elementos naturais de origem brasileira como sementes, pedras, cordas, plumas, rendas e conchas, trabalhados principalmente de forma artesanal. Para Rybalowski (2008), o aspeto artesanal do produto brasileiro, de que é ou parece ser feito à mão, persiste como forte apelo para o consumidor, uma vez que a produção é industrial, mas com proposta de valor diferenciador.

De acordo com verificação de informações cruciais para este trabalho, pode-se observar a existência de algumas marcas de acessórios femininos com a presença de marcadores identitários brasileiros. A partir deste ponto define-se o objeto de estudo deste trabalho. É possível identificar os marcadores identitários brasileiros nos adornos corporais desenvolvidos por criadores que agregam atributos de identidade brasileira em suas peças? A partir disto surgem outras questões. Como a moda brasileira é vista fora do Brasil? Quais os signos ou símbolos de identidade brasileira podem ser reconhecidos pelos estrangeiros nos adornos de moda? Os signos que representam o Brasil no exterior também podem ser aplicados nos acessórios femininos?

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1.2 Objetivos do trabalho

Com base no cenário descrito, esta dissertação de Mestrado aplica-se à investigar a evolução da ornamentação corporal num contexto histórico com o intuito de observar as influências culturais presentes na joalharia brasileira contemporânea. Compreender os principais marcadores de identidade brasileira aplicados em adornos corporais e verificar se os mesmos podem ser reconhecidos de uma forma universal. Com isto pretende-se inicialmente verificar a possibilidade de identificar os marcadores identitários da cultura brasileira. Observar a imagem da moda brasileira fora do Brasil. Identificar quais os signos ou símbolos de identidade brasileira podem ser reconhecidos universalmente nos adornos de moda. Averiguar se os signos de um modo geral que representam o Brasil no exterior podem ser identificados também nos acessórios femininos.

1.3 Metodologia

O primeiro momento deste estudo consiste na recolha bibliográfica e revisão do estado da arte relativo ao tema, na qual serão pesquisados aspetos históricos da cultura da utilização da joia e da ornamentação do corpo feminino e o peso das influências culturais brasileiras no design dos adornos femininos. Também serão abordadas questões relacionadas à moda e consumo de acessórios, seguida pela terceira fase, que consiste na análise da indústria criativa aplicada à moda brasileira, levantamento dos marcadores de identidade e o design artesanal de moda brasileira, passando pelo estudo dos signos aplicados aos acessórios de moda e noções de marketing internacional voltado ao mercado de moda.

A etapa seguinte consiste na aplicação de um inquérito, com o objetivo de verificar como são assimilados os conceitos de identidade brasileira, e como elas são identificadas através dos acessórios. Tratados os resultados, serão propostas as conclusões pertinentes ao tema em estudo em busca de uma nova perspetiva de trabalho.

1.3.1 Estrutura do trabalho

Capítulo I INTRODUÇÃO: Neste capítulo apresenta-se o tema da pesquisa, a problemática a ser estudada, as justificativas para o seu enquadramento, os objetivos pretendidos com a pesquisa e a metodologia utilizada no trabalho.

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Capítulo II ESTADO DA ARTE: Engloba a pesquisa bibliográfica. Inicialmente será feita uma fundamentação teórica para a compreensão dos aspetos históricos da joia e de todo o seu processo evolutivo até a contemporaneidade. Também se torna necessário aprofundar os conhecimentos sobre moda, consumo e indústria criativa e design artesanal. A seguir será feito um estudo dos signos aplicados aos acessórios de moda bem como dos marcadores de identidade brasileira aplicados aos acessórios de moda e um apanhado sobro marketing internacional focado na área de moda através da apresentação de criadores de acessórios com marcadores identitários brasileiros.

Capítulo III DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO EMPÍRICO: Feito o levantamento de informações na pesquisa bibliográfica, surgiram questões que careciam de informações mais detalhadas e que foram respondidas através de pesquisa de campo. A aplicação de um questionário serviu de apoio para compreensão de como a amostra interpreta as questões propostas relacionadas ao tema deste estudo. Nesta fase do estudo é estabelecida a metodologia empírica do trabalho, construção do questionário, definição do público-alvo e formas de aplicação do inquérito.

Capítulo IV APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS: Este capítulo é destinado à apresentação dos resultados coletados no questionário e, posteriormente, analisados para que sejam passíveis de conclusões.

Capítulo V CONCLUSÃO: Contempla as conclusões obtidas com o estudo e as perspetivas futuras.

Referenciação Bibliográfica: São apresentadas segundo as normas de Harvard Referencing 2008.

Fazem parte desta dissertação os anexos relativos ao questionário, as respostas das questões abertas e os artigos publicados em congresso referentes ao tema durante o desenvolvimento deste estudo.

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2.1 O adorno corporal da antiguidade à contemporaneidade

Os primeiros indícios do homem pré-histórico associados aos seus adornos pessoais referem-se às épocas superiores do Paleolítico (100.000 a.C. – 10.000 a.C.), na qual o homem habitava cavernas, vivia da caça e onde aparecem também os primeiros indícios de ornamentação do corpo. De acordo com Rincon (2006), os primeiros registros encontrados sobre as joias são datados entre 90.000 e 100.00 a.C, tendo sido encontradas em Israel e na Argélia três conchas perfuradas e caracterizadas como colares ou pulseiras.

Devido a escassez de ferramentas, o homem pré-histórico buscava objetos já encontrados na natureza, como ossos ou dentes de animais que possuíam cortes, que aplicados numa corda, pudessem ser utilizados como colares para adornar o corpo. Os principais e mais antigos objetos de adorno encontrados na pré-história são colares com pingente com um buraco para passar um fio. É nesta fase que o indivíduo começa a perceber a beleza ao seu redor, e cria uma ligação entre o espírito e a matéria, que se refletia nos objetos que produzia. Após satisfazer as suas necessidades básicas de abrigo e alimentação, o homem pré-histórico desfrutava de momentos de lazer, em que desenvolvia atividades voltadas para a arte. Nessa fase surgem as pinturas das paredes em cavernas, com imagens do seu cotidiano. Também costumavam embelezar seus utensílios de marfim de dente de mamute e ossos e chifres de rena com desenhos de animais e vegetais. Além desses materiais, o homem do Paleolítico costumava recolher conchas, pedaços de cristais e pedras de cores vivas para fabricar seus os objetos de adorno corporal.

Com o fim da era glacial e o início do período neolítico, percebe-se um aprimoramento cultural dos indivíduos em relação ao estilo de vida do período Paleolítico. Nesse período o clima apresenta-se mais ameno e é marcado pela descoberta de materiais para a fabricação de armas e utensílios que possibilitavam polimento. A arte de desenvolver esses utensílios foi aprimorada e os mesmos eram dotados de beleza em que começavam a aparecer indícios do desenvolvimento de um senso estético para a criação dos objetos (Staggemeier, et al., 2011).

O período neolítico também é marcado pela domesticação dos animais que ajudavam os homens na caça e vigiavam as moradias e a prática da agricultura de subsistência, já que naquele momento os grupos estabilizavam-se em moradias fixas. Nesse período ocorreu a invenção da cerâmica e o colar de dentes de animais ou de conchas aparece como o adorno mais conhecido daquela época depois da pintura corporal. A tecelagem do linho também aparece no período neolítico que era utilizada na confeção das vestimentas. Conforme Giordani:

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“A técnica empregada referia-se as matérias primas usadas: a pedra, a argila (crua ou cozida), o osso, o marfim, o chifre de rena e até mesmo o azeviche e o âmbar, etc. O carvão e o bióxido de manganês forneciam a cor negra; o vermelho (muito usado) e outras cores eram fornecidas pelo ocre largamente explorado. Os principais instrumentos que possibilitavam aos artistas a execução de seus trabalhos eram: o buril de pedra (que permitia a gravura e a escultura), o pincel feito de pluma de pássaro ou de pêlos, osso oco (através do qual eram sopradas as matérias corantes) e finalmente os próprios dedos dos artistas” (Giordani, 1983, p. 40 apud Staggemeier, et al., 2011).

Nessa época os adornos tornam-se mais rebuscados através de suas formas e materiais com o aparecimento dos primeiros anéis e braceletes e surgem também os primeiros indícios de práticas de mineração, que diversificaram os materiais para a produção dos adornos corporais. O desenvolvimento dos adornos se dava através do trabalho em ardósia, esteatita1, alabastro2

com ossos, coques e lignito3. Aqui, também já apareciam peças com pedras como ametista,

jadeísta e quartzo e âmbar. Em alguns casos também foram encontrados nos adornos o coral, vidro, ouro e cobre. Isto nos mostra que a diversidade de materiais utilizados na produção dos adornos varia de acordo com as regiões e os recursos naturais encontrados em cada uma delas (Staggemeier, et al., 2011).

Por volta de 6500 a.C. até o surgimento da escrita, as técnicas de produção das joias são aperfeiçoadas. Devido à descoberta do fogo, inicia-se a utilização de moldes para colocar cobre aquecido, derretido para a produção de utensílios como armas ou ferramentas. Giordani (1983, p. 43) constata a influência do calor, sobre o metal, a relativa facilidade com que este adquiria variadas formas abriram novas perspetivas técnicas. Portanto, seguida da idade da pedra, surge a idade dos metais, em que começaram a ser utilizados materiais como o cobre, o bronze e o ferro nos utensílios produzidos naquela época. Posteriormente vieram a ser utilizados metais como a prata e o ouro.

1 Variedade compacta de talco, que se encontra em certas rochas metamórficas; pedra-sabão; saponito. Fonte: Dicionário online de português (http://www.dicio.com.br/esteatita/).

2 Rocha branca, translúcida, semelhante ao mármore, porém menos resistente do que ele, e muito usada em trabalhos de escultura. Fonte: Dicionário online de português (http://www.dicio.com.br/alabastro/)

3 Do Latin lignum. Carvão fóssil, matéria carbonosa, que conserva muitas vezes a fórma das plantas que lhe deram origem. Fonte: Dicionário online de português (http://www.dicio.com.br/lignito/).

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Na Grécia, as peças de origem mais antiga provieram dos fenícios, tendo sido encontrados colares feitos de placas de ouro com estampas zoomórficas.

“Os sumérios foram os primeiros a deixar registos escritos sobre as suas peças de joalharia, descrevendo técnicas de produção e a habilidade em trabalhar o ouro, tendo estes conhecimentos sido absorvidos por várias civilizações antigas entre o Golfo Pérsico e o Mediterrâneo, da antiga Assíria à Babilónia, passando pela antiga Anatólia (atual Turquia), pela legendária Tróia, Egito, alcançando as civilizações minoana (em Creta) e micénica no território da atual Grécia, chegando até aos Etruscos na Itália.” (Cardoso, 2010, p. 26)

O Egito contribuiu imensamente para a cultura das joias e ornamentação do corpo e lá foram encontradas as joias com maior valor estético. Na época, a ourivesaria foi das funções de maior rentabilidade e suas peças eram dotadas de maior qualidade, criatividade, técnicas e cores. No período do Antigo Egito pode-se perceber que boa parte da população da época adornava-se com joias. A utilização de ouro e pedras preciosas eram vistas nas joias das classes sociais favorecidas. Nas classes desfavorecidas via-se muito a presença do vidro no desenvolvimento dos adornos. Um dos primeiros artefactos encontrados desse período é o aro do barqueiro (figura 1), que seria uma forma primitiva de coroa com flores e pedras preciosas utilizadas pelas princesas daquela civilização.

Figura 1: Aro de barqueiro adornando a egípcia4

Os adornos nos cabelos eram muito comuns nessa época, e as joias tinham significado que ia além da simples ornamentação do corpo. Acreditava-se que elas tinham função protetora assim como os talismãs, que afastavam as energias ruins. A prática da ornamentação existia não só

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nos indivíduos quando vivos, mas também quando mortos. Quando encontrados os corpos mumificados, encontraram-se também joias juntos aos corpos.

No Egito os trajes e as joias serviam não só para adornar os homens, como também os seus deuses. As estátuas dos deuses recebiam trajes e joias suntuosas. O ouro era o metal preferido dessa civilização, e algumas das pedras utilizadas eram lápis-lazúli e cornalina, além de pérolas, ônix, jade, entre outras (Gola, 2008). Nas contas, encontravam-se ametistas, cristais de rocha, jaspe, junto com dentes de animais, ovos de avestruz e conchas. A partir do médio Império surgem os peitoris e golas, além de anéis e brincos (figura 2). Na IV dinastia aparecem os diademas e braceletes e a munhequeira de metal para proteger o antebraço durante a guerra.

Figura 2: brinco encontrado na tumba de Tutankamon5

Através de um estilo caracterizado pelas formas geométricas, a joalharia na Grécia é marcada por 3 períodos. O primeiro deles, a fase arcaica (600 a.C. – 475 a.C.) percebe-se o início da utilização de pedras e peças com motivos florais. A fase clássica (475 a.C. – 330 a.C.) sofre influências das formas humanas, o que deixava as peças mais fluidas e orgânicas. As joias na fase helenística (330 a.C. – 27 a.C.) possuem mais detalhes (Pedrosa, 2004), e, nessa época surgem os primeiros camafeus que eram constituídos pela representação de figuras humanas nas joias.

Durante o império Romano as joias receberam influência dos povos de cultura helênica, dos etruscos, dos gregos e dos povos pertencentes à cultura helênica, micênica, minoana e egípcia.

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“As esmeraldas eram as gemas favoritas: podiam ser usadas na forma de cristais, junto a pérolas – outra gema extremamente apreciada- ou lapidadas e usadas para decorar colares mais elaborados, à imitação dos gregos. Safiras, águas-marinhas, topázios e diamantes brutos também eram muito utilizados na joalharia romana.” (Pedrosa, 2004)

Nos anos 200 dC. as joias aparecem com diversos tipos de pedras numa mesma peça. As principais eram rubi, ágatas, corais rosa e vermelhos encontrados no Mediterrâneo e âmbar encontrados no mar Báltico. Nesse período era comum o uso de alfinetes utilizados para prender as vestimentas ou mantos, camafeus e tiaras com pérolas, adorno adotado principalmente pelas mulheres de família. Medalhões e moedas eram utilizados para desenvolvimento de anéis masculinos utilizados principalmente por quem possuía um posto militar. Quando os medalhões e moedas eram utilizados em colares ou em fivelas, demonstravam a admiração de quem a utilizava por quem estava em sua face.

Com a vasta riqueza das famílias no antigo Império Romano os indivíduos enfeitavam-se com muitas joias, produzidas principalmente em ouro, e possuíam diversos objetos decorativos em suas casas confecionados em ouro e prata. Este aspeto incentivou a ida de muitos ourives do oriente médio para Roma, já que este trabalho era extremamente valorizado por lá. Todavia, a adoração dos Romanos pelas joias era regulamentada por leis que determinavam a quantidade permitida que o indivíduo poderia ter consigo em seu leito de morte. Também no Império Romano é possível notar que a função da joalharia começa a aparecer como símbolo de status e ostentação. Confirma-se isto quando encontrados os restos mortais de romanos junto com suas joias e seus objetos em ouro, na tentativa de salvá-los quando foram mortos pelos efeitos da erupção do vulcão Vesúvio (Pedrosa, 2005).

Ao caracterizar a joalharia na Idade Média, pode-se perceber a expressão dos ideais de cristianismo e do amor idealizado. Para Swarbrick (1996), as gemas coloridas, especialmente esmeraldas, safiras e pérolas, além do vidro, compunham ornamentos com ouro, prata e bronze. Nesse período eram muito utilizadas joias como escapulários e crucifixos tanto por homens como por mulheres. Devido ao aumento da variedade de materiais utilizados na confeção das joias, no século XIV foi estabelecida uma legislação que regulamentava o conceito de pedras preciosas e pedras não preciosas. Somente diamantes, rubis, safiras esmeraldas e pérolas poderiam ser cravados em ouro. As demais gemas semipreciosas poderiam ser cravejadas em prata (Schumann, 2006).

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Ainda no mesmo período é possível perceber que os adornos tornam-se mais leves e elegantes. Em algumas regiões da Europa os brincos e braceletes desaparecem e começam a aparecer coroas utilizadas pela nobreza. As mulheres usavam enfeites, com ouro e pedras preciosas em suas tranças, denominados de tressoirs, e os homens usavam cintos com fivelas decoradas por pérolas e pedras preciosas e cordões trabalhados em ouro. O século XV é marcado pelo desenvolvimento da técnica de lapidação de facetas das gemas. Antes disso, as gemas recebiam apenas polimento ou lapidação em forma de cabochão, que consiste na técnica de lapidação de pedras sem facetas (Gola, 2008).

O período do Renascimento foi um período marcado por muitas transformações sociais, políticas, religiosas e culturais, que envolveram o campo das artes, filosofia e ciências. Com a evolução da anatomia a ourivesaria também evolui, visto que os ourives já poderiam reproduzir com mais fidelidade as formas humanas em suas peças. Nessa fase, a joalharia deixa de ser apenas de privilégio da igreja e dos reis e passa a ser financiada pela burguesia, e o ofício de ourives começa a ganhar status a partir dessa época. Swarbrick (1996) afirma que o entalhe em gemas e a escultura de camafeus produziam os símbolos desta época, em que as gemas eram enfatizadas em detrimento do metal. Os temas recorrentes na joalharia da época eram a mitologia, história clássica e cenas bíblicas.

Em paralelo ao Renascimento na Europa, a descoberta da América teve grande contribuição para a evolução da história da joalharia. Com as navegações ao novo continente, a Europa foi abastecida de ouro, prata e diversos tipos de pedras preciosas. Conforme Schumann (2006), topázio imperial e turmalina Paraíba são gemas genuinamente brasileiras que passaram a fazer parte das joias europeias. Na América daquele tempo, o que era considerado joia, era qualquer adorno de arte plumária com cores vivas e composições com penas, plumas, sementes e fibras vegetais que eram utilizados em comemorações ou em rituais indígenas (figura 3). Os portugueses, quando chegaram ao Brasil, encontraram as tribos indígenas que se adornavam com plumas encontradas na região.

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Figura 3: Par de brincos masculino desenvolvido pelos índios Karajá6

O século XVIII é marcado pelo esplendor das joias fabricadas em ouro e em pedras preciosas. Nesse momento, temas relacionados a religião deixam de ser fonte de inspiração para os adornos abrindo espaço para o Naturalismo, com criações inspiradas na fauna e na flora (Cardoso, 2010). A lapidação de diamantes sofre transformações em Veneza com a descoberta da lapidação “em brilhante”. Antes disso a lapidação mais conhecida era a lapidação “em rosa” que consistia na lapidação apenas da parte superior aparente do diamante. Essa invenção proporcionou maior brilho às gemas quando refletidas à luz condizentes ao novo conceito das joias da época, que eram utilizadas com o intuito da ostentação. Conforme afirma Swarbrick (1996) nessa época também surge a relação entre a joalharia e a moda. Também é notória a preocupação em harmonizar a joia com as cores, tecidos e os temas recorrentes da época. Para acompanhar as mudanças da época, Fréderic Stras desenvolve um vidro especial que podia ser cortado e polido para brilhar como diamante. Através do seu nome surgiu o STASS para designar pedras parecidas com diamantes (Corbetta, 2007).

A prata aparece nesse período como metal de preferência para cravar diamantes, pois quando polida, confundia-se com eles (Pedrosa, 2005). Além do diamante, gemas como safiras, pérolas, esmeraldas e rubis eram muito utilizadas no século XVIII. Gemas não consideradas preciosas também eram utilizadas com função decorativa nas joias de design naturalistas, que eram a maior fonte de inspiração daquela época, manifestadas através da fauna e da flora.

Já no fim do século, nota-se a retomada do estilo clássico, com inspirações na Grécia Antiga e no estilo Napoleônico com o retorno das criações de camafeus com figuras. A presença do estilo neoclássico podia ser vista não apenas nos adornos, mas também nas roupas (Corbetta, 2007). Durante o período Rococó, as joias tornam-se mais leves e irregulares. Aqui, aparece a

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separação de joias adequadas para o dia e para a noite. As joias utilizadas durante o dia eram mais leves com menos brilhantes, e as utilizadas a noite eram criadas com o objetivo de se destacar seu brilho na presença dos candelabros.

No século XIX há um aumento do gosto pelo luxo, devido a um período de prosperidade, baixos impostos e o surgimento de uma sociedade elitizada resultante da Revolução Industrial, em que a produção em série possibilitou o consumo de joias de uma parcela maior da população. Conforme Corbetta (2007, p. 29), o dinheiro mudou de mãos e com isto aparecem os noveau riche (novos ricos), que precisavam demonstrar poder e, portanto, queriam joias poderosas. Nesse período o costume de uso das joias se restringia as ocasiões especiais. As mulheres, nessa época, usavam joias não somente como um acessório decorativo, mas também como um veículo para expressar sentimentos (Köhler, 1993).

A Europa durante o século XIX apresenta uma diversificação de materiais utilizados no desenvolvimento dos adornos. Nota-se a utilização de ferro fundido e peças esculpidas em marfim produzidas na Alemanha, peças esmaltadas e a produção de relógios na Suíça e correntes de ouro, contas de vidro, corais e camafeus na Itália (Gola, 2008). Ainda é possível perceber neste período que devido à massificação do consumo os gostos tornam-se mais superficiais. Faggiani (2006, p. 33) explica que depois da revolução industrial, os que antes eram vistos como bens de luxo se tornaram triviais e corriqueiros. Camas com colchões, travesseiros, lençóis, almofadas e cobertores (“sonho de consumo” de senhores feudais, na Idade Média) passaram a compor cena comum em modestas famílias de trabalhadores no campo e nas cidades. Porém, o novo estilo de vida massificado preocupava os artesãos e artistas da época. Visto isso, os ourives buscavam inspiração diferenciadora para as suas criações nas joias do século XVIII, já que as atuais joias cobertas de diamantes produzidas em série, sem criatividade e significado imperavam durante a revolução industrial.

2.1.1 A joalharia no século XX

O século XX é um período marcado pela expansão da gama do que é considerada joalharia, em que são utilizados na sua confeção materiais que vão além do ouro e das pedras preciosas, a

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chamada Belle Èpoque, iniciada no século XIX. Joalheiros famosos como Fabergé7, Lalique8, Cartier9 e Bulgari10 utilizam materiais como cristal, aço escovado, couro, titânio, prata e cobre no desenvolvimento das suas peças, o que caracteriza a consolidação da joalharia contemporânea. A joalharia nesse período toma um novo direcionamento, em que são compostas por elementos da natureza, como por exemplo, por flores e animais esculpidos em platina em reação ao exagerado uso dos diamantes.

“Durante o século XX, a joia abandonou o privilégio do artesanal e o uso exclusivo de materiais nobres e luxuosos e se aproximou de “ligações perigosas” com consequências muito interessantes. A inserção de “materiais vulgares” na esfera simbólica do luxo confundiu e contaminou os limites entre o valorizado e o desvalorizado, o que resultou em uma mudança deliberada na consolidação das hierarquias do bom gosto e da preciosidade” (Annichiarico, et al., 2004, p. 7).

Ainda no início do século, surge o estilo Art Nouveau tendo como seu principal representante René Lalique que utilizava em suas criações o marfim e o chifre de animais dando às suas peças maior valor estético. Este período foi marcado pela junção das antigas e das novas ideias, em que os artistas inspiraram-se desde os temas religiosos a temas da natureza, que foi bastante aplicado na arquitetura e na decoração. As características principais desta forma de arte eram a assimetria, as curvas e contracurvas. Eram trabalhadas ainda algumas figuras inspiradas nos símbolos da mitologia (como os dragões e as serpentes), do estilo gótico (os vampiros e os morcegos) e do reino animal (os pavões e as borboletas) (Pullée, 1990).

Após o início da Primeira Guerra Mundial, o novo estilo desapareceu, pois as joias desse período eram peças de difícil utilização. Com a guerra, diversas transformações ocorreram nos campos das artes, moda e design. Neste período, o desenho industrial possibilita refinamento estético capaz de resistir à produção industrial em série e surge a joalharia estilo Art Decó associada ao

7 Peter Carl Fabergé - Joalheiro russo que desenvolvia peças com figuras humanas, animais e flores, responsável pela coleção apresentada na Grande Exposição Universal realizada em Paris no ano de 1900. Sua obra composta por 15 ovos de páscoa foi considerada uma obra de arte da ourivesaria que inspirou ouros joalheiros como Cartier. 8 René Lalique – Joalheiro e vidreiro francês. Famoso pelo design de objetos, relógios, frascos de perfume e joias. Contribuiu imensamente para o movimento Art Noveau na Europa e nos Estados Unidos.

9 Cartier - Joalheiro e relojoeiro francês que fundou a Maison Cartier em1847. Se inspirou nas peças de Fabergè e suas combinações audaciosas no design de anéis com gemas coloridas e audaciosas que o consagrou no período Art Decó.

10 Sotirio Bulgari – Joalheiro italiano que aparece no final do século XIX que produzia peças de luxo em metais nobres. Seus filhos decidiram seguir seu ofício e produziram peças com diamantes, safiras e rubis inspiradas na Art Decó que foram mostradas na exposição internacional de artes e joalharia de Paris em 1925. Hoje é a conhecida marca Bvlgari.

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Cubismo e ao Abstracionismo. Graças à inauguração da Bauhaus, escola alemã de arquitetura e design, concebeu-se o raciocínio da estética funcional dos objetos. Alguns materiais foram desenvolvidos e disponibilizados ao mercado para colaborar com os efeitos da guerra. Porém, o pensamento modernista discordava que “a capacidade de evocar ideias também faz parte de qualquer proposta de design: ou seja, as funções de um objeto não podem ser reduzidas apenas ao seu funcionamento” (Cardoso, 2004, p. 131). E assim, a produção dos artigos de moda e, consequentemente, a joalharia contemporânea, evoluíram simultaneamente com o design. A moda feminina neste momento torna-se mais esportiva e confortável devido a necessidade de as mulheres trabalharem por causa dos tempos de crise trazidos pela guerra. Desta forma, a moda mostrou-se mais futurista para a época através de formas geométricas. Já a joalharia sofreu influências do Egito, já que nesse período foi encontrada uma série de joias no túmulo de Tutankamon em 1922 e também pelo que era produzido nos filmes de Hollywood na época. Na América, juntavam-se a este estilo as inspirações pré-colombianas dos Maias, Astecas e Arte Índia, criando algo mais luxuoso e decorativo (Pullée, 1990). Um fator importante que surge nesse período é o aparecimento da joalharia de costumes, implementada por Gabrielle Bonheur Chanel, que consistia na produção de acessórios com materiais de baixos custos e menos duráveis, o que hoje é conhecida como bijuteria.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, houve um período de escassez de metais e pedras preciosas, acontecimento que dá origem ao design das peças que imitavam as joias produzidas com metais não preciosos, e assim surgem as bijuterias (Gola, 2008). Também nesta época, nota-se que o consumo de joalharia não era apenas para uso, mas também como investimento. A utilização do design no desenvolvimento das bijuterias recebeu forte influência de Chanel, que adotou a ornamentação do corpo com peças não preciosas com “um desenho novo que era sinônimo de atitude e de estilo da mulher moderna” (Pullée, 1990, p. 48). Naquele momento, a sociedade enfrentava um período de mudanças sociais e as tendências de moda estavam voltadas a um público mais jovem. É a partir desse período que começam a surgir peças em que o seu valor é atribuído ao design, e também aparecem na sua produção elementos como madeira, papel e polímeros. As joias de imitação, sem a utilização de metais nobres se tornam acessórios procurados pela alta sociedade que passa a substituir suas joias tradicionais por formas mais modernas e mais vistosas (Gola, 2008). Ainda no período pós-guerra, pode-se perceber que a presença de avanços tecnológicos bem como dos meios de comunicação, que desencadeou uma aceleração no consumo de bens.

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Nos anos 70 reaparecem as joias criadas para os homens e cada vez nota-se a maior diversidade no seu uso e nas suas formas de expressão e é possível perceber que as tendências da joalharia são inspiradas nas tendências de moda. Além disso, muitas joias do período foram inspiradas na arquitetura da época assim como em movimentos artísticos como o Dada e o Surrealismo, movimentos artísticos do início do século XX, em que o artista sempre tem como objetivo demonstrar o significado de cada peça sem levar em consideração o material. Para Gola (2008, p. 124) “a década de 1970 pode ser considerada o único período da história em que a ornamentação com joias genuínas esteve fora de moda”. O mais importante é demonstrar o significado da peça num período histórico visando a sua contextualização dentro de uma sociedade através de sua identidade.

2.1.2 O ouro vs dourado

Desde o final do período neolítico na pré-história, com o surgimento da metalurgia, as sociedades sofreram profundos impactos dentre eles a noção de propriedade, relações familiares e a mudança no estilo de habitação em que os homens deixam as cavernas para viver em cabanas. Aqui já se via as primeiras formas de diferenciação social entre os indivíduos, e o ouro especialmente é o metal dotado de maior simbologia, pertencendo apenas aos que tinham destaque político ou religioso nas civilizações. Não somente nos adornos corporais, o ouro foi utilizado em diversos outros objetos. Dentre as suas funções mais importantes, o ouro já servia como moeda, o que iniciava a formação do comércio, já que antes disso existia apenas a troca de mercadorias. No decorrer da História da humanidade o ouro foi adquirindo valor agregado e permanecendo nas mãos das pessoas que possuíam poder na sociedade, dividindo, assim, em grupos de indivíduos que possuíam e os que não possuíam ouro, pelo fato de se tratar de um bem escasso. Conforme Faggiani (2006, p. 16), o desejo veemente de poder, combinado a um desejo material fora do comedimento gera um círculo vicioso: mais prestígio social e maior necessidade de poder.

Ainda que o valor agregado do ouro esteja relacionado à segregação social, ele também está associado a inclusão do indivíduo em um determinado grupo, já que ele possui determinado bem com o objetivo de ser reconhecido como membro de determinado grupo. Segundo McCracken (2003 apud Faggiani, 2006, p. 30), o contexto cultural e social dentro do qual as pessoas vivem em comum está na origem do significado atribuído a produtos. Com os avanços tecnológicos advindos da revolução industrial, a produção dos adornos foi se diversificando e

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trouxe a grandeza do ouro através de banhos e folheações de peças em metais de menor valor. Com isso, as peças aparentemente poderiam se passar por uma joia verdadeira e o conceito de status e poder que as joias tradicionalmente transmitiam foram perdendo espaço no quadro de uma sociedade de aparências. O ouro evidentemente ainda é visto como um investimento de baixíssimo risco, pois nunca houve desvalorização na história da economia, mas aos olhos da moda e do consumo o que impera é a variedade de peças que são modificadas a cada estação.

“Os significados transferidos através da moda podem ganhar contornos mais específicos junto aos indivíduos que os utilizam no desenvolvimento de suas identidades sociais. Assim a moda, pode assumir dimensões diversas: no caso da joia como acessório, por exemplo, pode funcionar como instrumento de comunicação, de integração, de individualidade, de teatralização, de autoestima e de transformação, conforme a realidade vivenciada pelo consumidor.” (Miranda, et al., 1999 apud Faggiani, 2006, p.71)

O valor simbólico atribui do ouro reside no fato de ter sido estimado em toda a História da humanidade como sinal de riqueza e estatuto. Porém ocorre, na contemporaneidade, uma desvalorização cultural devido aos avanços tecnológicos notáveis no século XX que influenciaram diretamente a joalharia. O uso dos adornos se democratizou e, em termos visuais, as peças douradas podem ser reproduzidas fielmente como peças de ouro.

2.1.3 O design contemporâneo em acessórios de moda

Desde a década de 1980 a joalharia atravessa uma transição em relação à definição dos seus conceitos. Valores como ostentação e riqueza começam a ser questionados e surge o apreço pelas peças com design mais leve e elegante (Codina, 2000).

Ao analisar os caminhos tomados pela ornamentação, design de joias e bijuterias, derivam-se inúmeros processos que são conciliados pelo mercado, bem como pelo desejo do ser humano de diferenciação dos demais indivíduos no contexto de contemporaneidade. Isso nos mostra que a gama de materiais utilizados no desenvolvimento de peças de joalharia contemporânea cresce cada vez mais. A expansão da joalharia contemporânea surge como uma tendência que permite espaço para a experimentação de diferentes materiais e para a criação livre, efetiva e sem preconceitos de produtos (Faggiani, 2006). Assim, novas opções de materiais aliados ao design diferenciado mudam definitivamente os conceitos da joalharia. Faggiani (2006) acrescenta que os segmentos das joias contemporâneas visam atender aspetos do novo luxo da sociedade atual,

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como por exemplo, o conforto. Além disso, ocorre uma redefinição da joalharia de luxo visto que as opções de materiais ampliam-se cada vez mais e a mistura de materiais preciosos com os não-preciosos é cada vez mais evidente (figura 4).

Figura 4: Par de brincos em ouro amarelo 18 K com cristais de rocha e diamantes – coleção Diane von Furstenberg por H. Stern.11

Hoje, é possível perceber que a joalharia está completamente voltada ao design e a criatividade das peças. O mercado almeja por constantes inovações de confeção e design, desde a produção artesanal até a produção industrial, a premissa básica é a qualidade do produto, a criatividade e originalidade do design e os atributos de diferenciação no estilo dos indivíduos. A joia comunica significado cultural através de símbolos de status e de posição social, completando a construção da imagem individual.

Existe uma relação mútua quando se discute sobre as joias e os adornos em geral. A sociedade atual atribui aos adornos a função de construção da imagem dos indivíduos, nas quais seus significados podem ser inúmeros, assim como as suas formas de expressão perante a sociedade, que ao mesmo tempo contribui para as transformações socioculturais de determinado período. Deste modo, a joia serve como reflexo de um indivíduo num determinado período, em que podem ser avaliadas as mudanças do próprio indivíduo, assim como do meio em que ele está inserido. Para compreender a evolução da joia não basta somente interpretá-la como forma de distinção dentro de um grupo ou como construção de uma identidade. É importante observar que desde a Revolução Industrial ocorrem mudanças socioculturais que

11 Fonte: http://www.hstern.com.br/joias/p-produto/B2CR171709/brinco/dvf/par-de-brincos-de-ouro-amarelo-18k-com-cristais-de-rocha-e-diamantes---colecao-dvf

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estão diretamente relacionadas ao design, luxo e a própria moda, e que influenciam diretamente no raciocínio sobre representação da joia como instrumento de diferenciação pessoal e grupal. Ainda a respeito das atribuições da joia na contemporaneidade, inicia-se uma discussão sobre a inserção da joia como obra de arte, visto que a joia já não é apenas um objeto de ostentação, e sim uma condição de transmitir descontentamento pelas criações de joias meramente em função do status social. Campos (2011, p. 173) acrescenta que ao se inscrever sob o domínio da arte, a joia ganhou nova condição e propósito: deixou um território repertoriado predominantemente pela beleza e pelo valor econômico, passando a convocar o pensamento para uma reflexão sobre seu sentido, tanto no que concerne à noção de preciosidade quanto no das relações engendradas a partir do contexto social.

Independente das funções adquiridas pela joia, inseridas dentro da arte ou do design, existe o determinante relacionado ao mercado, que se encontra acima destes níveis e que dita as formas com que as peças serão desenvolvidas. Por consequência, torna-se difícil uma clara definição do que podem ser considerados joia, arte ou design. Em termos de design, a joia assume um comportamento diretamente influenciado pela moda e suas tendências, abrangendo um mercado consumidor mais amplo, pois o leque de materiais torna-se mais numeroso. Este aspeto influencia diretamente na definição do atual significado da joia, que será estudado nos próximos capítulos.

2.2 A joalharia no Brasil

2.2.1 A influência da cultura portuguesa nos adornos brasileiros

Com a descoberta da América em 1492 e posteriormente o descobrimento do Brasil por Portugal em 1500, ocorre no mundo uma expansão do comércio de esmeraldas, ouro e prata devido a grande quantidade de riquezas encontradas nas novas terras, e que trouxeram, consequentemente, muitas riquezas para Portugal naquela época. Ao chegar ao Brasil, os portugueses se depararam com tribos indígenas que se adornavam com penas de pássaros coloridas, sementes e ossos de animais (Pedrosa, 2005). Nos primeiros séculos após o seu descobrimento, ainda não existiam joias que marcassem um estilo legitimamente brasileiro, pois as joias existentes seguiam as tendências de moda que ocorriam em Portugal e nos demais países europeus.

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Com a descoberta das novas terras, a troca de mercadorias aumentou na América no século XVI. Os povos que vivam nessas terras aos poucos iniciaram a produção de joias com pedras e metais preciosos. Com o passar do tempo surgiram no Brasil técnicas de ourivesaria especializada. Inicialmente as técnicas foram apresentadas por ourives estrangeiros, principalmente os da corte portuguesa e, posteriormente, o ofício foi aprendido por trabalhadores livres que eram controlados pela coroa portuguesa, que fiscalizava a produção colonial de ouro e das gemas (Magtaz, 2008).

A região brasileira de Minas Gerais no século XVII possuía grande abundância de metais, especialmente de ouro. Nessa época, a joalharia adornava os senhores de engenho e as suas famílias, bem como a burguesia. A classe escravocrata utilizava pesadas joias de ouro em eventos sociais nas quais simbolizavam o seu poder de senhores.

No século XVIII, com as expedições realizadas ao interior do Brasil e a descoberta de minas de ouro e de pedras preciosas, Portugal utiliza as riquezas da nova colônia como moeda de negociação com os demais países, e calcula-se que entre 1700 e 1720 a mineração de ouro atingiu valores sempre crescentes, com 25.000 quilos anuais, tendo alcançado o auge da produção entre os anos de 1735-1736 (Andrade, 2008). Estes fatos influenciaram negativamente no desenvolvimento do Brasil colonial, visto que os produtos industrializados não eram produzidos localmente mas trazidos dos países europeus. Para acelerar a extração de ouro no Brasil foram trazidos escravos da África. A inserção da nova raça no território brasileiro provocou uma mistura racial que caracteriza a sociedade brasileira.

As incontáveis riquezas encontradas no Brasil despertaram muito interesse dos portugueses, que migraram para o Brasil em busca de uma vida melhor, já que ocorria uma fase de desenvolvimento das terras brasileiras, a partir da criação de gado e plantações de café e cana-de-açúcar. Com eles migraram também os primeiros ourives do Brasil, que se inspiravam ainda nas tendências de moda europeias.

Apesar das tendências europeias predominarem na criação dos adornos no Brasil, a quantidade de ouro e pedras preciosas tiveram grande influência no desenvolvimento das joias da época. Desta forma, a maior contribuição de Portugal na joalharia brasileira está relacionada à aplicação das pedras preciosas encontradas no Brasil durante o período colonial, diversificando suas cores bem como as formas de lapidação das pedras desde o período de seu descobrimento.

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Devido à tentativa da França de dominar a Europa no século XIX, em 1808 Portugal decide transferir a sede da monarquia portuguesa para o Rio de Janeiro, e traz toda corte, incluindo artistas e ourives. Conforme Filipe (2008, p. 25) as mulheres portuguesas, devido ao calor, às intempéries da viagem e à praga dos piolhos, tiveram de rapar os cabelos e colocar enormes turbantes. À chegada, ao vê-las, as mulheres brasileiras acharam lindo e quiseram também cortar os cabelos e colocar os turbantes nas cabeças. Nesta época surgem também no Brasil a presença de povos de outras nacionalidades europeias e a economia brasileira passa por importantes transformações sociais e tecnológicas.

A partir de 1822, com a sua emancipação, o Brasil começa a adquirir um estilo próprio na criação das suas joias, em que os artistas trabalhavam temas como a fauna, flora e temas de origem indígena e os símbolos do novo Império de D. Pedro I. A presença da corte portuguesa no Rio de Janeiro alterou o cotidiano da cidade, uma vez que foi responsável pela expansão do traçado urbano, a introdução de novos estilos arquitetónicos e, sobretudo, a apresentação à sociedade local de uma maneira cosmopolita de viver (Tostes, 2008).

Durante a revolução industrial, observou-se um período de transformações econômicas, assim como a descobertas de minas de diamantes na África do Sul tornando o país o principal produtor de diamantes do mundo, retirando ao Brasil a primeira posição. Porém o país ainda possuía imensa variedade de outras gemas.

“Os motivos decorativos principais eram as flores, borboletas, pássaros e a serpente. Ramalhetes compostos por diferentes flores e ramagens eram utilizados como broches para adornar vestidos e cabelos, com um efeito deslumbrante. Também os camafeus enfeitam colares, broches e pulseiras e, por causa da influência da rainha inglesa Vitória - que cedo se tornou viúva, a joalharia de luto tornou-se moda aqui também: broches com mechas de cabelo ou pendentes decorados com motivos fúnebres são usados por quem perdia um ente querido.” (Pedrosa, 2005)

Com a coroação de D. Pedro II, consagra-se a habilidade dos ourives brasileiros, que produziam uma série de objetos para a monarquia brasileira, adornados com diamantes e pérolas. A partir desta fase o Brasil alcança maturidade nos campos da política e da cultura, orientando-se para a união do país e para o fim da escravidão. Assim, surgiu nova imigração de europeus de diferentes nacionalidades, que afetaram diretamente as características culturais do país. Após a

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proclamação da República, os novos símbolos do país foram aplicados nos adornos com o intuito de enaltecer o espírito nacionalista.

No início do século XX nem os conflitos ocorridos na Europa nem os movimentos artísticos interferiam no design das joias brasileiras. Será a partir da Semana de Arte moderna, em fevereiro de 1922, em São Paulo, que vai transformar-se o campo da arte, através da tomada de consciência da realidade brasileira, rompendo com as estruturas do passado (Pedrosa, 2005). A indústria da joalharia no Brasil surgiu no final da 2ª Guerra Mundial quando empresas se uniram aos ourives fabricantes das peças artesanais. Devido a nova situação industrial e econômica no mundo surge a popularização dos bens de consumo, que consequentemente vem a alterar a função social da joia. Neste momento, o papel do designer de joias brasileiro é reconhecido mundialmente, pois as exposições de joias são inseridas no circuito de exposições de arte, inclusive com participação na Bienal de São Paulo, a partir de 1950 (Magtaz, 2008). De acordo com Codina (2000), entre os anos de 1980 e 1990 a joalharia convencional já não possui significado de ostentação e riqueza, em que se percebe o gosto pelas joias de ouro e pedras preciosas de desenho simples e elegante. No Brasil, até o fim dos anos 90 a joalharia seguia as tendências ditadas pelos mercados internacionais, sem apresentar inovações em termos de técnicas e criatividade.

Nos dias de hoje, o Brasil é um dos maiores produtores de ouro do planeta e é considerado um dos principais produtores mundiais de gemas – seja pela variedade, seja pela quantidade em que são encontradas em vários pontos do território (Andrade, 2008). A joia brasileira se apresenta como um elemento da cultura, enquanto obra de arte e também como objeto de consumo. Não apenas por causa do ouro e dos diamantes encontrados no Brasil, o país se destaca na produção de pedras, visto que são encontradas reservas de ametistas, topázios, água-marinha entre outras pedras em seu território.

2.2.2 A influência da cultura indígena nos adornos brasileiros

Desde do descobrimento do Brasil até 1970 a população indígena brasileira passou por perdas consideráveis em sua população, e muitas tribos foram extintas ao longo desse período. Uma população estimada em 3 milhões no século XVI estava, em 1950, reduzida a 70 mil pessoas. Desde então, o percentual de indígenas em relação à população total brasileira saltou de 0,2% em 1991 para 0,4% em 2000, totalizando 734 mil pessoas. A atual população indígena

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brasileira, segundo resultados preliminares do Censo Demográfico realizado pelo IBGE em 2010, é de 817.963 indígenas, dos quais 502.783 vivem em zona rural e 315.180 habitam as zonas urbanas brasileiras. Este Censo revelou que em todos os Estados da Federação, inclusive do Distrito Federal, há populações indígenas, sendo que a região Norte é aquela que concentra o maior número de indivíduos, 305.873 mil, aproximadamente 37,4% do total.12

A chegada acidental das expedições portuguesas ao Brasil na tentativa de alcançar a Índia provocou o primeiro contato com os habitantes da nova terra. Como pensavam ter chegado a outros territórios, os portugueses batizaram o povo que vivia no Brasil de índios. Muito antes das influências da cultura africana, a cultura indígena é a referência cultural mais antiga encontrada no Brasil e suas tradições são completamente singulares face às influências recebidas da Europa e da África. Apesar de uma única denominação para a população encontrada, havia diversos povos, não só no Brasil, como por toda América do Sul.

“Membros de sociedades tão distintas como os incas e os tupinambás, que falavam línguas completamente diferentes, que tinham costumes os mais diversos, sendo os primeiros construtores de estradas e de cidades, vivendo num império administrado por um corpo de burocratas, e organizado em camadas sociais hierarquizadas, enquanto os segundos viviam em aldeias de casas de palha, numa sociedade sem camadas sociais, em que a maior unidade política era provavelmente a aldeia, eram tanto uns quanto os outros incluídos na mesma categoria: índios.” (Melatti, 2007, p. 31)

Dentre os critérios de definição do índio ligados critérios raciais e legais relacionados à genética, para este estudo é necessária uma abordagem aos critérios culturais. Os critérios culturais são aqueles que não estão relacionados às questões biológicas, que envolvem a língua, os costumes, as crenças e os hábitos. A arte indígena, como exemplo, não aparece apenas num contexto estético mas também como no sentido de informar os estágios primitivos da cultura humana. A estética corporal apresenta consideráveis representações simbólicas relacionadas aos sistemas de cognição indígena que a partir de uma análise iconográfica permite conceber um sistema representativo de identidade étnica, de construção de mundo e das relações sociais (Velthem, 1994).

12 Fonte: Fundação Nacional do Índio.

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Figura 5: Hércules Florence retrata em “Três mulheres apiaka” a maneira como era vista a figura dos índios no  século XIX
Figura 8: Pulseira de contas que pertenciam as crioulas da Bahia. 18
Figura 9: Penca de balangandãs em prata. 19
Figura 10: Brincos produzidos em Capim dourado 25
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Referências

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