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O neopatrimonialismo contábil como caminho competente para a construção da prosperidade social

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O neopatrimonialismo

contábil como caminho

competente para a construção

da prosperidade social

Aline Melo de Freitas

Técnica em Contabilidade. Bacharel em Conta-bilidade pela Faculdade Santa Helena, Recife/ PE. Concursos Técnica em Contabilidade: 1º lu-gar para Prefeitura de Vitória de Santo Antão/ PE, 2º lugar para Prefeitura de Vicência/PE, 9º lugar no IASC - Recife/PE. Atualmente Conta-dora da Câmara de Vereadores do Ipojuca/PE. Membro da Associação Cientifica Internacional Neopatrimonialista (Acin).

O

mundo passou por expressivas mudanças e o atual

cenário aponta para uma nova realidade, que exige

o enriquecimento teórico e o aproveitamento

dos estudos contábeis. A Contabilidade clama por um

direcionamento mais científico em suas pesquisas como

forma de superar a visão mecanicista a ela atribuída no

decorrer dos séculos. A escola Neopatrimonialista oferece um

novo método de observação da movimentação patrimonial,

analisado sob o prisma das funções sistemáticas, com foco na

eficácia e na prosperidade social. Esse trabalho visa reafirmar

que essa ciência não se resume apenas aos demonstrativos,

mas que desempenha relevante função no contexto social e é

detentora de parte da responsabilidade pela geração do

bem-estar coletivo, possuindo autoridade científica para contribuir

com novos métodos de se obterem informações capazes de

auxiliar no desenvolvimento social.

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1. O nascer científico

da Contabilidade

A evolução da inteligência humana depende do ambiente em que ela se opera. A partir do crescente desenvolvimento eco-nômico e industrial, acelerou-se o cuidado em estudar os fenômenos que atingem esses desenvolvimen-tos, como forma analítica de se es-tudar a riqueza. A Contabilidade surge, justamente, dessa necessi-dade de quantificar a riqueza.

Assim, com o passar dos sécu-los, ela vem inventando novas téc-nicas de assimilação e mensuração dos eventos econômicos e finan-ceiros – estes que causam as mu-tações patrimoniais. As doutrinas contábeis só se despertaram para tais influências há pouco mais de cem anos, e as tecnologias só co-meçaram a se desenvolver neste sentido há pouco mais de meio século (SÁ, 2001).

O avanço científico sobreveio a partir da necessidade humana de mudar sua postura diante do reconhecimento dos fatos para atendimento a uma nova realida-de, buscando explicar por que as coisas acontecem.

Apreende-se, portanto, que a evolução teórica como tendência natural está ligada diretamente ao mundo da pesquisa, mas, para que isso ocorra, é necessário que se penetre na essência do que dita o ritmo evolutivo do conhecimento.

A Contabilidade que de início só se preocupava com os registros, com o debitar e creditar, buscou, para sua melhoria, organizar o

conhecimento sis-tematicamente

para que pu-desse com-preender de qual m a t é r i a de fato ela tratava.

O conhecimento contábil não está sujeito a opinião ou hipó-tese, pois não se pode preten-der que se diga empiricamente, ou com meia probabilidade de acerto, que a ação administrati-va desenvolvida sobre o patri-mônio, causará determinados efeitos. Com o auxílio da con-tabilidade poderemos afirmar que determinadas causas pro-duzirão efeitos certos, o que se conclui da observação de vários acontecimentos de mesma natu-reza [...] (FRANCO, 1993 p.92).

Foi grande o empenho neces-sário para se erguerem novos con-ceitos e difundirem essas conquis-tas, mas a concretização só se deu, de fato, a partir da formação das escolas e correntes científicas.

Para a melhor compreensão da doutrina Neopatrimonialista, ob-jeto desse presente artigo, entre as escolas contábeis, apenas será discorrido sobre a Patrimonialista, haja vista que foi ela a que mais contribuiu com suas teorias para os alicerces dessa doutrina.

Essa corrente foi difundida por Vincenzo Masi, responsável pela construção da Teoria Científica do Patrimônio. Ele constituiu uma doutrina cujas ideias foram as mais difundidas, e provocou o mundo contábil quando passou a privile-giar a essência patrimonial acima de qualquer outro caráter formal. Sua principal crítica sobre as corren-tes contábeis anteriores diz respeito ao fato de elas terem dado mais im-portância à forma de evidenciação dos registros do que à essência dos fatos dos quais a Contabilidade ver-dadeiramente se ocupa.

Define como objeto de estudo da Contabilidade o patrimônio. O patrimônio é uma grandeza que, por meio da oscilação da atividade econômica se transforma, devendo essa transformação ser apreciada para que seja possível analisar, de

forma apropria-da, os agentes que a originaram, em quais circunstân-cias e em que tempo.

A escola Masiana identificava que não era desprendida a dedica-ção necessária às movimentações patrimoniais, vez que os fenôme-nos ocorrem independentemente de serem ou não registrados. O que importava para ela era o por-quê da ocorrência do fenômeno, buscar sua origem, e não apenas a forma de registrá-los.

O estudo científico da Conta-bilidade no Brasil teve início com Francisco D’Auria, precursor do Pa-trimonialismo no Brasil – estudioso que admitia que o estudo patrimo-nial é a tendência positiva da Con-tabilidade. Ele tomou por base a doutrina patrimonialista e a partir dela passou a incentivar um estudo mais aprofundado da Contabilida-de, aguçando mais o seu caráter científico. A mudança do estado inerte do acomodamento de regis-tros para o campo da elucidação e interpretação dos fenômenos pa-trimoniais foi um grande passo na história da Contabilidade.

As percepções sobre a realida-de das transformações dos limi-tes do patrimônio estabeleceram alterações nos discernimentos de estudos contábeis, para que fosse possível atender às conjunturas de um novo período, uma nova reali-dade que exige o enriquecimento

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teórico e um direcionamento mais científico nos estudos contábeis.

Dado seu caráter científico, as-sim como as demais ciências, tam-bém para a Contabilidade faz-se necessária a sistematização de pes-quisas e o acúmulo de conhecimen-tos para que seja dada continuidade ao desenvolvimento intelectual e atualização científica. Como ne-nhum ramo do saber humano nasce desenvolvido e como é próprio da ciência avançar sobre as conquistas anteriores, há sempre uma dispo-sição natural a evoluções, também assim ocorrendo na área contábil.

Diante da evolução da economia, da política, da revolução tecnológica, que contribuiu para o estreitamento dos mercados, e estes, por sua vez, fi-zeram surgir novos critérios a respei-to da vida financeira das empresas, é admissível dizer que esses fatores impulsionaram essa busca pelo enri-quecimento intelectual, provocando uma verdadeira revolução científica.

Demo (1995, p. 260) decla-ra que, “não faz sentido buscar a cientificidade por si mesma [...]. Faz sentido, isto sim, fazer ciência para conseguirmos condições objetivas e subjetivas mais favoráveis de uma história sempre mais humana.” Para Demo (1995, p.14), “construir ciên-cias sociais não é pretender produ-tos acabados, verdades definitivas, mas cultivar um processo de

criati-vidade marcado pelo diálogo cons-ciente com a realidade social que a quer compreender, também para transformar.”

Considerando o conceito de ciência trazido por Ferrari (1982, p.2), como sendo a acumulação de conhecimentos sistemáticos, e iden-tificando que a contabilidade é a ciência que estuda a riqueza, pode--se afirmar que a busca de novas interpretações para o fenômeno pa-trimonial deverá ser uma constante, ambicionando sempre a eficácia das entidades e, por conseguinte, o de-senvolvimento social como um todo.

2. O Neopatrimonialismo

e seus fundamentos

Conforme se pode observar, basta uma pequena exposição so-bre da evolução da Contabilidade para que se chegue à conclusão de que a ciência não se acomoda. Seguindo essa tendência natural, o Patrimonialismo passou por mu-danças, no entanto, sem deformar seus fundamentos doutrinários. Essa mudança sobreveio da revo-lução tecnológica, da mudança de costumes, da globalização e de outros fatores sociais e econômicos.

A Ciência Contábil foi for-temente atingida em suas

ba-ses nas últimas décadas por fatores como o progresso tecnológico, o estreitamento entre os mercados, a política mundial, a economia, o interesse por outras áreas do co-nhecimento, dentre outros. Diante dessas mudanças, as barreiras que isolavam a contabilidade como matéria presa às instituições foram rompidas, e passou-se a buscar no-vas vinculações com fatos que a ex-pliquem como ciência social.

Segundo discorreu Miller (1994, p.20), “Para entendermos inteira-mente como práticas particulares de contabilidade emergiam e por que tanta significância é atribuída a elas, nós temos de nos mover além das fronteiras da organização.” Corroboram com essa visão Lopes e Martins (2005, p.18) quando di-zem que “a pesquisa em contabili-dade não pode ser considerada de forma independente do ambiente social na qual ela esta inserida; a própria pesquisa é

um produto do meio social.”

Dado seu caráter científico, assim como as demais

ciências, também para a Contabilidade faz-se

necessária a sistematização de pesquisas e o acúmulo

de conhecimentos para que seja dada continuidade ao

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ter noção se o valor desembolsa-do foi adequadesembolsa-do em relação ao lucro que se poderá conseguir dele. Entretanto, agora parte-se de uma visão mais acurada dos fatos, pois estes são observados sob o ângulo da eficácia e da prosperidade,

enxerga-dos em meio a uma movi-mentação sistemática e interativa entre os ambientes, motivan-do um crescimento tanto do individual quanto do coletivo.

A Contabilidade não se re-sume ao registro dos fatos contábeis, o que é papel da es-crituração. As funções contábeis vão além do simples registro dos fatos, procurando as causas des-tes e dando-lhes interpretação. A determinação das causas dos fenômenos contábeis é função de análise. Através dos conhecimen-tos das causas dos fenômenos é que interpretamos os fatos con-tábeis. (FRANCO, 1960, p.169).

Essa nova visão transforma a Contabilidade numa ciência de causas e, não, num aglomerado de conhecimentos sobre efeitos, equiparando-a aos outros ramos científicos no que diz respeito à preocupação em buscar as origens dos fatos, ou seja, o motivo pelo qual se sucedem os fenômenos.

As doutrinas são consequências lógicas da ação reflexiva e da orga-nização das conquistas do pensa-mento. E tais critérios racionais, ao passo em que conduzem às observações,

ofere-ceram também moti-vos para o surgimento de percepções, conceitos, propo-sições e teorias. Dessa forma, o sur-gimento de novas corren-tes se apresenta como uma

consequência natural na busca de altos níveis de consciência.

Não surge o Neopatrimonialis-mo coNeopatrimonialis-mo uma ruptura conceitual, mas como uma nova porta em di-reção a uma realidade que já era apontada nas obras Masi, e que sugere essa nova forma de obser-var a estrutura das organizações, onde o ser humano prevalece sobre um conceito abstrato de sociedade. A procura de uma realidade maior acerca do objeto de estudo foi o que instigou um maior aprofundamento e uma tendência para o micro, mais próximos do homem em seus espa-ços e das suas necessidades.

Pires (2002, p.9) leciona que essa doutrina tem bases patri-monialistas, mas transcende as estruturas desenhadas [...] em cinco pontos:

1. na fixação dos três grandes gru-pos de relações lógicas;

2. na determinação sistemática das funções dos meios patrimoniais; 3. no estabelecimento do axioma

da eficácia como finalidade; 4. na abertura dos estudos das

in-terações sistemáticas e;

5. na metodologia da fixação de teoremas como bases de uma Teoria Geral do Conhecimento Contábil. (PIRES, 2002 p.9).

A metodologia Neopatrimonia-lista contribui para a Ciência Contá-bil quando considera e reconhece as relações que determinam a essência do fenômeno patrimonial, indican-do o grau de influência indican-dos fatores da transformação. Isso significa

di-zer que é preocupação básica dessa doutrina o fato de a en-tidade interagir com o meio em que está inserida,

afetan-do e senafetan-do afetada pelos agentes de seu entorno.

Defende que a nossa ciência não se re-sume à evidenciação de Do simples ato de registrar

até entender o que de fato ocorre com as coisas que são objetos de registros, um longo período foi percorrido. Quando a Contabilida-de passou a entenContabilida-der que Contabilida-de nada vale uma informação se não se sabe o que ela representa e que utilidade dela se pode extrair, teve início um avanço grandioso nos estudos.

Partindo desse en-tendimento, percebeu-se que a forma sintética de se analisar os fenômenos não era suficiente para sua compreensão e interpre-tação, merecendo, pois, uma maior apreciação. Assim, a Ciência Contábil seguiu essa inclinação, e quando desenvolveu a consciência de que não eram as informações, mas, sim, o que elas significavam o que justificava o conhecimento, um grande progresso teve início.

Como a ciência sempre está em evolução, recentemente, o profes-sor Lopes de Sá identificou a ex-pressão célula social para melhor definir o termo “azienda”. Esta ob-servação é feita a partir do primei-ro livprimei-ro publicado com esta teoria, Teoria da Contabilidade, em 1992. Ele defende essa nova nomenclatu-ra, pois, enquanto a palavra azida designa o caráter único de en-tidade ou empresa, o termo célula social abrange tanto pessoas, fa-mílias, empresas, instituições, etc. (PIRES E MARQUES, 2005, p. 8).

O esforço recomendado pelo Neopatrimonialismo é no senti-do de que os conceitos preesta-belecidos não mais se concebam na Contabilidade.

Semelhante ao Patrimonialis-mo que lhe deu origem, essa nova corrente também entende que os registros sozinhos pouco ou nada representam, pois não basta ape-nas saber quanto se gastou em determinada despesa; é preciso

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informações por meio de demons-trativos, mas que é responsável pela criação de novos métodos de observação da realidade através da compreensão sobre os fenôme-nos patrimoniais, desde os fatores que o deram origem, de modo a explicar as causas do sucesso ou do insucesso do em-prego da riqueza. A filosofia passou a ser a base do Neopa-trimonialismo, fundamentan-do uma grande corrente de pen-samento científico, pois, de acordo com essa doutrina, a Contabilidade deve progredir assim como a humani-dade (SÁ, 2008A, p.11). Corrobora com essa opinião o professor Ne-pomuceno (1996, p.12), quando afirma que, “Nesse sentido, o Neo-patrimonialismo contábil resgata o caráter científico da contabilidade. Resgata o pensar contábil, perdido há muito.” A doutrina Neopatrimonialista agrupou e disciplinou conhecimentos efi-cazes em torno do objeto da Conta-bilidade. Admite como objeto de estudos o pa-trimônio das cé-lulas sociais, mas estudado sob a óti-ca de funções sistemá-ticas1, e estas em relação

à eficácia e prosperidade. Logo, visa, predominantemen-te, estudar as transformações da riqueza patrimonial observando como essa se comporta, mas tam-bém considerando os demais fenô-menos externos que dão origem a

essas transformações, pois só as-sim será possível proporcionar re-sultados significativos capazes de ajudar as organizações a atingirem seus objetivos, baseados em fato-res menos abstratos, mais dinâmi-cos e mais próximos da realidade.

Sá expressa que “Teoricamente o patrimônio tenderia à estática, se não sofresse a ação de agentes ambientais, mas, é em razão da evolução permanente dos elemen-tos externos que a riqueza se mo-vimenta.” (SÁ, 1997 p.130).

Considerando essa afirmação, pode-se admitir que a movimen-tação é uma disposição natural do patrimônio da célula social, isso porque o ambiente no qual ele está inserido também vive em constan-tes transformações advindas tanto de fora quanto de dentro da pró-pria célula. Assim, o aspecto estáti-co da estáti-contabilidade estáti-compreende o conhecimento em um determinado momento da situação patrimonial das entidades, não sendo capaz de refletir sobre a realidade das mo-vimentações, tampouco considera aquilo que as originou, enquanto o dinâmico, se relaciona, justamente, com essas forças que

ge-ram as movimentações, provocando o aumento ou diminuição do pa-trimônio. Nesse contexto, as bases específicas dessa doutrina foram fundamentadas em: 1 classificar os grupos de

rela-ções lógicas que determinam o fenômeno patrimonial; 2 admitir que os entornos do

patrimônio são agentes forte-mente relevantes na transfor-mação da riqueza e que neces-sitam de uma ótica holística

que traga para a interpretação dos aconteci-mentos uma relevante me-todologia de estudos; 3 estabelecer

axio-mas competentes para uma or-ganização lógica de teoremas; 4 organizar teoremas

compe-tentes para gerar teorias; 5 considerar que os meios

pa-trimoniais se organizam em sistemas e que estes são au-tônomos e concomitantes em suas ações;

6 aceitar que os sistemas vi-vem em interação perma-nente e que os fatos decor-rentes são relativos;

7 entender que a prosperidade racional e humanitária é o grande objetivo social e que deve esta partir das células so-ciais para conseguir-se aquela do todo. (SÁ, 2002, p.6). Ao dar início a uma nova filo-sofia, essa escola toma por base a sua metodologia de célula da so-ciedade, onde esta última é com-preendida como parte de orga-nismo coletivo. De tal modo, tem início um estudo do patrimônio em face de sua eficácia, dedicando-se, especificamente, ao estudo sobre a satisfação dos objetivos das célu-las inseridas e participantes da so-ciedade humana, esta identificada como organismo coletivo.

O Neopatrimonialismo, pois, surgiu como esperança de uma vi-são holística da função da riqueza das células sociais. Entre seus prin-cípios, existe a ampliação da inda-gação dos fatos que fazem acon-tecer as transformações da riqueza e o respaldo em axiomas.

1 A Teoria das Funções Sistemáticas do Patrimônio é a base fundamental da doutrina Neopatrimonialista. Admite essa teoria, que no patrimônio tudo se transforma, tudo se relaciona, tudo se organiza em sistemas, tudo busca a eficácia e nada pode estar alheio aos continentes (entornos) da riqueza. (SÁ, 2008A, p.13)

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torno das realidades do patrimônio das células sociais, considerando as forças agentes que permeiam e influenciam em seus ambientes, estes que, devido à própria estru-tura constitutiva da célula, vivem em processos de dinâmica natural na perseguição de determinados fins. Essa dinâmica não está subor-dinada apenas às forças exógenas, mas também àquelas endógenas, que provocam alterações na forma de conduzir a riqueza, para atendi-mento a um processo de adequa-ção das próprias variáveis.

Toda ciência se constitui no estudo das relações, e só ela é capaz de explicar sobre a verda-de dos acontecimentos através da observação consciente de vários eventos de uma mesma natureza. No caso do Neopatri-monialismo, essas relações es-tão evidenciadas na teoria das funções sistemáticas, que busca a compreensão ordenada dos fatos para defender que há uma movimentação constante entre o todo e suas partes, entre o indi-vidual e o coletivo, devendo ser devidamente apreciada.

Conforme enuncia Sá, “No patrimônio tudo se transforma constante e sistematicamente, em decorrência de relações ló-A observação consciente de

fatos leva aos raciocínios que se traduzem em conceitos. Os con-ceitos reunidos produzem teore-mas, estes últimos, quando dire-cionados a um tema específico, geram as teorias. Toda essa fun-damentação, abalizada num con-junto de teorias sobre um objeto específico capaz de proporcionar uma verificabilidade universal, dá origem à ciência, de modo que, quando uma realidade é tão evidente que é capaz de ensejar num enunciado sobre outras rea-lidades, chama-se de axioma (SÁ, 2002, p.4).

E dentre os vários axiomas, apenas cinco deles constituirão objetos de exposição desse artigo, vez que delimitam, especificamen-te, o escopo dessa investigação:

1 Axioma do Movimento: todo meio patrimonial tende ao movimento.

2 Axioma da Transforma-ção: no patrimônio tudo se transforma de forma cons-tante e sistemática, por efeito de relações lógicas essenciais, dimensionais e ambientais. Todo movi-mento patrimonial implica transformação.

3 Axioma da Eficácia Patrimo-nial: a anulação da necessidade resulta na eficácia patrimonial. 4 Axioma da Assimilação: as

funções sistemáticas do patri-mônio assimilam as influên-cias dos entornos agentes. 5 Axioma da Prosperidade:

efi-cácia e elasticidade patrimo-nial constante implica pros-peridade das células sociais. (Adaptado de ROCHA, 2008, p.11-12).

Axiomas são, portanto, pre-missas evidentes, admitidas como universalmente verdadeiras sem exigência de demonstração, e que delas podem-se deduzir as propo-sições de uma teoria. Por meio dos axiomas, o Neopatrimonialismo de-monstra como evidentes as diver-sas relações em torno de um único fenômeno, bem como a relação deste com outros fenômenos de mesma natureza. Só uma visão ho-lística pode apresentar meios para uma analise do comportamento da riqueza das células sociais, e é essa a forma de estudo assumida pelo Neopatrimonialismo.

Essa nova forma de pensar e de compreender as transformações patrimoniais se fundamenta na produção de estudos lógicos em

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gicas essenciais, dimensionais e ambientais.”(SÁ, 2008B, p.7).

As relações lógicas essenciais são aquelas básicas, da formação até do próprio patrimônio, e seus aspectos essenciais representam os elementos que:

Operam na essência do fenôme-no, evidenciando a geração, cria-ção e origem: • Necessidades patrimoniais; • Finalidades; • Meios patrimoniais; • Funções patrimoniais. (PIRES E MARQUES, 2005 p. 10).

De acordo com essa visão dou-trinária, a necessidade é uma ex-pressão cognitiva que surge a partir da percepção de falta. Trata-se de uma fase mental, que até então não faz movimentar a riqueza pa-trimonial. Depois de identificada ou criada determinada necessidade na mente humana, surge agora como objetivo a ideia de algo que faça suprir essa necessidade, de modo a excluí-la. Nasce, então, a finalidade.

A partir da formulação des-sas duas expressões mentais, é

que terá início a consolidação ou concretização do algo que fará extinguir a necessidade, ou seja, começará, pois, a movi-mentação patrimonial.

A administração decide sobre a aquisição ou aplicação de um meio patrimonial, que é a ferra-menta ou instrumento que deverá ser utilizado para iniciar a ativida-de e ativida-desempenhar uma função. Este meio, quando utilizado de forma a eliminar a necessidade an-teriormente criada terá cumprido a função para a qual foi adquiri-do ou aplicaadquiri-do. A função, quanadquiri-do efetivamente cumprida pelo meio materializado, decorrerá em eficá-cia patrimonial.

A partir da compreensão das relações lógicas, alcançou-se o seguinte esquema básico da vi-são neopatrimonialista, exibido na Figura 1.

Conforme observado acima, o ponto de partida ou patrimônio x, quando submetido às variáveis das relações lógicas (essenciais, dimensionais e ambientais), pas-sará por transformações dentro de um processo de adequação,

origi-nando determinada função patri-monial. Dentro desse processo de influências, que se desenvolverá por meio dos sistemas de funções patrimoniais, ocorrerão alterações no patrimônio, para mais ou para menos, fator que dependerá do grau de eficácia obtido pela cor-reta utilização deste meio. Dessa movimentação interativa entre as relações lógicas e as funções sis-temáticas, nascerá o patrimônio y. O Neopatrimonialismo defi-ne a eficácia como um fenômeno decorrente da movimentação da riqueza e afirma que esta movi-mentação se dá no sentido de per-seguição do seu maior objetivo. Entende que há eficácia quando ocorre a anulação total das ne-cessidades patrimoniais, ou seja, a riqueza é eficaz quando existe a satisfação da necessidade.

Percebe-se, pois, que a escola Neopatrimonialista se preocupa também com a postura huma-na frente aos eventos potenciais de movimentação patrimonial. A epistemologia defende que há uma íntima relação dos nos patrimoniais com os fenôme-nos causais. Entretanto, é necessário reconhecer que

Em contabilidade não é o co-mando, nem o gerenciamento que se estuda, mas, sim, o que esses fatores, como agentes que acionam a riqueza, em suas va-riáveis, podem determinar em alterações, como fenômenos pa-trimoniais. [...] O que preocupa a Contabilidade não é o que leva mentalmente o homem a tomar uma decisão, mas, sim, o que tal ato, como causa, produz fun-ções na riqueza. [...] A Adminis-tração se interessa pelo governo da célula social na qual está contido o patrimônio, sendo normal que muitos fenômenos patrimoniais sejam frutos de comando. (SÁ, 2008B, p.14-15)

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Portanto, não é o gerenciamen-to, nem as decisões, ou o governo da célula o objeto específico de estudos, mas o que destes importará na mo-vimentação da riqueza. Obviamente que um mesmo fenômeno deve ser estudado por óticas diferentes, a de-pender da disciplina que o observa, entretanto, não se pode negar que, analisar os fenômenos isoladamen-te, desconsiderando as influências do mundo exterior no qual ele está inserido, tenderá a uma verificação superficial ou equivocada a respeito de uma realidade.

As relações lógicas dimensio-nais, são aquelas que permitem identificar o que motivou deter-minado fato a acontecer, até onde teve alcance seus efeitos, o tempo em que ocorreu e o local.

Trata-se de uma perspecti-va funcional, sistemática e ho-lística. Funcional e sistemática porque avalia a utilidade de um bem em função de sua ne-cessidade; e holística porque os fenômenos que acontecem es-tão associados à totalidade do patrimônio, bem como ao meio em que este se insere, vez que a movimentação se dá a partir dos da ação dos agentes acio-nadores da riqueza (AZEITÃO e GAGO, 2007, p.17).

Os mesmos autores, reprodu-zindo a visão Neopatrimonialista

falam sobre os aspectos intrínse-cos das relações lógicas dimensio-nais, quais sejam:

• Causa: O que motivou a aqui-sição de um bem?

• Efeito: Qual o resultado desse ato?

• Tempo: Em que altura aconteceu?

• Espaço: Em que local? • Qualidade: Para que serve? • Quantidade: Que valor tem o

bem adquirido? (AZEITÃO e GAGO, 2007)

Segundo expressa Sá (1994, p.59), nas relações lógicas dimen-sionais, “É preciso que identifique-mos: Que necessidade era. Que meios foram usados. Como se uti-lizam, que quantidade se aplicou, quanto valia, onde tudo ocorreu, em que época, etc.”

Quanto às relações lógicas am-bientais, estas se relacionam com as forças que agem sobre o patri-mônio, forças estas que o Neopa-trimonialismo denomina agentes transformadores da riqueza. O ambiente diz respeito a tudo o que envolve o patrimônio da célula e que seja capaz de influenciá-lo.

As células sociais estão constan-temente sob influência de um com-plexo ambiente (ecologia, política, tecnologia, mercado, legislação,

pessoal diretivo, administração, etc.), que, por decorrência natural, influi também sobre o patrimônio, uma vez que este é parte consti-tutiva da célula. De tal forma, o patrimônio contido na célula não sofre unicamente com as variações das forças externas, mas também com as forças que agem dentro da própria célula. Essas forças são as relações entre o patrimônio e a forma como ele é conduzido in-ternamente, ou seja, o rumo que adota a partir das decisões que são tomadas dentro de um processo de adequação das variáveis.

Conforme citado anteriormen-te, para a epistemologia em es-tudo, a Contabilidade é a ciência que tem como objeto de estudo o patrimônio das células sociais, e essas células são as famílias, em-presas, instituições e outros ele-mentos que integram a sociedade.

É sabido que no corpo huma-no cada órgão tem sua função e que essas se desempenham cada qual em seu sistema, mas tam-bém há o organismo total, que detém todas as partes formando o todo. Também assim acontece com o patrimônio, pois é analisa-do em razão da célula social, analisa-dos seus diversos sistemas e de suas variadas funções.

Pode-se comparar a empresa inserida na comunidade à célula

A administração decide sobre a aquisição ou

aplicação de um meio patrimonial, que é a ferramenta

ou instrumento que deverá ser utilizado para iniciar a

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de um corpo, que recebe influên-cias e influencia o organismo na qual está contida. Se a célula for normal, ela é saudável. Se ela é anormal, é doente. Sabe-se que o corpo é formado por células diver-sas, e se todas as células do orga-nismo forem normais, o corpo será saudável (HERCKERT, 2008A).

Dessa analogia entre a Ciên-cia Contábil e o corpo humano originam-se os construtos lógicos dessa escola, entendidos como as bases de um novo caminho do pensamento e dos estudos e, por conseguinte, de uma nova forma de pesquisar, adotando-se rique-za patrimonial como fundamento para uma prosperidade a ser atin-gida pelas células, mas com pe-culiaridades de interação social e com uma forte preocupação com a sociedade.

Conforme enuncia Sá (2008C, p. 6-7), “o patrimônio se insere como matéria obrigatória e cons-titutiva da célula; esta só se jus-tifica em razão do ser humano e este como componente do mundo social, gerando, por abstração, em face de um somatório, também a ideia de um patrimônio social.”

É observável, portanto, a rela-ção da célula social com o ambien-te no qual ela se insere, de modo que é difícil conceber ricos resul-tados em análises de fenômenos se estes forem observados isola-damente, desconsiderando o am-biente no qual estejam inseridos.

Não se pode negar a interação entre tais

aconteci-mentos, mas, não se deve confun-dir objetos e nem aspectos de observa-ções. Seria tão absur-do afirmar que o estudo do patrimônio da célula social é sociológico, por ser

na célula que se insere a riqueza parte do social, como crer que a sociologia é uma ciência geográ-fica por que a sociedade humana se insere na terra, ou, então, uma ciência astronômica, por que o planeta terra se insere no cosmos. (SÁ, 2008B, p.2)

Pode-se admitir, portanto, que na visão Lopesiana não é imaginável uma célula que não possua riqueza como algo que nutre a sua própria existência, tampouco se justifica algo sem a presença do ser huma-no, nem se pode conceber uma so-ciedade sem a integração de suas partes, formando um conjunto.

A teoria Neopatrimonialista defende que a função da célula não deve ser unicamente suprir as suas necessidades individuais, mas também deve funcionar para atender às necessidades do mun-do social, o qual, fatalmente, aca-ba sendo influenciado por suas atividades, de modo que, quanto melhor for o benefício gerado a este entorno, tanto maior será a reciprocidade que deste receberá

no processo.

Observa-se, pois, a tendên-cia sociológica do Neopatrimo-nialismo quando defende que nenhum meio patrimonial se justifica sem que exista uma liga-ção com a necessidade humana, haja vista que foi essa própria que deu origem às células a partir da

família enquanto instituição, cujas bases são o escopo de

todo o processo de evolução social. Assim, por exemplo, se uma empre-sa utiliza, por meio de sua contabilidade, artifícios adver-sos para burlar a legislação fiscal com o intuito de pagar me-nos impostos, está cometendo não apenas o crime de evasão ou sonegação fiscal, mas está atentando contra o equilíbrio da própria sociedade, vez que os tributos que deixa de recolher têm uma destinação certa, e, portanto, algum tipo de benefí-cio social fatalmente deixará de ser prestado.

O Neopatrimonialismo reco-nhece que, quando o homem se desenvolve e se organiza para produzir riquezas, para qualquer fim que seja, denomina-se células sociais, e que estas estão contidas em um organismo maior, que é o mundo social. Dessa forma, per-cebe-se que a célula não deve ser percebida como algo isolado, mas, sim, como parte integrante de um universo de fatores agentes, com os quais vive em contínuo proces-so de interação.

Segundo Sá (2008C, p 15), “[...] quer dentro da célula social, quer fora dela, existem influências promotoras de fenômenos patri-moniais cuja conexão precisa ser reconhecida para que possa com-pletar o entendimento sobre a re-alidade das ocorrências.”

Conforme se pode observar, a escola Neopatrimonialista está abalizada em métodos rigorosa-mente epistemológicos e, dentro dessa dinâmica, são reconhecidos oito sistemas, distribuídos em três grandes grupos a saber:

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SISTEMAS BÁSICOS - os de im-portância fundamental, de natureza originária quanto à necessidade de circulação e vitalização funcional. 1- Liquidez: Pagar em dia,

man-tendo sanidade financeira. 2- Resultabilidade: Obter

resulta-dos compatíveis com a finali-dade da célula social 3- Economicidade: Manter

vita-lidade, ou seja, continuar a sobreviver com capacidade de movimento.

4- Estabilidade: Promover cons-tante equilíbrio ou harmonia de estrutura e movimento. SISTEMAS AUXILIARES - os de importância secundária quanto à necessidade de proteção e a de aprimoramento funcional. 5- Produtividade: Extrair dos

meios patrimoniais todo o proveito, evitando o desper-dício e cumprindo o escopo de eficiência.

6- Invulnerabilidade: Proteger a atividade contra os riscos. SISTEMAS COMPLEMENTA-RES - os de importância subsi-diária quanto à necessidade de adequação funcional.

7- Elasticidade:Manter dimensão compatível e conveniente 8- Socialidade:

Harmonizar-se funcionalmente com os meios agentes ou conti-nentes que movimentam o patrimônio, procurando valorizar-lhe as qualidades, como componente de um mundo social e ecológico. (Adaptado de ROCHA, 2004)

Tais sistemas são reconheci-dos como relevantes, autônomos e interdependentes, e seus com-ponentes são os meios patrimo-niais e as necessidades que estes devem suprir. Parte do princípio de que as funções, identificadas como sendo a utilização efetiva dos meios patrimoniais, aconte-cem em sistemas definidos, e que

estes são autônomos e concomi-tantes em suas movimentações.

Compreende que a interação sistemática é uma realidade e con-sidera a origem do fenômeno sob o aspecto das funções, reconhe-cendo que uma ocorrência sempre implica uma decorrência. Não con-tradiz a convenção científica, mas dela se utiliza e coloca a Contabi-lidade como responsável pelos es-tudos de fenômenos oriundos de outras áreas que sejam capazes de influir sobre a riqueza da célula e da sociedade.

A pressão do mundo exterior, no qual estão inseridas as células sociais, atingiu tal ponto que não é mais possível estudá-las como se fossem algo isolado. De uma forma ou de outra, o efeito dos mercados, da política, da sociedade e de ou-tros fatores externos fez surgir no-vas formas de observação e trata-mento cultural no campo contábil.

Sá (2002) explica que “todos os meios patrimoniais desempe-nham diversas funções específicas, de acordo com as múltiplas ne-cessidades que uma célula social possui” e que “as diversas neces-sidades geram diversas funções ao mesmo tempo.” E completa: “os sistemas de funções ocorrem to-dos ao mesmo tempo, mas são au-tônomos em seus desempenhos.” Considerar que a tendência é de fato o movimento, que a transformação é uma consequên-cia inevitável e que as forças am-bientais motoras são forças pro-venientes de entornos influentes são fatores de grande importân-cia para se realizar uma análise e para se desenvolver uma postura consciente sobre os acontecimen-tos ocorridos com o patrimônio das células sociais.

2.1. Eficácia permanente e

prosperidade social

A meta é a eficácia e esta só se opera quando os meios

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pa-trimoniais satisfazem à neces-sidade, e só é possível atingi--la com uma função eficaz, ou seja, com a utilização adequa-da dos meios patrimoniais, de maneira tal que seja alcançada a plena satisfação da necessi-dade. Percebe-se que a teoria das funções, que sustenta a doutrina Neopatrimonialista, busca em essência criar mode-los contábeis que permitam à célula social o alcance da eficá-cia patrimonial.

Admite-se, pois, que a eficá-cia é o fim natural para o qual se dirige o patrimônio, sendo o motivo principal de sua própria existência. Ela é o alvo que se persegue, mas só existe se a ne-cessidade for anulada.

Ao se suprirem as necessidades existentes, outras surgirão. Isso devido à estrutura patrimonial for-mada por meios, pessoas e objeti-vos. Portanto, é natural que haja uma disposição a constantes mo-vimentações. Logo, haverá sempre uma meta a ser alcançada para que ocorra a eficácia, de modo a excluir as diversas necessidades que forem surgindo. Assim, a efi-cácia faz pressupor a plena inten-sidade funcional.

Entende-se, pois, que a Con-tabilidade, na visão Neopatri-monialista, tem foco na obten-ção da eficácia patrimonial e defende que, quando todas as células sociais forem eficazes, a sociedade, por decorrência na-tural, também será. Compreen-de que só haverá a prosperidaCompreen-de absoluta quando for alcançada a integração entre o patrimônio da célula e o patrimônio coleti-vo. Portanto, se há movimenta-ções no patrimônio que estejam influindo na sua capacidade de gerar benefícios futuros, é

fun-ção da Contabilidade mensurar e buscar suas origens. É papel dessa ciência pensar nas con-sequências dos fatos contábeis para o organismo social.

Trata-se, pois, de uma premissa da teoria Lopesiana, na qual todo meio patrimonial existe para satis-fazer às necessidades das células sociais, e o cumprimento, ou não, de sua função acarretará, inevita-velmente, em eficácia ou ineficá-cia. Toda vez que um meio cumpre sua função, pode-se falar que uma necessidade foi suprida, e essa ne-cessidade suprida ou anulada se traduz em eficácia.

Apreende-se, então, que, se não for satisfeita à necessidade, será ineficaz o meio patrimonial. Por exemplo, é ineficaz uma má-quina adquirida com o propósito de produzir mais em menos tem-po, mas que, entretanto, houve um comprometimento financeiro tamanho com o pagamento do maquinário que não há disponi-bilidade financeira suficiente para comprar mais matéria-prima, dei-xando ociosa a máquina adquirida. A visão Neopatrimonialista de-monstra como nítida a relação en-tre os sistemas e as funções. Isso porque a interação entre os sis-temas é uma realidade e se torna preponderante para a produção da eficácia plena2 da célula social.

Admite, ainda, que toda ineficácia concorre para o declínio funcional da célula social, e que, quando esta for constante nos meios pa-trimoniais, poderá causar a degra-dação da capacidade funcional da empresa, podendo, inclusive, con-duzi-la à falência.

Considerando então que há um regime de interação forte en-tre os ambientes e que a célula re-cebe influências do entorno e a ele também influencia, a falência não

2 A eficácia plena resulta do somatório da eficácia de todos os sistemas, ou seja, quando todos os diversos sistemas conseguiram satisfazer às necessidades a eles pertinentes.

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abala somente a célula social, mas também a sociedade onde ela se insere. Portanto, se empregados, de um momento para outro, per-dem seus empregos, a comunida-de (entorno), comunida-de uma forma ou comunida-de outra, termina prejudicada. A em-presa, pois, como célula viva so-cial tem um papel a desempenhar, que não apenas o da lucratividade individual, e, portanto, sua mor-te acarreta desequilíbrios sociais (HERCKERT, 2008).

Para Iudícibus (2004, p.43), “A contabilidade tem sido vista como um mecanismo associado ao desenvolvimento da socieda-de quer seja atuando para justi-ficar ações de seus componentes ou para promover uma espécie de racionalidade econômica no âmbito das organizações.” Cor-roboram com esse entendimento Pires e Marques (2005, p. 19), quando afirmam que “precisa-se de modelos que possibilitem a melhoria social.”

A abordagem sociológica dessa doutrina fica evidenciada quando considera uma função específica no sistema comple-mentar para atendimento ao so-cial a função da soso-cialidade, que tem por finalidade suprir necessi-dades sociais da célula, influindo

beneficamente sobre os agentes endógenos e exógenos.

O sistema da socialidade tem foco nos estudos da circulação da riqueza da célula social para a riqueza do mundo social. Par-te do princípio de que a riqueza está contida em uma célula so-cial e esta se encontra inserida em um mundo exterior e, por consequência, aquilo que bene-ficia a célula também tende a be-neficiar o entorno.

Sá critica a utilização e a de-fesa da autonomia do que hoje se chama Contabilidade Social, contrapondo que, de melhor pureza doutrinária, é reconhe-cer que esta (Contabilidade So-cial) está contida em uma teoria geral, de uma função específica, de interação direta e indireta do patrimônio da célula social com a riqueza da sociedade humana. Assim ele expressa: ‘’O estudo do Sistema da Socialidade, pois, na realidade, como tal conce-bido, é um complemento na Teoria Geral do Conhecimento Contábil e, não, uma segmenta-ção de doutrina.”,

e completa “[...] em vez de se admitir a au-tonomia de

uma Contabilidade Social (SÁ, 2008B, p.38-39).

A teoria contábil da socialidade surge como um anexo ao sistema de funções patrimoniais, este que possui influência mútua com os demais sistemas e com os entornos da riqueza da célula, nascendo, a partir de então, um ponto de vista específico. Entretanto, não deve ser segmentado ou tratado como ma-téria independente.

Tal forma de compreensão se justifica, pois, ao tratar de forma in-dependente uma função que, quan-do observada isoladamente não pu-der se constituir num todo, então, ela é parte. Logo, se é a soma das partes que constitui o todo, este, sem uma parte, continuará a existir; entretanto, uma parte desvinculada do todo é ideia difícil de conceber.

À luz do Neopatrimonialismo, o que se aceita como objeto de estudos é a riqueza sob o foco da satisfação da necessidade, especialmente aquela constante e que seja capaz de aumentar a riqueza, gerando a prosperidade social. Quando a eficácia ocorre sempre, isso implica crescimen-to patrimonial constante. A esse

fenômeno a doutrina deno-minou de prosperidade (SÁ,

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Quando a soma da efi-cácia de todos os

patrimônios im-plicar na soma da eficácia de todas as células so-ciais, em regime de harmônica interação, isto implicará, logicamente, na eficácia social, o que equivale-rá à anulação das necessidades materiais da humanidade. (SÁ, 1992, p. 264)

A Contabilidade, sob o prisma Neopatrimonialista, é a ciência da riqueza da célula social e de-tém a responsabilidade de criar e aplicar modelos que conduzam à eficácia patrimonial, de modo que, quando todas as células sociais forem eficazes em suas funções e essa eficácia for cons-tante, será alcançada a prosperi-dade, não apenas do individual, mas do social, haja vista que as necessidades serão supridas.

Hilário Franco (1986, p. 181) corrobora com esse entendimen-to quando diz que, sob condições de uma interação perfeita e cons-tante entre todos os sistemas de funções patrimoniais, ocorrerá a prosperidade absoluta.

Esse deve ser o papel do con-tador moderno: um pesquisador integrado no processo de constru-ção científica que busca respos-tas norteadas pelo conhecimento científico da Contabilidade, foca-do na melhoria foca-do coletivo e que desempenha o papel de sujeito ativo, interferindo nos caminhos da ciência, mas também no rumo da própria sociedade.

Com esta cultura mais cien-tífica, os contadores podem in-fluenciar na construção de uma consciência política e social, que contribuirá para a evolução da cultura contábil, por meio de métodos capazes de amenizar os efeitos do conflito

distributi-vo, proporcionando uma melhor divisão dos benefícios para toda a sociedade.

A visão holística deve estar associada a uma interação com o social, pois a riqueza deve es-tar a serviço do homem de for-ma racional e ética, o que sugere respeito à vida do planeta (SÁ, 2002, p.16).

3. Considerações finais

O progresso da Contabilidade precisa caminhar na mesma dire-ção do progresso da humanidade, o que demanda um grande esfor-ço a ser guiado pelo pensamento filosófico. Essa visão filosófica é oferecida pelo Neopatrimonialis-mo, vez que defende a necessi-dade de pensar o conhecimento como forma de compreender o comportamento da riqueza diante dos agentes responsáveis por es-sas transformações.

Portanto, considerando que a verdadeira ciência é aquela ca-paz de trazer benefícios que con-tribuam à dignidade do ser hu-mano e proporcione à sociedade uma melhor qualidade de vida, é natural que enquanto ela estuda seu objeto principal, o patrimô-nio, sua atenção também esteja voltada para o homem, pois as variações que ocorrem em seu objeto decorrem a partir das ações desse sujeito.

A teoria Lopesiana de-fende que o objetivo da célula social não deve ser apenas o de favo-recer suas necessida-des individuais, mas, sim, que também funcione para proporcionar a melhoria daqueles que, interativamente, participam de seu entorno em uma movimentação na qual a célula influencia o entorno e o entorno influencia a célula

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nele inserida, em um constante intercâmbio entre o todo e as suas partes.

Compreende que só haverá a prosperidade absoluta quando for alcançada a integração entre o patrimônio da célula e o patri-mônio coletivo. Portanto, se há movimentações no patrimônio que estejam influindo na sua capacidade de gerar benefícios futuros, a Contabilidade, como ciência que estuda a riqueza, é a guardiã do patrimônio dos que ainda não nasceram, e detém sobre si a responsabilidade de

criar modelos de eficácia patri-monial de maneira tal que haja sustentabilidade, e que esta se estenda do patrimônio da célu-la para o patrimônio coletivo, subsidiando um equilíbrio cons-tante capaz de contribuir para o bem-estar e desenvolvimento da sociedade humana.

Com objetivo vivo de preen-cher as necessidades do homem, as expectativas para essa escola são bastante amplas, pois seu emprego busca em essência pro-mover a evolução científica da Contabilidade, com foco no

pa-trimônio das células sociais ob-servadas em função da eficácia e da prosperidade coletiva. Des-se modo, quando essas funções ocorrerem em sua plenitude, ou seja, quando todas as células so-ciais atingirem sua eficácia em regime de harmônica interação, proporcionando a anulação das necessidades, haverá uma circu-lação natural da prosperidade da célula para o organismo cole-tivo, o que conduzirá a um pro-gresso social competente para contribuir para a dignidade do ser humano.

O progresso da Contabilidade precisa caminhar

na mesma direção do progresso da humanidade, o

que demanda um grande esforço a ser guiado pelo

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