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Nome da Autora: Leonides Silva Gomes de Mello. Instituição de Vínculo: Faculdade Estácio de Alagoas FAL

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Academic year: 2021

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Título do Artigo: Educação Empreendedora e a Alfabetização Científica e Tecnológica: possibilidades de um diálogo

Nome da Autora: Leonides Silva Gomes de Mello

Instituição de Vínculo: Faculdade Estácio de Alagoas – FAL Resumo: O objetivo deste trabalho é buscar possibilidades de um diálogo entre a Educação Empreendedora (EE) e a Alfabetização Científica e Tecnológica (ACT). Fundamentou-se este artigo em textos de EE e ACT, bem como em uma pesquisa etnográfica realizada na comunidade de artesãos de filé no Pontal da Barra, em Maceió, Alagoas. Com base na literatura e nas pesquisas in loco, ratificaram-se as expectativas, inicialmente propostas, para a concretização do diálogo entre EE e ACT como um fator diferencial para a formação do cidadão empreendedor naquela comunidade.

Palavras Chave: educação empreendedora. alfabetização científica e tecnológica. formação do cidadão.

Abstract: The objective of this study is to seek opportunities for dialogue between the Entrepreneurial Education (EE) and Scientific and Technological Literacy (STL). This article was based on texts by EE and STL, as well as an ethnographic research conducted in the community of artisans fillet in Pontal da Barra, in Maceió, Alagoas. Based on the literature and research on the spot, have ratified the expectations, initially proposed for the achievement of the dialogue between EE and STL as a differentiating factor for the formation of the citizen

entrepreneur that community.

Keywords: entrepreneurship education. scientific and technological literacy. formation of the citizen.

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Educação Empreendedora e a Alfabetização Científica e Tecnológica: possibilidades de um diálogo

Resumo: O objetivo deste trabalho é buscar possibilidades de um diálogo entre a Educação Empreendedora (EE) e a Alfabetização Científica e Tecnológica (ACT). Fundamentou-se este artigo em textos de EE e ACT, bem como em uma pesquisa etnográfica realizada na comunidade de artesãos de filé no Pontal da Barra, em Maceió, Alagoas. Com base na literatura e nas pesquisas in loco, ratificaram-se as expectativas, inicialmente propostas, para a concretização do diálogo entre EE e ACT como um fator diferencial para a formação do cidadão empreendedor naquela comunidade.

Palavras Chave: educação empreendedora. alfabetização científica e tecnológica. formação do cidadão.

Abstract: The objective of this study is to seek opportunities for dialogue between the Entrepreneurial Education (EE) and Scientific and Technological Literacy (STL). This article was based on texts by EE and STL, as well as an ethnographic research conducted in the community of artisans fillet in Pontal da Barra, in Maceió, Alagoas. Based on the literature and research on the spot, have ratified the expectations, initially proposed for the achievement of the dialogue between EE and STL as a differentiating factor for the formation of the citizen

entrepreneur that community.

Keywords: entrepreneurship education. scientific and technological literacy. formation of the citizen.

INTRODUÇÃO

As atuais perspectivas educacionais, no Brasil, apontam para um país que carece de investimentos na busca para universalizar o acesso à educação, melhorar a qualidade da escola e oferecer educação continuada aos indivíduos. Itens que são básicos para a possibilidade de inserção no mercado de trabalho, tanto atual quanto futuro, da comunidade estudantil/trabalhadora.

As exigências na formação do trabalhador vêm forçando as instituições de ensino a proporem mudanças no modelo de educação que predomina no Brasil. Os especialistas consideram que tal modelo, até então preponderante, de cunho eminentemente fordista, deve abrir espaço para uma formação generalista e humanista, capaz de incorporar uma visão do modo de organização da sociedade.

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A missão das escolas está hoje mais complexa, à medida que procura novos tipos de educação em relação ao próprio desenvolvimento social, cria novas metodologias, utiliza-se de recursos para a melhor formação do cidadão e gera parâmetros de comportamentos, atitudes e estratégias em busca da qualidade de vida do trabalhador.

Esse novo trabalhador deverá possuir conhecimentos científicos, habilidades de comunicação verbal e escrita, capacidade decisória e, principalmente, informações que possibilitem o exercício da cidadania. Em suma, o conhecimento como uma proposta de educação continuada baseada no próprio interesse do aluno. Nessa perspectiva, o currículo escolar deve enfatizar, preponderantemente, o porquê fazer e não apenas o como fazer.

A sociedade, hoje, exige uma escola que ensine competências que visam á construção do desenvolvimento humano, buscando o fim da exclusão seja ela econômica e/ou social. Inovar e criar um equilíbrio, utilizando os recursos disponíveis de forma criativa e objetivando a transformação do ambiente social e econômico onde se vive, é empreender (DOLABELA, 1999; DORNELAS, 2005).

O empreendedor é aquele que identifica oportunidades, questiona, sistematiza suas ações e descobre os caminhos adequados, a partir de reflexões, para inovar usando a criatividade e os recursos disponíveis para uma transformação do ser e não apenas do fazer, ou seja, uma transformação crítica e cultural.

De acordo com Chassot (2003, p. 38),

Poderíamos considerar a alfabetização científica como o conjunto de conhecimentos que facilitaria aos homens e mulheres fazer uma leitura do mundo onde vivem, [...] seria desejável que os alfabetizados cientificamente não apenas tivessem facilitada a leitura do mundo em que vivem, mas entendessem as necessidades de transformá-lo, e transformá-lo para melhor (grifo do autor).

Percebe-se, assim, uma possibilidade de convergência entre os interesses da EE e da ACT: enquanto a alfabetização científica e tecnológica busca facilitar a leitura do mundo, o empreendedorismo visa a transformação deste mesmo mundo. Os dois, EE e ACT, têm como finalidade o crescimento humano e o pleno exercício da cidadania.

Partindo, então, das considerações explicitadas sobre empreendedorismo e ACT, pretende-se mostrar as possibilidades de diálogo e convergências existentes entre uma EE e ACT, de forma concomitante, numa comunidade de artesãos de filé, em Maceió, Alagoas.

CONTEXTUALIZANDO A COMUNIDADE EM ESTUDO E O ARTESANATO EM FILÉ

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Em novembro de 1807, quando a rainha D. Maria I, o príncipe regente e toda a Corte portuguesa fugiram para o Brasil, segundo relatos de Gomes (2007, p. 30), não poderiam imaginar que estavam trazendo na bagagem um trabalho de artesanato que seria incrustado na região nordeste do Brasil, mais especificamente na cidade de Maceió, Estado de Alagoas, às margens da Lagoa Mundaú – trabalho este denominado filé que consiste num bordado sobre uma rede semelhante às redes de pescar.

A técnica foi trazida pelas mulheres portuguesas, que ainda hoje conservam a prática desta atividade em território europeu. No lado de cá do Atlântico surgiram novos padrões e cores, graças à influência da flora local, do gosto tropical e das inter-relações étnicas. O artesanato está espalhado através de toda a zona costeira que tem a pesca como atividade predominante, talvez por isso os bordados em redes, semelhantes às redes usadas pelos pescadores.

Acredita-se que as mulheres dos pescadores, ao consertarem as redes de pesca de seus maridos, foram descobrindo a possibilidade de fazer um trabalho artesanal sobre as redes e daí surgiu o trabalho em filé. Inicialmente, apenas como lazer e para decoração de suas residências (com panos de bandeja, passadeiras de mesa, enfim, os mais diversos adornos), mais tarde como possibilidade de aumentar a renda familiar com a venda de seus produtos que começaram a ser incrementados com novos desenhos e, também, como vestimentas.

Vários são os trabalhos de renda característicos do Brasil, especialmente do nordeste brasileiro, dentre os quais possuem destaque: filé, rendendê, labirinto, renda de bilros, boa-noite e singeleza.

Maceió, capital do estado brasileiro de Alagoas, localizada no nordeste do país, tem uma população de 874.014 habitantes (BRASIL, 2007) e um território de, aproximadamente, 511 km². Integra, com outros dez municípios, a Região Metropolitana de Maceió, somando um total de cerca de 1,1 milhão de habitantes (BRASIL, 2007). Sua altitude média é de sete metros acima do nível do mar, e tem uma temperatura que oscila entre 20° e 30°C, durante todo o ano. O município situa-se entre o Oceano Atlântico, que o presenteia com o conjunto de belas praias urbanas, e a lagoa Mundaú, que tem grande importância econômica para os povoados de pescadores que vivem em sua margem.

Às margens desta bela lagoa encontram-se as filezeiras do Pontal da Barra – bairro bucólico entre o mar e a lagoa, que surgiu de uma aldeia de pescadores. As mulheres procuravam o que fazer enquanto os maridos pescavam e encontraram uma boa fonte de renda: o filé, que, segundo Dantas (2009, p. 139),

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garante a Alagoas a posição de maior centro de produção do filé no país, seguido pelo Ceará e por Santa Catarina.

A técnica do filé tem sido transmitida de mãe para filha. Sua confecção tem como base uma rede semelhante às redes de pescar, justificando o adágio popular “onde há rede, há renda”. Em Dantas (2009, p. 138) encontramos: “Enquanto os homens pescam, as mulheres tecem. E só as mulheres tecem e bordam, em Alagoas, salvo poucas exceções. Rendando e bordando, elas participam ou mantêm a receita familiar, no mesmo tempo em que ajudam a preservar a rede da nossa identidade cultural”.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO:

Não só de aspectos físicos se constitui a cultura de um povo. Há muito mais, contido nas tradições, no folclore, nos saberes, nas línguas, nas festas e em diversos outros aspectos e manisfetações, transmitidos oral ou gestualmente, recriados coletivamente e modificados ao longo do tempo. A essa porção intangível da herança cultural dos povos, dá-se o nome de patrimônio cultural imaterial. (UNESCO, 2010).

Partindo dessa premissa, Barros (2007) afirma que a renda filé alagoana, ao trazer traços característicos da informação memorialista – se perpetua e se propaga como identidade cultural de um povo através do tecer e do ensinar a tecer coletivamente – faz parte da cultura e da história de Alagoas.

O filé, ainda segundo Dantas (2009, p. 139), está concentrado nos municípios da zona dos canais e lagunas: Pontal da Barra, em Maceió; Marechal Deodoro; Santa Luzia do Norte; Coqueiro Seco e Fernão Velho, onde duas importantes lagunas formam este complexo – Mundaú e Manguaba. Fora da zona dos canais a renda também aparece no litoral norte, sendo Riacho Doce e Garça Torta os centros mais tradicionais e ativos. As filezeiras conseguem aliar seu trabalho de artesãs à vida pessoal: cuidados com a casa, filhos e maridos, pois tecem seus filés nos intervalos das tarefas domésticas e os vendem nas próprias casas ou por intermédio de cooperativas.

Para a confecção de uma boa peça de filé algumas etapas são essenciais: a) preparar a rede ou grade; b) esticar a rede no tear; c) bordar a rede; d) retirar a peça do tear, após finalizado o bordado; e) finalizar, com o acabamento.

Todo esse trabalho vem acompanhado de uma história de vida e de um conhecimento tácito, passado de geração a geração (mãe para filha, avó para neta), traduzindo-se em uma riqueza ímpar para a preservação de uma identidade cultural.

Percebe-se que as filezeiras tramam suas redes e tecem seus trabalhos desenvolvendo belas peças e nem se apercebem da riqueza ali tecida. Trabalho rico para o desenvolvimento de

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um povo, de uma comunidade, de uma cultura trazida por nossos antepassados e incrustrada numa zona lacunar de pescadores na cidade de Maceió.

Um trabalho artesanal de rara beleza, que se destaca pelos detalhes, pela criatividade, pela inovação de cada peça, de cada ponto, enfim, de um conhecimento construído através de gerações, que tem sustentado a comunidade do Pontal da Barra, tão carente de políticas públicas que a ampare nas necessidades mais básicas e necessárias para uma vida digna.

Esse cenário de beleza, simplicidade e muita riqueza cultural foi palco para uma pesquisa que teve como finalidade conhecer e analisar a realidade dos artesãos e artesãs de filé do Pontal da Barra, visando verificar a possibilidade de realizar um trabalho de empreendedorismo aliado à ACT, com o intuito de levar àquela comunidade formas de valorizar o saber popular em consonância com o saber científico.

DESVENDANDO O TRABALHO ARTESANAL

Utilizamos como estratégia a informalidade dos questionamentos para motivar um relato espontâneo sobre a formação da comunidade: como chegaram àquele bairro, como aprenderam a tecer o filé e que relação foi estabelecida com a escola e a educação formal. As entrevistas foram realizadas in

loco com 25 (vinte e cinco) filezeiras (os) de Alagoas,

moradores do Pontal da Barra, no período compreendido entre agosto e novembro de 2009, com o intuito de observar, ouvir e perceber um pouco da realidade daquela comunidade. O principal critério utilizado para seleção dos artesãos pesquisados era que trabalhassem tecendo e vendendo o filé e não apenas vendendo o artesanato no Pontal da Barra, pois esta foi a forma encontrada para que pudéssemos perceber as relações de poder, bem como o processo de transformação ali existentes – formas de comercializar e empreender.

Através da observação, tivemos a possibilidade de perceber como vivem aqueles artesãos no seu dia a dia: crenças, mitos, cultura, enfim, ali estava a vida de cada um a nossa frente. Esta técnica de pesquisa nos remete ao cotidiano do pesquisado, inserindo-nos naquele meio como um espectador-participante.

Por meio das entrevistas, tivemos a possibilidade de descobrir alguns fatores presentes naquela comunidade de grande importância para o nosso trabalho, pois essa técnica tem como princípio possibilitar que as questões surjam ao longo da conversa, encorajando e orientando a participação do entrevistado, permitindo ao entrevistador a percepção das individualidades e mudanças da comunidade. Cabe ressaltar que todas as informações aqui colocadas foram autorizadas pelos artesãos de filé do Pontal da Barra, ouvidos pela autora.

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Foi possível perceber a forma como tecem as peças e depois as expõem para comercializar o trabalho, deixando transparecer os problemas advindos da falta de conhecimento de algumas regras que podem concorrer para a melhoria e crescimento das vendas: design dos produtos, arrumação das peças nos locais de exposição, falta de versatilidade nas vendas, além da falta de infraestrutura local para o negócio.

Foram feitos contatos que propiciaram descobertas importantes sobre a cultura da região e ocorreram muitas conversas nos quintais e portas de lojas/casas, pois tais locais serviam também como espaço para a comercialização dos produtos. Interessante destacar que cada um dos entrevistados queria fazer de seus discursos os mais verdadeiros em detrimento dos de outros, além de compartilharem histórias de vida contadas e recontadas: o passado remexido, o presente a nossa frente e, para o futuro, muitas esperanças, sugestões, anseios e confiança de dias melhores.

Em um segundo momento, após elaboração do programa a ser trabalhado com a comunidade, juntamente com os artesãos que participaram das pesquisas e de uma reunião no Pontal da Barra, iniciamos um trabalho que consistia em aulas de ACT para aqueles artesãos.

Um dos módulos versou sobre a questão das atitudes e comportamentos dos artesãos na compra e venda do filé, envolvendo a cadeia produtiva daquele artesanato e suas relações de poder.

Ali os artesãos puderam explicitar claramente o diálogo existente entre EE e ACT em vários momentos, conforme os relatos abaixo:

Artesão 1 - A gente precisa ter organização. Tem que

se organizá. Não dá pra tá atendendo a 10 pessoas ao mesmo tempo, porque você não atende bem.

Artesão 2 - Não dá pra você está ali tecendo o filé,

chegam as pessoas pra comprar e você não dá atenção pra elas. Você até pode ter uma forma de atrair, de chamar pra que eles tirem foto.

Artesão 3 - Fazer sempre diferente, tá sempre

buscando alguma coisa nova, diferente, imaginando, criando a necessidade dos outros.

Artesão 4 – Tem as senhoras que bordam, mas que

também engomam. Às vezes elas não tem tempo nem de bordar, porque elas lavam, esticam e engomam.

Artesão 5 - É uma grande identificação de cada um que

está aqui. Por quê? Porque as pessoas que fazem parte são conhecidas, da nossa comunidade, falar da nossa história, falar da nossa vida, falar do nosso convívio.

Percebem-se as relações entre o fazer diferente procurando novas oportunidades (empreendedorismo), segundo Dolabela (1999), e a formação de novas atitudes,

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comportamentos (VAZQUEZ; MANASSERO, 2007), ou seja, características do empreendedorismo que dialogam com a alfabetização científica e tecnológica.

Percebemos como as atitudes do dia a dia podem influenciar no aumento ou redução das vendas, levando aos artesãos dias mais ou menos promissores, de acordo com seus planejamentos, execução e implementação do trabalho e da vida. EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA

A EE também conhecida como Pedagogia Empreendedora, conforme Dolabela (2004, p. 2),

[...] possui foco na comunidade, e não no indivíduo. Porém, trabalha-se o indivíduo porque, dentro da Pedagogia Empreendedora, o empreendedor é um indivíduo que gera utilidade para os outros, que gera valor positivo para sua comunidade. Assim, procura-se desenvolver as comunidades através das pessoas.

Na verdade, as comunidades aprendem, crescem, geram riquezas, criam autonomia e possuem cidadania através de seus membros, individualmente, quando (re)criam os conhecimentos e os difundem no seio do seu grupo social.

A metodologia da educação empreendedora leva à comunidade a possibilidade da transformação de sonhos em realidade quando

“[...] dispara um processo de criação, de criatividade, pondo em uso todo o patrimônio existencial do aluno, que é diverso, que é único. Assim, ele se sente capaz e comprometido com a criação de seus próprios caminhos.” (DOLABELA, 2004, p. 2). Para Schirlo et al. ( 2009, p. 5-6),

Educar por meio da educação empreendedora não é apenas ensinar ferramentas e, tampouco, apresentar instrumentos. O professor para propiciar uma educação empreendedora precisa rever os métodos de ensino e os conceitos de aprendizagem. Dolabela (2003, p. 83) acrescenta, “A construção do conhecimento parte de situações reais capazes de criar vínculos naturais entre os conhecimentos anteriores e os novos conhecimentos do aluno”.

Portanto, fica evidenciada a necessidade de um sistema capaz de trazer a realidade do aluno para dentro dos espaços de aprendizagem onde a escola seja, realmente, formadora de opinião, respeitando a dignidade e a autonomia do aluno, e não apenas um lugar para a transmissão de saberes novos, corroborando o que Freire (1996, p. 22) já afirmava, que “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção” (grifo do original)

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A EE utiliza-se de situações reais, do dia a dia, para, por meio delas, exemplificar e trabalhar a aprendizagem necessária à realização do sonho de cada empreendedor. Faz-se imprescindível a criação de um ambiente de aprendizagem permanente, onde cada aluno mobilizará seus conhecimentos já adquiridos e, através de uma cultura empreendedora, criativa e participativa, desenvolverá suas próprias ferramentas para o empreendedorismo.

Segundo Schirlo et al. (2009, p. 7),

Visando ir ao encontro das características empreendedoras, a base da aprendizagem de um empreendedor deve estar relacionada aos estudos dos comportamentos e atitudes que conduzem à inovação, à capacidade de transformação do mundo, à geração de riquezas. Dessa forma, a escola não pode ficar de fora da ação empreendedora, para tanto, ela precisa ampliar seu currículo, pois só assim poderá transformar os conhecimentos das Ciências, da Tecnologia e das Políticas em riquezas sociais.

No entanto, acredita-se que esta escola só poderá acontecer quando os professores aprenderem a questionar o impacto social de suas práticas e teorizar o campo científico desta prática frente à complexidade do sistema de pensamento que atualmente se exige das respostas que os problemas sociais, econômicos e técnico-científicos solicitam (AMARAL, 2009). ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

A aquisição de novos conhecimentos funciona como molas propulsoras para uma autonomia social do cidadão. Lembrando que autonomia deve ser entendida como a possibilidade de dizer a sua palavra e de ouvir a si próprio, mesmo que essa palavra não seja idêntica à ensinada (FREIRE, 1967; FOUREZ, 2008).

As propostas para uma Alfabetização Científica e Tecnológica devem estar associadas a uma abordagem interdisciplinar e voltada ao mundo do educando, em que ciência, tecnologia e sociedade se interrelacionam.

Para Fourez (1997), uma pessoa pode ser considerada cientifica e tecnologicamente alfabetizada quando seus saberes lhe proporcionam determinada autonomia, certa capacidade de comunicação, domínio e responsabilidade frente a situações concretas. Será que os alunos estão sendo preparados para aquisição dessas competências? Será que os professores brasileiros estão preparados para oferecer esse tipo de educação? Por que não mostramos aos alunos os caminhos que podem ser percorridos para o fortalecimento da autonomia e, ao contrário, insistimos em revelar as soluções fazendo-os dependentes e carentes de autoconfiança? “Ensinar é, de certa maneira, desestabilizar o sistema de conhecimentos do aluno ou seu

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sistema de valores, para pô-lo diante de outra representação ou de outro valor” (FOUREZ, 2008, p. 44). Como os docentes, não preparados para essa prática, poderão realizá-la de forma satisfatória?

Fourez (1997) defende a ideia de que não basta definir a ACT com propósitos exclusivamente voltados a finalidades sociais, pois outros objetivos se fazem presentes para a concretização de uma ACT. Às finalidades sociais devem ser acrescentadas finalidades éticas, pessoais, econômicas, dentre outras.

Segundo Amaral (2009, p. 1870),

[...] a presença de currículos propedêuticos voltados à formação essencialmente científica ainda persistem e não dão mais conta de atender à diversidade cultural dos aprendizes e das questões que envolvem a sociedade do século XXI.

As questões científicas, culturais, sociais e econômicas que emergiram no século XXI conclamam a comunidade científica para uma análise de suas causas, consequências e possibilidades de soluções urgentes, visando a um mundo melhor e a condições de qualidade de vida à população, principalmente, aquela menos favorecida e, regra geral, a mais sofrida – comunidade que, muitas vezes já nem sonha mais. A presença constante do sofrimento, da violência, da discriminação, da pobreza, da exclusão social, resultado de um mundo globalizado, traz à tona a necessidade de uma educação crítica onde aqueles atores tenham a capacidade de exercitar a cidadania, por meio da ciência empreendedora.

CONCLUSÃO

O diálogo proposto nesta exposição propiciou um acesso a informações de natureza tanto individual quanto coletiva sobre a comunidade de artesãos aqui estudada, o que permitiu uma maior visibilidade a respeito de questões que envolvem educação, ciência e empreendedorismo na região.

A análise das entrevistas deixou claro que o trabalho em filé faz parte da vida da comunidade do Pontal da Barra, pois praticamente todos os moradores vivem dessa produção cultural. Alguns vendem o que tecem e, também, revendem o trabalho de outros artesãos (geralmente os mais abastados, que possuem loja na rua principal do bairro), enquanto outros vendem apenas a sua produção (em geral os mais carentes e com menor grau de instrução) – demonstração clara da pirâmide organizacional do poder econômico e social.

Hoje, homens, mulheres e crianças tecem o filé naquele bairro. As crianças aprendem desde pequenas a trabalhar com um tear, algumas aos sete anos já bordam e/ou fazem a rede –

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base desse tipo de trabalho. A rede, segundo relato dos artesãos pesquisados, é o mais trabalhoso e que demanda mais tempo para ser feito, por isso vários deles compram a rede pronta de artesãos mais humildes que sustentam sua família exclusivamente com esse trabalho.

Ao longo deste trabalho, percebeu-se a necessidade de políticas públicas estaduais voltadas àquela comunidade e que propiciem a conscientização do papel dos artesãos no crescimento da região, permitindo aos grupos uma participação maior nas decisões que afetam o trabalho por eles desenvolvido.

Faz-se imprescindível um trabalho de empreendedorismo: conscientizar os artesãos a melhorarem a qualidade do produto tecido, diversificando-o sempre que necessário, para não ficarem à mercê de atravessadores; orientar para a melhor forma de comercialização do produto; discutir, embasado na ACT, questões que envolvem o exercício da cidadania, a poluição das lagoas, os baixos níveis de bem estar da população, os lixões e os riscos que estes oferecem à saúde da comunidade, as questões ergonômicas resultantes da tecedura do filé e a relação de poderes existente na cadeia produtiva daquele artesanato que tem provocado desigualdades e dissidências na comunidade do Pontal da Barra.

A ACT implica, assim, em estratégias de caráter educativo que permitam a formação de saberes contextualizados, de modo que se tenha, enquanto cidadão, um discurso reivindicatório que encontre audição em diferentes setores da sociedade e contribua para o exercício da cidadania naquela comunidade, bem como para a implantação de um Programa de Educação Empreendedora .

Assim, aliando-se EE e ACT, a convergência de conhecimentos, com certeza, será traduzida em uma potencialização de saberes necessários para a democratização responsável e consciente daqueles artesãos.

REFERÊNCIAS

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<http://ice.uab.cat/congresos2009/eprints/cd_congres/propostes_ htm/propostes/art-1869-1873.pdf >. Acesso em: 12 fev. 2010. BARROS, M. C. R. de. A Memória através da renda filé de Alagoas. Trabalho apresentado no III Congresso Internacional da Associação Brasileira de Estudos Semióticos. Vitória-ES, 2007.

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