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POLITICAS DE AVALIAÇÃO EM TEMPOS DE PERFORMATIVIDADE E GERENCIALISMO: DESAFIOS PARA OS PROFISSIONAIS DA ESCOLA

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Academic year: 2021

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POLITICAS DE AVALIAÇÃO EM TEMPOS DE PERFORMATIVIDADE E GERENCIALISMO: DESAFIOS PARA OS PROFISSIONAIS DA ESCOLA Sueli Ribeiro Comari

UNIOESTE/UFPEL

RESUMO: O texto discute sobre as políticas de avaliação em tempos de performatividade e gerencialismo e, os desafios desse processo para a escola. Especificamente aborda o novo posicionamento do Estado no campo das políticas educacionais que por meio de reformas, apresenta-se como Estado descentralizador, ainda que seu perfil se configure como agente regulador no campo do conhecimento, materializado por modelos avaliativos que aproximam cada vez mais educação e mercado. Mostra que a performatividade ronda a educação na forma de medida, comparação, uma tecnologia de adaptação das politicas a demanda econômica empresarial. Assim, novos desafios são inseridos na escola onde a eficiência da gestão e dos sujeitos se sobrepõe a educação enquanto processo pautado nas decisões coletivas e profissionais. É uma nova pedagogia da gestão que ocorre por meio de avaliações e apreciações pautada na excelência, qualidade e marketing. As instituições escolares imbuídas pela lógica performativa de regulação e controle, nem sempre compreendem as questões conceituais da avaliação e o aprendizado dos alunos passa apenas pelo crivo do previsível, do que pode ser medido. Somente o debate coletivo e o entendimento da complexidade das politicas para a avaliação, poderão apontar caminhos para se estruturar práticas avaliativas menos excludentes.

Palavras-Chave: Política de Avaliação, Gestão Escolar, Performatividade

Introdução

A problemática que sustenta esta discussão está no fato de existir um paradoxo no que se refere à avaliação com ênfase nos resultados e os desafios desta modalidade para a escola. De um lado temos como exemplo mais amplo a formulação de modelos avaliativos pautados na qualidade total, comparações, índices e mensurações. De outro, as instituições escolares que, imbuídas pela lógica performativa de regulação e controle, nem sempre compreendem as questões conceituais da avaliação. O processo formativo dos alunos passa apenas pelo crivo do previsível, com data marcada para acontecer, a exemplo da Provinha Brasil, entre inúmeros outros exames, de certa maneira, naturalizados nas escolas do País.

Na pretensão de discutir sobre os modelos avaliativos que aproximam cada vez mais educação e mercado, abordaremos os aspectos da performatividade e gerencialismo formuladas por Ball (2005), e que representam tecnologias de adaptação das politicas a demanda econômica empresarial. Em seguida, alguns apontamentos sobre os desafios da

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escola em tempos de competitividade e cobrança de resultados imediatos, onde a formação humana a qual deveria subsidiar-se nas diferentes áreas do conhecimento é anulada pelo ranqueamento do saber, subtraído a números que nem sempre revelam a complexidade e diversidade humana.

A busca pelo entendimento das formas de mensuração da educação materializadas por índices e comparações nos remete a análise do novo jeito e posicionamento do Estado no campo das políticas. Não mais um Estado centralizador ao qual a crise é atribuída, mas um Estado descentralizado, flexível. Ainda que o discurso de descentralização, presente na reforma do Estado indique esse formato, ele se constitui, também, com um perfil regulador. Neste conjunto de mudanças, a educação não é mais a mesma, mas um setor capaz de colocar o país no nível de desenvolvimento frente às exigências do mundo globalizado. Educação e mercado se aproximam de forma singular, tanto que a educação passa a ser uma mercadoria de qualidade a ser medida e verificada. O produto final do conhecimento não pode apresentar ineficiência.

Como resultado desse processo, as orientações politicas de cunho internacional são decisivas para a efetivação de sistemas de avaliação em larga escala a exemplo do Sistema Avaliação da Educação Básica (SAEB); Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e mais uma longa lista que poderia aqui ser apresentada. Segundo Peroni (2001) a forma de avaliar atual, não é o resultado do debate entre as diferentes instâncias da educação, mas mero produto encomendado que acata ao poder regulador do Estado que se estrutura cada vez mais pelo papel de controlador no sentido de manter a ordem social vigente, é uma democracia apenas anunciada das práticas escolares.

Os elementos base do novo panorama econômico são agilidade do mercado, capacidade de gestão e a performatividade. São tecnologias políticas que aplicadas conjuntamente, dão a ideia de algo novo, que vai contra a antiga forma administrativa pautada no profissionalismo e na burocracia.

Estas tecnologias adaptadas às políticas desde a sua formulação até os efeitos da prática representam uma mudança estrutural das escolas com gestores mais dinâmicos, ênfase nos resultados imediatos, comparação, responsabilização da comunidade e todos os envolvidos neste setor. Performatividade é a palavra chave desse processo, compreendida como:

Uma tecnologia, uma cultura e um método de regulamentação que emprega julgamentos, comparações e demonstrações como meios de controle, atrito e mudança. [...] a performatividade é alcançada mediante a construção e publicação de informação e de indicadores,

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além de outras realizações e materiais institucionais de caráter promocional, como mecanismo para estimular, julgar e comparar profissionais em termos de resultados: a tendência para nomear, diferenciar e classificar. (BALL, 2005, p. 543-544)

É pela performatividade que os homens e mulheres os quais atuam no cotidiano escolar são julgados, comparados e avaliados. O esforço de cada pessoa é a medida de seu desempenho e controle. Cada sujeito precisa prestar contas dos seus resultados e da atuação que se espera dele. A questão não é sobre a “possível certeza de ser sempre vigiado. Trata-se ao contrário, da incerteza e da instabilidade de ser julgado de diferentes maneiras, por diferentes meios, por meio de diferentes agentes” (BALL, 2010, p. 39).

Paralelo à performatividade, o gerencialismo é a aproximação do setor público educacional à lógica empresarial, que implica em atender maior demanda social com menos gastos, excelência dos serviços oferecidos, produtividade, qualidade total e “criar uma cultura empresarial competitiva” (BALL, 2005, p. 544). A sociedade civil, dentro do gerencialismo, assume papel relevante, pois a gestão pauta-se nas pessoas, no individual, nos governos locais. Esse processo gerencial exige uma nova performatividade dos profissionais que atuam na escola, assim, performatividade e gerencialismo são mecanismos convergentes e indissociáveis.

Dentro desse padrão de qualidade, está em jogo o profissionalismo compreendido como a possibilidade de o trabalhador estabelecer um diálogo com o seu trabalho no que compete às discussões sobre os resultados, os possíveis encaminhamentos e reorganização pedagógica frente aos resultados obtidos, sejam eles satisfatórios ou não. Esses aspectos são anulados no novo modelo de gestão pautado na disputa das instituições pelo primeiro lugar. O profissionalismo é reduzido a desempenho.

A performatividade posta como necessidade de resultados imediatos implica em duplo caminho a ser percorrido pelos profissionais da educação, onde a primeiro consiste em ensinar pelo valor quantitativo da produtividade e, o segundo, permite ao profissional uma ação movida pelo gosto de provocar o debate de uma aula e correlacioná-la às vivências dos alunos. “Neste aspecto há uma possibilidade real de que as relações sociais autênticas sejam substituídas por relações performativas” (BALL, 2012, p. 45). No modelo performativo de gestão escolar prima-se pela criação de sistemas de medidas e comunicação de resultados, fator responsável por colocar as escolas no ranking de competição e disputa por uma visibilidade necessária na

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sociedade performativa. É uma nova pedagogia da gestão que ocorre por meio de avaliações e apreciações pautada na excelência, qualidade e marketing.

Portanto, performatividade e gerencialismo se materializam em modernas e complexas tarefas para a escola e seus profissionais. Tudo se configura em democratização, participação e descentralização, anunciados, mas nem sempre concretizados no cotidiano educacional. Ainda vemos “diferentes modos de gestão escolar anunciado como democráticos, mas que, não raro, apresentam práticas que revelam concepções conservadoras” (LEITE; HYPOLITO, 2010, p. 03).

Enfrentar este paradoxo exige uma proposta coletiva de definição de qual concepção de avaliação se pretende trabalhar no cotidiano da escola, o que implica em decisões no âmbito do Projeto Político Pedagógico onde a escola poderá munir-se com instrumentos para caminhar na contramão de uma gestão apenas voltada para atender a avaliação externa de caráter mercadológico. Avaliação com caráter formativo sugere decisão conjunta, pois, democratizar a escola é permitir que todos participem no sentido de tomada de decisão e, não apenas estar presente neste espaço físico.

Para os diretores e equipe pedagógica o desafio está na compreensão teórico e prática do que se quer avaliar, no entendimento conceitual que emerge de uma formação sólida, tanto inicial como continuada. Tudo isso em oposição à performatividade que na análise de Vieira (2002, p. 121) exige a profissionalização (ainda que aligeirada) dos diretores e dos demais dirigentes escolares, “numa clara intenção de garantir a eficiência e a produtividade do ensino”. Quando o trabalho educacional é reconhecido apenas de forma quantitativa e mensurada, institui-se um novo profissionalismo que transforma o gosto e satisfação pelo ato de ensinar e estar na instituição escolar, em mera obediência a regras geradas de forma exógena, aos horrores dos desempenhos e julgamentos constantes. O conjunto de manifestações com caráter empresarial, adotada pelos governos convertidos ao neoliberalismo, cria na educação e nas escolas aquilo que chamam de cultura avaliativa, que implica, sem rodeios, o estabelecimento de potentes formas de controle sobre o trabalho docente (Idem, p. 117)

Insistimos na defesa que os resultados em educação precisam atender primeiramente as necessidades humanas e o tempo de desenvolvimento dos sujeitos que estão nas escolas. Os gráficos não mostram às diferenças econômicas de cada localidade, a diversidade cultural, as relações interpessoais e o afeto são dizimados pela ênfase quantitativa. Expor a educação e as práticas avaliativas apenas a serviço do

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mercado é correr o risco de anular a educação no seu aspecto mais significativo, qual seja, educação enquanto processo humanizador que prima pela justiça social.

Referências

BALL, S. J. Reformar escolas/reformar professores e os terrores da performatividade. Revista Portuguesa de Educação. Universidade do Minho. V. 15, n. 2, p.3-23, 2002. BALL, S. J. Profissionalismo, Gerencialismo e Performatividade. Cadernos Pesquisa. V.35.n 126, p. 539-564. Set/dez, 2005.

BALL, S. J. Performatividades e fabricações na economia educacional: rumo a uma sociedade performativa. Educação & Realidade. n 35, p. 37-55. 2010.

BALL, S. J.Reforma Educacional como Barbárie Social: economismo e o fim da autenticidade. Práxis Educativa. Vol. 7, n 1, p. 33-52, Jan/Jun.2012.

LEITE, Maria Cecília; HYPOLITO, Álvaro Moreira. Modos de gestão, currículo e Práticas pedagógicas. In: ANAIS-anpae.org. br/iberolusobrasileiro, 2010.

PERONI, V. Avaliação Institucional, controle da produtividade e controle ideológico. Revista Brasileira de Administração da Educação. V. 17, n. 2, p. 233-244, 2001. VIEIRA, Jarbas. S. Política educacional, currículo e controle disciplinar (implicações sobre o trabalho docente e a identidade do professorado). Currículo sem Fronteiras. V. 2, n. 2, p. 111-136, 2001.

Doutoranda em educação do Programa DINTER/Doutorado Institucional Universidade Estadual do Oeste do Paraná- UNIOESTE e Universidade Federal de Pelotas- UFPel. Orientação: Maria Cecília Lórea Leite; Co-orientação Jarbas dos Santos Vieira. Pesquisa Financiada pela CAPES-email:

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