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Qualidade de vida no trabalho dos trabalhadores da Estratégia Saúde da Família: um relato de experiência

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Academic year: 2021

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Qualidade de vida no trabalho dos trabalhadores da Estratégia Saúde da Família: um relato de experiência

Francisco Rosemiro Guimarães Ximenes Neto

Secretaria da Saúde de Cariré, Ceará, rosemironeto@gmail

Benedita Tatiane Gomes Liberato

Secretaria da Saúde de Cariré, Ceará

Francisco Rodrigues Martins

Secretaria da Saúde de Cariré, Ceará

Antonio Rufino Martins

Prefeito Municipal de Cariré, Ceará

Elmo Roberto Belchior Aguiar

Vice-Prefeito Municipal de Cariré, Ceará

Resumo – O estudo objetiva relatar a experiência do desenvolvimento de um rol de ações que corroboram com a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores da Estratégia Saúde da Família. Estudo do tipo relato de experiência, desenvolvida no período de 2009 a 2012 no município de Cariré – Ceará. A experiência tem como objetivos: Melhorar a qualidade de vida no trabalho dos trabalhadores da Saúde da Família; Reduzir o risco e as doenças ocupacionais e relacionadas ao trabalho; Garantir uma maior proteção aos trabalhadores; Possibilitar a sensibilização dos trabalhadores sobre o uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI); Implantar a saúde dos trabalhadores do SUS como estratégia de município saudável. Dentre as ações desenvolvidas tem-se: Aquisição de movelário, como cadeiras e outros equipamentos ergonômicos; Estruturação das unidades de saúde para acolher os trabalhadores o dia todo, principalmente, os que se deslocam pra zona rural; Melhoria da ambiência dos Centros de Saúde da Família; Desenvolvimento de educação permanente dos trabalhadores; Criação de cargos e gratificações salariais; Garantia de insumos e equipamentos para o desenvolvimento do trabalho com qualidade e proteção individual e coletiva, com o intento da redução dos riscos de acidentes de trabalho; Desenvolvimento de práticas de co-gestão do trabalho, ampliando a autonomia e poder decisório dos trabalhadores; e, Descentralização das ações de saúde do trabalhador para os territórios da ESF. O investimento nas condições de trabalho se reflete na humanização e integralidade da atenção, assim como, na satisfação da clientela e melhoria da qualidade de vida da população. Descritores: Programa Saúde da Família; Trabalho; Qualidade de Vida.

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1 Introdução

No Brasil, na década de 1990 foi estabelecido um novo padrão de intervenção do Estado na configuração do setor saúde, por meio da implantação e consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) em sua gestão descentralizada. Com o desenvolvimento do SUS ocorreu um avanço na prestação de serviços e do emprego público, como respostas ao processo de descentralização administrativo-financeira, que se institucionalizava em nível de Ministério da Saúde, para com os Estados, Municípios e o Distrito Federal.1

Com a mudança da configuração política e o aumento do quantitativo de emprego público, estimulado pelo processo de descentralização e pela implantação de novas políticas, como a Estratégia Saúde da Família (ESF), o mercado de trabalho em saúde vem crescendo, demasiadamente, com isso, estimulando o debate sobre temas relacionados a formação e a educação permanente dos trabalhadores de saúde, como também as formas de trabalho e contratação dos trabalhadores.1 Mesmo assim, tais trabalhadores não deixaram de ser vitimados por um processo de desregulamentação do trabalho e de precarização contratual, associado às perdas significativas no valor final do salário, deixando-os em situação de vulnerabilidade política, econômica, social e trabalhista.

Pois, na ESF, a precarização não se restringe somente aos vínculos empregatícios, mas também à própria organização do processo de trabalho da equipe, porque muitas vezes, os profissionais de saúde enfrentam realidades diversas e têm que realizar atendimento às famílias, sujeitos e comunidades, sem uma estrutura física adequada, improvisada em casas emprestadas, dentre outros, interferindo na ambiência, privacidade e condições éticas do processo saúde-doença-cuidado. O transporte que desloca as equipes da ESF, quando existe, apresenta um estado de conservação deplorável que põe em risco a segurança dos trabalhadores; inexistem ou faltam equipamentos e insumos mínimos necessários ao processo de trabalho diário. 2

Com isto, percebe-se que o mundo do trabalho em saúde, na atualidade, tem gerado diversos debates, acerca de suas concepções teóricas, sejam políticas, econômicas ou sociais; bem como da organização, divisão social e técnica e a regulação dos trabalhadores e de sua gestão do trabalho e educação na saúde e as necessidades das diversas categorias de trabalhadores envolvidos e que, a cada dia se inserem no setor saúde. Tem-se ainda, os diferentes processos de trabalho e

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cuidado na rede de atenção à saúde e à sua micropolítica de produção em saúde, que se materializa no trabalho vivo em ato, com suas tecnologias leves (relacionais), leveduras (saber técnico estruturado, protocolar) e as duras (instrumentos). Nesta perspectiva, percebe-se a necessidade que os trabalhadores da saúde tenham mais qualidade de vida no trabalho, para garantir o desenvolvimento do processo de trabalho individual e coletivamente, e com isto, melhorar a qualidade da atenção aos sujeitos famílias e comunidades.

Pensando nisso, o município de Cariré, Estado do Ceará, a partir de 2009 durante seu processo de reforma sanitária pensou na qualidade de vida dos trabalhadores, com o intuito de melhorar a satisfação destes e a qualidade da atenção prestada. Assim, o presente estudo objetiva relatar a experiência do desenvolvimento de um rol de ações que corroboram com a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores da Estratégia Saúde da Família.

2 A Experiência

2.1 Município Saudável: o modelo de atenção à saúde adotado

O município de Cariré, historicamente, vinha trabalhando com o conceito de saúde como ausência de doença, atenção centrada na cura, nos modelos biomédicos e hospitalocêntrico, apresentando sérias limitações na qualidade e diversificação das ações e serviços de saúde, em que nem todos os cidadãos possuíam direito ao acesso às consultas, exames, cirurgias e medicamentos. Os poucos profissionais da saúde com formação universitária centravam suas ações, prioritariamente, no Centro de Saúde da Sede. O sistema de referência apresentava-se limitado e era discriminatório, sendo agendados apenas as consultas, exames ou cirurgias especializadas dos aliados da gestão anterior, deixando uma enorme demanda reprimida. Os trabalhadores da saúde da zona rural, com pouca ou nenhuma formação, desenvolviam procedimentos incompatíveis para sua atividade profissional. A Atenção Primária à Saúde (APS) não era prioridade governamental.3

No ano de 2008, durante a campanha eleitoral, os atuais gestores municipais – Prefeito e Vice-Prefeito, assumiram em sua plataforma de governo, o compromisso público de o Setor Saúde ser prioritário em sua gestão 2009 – 2012 e, adotar o modelo de atenção à saúde da Estratégia Município Saudável. No ano de 2009, o Município passa por intenso processo de reforma sanitária, o que leva a agregar novas concepções de trabalho.

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Quanto a Estratégia Município Saudável, a Organização Mundial da Saúde (OMS), a define como aquela que “coloca em prática de modo contínuo a melhoria de seu meio ambiente físico e social utilizando todos os recursos de sua comunidade”.4 Segundo a Organização Panamericana da Saúde (OPAS) a Estratégia Município Saudável objetiva “promover a saúde, junto com as pessoas e as comunidades, nos espaços onde as pessoas estudam, trabalham, se divertem, amam,... e onde vivem [...]”. A referida estratégia, “[...] encontra-se inserido em um processo global de democratização e descentralização, baseado em iniciativas locais, sob o marco da gestão local e da participação comunitária”. 5

O referido modelo, conforme Teixeira “[...]implica uma visão ampliada da gestão governamental, que inclui a promoção da cidadania e o envolvimento criativo de organizações ‘comunitárias’ no planejamento e execução de ações intersetoriais dirigidas à melhoria das condições de vida e saúde, principalmente em áreas territoriais das grandes cidades nas quais se concentra a população exposta a uma concentração de riscos vinculados à precariedade das condições de vida, incluindo fatores econômicos, ambientais e culturais”.6

2.2 Objetivos das Ações

• Melhorar a qualidade de vida no trabalho dos trabalhadores da Saúde da Família;

• Reduzir o risco e as doenças ocupacionais e relacionadas ao trabalho; • Garantir uma maior proteção aos trabalhadores;

• Possibilitar a sensibilização dos trabalhadores sobre o uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI);

• Implantar a saúde dos trabalhadores do SUS como estratégia de município saudável.

2.3 Ações Desenvolvidas

• Aquisição de movelário, como cadeiras e outros equipamentos ergonômicos; • Estruturação das unidades de saúde para acolher os trabalhadores o dia

todo, principalmente, os que se deslocam pra zona rural;

• Climatização, readequação e melhoria da capacidade instalada dos consultórios;

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• Melhoria da ambiência dos Centros de Saúde da Família; • Desenvolvimento de educação permanente dos trabalhadores; • Criação de cargos e gratificações salariais;

• Aquisição de transporte confortável, higienizado, climatizado e seguro;

• Distribuição de protetores solares para agentes comunitários da saúde e de endemias;

• Garantia de insumos e equipamentos para o desenvolvimento do trabalho com qualidade e proteção individual e coletiva, com o intento da redução dos riscos de acidentes de trabalho;

• Garantia de água mineral nas unidades, para redução dos riscos de problemas renais dos trabalhadores;

• Desenvolvimento de práticas de co-gestão do trabalho, ampliando a autonomia e poder decisório dos trabalhadores;

• Descentralização das ações de saúde do trabalhador para os territórios da ESF.

3 Principais Resultados Alcançados

O desenvolvimento das ações tem permitido para as equipes da ESF, o seguinte: • Melhoria dos determinantes da qualidade de vida no trabalho em saúde; • Maior satisfação e, consequente, melhoria da autoestima dos trabalhadores; • Melhoria da acolhida dos trabalhadores pelas comunidades de cada território

sanitário;

• Redução dos determinantes insalubres das unidades;

• Maior prevenção das doenças, agravos, riscos e danos à saúde do trabalhador;

• Promoção de espaços de diálogo permanente entre gestão e trabalhadores, possibilitando melhorias nas ações desenvolvidas;

• Sensibilização dos trabalhadores da saúde sobre o risco das doenças relacionadas ao trabalho;

• Repercussão na melhoria da qualidade da atenção aos sujeitos, famílias e comunidades;

• Redução do número de dias faltosos pelos trabalhadores por motivos relacionados às doenças relacionadas ao trabalho.

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4 Considerações Finais

Apesar do número limitado de ações desenvolvidas, percebe-se que, ao se investir nas condições de trabalho isto se reflete rapidamente no acolhimento e humanização da atenção, assim como, na produção social da saúde junto às famílias, sujeitos e comunidades no território da ESF.

Pois, um processo de trabalho que seja embasado numa boa qualidade de vida no trabalho corroborará com o alcance da integralidade da atenção, e, consequentemente, com a satisfação da clientela e melhoria da qualidade de vida da população.

Referências

1. Ximenes Neto FRG, Fonseca Costa MC, Rocha J, Cunha ICKO. Auxiliares e técnicos de enfermagem na Estratégia Saúde da Familia: participação sociopolítica e gestão do trabalho. Biblioteca Lascasas. 2008; 4(4). Disponible en http://www.index-f.com/lascasas/documentos/lc0352.php.

2. Ximenes Neto FRG, Política econômica dos anos 1990 e suas influências na precarização dos trabalhadores da atenção primária à saúde na contemporaneidade. Saúde Coletiva – Barueri; 41(7):152-156.

3. Cariré. Secretaria da Saúde. Plano Municipal da Saúde. Cariré: Secretaria da Saúde; 2009.

4. Organização Panamericana de Saúde-OPAS. Municípios e comunidades

saudáveis: guia dos prefeitos para promover qualidade de vida. Brasília: OPAS; 200?.

5. Organização Panamericana de Saúde-OPAS. Saúde coletiva. Disponível em: <http://www.opas. org.br/coletiva/temas.cfm?id=28&Area= Links> Acesso em: 10 jun. 2007.

6. Teixeira CF. Modelos de atenção voltados para a qualidade, efetividade,

eqüidade e necessidades prioritárias de saúde. In: Brasil. Conselho Nacional de Saúde-CNS. Cadernos da 11ª Conferência Nacional de Saúde. Brasília: CNS; 2000. p. 261-281.

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