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Caracterização das vítimas de violência doméstica, sexual e/ou outras violências no Brasil 2014

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Caracterização das vítimas de violência doméstica, sexual

e/ou outras violências no Brasil – 2014

Characterization of victims of domestic violence, sexual and / or other violence in Brazil – 2014

Raniela Borges Sinimbu1

Márcio Dênis Medeiros Mascarenhas2

Marta Maria Alves da Silva3

Mércia Gomes Oliveira de Carvalho4

Morgana Rodrigues dos Santos5

Mariana Gonçalves Freitas6 Resumo

A violência é um fenômeno sociohistórico que afeta a saúde individual e coletiva. Este artigo tem por objetivo descrever os casos de violência doméstica, sexual e/ou outras violências notificados por meio do Sistema de Vigilância de Violência e Acidentes (VIVA). Trata-se de estudo descritivo, retrospectivo, realizado com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), abrangendo notificações realizadas no ano de 2014 no Brasil. A violência física foi a mais notificada. Na maioria dos casos a violência ocorreu na própria residência e o agressor tinha relação de proximidade com a pessoa em situação de violência. As maiores proporções de casos notificados foram identificadas entre adultos e adolescentes, em ambos os sexos, porém em todas as faixas etárias há predomínio no sexo feminino.

Palavras-chave: Violência; violência doméstica; lesões autoprovocadas; epidemiologia

Abstract

Violence is a socio-historical phenomenon that affects the individual and collective health. The article aims to describe the cases of violence reported by the Violence and Injury Surveillance System. It is a descriptive, retrospective study with the Notifiable Diseases Information System data, including reports of violence carried out in 2014 in Brazil. Physical violence was the most notified. In most cases the violence occurred in their own home and the abuser had close relationship with the victim. The highest rates of reported cases have been identified among adults and adolescents, in both sexes, but in all age groups, there is a predominance in females.

Keywords: Violence; domestic violence; self-harm injuries; epidemiology Introdução

1Enfermeira. Especialista em Terapia Intensiva. E-mail: ranielasinimbu@gmail.com. Universidade Federal do Piauí. 2Enfermeiro, Doutor em Ciências Médicas. E-mail: mdm.mascarenhas@gmail.com. Universidade Federal do Piauí.

3Médica. Mestre em Saúde Coletiva. E-mail: marta.silva@saude.gov.br. Secretaria de Vigilância em Saúde. Ministério da Saúde. 4Fisioterapeuta. Mestre em Ciências da Nutrição. E-mail: mercia.carvalho@saude.gov.br. Secretaria de Vigilância em Saúde. Ministério

da Saúde.

5 Assistente Social. E-mail: morgana.santos@saude.gov.br. Secretaria de Vigilância em Saúde. Ministério da Saúde.

6Farmacêutica-Bioquímica. Mestre em Epidemiologia-Saúde Pública. E-mail: mariana.freitas@saude.gov.br. Secretaria de Vigilância em

Saúde. Ministério da Saúde.

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O fenômeno da violência é um processo multicausal caracterizado pelo uso de força física ou poder contra um indivíduo, grupo ou comunidade, que resulte em sofrimento, morte, dano psicológico, prejuízo ao desenvolvimento ou privação. Pode expressar-se de variadas formas e atingir qualquer indivíduo independentemente de faixa etária, do sexo, da posição social ou da etnia. Apresenta raízes históricas, culturais, econômicas e sociais1,2. É fundamental conhecer

as características de um problema de saúde pública tão desafiador como é o caso da violência. Assim, o presente artigo tem como objetivo descrever os casos de violência notificados nos serviços de saúde por meio do Sistema de Vigilância de Violência e Acidentes (VIVA), o qual dá visibilidade ao tema, possibilitando a criação de Políticas Públicas voltadas à prevenção da violência, da promoção da saúde e da cultura de paz.

Contextualização da violência como problema de saúde pública

A violência pode ser classificada em: física, psicológica/moral, sexual e negligência ou abandono1,2. De maneira geral crianças, mulheres e pessoas idosas são as vítimas mais

frequentes por serem consideradas populações vulneráveis3. Cabe ressaltar, que com a

transição demográfica e o envelhecimento populacional a violência contra a pessoa idosa acompanhou a tendência crescente. Em muitas situações os atos de agressão são naturalizados, por isso muitas pessoas não os identificam como violência. Casos de violência contra a mulher, em geral, são banalizados, em função de aspectos culturais, devido à herança de uma sociedade machista e patriarcal. Na maioria das situações, os atos são praticados por agressores conhecidos ou mesmo membros do ciclo familiar da pessoa que sofre violência4.

Outros segmentos populacionais, como crianças e pessoas idosas também são vítimas de violência e omissões que resultam em sofrimento desnecessário, violação dos direitos humanos e redução na qualidade de vida5.

O fenômeno se configura como um dos problemas mais relevantes na sociedade atual. Pode ser encontrado em todas as classes sociais, desde as classes mais baixas até as mais abastadas no País. Conforme a Pesquisa Nacional de Saúde, a prevalência de violência cometida por pessoa conhecida na população adulta no Brasil em 2013 foi de 2,5% (IC95%: 2,3-2,7), significativamente maior entre as mulheres - 3,1% (IC95%: 2,8-3,5) - quando comparadas aos homens - 1,8% (IC95%: 1,6-2,1)6.

A violência, por ser um fenômeno sociohistórico acompanhado de experiência da humanidade, torna-se problema de saúde pública porque afeta a saúde individual e coletiva, e para sua prevenção e tratamento, exige formulação de políticas específicas e organização de práticas e de serviços peculiares ao setor4.

Além disso, a violência onera o sistema de saúde devido às despesas com cuidados hospitalares, a redução dos anos de vida produtiva, a possibilidade de deixar sequelas às vítimas e o aumento da mortalidade. Percebe-se ainda que não só a vítima sofre com a agressão; a família, os cuidadores e profissionais de saúde também são envolvidos4.

No Brasil, o início da década de 1980 teve uma forte mobilização sobre a temática - violência contra a mulher. Sua articulação em movimentos próprios e uma busca por parcerias com o Estado para a resolução desta problemática, resultaram em várias conquistas. Um fato que representou o marco histórico a essa luta foi aprovação da Lei Maria da Penha de nº 11.340, que entrou em vigência no dia 22 de setembro de 2006, depois de ter sido amplamente discutida7.

As Leis 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), a 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) e a 11.340/2006 (Maria da Penha) trouxeram resultados positivos em vários aspectos

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para esses grupos vulneráveis, mas o enfrentamento da violência é ainda um grande desafio da sociedade brasileira, que deve ser sensibilizada na tentativa de coibir todos os tipos de violência com intuito de prevenir esses atos agressores7-9. Apesar do tema violência figurar no

cenário das políticas sociais como um importante problema de Saúde Pública no Brasil, há escassez de estudos que permitam a identificação de sua magnitude na população em geral. Alguns estudos existentes dimensionam o problema em seguimentos populacionais específicos10-12, em áreas geográficas de abrangência limitada ou apenas em serviços

selecionados13, mas não exploram a distribuição do evento em dimensão nacional.

Atualmente, a Vigilância de Violência e Acidentes (VIVA) do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) está implantada em apenas de 60% dos municípios brasileiros e tem como objeto de notificação a violência doméstica/intrafamiliar (física, psicológica/moral, financeira/econômica, negligência/abandono) sexual, autoprovocada, tráfico de pessoas, trabalho escravo, trabalho infantil, tortura, intervenção legal contra mulheres e homens de todas as idades. Para melhor qualificar o registro das informações, o Instrutivo de Notificação de Violência Doméstica, Sexual e/ou Outras Violências14 destaca os seguintes conceitos:

Violência física (sevícia física, maus-tratos físicos ou abuso físico)

Atos violentos, nos quais se faz uso da força física de forma intencional, não acidental, com o objetivo de ferir, lesar, provocar dor e sofrimento ou destruir a pessoa, deixando, ou não, marcas evidentes no seu corpo.

Violência psicológica

Toda forma de rejeição, depreciação, discriminação, desrespeito, cobrança exagerada, punições humilhantes e utilização da pessoa para atender às necessidades psíquicas de outrem.

Tortura

Ato de constranger alguém com emprego de força ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental com a finalidade de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa, provocar ação ou omissão de natureza criminosa, em razão de discriminação racial ou religiosa.

Violência sexual

Qualquer ação na qual uma pessoa, valendo-se de sua posição de poder e fazendo uso de força física, coerção, intimidação ou influência psicológica, com uso ou não de armas ou drogas, obriga outra pessoa – de qualquer sexo – a ter, presenciar, ou participar, de alguma maneira, de interações sexuais ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, com fins de lucro, vingança ou outra intenção.

Tráfico de seres humanos

Inclui o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento de pessoas, recorrendo à ameaça, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade, ao uso da força ou a outras formas de coação, ou à situação de vulnerabilidade, para exercer prostituição, ou trabalho sem remuneração, escravo ou de servidão, ou para remoção e comercialização de órgãos, com emprego ou não de força física.

Violência financeira (econômica)

Ato de violência que implica dano, perda, subtração, destruição ou retenção de objetos, documentos pessoais, bens e valores de outrem.

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Omissão pela qual se deixou de prover as necessidades e os cuidados básicos para o desenvolvimento físico, emocional e social de outrem.

Trabalho infantil

É o conjunto de ações e atividades desempenhadas por crianças (com valor econômico direto ou indireto), inibindo-as de viver plenamente sua condição de infância e adolescência.

Intervenção legal

Ato violento praticado durante intervenção por agente legal público, isto é, representante do Estado, polícia ou de outro agente da lei no uso da sua função.

Outros

Qualquer outro tipo de violência não contemplado nas categorias anteriormente citadas.

Metodologia

Estudo descritivo, retrospectivo, realizado com dados obtidos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação – versão Net (Sinan Net) abrangendo as notificações de violência doméstica, sexual e/ou outras violências no Brasil realizadas no período de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2014.

Para os fins de notificação no Sinan Net, a violência é considerada como “o uso intencional de força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade que resulte ou tenha possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação”15.

Segundo diretrizes do Ministério da Saúde14, compõem o objeto de notificação de violência no

Sinan Net, os casos suspeitos ou confirmados de violência doméstica / intrafamiliar (física, psicológica/moral, financeira/econômica, negligência/abandono,) sexual, autoprovocada, tráfico de pessoas, trabalho escravo, trabalho infantil, tortura, intervenção legal contra mulheres e homens de todas as idades. No caso de violência extrafamiliar/comunitária, somente serão objeto de notificação as violências contra crianças, adolescentes, mulheres, pessoas idosas, pessoas com deficiência, pessoa com transtornos mentais, indígenas e população identificada como lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT).

Os dados deste artigo foram captados por meio da Ficha de notificação/investigação individual de violência doméstica, sexual e/ou outras violências, que contém variáveis sobre: vítima/pessoa atendida, ocorrência, tipologia da violência, consequências da violência, lesão, provável agressor, evolução e encaminhamentos. A ficha é preenchida nos serviços de saúde e outras fontes notificadoras e os dados são digitados no Sinan Net no nível municipal e transferidos para as esferas estadual e federal para compor a base de dados nacional.

As notificações de violência foram divididas em quatro grupos, quais sejam: crianças (0 a 9 anos), adolescentes (10 a 19 anos), adultos (20 a 59 anos) e pessoas idosas (≥60 anos). Em cada um desses grupos, os dados foram analisados segundo: características demográficas das vítimas (sexo, raça/cor da pele, escolaridade, presença de deficiência ou transtorno); características da ocorrência (local, violência de repetição, natureza da lesão, parte do corpo atingida, evolução); tipo de violência e meio de agressão; características do agressor (sexo, tipo, suspeita de consumo de bebida alcoólica).

Os registros foram importados do Sinan Net, tabulados e analisados por meio dos programas Excel e Stata versão 11 (Stata Corp., College Station, Estados Unidos).

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Os dados aqui apresentados fazem parte das grandes bases de informação do Sistema Único de Saúde (SUS), amplamente divulgadas e disponibilizadas no sítio do DATASUS, sem permitir o conhecimento da identidade das vítimas cujos registros constam dos bancos analisados. Desta forma, não foi necessário submeter o protocolo deste estudo à apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa. Foram garantidos o anonimato e a confidencialidade das informações nos registros para preservar a identidade dos indivíduos que compunham a base de dados analisada, conforme diretrizes da Resolução nº 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde.

Resultados

Na presente análise foram considerados os dados do ano de 2014 do VIVA, quando foram realizadas 197.156 notificações. Destas, 53.708 ocorreram entre homens e 143.448, entre mulheres. Em relação à faixa etária, 30.240 (16%) dos casos foram registrados entre crianças de zero a 9 anos de idade, 53.821 (27%) dos casos ocorreram entre adolescentes de 10 a 19 anos, 100.798 (51%) dos casos atingiram adultos de 20 a 59 anos, 12.297 (6%) foram de idosos com 60 ou mais anos (Figura 1).

Figura 1 – Distribuição proporcional das notificações de violência doméstica, sexual e/ou outras violências segundo grupo etário da vítima. Brasil, 2014

Fonte: Ministério da Saúde (MS), Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA).

A caracterização das vítimas de violência notificadas no Brasil em 2014 encontra-se descritas nas tabelas 1 e 2. Em relação à raça/cor da pele, houve predomínio de pardos e brancos em todas as faixas etárias e ambos os sexos. Quanto aos anos de escolaridade, verificou-se que do total das notificações, 15% eram crianças com zero a quatro anos de estudo. Entre os adolescentes, 28,8% tinham de 5 a 8 anos de estudo e 19,11%, de 9 a 11 anos. Entre as pessoas idosas, figuram em maior proporção de acometidos por violência aquelas que tinham menor escolaridade (34,2%).

No que diz respeito ao local de ocorrência da violência, mais da metade das vítimas sofreram agressões no domicílio, seguido por agressões ocorridas em via pública, em todas as faixas

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etárias. Proporções no domicílio e via pública: pessoas idosas com 70,4% e 10,1%, adultos com 65,7% e 14,3%, adolescentes com 48,6% e 22,5% e crianças com 65,7% e 6,1%. As violências contra crianças e adolescentes apresentaram uma proporção considerável quando se analisa o ambiente escolar: crianças com 3,2% e adolescentes com 4,4%.

Quanto ao atendimento prestado às pessoas que sofreram violência, predominou a necessidade de assistência às vítimas de violência física: crianças (29,9%), adolescentes (64,4%), adultos (80,0%) e idosos (62,0%). Em relação às outras formas de violência, destaca-se a violência psicológica/moral e violência sexual: crianças (16,9% e 27,4%), adolescentes (23,1% e 24,1%), adultos (33,1% e 6,0%) e pessoas idosas (28,2% e 2,1%), com predomínio para vítimas do sexo feminino.

Os atos de negligência mostram-se mais expressivos quando acometem crianças (51,6%) e pessoas idosas (26,4%), neste último grupo etário chama atenção também a ocorrência da violência financeira (7,4%). Cabe destacar que em relação à violência de repetição, as pessoas idosas representam 36,3%, os adultos 37,8%, os adolescentes 28,4% e as crianças 25,5%. Destaca-se importante proporção do não registro das variáveis raça/cor, escolaridade, bem como a falta de informação no que diz respeitoao local de ocorrência da violência.

Quanto aos dados do provável autor da violência, na maior parte das notificações, tratava-se de pessoa com relação de proximidade com a vítima. Entre as crianças os prováveis autores mais relatados foram: a mãe (44,2%), o pai (27,8%) e amigos/conhecidos (10,2%); quanto aos adolescentes: amigos/conhecidos (18,9%), desconhecidos (15,0%), a mãe e o pai (11,1% e 10,4%); nos adultos: cônjuge (27,5%), própria pessoa (17,5%), ex-cônjuge (9,8%) e nas pessoas idosas: filho (28,4%), cônjuge (9,0%), amigos e desconhecidos (10,1% e 10,9%), ressalta-se ainda nessa faixa etária, irmão (3,0%) e cuidador (2,8%).

Chama atenção a elevada proporção da violência contra a própria pessoa (autoprovocada) nas diferentes faixas etárias: nos homens adultos (47,5%), nas mulheres adultas (16,4%), nas adolescentes (14,7%), e homens idosos (12,4%), nos adolescentes (10,6%) e mulheres idosas (10,5%). Observou-se, por parte do provável autor da agressão, a suspeita de ingestão de bebida alcoólica: em pessoas adultas (32,2%), em pessoas idosas (22,9%) e em adolescentes (17,7%).

Ressalta-se o número de casos que evoluíram para óbito pela violência: crianças (0,5%), adolescentes (1,2%), pessoas adultas (1,5%) e pessoas idosas (2,9%). Ainda há elevada proporção de não preenchimento desta variável nas diferentes faixas etárias: crianças (44,1%), adolescentes (32,3%), adultos (35,9%) e pessoas idosas (39,55%).

Tabela 1 - Caracterização das vítimas de violência doméstica, sexual e/ou outras violências entre crianças e adolescentes segundo sexo. Brasil, 2014

Características

Criança (0 a 9 anos) Adolescente (10 a 19 anos)

Masculino Feminino Total Masculino Feminino Total

(n = 14.172) (n = 16.068) (n = 30.240) (n = 19.019) (n = 34.802) (n = 53.821) n % n % n % n % n % n % Raça/ cor Branca 5.760 40,6 6.626 41,2 12.386 41,0 6.193 32,6 12.826 36,9 19.019 35,3 Preta 808 5,7 923 5,7 1.731 5,7 1.540 8,1 2.528 7,3 4.068 7,6 Amarela 73 0,5 64 0,4 137 0,5 91 0,5 224 0,6 315 0,6 Parda 4.747 33,5 5.480 34,1 10.227 33,8 7.124 37,5 13.715 39,4 20.839 38,7

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Indígena 77 0,5 151 0,9 228 0,8 218 1,1 326 0,9 544 1,0 Sem informação 2.707 19,1 2.824 17,6 5.531 18,3 3.853 20,3 5.183 14,9 9.036 16,8 Escolaridade (anos) 0 a 4 2.092 14,8 2.476 15,4 4.568 15,1 2.287 12,0 3.454 9,9 5.741 10,7 5 a 8 0 0,0 2 0,0 2 0,0 5.085 26,7 10.438 30,0 15.523 28,8 9 a 11 0 0,0 2 0,0 2 0,0 2.999 15,8 7.328 21,1 10.327 19,2 12 e mais 0 0,0 0 0,0 0 0,0 726 3,8 2.160 6,2 2.886 5,4 Não se aplica 11.060 78,0 12.514 77,9 23.574 78,0 1 0,0 4 0,0 5 0,0 Sem informação 1.020 7,2 1.074 6,7 2.094 6,9 7.921 41,6 11.418 32,8 19.339 35,9 Gestante Sim 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 3.640 10,5 3.640 6,8 Violência de repetição Sim 3.350 23,6 4.367 27,2 7.717 25,5 3.566 18,7 11.742 33,7 15.308 28,4 Local de ocorrência Residência 8.965 63,3 10.898 67,8 19.863 65,7 6.027 31,7 20.119 57,8 26.146 48,6 Habitação coletiva 75 0,5 80 0,5 155 0,5 178 0,9 219 0,6 397 0,7 Escola 520 3,7 451 2,8 971 3,2 1.065 5,6 1.277 3,7 2.342 4,4 Local de prática esportiva 43 0,3 24 0,1 67 0,2 210 1,1 139 0,4 349 0,6 Bar ou similar 37 0,3 50 0,3 87 0,3 519 2,7 491 1,4 1.010 1,9 Via pública 1.074 7,6 767 4,8 1.841 6,1 6.304 33,1 5.811 16,7 12.115 22,5 Comércio/ serviços 408 2,9 357 2,2 765 2,5 283 1,5 401 1,2 684 1,3 Industrias/ construção 16 0,1 10 0,1 26 0,1 42 0,2 74 0,2 116 0,2 Outros 1.616 11,4 1.645 10,2 3.261 10,8 1.101 5,8 2.179 6,3 3.280 6,1 Sem informação 1.418 10,0 1.786 11,1 3.204 10,6 3.290 17,3 4.092 11,8 7.382 13,7 Tipo de Violênciaª Física 4.615 32,6 4.413 27,5 9.028 29,9 14.663 77,1 19.975 57,4 34.638 64,4 Psicológica/ moral 2.125 15,0 2.973 18,5 5.098 16,9 2.842 14,9 9.595 27,6 12.437 23,1 Negligência/ abandono 8.459 59,7 7.152 44,5 15.611 51,6 2.869 15,1 3.183 9,1 6.052 11,2 Sexual 2.192 15,5 6.101 38,0 8.293 27,4 968 5,1 12.011 34,5 12.979 24,1 Tráfico de seres humanos 2 0,0 13 0,1 15 0,0 3 0,0 25 0,1 28 0,1 Financeira 73 0,5 79 0,5 152 0,5 66 0,3 181 0,5 247 0,5 Tortura 226 1,6 256 1,6 482 1,6 280 1,5 971 2,8 1.251 2,3 Trabalho infantil 65 0,5 85 0,5 150 0,5 298 1,6 190 0,5 488 0,9 Intervenção legal 31 0,2 53 0,3 84 0,3 69 0,4 124 0,4 193 0,4 Outros 577 4,1 498 3,1 1.075 3,6 982 5,2 2.726 7,8 3.708 6,9 Lesão autoprovocada Sim 7 0,0 11 0,1 18 0,1 2.007 10,6 5.101 14,7 7.108 13,2 Violência relacionada ao trabalho Sim 93 0,7 105 0,7 198 0,7 377 2,0 391 1,1 768 1,4

Relação com a vítimaª

Pai 4.211 29,7 4.183 26,0 8.394 27,8 2.274 12,0 3.297 9,5 5.571 10,4 Mãe 7.183 50,7 6.173 38,4 13.356 44,2 2.661 14,0 3.320 9,5 5.981 11,1 Padrasto 529 3,7 1.081 6,7 1.610 5,3 446 2,3 1.889 5,4 2.335 4,3 Madrasta 93 0,7 102 0,6 195 0,6 91 0,5 124 0,4 215 0,4 Cônjuge 23 0,2 108 0,7 131 0,4 88 0,5 2.797 8,0 2.885 5,4 Ex-Cônjuge 10 0,1 40 0,2 50 0,2 31 0,2 836 2,4 867 1,6 Namorado (a) 15 0,1 41 0,3 56 0,2 84 0,4 2.751 7,9 2.835 5,3

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Ex-Namorado (a) 5 0,0 13 0,1 18 0,1 34 0,2 916 2,6 950 1,8

Filho 25 0,2 43 0,3 68 0,2 32 0,2 69 0,2 101 0,2

Irmão 268 1,9 369 2,3 637 2,1 440 2,3 966 2,8 1.406 2,6

Cuidador 185 1,3 238 1,5 423 1,4 56 0,3 96 0,3 152 0,3

Patrão/ chefe 3 0,0 1 0,0 4 0,0 80 0,4 63 0,2 143 0,3

Pessoa com relação

institucional 102 0,7 109 0,7 211 0,7 198 1,0 175 0,5 373 0,7

Amigos/ conhecidos 1.356 9,6 1.729 10,8 3.085 10,2 3.654 19,2 6.509 18,7 10.163 18,9 Desconhecido 464 3,3 558 3,5 1.022 3,4 3.916 20,6 4.180 12,0 8.096 15,0 Policial/ agente da lei 11 0,1 13 0,1 24 0,1 567 3,0 120 0,3 687 1,3 Própria pessoa 275 1,9 246 1,5 521 1,7 1.668 8,8 4.177 12,0 5.845 10,9 Outros 1.491 10,5 2.387 14,9 3.878 12,8 954 5,0 2.525 7,3 3.479 6,5 Suspeita de uso de álcool Sim 1.520 10,7 1.886 11,7 3.406 11,3 3.041 16,0 6.481 18,6 9.522 17,7 Evolução do Caso Alta 6.980 49,3 8.089 50,3 15.069 49,8 11.414 60,0 21.606 62,1 33.020 61,4 Evasão/ fuga 858 6,1 786 4,9 1.644 5,4 327 1,7 468 1,3 795 1,5

Óbito por violência 82 0,6 65 0,4 147 0,5 505 2,7 156 0,4 661 1,2 Óbito por outras causas 29 0,2 25 0,2 54 0,2 14 0,1 13 0,0 27 0,1 Sem informação 6.223 43,9 7.103 44,2 13.326 44,1 6.759 35,5 12.559 36,1 19.318 35,9

Fonte: Ministério da Saúde (MS), Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA).

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Tabela 2 - Caracterização das vítimas de violência doméstica, sexual e/ou outras violências entre adultos e pessoas idosas segundo sexo. Brasil, 2014

Características

Adulto (20 a 59 anos) Pessoa idosa (≥ 60 anos)

Masculino Feminino Total Masculino Feminino Total

(n = 14.947) (n = 85.851) (n = 100.798) (n = 5.570) (n = 6.727) 12.297) (n = n % n % n % n % n % n % Raça/ cor Branca 6.696 44,8 35.371 41,2 42.067 41,7 2.555 45,9 3.386 50,3 5.941 48,3 Preta 1.281 8,6 7.363 8,6 8.644 8,6 435 7,8 550 8,2 985 8,0 Amarela 115 0,8 526 0,6 641 0,6 39 0,7 52 0,8 91 0,7 Parda 4.786 32,0 28.789 33,5 33.575 33,3 1.627 29,2 1.813 27,0 3.440 28,0 Indígena 338 2,3 591 0,7 929 0,9 47 0,8 55 0,8 102 0,8 Sem informação 1.731 11,6 13.211 15,4 14.942 14,8 867 15,6 871 12,9 1.738 14,1 Escolaridade (anos) 0 a 4 2.307 15,4 9.914 11,5 12.221 12,1 1.893 34,0 2.309 34,3 4.202 34,2 5 a 8 2.075 13,9 11.336 13,2 13.411 13,3 332 6,0 392 5,8 724 5,9 9 a 11 1.891 12,7 12.726 14,8 14.617 14,5 242 4,3 358 5,3 600 4,9 12 e mais 2.531 16,9 18.753 21,8 21.284 21,1 250 4,5 384 5,7 634 5,2 Não se aplica 0 0,0 6 0,0 6 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 Sem informação 6.143 41,1 33.116 38,6 39.259 38,9 2.853 51,2 3.284 48,8 6.137 49,9 Gestante Sim 0 0,0 4.280 5,0 4.280 4,2 0 0,0 7 0,1 7 0,1 Violência de repetição Sim 4.295 28,7 33.840 39,4 38.135 37,8 1.520 27,3 2.940 43,7 4.460 36,3 Local de ocorrência Residência 10.371 69,4 55.894 65,1 66.265 65,7 3.302 59,3 5.349 79,5 8.651 70,4 Habitação coletiva 117 0,8 384 0,4 501 0,5 50 0,9 64 1,0 114 0,9 Escola 33 0,2 369 0,4 402 0,4 10 0,2 6 0,1 16 0,1 Local de prática esportiva 37 0,2 190 0,2 227 0,2 14 0,3 6 0,1 20 0,2 Bar ou similar 398 2,7 1.980 2,3 2.378 2,4 167 3,0 33 0,5 200 1,6 Via pública 1.940 13,0 12.491 14,5 14.431 14,3 838 15,0 409 6,1 1.247 10,1 Comércio/ serviços 225 1,5 1.367 1,6 1.592 1,6 110 2,0 66 1,0 176 1,4 Industrias/ construção 53 0,4 112 0,1 165 0,2 9 0,2 3 0,0 12 0,1 Outros 766 5,1 3.292 3,8 4.058 4,0 293 5,3 224 3,3 517 4,2 Sem informação 1.007 6,7 9.772 11,4 10.779 10,7 777 13,9 567 8,4 1.344 10,9 Tipo de Violênciaª Física 11.432 76,5 69.209 80,6 80.641 80,0 3.859 69,3 3.762 55,9 7.621 62,0 Psicológica/ moral 2.182 14,6 31.228 36,4 33.410 33,1 1.032 18,5 2.439 36,3 3.471 28,2 Negligência/ abandono 285 1,9 994 1,2 1.279 1,3 1.338 24,0 1.908 28,4 3.246 26,4 Sexual 200 1,3 5.875 6,8 6.075 6,0 18 0,3 237 3,5 255 2,1 Tráfico de seres humanos 13 0,1 53 0,1 66 0,1 0 0,0 3 0,0 3 0,0 Financeira 121 0,8 1.590 1,9 1.711 1,7 296 5,3 610 9,1 906 7,4 Tortura 469 3,1 2.773 3,2 3.242 3,2 116 2,1 206 3,1 322 2,6 Intervenção legal 100 0,7 147 0,2 247 0,2 15 0,3 28 0,4 43 0,3 Outros 2.994 20,0 7.435 8,7 10.429 10,3 455 8,2 649 9,6 1.104 9,0

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Lesão autoprovocada

Sim 7.093 47,5 14.090 16,4 21.183 21,0 689 12,4 704 10,5 1.393 11,3

Violência relacionada ao trabalho

Sim 517 3,5 1.748 2,0 2.265 2,2 109 2,0 59 0,9 168 1,4

Relação com a vítimaª

Pai 326 2,2 682 0,8 1.008 1,0 53 1,0 16 0,2 69 0,6 Mãe 186 1,2 709 0,8 895 0,9 10 0,2 51 0,8 61 0,5 Padrasto 119 0,8 331 0,4 450 0,4 8 0,1 3 0,0 11 0,1 Madrasta 29 0,2 80 0,1 109 0,1 3 0,1 4 0,1 7 0,1 Cônjuge 2.203 14,7 25.501 29,7 27.704 27,5 290 5,2 819 12,2 1.109 9,0 Ex-Cônjuge 589 3,9 9.280 10,8 9.869 9,8 66 1,2 108 1,6 174 1,4 Namorado (a) 344 2,3 2.749 3,2 3.093 3,1 26 0,5 31 0,5 57 0,5 Ex-Namorado (a) 191 1,3 2.015 2,3 2.206 2,2 12 0,2 31 0,5 43 0,3 Filho 528 3,5 2.023 2,4 2.551 2,5 1.245 22,4 2.248 33,4 3.493 28,4 Irmão 1.218 8,1 2.318 2,7 3.536 3,5 186 3,3 177 2,6 363 3,0 Cuidador 51 0,3 77 0,1 128 0,1 138 2,5 210 3,1 348 2,8 Patrão/ chefe 43 0,3 198 0,2 241 0,2 7 0,1 8 0,1 15 0,1

Pessoa com relação

institucional 49 0,3 373 0,4 422 0,4 51 0,9 49 0,7 100 0,8

Amigos/ conhecidos 911 6,1 7.906 9,2 8.817 8,7 753 13,5 495 7,4 1.248 10,1 Desconhecido 718 4,8 7.313 8,5 8.031 8,0 887 15,9 449 6,7 1.336 10,9 Policial/ agente da lei 161 1,1 270 0,3 431 0,4 16 0,3 10 0,1 26 0,2 Própria pessoa 5.912 39,6 11.728 13,7 17.640 17,5 602 10,8 612 9,1 1.214 9,9 Outros 1.271 8,5 5.007 5,8 6.278 6,2 617 11,1 1.101 16,4 1.718 14,0 Suspeita de uso de álcool Sim 4.878 32,6 27.577 32,1 32.455 32,2 1.186 21,3 1.631 24,2 2.817 22,9 Evolução do Caso Alta 9.152 61,2 56.325 65,6 65.477 65,0 3.177 57,0 3.702 55,0 6.879 55,9 Evasão/ fuga 244 1,6 931 1,1 1.175 1,2 49 0,9 69 1,0 118 1,0 Óbito por violência 878 5,9 609 0,7 1.487 1,5 266 4,8 96 1,4 362 2,9 Óbito por outras causas 40 0,3 34 0,0 74 0,1 45 0,8 41 0,6 86 0,7 Sem informação 4.633 31,0 27.952 32,6 32.585 32,3 2.033 36,5 2.819 41,9 4.852 39,5

Fonte: Ministério da Saúde (MS), Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA).

a Não corresponde a 100%, pois se trata de uma questão de múltipla escolha.

Discussão

Considerando os dados apresentados pode-se afirmar que as maiores proporções de casos notificados foram identificadas entre adultos e adolescentes, em ambos os sexos, porém em todas as faixas etárias há um predomínio para o sexo feminino, sendo mais expressivo nas mulheres adultas e adolescentes. Sendo a violência física a mais notificada em 2014, tendo como provável autor da agressão um conhecido ou alguém que possui uma relação de proximidade com a vítima.

A população adulta é mais acometida nos atos violentos, mas vale destacar a violência perpetrada por parceiros íntimos contra as adolescentes e mulheres adultas, causando grande impacto para sociedade e família, esses achados revelam as desigualdades de

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gênero e dominação de homens em relação às mulheres nas relações afetivas, consequentes à naturalização dos atos de violência pela sociedade brasileira12,17.

Em relação às variáveis raça/cor da pele, o elevado percentual de “sem informação” pode indicar que tal informação não foi priorizada pelos profissionais da saúde. Destaca-se a importância deste dado para mensurar as desigualdades sociais e sua associação com ocorrência da violência.

As características da ocorrência de violência demonstram que a residência foi o lócus mais frequente, seguido da via pública, corroborando com outros estudos12,17 que

afirmam que os casos de violência costumam ocorrer onde vive, trabalha, estuda e se diverte a população comum10,16.

Conforme observado, a violência doméstica contra a criança frequentemente acontece no seio familiar, podendo ocorrer por fatores externos, políticos, sociais e morais. Configura-se por meio de constrangimentos e abusos praticados por pais ou parentes, responsáveis ou não, pela criança ou adolescente5.

Os atos de negligência estão presentes em maior proporção nos grupos vulneráveis: crianças, adolescentes e pessoas idosas, pois eles não têm condições de fazer a denúncia ou notificação formal3,12. Além de se considerar o predomínio das relações de poder, os

aspectos culturais e socioeconômicos.

A violência contra a mulher tem raízes profundas que estão situadas ao longo da história, traz em seu seio as relações mediadas por uma ordem patriarcal predominante na sociedade, a qual atribui aos homens o direito a dominar e controlar suas mulheres, podendo em certos casos, atingir os limites da violência18.

No sexo feminino, a violência doméstica ocorre principalmente na fase adulta, e essa correlação positiva entre o aumento da idade e a notificação da violência pode ser explicada pelo melhor acesso das mulheres que residem nos centros urbanos aos serviços sociais, legais e de saúde. Entretanto, ainda existem casos de subnotificação, aspecto que pode ser explicado pela invisibilidade da violência pela sociedade12,17, além

da necessidade de aprimorar a qualificação do profissional de saúde para identificar as várias faces da violência que podem estar presentes em seus atendimentos e desta forma selecioná-los como casos para notificação O enfrentamento ao fenômeno da violência contra mulher é de responsabilidade de todos: Estado e Sociedade Civil precisam se co-responsabilizar.

A forte tendência mundial e brasileira de envelhecimento populacional torna importante nosso olhar à condição de vulnerabilidade social das pessoas idosas, e nesse aspecto, geram-se impactos sociais que precisam ser analisados de uma forma multidimensional. Os dados apresentados no estudo corroboram com outros estudos sobre a notificação de violência18,19, inclusive contra a pessoa idosa e sobre os fatores associados à violência

doméstica contra a pessoa idosa3,10,20. O fenômeno foi mais frequente entre pessoas do

sexo feminino, ocorreu predominantemente na residência, de forma repetida, e foi perpetrada por filhos (as) ou parceiros21.

A violência contra pessoa idosa se propaga principalmente no ambiente familiar, por isso, muitas vezes a vítima envergonhada e com medo acaba por não denunciar, tornando

(12)

esse problema subnotificado e subdiagnosticado, o que impede a adoção de medidas legais e a efetivação do Estatuto do Idoso5. Além disso, indivíduos nessa faixa etária

costumam sofrer violência psicológica/moral e financeira, ambas de difícil identificação, o que corrobora para justificar, embora parcialmente, os baixos números de notificação3,10,21.

Quanto ao perfil dos agressores, nos atos de violência física, psicológica/moral e sexual, o cônjuge ou ex-cônjuge são os principais possíveis agressores das vítimas entre mulheres adultas e as adolescentes. Já nas crianças, adolescentes e pessoas idosas os atos de negligência ocorreram com maior frequência sendo o principal autor da agressão a mãe ou o pai, e no caso das pessoas idosas o (a) filho (a)17.

Na maioria das vezes a ocorrência de atos violentos se deve a baixa inserção socioeconômica das vítimas e baixa escolaridade, portanto, fatores socioeconômicos, culturais, dentre outros explicariam estas diferenças16. Porém, os dados do VIVA 2014

mostram que o maior número de notificações está no grupo de maior escolaridade, entre 12 anos e mais de estudo. Isto pode se justificar pelo fato de serem as mulheres adultas que mais sofrem violências e que procuram o serviço de saúde.

Neste contexto, é fundamental que no processo de educação sejam discutidos temas transversais que abordem as relações de gênero, o respeito às diversidades, à promoção da cultura de paz e outros temas que tragam a reflexão dos direitos humanos. Ao se adotar as políticas públicas transversais, objetivando a igualdade entre homens e mulheres, encontra-se um norte a trilhar na busca de um caminho que modifique o panorama da violência em geral e a de gênero em particular.

Conclusão

Embora o banco de dados nacional de notificações de violência seja submetido a um processo de análise de consistência e duplicidade, ainda há de se aprimorar o processo de registro das notificações no nível local, pois os casos sem informação acarretam prejuízo na análise. Na medida em que se qualifica o banco de dados obtém-se melhores subsídios para a elaboração de políticas públicas. Com este estudo é possível considerar que a violência é um fenômeno universal que afeta diferentes grupos sociais e etários e que no Brasil, apesar de nos últimos 12 anos, terem sido elaboradas e implantadas políticas públicas para o seu enfrentamento, a complexidade do tema ainda requer esforços para identificar seus fatores de riscos e causas, no intuito de garantir a prevenção da violência, a promoção da saúde e a cultura de paz.

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Recebido em 13/06/2016 Aceito em 15/06/2016

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