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PAISAGENS DE BORDAS PLANÁLTICAS O CASO DOS MUNICÍPIOS DE MAUÁ DA SERRA E FAXINAL, PARANÁ, BRASIL.

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Academic year: 2021

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Geografia e Ordenamento do Território, Revista Electrónica Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território http://cegot.org

ISSN: 2182-1267

Edison Fortes

Universidade Estadual de Maringá, PR, Brasil edison-fortes@hotmail.com

Susana Volkmer

Universidade Estadual de Maringá, PR, Brasil svolkmer@uem.br

Bruno Aurélio Camolezi

Geógrafo

b.camolezi@gmail.com

Eixo temático

POTENCIALIDADES GEOAMBIENTAIS E DINÂMICA DAS

PAISAGENS DE BORDAS PLANÁLTICAS – O CASO DOS MUNICÍPIOS DE

MAUÁ DA SERRA E FAXINAL, PARANÁ, BRASIL.

Natureza e dinâmicas ambientais

RESUMO

A área de estudo, que compreende os municípios de Faxinal e Mauá da Serra, apresenta um quadro de paisagens geodiversas, passíveis de cartografação e análise, a partir de princípios geossistêmicos. A resistência diferencial das litologias permitiu a Formação de formas variadas do relevo com formações superficiais inconsolidadas mais jovens, associadas a compartimentos de relevo. A exploração antropogênica dessas paisagens, ocorrida a partir da década de 1930, tem sido feita com base na exploração agropecuária, porém de forma diferenciada conforme as potencialidades e restrições de cada sistema de paisagem. Foram identificados e classificados três sistemas de paisagem

(SPI, II e III), além de subunidades de paisagem associadas: SP Ia,b,c, d, SP IIa,b e SPIIIa,b,c.

Palavras chave: Sistemas de Paisagem, Unidades de Paisagem, Geodiversidade,

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ABSTRACT

GEOENVIRONMENTAL LANDSCAPE POTENTIALITIES AND DYNAMICS OF PLANALTIC BORDER - THE CASE OF MAUA DA SERRA, FAXINAL, PARANA, BRAZIL.

The study area comprises Faxinal Maua and Sierra municipalities , and presents a geodiversal landscape framework liable to cartographic and analysis from geossistemic principles. The differential resistance of lithologies permitted the formation of relief variety ways with superficial surface with unconsolidated newer formations associated to relief compartments. The exploitation of these anthropogenic landscapes, which occurred since the 1930s, have been made based on the agricultural exploitation, but in a different way as the potentials and limitations of each landscape system. We identified

and classified three landscape systems (SP I, II and III), besides

associated subunit landscapes: SP Ia,b,c,d SP IIa,b and SPIIIa,b,c.

Keywords: Landscape Systems, Landscape Units, Geodiversity, potentialities and restrictions

INTRODUÇÃO

O estudo da paisagem baseado na abordagem geográfica realizada de forma integrada, a partir de uma análise sistêmica, constitui na atualidade um importante instrumento teórico e metodológico para o avanço da ciência.

A interpretação e a compreensão da paisagem requerem a identificação das diferentes estruturas que sustentam a dinâmica natural, bem como o entendimento das formas e ações antrópicas presentes, uma vez que as interações entre esses dois conjuntos formam um complexo espacial que constrói, organiza e reorganiza os espaços geográficos (CALEGARI e FORTES, 2011).

A individualização de unidades espaciais relativamente homogêneas, onde determinadas características e combinações se repetem, decorre de variações nas estruturas das paisagens e do modelo histórico de ocupação e exploração do território.

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Estas unidades espaciais constituem diferentes compartimentos ou unidades de paisagem.

Neste trabalho as paisagens foram classificadas em ordem hierárquica representativas de sistemas e unidades. As primeiras entendidas como agrupamentos de unidades de paisagem, compreendem territórios associados a contextos geoambientais regionais tanto em termos de estrutura como de evolução. A ocupação e a exploração antropogênica decorrem de políticas e planos elaborados em níveis nacionais decorrente de contextos históricos internacionais.

As unidades de paisagem são territórios articulados aos sistemas, porém de ordem hierarquicamente inferior e cujos espaços formam polígonos individualizados a partir de processos morfodinâmicos específicos e cuja exploração antropogênica encontra-se ligada a fatores de ordem cultural, porém com atividades econômicas vinculadas a políticas públicas municipais e estaduais.

A identificação dos compartimentos de paisagem possibilita o entendimento do comportamento, funcionamento e dinâmica de uma dada porção do espaço terrestre, permitindo apontar algumas potencialidades da paisagem sob seus diferentes aspectos.

O presente estudo objetiva avaliar as potencialidades geoeconômicas e as fragilidades dos ambientes naturais dos municípios de Mauá da Serra e de Faxinal, localizados no centro-norte do Estado do Paraná, sul do Brasil, a partir da análise da dinâmica do meio físico (Figura 1). Essa análise é suportada por diversas pesquisas, de caráter geomorfológico, que vêm sendo realizadas na região da Serra do Cadeado, por professores e alunos de graduação e pós-graduação em nível de mestrado e doutorado.

A localização dos municípios de Mauá da Serra e Faxinal em um contexto limítrofe de planaltos em bacia sedimentar impõe um quadro geodiverso de formas de relevo, que apresenta elevado potencial para exploração econômica, principalmente vinculada à atividade turística e agropecuária (Figura 2).

Em 2007, o município de Faxinal apresentava uma população de 15.527 hab., com 11.318 hab. da população urbana, e 4.209 hab. da população rural. Para o mesmo ano, o município de Mauá da Serra, também apresentou uma população urbana superior à rural (6.428 hab., contra 1.388 hab.).

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FIGURA 1 – Localização dos municípios de Faxinal e de Mauá da Serra.

A Serra do Cadeado, localizada na área de estudo é a denominação local, da Serra Geral, que corresponde a uma importante feição orográfica regional, que se

estendedesde o Estado de São Paulo até o Rio Grande do Sul. No Estado do Paraná, essa

serra constitui o limite entre o Segundo e o Terceiro Planalto (MAACK, 1981), representando, dessa forma, uma borda planáltica que exibe segmentos de relevo típicos de Cuestas, com o front voltado para leste (Figura 2).

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FIGURA 2: Perfil esquemático do relevo do Estado do Paraná, com direção W-E. A – Litoral; B – Serra do Mar; C – Primeiro Planalto; D - Segundo Planalto; E – Terceiro Planalto. 1 – Serra Geral;

2 – Serrinha; Área dos municípios de Faxinal e Mauá da Serra.

METODOLOGIA

A análise da paisagem e a avaliação das potencialidades para uso e exploração econômica, têm sido feitas a partir de critérios sistêmicos baseados na análise integrada de elementos que compõem o quadro natural e antropogênico.

Tendo como propósito a determinação de sistemas e unidades de paisagem, foi necessária a elaboração de documentos cartográficos a partir de interpretação de imagens de radar. Estudos realizados na área por FORTES et. al. (2008), SANTOS (2010), MANIERI (2010), COUTO (2011), MANOSSO (2011), VARGAS (2012) e CAMOLEZI (2013), têm sido utilizados como base para as análises sistêmicas dos compartimentos propostos neste estudo.

No presente trabalho foram elaborados os mapas: morfogeológico, pedológico, hipsométrico, de declividade e de unidades de paisagem.

O site do projeto TOPODATA, (www.dsr.inpe.br/topodata/documentos.php)

permitiu a extração das imagens de radar (Shuttle Radar Topography Mision (SRTM), e o

site do INPE (http://www.dgi.inpe.br/CDSR/).

Dados SRTM reamostrados para resolução espacial de 30 m foram processados com algoritmos que representam diferentes variáveis morfométricas. Esses dados são obtidos do Projeto TOPODATA (VALERIANO, 2005).

A interpretação das imagens de radar feitas a partir do software Global Mapper

13, possibilitou a extração de informações geológicas e gemorfológicas. O acabamento

final dos mapas foi realizado por meio do software ArcGIS® v.9.2. A análise conjunta

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elementos de maior interesse para a avaliação das potencialidades naturais.

Os mapas de hipsometria e declividade foram gerados automaticamente

mediante o uso do software ArcGIS® v.9.2.; eles permitiram estabelecer critérios

morfométricos usados na classificação do relevo.

A carta de Unidades de Paisagem foi feita mediante uso do software Global

Mapper 13. Para a identificação dessas unidades fez-se o cruzamento das informações

obtidas das demais cartas temáticas, com os dados da bibliografia pertinente à ocupação dos territórios e à exploração econômica dos recursos. Esta integração permitiu a caracterização e a distribuição dos sistemas e unidades de paisagem, bem como a avaliação das potencialidades de uso e ocupação do território.

CONTEXTO AMBIENTAL REGIONAL

A área de estudo compreende a zona limítrofe entre o Segundo e o Terceiro Planaltos Paranaenses que formam superfícies suavemente inclinadas para oeste e norte acompanhando o mergulho das camadas da Bacia Sedimentar do Paraná. A principal estrutura tectônica regional dessa bacia é o Arco de Ponta Grossa que constitui um arqueamento do embasamento com mergulho para o interior da bacia. Trata-se de uma grande reentrância semielíptica que faz aflorar o embasamento na parte leste do Estado do Paraná, originando o Primeiro Planalto e partes da Serra do Mar (Figura 1).

Embora ainda controversa, a atividade tectônica pós-cretácea vinculada a pulsos de soerguimento do Arco de Ponta Grossa, pode ter contribuído para o basculamento dos planaltos interiores do Estado do Paraná, possibilitando o recuo das escarpas e a intensificação do rebaixamento erosivo do Segundo Planalto Paranaense.

Os alinhamentos que acompanham o Arco de Ponta Grossa deram origem, no Cretáceo, aos extensos derrames de lavas vulcânicas que ocupam o topo da coluna estratigráfica da área, pertencentes à Formação Serra Geral. Ela é composta principalmente por basaltos que formam o arcabouço litológico do Terceiro Planalto, além de grande quantidade diques de diabásio (Figura 3). Eles são responsáveis pelas serras alongadas e estreitas que se destacam na morfologia do Segundo Planalto, devido à erosão diferencial entre o diabásio e as rochas sedimentares mais friáveis, da Formação Rio do Rasto.

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Sotopostos às rochas vulcânicas ocorrem arenitos avermelhados da Formação Botucatu, também mesozóicos, e que formam escarpas com mais de 200m de desnível na parte oeste da área de estudo (Figura 3). Estratigraficamente abaixo destes arenitos ocorrem os arenitos friáveis da Formação Pirambóia, (Figura 3), igualmente mesozóicos. Embora apresentem pouco destaque areal na área de estudo, estes arenitos podem aflorar na base da escarpa, formando grutas e reentrâncias na rocha.

Na base da coluna estratigráfica ocorrem arenitos e siltitos paleozóicos pertencentes à Formação Rio do Rasto (Figura 3), e que constituem o embasamento da paisagem do Segundo Planalto na área de estudo. Estas litologias são muito friáveis; oferecem grande risco aos processos erosivos, e podem formar pequenas cavernas próximas à base das escarpas, estando interrompidas apenas por intrusões vulcânicas.

As coberturas sedimentares cenozóicas são constituídas por depósitos inconsolidados distribuídos nos vários compartimentos de relevo, recobrindo as litologias anteriormente mencionadas. No Terceiro Planalto predominam coberturas pedológicas autóctones, podendo ocorrer depósitos coluviais nos compartimentos com maiores declividades.

No Segundo Planalto os depósitos cenozóicos têm gênese variada, predominando depósitos de fluxos de massa compostos por blocos polimíticos métricos com grande quantidade de matriz argilosa. Esses depósitos se distribuem desde os topos até os fundos de vales, atestando condições torrenciais de morfogênese da paisagem. Depósitos colúvio-aluviais ocupam compartimentos específicos de média encosta e fundo de vales.

A horizontalidade dos derrames vulcânicos formou uma extensa plataforma que deu origem a uma paisagem com morfologia predominante colinosa, com vertentes e

topos convexos, altitudes entre 400 e mais de 1.100m (Figura 4), edeclividades entre 0%

e mais de 30% (Figura 5). As maiores altitudes, (acima de 1.100 metros), concentram-se na parte nordeste, enquanto as inferiores a 500 metros estão localizadas na parte sudoeste. As áreas com declividades entre 20%, e mais de 30%, correspondem às escarpas limítrofes do Terceiro Planalto com o Segundo Planalto.

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FIGURA 3: Principais unidades litoestratigráficas da área de estudo.

Os compartimentos de relevo e os diferentes litotipos que compõem o quadro morfoestrutural regional, associados às condições climáticas úmidas favoreceram o desenvolvimento de coberturas pedológicas variadas, tais como Latossolos no Terceiro Planalto Paranaense (predominantes), e Neossolos no Segundo Planalto (Figura 6).

Sobre estes solos se desenvolviam a Floresta Ombrófila Mista e a Floresta Estacional Semidecidual. (IBGE, 1992). A primeira, atualmente muito devastada, contemplava a mistura de representantes das floras tropical e temperada, e se distribuía entre as altitudes de 800 e 1200m, e a segunda, se caracterizava pela dupla estacionalidade climática (árvores com perda de folhas – caducifólias, no período seco).

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FIGURA 4: Hipsometria da área abrangendo os municípios de Faxinal e Mauá da Serra.

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FIGURA 6: Solos da área contendo os municípios de Faxinal e Mauá da Serra: domínio de Latossolos associados às rochas vulcânicas, e Neossolos, associados às rochas sedimentares das

formações Botucatu, Pirambóia e Rio do Rasto. Argissolos e Nitossolos constituem solos alóctones, secundários.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com base na integração dos elementos naturais e antropogênicos foi possível estabelecer três conjuntos principais de paisagens, denominados Sistemas de Paisagem - SP, subdivididos em doze Unidades de Paisagem (em letras minúsculas). (Figuras 7, 8, 9, 10 e 11).

Sistema de Paisagem I (SP I)

Compreende um conjunto de unidades de paisagem situadas entre 700 e 900m de altitude, representado por colinas baixas e predomínio de declividades de 0 a 12%, podendo chegar a 30% (Figuras 4 e 5). As condições supérgenas de alteração das rochas vulcânicas ácidas e básicas permitiram a Formação de coberturas pedológicas bem desenvolvidas representadas na maior parte por Latossolos. Eles ocupam desde as

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médias vertentes até os topos, em relevo com declividades menores, especialmente junto às Unidades de Paisagem “b” e “c” (Figuras 6, 7 e 8), onde ocorrem, localizadamente, Nitossolos, também nas médias vertentes.

FIGURA 7: Sistemas e unidades de paisagens: SP Ia,b,c,d situa-seno Terceiro Planalto Paranaense;

SP IIa,b -zona de transição entre o SP I e SP II, formado por escarpas da Serra Geral e por rampas

detríticas, na base; SP IIIa,b,c - zona depressionária do Segundo Planalto Paranaense. Perfis

Transversais: AA´, BB´, CC´.

Os vales em “v”, encaixados nas juntas basálticas, proporcionam o escoamento rápido dos fluxos hídricos superficiais impedindo a Formação de zonas amplas de inundação, limitadas na maior parte por pequenos alvéolos. As cabeceiras de drenagem se desenvolvem a partir de anfiteatros rasos nos quais ainda se mantém a vegetação de porte arbustivo, e o afloramento constante do lençol freático que garante a umidade permanente do solo.

A cobertura vegetal original era representada pela Floresta Estacional Semidecidual que ocupava as áreas compreendidas entre as altitudes de 500 e 1500m;

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FIGURA 8 – Vista parcial do Sistema de Paisagem Ib: relevo ondulado com solos vermelhos e profundos (Fotos 1 e 3). Foto 1 - limite dos Sistemas de Paisagem I e II; Foto 2 - cobertura

latossólica do Sistema de Paisagem I.

A estrutura florestal do dossel é uniforme, com aproximadamente 20m de altura, representada por espécies relativamente finas com casca grossa e rugosa, folhas miúdas e de consistência coreácea. (IBGE, 1992).

O processo de destruição da cobertura vegetal original esteve fortemente ligado ao modelo de ocupação do território, à mobilidade da população e à exploração dos recursos naturais, desde a década de 1930. A expansão da cafeicultura paulista, a partir do município de Ourinhos, em direção à região norte do Estado do Paraná, se propagou até a década de 1960, quando alcançou as margens do Rio Paraná, localizado no extremo oeste do estado. É nesse contexto que em 1951, o território de Faxinal é desmembrado do município de Apucarana.

A despeito dos incentivos governamentais e do momento histórico relacionado à crise econômica de 1920, como destacado por SERRA (2001), é inegável observar as condições ambientais favoráveis de todo o território norteparanaense, no qual se insere o Sistema de Paisagem I. Essa área apresenta topografia favorável, solos profundos e bem drenados, além de chuvas e calor abundantes.

A partir das décadas de 1920 e 1930, as paisagens do norte paranaense sofreram intensa intervenção nos sistemas naturais. As terras que hoje se situam no sistema SP I,

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ainda eram devolutas e baratas, permitindo um intenso fluxo imigratório proveniente, tanto do sul, quanto do norte do Estado do Paraná, com estrutura fundiária baseada na pequena e média propriedade rural e intenso emprego de mão de obra.

O processo de colonização realizado por companhia inglesa (Companhia de Terras Norte do Paraná) era baseado em meticuloso processo de planejamento com centros urbanos de apoio em locais estrategicamente determinados servidos por estradas. Era dado incentivo ao cultivo do café nos topos dos morros com Latossolos, da policultura para produção de alimentos, nas porções mais baixas e nos fundos dos vales, onde o solo é mais raso, e para as pastagens.

A partir da década de 1960 e, sobretudo durante a de 1970 a agricultura brasileira e em particular a do Paraná entrou em processo de modernização, havendo substituição em larga escala para os cultivos de soja, trigo, milho, algodão, cana-de-açúcar, dentre outros. Segundo MORO (1998), monocultura comercial do café, soberana nas décadas anteriores no norte paranaense, começou a ser substituída, no início por pastagens e, já no início da década de 1970, pela cultura associada de soja e trigo.

Fotografias aéreas tomadas em 1963 dos municípios de Faxinal e de Mauá da Serra mostravam ainda o predomínio de pastagens, na área do atual Sistema de Paisagem I, com cultivos ainda limitados às periferias das duas cidades. ALEGRE e MORO (1986) destacam que a redução da área de cultivo do café pelas culturas temporárias da soja e do trigo implicou na liberação de contingentes expressivos de trabalhadores do campo para as cidades.

No município de Faxinal essa realidade pode ser percebida somente a partir dos censos de 1980 e 1990 (Tabela 1).

1980 1990

Urbana Rural Urbana Rural

7.796 14.112 11.108 8.818

TABELA 1 – Evolução da População urbana e rural do município de Faxinal. Fonte: Censo Populacional do IBGE 1980 e 1991.

O tardio processo de urbanização do município de Faxinal provavelmente decorre de um modelo de exploração do território que partia dos centros principais; na

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região norte do Paraná eles são representados pelos municípios de Londrina, Maringá, Apucarana e Campo Mourão, a partir dos quais se irradiavam para municípios menores.

Atualmente, os municípios de Faxinal e Mauá da Serra continuam tendo suas economias baseadas nas atividades agropecuárias, representadas pela pecuária e pela agricultura temporária de soja e milho, e secundariamente, pela cultura do café. No município de Faxinal as lavouras permanentes ocupavam, de acordo com o censo de 2006, cerca de 430 ha, enquanto as lavouras temporárias, 14.671 hectares, e as pastagens, 24.141 ha. O município de Mauá da Serra tinha, de acordo com o mesmo censo, cerca de 470 ha de lavouras temporárias, 4.782 ha de lavouras permanentes, e 2.204 ha de pastagens, conforme dados do IPARDES (2007, citado por MANOSSO, 2001).

Embora haja uma expressiva diferença de área entre ambos os municípios, a produtividade da terra varia de forma inversa; enquanto Faxinal tem uma produtividade de 3.000Kg/ha de soja e 6.000Kg/ha de milho, o município de Mauá da Serra apresenta 3.360Kg/ha de soja e 8.500Kg/ha de milho (IPARDES, 2007, citado por MANOSSO, 2011).

Em 2007, o número efetivo do rebanho bovino (número de cabeças) no município de Faxinal era de 47.807, e em Mauá da Serra, de 2.654 (MANOSSO, 2011).

Em ambos os municípios a agricultura temporária é predominante no Sistema de Paisagem I, particularmente nas Unidades de Paisagem “b” e “d”, e parcialmente na “c”. Nessas unidades a fertilidade dos solos e as baixas declividades do terreno constituem elementos essenciais para a produtividade e para o manejo do solo que permite uso intensivo de maquinário pesado.

As Unidades de Paisagem “a” e “d” do sistema SP I apresentam as maiores restrições à agricultura, devido às altas declividades (podem ultrapassar os 30%), e às rasas coberturas pedológicas (Neossolos), que tornam difícil a utilização de equipamentos agrícolas. Estas unidades, no entanto, são favoráveis à pastagem.

As áreas dos fundos dos vales também necessitam de cuidados especiais, em virtude da presença de solos mais rasos como nitossolos e neossolos, bem como de remanescentes secundários da Floresta Estacional Semidecidual, cuja presença garante o abastecimento hídrico de superfície e subsuperfície.

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Sistema de Paisagem II

Corresponde à zona de transição entre os Sistemas de Paisagem I e III, abrangendo uma extensa zona escarpada, com cornijas apresentando quase 90º de inclinação, e direção NE-SW com front voltado para leste/sudeste (Figura 7).

Este sistema pode ser dividido em duas unidades de paisagem. A Unidade de Paisagem “a”, mais extensa, divide o município de Faxinal em dois setores (norte e sul) com cornijas em basaltos colunares, formando juntamente com os tálus, desníveis entre 50 e mais de 150 metros, e declividades entre 20% a mais 30% (Figuras 4 e 5).

A Unidade de Paisagem “b” está localizada mais a nordeste, entre os municípios de Faxinal e Mauá da Serra. As escarpas apresentam maior expressividade, tanto em altitude (podem alcançar mais de 1.100 m), como em declividade (mais de 30%) (Figura 9), formando uma série de degraus estruturais, cuja origem ainda está sendo objeto de estudo pela equipe de Geomorfologia da Universidade Estadual de Maringá.

FIGURA 9: Foto 1 - vista parcial do Sistema de Paisagem IIb - escarpas estruturais da Formação

Botucatu; na baixa e média vertente se observam rampas detríticas. No primeiro plano, vista parcial do Sistema de Paisagem II. Foto 2 - vista parcial da escarpa do Morro das Antenas,

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Embora os arenitos da Formação Botucatu sejam estratigraficamente inferiores aos derrames vulcânicos da Formação Serra Geral, são os arenitos que formam a testa das escarpas da Unidade de Paisagem “b”. Eles são origem eólica e formam superfícies descontínuas e elevadas com mais de 200 metros de desnível, marcadas pela resistência da rocha arenosa silicificada.

A área de abrangência destas unidades litológicas corresponde à zona de recarga do Sistema Aqüífero Guarani, o maior reservatório de água subterrânea do mundo.

Na base das escarpas do sistema SP II há patamares com grande expressividade regional associados à pedimentos detríticos, como destacado por MANIERI (2010), e por pulsos tectônicos de soerguimento da superfície, como afirma VARGAS (2012). Em direção aos fundos dos vales dos canais de primeira e segunda ordem, há patamares que formam rampas desniveladas de tálus com depósitos de fluxos de massas associados, cuja gênese evidencia a forte dinâmica dos processos erosivos e deposicionais nesse sistema de paisagem. As condições de alta porosidade dessas coberturas e a constituição areno-argilosa do material tornam essas áreas muito propensas à erosão e aos escorregamentos.

Os solos predominantes são muito rasos (Neossolos), com espessura inferior a 20 cm, aflorando rochas nas escarpas. Os argissolos podem ocorrer de maneira localizada na Unidade de Paisagem “b” (Figura 6).

O sistema ambiental SP II constitui a última fronteira de ocupação na área de estudo, cujo processo de uso e ocupação do solo vem ocorrendo desde a década de 2000, com expansão da área agricultável das grandes propriedades rurais. O processo tardio de ocupação está diretamente ligado às limitações geoambientais impostas, tais como: altas declividades, e solos rasos e pobres sujeitos à intensa ação erosiva. (Figura 10). Atualmente, a facilidade de crédito rural associada à valorização destas

commodities no mercado internacional, tem impulsionado os produtores rurais a

ocuparem esses compartimentos de paisagem, exercendo dessa forma intensa pressão sobre esses frágeis geossistemas.

Embora as rampas das médias e baixas vertentes atualmente estejam ocupadas para plantio de soja e para criação de gado, a vegetação remanescente de transição entre a Floresta Estacional Semidecidual e a Floresta Ombrófila Mista, ainda se fazem presentes, embora de caráter secundário.

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FIGURA 10: Vista parcial das escarpas basálticas da Formação Serra Geral no Sistema de Paisagem IIa. Foto 1 - cachoeira Salto São Pedro; Foto 2 - vista parcial do Canyon do rio

Bufadeira, no limite com SP IIIb.

A morfologia geodiversa do sistema SP II empresta a esses locais uma fisiografia da paisagem com grande beleza cênica, com grande vocação para o turismo de aventura e lazer. (Figura 11, Foto 1). As escarpas, canyons, cachoeiras, corredeiras e grutas são muito favoráveis aos esportes de aventura, embora a infraestrutura viária, hoteleira e de saneamento seja ainda precária.

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Sistema de Paisagem III (SP III)

Esse sistema ocupa toda a zona depressionária do Segundo Planalto Paranaense. A morfologia do território permitiu a subdivisão em três unidade de paisagem,

denominadas de SP IIIa,b,c.

A feição morfológica mais conspícua é representada pelos enxames de diques de diabásio (Figura 11, Foto 2), que formam serras alongadas e paralelas que se destacam em meio às colinas baixas embasadas pelos arenitos e siltitos da Formação Rio do Rasto. O adensamento desses diques e da rede de drenagem foi o critério principal para a identificação e a separação das três unidades de paisagem.

As altitudes variam de menos de 500m a mais de 900m, e as declividades, de 0% a mais de 30%, sendo essas últimas associadas às intrusões vulcânicas. Neste sistema de paisagem a densidade de drenagem é nitidamente maior do que em SP I e SP II, apresentando um padrão retangular, pinulado e dendrítico predominantes (Figura 8).

A unidade de paisagem “c”, situada na parte norte, é a que apresenta a maior quantidade de diques. Os solos são rasos e arenosos do tipo Neossolos principalmente junto às vertentes e topos das colinas embasadas pelas rochas da Formação Rio do Rasto. Nas altas vertentes, junto ao contato com as rochas intrusivas, o solo é mais argiloso e propenso a deslizamentos.

As unidades de paisagem “a” e “b” apresentam menor quantidade de diques de diabásio; suas altitudes variam de menos de 500m a 900m. Predominam colinas baixas de topos aplainados e vertentes convexas, aflorando arenitos e siltitos nas cabeceiras de drenagem de primeira ordem.

Nas partes mais altas são comuns os Neossolos, principalmente na unidade “c”. Os Argissolos ocupam as áreas mais baixas, em cotas inferiores a 700m de altitude, nas Unidades de Paisagem “a” e “b”.

Em todo o Sistema de Paisagem III a vegetação original era constituída pela Floresta Ombrófila Mista, atualmente substituída, em sua maior parte, pela pecuária e cultivo de soja.

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FIGURA 11: Foto 1 - vista parcial dos Sistemas de Paisagem Ia,b no topo, IIa e IIIa; Foto 2 - vales

encaixados entre diques de diabásio da Formação Serra Geral, no Sistema de Paisagem IIIc.

Os remanescentes da vegetação original, embora reduzidos a floresta

secundária, ainda se encontram concentrados na maior parte do sistema SP IIIa, nos

topos dos diques de diabásio, nas cabeceiras de drenagem de primeira ordem, bem como nas encostas com maiores declividades.

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de paisagem tiveram origem semelhante ao do Sistema de Paisagem I. Em fotografias áreas de 1963, a área correspondente ao Sistema de Paisagem III, ainda apresentava grandes áreas florestadas, principalmente ao sul do rio Alonzo, mas também em grandes áreas do Sistema de Paisagem II e III. Este fato indica que pelo menos nessa região a ocupação do território se deu a partir do Sistema de Paisagem I, por fluxos migratórios vindos de norte e oeste, da região de Londrina e Apucarana, aproveitando a alta potencialidade desse sistema natural.

As condições ambientais mais frágeis do Sistema de Paisagem III, quando comparadas às do Sistema de Paisagem I, representado por solos rasos, pobres e sujeitos à intensa erosão, teriam sido fatores importantes no processo tardio de expansão da fronteira agrícola.

Atualmente o uso do solo tem sido feito de forma intensiva com plantio de culturas temporárias que vem substituindo as pastagens. A exploração intensa desses espaços tem gerado forte pressão sobre o ambiente, especialmente sobre os solos mais frágeis com Formação de ravinas nas altas e médias vertentes das colinas, bem como movimentos de massa ao longo dos flancos dos diques de diabásio.

CONCLUSÕES

O presente trabalho buscou abordar a paisagem dos municípios de Mauá da Serra e Faxinal, enquanto categoria de análise. Dessa forma, as estruturas, vertical e horizontal da paisagem constituíram o foco central de análise, bem como a sua individualização por meio de unidades homogêneas e os diferentes parâmetros de abordagem das suas potencialidades e restrições de uso e exploração dos espaços.

As unidades homogêneas, representados por sistemas, e por sua vez subdivididos em unidades de paisagem, mostraram-se fundamentais para se estabelecer categorias espaciais, cujas potencialidades e restrições naturais podem permitir ao poder público municipal estabelecer critérios e direcionar políticas públicas mais eficientes, voltadas para a exploração mais racional dos respectivos espaços.

Foram identificados três Sistemas de Paisagem (SP I, II e III), além de doze

subunidades de paisagem (SP Ia,b,c,d; SP IIa,b; SP IIIa,b,c). (Figuras 7 e 11-Foto1).

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especialmente para a exploração de culturas temporárias e de expansão das malhas urbanas, com exceção da Unidade de Paisagem “a”, que impõe forte restrição de uso devido às altas declividades e aos solos rasos.

O Sistema de Paisagem II apresenta as maiores restrições em todas as unidades de paisagem. A despeito das altas declividades, solos rasos e sujeitos a erosão, este sistema apresenta alto potencial para exploração turística.

O Sistema de Paisagem III suporta uma exploração mais intensiva que o Sistema de Paisagem II, devido às declividades mais baixas. Contudo, requer cuidados no manejo dos solos, devido a sua pouca espessura e fraca estabilidade. A Unidade de Paisagem “c” apresenta sérios riscos de deslizamentos nos flancos dos diques de diabásio.

BIBLIOGRAFIA

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Referências

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