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VARA DA AUDITORIA. Vanderson Sartori Gouvea impetrou Mandado de Segurança com Pedido de Liminar, alegando, em síntese, que:

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AUTOS DE MANDADO DE SEGURANÇA N° 0020011-39.2013.8.16.0013 IMPETRANTE: VANDERSON SARTORI GOUVEA

IMPETRADO: CORREGEDOR-GERAL DA POLÍCIA MILITAR DO

ESTADO DO PARANÁ

Vanderson Sartori Gouvea impetrou Mandado de Segurança com Pedido de Liminar, alegando, em síntese, que:

1) respondeu a processo administrativo, no qual foi punido disciplinarmente com 5 (cinco) dias de prisão;

2) interpôs os recursos cabíveis da decisão, porém ao interpor pedido de reconsideração de ato da decisão proferida pelo Comandante-Geral, equivocadamente fez constar no cabeçalho “Governador do Estado do Paraná”, o que levou a COGER a não conhecer referido recurso e não encaminhá-lo para apreciação do Comandante-Geral;

3) a COGER deveria ter aplicado o princípio da fungibilidade, uma vez que o conteúdo da reconsideração de ato permitia concluir que se tratava de pedido formulado para o Comandante-Geral, prolator da decisão impugnada;

4) a despeito do claro equívoco cometido, foi instaurado novo FATD em desfavor do Impetrante, por apresentar recurso suprimindo instância administrativa, o que violaria o item 13 do anexo I do RDE.

Ao final, solicita a concessão de liminar para o fim de “a) determinar à COGER que envie o Pedido de Reconsideração de Ato interposto no FATD 857/2010 ao Comandante-Geral da PMPR, para apreciação; b) determinar à COGER que suspenda a punição determinada nos autos de FATD 857/2010, caso ainda não tenha cumprido; c) determinar à COGER a suspensão imediata do FATD 16/2013. Caso já tenha tramitado o FATD 16/2013 com punição ao Paciente, que seja suspensa a punição até decisão final do presente Mandamus”. Requer ainda a tramitação do processo com prioridade, tendo em vista a prisão do Impetrante, iniciada no dia 16 de agosto de 2013. Juntou documentos.

Em petição de emenda à inicial (evento 5.1), o Impetrante aduz que, caso se entenda pela inadmissibilidade do recurso de reconsideração de ato destinado ao Comandante-Geral, que o conheça como recurso destinado ao Governador do Estado, donde a administração militar não poderia ter

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realizado “exame de admissibilidade” do referido recurso, devendo remetê-lo a esta autoridade.

Vieram-me os autos conclusos.

Sabe-se que o mandado de segurança deve proteger direito líquido e certo do Impetrante, violado (ou com justo receio de que possa ser violado) ilegalmente ou por abuso de poder de autoridade (artigo 1º da Lei nº 12.016/2009). Direito líquido e certo é aquele demonstrado de plano por meio de prova pré-constituída.

Conforme art. 7º, inciso III, da Lei nº 12016/2009, ao despachar a inicial, o juiz ordenará que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando, concomitantemente, a) houver fundamento relevante; b) do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida.

Insurge-se o Impetrante contra imposição de cumprimento de pena disciplinar de 05 (cinco) dias prisão, antes do julgamento do recurso de reconsideração de ato por ele interposto, que não foi conhecido pela administração pública.

Da decisão constante no evento 1.50, infere-se que o pedido de reconsideração de ato interposto pelo Impetrante deixou de ser conhecido não só por haver sido endereçado para o Governador do Estado, mas também por suposta ocorrência de preclusão consumativa, senão vejamos:

O Formulário de Apuração de Transgressão Disciplinar é

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A referida Portaria não prevê expressamente os recursos cabíveis contra eventual decisão punitiva. Já o RDE, por sua vez, é expresso ao admitir tanto o pedido de reconsideração de ato como o recuso disciplinar, nos seguintes termos:

Art. 52. O militar que se julgue, ou julgue subordinado seu, prejudicado, ofendido ou injustiçado por superior hierárquico tem o direito de recorrer na esfera disciplinar.

Parágrafo único. São cabíveis:

I - pedido de reconsideração de ato; e

II - recurso disciplinar.

Art. 53. Cabe pedido de reconsideração de ato à autoridade que houver proferido a primeira decisão, não podendo ser renovado.

Verifico que o recurso interposto no evento 1.49 teve, claramente, o intuito de ser remetido para o Comandante-Geral, e não para o Governador do Estado, como constou no cabeçalho da peça em questão.

Primeiramente, pela natureza do recurso em si, que pressupõe um pedido à mesma autoridade que proferiu a decisão para que reveja seu ato, como o próprio nome diz.

Em segundo lugar, a simples leitura do recurso permite concluir, indene de dúvidas, que seu destinatário é o Comandante-Geral, conforme se infere de diversas passagens da peça, destacando-se a conclusão:

Assim, denota-se que o Impetrante pretendia que o Comandante-Geral revisse sua decisão para, caso esta restasse mantida, “interpor recurso administrativo para o Governador do Estado do Paraná”.

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Desta feita, é possível concluir que o endereçamento da peça recursal para o Governador do Estado constitui erro material que podia facilmente ser verificado da leitura da petição, de modo que a intenção do Impetrante era claramente de interpor reconsideração de ato direcionada para o Comandante-Geral.

Consequentemente, não se vislumbra que sua atitude possa ser capitulada no item 13 do anexo I do RDE, a justificar a instauração de novo processo disciplinar.

O RDE não dispõe sobre os efeitos em que a reconsideração de ato e o recurso disciplinar devam ser recebidos, de sorte que, pela regra geral, amparada pela assente doutrina e jurisprudência, o efeito suspensivo não poderia ser simplesmente presumido, devendo constar expressamente do texto da lei. Essa regra, porém, não é absoluta e pode ser relativizada de acordo com o caso em concreto.

Na hipótese dos autos, em que pese o silêncio normativo, tem-se que, excepcionalmente, devem ser concedidos efeitos suspensivos aos recursos administrativos até o esgotamento das vias recursais.

Isto porque, diante da natureza da punição aplicada ao Impetrante (pena de prisão) torna-se impossível a reversão da decisão punitiva, eis que ela se esgota pelo próprio cumprimento da penalidade. É diferente do rebaixamento de comportamento, por exemplo, cujos efeitos podem ser posteriormente anulados.

Ora, se a parte tivesse de cumprir a penalidade mesmo havendo recurso pendente de julgamento, a previsão legal dos recursos administrativos seria letra morta, e o intento para o qual foram previstos (revisão por órgão superior) jamais seria alcançado.

Ademais, conforme bem salientado pelo doutrinador Eliezer Pereira Martins, no âmbito militar, o efeito suspensivo atribuído aos recursos é mecanismo que assegura o princípio da presunção de inocência, ao impedir que seja cumprida pena de prisão até que haja o trânsito em julgado administrativo1:

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“O efeito suspensivo impõe-se no processo administrativo disciplinar militar, por simetria processual, com o principio da presunção de inocência do acusado vigente no processo penal. Isto importa que enquanto não houver decisão administrativa com trânsito em julgado, não haverá ensejo para execução da pena por transgressão disciplinar militar.”

Nesse sentido, colaciono também importante decisão do Tribunal Pleno do STF acerca da aplicação do princípio da inocência, a qual trago de forma análoga ao considerar que a pena versada é de prisão, capaz de vilipendiar o direito de ir e vir e privar o infrator da liberdade, ainda que de forma curta e disciplinar:

EMENTA: HABEAS CORPUS. INCONSTITUCIONALIDADE DA CHAMADA "EXECUÇÃO ANTECIPADA DA PENA". ART. 5º, LVII, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. ART. 1º, III, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. 1. O art. 637 do CPP estabelece que "[o] recurso extraordinário não tem efeito suspensivo, e uma vez arrazoados pelo recorrido os autos do traslado, os originais baixarão à primeira instância para a execução da sentença". A Lei de Execução Penal condicionou a execução da pena privativa de liberdade ao trânsito em julgado da sentença condenatória. A Constituição do Brasil de 1988 definiu, em seu art. 5º, inciso LVII, que "ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória". (...). 3. A prisão antes do trânsito em

julgado da condenação somente pode ser decretada a título cautelar. (...). 5.

Prisão temporária (...) exprimem muito bem o sentimento que EVANDRO LINS sintetizou na seguinte assertiva: "Na realidade, quem está desejando punir demais, no fundo, no fundo, está querendo fazer o mal, se equipara um pouco ao próprio delinqüente". (...) 8. Nas democracias mesmo os criminosos são sujeitos de direitos. Não perdem essa qualidade, para se transformarem em objetos processuais. São pessoas, inseridas entre aquelas beneficiadas pela afirmação constitucional da sua dignidade (art. 1º, III, da Constituição do Brasil). É inadmissível a sua exclusão

social, sem que sejam consideradas, em quaisquer circunstâncias, as singularidades de cada infração penal, o que somente se pode apurar plenamente quando transitada em julgado a condenação de cada qual Ordem concedida. (HC 84078, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em

05/02/2009, DJe-035 DIVULG 25-02-2010 PUBLIC 26-02-2010 EMENT VOL-02391-05 PP-01048)

Ademais, vislumbro no presente feito também o requisito do periculum in mora, pois, ao final do julgamento de cada recurso administrativo o Impetrante poderia sofrer prisão ilegal.

Pelo exposto, defiro o pedido de concessão de liminar formulado, para:

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1) Determinar à COGER que envie o pedido de reconsideração de ato interposto no FATD 857/2010 ao Comandante-Geral da PMPR;

2) Determinar à autoridade do 11º Batalhão de Polícia Militar responsável pela fiscalização do cumprimento da pena disciplinar que suspenda a punição imposta nos autos de FATD 857/2010, até que haja apreciação do pedido de reconsideração de ato pelo Excelentíssimo Comandante-Geral da PMPR;

3) Determinar a suspensão do FATD nº 16/2013 até decisão final deste mandado de segurança.

Oficie-se à autoridade responsável pelo 11º Batalhão de Polícia Militar para que providencie a soltura imediata do Impetrante. Esclareço que acaso seja mantida a punição depois dos julgamentos dos recursos administrativos, poderá ser executada a pena de prisão disciplinar.

Oficie-se à autoridade responsável para suspensão do FATD nº 16/2013.

Notifique-se a autoridade indicada como coatora do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe cópia da inicial e documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações.

Dê-se ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem documentos, para que, desejando, ingresse no feito.

Após a apresentação das informações, dê-se vista ao Ministério Público para manifestação acerca do mérito.

Intime-se o advogado do Impetrante acerca do conteúdo desta decisão e para que junte os três últimos contracheques do impetrante, diante do pedido de assistência judiciária.

Realizadas as medidas, voltem conclusos. Curitiba, 16 de agosto de 2013.

DAVI PINTO DE ALMEIDA

Referências

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