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Avaliação intelectual de escolares com hipotireoidismo congênito

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Academic year: 2021

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Cláudia Androvandi é Mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do

Sul, Especialista em Avaliação Psicológica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Maria Lucia Tiellet Nunes é Doutora em Psicologia Clínica pela Universidade Livre de Berlim, Professora

Titular da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Av. Ipiranga, 6681 CEP 90619-900 – POA/RS.

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Endereço para correspondência: e-mail: claudia.androvandi@uol.com.br

Cláudia Androvandi Maria Lucia Tiellet Nunes

Avaliação intelectual

de escolares com

hipotireoidismo congênito

Intellectual evaluation of school children

with congenital hypothyroidism

Resumo

O hipotireoidismo congênito (HC) é uma doença endócrina resultante da carência de hormônios tireoidianos no organismo. Os programas de rastreamento neonatal para HC possibilitam evitar a maior parte das conseqüências neuropsicológicas, permitindo que as crianças tenham um desenvolvimento normal. Este trabalho realizou uma avalia-ção das capacidades intelectuais de 22 crianças com HC em idade escolar, que recebe-ram tratamento até o terceiro mês de idade. O WISC – Escala de Inteligência Wechsler para crianças - foi utilizado para avaliar a capacidade intelectual das crianças. Os resulta-dos mostraram que 18 crianças (81,8% da amostra) apresentam desempenho satisfató-rio, com classificações na média ou acima, e 4 crianças (18,1% da amostra) apresentaram desempenho abaixo da média. Estes resultados apontam desempenho intelectual com-patível com a idade cronológica.

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Abstract

Congenital hypothyroidism (CH) is an endocrine disease resulting from lack of thyroi-dal hormones in the organism. With neonatal screening programs for CH, it is possible to avoid most of the neuropsychological consequences, allowing children to have a nor-mal development. This study carry out an evaluation of the intellectual abilities of 22 schoolchildren with CH, who were diagnosed and treated until the age of three. The Wechsler Intelligence Scale (WISC) was used to assess children’s intellectual ability. The results showed that 18 children (81.8% of the sample) had a satisfactory performance, with median classification or higher, while 4 children (18.1% of the sample) had a perfor-mance below the scale median. These results point out that the children’s intellectual ability is compatible with their cronological ages.

Key words: Congenital Hypothyroidism, Intellectual Evaluation, Children.

Introdução

O hipotireoidismo congênito é uma das enfermidades endócrinas mais freqüentes do recém-nascido, com a prevalência de aproxi-madamente 1 em cada 3.500 a 4000 recém-nascidos no exterior (La Franchi, 1982).

O hormônio da tireóide é essencial para o crescimento e tem importância especial para o desenvolvimento do sistema nervoso central. Esta foi a razão que foram introdu-zidos os programas de triagem neonatal e é atualmente realizado em muitos países. Após o nascimento, o crescimento linear vai se desacelerar anormalmente, a não ser que o tratamento seja instituído (La Franchi, 1995), pois a deficiência hormonal no recém-nasci-do poderá resultar em manifestações clíni-cas e conseqüências diversas, que depende-rão da maior ou menor precocidade e da sua correção (Kreisner & Camargo Neto, 2001). A detecção precoce do hipotireoidismo congênito tornou-se possível com um exa-me simples e fácil, chamado popularexa-mente de teste do pezinho, que deve ser realizado em todos os recém-nascidos (Job & Pierson, 1980; Luajchenberg, 1992, Rodrigues, Mon-te, Calliari & Longui, 1999).

Os programas de triagem têm preveni-do sérias seqüelas neuropsicológicas dessa condição. Segundo Bargagna e cols. (2000), alguns programas de seguimento reportam bons resultados psicométricos, com QIs se-melhantes aos de grupos controle e nenhum impedimento aparente no desempenho es-colar.

La Franchi (1995) relata que de 10 tra-balhos publicados, de crianças entre 4 e 12 anos, 6 mostraram inexistência de diferen-ça de QI global quando comparados ao grupo controle, enquanto 4 mostraram uma redução do QI variando de 6 a 15 pontos, especialmente no subgrupo de cri-anças consideradas mais severamente afe-tadas.

Gloriaux e cols. (1983, 1985) relatam estudos prospectivos sobre o desenvolvi-mento mental em hipotireoidismo infan-til: somente 10% das crianças na idade es-colar tiveram um coeficiente de desenvol-vimento menor que 90, com diferenças sig-nificativas nas escalas de execução e racio-cínio prático - resultados encorajadores, que justificam realização de programas de

screening universal para hipotireoidismo congênito, procurando erradicar o retar-do mental desses pacientes com um alto custo/benefício.

Estudo longitudinal, realizado pelo

New England Congenital Hypothyroidism Co-llaborative (1984), com 146 pacientes com hipotireoidismo infantil diagnosticado por

screening neonatal e acompanhados por 5 anos, com registros que os QIs dos pacien-tes mostram resultados idênticos àqueles dos sujeitos-controle.

Tillotson, Fuggle, Smith, Ades e Grant (1994) desenvolveram um estudo com 361 crianças com hipotireodismo e 315 crian-ças de grupo controle, utilizando a Escala Wechsler para a avaliação da inteligência quando as crianças estavam com 5 anos.

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Os resultados apontaram que a severidade da doença relaciona-se com o prejuízo in-telectual: crianças com baixa severidade clí-nica do hipotireoidismo apresentaram pou-co, ou nenhum, prejuízo intelectual, sen-do o oposto verdadeiro.

Rovet e Ehrlich (1995) realizaram um estudo com o objetivo de estudar o efeito da dose hormonal inicial e posterior de ti-roxina nas habilidades intelectuais e no comportamento em crianças com hipoti-reoidismo. As crianças foram avaliadas aos 7 anos de idade, pelo WISC-R – Wechsler

Intelligence Scale for Children-Revised, para verificação das habilidades cognitivas e, aos 8 anos, avaliadas para verificação de possí-veis problemas de comportamento, com o CBCL – Child Behavior Checklist. As crian-ças que receberam dosagens mais altas apre-sentavam performance melhor nas testa-gens de inteligência, mas também revela-ram mais problemas de comportamento. Esses resultados indicam que alta dosagem inicial de hormônio é benéfica para resul-tados intelectuais, mas pode ser associada com problemas de comportamento.

Rocabayera e cols. (1996) mostram re-sultados entre crianças com HC, aos 6 anos, examinadas pelo WISC e comparadas com os escores da população geral. Os resultados mostraram uma distribuição dos níveis inte-lectuais semelhantes aos da população geral. Um estudo para avaliar o progresso educacional, a área de comportamento e motora aos 10 anos em 59 crianças com HC tratadas precocemente foi realizado por Si-mons, Fuggle, Grant e Smith (1997). As crianças mais severamente afetadas obtive-ram escores menos satisfatórios. Na área de comportamento houve diferença de esco-res mais notável em dificuldades de aten-ção, embora menos evidente no grupo de HC moderado, foi observada essa dificul-dade nos dois grupos de crianças com HC. Assim, segundo os autores, o HC severo está associado com algumas diminuições mo-deradas em obtenção motora e educacio-nal e os problemas de comportamento tam-bém são comuns, até mesmo em crianças com HC menos severo.

Bargagna e cols. (1999) avaliaram 19 crianças de 5 a 10 anos, freqüentando pré-escola e ensino fundamental, e um grupo controle de crianças não-afetadas empare-lhadas com crianças com HC por idade e série. Os resultados mostram que 4 das 19 crianças (21%) com HC mostraram uma desordem generalizada de aprendizagem. Desordens de aprendizagem escolar em cri-anças com HC foram significativamente relacionados com QI abaixo do limite, pior desempenho de linguagem e nível socio-cultural baixo da família, mas não com ha-bilidade motora e concentração hormonal. Rovet e Ehrlich (2000) em pesquisa de corte longitudinal, com crianças na idade escolar com HC, comparadas com grupo controle, encontraram que os QIs obtidos pelo WISC-R são significativamente redu-zidos em crianças com HC, sugerindo que as crianças não têm um risco aumentado de inabilidades de aprendizagem, embora tendam a ser mais fracas em algumas áreas mais seletivas. Além disso, o baixo nível de T4 também correlacionou com pais repor-tando preocupação com comportamento incluindo fraca concentração que, segun-do os autores, é consistente com pesquisas prévias.

Os resultados mais salientes de pesqui-sa, no sul do Brasil, realizada por Figueire-do (1999), estudanFigueire-do crianças com hipoti-reoidismo e crianças sem problemas orgâ-nicos em idade pré-escolar e sem déficit cognitivo, não revelaram diferenças quan-to a comportamenquan-tos interativos mãe-cri-ança e a problemas comportamentais nos dois grupos. Esses resultados apontam para o fato de que um tratamento precoce asse-gurou-lhes um bom prognóstico mental, assim como a qualidade da interação reper-cutiu no desenvolvimento dessas crianças, para que não desenvolvessem maiores pro-blemas de comportamento.

A pesquisa realizada por Kreisner, Schermann, Camargo-Neto e Gross (2004) em Porto Alegre – RS, em 31 crianças com HC, avaliadas pelas Escalas Wechsler de Inteligência após um mínimo de 4 anos, mostrou que 8 dos 31 pacientes (25,8%)

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apresentaram prejuízo no desenvolvimen-to intelectual, com QIs abaixo da média e uma criança apresentou deficiência intelec-tual. O prejuízo nesta área foi associado com o nível de T4 inicial, tratamento inici-ado após 30 dias de idade, poucas visitas clínicas durante primeiro ano de vida, mo-radia da família em área rural, pais com ocupação (laboral) não intelectual e pouca escolaridade. Na análise de regressão múl-tipla, somente escolaridade materna, nú-mero de visitas clínicas durante o primeiro ano de vida e dosagem T4 inicial foram sig-nificativamente associado com os escores do coeficiente intelectual global da escala. Derksen e Verkerk (1996) realizaram uma meta-análise para determinar o desen-volvimento neuropsicológico em pacientes tratados precocemente. Sete estudos foram avaliados, incluindo um total de 675 crian-ças com hipotireoidismo e 570 criancrian-ças que formavam um grupo controle, com idade mínima de 5 anos. Quanto à função cogni-tiva, em todos os estudos, o desenvolvimen-to intelectual global, verbal e de execução são inferiores no grupo de crianças com hipotireoidismo que no grupo controle, embora a diferença não tenha alcançado significância em todos os estudos. A fun-ção motora de pacientes com hipotireoidis-mo diferiu significativamente do grupo controle em todos os estudos. Os autores concluíram que hipotireoidismo congêni-to, apesar de detectado e tratado precoce-mente, resulta em um déficit de QI; a seve-ridade do hipotireoidismo, definida pela tiroxina inicial no momento do diagnósti-co, parece ser o mais importante fator indi-vidual de risco. Para os autores, embora os fatores de risco biomédicos sejam muito investigados, o peso individual desses fato-res ainda é desconhecido.

O objetivo deste estudo foi avaliar as capacidades intelectuais de 22 crianças portadoras de hipotireoidismo congênito e correlação entre capacidades intelectuais da criança e escolaridade dos pais e renda fa-miliar.

Método

Seleção de sujeitos

As crianças fizeram parte de uma pes-quisa mais ampla realizada desde 1998, em colaboração entre as áreas de Psicologia e Medicina Interna, e foram encaminhadas por médicos endocrinologistas de clínica particular e do ambulatório de Endocrino-logia Pediátrica do Hospital Materno-Infan-til Presidente Vargas. Essas crianças repre-sentam uma amostra de crianças com HC do Estado do Rio Grande do Sul. Foi feito contato por telefone com a família de to-das essas crianças para obter autorização para realização das avaliações. Formou-se um grupo com 25 crianças em idade esco-lar, porém 3 foram excluídas do presente estudo por apresentarem diagnósticos tar-dios (após 3 meses de idade). Não foi pos-sível realizar contato com todas as famílias por diversos motivos, dentre eles, mudan-ças de endereço ou telefone e famílias que não puderam comparecer à avaliação no período de coleta de dados.

Amostra

A amostra do presente estudo foi en-tão composta de 22 crianças na faixa etária de 6 anos a 12 anos e 9 meses, sendo 13 meninas e 9 meninos. Todos os participan-tes tiveram diagnóstico e tratamento de hipotireoidismo congênito realizado entre 0 a 90 dias.

Instrumentos

Escala Wechsler

Para investigar as capacidades intelec-tuais dessas crianças, foi utilizada a Escala de Inteligência Wechsler para Criança (WISC), usada dos 6 aos 15 anos de idade para avaliar a inteligência geral do sujeito. A escala é organizada em Escala Verbal e de Execução, cada uma consistindo em um mínimo de cinco e um máximo de seis sub-testes, produzindo resultados separados referentes ao QI. Os escores individuais em

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todos os dez subtestes regularmente apli-cados são combinados em um QI de Esca-la Global (Anastasi & Urbina, 2000).

Entrevista

Além desse instrumento foi utilizado um questionário, que era preenchido pelos pais da criança durante uma entrevista. O instrumento era composto por itens que investigavam condições pré e perinatais, desenvolvimento neuropsicomotor inicial e nível educacional dos pais.

Procedimentos para coleta de dados

As crianças foram encaminhadas pelo médico e contatadas por telefone para o agendamento da coleta de dados. As avali-ações foram preferencialmente marcadas no mesmo dia em que seria realizada a consul-ta de acompanhamento ao médico, pois são acompanhadas geralmente com uma con-sulta a cada semestre.

Nesse encontro foram administrados os instrumentos de investigação em uma sala ampla, cuidadosamente preparada para a realização das tarefas. O Termo de Con-sentimento Livre e Esclarecido havia sido obtido no contato da pesquisa mais ampla.

Resultados

Caracterização da amostra

Das 22 crianças que compõem a amos-tra, 13 (59,1%) são do sexo feminino e 9 (40,9%) são do sexo masculino. As idades são de 6 anos a 12 anos e 9 meses, distribu-ídas da seguinte forma: 7 crianças com 6 anos, 9 crianças com 7 anos, 3 crianças com 8 anos, 2 crianças com 9 anos e uma crian-ça com 12 anos de idade. Predominam na amostra as idades mais baixas, ou seja, 16 crianças com 6 e 7 anos, faixa etária do iní-cio da escolarização formal. A média do grupo é 7 anos e 2 meses (DP = 1,42). Quanto ao grupo diagnóstico a maioria das crianças 18 (81,8%) foi diagnosticada por

screening e 4 (18,2%) foram diagnóstico clí-nico precoce, descoberto por sinais clíni-cos, ambos realizados entre 1º e 3º mês de vida, ou seja, todas as crianças foram diag-nosticadas e tratadas entre 0 e 90 dias, con-siderado precocemente (tabela 1).

Tabela 1 – Caracterização da amostra: sexo, idade e tipo de diagnóstico.

Idade Sexo Grupo 6 a Fem. Screening 6 a Fem Screening 6 a 3 m Masc. Screening 6 a 4 m Masc. Screening 6 a 8 m Masc. Clínico Precoce 6 a 9 m Fem. Screening 6 a 10 m Masc. Screening 7 a Fem. Clínico Precoce 7 a Fem. Screening 7 a Fem. Screening 7 a 1 m Fem. Screening 7 a 4 m Masc. Screening 7 a 6 m Masc. Screening 7 a 6 m Fem. Clínico Precoce 7 a 8 m Fem. Screening 7 a 10 m Fem. Screening 8 a 4 m Fem. Clínico Precoce 8 a 6 m Masc. Screening 8 a 10 m Fem. Screening 9 a Fem. Screening 9 a 4 m Masc. Screening 12a 9 m Masc. Screening

A idade das mães das crianças é de 27 a 51 anos, sendo a média de 36 (DP = 5,24). A idade dos pais é de 32 a 57 anos e a mé-dia 40 (DP = 6,60).

Em relação à atividade exercida pelos pais, os dados obtidos mostram, com exce-ção de um pai que não foi revelado e outro que se encontrava desempregado na oca-sião da entrevista, 20 exercem atividade la-boral remunerada, enquanto as mães, 15 exercem atividade remunerada e 7 exercem atividades do lar.

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No teste WISC foram obtidos coefici-entes de inteligência (QIs), aos quais foram atribuídas classificações do desempenho intelectual: QI £ 69 = deficiência mental (DM); QI 70 – 79 = inteligência limítrofe (L); QI 80 – 89 = inteligência média

inferi-A média do QI Global da amostra foi 98,68 (DP=15,01); a média do QI Verbal da amostra foi 98,50 (DP=16,88) e a média do QI Execução da amostra foi 99,09 (DP=13, 48). O grupo não apresentou di-ferença estatística no desempenho nas duas áreas que compõem a escala (p = 0,828).

QI Execução QI

Verbal

QI Global

Freq. (%) Freq. (%) Freq. (%)

Muito Superior - - - - Superior 1 4,5 3 13,6 2 9,1 Médio Superior 4 18,2 2 9,1 3 13,6 Médio 12 54,5 13 59,1 13 59,1 Médio Inferior 3 13,6 2 9,1 2 9,1 Limítrofe - - - - 1 4,5 Deficiente M 2 9,1 2 9,1 1 4,5 Total 22 100 22 100 22 100

A avaliação realizada com o WISC para examinar os coeficientes de inteligência e compreender o funcionamento intelectual das crianças mostra que, no desempenho global das crianças, mais da metade (59,1%) das crianças tiveram um desempenho com classificação na média.

Agrupando-se as classificações pode-se obpode-servar que 81,8% das crianças alcan-çaram um bom desenvolvimento intelectual global, classificadas nos níveis médio, mé-dio superior e superior e 18,1% das crian-ças apresentaram desenvolvimento intelec-tual abaixo da média, classificadas nos ní-veis médio inferior, limítrofe e deficiente. Quanto aos desempenhos da área verbal e de execução, mais da metade das crianças obtiveram resultados classificados como médio. Considerando-se as classificações médio, médio superior e superior nas duas áreas, pode-se observar que 81,8% na área verbal e 77,2% na área de execução da amostra alcançaram desempenho satisfató-rio e 18,1% e 22,7%, respectivamente, com desempenho classificado nos níveis médio inferior, limítrofe e deficiente (figura 1).

Resultados das análises estatísticas inferenciais

Relação entre variáveis demográficas e capaci-dade intelectual

A análise de correlação (coeficiente de Spearman) foi utilizada para verificar a re-lação de diferenças entre as variáveis demo-or (MI); QI 90 – 109 = inteligência média (M); QI 110 – 119 = inteligência média superior (MS); QI 120 – 129 = inteligência superior (S); QI ³ 130 = inteligência muito superior (MuS) (tabela 2).

81,8 18,1 77,2 22,7 81,8 18,1 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

QI Verbal QI Execução QI Global

Acima da média Abaixo da média

Figura 1 – Resultados do QI global, QI verbal, QI

execução do WISC

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gráficas e os escores gerais obtidos da esca-la WISC. As variáveis demográficas selecio-nadas para examinar as diferenças foram escolaridade da mãe, escolaridade do pai e renda familiar. As correlações estatistica-mente significativas constam na tabela (ta-bela 3).

Tabela 3 - Correlação de Spearman entre os escores das variáveis demográficas e WISC

cia dessa condição: 1 em 4000 recém nas-cidos, a segunda desordem endócrina mais freqüente em crianças, depois insulino-de-pendentes diabetes mellitus (Vliet, 1999).

A avaliação psicométrica intelectual das crianças realizada com o WISC demons-trou que 18 crianças (81,8%) obtiveram re-sultados classificados na média ou acima, ou seja, com QIs acima de 90; apenas 4 cri-anças (18,1%) demonstraram desempenho abaixo da média. Os resultados não mos-traram diferença entre a área verbal a área de execução que compõe a escala. A média de QI Global do grupo foi 98, a média do QI Verbal foi 99 e a média do QI Execução foi 99. O fato de não haver diferença de resultados entre os desempenhos de QI Verbal e QI Execução demonstra que não há discrepância manifesta entre as diversas capacidades medidas pela testagem.

Jardim, Leite, Silveira, Barth e Giuglia-ni (1992) citam as estimativas esperadas ba-seados em pesquisas internacionais: 50% dos pacientes que iniciam o tratamento entre 3 e 6 meses de idade atingem QI superior a 90, enquanto esse alvo é atingido por 75% daqueles que iniciam o tratamento até os 3 meses de idade. As estimativas mais atuais, com tratamento realizado nas primeiras se-manas, apontam que o tratamento mais pre-coce possibilita um desenvolvimento inte-lectual normal, com 90% dos pacientes apre-sentando um QI superior a 90.

Quanto aos coeficientes de inteligên-cia obtidos neste estudo, considerando que nem todas as crianças iniciaram tratamento dentro do primeiro mês, como na maioria dos estudos citados, parece não haver defa-sagens de acordo com outras pesquisas com crianças nessas idades. Nos achados da pes-quisa de seguimento de Gloriaux e cols. (1985) na avaliação com o WISC-R em 25 crianças com HC aos 7 anos, a média obtida foi de 100 (alcance de 74-133) e somente 10% das crianças obtiveram desempenho menor do que 90. A pesquisa de seguimen-to de Bargagna e cols. (2000), realizada em crianças na idade escolar, não foi encontra-da diferença significativa entre as 24 crian-ças com HC e o grupo controle na avaliação Variáveis r p

Escolaridade da Mãe x QI Global 0,766 0,000 Escolaridade da Mãe x QI Verbal 0,637 0,001 Escolaridade da Mãe x QI Execução 0,682 0,000 Escolaridade do Pai x QI Global 0,656 0,001 Escolaridade do Pai x QI Verbal 0,619 0,003 Escolaridade do Pai x QI Execução 0,545 0,011 Renda Familiar x QI Global 0,578 0,005 Renda Familiar x QI Execução 0,568 0,006

Referente à variável escolaridade da mãe e escolaridade do pai, em ambas, hou-ve correlação com os resultados do WISC, na Escala Global (QI Global), área verbal (QI Verbal), área de execução (QI Execu-ção): crianças cujos pais possuíam maior escolaridade, obtiveram escores mais altos. Referentemente à variável renda fami-liar, os resultados demonstram uma corre-lação com a Escala Global (QI Global) e área de execução da escala (QI Execução): cri-anças cujas famílias apresentavam renda maior, obtiveram escores mais altos.

Discussão

Todas as crianças avaliadas foram di-agnosticadas e tratadas entre 0 a 90 dias. Esse fator é um dos aspectos para alcance de um bom prognóstico no desenvolvimen-to das crianças portadoras de HC. Existe um consenso geral de que tratamento o mais precoce possível é um objetivo a ser buscado e avaliação e tratamento de um recém nascido com HC deveriam ser vistos como uma emergência pediátrica (Fisher, 2000; Vliet, 1999), pois a deficiência men-tal resultante de HC é o maior problema de saúde pública e clínica em vista da

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freqüên-com o WISC-R aos 7 anos e a média encon-trada de QI foi 104 (DP=10,06). Rovet e Erlich (2000) relatam que, nas suas pesqui-sas com crianças com HC em idade escolar, mesmo com o tratamento precoce, as crian-ças atingiram uma inteligência normal me-didas pelo WISC, porém quando compara-das com grupo controle em QI Global (105x112); QI Verbal (103x109) e QI Exe-cução (107x111), as crianças com HC obti-veram escores mais baixos.

No presente estudo houve relação sig-nificativa entre as variáveis de escolaridade dos pais e os QIs da escala: crianças cujos pais possuíam maior escolaridade puderam demonstrar as capacidades medidas pela escala melhor desenvolvidas, provavelmente por estarem inseridas em um ambiente em que a convivência com esses pais e os estí-mulos recebidos influenciou na aquisição das funções avaliadas.

Quanto à renda familiar, houve cor-relação com a área de Execução (QIE) e com a Escala Global (QIG). O item máxi-mo para avaliar a renda no questionário era “mais de 4 salários mínimo”. Os resul-tados demonstraram que as crianças que pertenciam a essas famílias, tiveram de-sempenhos melhor nas áreas avaliadas. Como não foi possível averiguar mais exa-tamente a renda dessas famílias, pode-se supor que essas famílias possuem uma condição mínima favorável que possivel-mente contribuiu para um melhor desen-volvimento intelectual: provavelmente são famílias que possuem mais recursos ambi-entais que estimularam as habilidades medidas nessas áreas. Estes resultados mostram que o desenvolvimento das ca-pacidades intelectuais da criança está re-lacionado com o seu contexto. Os resulta-dos da pesquisa de Maturano (1999), so-bre recursos no ambiente familiar e difi-culdades de aprendizagem na escola, su-gerem que o progresso na aprendizagem escolar está associado à supervisão e à or-ganização das rotinas no lar, a oportuni-dades de interação com os pais e à oferta de recursos no ambiente. Nesse sentido, é importante salientar que a condição

soci-oeconômica e conseqüentemente mais re-cursos ambientais (assim como o nível de escolaridade dos pais) podem contribuir para o desenvolvimento das capacidades da criança.

Esses achados também são evidencia-dos pelo estudo de Bargagna e cols. (1999), que referem ser o nível sociocultural da fa-mília fator adicional que influencia a apren-dizagem. Uma educação familiar de expe-riência e estimulação contínua pelos pais pode produzir progresso na escola e pode favorecer a aprendizagem. Os autores ava-liaram o desempenho escolar de crianças com HC tratadas precocemente e eviden-ciaram que o baixo nível sociocultural da família afetou negativamente a aprendiza-gem nas crianças. Segundo os mesmos, esse fato pode resultar de um insuficiente for-necimento de estímulo durante o desen-volvimento ou de dificuldade em providen-ciar cuidados na esfera afetivo-relacional.

Considerações finais

A realização deste estudo permitiu corroborar estudos internacionais sobre o desenvolvimento intelectual de crian-ças portadoras de hipotireoidismo con-gênito tratadas até 3 meses de vida, que se encontravam em idade escolar, na épo-ca da pesquisa. A épo-capacidade intelectual encontra-se preservada para a maioria das crianças, que demonstraram apresen-tar bom potencial intelectual. Entre as áreas Verbal e Execução medidas pela es-cala, não houve diferenças estatística de desempenho (QIV e QIE), demonstran-do que as crianças encontram-se com a capacidade de se expressar verbal e não-verbal (habilidades mais motoras visuais) em equilíbrio. O QI global, resultou no nível médio. Estes dados mostram que essas crianças encontram-se bem, tendo o tratamento realizado repercutido de maneira positiva no desenvolvimento das áreas avaliadas.

Embora não tendo sido objetivo do presente estudo, durante as avaliações,

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mesmo que a capacidade intelectual para a maioria das crianças estava preservada, as queixas dos pais sobre aproveitamento escolar eram comuns sobre algumas crian-ças, principalmente as que se encontravam no início da escolaridade formal, ou seja, no primeiro ano escolar. Portanto, sugere-se que futuras pesquisas investiguem o aproveitamento escolar e fatores emocio-nais, para entender melhor outras relações entre HC, QI, personalidade da criança e aproveitamento escolar.

Outro fato importante a ser considera-do é a falta de pesquisas nacionais sobre ava-liações psicométricas e psicológicas dessas crianças para corroborar e comparar os acha-dos deste estudo. Em relação às pesquisas internacionais, percebe-se um maior avan-ço em avaliações neuropsicológicas das cri-anças com hipotireoidismo congênito.

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Recebido em 09/2004 Aceito em 11/2004

Referências

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