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A ÉTICA NO CUIDAR EM ENFERMAGEM: CONTRIBUIÇÕES DA

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A

ÉTICA NO CUIDAR EM ENFERMAGEM

:

CONTRIBUIÇÕES DA

FENOMENOLOGIA SOCIOLÓGICA DE

A

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CHÜTZ

E

THICSINNURSINGCARE

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CONTRIBUTIONSFROMTHE SOCIOLOGICAL PHENOMENOLOGY OF

A

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AÉTICAENELCUIDARENENFERMERÍA

:

CONTRIBUCIONESDELA FENOMENOLOGÍA SOCIOLÓGICADE

A

LFRED

S

CHÜTZ

Benedita Maria Rêgo Deusdará RodriguesI

Judith Sena de SantanaII

Sandra Teixeira de Araújo PachecoIII

Lia Leão CiuffoIV

Ana Paula da Rocha GomesV

Jaqueline dos Santos RosaVI

Juliana Maria Rêgo Maciel CardosoVII

IDoutora em Enfermagem. Bacharel em Filosofia. Professora Titular do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil da Faculdade de Enfermagem e Procientista

da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisadora Nível 2/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. E-mail: benedeusdara@gmail.com

IIPós-Doutora em Estudos Sociais da Infância. Professora Titular da Universidade Estadual de Feira de Santana. E-mail: judithsena@superig.com.br IIIDoutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil da Faculdade de Enfermgem da Universidade do Estado do

Rio de Janeiro. E-mail: stapacheco@yahoo.com.br

IVDoutoranda em Enfermagem pela Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professora Colaboradora do Curso de Enfermagem

da Universidade do Grande Rio. E-mail: leaociuffo@yahoo.com.br

VAcadêmica do 9o período da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Participou da Pesquisa como Bolsista de Iniciação Científica

da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro. E-mail: anaprggu@yahoo.com.br

VIAcadêmica do 9o período da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Participou da Pesquisa como Bolsista de Iniciação Científica

da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. E-mail: jaquerosa15@hotmail.com.

VIIMestre pela Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Enfermeira Pediatra do Centro de Terapia Intensiva Pediátrico do Hospital

dos Servidores do Estado. Professora Substituta do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E-mail: juird@yahoo.com.br

VIII Projeto financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico através do Edital Universal de 2007. RESUMO:

RESUMO: RESUMO: RESUMO:

RESUMO: O estudo teve por objeto os fundamentos da perspectiva ética do cuidar em enfermagem com o objetivo de apreender o típico da dimensão ética do cuidar promovido por enfermeiros, em diferentes contextos de adoecimento, na rede hospitalar do Sistema Único de Saúde. Estudo descritivo, pautado na fenomenologia sociológica de Alfred Schütz, que nos permitiu entender esse cuidar como uma ação social. Foram realizadas entrevistas com 15 enfermeiros, em dois hospitais públicos, situados nas cidades do Rio de Janeiro-RJ e Feira de Santana - BA, no período de Janeiro de 2008 a Maio de 2010. Os resultados evidenciaram as categorias: respeitar o paciente sem causar dano; ver o que está além da doença; priorizar as necessidades dos pacientes; e realizar o cuidado na perspectiva ética. Conclui-se que o enfermeiro age de forma prescritiva, orientado pelo senso comum e sua visão de mundo, requerendo aprofundar o estudo e as reflexões sobre o tema.

Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave:

Palavras-chave: Cuidado de enfermagem; ética; bioética; relacionamento interpessoal. ABSTRACT

ABSTRACT ABSTRACT ABSTRACT

ABSTRACT: : : : : The study examined the foundations of the ethical perspective in nursing care in order to grasp what typifies the ethical dimension in care provided by nurses in different contexts of illness in Brazil’s national health service hospital system. This descriptive study was based on the phenomenology of Alfred Schütz, which enabled that care to be understood as a social action. Interviews of 15 nurses were conducted in two public hospitals in the cities of Rio de Janeiro and Feira de Santana, between January 2008 and May 2010. The results revealed the following categories: respecting the patient without causing harm, see what’s beyond the disease, prioritize patient needs, and provide care with an ethical perspective. It was concluded that nurses act prescriptively, guided by common sense and their world view, requiring further study and reflection on the subject.

Keywords: Keywords: Keywords: Keywords:

Keywords: Nursing care; ethics; bioethics; interpersonal relations. RESUMEN:

RESUMEN: RESUMEN: RESUMEN:

RESUMEN: El estudio tuvo por objeto los fundamentos de la perspectiva ética del cuidar em enfermería con el objetivo de aprehender el típico de la dimensión ética del cuidar promovido por enfermeros, en diferentes contextos de enfermar, en la red hospitalaria del Sistema Único de Salud. Estudio descriptivo, según la fenomenología sociológica de Alfred Schütz, que nos permitió entender ese cuidar como una acción social. Fueron realizadas entrevistas com 15 enfermeros, en dos hospitales públicos, situados en Rio de Janeiro-RJ y en Feira de Santana - BA – Brasil, en el período de enero de 2008 a mayo de 2010. Los resultados evidenciaron las categorías: respetar el paciente sin causar daño; ver lo que está mas allá de la enfermedad; priorizar las necesidades del pacient; y realizar el cuidado en la perspectiva ética. Se concluye que el enfermero actúa de manera prescriptiva, orientado por el sentido común y su visión de mundo, requiriéndose profundizar el estudio y las reflexiones sobre el tema.

Palabras clave: Palabras clave: Palabras clave: Palabras clave:

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mensão da intencionalidade intersubjetiva das dife-rentes consciências, portanto das consciências dos enfermeiros em relação à dimensão ética do cuidar como um projeto intencional. Nesse sentido, enten-demos que a fenomenologia sociológica de Alfred Schütz pode contribuir para a construção de um co-nhecimento que aponta para a inter-relação de um saber teórico-prático, que se constitui a partir da re-flexão da prática profissional3.

Para Schütz, reconhece-se uma pessoa como um ser humano único, dotado de singularidade, particulari-dade, mas também como condicionado pelo meio em que está inserido, seu mundo da vida4. É nessa

perspec-tiva que temos como objetivo do estudo apreender o típico da dimensão ética no cuidar promovida por en-fermeiros de diferentes contextos de adoecimento, na rede hospitalar de atenção do Sistema Único de Saúde.

R

EFERENCIALTEÓRICO

A

sociologia

fenomenológica de Alfred Schütz se aplica ao presente estudo por nos permitir entender que o cuidar desenvolvido pelo enfermeiro deve ser enfocado como uma ação social, isto é, uma relação entre profissionais com projetos intencionais seme-lhantes em sua tipicidade. Parafraseando ilustre pen-sador da atualidade, pensamos que o enfermeiro, ao realizar as suas ações profissionais, deve assumir a ética como um estilo de vida, um modo de viver, um rumo comportamental que decidiu seguir, uma referência para a qual se reporta ao traçar a trajetória histórica no agir cotidiano. Ainda, é importante ressaltar que cabe à época contemporânea inaugurar o tempo da ética objetiva, que nasce da comunicação intersubjetiva, na reciprocidade do eu-tu-nós. A ética se origina na ção viva entre um eu e um tu e que, portanto, é rela-cional5. A reciprocidade interpessoal estabelece a

eticidade de nossos comportamentos e ações.

Do ponto de vista da prática profissional, a implan-tação de um cuidado humanizado, mais do que o cumpri-mento de uma prescrição moral, pautada na obediência ao que deve ser associada ao risco da punição frente a transgressões, necessita fundamentar-se na ética6.

O homem vive no mundo do senso comum, relacio-nando-se com outros homens, semelhantes a si e, seja em relação face a face ou relação indireta, a base para a ação social é a situação biográfica que cada um pos-sui. Ela influirá nos motivos, na direção, enfim, no modo como a pessoa ocupa o espaço da ação, interpreta suas possibilidades e se envolve em desafios7:67-8.

Quando Schütz vai ao sujeito questioná-lo, inter-rogá-lo, perguntá-lo, para constituir e não simplesmen-te construí-lo na dimensão a priori, ele busca em Husserl a consciência intencional porque, sem dúvida nenhu-ma, é a intencionalidade da consciência que nos dá a abertura para captar o que nós entendemos e apreende-mos como uma determinada ação realizada3.

I

NTRODUÇÃO

A

motivação para o

estudoVIII surge da questão:

Por que pensar sobre a ética no cuidar? De certo modo, tal questionamento pode suscitar o pressuposto:

re-conhecer que o que é considerado indispensável para nós é também imprescindível para o próximo. Porém,

pensa-mos que a tendência é achar que os nossos direitos são mais urgentes que os do próximo. Ora, o esforço deve se dar no sentido de incluir o nosso semelhante no mesmo elenco de bens que reivindicamos para nós, com base na reflexão sobre os direitos humanos. Nesse sentido, não se trata de pensar e falar so-bre o cuidado como objeto independente de nós. De-vemos pensar e falar a partir do cuidado como é vivi-do e estruturavivi-do em nós mesmos. Não cuidamos ape-nas do outro, cuidamos também de nós mesmos1.

Dessa forma, o homem em toda a sua singularidade é sujeito e não objeto das ações profissionais, e com ele devemos ter o compromisso ético e o respeito que é vivi-do a partir vivi-dos significavivi-dos que sustentam as relações no contexto do cuidar como uma ação social. Assim sendo, com este estudo se pretende dar visibilidade à ética no cuidar, a partir dos profissionais e em interlocução com o referencial teórico, no intuito de contribuir para a forma-ção do enfermeiro.

Cuidar envolve dedicação, paciência, sinceridade, confiança, humildade, esperança, coragem. Poderíamos, assim, ressaltar que estas características são indispensá-veis para um cuidar humano. O cuidado humano e o cuidar são vistos como o ideal moral da enfermagem, isto é, um estilo, um modo próprio de cuidar, no qual o enfermeiro é coparticipante num processo de interação que se concretiza na intersubjetividade2.

Ao refletir sobre a dimensão ética no cuidar em enfermagem, percorremos desafios buscando a forma mais apropriada para caracterizá-la na perspectiva da cidadania. Para tanto, é preciso promover a interlo-cução necessária entre a formação / atuação profissi-onal e as questões recorrentes da atualidade, que evi-denciam as relações múltiplas existentes entre os sa-beres técnicos, fundamentais à prática profissional, e os valores que atravessam as experiências cotidianas. Vale ressaltar que a compreensão que temos das ações que se dão na atitude natural têm uma relação direta com a situação biográfica, o contexto vivencial no qual estamos situados e, portanto, com nossa visão de mundo. Este esquema de referências nos permite interagir com o mundo à semelhança de algo já exis-tente. O estoque de referências à mão é eminente-mente familiar e confere a garantia da repetição dos nossos atos com sucesso e continuidade. Entretanto, a preocupação de Schütz não ocorre na busca da cons-ciência puramente intencional, mas da conscons-ciência intencional intersubjetiva3.

O ponto de partida de Schütz em busca de fun-damentos para as ciências sociais diz respeito à

(3)

di-M

ETODOLOGIA

F

oi realizado estudo

fenomenológico, de natureza qualitativa, para a busca da apreensão do significado, nes-te caso, da dimensão ética que se insere na ação de cuidar, de enfermeiros de diferentes contextos de adoecimento, na rede hospitalar do Sistema Único de Saúde.

É no mundo da atitude natural ou mundo da vida diária, isto é, no cenário do seu fazer cotidiano, que o enfermeiro desenvolve o seu cuidar, apoiando-se nas tipificações alcançadas por uma ação intencional. O mundo da vida

diária é a realidade que parece evidente para os homens

que permanecem na atitude natural, constituindo-se na realidade fundamental e eminente do homem.

Mundo este que é aceito sem discussão e que é o âmbito no qual o homem atua diariamente, inter-vém e sente que pode atuar sobre ele e modificá-lo conforme seus interesses práticos. Esse mundo da vida

diária é percebido pelo homem adulto e alerta como

pressuposto, como inquestionável, sem problemas, até novo aviso, é vivencial, isto é, nascemos nele de gente que já vivia nele, já existia antes de nós, agora é palco de nossas ações, de nossas experiências, apre-senta-se desde o início como um organismo ordena-do e coerente, no qual cada coisa tem sua função e ocupa seu lugar e onde cada objetividade se impõe em sua especificidade sem possibilidade de confusão8.

Neste estudo, a preocupação central é captar o sentido que o agente da ação atribui a seu ato, não como algo que se dá de forma isolada, mas na relação direta com sua situação biográfica. Assim sendo, para compreender as ações do enfermeiro é necessário apreender os significados de sua ação, que de certo modo indicam o modo de ser do profissional.

A pesquisa contou com a adesão de 15 enfermeiros de dois hospitais públicos, um situado na cidade do Rio de Janeiro – do qual participaram nove profissionais, e ou-tro, na cidade de Feira de Santana, com seis participantes. O estudo ocorreu no período de janeiro de 2008 a maio de 2010. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição, tendo sido apro-vado por esse Comitê com registro no 2242/2008. A

coleta de dados ocorreu, mediante entrevista, após o preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos sujeitos. Mantivemos o anonimato dos participantes que receberam codinomes.

Para uma primeira aproximação aos enfermei-ros, utilizamos as seguintes questões: Para você, o que é ética? Como você insere a ética no cuidar ao cliente? Estas questões têm por fundamento propiciar uma ambiência entre o pesquisador e o sujeito do estudo, facilitando assim a empatia necessária para a realiza-ção da entrevista fenomenológica. E uma terceira per-gunta: Quando você cuida, tem em vista a ética nesse cuidar? Tais questionamentos permitem captar as ex-periências vivenciadas na ação de cuidar desse sujeito.

Dessa forma, ao realizar a entrevista fenome-nológica, temos a intenção de captar a fala originária, que consiga verdadeiramente apreender a intencionalidade dos atos dos sujeitos envolvidos9. A partir do conteúdo

das falas dos sujeitos do estudo, foi possível ter acesso aos significados das ações e assim emergiram quatro categori-as, entre elas: Respeitar o paciente sem causar dano; Ver o que

está além da doença; Priorizar as necessidades dos pacientes; e Realizar cuidado numa perspectiva ética, que foram

analisa-das em congruência com o referencial estudado.

R

ESULTADOSEDISCUSSÃO

A

s entrevistas com

os enfermeiros que se cons-tituíram nos sujeitos da pesquisa evidenciaram as ca-tegorias já mencionadas que são analisadas a seguir.

Respeitar o paciente sem causar dano

Os enfermeiros ao realizarem o cuidar às pessoas o fazem como uma ação social que se caracteriza na sua intencionalidade como um modo próprio de ser, des-ses enfermeiros, permeado por seus valores, respeitan-do a individualidade da pessoa cuidada. A preocupa-ção com o outro, nesse cotidiano, se expressa durante a realização de procedimentos através da promoção da privacidade, da informação, não causar danos, ou seja, buscando sempre a integridade física da pessoa.

[...] eu acho que você está fazendo o procedimento que ele tem o direito de saber [...] não podemos invadir o doente e não temos o direito de fazer qualquer coisa, sem explicar para ele o que nós estamos fazendo [...] as pessoas estão muito pouco preocupadas com o todo do ser humano e a ética no cuidar [...] não sei se é porque a enfermagem é muito sobrecarregada, e ela tem muitas funções [...] aí o segmento mais importante que é o paciente ele fica muitas vezes a desejar [...]. (Paulo) [...] eu tenho em vista a ética, é empregar da melhor forma possível, porque o sujeito, o agente do autocuidado é o cliente, e a gente não pode trazer dano algum, em hipótese alguma [...]. (Rui)

[...] fazer dentro do que eu acho, do que eu penso, o que seja melhor para ele, mesmo que não seja o melhor pra mim [...] Eu quero, aqui, que ele se sinta bem, inserido no ambiente, e quero que ele acredite em mim pra que possa haver uma troca [...] quando eu chego perto dele eu quero ser o mais verdadeira possível [...]. (Lya) [...] O paciente estando aqui nos nossos cuidados ele não pode sair daqui com um trauma com uma experiência ruim, de ter sido abordado de uma forma errada, ou ter feito um procedimento nele sem uma autorização dele, alguma coisa que pode ter implicação [...]. (Ana Maria) [...] não ocasionar nenhum dano para aquela pessoa [...] respeitando o individuo [...] então o meu cuidado está sendo ético, porque eu estou fazendo aquilo que eu acho melhor para ele...] ajudar e respeitar aquela pessoa de uma maneira geral evitando constrangimento [...]. (Joanna)

(4)

[...] é respeitar a privacidade do paciente [...]. Quando presto cuidado deve ser respeitando a religião, situação financeira [...]. (Chico)

[...] quando eu vou cuidar de alguém [...] eu tento fazer essa relação com ele de uma forma bastante cuidadosa [...] outra coisa é de respeitar as pessoas quando existe uma relação de independência [...]. (Silvio)

[...] a minha ética no cuidar, [é] não julgar, não menos-prezar, ele tem que receber a assistência dentro de qual-quer coisa de forma integral [...]. (Zélia)

Em sua prática cotidiana, o enfermeiro tem a pos-sibilidade de vivenciar o contato com o indivíduo que se encontra em condição peculiar de sua existência, tendo em vista o momento da hospitalização. Nessa perspectiva, desenvolver ações de cuidado é uma opor-tunidade ímpar de ajudar a promover o conforto e, por conseguinte, o bem-estar.

Para tanto, as ações desse profissional devem ser norteadas pela ética e bioética, haja vista que estas pro-porcionam lograr uma assistência que valoriza o respeito ao ser humano em todas as etapas do seu ciclo da vida. Essa categoria imprime claramente a preocupação do en-fermeiro em implementar um cuidado que seja respeitoso.

Ver o que está além da doença

Ao realizar os cuidados diários os enfermeiros ten-tam desenvolvê-los para além da doença proporcionan-do um cuidaproporcionan-do diferenciaproporcionan-do através da escuta atentiva, da conversa aberta e do olhar direcionado para as ques-tões éticas que perpassam pelas atividades. Desse modo, tentam alcançar o que de fato corresponde a necessida-des dos pacientes, não reduzindo a importância que o seu estado de saúde tem naquele momento para eles.

[...] buscar o além do óbvio ali, além do que está se apresentando, além do curativo, do acesso venoso, quan-do a gente faz a visita ali, diária, rapidamente, cequan-do, em cada leito, o que eu pessoalmente busco extrair, o além do óbvio e conversar com ele. (Jorge)

[...] eu vou fazer um procedimento eu vou colocar um biombo, eu não vou expor o paciente [...] se ele está sendo bem atendido ali, se a gente está atendendo a expectativa dele, se ele está sendo respeitado, não com essas perguntas abertamente, a gente conversa, tenta extrair isso de forma mais aberta possível [...]. (Clarice) [...] o paciente tem os direitos dele, que tem que ser respeitados, e eu trato como eu gostaria de ser tratada [...] vai fazer um procedimento [...] comunicar a ele que vai fazer uma cirurgia [...]. (Ana Maria) [...] eu tento na realidade encontrar um denominador comum entre a ética e o que eu chamo para mim de consciência moral, eu fico assim nessa briga, já são 25 anos nessas briga [...] do que é certo do que é errado, não é fácil! Até porque cada indivíduo é diferente! Ele responde diferente, então é muito complicado se man-ter o tempo inteiro ética, ou o tempo inteiro só sua consciência moral [...]. (Lya)

[...] você não está fazendo aquilo, por você, você está fazendo aquilo por ele, aquela história de teu direito acaba quando começa o do outro [...]. (Joanna) [...] tento fazer com as meninas, é pegar aquele pacien-te que precisa de mais cuidados e priorizar e ver o que é dito para o paciente, acompanhante e a gente resguar-da um pouco mais o paciente [...]. (Silvio)

Com a finalidade de prestar um serviço de me-lhor qualidade e que, na medida do possível, promo-va justiça social, os enfermeiros são lepromo-vados a refletir sobre a sua prática diária e reavaliar os princípios éti-cos e bioétiéti-cos que a fundamentam10.

Portanto, as ações de cuidar do enfermeiro de-vem ser permeadas pelos processos de interação e re-ciprocidade, considerando o ser cuidado como um sujeito que deve ter sua dignidade respeitada11.

Nessa categoria é possível perceber que os en-trevistados direcionam seu olhar, não apenas, para a questão da patologia que o paciente apresenta, mas também para os aspectos psíquicos e emocionais e o contexto no qual ele está inserido, de forma a pro-porcionar um suporte mais adequado.

Priorizar as necessidades do paciente

Na perspectiva de priorizar as necessidades do paciente, os enfermeiros têm em vista a aplicabilidade na prática assistencial da interação enfermeiro/clien-te que favorece a reflexão sobre o respeito, o direito, a segurança e a garantia do sigilo. Esses aspectos surgem como um significado da ética profissional, isto é, um modo de ser ético no desempenho da sua prática.

[...] tento tirar as dúvidas dele, porque as pessoas vão lá, funde a medicação, não dizem, não querem saber, como se ele fosse um boneco, ele não é um boneco, ele tem também seus anseios e a gente tem que respeitar [...]. (Clarice) [...] eu acho que o paciente, quando você vai fazer uma medicação, ele tem o direito de saber o que você está dando para ele [...] ele tem que se sentir seguro, para isso ele tem que saber o que vai acontecer [...] você tem que se aproximar e fazer e dar alguma informação para ele antes [...] dar toda condição dele se sentir o mais seguro possível, entendeu, orientando como é que são os procedimentos, tudo o que vai acontecer com ele [...] eu acho que é o respeito, é o orientar e dar segurança entendeu [...]. (Paulo)

[...] a ética faz isso, ela faz você pensar o tempo inteiro dentro daquela ação de cuidar, eu acho isso; se é o certo, ou se é o errado, poderia não pensar em nada [...], se você não tem o mínimo de ética, você não con-segue, a gente fica sempre em dúvida, se o que a gente fez era o bom para ele, era o melhor para ele, a gente acha que é [...]. (Lya)

[...] quando você não expõe o paciente, quando você respeita a privacidade dele, quando você lembra de pe-gar um biombo e colocar o biombo antes de despir o paciente, você tá sendo ética, porque você vai esconder

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ele das outras pessoas, você ta respeitando a privacida-de privacida-dele, tem paciente que não gosta [...]. (Joanna) [...] eu tento não expor meu paciente de forma alguma e diminuir ao máximo a questão de constrangimento [...] trabalhar bastante a questão do sigilo, a gente não pode sair comentando tudo e qualquer coisa no corre-dor [...] tratar bem aquele individuo [...] gosto de fazer assistência direta ao paciente mesmo, de cuidar, de ou-vir, dar um banho [...]. (Silvio)

Na prática assistencial da enfermagem, é impor-tante ter em vista que a ética e a bioética do cuidado envolvem relações humanas, em que as questões mo-rais são refletidas de forma aberta e igualitária, condu-zindo a uma construção de consensos nas situações concretas em que se apresentam os dilemas10.

Essa categoria, em especial, constata que em sua prática profissional, o enfermeiro acredita que é funda-mental considerar o que é mais importante para o outro sentir-se melhor. É imperioso no cuidado de enferma-gem levar em consideração e tentar compreender as necessidades do paciente. Para tanto, exercitar a escuta atenta e o olhar apurado é de grande valia para prestar um cuidado bem direcionado para os pacientes, tendo em vista as peculiaridades de cada ser humano.

Realizar o cuidado na perspectiva ética

Ao realizar o cuidado ao paciente acamado os enfermeiros o fazem numa perspectiva ética apreendi-da durante suas vivências e, muitas vezes, apoiados nos dilemas éticos que emergem de sua prática assistencial. As ações profissionais são realizadas com base no sen-so comum e na bagagem de conhecimentos adquiridos ao longo de sua existência, fazendo falta a reflexão crí-tica que possibilite o agir ético de modo eficaz.

Eu não emito minha opinião, fico mais naquela de ou-vir, de saber escutar [...] e eles revelam para gente, e na nossa posição é chato assim chegar é dar uma opinião e falar não faz isso, não faz aquilo. A vida é dele, a gente escuta mais do que fala, daí ás vezes você compreender muitas coisas do paciente [...]. (Agatha)

[...] portar-se eticamente na frente do paciente com pos-tura, não distanciar-se dele, mas também, assim, tentar manter um equilíbrio entre essa relação paciente com profissional acho que é por aí [...] tentar deixá-lo o mais à vontade possível, dentro das condições que a institui-ção nos oferece [...]. (Rui)

[...] eu tento, assim, fazer isso, resguarda a dignidade do paciente é que a gente não está mais fazendo isso, eu não vejo mais isso na minha vivência de trabalho, a gente está deixando a dignidade do paciente jogada, essa dignidade do paciente para mim é muito importante [...]. (Chico)

Para quem consegue se desligar, nesse senso e executar é

ótimo, alguns conseguem, eu acho que se não consegue vai fazendo, mas vai sofrendo, mas eu faço o quê? Por causa do paciente eu tenho que fazer isso, tenho pena do paciente [...], mas isso está errado... isso é improviso ... isso não é ..., mas tem que fazer..., mas já viu que o paciente que é penalizado, por causa disso a gente tem

que peneirar em prol de alguém, isso e [...] essa discus-são é filosofia pura [...]. (Jorge)

[...] nós não estamos fazendo a conduta correta, quando isso acontece e a gente observa quando [...] está no campo de trabalho e vê as coisas acontecerem, a gente percebe nitidamente que muitas pessoas executam mecanicamente os processos e se esquecem do lado humano [...]. (Paulo)

Evidenciamos, aqui, a ética como ponto de re-ferência para estabelecer relações com o outro e de-senvolver os cuidados de enfermagem.

A prática dos enfermeiros tem sido influencia-da constantemente por novos dilemas éticos que permeiam o exercício da profissão, inferindo-se, des-sa maneira, a inquestionável importância que a ética adquire na tomada de decisões desses profissionais frente a problemas éticos e morais12.

Quanto às limitações do estudo, ressalta-se que os resultados não devem ser generalizados, conside-rando o quantitativo de sujeitos entrevistados.

C

ONCLUSÃO

D

os depoimentos

dos enfermeiros participan-tes desta pesquisa emergiram as seguinparticipan-tes categorias:

Respeitar o paciente sem causar dano; Ver o que está além da doença; Priorizar as necessidades dos pacientes; e Rea-lizar cuidado numa perspectiva ética.

Os achados possibilitaram captar que o enfer-meiro inclui a ética e a bioética nas suas atividades cotidianas, junto ao paciente, como um modo de ser baseado no senso comum e na bagagem adquirida ain-da no curso de graduação. A sua preocupação incide, principalmente, em resguardar a privacidade do cli-ente durante a realização de procedimentos, promo-ver a escuta sensível para identificar necessidades e o cuidar ético, preocupação ainda lacunar que deve abordar o outro em sua totalidade.

A discussão da perspectiva ética e bioética no saber-fazer do enfermeiro é imprescindível, considerando a rela-ção entre o ser humano que é cuidado e o sujeito da arela-ção profissional no contexto atual de mudanças, ensejado pe-las contínuas conquistas sociais, científicas e tecnológicas. Concluimos que há certa dificuldade expressa pelo enfermeiro em associar o saber ético e bioético à prática profissional, evidenciando a falta de emba-samento teórico-conceitual. Desse modo, o enfer-meiro age de forma prescritiva, centrado em sua vi-são de mundo, com base no senso comum.

Este estudo traz contribuições para o saber-fazer da enfermagem ao fornecer subsídios para o campo da práti-ca, da formação e da pesquisa. Assim, aponta ser indis-pensável aprofundar o estudo e as reflexões sobre a pers-pectiva ética e bioética nas ações do enfermeiro, visando o cuidar com respeito e dignidade ao ser humano e sua família, a partir de suas necessidades, fortalecendo-o para o enfrentamento dos dilemas existenciais.

(6)

R

EFERÊNCIAS

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2. Waldow V. Cuidado humano: o resgate necessário. Por-to Alegre (RS): EdiPor-tora Sagra LuzzatPor-to; 1999.

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Dordrecht (Hol): Kluwer Academic Publishers; 1990. 5. Pegoraro O. Introdução à ética contemporânea. Rio de

Janeiro: UAPÊ; 2005.

6. Backes DS, Lunardi VL, Lunardi Filho WD. A huma-nização hospitalar como expressão da ética. Rev Latino-Am Enfermagem. 2006; 14:132-5.

7. Schütz A. El problema de la realidad social: introdución a la sociologia comprensiva. Buenos Aires (Ar): Amor-rortu Editores; 1974.

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9. Gorgulho FR, Rodrigues BMRD. A relação entre enfermei-ros, mães e recém-nascidos em unidades de tratamento in-tensivo neonatal. Rev enferm UERJ. 2010; 18:541-6. 10. Santiago MMA, Palácios M. Temas éticos e bioéticos

que inquietaram a enfermagem: publicações da REBEn de 1970-2000. Rev Bras Enferm. 2006; 59:349-53. 11. Coelho LP, Rodrigues BMRD. O cuidar da criança na

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Referências

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