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O papel mediador da comunicação visual do livro didático para a criança

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Academic year: 2021

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O papel mediador da comunicação visual do livro didático

para a criança

Melissa Haag Rodrigues1

Resumo: O presente estudo tem por objetivo observar mais atentamente a comunicação

visual do livro didático e investigar seu papel mediador na relação entre a criança e o conhecimento. Buscando apoio nas concepções de Vygotsky sobre mediação e zona de desenvolvimento proximal, pretende-se levantar questões sobre a comunicação visual, o conteúdo geral e o projeto gráfico do livro didático, o relacionamento do aluno com o mesmo, além do papel facilitador da comunicação visual na mediação presente no processo de construção do conhecimento.

Palavras-chave: livro didático, mediação, comunicação visual.

Abstract: This research has the aim to observe the textbook‟s visual communication and investigate its mediating paper in the relation between the child and the knowledge. Searching support in Vygotsky‟s conceptions about mediation and zone of proximal development, it is intended to approach the visual communication, the general content and the textbook‟s graphical project, the relationship between the pupil and the book, as well as the auxiliary paper of visual communication in mediation present in the process of knowledge‟s construction. Key-words: textbook, mediation, visual communication.

Vygotsky (2007) determinou um forte elo entre o processo de desenvolvimento e o relacionamento do indivíduo com o meio sócio-cultural em que vive. Sem o convívio com outros indivíduos de sua espécie, o homem não consegue se desenvolver plenamente. A criança vai aprendendo e se modificando, reconstruindo internamente uma atividade externa, como resultado de processos interativos que se dão ao longo do tempo, por meio da apropriação da cultura.

Partindo deste ponto de vista, a escola tem um papel de destaque em relação ao desenvolvimento humano. É o lugar onde acontecem diversas

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Mestranda regularmente matriculada no Mestrado em Artes Visuais, turma 2007/2, da Universidade do Estado de Santa Catarina-UDESC, na linha de pesquisa de Ensino das Artes Visuais, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Neli Klix Freitas. Graduação em Comunicação Social – P&P (1999) pela Fundação

Universidade Regional de Blumenau, com Especialização em Design Gráfico e Estratégia Corporativa (2004) pela Universidade do Vale do Itajaí.

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situações de interação e, conseqüentemente de aprendizagem. A criança constrói conhecimento e se desenvolve por meio do que observa e sente em relação ao contexto no qual convive. No caso da escola, além de usufruir de um ambiente multicultural e de diversos tipos de expressões da cultura visual, ela entra em contato com um novo tipo de livro, diferente dos livros de leitura - o livro didático.

Na escola os livros didáticos são um ponto de apoio essencial no processo de construção do conhecimento. Para o aluno, muitas vezes, servem como uma referência, um lugar onde pode buscar informações precisas e exatas, quer nos momentos de estudo individual em casa, quer na solução de dúvidas pontuais. Este tipo de livro tornou-se um material básico de referência, um organizador de conteúdos e atividades, tanto para o aluno, quanto para o professor, além de fazer parte de nossa cultura visual. Hernández (2000) contribui dizendo que diante da cultura visual, “não há receptores nem leitores, mas construtores e intérpretes” uma vez que a apropriação não é passiva nem dependente, mas interativa e de acordo com as experiências de cada indivíduo fora do ambiente escolar. Crianças e adolescentes convivem com imagens da cultura visual em seu cotidiano e, naturalmente, levam estas referências para a escola, pois refletem aspectos dos seus contextos socioculturais e da época em que vivem.

Sendo instrumentos tão importantes na vida escolar, o conteúdo visual e comunicacional dos livros didáticos deveria ser apresentado de forma criativa, organizada e interessante, a fim de estimular o estudo e a compreensão do conteúdo, facilitando a construção do conhecimento e ampliando o potencial pedagógico do livro.

O livro didático interessa igualmente a uma história da leitura porque ele, talvez mais ostensivamente que outras formas escritas, forma o leitor. Pode não ser tão sedutor quanto as publicações destinadas à infância (livros e histórias em quadrinhos), mas sua influência é inevitável, sendo encontrado em todas as etapas de escolarização de um indivíduo [...] (LAJOLO, ZILBERMAN, 2003, p. 121).

Segundo Coutinho e Freire (2006) sabe-se a partir da prática e da teoria relacionada, que os livros ilustrados despertam um interesse maior nas crianças para a percepção e apreensão do seu conteúdo. Deste modo deve haver uma preocupação com o conteúdo e, conseqüente, com sua forma que

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devem ser coerentes com o repertório da criança para promover uma relação de identidade com a sua realidade, o que poderá oportunizar um maior interesse. Porém, por muito tempo, o texto escrito, o conteúdo, foi o mais importante e valorizado na hora de se produzir um livro. As imagens desempenhavam um papel secundário ou simplesmente decorativo. Contudo, a imagem passou a ser valorizada novamente e seu papel hoje é visto como menos decorativo e mais ilustrativo, no sentido de apoiar e complementar o conteúdo textual (COUTINHO, FREIRE 2006). Além da imagem, a relação entre imagem e texto, formas, cores, enfim toda comunicação visual do impresso, necessita ser observada, especialmente em relação à sua capacidade mediadora. A estrutura de cada página, seu aspecto visual, elaborada dentro de um projeto gráfico, funciona como um signo, uma ferramenta psicológica que tem a função de mediar a relação do aluno com o conteúdo, com o objeto livro e auxiliar no desempenho. Esta mediação interfere na percepção e na reação da criança. A comunicação visual do livro didático atua como um sistema de estímulo externo auxiliar, que pode aumentar a eficácia da atividade do aluno, principalmente em uma faixa etária onde o uso dos signos externos predomina. Conforme Vygotsky (2007, p.40) o “estímulo auxiliar é um instrumento psicológico que age a partir do meio exterior”.

Em relação à aprendizagem com o livro didático, pode-se pensar sobre o conceito de zona de desenvolvimento proximal e ampliá-lo, dado que seu foco são as transações sociais. Zanella (2007) esclarece que Vygotsky não deixou especificado que modos de auxílio social os professores deveriam oferecer às crianças e que constituiriam a zona de desenvolvimento proximal. O autor menciona “colaboração e orientação, bem como o fornecimento de assistência às crianças via demonstração, questões norteadoras e introdução dos elementos iniciais de solução da tarefa” (Op. cit., p.112). O livro didático como um todo pode se constituir em uma zona de desenvolvimento proximal para a criança, pois acaba operando como um espaço mediador, o „outro‟ que possui mais conhecimento. Nessa relação que se constitui, entram em jogo questões afetivas, onde o projeto gráfico pode influenciar, e de confiança, nas informações contidas no livro. O aluno quando usa seu livro didático, em grupo na escola, ou sozinho em casa, para solucionar dúvidas ou compreender um conteúdo, está interagindo, se apropriando e internalizando significações

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socialmente produzidas. Deste modo a zona de desenvolvimento proximal pode ser caracterizada pelo “sujeito envolvido em atividade colaborativa num contexto social específico” (Op. cit., p.115).

Em qualquer livro, a função do projeto gráfico é a de chamar a atenção, provocar a intenção e promover a leitura. O meio impresso, diferente do que acontece com outras mídias como a televisão e o rádio, que não necessariamente obrigam o sujeito a parar, exige atenção, intenção, pausa e concentração para refletir e compreender a mensagem. Para auxiliar a atingir estes objetivos, atualmente o projeto gráfico de qualquer livro pode se utilizar de inúmeros recursos fotográficos e de variadas técnicas de ilustração (massa de modelar, escultura em papel, digitalizações, recortes) que, junto com uma diagramação criativa e bem planejada, podem facilitar a compreensão do conteúdo e incentivar o relacionamento com o objeto livro.

Uma vez que a parte física do livro didático fica limitada devido à uma padronização em termos de formato, tipo de papel e aplicação de recursos gráficos exigida em edital pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), o projeto gráfico poderia apostar na criatividade, na diagramação, mas infelizmente não é o que se percebe. Alguns títulos são pouco estimulantes em relação ao seu aspecto gráfico. Se o visual for comparado com alguns livros de estórias, o livro didático é desinteressante. Deve-se lembrar que, quando pequena, a criança lida com o livro como se fosse mais um brinquedo. Entretanto, a medida que cresce e se modifica com a idade, o livro também vai se modificando, seja em seu formato, corpo de letra, números de páginas e quantidade de texto. O aspecto lúdico do livro, o prazer que a criança tem de interagir com ele vai se perdendo, principalmente ao entrar para a escola. Ele sai dos horários de lazer e passa a ser visto como uma obrigação, maçante muitas vezes. O que não necessariamente deveria ser assim.

A comunicação visual do livro didático deve ser tratada como um aspecto a favor dele já que, de acordo com Lins (2004, p.47) “aumenta sua quantidade de informação e as possibilidades de leitura, aumentando o interesse e, conseqüentemente, o consumo de livros de uma maneira geral”. Deve-se observar que o aspecto visual é o que mais chama atenção, causa impacto, ao primeiro contato. Para as crianças é extremamente importante pois, além de auxiliar a tradução e compreensão do conteúdo, convertendo ou

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ilustrando visualmente conceitos abstratos, a mediação que provoca é essencial para a experiência visual e a memorização. A percepção visual também influi no desenvolvimento emocional da criança e a torna, conforme o significado de suas experiências, mais ativa, independente ou auto-confiante. É a percepção que tem do objeto, neste caso do livro, que faz com que a criança reaja emocionalmente, como por exemplo, criando uma vontade de se relacionar com ele ou não.

No caso do projeto de livros, a atividade ainda é tomada de formalidades e tradições. Especificamente no mercado de livros didáticos, o miolo tem um padrão gráfico e as capas são simples e objetivas. Não há uma disposição, talvez por parte dos editores, em apostar em um projeto mais inovador. Conforme relata Dondis (2007, p.118),

o design de livros tem sido dominado pelo aspecto clássico das páginas em equilíbrio absoluto [...]. Porém, por maior que seja a segurança e a confiabilidade que a técnica harmoniosa do design nivelado pode oferecer, propiciando, como no caso dos livros, uma configuração de composição visual que não interfere com a mensagem, a mente e o olho exigem um estímulo. A monotonia representa para o design visual uma ameaça tão grande quanto em qualquer outra esfera da arte e da comunicação. A mente e o olho exigem estímulos e surpresas, e um design que resulte em êxito e audácia sugere a necessidade de aguçamento da estrutura e da mensagem.

Portanto, para ser eficaz, o projeto gráfico de qualquer material educativo precisa, além de ser inerente ao conteúdo, ser traduzido de modo criativo. Desta maneira há também a possibilidade do professor explorar o potencial educativo que o projeto gráfico oferece, a fim de promover mais conhecimento.

Considerações Finais

Por muito tempo, o texto escrito, o conteúdo, foi o mais importante e valorizado na hora de se produzir um livro, e as imagens desempenhavam um papel secundário ou simplesmente decorativo. Contudo hoje, a imagem passou a ser valorizada e seu papel é visto como menos decorativo e mais ilustrativo, no sentido de apoiar e complementar o conteúdo textual (COUTINHO; FREIRE, 2006). A relação entre imagem e texto, formas, cores,

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enfim toda comunicação visual do impresso, necessita ser observada, especialmente em relação à sua capacidade mediadora.

Aprofundar a questão da mediação que a comunicação visual do livro promove também levanta pontos como a apresentação do conteúdo de forma criativa, organizada e interessante, o estímulo ao estudo e a compreensão do conteúdo. A criança pode adquirir assim, de maneira mais eficiente, satisfatória e principalmente prazerosa, os conhecimentos escolares, facilitando a construção do conhecimento e ampliando o potencial pedagógico do livro.

Referências

COUTINHO, Solange G.; FREIRE, Verônica E. C. Design para Educação: uma

avaliação do uso da imagem nos livros infantis de língua portuguesa. In: Anais do 15º

Encontro Nacional da Anpap. Universidade de Salvador: UNIFACS, Salvador, 2006.

p.245-254.

DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Ministério da Educação. Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/home/index.jsp?arquivo=livro_didatico.html>. Acesso em: 20 fev. 2008.

HERNÁNDEZ, Fernando. Cultura Visual, Mudança Educativa e Projeto de

Trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ed. Ática, 2003.

LINS, Guto. Livro Infantil? Projeto gráfico, metodologia, subjetividade. 2. ed. rev. São Paulo: Rosari, 2004.

VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos

processos psicológicos superiores. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

ZANELLA, Andréa V. Vygotski: contexto, contribuições à psicologia e o conceito

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