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IMIGRAÇÃO E IDENTIDADES, ANÁLISE DA CONSTITUIÇÃO DAS IDENTIDADES CULTURAIS EM FILHOS DE IMIGRANTES NA ITÁLIA HODIERNA

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IMIGRAÇÃO E IDENTIDADES, ANÁLISE DA CONSTITUIÇÃO DAS

IDENTIDADES CULTURAIS EM FILHOS DE IMIGRANTES

NA ITÁLIA

HODIERNA

Universidade Estadual ‘Julio de Mesquita Filho’ – Unesp (Universidade Publica no Estado de

São Paulo – Brasil).

naputano@libero.it – residente no Brasil e na Itália.

Eixo: Institucional – Analise e Intervenção. Área teórico e– prática: Psicologia Social.

Objetivos: Imigração e Identidades, análise da constituição das identidades culturais em filhos de

imigrantes na Itália hodierna.

No mundo contemporâneo a discussão a respeito das identidades culturais é instância não somente para os acadêmicos. Todos nos vivemos na chamada época da ‘globalização’ e da aproximação das diversas culturas que, por vezes parece enriquecedora, e outras vezes ameaçadora, em relação as identidades individuais ou coletivas anteriormente entendidas como imutáveis. Os debates teóricos sobre o tema se polarizam a favor ou contra este processo da atualidade. Por meio de diversas leituras sobre a formação das identidades culturais e seus possíveis significados experimentados e simbólicos para a constituição dos ‘eus’ e dos diversos ‘nos’, a presente proposta de trabalho ira indagar, em modo prático com uma pesquisa de campo, o processo de formação das possíveis identidades culturais em filhos de imigrantes de 1ª geração na Itália na contemporaneidade. Ou seja os neo cidadãos inclusos/exclusos chamados em italiano de ‘extracomunitari’.

Assim, presente trabalho tem por objetivo central indagar o modo de constituir identidade cultural através as experiências existenciais dos filhos de imigrantes de primeira geração na Itália. Se entende que a situação histórica cultural dos indivíduos objetivos desta proposta (‘novos italianos’, filhos de estrangeiros) seja de grande utilidade para pensar a questão da construção das possíveis identidades culturais e propor um projeto de integração social que não seja excludente de novas subjetivações sociais.

Concluímos, através a avaliação pratica e contextual na realidade social italiana, que a

identidade do sujeito não se define somente nas relações de origens mas também através as experiências do sujeito. A identidade não é um fato imutável, ao contrario, se constrói e se modifica durante a existência mesma dos indivíduos e dos grupos. Ao mesmo tempo è importante indagar sobre a formação da identidade em momentos de crise para haver instrumentos de entendimento sobre a formação da flexibilidade e da rigidez dos sujeitos diante da constituição da identidade. Indagar quais são os meandros desta constituição na relação com si mesmo e com os outros.

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De fronte a globalização da economia e das transformações multiculturais das sociedades, que seguramente se ampliam nas possibilidades de crescimento mas também nos possíveis conflitos, é central o tema das identidades, seja aquela individual como aquela coletiva. O ‘quem sou eu’ e o ‘quem somos nos’ devem dar conta da complexidade da realidade global que alarga todos os dias os seus confines. Nas sociedades tradicionais do passado a identidade de uma pessoa era, freqüentemente, definida através o nascimento em relação a algumas categorias sociais (lugar de origem, religião, condição socioeconômica e cultural da família etc.) e com certa regularidade permanecia a mesma ao longo da existência devido a difícil mudança de mobilidade social e de espaço físico.

O fenômeno da mudança e da procura da identidade, sem duvida, são características que nascem com a modernidade e a globalização. Giovanni Jervis (1997), um psicanalista que avaliou sobre diversos aspectos o tema da identidade em um seu trabalho intitulado ‘La Conquista dell’identità’ defende que a procura da identidade è vinculada ao quadro histórico atual que vê o dissolver-se dos modelos hereditários da família e da tradição. Diz que esta busca é caracterizada não somente por necessidades econômicas de procura de novas oportunidades e sim por uma multiplicidade de fatores difíceis da explicar e ligados a própria perca das velhas identidades. Afirma também que seu êxito não é assegurado assim, pode provocar tanto novas possibilidades do ser que novas crises individuais e coletivas.

A construção da própria identidade nos porta necessariamente a relação com os outros, a rede de relações que os sujeitos constroem e que hoje é expressivamente ampliada. Franca Pinto Minerva (2002), uma pedagoga que trabalha a temática do conceito de identidade defende que: ‘É na relação com os outros que nos reconhecemos e atestamos o nosso ser único e singular. O outro nos ajuda a delimitar a nos mesmos, a definirmo-nos e a reconhecermo-nos.’

Para entender melhor o senso da construção da identidade na era da globalização e a problemática inerente a esta realidade pode ser útil o percurso intelectual do famoso estudioso de origem libanesa, Amim Maalouf, que descreve e analisa o seu relacionamento com a própria cultura e outras culturas. Ele é um árabe de origem católica, que se transferiu em França e ali pode viver as duas culturas. Em seu famoso livro ‘L’identità’, Maalouf faz uma autobiografia intelectual que nos faz pensar e descobrir um fio coerente em torno o tema das identidades:

‘De quando deixei o Líbano em 1976 para transferir me em França, me perguntaram muitas vezes, com as melhores intenções do mundo, se eu me sentia mais Libanês ou mais Francês. Respondo sempre, os dois! Não para fazer media com um ou o outro, mas porque se eu respondesse em maneira diversa, estaria mentindo. O que me faz como eu sou e não diferente é a

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minha existência entre dois países, entre duas ou três línguas, entre varias tradições culturais. É próprio isto que define a minha identidade. Eu serei mais autentico se me privasse de uma parte minha? [...] A identidade não pode ser dividida em compartimentos separados, não se divide em metades ou terças partes. Não tenho varias identidades, tenho uma somente, feita de todos os elementos que a constituíram em longos anos, segundo uma dosagem que não é jamais igual de uma pessoa a outra’1

Segundo Maalouf, que è também a idéia de muitos estudiosos do setor, a identidade de uma pessoa è formada da uma pluralidade de elementos que determinam as varias matrizes de pertinência: a religião, a nação, o grupo étnico ou lingüístico, a profissão, a família, as instituições, o grupo social etc. Evidentemente que todos estes elementos não tem a mesma importância e vão em base ao momento histórico, mas é inegável que, cada um destes elementos tem significados de produção de identidade. Os conflitos de identidade entre pessoas e culturas normalmente se manifestam quando se da a assunção de um elemento em maneira unilateral, construindo assim, uma identidade rígida e pouco disposta ao dialogo e ao confronto.

Nesta direção o conceito de identidade se transforma notoriamente. Da individuação dos tratos ‘fundamentais’ de uma comunidade e ‘constitutivos’ da vida dos indivíduos que chegam a precisar a essência, ou seja, o que não se pode eliminar com receio de perder valor ou significado, se transforma em grupo de experiências vitais e importantes, mas não excludentes, nem discriminatórias, muito menos morais com o senso de melhor ou pior, no confronto com outros grupos e culturas.

Pensamos nas palavras de Giovanni Jervis fazendo uma conclusão de seu percurso:

‘Se queremos chegar a uma conclusão geral, podemos afirmar que a atenção atual para o tema da identidade deriva, entre outras coisas, da progressiva revisão do conceito ‘clássico’ (ou seja, pré-darwin e pré-freudiana) da natureza humana: revisão que tem recebido uma aceleração nos últimos decênios do século XX. Ou seja, nos três primeiros séculos da idade moderna o ser parte da grande família humana parecia alguma coisa de ‘garantido’, a partir da metade do século XIX, estas garantias entram em crise. Sobre tudo, no desenvolver do século XX surgiu [...] a duvida que as palavras ‘mente’ e ‘consciência’, não significavam mais nada de preciso. Mas isto não nos impede de continuar a procurar alguma coisa que è importante para nos. Ou seja, gostaríamos de saber qual è a natureza, pó coisa podemos ser reconhecidos, seja a espécie humana em geral, sejam os grupos e os povos, sejam os indivíduos. Contudo, nos rendemos conta de que não podemos mais recorrer de nenhum modo a pretensa ‘essência’ das coisas. Podemos somente ‘ler’ e ‘recolher’ em modo pacato e realístico as

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descrições de nossa espécie e dos singulares seres humanos: a nossa identidade’2

Como podemos definir então a identidade neste quadro complexo e variado? A identidade não pode ser pensada como um fixar de uma vez por todas uma escala de valores e de significados e sim, ao contrario, è um continuo processo de aquisição de conhecimentos, de sentimentos e emoções que nos portam a uma incessante reconstrução dos próprios saberes, das próprias experiências, do modo de organizar-las e interpretar-las. É o medo das mudanças (e possível perda de poder) que porta a radicalização de alguns fatores em relação a outros. Quem fica fechado no próprio ‘eu’ acumula elementos úteis para render estável e confirmar somente os próprios valores e não há a possibilidade de alargamento de conhecimentos para a realização da construção de um processo de identidade.

O problema è que, como nos faz notar ainda uma vez Maalouf, são as experiências da vida e do momento histórico em que essas experiências ocorrem é que dão significado aos ‘símbolos’ do pertencer a algo:

‘Provavelmente na época em que existia um nação Iugoslava, ao encontrar um homem a Sarajevo e interrogando-o sobre sua identidade, ele teria respondido que era iugoslavo, da Republica da Bósnia-Herzegovina e de uma família muçulmana. Dez anos depois, a causa da guerra e dos horríveis massacres da população de religião islâmica, o mesmo homem teria dito de ser, antes de tudo, muçulmano e depois da Bósnia. Hoje provavelmente, havendo finalmente feito uma nação autônoma, este homem provavelmente me diria de ser bosniano, muçulmano e europeu.’3

Ou seja, a identidade tende a construir-se no espaço estreito do ‘pertencer’ a alguma coisa. Por isto ocorre precisar melhor o significado de ‘pertencer’. Pertencer é aquilo que pertence a alguém ou alguma coisa. Do ponto de vista filosófico, o ‘pertencer’ se manifesta sobre o plano lógico da relação sujeito-objeto. Na matemática, a relação de ‘pertencer’ representa a qualidade, ou a propriedade que faz a união entre os vários elementos de um grupo. No plano da cotidianidade, das relações sociais, a relação de ‘pertencer’ demonstra ou ser propriedade ou ter a propriedade de algo. O pertencer, em todos os pontos de vista, evidencia fazer parte de alguma coisa, e ao mesmo tempo um ser proprietário de alguma coisa. È um mecanismo psicossocial e cultural que age em duplo senso. Da uma parte da sustenho e certezas as pessoas em quanto pode dar potencia ao ser

2 G. Jervis, La conquista dell’identità. Essere sé stessi, essere diversi, Feltrinelli, Milano, 1977, pp. 140-141

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porque permite de superar a solidão ontológica e de poder andar alem dos próprios limites individuais como uma extensão do próprio ser. Da outra parte, tende a anular o individuo porque os vínculos de pertencer a algo colocam em risco o pensamento individual e freqüentemente o subordinam a ‘verdade’ coletiva que è difícil da discordar sem algum tipo de ‘punição’ de grupo.

Quando o peso do pertencer, na dinâmica da construção da própria identidade se transforma em preponderante, se pode criar uma situação de ‘fechamento’ e de explosão dos referimentos e dos valores que pressionam em uma contraposição radical com os ‘outros’ tornando difícil a individualização dos elementos em torno a nos com os quais se poderia criar uma relação e um confronto. É o que parece ocorrer atualmente em determinados contextos escolares italiano com os filhos dos imigrantes.

Por fortuna, a identidade do sujeito não se define somente nas relações de origens, claro que estas tem muitas vezes um peso preponderante, mas a identidade subjetiva se define também através as experiências do sujeito, porque apesar de nossas tradições passadas, cada sujeito reelabora em maneira pessoal o inteiro patrimônio cultural e emocional que recebe.

È por isto que avaliar na pratica o que esta ocorrendo na realidade social italiana de hoje com a presença dos imigrantes de recente chegada, destes imigrantes que, em grande parte já não falam tanto bem a língua dos pais e ao mesmo tempo não são considerados italianos pela sociedade è fundamental. Como se dá, o que ocorre no sujeito para a constituição e elaboração desta crise?

Sabemos que os elementos considerados fundamentais na construção da identidade não são dados todos de uma vez e não podem ser considerados absolutos para a definição da identidade. A identidade não é um fato imutável, ao contrario, se constrói e se modifica durante a existência mesma dos indivíduos e dos grupos. Ao mesmo tempo è importante indagar sobre a formação da identidade em momentos de crise para haver instrumentos de entendimento sobre a formação da flexibilidade e da rigidez dos sujeitos diante da constituição da identidade. Indagar quais são os meandros desta constituição na relação com si mesmo e com os outros.

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