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antropologia social. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1987.

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DAMATTA, Roberto. R

elativizando: uma introdução à

antropologia social. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1987.

Por: Mabel Sales1

O livro “Relativizando: uma introdução à

antropologia social” encontra-se organizado em três

partes:epílogo – antropologia no quadro das ciências – antropologia e história –trabalho de campo.

Na primeira parte, o epílogo –o autor trata de duas pesquisas; os Apinayé e os Gaviões. Inicia falando sobre a antropologia no campo das ciências,estabelecendo semelhanças e diferenças entre as ciências sociais e ciências naturais. Sendo estas formadas por fatos que se repetem, e por isso as teorias podem ser testadas, enquanto aquelas, as ciências sociais; trabalham com fenômenos complexos, pretende estudar fatos humanos, e fatos que não estão mais ocorrendo entre nós, ou que não podem ser reproduzidos em condições controladas, embora possam ser observados. São eventos complexos, que podem ocorrer em ambientes diversos, por isso podem mudar sua significação.

Para Da Matta; a antropologia social possui três esferas de interesse definidos: uma delas é o estudo do homem enquanto ser biológico, com um percurso evolutivo definido. Essa é a área da chamada antropologia biológica, ou física. A

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Estudante de graduação do curso de Licenciatura em História da UPE/Campus Garanhuns.

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segunda esfera diz respeito ao estudo do homem no tempo, por meio das cristalizações, vestígios das suas relações sociais e valores naquilo que usou ao longo do tempo, esse estudo é chamado de arqueologia. A terceira esfera é chamada de antropologia social, cultural ou etnologia, que vai além do estudo do homem enquanto produtor e transformador da natureza é a visão do homem enquanto membro de uma sociedade e de um dado sistema de valores. O homem não inventa apenas para vencer os desafios da natureza, a cultura não é uma resposta, apenas, a esses desafios, mas a expressão do entendimento da realidade sob a qual se encontra; esses desafios, o seu invento e a si próprio.

A antropologia social possui dois planos: o instrumental, dado na medida em que um sujeito responde a um desafio de um ambiente ou de outro grupo, e o plano cultural ou social, que a etnologia permite tomar conhecimento. O mundo humano é formado por uma dialética, onde as respostas aos desafios da natureza possibilitam tomar consciência da natureza e da resposta dada, ou seja, ter consciência da própria consciência.

No texto são destacados os três planos da consciência, enfatizando que o mais importante é o plano da linguagem, que é responsável pela transmissão de todo o conhecimento e cultura, e que está incluído nos demais planos, indiretamente.

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O autor fala sobre os fatores biológicos em oposição aos sociais, aonde se diz que o biológico é algo intrínseco, que não é controlado pela consciência, o homem apenas responde aos elementos naturais, estando o homem em oposição à

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natureza, atuando de forma ativa e não contemplativa, visando o seu domínio. Essa é visão instrumentalista, sendo as atitudes humanas meras respostas aos desafios. Possui também uma visão evolucionista, a qual o natural é anterior ao biológico, que é anterior ao social e que antecedi o individual. Neste ponto, pode-se dizer, o texto expressa suas limitações e isso tem a ver com a postura teórico-metodológica apresentada na pesquisa desenvolvida por Da Matta. O evolucionismo e estruturalismo expresso pelo pesquisador, já não mais respondem aos desafios da pesquisa antropológica, mas ainda assim, o texto se constitui um referencial importante a iniciação, como se pretende.

Na perspectiva desenvolvida pelo autor no texto; o social é oposto ao biológico. Biologicamente fala-se de homem, quando o que se tem são sociedades e culturas, generalizando, e deixando de lado a explicação das diferenças. Falasse como se o homem não contemplasse, nem pensasse, ele apenas reagia ao ambiente natural.

O texto também trata da diferença entre social e cultural, sendo ambos, inseparáveis. A cultura é uma tradição, que é transmitida de geração a geração, o que torna uma sociedade única, diferente da outra. Pode existir cultura sem sociedade, por meio de cristalizações, objetos deixados por ela. Porém não se pode conceber uma sociedade sem cultura, necessária para individualizá-la. O social e cultural estão relacionados, mas nenhum reproduz totalmente o outro. O antropólogo social começa suas pesquisas observando os sistemas sociais, entendendo-os e assim chegando aos valores.

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No final da primeira parte o autor trata da “fábula das três raças” ou o “problema do racismo à brasileira”, com o objetivo de mostrar como a perspectiva sociológica encontra resistência na sociedade brasileira, por causa de teorias deterministas, que tomam-lhes a frente, como o racismo.Nesta abordagem da temática do racismo, o autor faz uma análise do credo racista norte-americano frente ao da sociedade brasileira. Na sociedade norte-americana as três raças estão esquematizadas paralelamente, lado a lado, não se ligando, estando o negro e o índio próximos e o branco mais afastado, para garantir a sua igualdade, Não podendo as raças se misturar, visto que a mistura representa o atraso. Na sociedade brasileira as três raças estão esquematizas em forma de um triangulo, onde se ligam, formando outras, o negro e o índio estando na parte de baixo do triângulo e o branco a cima. Essa ligação se dá por que a sociedade encontra-se apresentada numa hierarquia naturalizada, na qual o branco vai ser sempre superior. Nos Estados Unidos não importa se o negro, ou o índio tenha poder econômico, eles nunca se igualarão ao branco. No Brasil se o negro, ou o índio tiver poder econômico acontece um branqueamento, igualando-se ao branco. Por meio do sistema de hierarquia brasileira foi que passou-se a estudar as raças separadamente e não as relações entre elas, dificultando o conhecimento das culturas que são formadas por relações.

A segunda parte do texto tratada antropologia e história, articulando sobre a evolução da antropologia social, partindo do evolucionismo até chegar ao estruturalismo.Inicia-se com a

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história da antropologia; como os homens perceberam suas diferenças ao longo do tempo.

Segundo o autor, o estudo das diferenças gerou teorias ideológicas de superioridade, justificando a exploração social. Segundo Da Matta, o desenvolvimento da antropologia social é marcado pelo movimento evolucionista, destacando-se aí, Sir James Frazer, que não tinha experiência direta com os povos primitivos sobre os quais escreveu; e o movimento funcionalista, com destaque para o pesquisador Bronislaw Malinowski, que surgiu com uma nova forma de estudar as sociedades, que foi a pesquisa de campo, focando nas diferenças.

O evolucionismo tem como características a comparação das sociedades por meio de seus costumes, sendo cada costume considerados estágios. O que era considerado estranho apresentava como uma etapa pela qual a sociedade do pesquisador já tinha passado. Acreditava-se que as sociedades já tinham um percurso definido, e todas passariam pelo mesmo processo, umas evoluiriam mais rápidas, outras lentamente. Essas teorias possuíam uma visão “globalizadora” e linear da realidade social.

O funcionalismo foi uma reação positiva ao evolucionismo. Defendia que tudo em um sistema tem uma função, devendo ser compreendido de acordo com os termos do sistema.Tudo numa sociedade tem um sentido,estando em equilíbrio.Para o autor essa teoria funcionalista de que tudo tem um sentido, não justifica dizer que tudo está em equilíbrio.

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Para completar o funcionalismo e facilitar o conhecimento do homem pelo homem, surgiu o estruturalismo de Lévi-Strauss, defendendo que tudo tem uma lógica. No plano funcional-estrutural Lévi-Strauss diz que é onde acontece à comparação, chamou de inconsciente (implícito). No mundo social acontece um jogo entre o implícito (inconsciente) e o explicito (consciente), sendo essa a dialética da antropologia, por meio dela é que os homens constroem as diferenças entre sociedade e cultura.

Na terceira parte ele fala sobre o método para fazer o trabalho de campo na antropologia social, mas cada pesquisador pode fazer sua pesquisa de campo de uma forma, pois não tem um método perfeito para o trabalho de campo, tem o método que o pesquisador mais se identifica. Foi com o funcionalismo que a pesquisa de campo tornou-se fundamental importância ao trabalho do antropólogo, utilizando-se da coleta de dados, para conhecer o exótico, a cultura do nativo e produzir interpretações das diferenças, comparando com a cultura da sociedade do pesquisador. O antropólogo deve aprender a ouvir o nativo, e a enxergar os costumes como o “selvagem” percebe, para compreender a lógica da sociedade a partir do ponto de vista do nativo.

Um dos problemas enfrentados pelos pesquisadores ao fazerem o trabalho de campo, é o chamado rito de passagem, no qual o antropólogo se isola da sua sociedade e passa a fazer parte de outra, se ressocializando, deixando os seus preconceitos, por meio da absorção dos costumes do outro universo social, transformando o exótico em familiar e o

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familiar em exótico. O termo familiar e exótico possui varias interpretações, sendo complexos os seus conceitos, o autor usou o familiar como algo que poderia ser parte do universo social diário. O exótico seria o oposto algo estando fora do universo social e ideológico diário. Porém é um equívoco dizer que tudo que é conhecido, íntimo, próximo seria familiar. E tudo que é desconhecido, exótico. Para transformar o familiar em exótico é necessário questionar, para situar os eventos do mundo diário à distância, do mesmo jeito questiona-se o exótico, descobrindo nele o conhecido e o familiar.

No epílogo o autor fala sobre suas experiências, porque ele decidiu ser antropólogo social, como ele fez as suas pesquisas de campo, citando os estudos feitos com a tribo Apinayé, com a tribo dos Gaviões e fala sobre os grupos Jê do Brasil Central. É quase um estudo biográfico do trabalho desenvolvido enquanto antropólogo; revelando que era estudante de história, mas não gostava de como os problemas sociais eram abordados pela história e acreditava que a antropologia cultural os discutiria da forma que ele almejava, assim ele seguiu esse caminho.

Nas suas pesquisas, para obter os dados sociológicos ele exalta o diário de campo, onde anotava tudo que acontecia ao longo do dia. Fez amigos, para conhecer a aldeia, elaborou um mapa e um censo da aldeia, por que por meio dele saberia os padrões de idade, de sexo, formas de casamento, população. Diz, ainda, que o etnólogo deve utilizar sempre uma caderneta, para anotar fatos interessantes, podendo substituir por um gravador de bolso, possibilitando captar maior informação.

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Muitos aparelhos, principalmente se forem sofisticados podem atrapalhar as observações.

Na última parte do texto fala sobre as teorias de contato.Que nos estudos sobre os Gaviões percebeu as ligações tribais com a sociedade brasileira. E diz que na pesquisa sobre contato cultural têm-se que localizar as agências que atuam na situação, estudar as ideologias delas, como elas se relacionam com as tribos que estão em contato.

No término do livro o autor vai falar que para produzir suas problemáticas que possibilitaria descobrir a estrutura social dos Apinayé ele utilizou as teorias de Numuendaju, Lévi-Strauss, e de Maybury-Lewis, sobre as formas de parentesco e os sistemas classificatórios, pois para fazer etnologia deve possuir uma base teórica, e não deve ter medo de divergir de alguns teóricos de autoridade no assunto, por que a antropologia social não é feita de cristalizações, as teorias mudam no decorrer do tempo, conseguindo novos dados. Os seus estudos fez cair algumas teorias sociológicas, conseguindo novos dados que possibilitaram ter outras percepções sobre os grupos Jê.

Foi o jeito de Roberto Da Matta relacionar e de relativizar que o permitiu desenvolver a visão antropológica social que expôs no livro.

O livro é de fácil compreensão, sabendo-se que as questões da antropologia social não é um assunto fácil para iniciantes, ao contrário trata-se de algo complexo para ser tratado de forma simples, mas Roberto Da Matta imprimiu uma

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linguagem acessível a leitores iniciantes. Realmente é uma verdadeira introdução, indicado para quem está começando a atuar no campo da Antropologia. Trata da experiência de ser pesquisador; suas dificuldades e, de como, no caso específico, o pesquisador sobre contornar essas dificuldades. Defende em todo o contexto do livro a necessária postura da relativização, que torna possível perceber a relação das coisas do mundo, deixando de lado os preconceitos e focando nas diferenças, não hierarquizando, ou tendo uma como superior, e outra, como inferior. Assim o texto conclui por uma crítica ao evolucionismo e ao historicismo na Antropologia, e igualmente pela forma como essas posturas tratam o método comparativo na Antropologia.

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