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Repartição do Sul, o processo e a trajetória político-administrativo de D. Francisco de Souza

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Academic year: 2021

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Repartição do Sul, o processo e a trajetória político-administrativo de D.

Francisco de Souza

Felipe Bicalito da Silva

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A Repartição do Sul, ou outras divisões Governativas da América Portuguesa, mesmo em trabalhos clássicos ou mais recentes, são pouco trabalhadas pela historiografia, dificultando uma abordagem mais profunda sobre o tema. Assim, dividir o Estado do Brasil administrativamente em dois, foi uma ação na qual a Coroa Portuguesa se utiliza a fim de chegar a objetivos importantes para a administração ultramarina.

Ainda há uma discussão entre autores como Maria de Fátima Gouvêa (GOUVÊA, op.cit VAINFAS, 2000.),Rocha Pombo (POMBO, 1963. P. 113), e Charles Boxer (BOXER, 1973. Pp. 306 – 308), sobre quais são os momentos em que a Coroa se utiliza desse artificio administrativo. Dessa forma, utilizarei para a melhor compreensão, - já que a pesquisa se encontra em andamento em seus períodos iniciais - três momentos, que vão de finais do século XVI, nos anos de 1572 – 1577, até dois momentos durantes o século XVII, 1608 – 1612, e 1658 – 1662. O presente trabalho tem como objetivo, a priori, estudar as especificidades do segundo momento que vai dos anos de 1608 a 1612.

A divisão leva a criação de dois Governos Gerais, situados em Salvador e no Rio de Janeiro, que no primeiro momento tinha como objetivo principal a melhora das defesas da grande extensão territorial do Estado do Brasil, ficando clara a preocupação com invasões e influências estrangeiras na segunda metade do século XVI, e ações de indígenas nas áreas mais ao sul. (WEHLING, 1994. P. 698)

Parte importante do trabalho é compreender a especificidade da Repartição do Sul em momentos iniciais do século XVII, que está sob as ordenações Filipinas, que tem como objetivo principal da divisão governativa a procura de jazidas de ouro. (apud. VARNHAGEN, 1959. P.128)

REPARTIÇÃO DO SUL E A UNIÃO IBÉRICA

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Ao longo de um processo de sucessão e legitimidade, em 1581 D. Filipe II será, portanto, D. Filipe I, de Portugal (MAGALHÃES, 1993. Pp. 475 – 478) unindo assim as Coroas de Portugal e de Espanha, passando a ser um dos monarcas mais importantes e poderosos de sua época, sendo senhor de grandes possessões não só na Europa, mas em todo território no ultramar.

Será nesse contexto que discutirei a importância de compreender o segundo momento da Repartição do Sul, já que segundo Antonio Manuel Hespanha:

“...O carácter estrutural das mudanças políticas empreendidas pelos monarcas da

Casa de Áustria. De facto, a forma <<espanhola>> de Poder apresenta características

estruturalmente distintas da forma <<portuguesa>>...” (HESPANHA, 1989. P. 51) A fim de modernizar a forma administrativa de Portugal, a Coroa de Castela reformula a burocracia lusitana que até aquele momento, o que é mudado na metrópole se refletirá nas colônias, não havendo uma política específica para as possessões na América. Assim, em meio ao contexto administrativo observado, no ano de 1608, mais uma vez, o Estado do Brasil será dividido, e agora com uma conjuntura que difere do momento anterior: a América Portuguesa terá dois Governadores para uma melhor administração do vasto território ultramarino português na América e principalmente para realizar a busca pelas minas.

Outro ponto importante a se destacar sobre o período que vai dos anos de 1608 – 1612 é a trajetória de D. Francisco de Souza como governador das partes do sul, que, para alguns autores como Varnhagen e João Alfredo Libânio Guedes, leva a cabo uma busca intensa e obstinada pelas minas através de um esforço de articulação política.

A TRAJETÓRIA DE D. FRANCISCO DE SOUZA E REPARTIÇÃO DO SUL

Em meio à União Ibérica e as tentativas de reorganização e experimentação de como melhor dividir a América Portuguesa, no ano de 1608 o Estado do Brasil será mais uma vez dividido e com um objetivo claro que, segundo Hélio de Alcântara Avellar, será a busca por metais preciosos (AVELLAR, 1993. p. 99).

Trarei uma Carta escrita pelo próprio Rei:

“Dom Felippe, por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, [...] faço saber que, sendo ora informado que nas partes do Brasil havia minas de ouro, prata, e outros metaes, [...]; e por constar serem já descobertas as ditas minas na Capitania de São Vicente, e as havia tambem nas do Espirito Santo e Rio de Janeiro, para com mais

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commodidade se poder administrar justiça aos moradores das ditas tres Capitanias, e por outros muitos respeitos que me a isso movem [...]: Hei por bem dividir, [...], o Governo das ditas tres Capitanias [...] do districto e Governo da Bahia, e mais partes do Brasil.” (Apud VARNHAGEN, 1962 de. Op. cit. p. 128)

O trecho da carta acima relata que o Rei D. Felipe teria sido informado de que haviam descoberto minas em partes do sul do Brasil, levando a compreender que a divisão governativa tinha a intenção de ir em busca das minas de ouro na região mais ao sul da colônia portuguesa na América.

A ambição em descobrir e administrar as minas, e a nova divisão governativa, levará a uma discordância com o então Governador Geral, D. Diogo de Meneses e Siqueira, porque, segundo ele, as minas estavam de fato ao norte, e eram os engenhos de açúcar e o pau-brasil. Fica claro em uma carta enviada ao então Rei D Felipe II, por Diogo de Meneses, que as descobertas feitas por ele ao norte, mais especificamente no Maranhão, são de grande importância por ser uma terra fértil. Analisaremos o trecho a seguir:

“Levanto á qualidade das terras e utilidade que dela se pode tirar [He] inflissita porque passado o Jaguaribe ate onde são as terras aernosas, e fracas, e boas só pera pastos e gados, as mais de hi pro diante te chegar ao maranhão, todas são de madeiras, de matas verdadeiras e várzeas de mui boa terras de que se pode fazer engenhos e canaviais assi de agora como de Trepiohe, e algodoeres, e os mais mantimentos, e assim fica bem claro a utilidade que a fazenda de vossa Magestade recobera em se cultivarem as terras, e impedir aos Corsários que as não busquem nem se comercem com elas dos quais tenho notícia certa, aver huma casa de feitoria no maranhão.” (IHBG)

No trecho da carta fica clara sua preocupação com a defesa das terras que, segundo ele, seriam férteis e que seria de melhor utilidade, sem qualquer prejuízo para a Coroa, observando a possibilidade de plantação de cana de açúcar e montagem de Engenhos. Em complemento da fonte acima transcrita e a compreensão da necessidade de proteção da terra fértil descrita por D. Diogo nas terras no Maranhão, observaremos outra fonte, que traz o que foi provido a D. Francisco de Souza e posteriormente a Salvador Correa de Sá para a descoberta das minas:

“1 ° O que consta de todas as provisões e regimentos passados pera perabenefe(..) e descobrimento das minas da Repartição do Sul mais partes do Brazil, passadas a Dom Francisco de Souza e Salvador Correa de Sá são as seguintes: pesa que Mag.de Re só sua o que mais (...) o seu serviço.

Pela provisão numero qual consta a ser separado Mag. De a Repartição do Sul em toda a repartição do sul ia fazenda e guerra de que verão os Governadores gerais fica por Gonçalo Loureiro em Madri 2 de Janeiro de 1608.

2° Consta que Mag.do fico me pesa que todos os degredados podessem comprir degrado nas minas tirando os de degoles pelo Francisco Barbosa em Madri (..) de janeiro de 1608. (...) dadas suas (..) por Francisco de Almeida Vasconselos.

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3° Consta que pera (…) pessoas que se aplicarem ao trabalho das ditas minas da repartição do Sul (..) Mag.de que pudessem fazer um (caudilho) fidalgo (.,..) servido dois anos nas minas , e cem meses da camera (….) ano e tido feito (…) das dita minas , foi feita por Francisco Barbosa. 02 de janeiro de 1608.

4° Consta que puder dar dose abras com (...) detensa e seis com so (...) pera qual ouvesse quem trabalhasse nas ditas minas e seis anos efetivos não tendo nefecidade de dispensação de sua santidade e tendo efeito (...) menor das minas pelo Francisco Barbosa 02 de janeiro de 1608.” (RESGATE AVULSO)

A fonte traz um relatório de provisões que datam de 1608, ano da divisão da Repartição do Sul, levando-nos a perceber o esforço da coroa em ir em busca das minas, ficando clara a preocupação de D. Diogo de Meneses com a proteção pedida às terras recém descobertas, que para ele seriam valiosas, sendo elas já alvos de Corsários.

Em protesto, como no trecho de uma carta enviada ao Rei, D. Diogo de Meneses diz: “Vossa Magestade me mandou viesse servir a este estado sem me declarar nenhuma separação senão que eu o viria governar assi e da maneira que os passados onde o tenho servido com toda a fidelidade e satisfação de que V. Magestade me tem avisado, tem de mim e no merecimento de minha pessoa assi no sangue de meus avós como no que o desejo servir ninguém me faz ventagem sendo assi que nisto pudera diser mais e não se bulindo nunqua neste particular aos que antes de mim vierao governalo sendo muitos tão inferiores de meu sangue e partes pellas quais eu merecia avantajados poderes governos e títulos e não tirando me do que os demais governarão tão mal e com tanta rezão de os castigarem e não honrrarem” (ANAIS DA BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO, VOL. 57, PP. 60-61)

E, mesmo com os protestos, a divisão governativa é mantida e é criado um governo independente do Estado do Brasil (SALGADO, 1985 Op. cit. p. 55), o que, para alguns autores como Varnhagen e João Alfredo Libânio Guedes, foi uma obra política de D. Francisco de Souza.

Entretanto, ao longo da Repartição do Sul, D. Francisco não obtém êxito em sua procura por metais preciosos, levando ao final de sua vida no ano de 1611 com a busca incessante de achar as minas. Ele deixa para seu herdeiro, ainda com pouca idade, o governo das capitanias meridionais, entretanto, não será concedido tal privilégio por não alcançar o objetivo que lhe foi imposto, achar jazidas de metais precisos.

CONCLUSÃO

Em um levantamento geral, podemos observar e analisar a especificidade do segundo momento da Repartição do Sul (1608-1612) que, ao contrário do primeiro momento, tem um contexto bem mais amplo no que diz respeito ao momento político e administrativo do Império Ultramarino Português. E a grande figura na qual está a base do trabalho, D. Francisco de Souza,

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podemos compreender a lógica governativa, que visava a procura por metais preciosos e forma mais racionalizada de administração.

REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOXER, Charles R. Salvador de Sá e a luta pelo Brasil e Angola, 1602-1686. São Paulo: Editora Nacional/EDUSP, 1973.

FRAGOSO, João; BICALHO, Maria Fernanda B.; GOUVÊA, Maria de Fátima S. “Uma leitura do Brasil colonial: Bases da materialidade e da governabilidade no Império”.

Penélope: Fazer e Desfazer História, n. 23. Lisboa, 2000.

__________________ (orgs.). O Antigo Regime nos trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI – XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

GRUZINSKI, Serge. “Os mundos misturados da monarquia católica e outras ‘Connected Histories’”. In: Revista Topoi. UFRJ, Rio de Janeiro, mar. 2001.

HESPANHA, A. Manuel. “O governo dos Áustria e a ‘Modernização’ da constituição política portuguesa”. Penélope. Fazer e Desfazer História, n. 2, FEV.1989.

MAGALHÃES, Joaquim Romero. O enquadramento do Espaço Nacional. MATTOSO, José (dir.). História de Portugal: O alvorecer da Modernidade (1480-1620). Lisboa: Editorial Estampa, vol III, 1993.

PUJOL, Xavier Gil. “Centralismo e Localismo? Sobre as Relações Políticas e Culturais entre Capital e Territórios nas Monarquias Européias dos séculos XVI e XVII”. Revista Penélope, n. 5, 1991.

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SCHAUB, Jean-Frédéric. Portugal na Monarquia Hispânica (1580-1640). Lisboa: Livros Horizonte, 2001.

VAINFAS, Ronaldo (dir.). Dicionário do Brasil colonial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. História Geral do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1962

WEHLING, Arno. Repartição do Sul. In: SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Dicionário

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