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A Música e a festa da Bosque

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Academic year: 2021

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“A experiência de festejar é algo presente entre os homens desde períodos muito remotos. Inicialmente

ligadas à plantação e à colheita, as festas sempre tiveram o grande poder de unir as pessoas e reforçar a

solidariedade humana. Festejar é um ato coletivo, comunitário, e por isso só pode acontecer de maneira

compartilhada. Entretanto, no mundo atual, estamos cada vez mais expostos ao individualismo, e, assim,

o coletivo vai pouco a pouco perdendo o sentido.”

Caçapava e Contocani In Brincar: um baú de possibilidades

Tendo em vista a importância de valorizarmos experiências coletivas e comunitárias, a escola Bosque das Letras procurou envolver toda a comunidade escolar na preparação de sua festa junina. Definido o tema “Boi”, que vem se tornando uma tradição na Bosque, iniciou-se um trabalho de formação da equipe da escola. Este trabalho começou com uma conversa com a Prof. Dra. Soraia Chung Saura, doutora em antropologia da educação e especialista em festas populares. Soraia veio à reunião de equipe falar sobre sua experiência com o “Bumba-meu-boi” do Maranhão, trazendo uma reflexão acerca da festa, das experiências cíclicas e da nossa relação com o tempo. Segundo a professora, na atualidade a humanidade tem privilegiado uma maneira linear de se relacionar com o tempo, encarando-o como uma sequência de acontecimentos inéditos e irreversíveis. Desta maneira o tempo é percebido como uma reta que caminha em

As festas cíclicas, que se repetem todos os anos, nos trazem uma dimensão diferente de tempo. Trata-se de um tempo cíclico que é caracterizado pelo perpétuo retorno de momentos, aliviando desta maneira a angústia de nos sentirmos caminhando em direção a um fim. O ciclo junino faz parte das tradições das festas populares brasileiras: repte-se a cada ano, trazendo-nos a possibilidade de experimentar uma maneira diferente de nos relacionarmos com o tempo. A riqueza cultural vivenciada nestes festejos juninos refletem as diferentes influências herdadas pelos povos europeus, africanos e indígenas que formam o nosso país, ainda hoje desconhecido para muitos brasileiros. Assim como no carnaval, a alegria em reunir música, artes plásticas, movimento e teatro tem sido um gratificante desafio, uma empreitada que coroa o final do semestre na escola Bosque, mobilizando a todos de forma muito positiva, desde os pequeninos à terceira idade.

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A Música e a festa da Bosque

A música nestas festas é representada pela diversidade de cantos, ritmos e instrumentos. No arraial da Bosque o trio tradicional de forró formado por sanfona, triângulo e zabumba novamente compareceu, mantendo a animação da festa e interagindo com o teatro. Além destes instrumentos típicos, outros foram apresentados previamente para as crianças nas aulas de música, no encontro e ensaio com os músicos que participam do evento.

As canções tradicionais de domínio público e as dos compositores populares como Luiz Gonzaga, Braguinha, Lamartine Babo, Antônio Nóbrega e Antônio Madureira permearam o repertório, envolvendo as crianças, resgatando a memória afetiva de pais e educadores. “Cai cai balão”, “Pula fogueira”, “Asa Branca”, “Capelinha de melão”, “Balão subiu”, “Luar do Sertão” foram entoadas nos vários espaços da escola durante as oficinas de adereços e enfeites. A pesquisa musical de educadores como Lydia Ortélio, Inimar Reis e a palestra da professora Soraia Chung Saura contribuíram para ampliar o conhecimento e envolvimento dos educadores na construção da festa.

Não só recitar, mas expressar uma quadrinha cantando, tendo como referência uma melodia, harmonia e ritmo tornou-se um saboroso jogo para todas as idades . A abordagem lúdica e humorada que é o momento de “tirar versos” vem sendo uma prática constante não só nessa festa, mas durante o ano. Esta brincadeira, que se inicia já no berçário com os brincos e parlendas é um fator significativo que auxilia na aquisição de linguagem e no processo de musicalização das crianças.

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As Artes Visuais e a construção da estética da festa

Após uma reflexão mais aprofundada, partimos para a ação construindo a festa com crianças, profissionais da escola e famílias. Cada família levou um chapéu para enfeitar e todos juntos formaram um belo caminho que levava os convidados à festa. Além disso, crianças, professores, pais e mães se envolveram com a produção de muitos enfeites e adereços nas oficinas que aconteceram no horário de entrada das crianças. O Boi também foi sendo construído coletivamente ganhando pouco a pouco personalidade e se tornando um divertido e querido amigo das crianças. Fomos todos juntos nos envolvendo com esta experiência coletiva e criando uma estética própria da festa junina da Bosque das Letras.

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Como o teatro trouxe o boi para as crianças

As histórias tem a magia de abrir um canal de comunicação com criança: o da imaginação. Assim, elas passam a ser vividas e internalizadas por cada menino ou menina de maneira singular. Nas aulas de teatro da Bosque, quando envolvemos as crianças na brincadeira da representação, contamos e recontamos a mesma história para que elas sintam que fazem parte do que foi contado.

Com o Boi Festeiro não foi diferente. No final de maio, G1, G2, G3, G4 e G5 foram apresentados ao enredo do bumba-meu-boi do Maranhão. Através de inúmeras rodas de história trouxemos o universo da cultura popular brasileira para dentro da escola. Depois as crianças do G4 e G5 começaram a escolher os personagens que iriam representar descobrindo assim a função de cada um na festa.

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Durante as oficinas de Artes Visuais e Teatro, o tema pôde ser trabalhado ainda mais profundamente. A professora Alexandra (Artes) passou a ser o boi, enquanto a professora Lili (Teatro) contava e representava a história para as crianças encenando com esse boi que agora havia tomado vida. Aos poucos as crianças foram vivendo a história e se aproximando do Boi Festeiro. As oficinas eram sempre tratadas como uma grande brincadeira onde os pequenos conheceram melhor o Boi, criaram seus vínculos, afetos, sentiram e deixaram de sentir medo e tantas outras emoções que fizeram parte do processo de construção da nossa festa.

Mais adiante, a professora Isa (Música) juntou-se à dupla (Artes - Teatro) formando um trio no qual as três linguagens se misturaram completamente. A música entrou enriquecendo a história e envolvendo as crianças através de brincadeiras com instrumentos e cantigas. Foram escolhidas toadas, marchinhas e acalantos de acordo com o roteiro da história e a faixa etária das criança. O repertório abrangeu ritmos com andamentos mais acelerados e outros mais brandos, intensidade dos sons mais fortes e outros mais delicados, sem perder a emoção da dramatização. As marcações musicais aconteceram sobre as falas dos personagens, os conflitos, para criação de um clima ou para saudação. E assim foram recolhidas músicas para o cortejo, a concentração, a festa na fazenda, a fuga , a doença, a cura do boizinho e a celebração. Destacamos na trilha: Toada de Coxinho do Pindaré (Boi da baixada maranhense) , Boi da Cara Preta (Domínio Público), O meu boi morreu (Domínio Público-RS), Puxa o boi (Domínio Público- PE), Boi Janeiro (Domínio Público do Vale do Jequitinhonha), Festa na Roça (Mario Zan).

Tudo feito ao vivo e com grande participação das crianças, a autenticidade da encenação foi enriquecida pelos instrumentos tradicionais, objetos sonoros e adereços. É importante ressaltar que o fio condutor para as crianças sempre foi a história encarada como uma grande brincadeira. Não houve nenhuma cobrança ou expectativa de uma apresentação impecável, ao contrário, a expectativa sempre foi de que as crianças se envolvessem com o processo e o produto – a apresentação - foi simplesmente consequência deste envolvimento.

Da festa à despedida do Boi Festeiro

Durante a festa pudemos celebrar o fim de um processo através da integração com a comunidade escolar e da construção de nossa identidade cultural. A união de famílias, equipe da escola e crianças aconteceu de uma maneira muito prazerosa. Todos que se movimentaram por este acontecimento puderam se sentir parte de um coletivo que gerou uma bela festa brincante.

Depois da festa, na última semana de aula, chegou o momento da despedida do Boi, e as crianças puderam viver isso intensamente. Brincaram de pega-boi: o Boi Festeiro saiu em disparada e as crianças tinham de pegá-lo para desmontá-lo e fazerem um pedido secreto em sua orelha. Cantaram uma música de despedida e guardaram o boi para que voltasse só no ano que vem. Na próxima festa ele

Artes Visuais, Música e

Teatro – a festa junina

como uma experiência

de integração entre

linguagens

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