o
DESPOTISMO DESMASCARADO
ou
AVERDADE DENODADA DEDICADO
AO
Memorável dia 1/ de Jmuiro de 1821 ,
Em
que aProvinda doGrão-Pará deo principia A'REGENERAÇÃO DO BRAZIL OFFERECIDO
AO
SOBERANO CONGREÇO
D A
NAÇAÕ PORTUGUEZA
PELO
TATRIOTA PARAENSE
JOÃO FRANCISCO DE MADCREIRA PARA', Amanuence
daContadoria daJuntada
Fazen-da Nacional e Real daquella Provinda;
E
Nasddo
nasua Capital a12 deOutubro delT^T,E-ISBOA NO ANNO SEGUNDO DEPOIS DA CONSTITUIÇÃO NO BRAZIL.
A N^
ODE
182 2rSA
TYPgGaAPHIA
PEJ>ESIDER10 MAJR.aU£S LEÃO'SONETO D
A vil Lisonja incenso purulentoQueimar
não venho, Luso,em
teusaltares;Que
a decsintar teus dotes singulares Breve a vida seria, força, alento.D'admiração nas azas sempre attento
Vim com
pura intenção dos Pátrios Lares';Do
Pará modulando aos livres aresTeu
assombro, que doira o firmamento.O Céo
te dá, ]X)r seres venturoso,
Cortes, Constituição, e Liberdade;
G
Rei melhor por centro luminoso!Douro, e Tejo capa^ de heroicidade,.
Co
monarca dos rios portentoso^Te
jurão entre si fidelidade.A
2Diim
amavjero Nationem, el Geniemmeam^
Vivam
semper repletasgáudio.por aiTi^r a Naç^o, e a minha Geut©, yiverd satisfeito eternamezite.
l^-'^:i}il
-^^Q><>S^^^^
SENHOR
N A Idade presente áurea e Constitucional
em
que ouvindo-seaSagrada voz daLiberdade, já se permitte comonicarem os Cidadãos livres entre si as suas idéas, e poder-se destinguir a cândida verdade da mentira artificiosa(pois a- té agora só se permittia figurar-se esta por que a verdade não fazia conta) não he fora de pro- pósito expor aos olhos do Povo Portuguez, o Despotismo desmascarado, ou a Verdade deno- dada; e muito principalmente aos do Povo do Pará onde mais que
em
parte alguma o t* ne- broso Despotismo arvorou o pendão triumphalem
os hombros da servilidade, do temor, da i-gnorancia supersticiosa e fanática, mantidopor
huma
vil adolação toda egoista, queo seu prin- cipal cuidado sempre foi amortecer a mais de' purada Filosophia.O
Cândido amorque
desde o berço consa- grei á felicidade daminha
Nação, os esforços que sempre fiz quantome
foi possivel, parapo- der-lhe ser útil, tendo bebido este desejo na-m
[6]
quelles puros sentimentos, que caracterisão aos verdadeiros Portuguezes, edignos de tal nome:
Heroes! de
queo
Império Luzilano lie fecundís- simo, d'entre estes innumeraveis e verdadeiros Compatriotas, o mais infiuío Paraense que não he mais do quebuma
subtil particula de pó a- nimada; movidocom
a esperança de ver pre- henchidos e vereficadosmeus
desejos pelos pro- e-ressos da Pátria,me
forcei a tomar sobremeus
débeis hombros o arrojo, e árdua empre-sa de desmascarar o Despotismo, e denodar a Verdade, acção filha do prazer que sente ami- nha alma, appresentando sem emphases os sin-^
ceros sentimentos que
me
inundão,merecem
ter a indulgência,
em
vez de critica.Não
sen-do veridicamente aambição da gloria
nem
oin- teresse, o movei queme
dirigio a expor-me á instabelidade da sorte nas volúveis e procelosas va^^-as doinstável Elemento afim de prostrarme
"
á''àníe o supedaneo do Throno do Chefe da Na- ção. Mais sim o amor da Pátria e o zelo deCi- dadão amante do publico, estes são
sem
duvidaos fortes estimulos que
me
dirigem: o desejo que sempre tive de dar a todos osmeus Com-
patriotas Europeos e Americanos, os meios de poderem servir utilmente a seu paiz,epor con- seguinte a toda a
Nação
, e prestarem heroica-mente
o seu socorro para sua defeza; semme
lembrar que se divise o cunho dos talentos nes- tes primeiros ensaios de minhas débeis idéas;
agloria de imprimir os
meus
trémulos lábios namão
benéfica domeu
Soberano, ahonra detes- temunharomaisbem
intencionado Patriotismo, eis aqui os únicos títulos queme
animárãoaes- tataiéfa,mas
se não poderão conseguir minhatíii
luzes verem-se a par de
meus
desejos, g-enios haverão mais dignos de desempenhar as sabias e paternaes vistas, e as disposições benéficas deste tâo sábio
como
prudente Congresso.Chegou
emfim chara Pátria omomento
de vegetar oestimulo que despertou os teus Habi- tantesdosomno lí^targicoem
que jaziâo acabru- nhados pelo mais fero Despotismo, e dissipara languidez funesta, que agrilhoava todos os pin- cipios de fecundidade nos Estados, os mais fér- teis do Universo! ! ! O' Lizia.'Belém
oh Pá-tria! . .
aquém
deveis aprimeva áurea d@ teus dias? a teus Heroes somente.A
Energiacom
que se deve procuraro es- tabelecimento dehum bem
, de que até agoratemossidoprivados
, provão assasdequantacon- templação seja o
meu
projecto; inflamado pelas brilhantes luzesde que são dotados os escolhidos do povo; eafiançados pelos puros desejosdeque inundão seus cândidos corações de tiraraNação
da jazeda, da indiferença, da mornidão, e da tepidezem
que tem estado á séculos, nos sãobum
seguro penhor, quesem
o encadeamento de muitos aparecerá no Universocom
outra fa- ce muito maisbrilhante. Estasluzesquejácam-pem
nos horisontesdo argentadoTejoeDouro,são precursoras daextençao quedevem
terhum
dia.E
conhecendo eu não de lonje, mais muito de perto a intensão incircunscripta do coração do Chefe da Nação, quando se trata de adiantar os conhecimentos relativosacadahuma
dasclas- ses dos Cjdadãos, quando setrata de promover o seu
bem,
mostrando-lheoquanto lhe podeserútil. Praza aosCeos queeste
Supremo
Congres^so olhando atentamente para o Érazil
, que itíim
[8]
sido despoticamente assolado, hajadepromover para elle Academias quevãobanir costumestão precários, a sociedaíie moral e Civi!, afim de que aquella parte do novo
Mundo
progressiva- mente angmentada prospere; ecom
particiila^ridade a minha Província, que não sendo infe- rior ás outras, no seu clima que he o mais he^
nigno, sendo a Reg-ião mais bella do meio dia, onde
huma
Primavera continuada faz as delicias de seus Habitadores. Certoem
que esta reu- nião de Sábios assas lonje de sufocar, oucortar pela raiz todo, e qualquer procedimento nobre(como
se há praticado) não só bade crear, e auxiliar todas as Sciencias, Artes, e Manufa- cturas,como
promover a Agricultura, e todos os ramos tendentes a ella:Tendo em
vista que quando os Soberanos protejem as Letras, logo aparecem Sábios,ehe
desta sorte que na anti- gaRoma
, Augusto preparouhum
Século dou- rado; he assim que os Medicis íixavão na Itá- liaasSciencias queescapavão dasruinas daGré- cia;como também
Francisco primeiro, e Luiz decimo quarto realçarão os bellos dias da Fran- ça; e Inglaterra que á poucojazia no esqueci- mento, tendo nos já á muito o primeiro lugar na Europa, epenetrado Estados alem dosMa-
res nunca d'antes trilhados })or alguma das ou- tras Nações da Europa, avassalado Nações in- teiras, tributariado Monarchas puderosos, n'A-
frica, n'Azia, e n'America, eganhado napos- teridade o justo premio a pár dos maiores ho-
mens
cujos feitos immortaesenchem
os antigos fastos; hoje " potentada pela sua Industria a-i'' perfeiçoada pelo nosso descuido; ouantesnu- '^ trida pela ingratidão d'hum sem numero de
f
H
J Déspotas^ que espalhados pelos Continentes
^' Luzos, só cuidavâo
em
exasperar os Nacio- naes sufocando (odo e qualquer pensamento'^' nobre, não deixandotranspirarera publicona- da do que baviâo preparado sentimentos he- róicos, afim de
manterem
os povos na mais estúpida ig-norancia: tudoequalquer melhora- mento útil apenas vegetava era desarraigadoem
continenti, inda quebem
conhecião que os Portuffuezes erSo capazes,como
sempreo forão, de acções grandes, sempre lhes ne-
^^
gavao todo o mérito.
A
Industria sempre foi" olhada
como
indigna de suas attencões, pro-" seguindo-sesempre
hum
systema devastador;^^
em huma
palavra a cultura das Aries, e das^1 Sciencias era de propósito desprezada, e tu-
^* do concorria para involver na mizeria, eno
'' desgosto,
quem
podia viver na abundância^1
e no prazer, (dizendo-se até) que sóaFran-
'^' ça e Inglaterra bastavão para sortir-nos de
L'
paõ e^viveres, que as suas Fabricas nos ofíe- reciaõ todas as sortes demanufacturas, eob-
^^
jectos próprios para o nosso luxo, ao
mesmo
tempo que a nossa Industria aniquilada naõ era mais quehuma
serie deprejuizos, ouan- teshuma
mortelentadeseusmembros
;aomes-mo
tempo queos nossoscampossevem
reduzi-^* dos a baldios
, e nòs á extrema necessidade de mendigar aquilo deque podiamos ser pro- prietários;
como
naô hade a Inglaterra e as?; *^^If ^^^^^^ olhar-nos
como
seusfeudatarios?^^
se lhe damos a maior parte do nosso ouro por
^^
cousas de pouca monta; que taõ despropor-
^^
cionado, comoprecário
Commercio
I extermi- nem-se osDéspotas cauzadores detantos e taõB
[
10]
'' grandes males: ver-se-hásem duvidaa
Naçaô
'' erguer a sua cabeça sobranceira entre as ou-
'' trás, fixando nella os olhos
com
firmeza, os" immortaes Redemptores da Lusitânia,
bem
'^
como
os raios que nascendo docentro d'Ag-ri-'' cultura; tocaô a
mesma
circunferência do^'
Commercio em
differentespartes, eferem oalvo" de enriquecer a Naçaô. Parece-me
que
jádeviso suas contas saldadas , e emendados seus erros económicos cometidos á tantos Se-
'' culos! ! I ''
Lamentando em
silencio a tirania cios op- pressores da minha Pátria, contemplavacom
grande pezar emagoa
entranhavei que tinha de ver que jazião amortecidos tantos talentos de mérito superior,como
tantos escriptores fa-mosos
com
dissabor, e corridos de pejo por ve-rem
quimar-se nos altares da lisonja, insensos que sóa virtudedevem
ser consagrados; eain-da mais os compungia a dor de não poderem remediar tamanhos males, e funestos abusos
,
quando vião hir se o povo afazendo ao continua habito da excravidão , desordenando-se todas as molas da maquina de
huma
boa, e recta Justiça, consideravão naquellesmesmos
aquem
era facii pôr termo, ou pelo menos minorar se- milhantes infortúnios, que inemérilos enterra- vâo o punhal no ceio da Pátria agonizante, fi-
nalmente nunca sessavao de clamar que a In- dustria aniquilada, o
Commercio
ea Policia des- presada, a Agriculturaem
abandono, os Jui- zes torcendo as Leis, efazendo-as servir aseus caprichos, tudo requeria reforma completa, e mais que completa.[ 11 ]
As
Leis da Censuraem
extremo rigorosas, e forjadas para queaos Cidadãos não íbsse livre o pensar,nem
escrevercom huma bem
inten- dida, e moderada liberdade, tinhão quasi ex- tintoo gosto das Scienciasem
regiões, que ou- tr'ora hombrearãocom
as mais illustradas.Em
taes circunstancias os Portuguezes perderão a consideração que seu engenho, suas virtudes
,
e seu brio lhes grangeara"; o fanatismo apoiado pelos fauctores da intriga, e ignorância, ade- querio novas e abalizadas forças,
em huma
pa-lavra todas as desgraças cabião
com medonho
eborrivel impeío sobre'huma
Nação
n'outrasépo- cas tão florente.O
único recurso doshomens li-vres, éra o expatriar se, e
em
remotos climas bradarem fortemente a pró da independência,€ goso dos inherentes direitos aos Cidadãos , dos quaes ninguém os pode despojar.
De-
balde o intentaõ maquinações secretas , que pretendem ainda agrilhoar aNaçaõ
illuFtra-da ao carro do Despotismo. Fstá de acordo a opinião publica contra estas misteriosas tramas urdidas era jurado segredo contra a junta liber- dadedos povos:poderãc?estas coligaçõesformadas naobscuridade das trevasganharalgumavictoria instantânea;
mas
afinal toda a gravidadedomai
cahirá sobre acabeça deseus ambiciososemize-
ros Authores.
A Luz
já'he muita para o Exer- cito se deliberar a ser o instrumentoopressivo, daNação
a que pretence; prompto sim o vejo a debellar o vicio, a libertitiagem, e a irreli- gião: e atémesmo
desarraigar as mais leves particulas daquelle tenebroso sólio de ferro que o crime ergueu sobre a opressa innocencia, ao tirano Despotismo; tremei, tremei homens ve-B
212
íiaes, falidos de pondonor; que a LuzKania li-
vre/. .
Mas
que?. . . ondeme
eleva o caudi- úo zelo queme
anima!!! sim íitai os olhos na depurada essência da grande Athenas Luzita- na, neste Divino Congresso! cuja Sagrada reu- nião nos provão assas a Scientifica prudênciacom
que emcrizes taò arriscadas secondusiraõ;por
huma
parte sustentando- os direitos dehum Monarcha
justo e constitucional, poroutra con- duzindo ao equilibrio a Administração publica:
oh íilices, e sempre memoráveis acontecimen- tos, que inundando de prazer o
Mundo
antií^o levastes a felicidade ao novoMundo;
sim os Pays da Pátria vaõ progressivamentecom
seu fiaber sem limites, espargindo por todos osCon- tinentes Luzitanos luz taô copiosa, que aquel- Jes cálculos subteraneos involvidos nas sombras da noute naõpodem
já impedir, que sejaõ alu-miadosaté osninhos desses pássaros nocturnos, ou cuvis dessas manhosas rapozas que tanto te^
mem
a luz matutina.A
Preclara Bellem que nos fastos da His- toria do novoMundo
naõ he de certo estimadacomo
a mínima d'entre as ten"as das índiasOc-
cidentaes ; a uíinha preclara Pátria que por•excellencia de sua benigna atmosphera
, pela
sua brilhante localidade, extençaõ, fertilidade, e riqueza, taô dilkitada no vasto Império do
A-
mazoíias, nos oíferece nos trez Reinos daNa-
tureza, immensosproductos paranossoCommer-
cio.
Primo
^ jwrqueNaçaõ
alguma dasquetem
domínios nas terras solares ou d'entretropicas,teiii maiores comodidades
em
vastidão deterras.Secundo, pela grande aptidão, e disposição*
que estas jnesmas terras tem para toda a pro-
[ 13 J
ducçao espicieira ou aromaíica, assim Indige- jia ounatural,
como
exótica ouadvenlicia. Ea-tre as naturaes contaõ-se immen^as que uaõ re- lato temendo, Soberano Senhor, prolongando minhas refieções esgotar o Vosso sofrimento ; nao hetodavia feradepropósitocitaralgumasdas innumeraveis de que a maicr parte saõ desco- nhecidas pela sensível falta de observadores há- beis; a
quem
offerece a Natureza milhares de prodigios nunca assas admirados." Sendotoda*' a estençaõ das margens do opulento
Amaso-
^' nas,
como
de todos os seus ajentes vestidas" de soberbas Florestas ,das quaes offerece a
" fértil Natureza ao Agricultor
hum
Thezouro'' nas suas abundantes e preciosas madeiras
»
'^ que só capases de construcçaõ ha mais
de
^' quarenta espécies, alem de tantas capases
'* para muitos uzos, e
mesmo
para a tinturaria" ellas offerecem
, já nos seus lenhos clorantes
,
" já nos seus fructos, e
mesmo
nas suas folhas" eflores, cores que combinadas naõ seriaô in-
" feriores asda China, heaprovaa nossatintacor
" de violeta que decerto possue as qualidades
'' do
Carmim
na finilra, esteroxo o mais deli- cado, naô he mais que produção da curiosi-dade dos índios selváticos (daquelle mages- toso braço do Atlântico) que a fabricaô de certa casca depa'ojá
em
estado pútrido; que utilidade naõ tiraráhuma maõ
hábil destaar- vore ainda na posse dos sucos nutritivos? e que fructos naô tirará amesma maô
daquelíe manancial de renovos? Sendo tantas as van- tagens deque sepodem
utilizar, he para dis- sabor over-se que naõ obstante o ter-seja' passado dedous Séculos, ^lem dafeliz enua--
^7
t
H]
ca esquecida descobería do decantado
Ama-
zonas, ainda se riaô vêr
hama
maquina ruralbem
eoDSíruida,nem hum Engenho
de ser-mr
estabelecido; provindo daqui a devasta- ção taõ precária dos seus moveis nodesastro- so methodo dos seus fabricantes: porque tu«do vai a força de braços, por falta dos ins- trumentos que facilitaõ a Industria;
E
mes*-mo
a ordem que se segue no maneio daA-
gricultura, naõ sendo de
modo algum
vanta- josa pelo seu errado trilho na mal entendida lavoura que ao prezente estaõ praticando , erro que procede do mal fundado dezejo, de que saõ possuídos, o qual he, quererem os Ãgriculas tirar aomesmo
tempo d'hura scScampo
que cultivaõ trezouquatro novidades, acontecendo as mais das vezes naõ colherenihuma
só, e quando a colhem muito mal,])raza afeliz sorte que Vós oh Pays daPátria
chamando
aos verdadeiros conhecedores detal repartição façaes examinar os terrenos
,
e as novidades próprias acada
hum,
promul- gando Leis para que ao Agricultor naõ seja livre o cultivar mais dehum
só género, e este que seja próprio ao seu terreno; este o único methodo de conduzir a lavoura ao seu maior auge deperfeição, naõ selhespou- pando o conhecimento dos instrumentos e maquinas ruraes deiles desconhecidas, e a- propriadas ao Paiz, tendoem
vista que talmelhoramento
em
tal ramo naõ só diminuirá trez partes do trabalho,como
augmentará a proporção o seu rendimento pecuniário.^''* Das suas producções duplicadas aponta-
rei alguiuas capases de encher as dilatadas
[15]
"vistas de
hum
Lavrador perito. Saõ os gene-^' ros da primeira necessidade que se cultivao os seguintes, o Arros, a Maiiiva ou
Man-
dioca de que se fabrica a farinha, carimã
goma
&c. aCana
de que se fabrica o Assu- car, Aguardente,Mel,
Vinagre, e Rhoni ou Cachaça, o Café d'Arábia, o Pirarucu peixe que produzem as salgas do interiorem
tanta abundância que faz huraa parte dasus- tentação daminha Proviucia, diferentes cas- tas de Feijões, Favas, e Ervilhas de que não ha a necessária abundância porque ape- nas plantSo para o consumo de suas Cazas,
^' o Azeite d'ovos de Tartaruga, o Azeite do Boi marinho vulgarmente
chamado
Peixe Boi, o Azeite d'Andiroba que alem de ser bello para luz serve para muitos uzos porque hehum
azeite natural e nsío artificial , sendohum
género esle de tanta necessidade pare- ce o querem terminar como he de julgar, porque depropósito escolherão huina Arvore tao útilcomo
necessária pelo seu frucío, pa- ra delia fazerem lenhas para o consumo de toda a Província, já nas cozinhas, fornos, e atémesmo
a navegação exterior, estou cer- to que não obstante a prornpta vegetação domeu
Paiz, se continuarem na precarea de- vastação de tal ramo por expaço ^de alguns annos mais, não se alcançaráhum
pote de Azeite por vinte mil reis,como
tambein se verão obrigados a buscar, ou escolher dVn-tre as muitas, outra Arvore talvez de maior utihdade, para a desbasiar ou reduzir toda a sua familia vegetativa á cinzas, havendo tantas estéreis próprias [)ara tal consumo.
O
[ ic
]
Azeite de
Mamona
vulganiieiitechamado
de^^arrapato, do qual nao fazem os Lavradores sortimento
em
quanto «aodormem
as escu- ras, prova evidente que fdbricando~o todos ou pela maior parte, para se ajcançarhum
Irasco do dito azeite be necessário empenhos porque o nao há de venda, o Milho,
Taba-
co
defumo,
oAzeite de palmeira, vuIo-q Ba- caba, que supre admiravelmente o Azeite doce, Estopa, Breu, Azeite de Crocodillo vulg-o Jacaré, Aguardente deBeijií, o Néc-
tar ou
Mel
de Abelhas, vulgo mel de páo Cera vegetal &c. GénerosdoCommercio Na-
cional, o Algodão,
oCacáo,
Salça parrilha, o Índigo ou Anil que nascendo espontâneo quazi que he desprezado, a Seringa,Gua- nuba,páo
para tinta còr de cana, Sabão, Kezina, vulgo Jutay-seca, Garagiurú, tinta roxa cor de purpura, o Cravo equivocamen-te dito do
Maranhão chamado
ofructo daXi-lopia ouriçada ou lisa, ou Pindaíba, o Lou-
reiro
chamado
Pixori grosso, e miúdo, e to- dos os Loureiros, cujos fructos mais ou me- nos são especieiros, dehum
soave aroma, a Sementepreciosa,aOrelhana ou Urucii ,tinta vermelhadofinoÓleonativodeCupahiba,oGua~
ranà,
Sumahuma
ouplumavegetal,branca,e vermelha, Amarras, e Cabos de Piaçaba, a Murteira Girofe, ou Girofeiro aromático, vulgo Cravo da índia; entre as estranhas a- puntarei o LoureiroCinamomo
ou Caneleira de Ceilão, oAmomo, chamado
Gengibre,aCurcuma
ouGengibrede dourar,o tubodaCo-roiladoNictantes, arvoretriste,dieta AçafToei- ra^que
mda
hojeseconserva noHurtobutanico[ 17 ]
deS.Jozé;ofiuctodaPipereiranegTa;quefeliz-
menteseestácultivando nosviveirosdaNação, inda que sem aquelle assiiiu-o cuidadoquese lhe devia empregar para lhe dár o adianta- mento possível, assim
mesmo
tem dado asua cultura, como as dajá mencionadas Canella,
Cravo Girofe, e
Noz
moscada que principia afructificar, estas quatro espiciarias, n'huoi curto espaço de annosem
que se avivou a sua cultura, tem dado áNação
muitos con-tos de reis: se quatrocentos aquinhentos Gi- rofeiros que haveráõ, eoutras tantas Piperei- ras, não excedendo talvez de mil Canellei- ras, e mui poucas Moscadeiras, tem dado
tal rendimento? qual será elle quando a
Luz
da Nação estendendo os seus raios Ião pene- trantescomo
maviosos, faça alargar a sua cultura tanto ou dés vezes mais do que a da pequena Colonha de Cayena?Que
para ver-gonha nossa colhem milhares de arrobas; de- certo que entrará para o Thezonro Nacional
cem
vezes o quintuplo doprezente rendimen- to annual. Oxalá se intruduzão ainda, alem destas outras que nos faltão. Por que todas as Nações Coloniacs entretropicas, tem in- troduzido a sua culturacom
calor.Nós
pos- suímos vegetaes quasi innumeraveis, porem desconhecidos; Vegetaes nunca assas obser' vados poralgum perfeito conhecedor, que of-
ferecem a Fizica e a Quimica milhares de productos, perfeitamente férteis, já nos seus sucos nutrictivos, já nos seus fragantes aro-
mas, e balçamos tão finos, como delicados.
Hé
vezivel. Soberano Senhor, que o melho- ramento da Industria, aindamesmo
n'aquilaC
[ 18 J
" qije se representa ao primeiro golpe de vista
*^
como
couza de pouca monta, qurindo se pro-" funda o seu conhecimento, se acha ser smo-
" nimo da milhoria de
hum
Estado, da sua ri-" queza,edacomodidadedos seusHabitantes ^'
O
Reino Animai tão fértilcomo
intactonos seus productos naturaes e Indiginos , tanto mais pelo merecimento de sua importância ,como
pelo mais raro de seus entes; os quaes lonje de serem esviscerados por verdadeiros e liiaeraes amadores, jazem involtos e entranha- dos no mais espesso de seus Arbustos e mattas entrelaçadas, dilatadosCampos
,como
aprazí- veis margens,em
tanta abundância que escita alémesmo
aos Navegantes do interior, tanto do magestozo Riocomo
de seus agentes , a prestarem as suas débeis atenções, sim débeis, porque infelizmente a maior parte delles, ape- nas gosão do curto prazer de nutrirem a passa- geira vista, não conhecendonem
ao menos a privança deque são possuídos. Aii cara Pátria?praza a Providencia que estabelecidas
hum
diaAcademias
na tua Capital tenhâo osmeus
con- terrâneos capases de tudo, a felicidade de go- zar o prazer de se desenvolveremcom
meios tão eficazes, o gaz de que são dotados, o gé- nio imprehendedor dosmeus
honrados,como
hábeis Compatriotas (prova da grande afinida- de dehum com
outroEsmisferio) prehencherásem
duvida as sábias e paternaes vistas de V.Magestade;
empenhados pelo mais puro reco- nhecimento chegarão a ponto de não seremjá mais osmesmos
incipidos desgraçados involtos na tepidez dehuma
creação alheia da humani- dadeem
quj se olhavacomo
crime tudo aquilomm
[ 19 ]
que hoje be puro dever do Cidadão. EstoU cer- to Soberano Senhor qiie a vossa prompta pro- videncia já vai pôr a
meus
amados Compatrio- tas no g-ozo e prazer de se verem iiluminádos, e possuidores de todas aquelias Faculdades de que até agOra erão vedados , para que elles instruídos corrão a penetrar todo o Continente domeu
Paizbem como
a industriosa Abelha que voando de ramoem
ramo vai acareciando as í3ores para extrahir delias as liquidasdoçu- ras, assim elles a passos largos parecerão dis- putar a primazia a qual primeiro hade vencer as dificuldades, a fim de conseguir o fructo de suas incansáveis aplicações, assim elles se es- forçarão para levar a tal ponto a AgricuUura por meio de suas manufacturas, que não será então aquelle infeliz algodão de que apenas se fazem toscos e groceiros panos, por que elles passaráõ a fazer melhor uzo delle, tomando o exemplo da Xina no seu dorido, a delicadeza do pincel Itálico, e a eng;enhosa e astutama-
nipulação daFrança, assim elles levaráõ asAr- tes ao seu ultimo gráo de perfeição, e oCom-
ínercio ao seu maior explendor.
Elles
em
fim para que as suas deligenciaã fructifiquem, não só sobiráõ ao mais impinado das suas montanhas,como
incansáveis desce- rão ao mais abatido dos seus valles, penetra- rão os Sertões pelo interior do seu terreno, écomo
Filosophos o esvisceraráõ: desde o mais corpolento cedro, até ornais aviltadomusgo
;
desde omais soberbo Tigre manhosa Pantherá, não escapando
hum
só dos immensos quadrúpe- des,nem
o mais subtil dos Reptis, que não seja atentamente observado," vizitaráô osdeser-C
2t 20 J
tos, nialtos, covas, e moijta&, afim nao só de observíirem, desde a mais estéril terra, escel- lentes inarnes, até o mais precioso metal, co- B:o táobem exaniiriarem
huma
infinidade de so- brojantes creaturas, de incectcs, ou bixos pe- quenos, Aquelles que movendo asbrandasazas, descobremhumas
feiçôes-zinhas delicadas e re- gulares, ornadas das mais soberbas librés do estio, e de signaes de ouro purpura azul, e si-nopla. Estes, que arrastando-se lentamente, Furcão o
campo:
não são as menores produ(;ôes da Natureza. Alguns daespécie dasSerpentes, no ccmprimento e na corpolencia maravilhosos, levantãocom
as azas a tortuora anca.E
ames-ma
formiga, económica, cujo corpo tão pe- quenocomo
he, encerrahum
grande coração, e a sua republica, reunidaem
tribus populares, faz o modelo dajusta igualdade. Elles atraves- sando os campos passarão as suas illimitaveis praias, coujo dilatadas margens onde o ovo, animado pelo calor sefende felizmente, e mos-tra aodia ascrias ainda tenras enúas; asquaes logo guarnecidas de pennas, eazas, abrem-as, e tomando ousado voo, desprezão a terra, e a cobrem
como
dehuma
nuvem.Onde
a soberbaÁguia,
o Gavião real, eoutras semilhantes fa-zem
os seus ninhos sobre as rochas, e coroas dos cedros. Alguns que espalhados tocão ligei-ramente o campo. Outros que por
hum
instinto niaravilhozo se adianlão juntosem
duas filas,cuja frente se estreita: e regendo por cima dos mares, e das terras as suas aéreas cravanas, vôâo as nuvens, e se
mudão
alternativamente para aliviar o seu vôo, he desta sorte que as prudentesAi
aras dirigem cada anno as suas[21
]viagens, levadas pelos ventos: o ár ílucíua a sua passagem, e cede aos esforços de suos in-
numeraveis pennas.
As
mais pequenas aves, que esvoaçando de ram^oem
ramo, alegrão os mattos,com
os seus gorgeos: estendem as a- zas pintada?!, até que a noute lhes anuncie a retirada. Outros, que sobre os argênteos lagos e rios banhão a garganta coberta dehuma
ten- rapenugem: A
Garça,com
o pescoço arquea- do, levantando as brancas azas, á maneira de manto real, leva a vanteo seu magestozo cor- po.A
liza Marreca aquem
os pés lhe servem de remo: deixa algumas vezes as aguas, e le-vantando-se sobre as suas azas possantes, fen- de a região media do ar. Outros marchão
com
passo firme sobre a terra: tal he oGaJloda ser^
ra, esse animal ornado de
huma
soberba chris- ta, cuja vòz de clarim soa as horas do scilen- cio; est'outro, que tudoenchem
de ufamia os seus^ olhos estrellados, e os brilhantes matizes do arco íris, que o corão. Todos serào objec- tos dos seus exames, e das suas analyses. Co-
mo
Filosophos saberão dár valor a sublimidade donome
Portuguez.O
rico e opulentoAmazonas
o qual se pode desvanecer não haver outro Paiz que hombreecom
elle no seu Reino Mineral, e que aprezente mais profuzão na sua riqueza, já nos seus ricos e ineisauriveis mineraes de que se não aproveitao os seus habitantes , por desconhecerem os seus immensos uzos, já nas suas brilhantes e finas pedras, precio- sos metaes e firmes diamantes, já nos seus saes, e diferentes marnes, o vidro nativo co-mo
sime-metaes &c. âs áureas minas eiiser-[22
]radas nas entranhas da terra parecem anun- ciar
com
impaciência a fertilidade das suas impoiadas veias coiu repetidos estampidos ss- milíiantes aos do Trovão, o Caminhante que por acazo chega ámargem
das suas escabro- sas e cavadas Cachoeiras a fnn de metigar a ardente sede lhe he permettido penetrarcom
a vista no christalino dassuas aguas,
huma
e muitas palhetas do metal que tanto agrada e deslumbra ohomem
, ettas que envoltascom
asargentinas areias mostrãoo seubrilhoquan- do susubrantes brincão,deseixinho,
em
seixi- nho,como
fugitivas da mais veloz corrente que a arrancou do ceio incógnito da aurifera'' mina; ha tantas provas viziveis sendo
huma
" delias a mina denominada de Piricáu noCai-
^' té proximamente descoberta, da qual reme-
'' teo á Corte
huma
amostra, no tempo do seu" Governo, o Excellentissimo
Conde
de Vila^' Fior.^'
O
vasto Arr.azonas, cujo largo rio, divide as suas claras e puras aguasem hum
sem nu' mero de braços, que dao mil gyros por todo o Continente, e tornando-seem
fim a unir for-mão
soberbas Cascatas, ou impinadas Cachoei- ras, d'onde se despenhaoem
grossos borbotôeá nos rios aqueficãoimminentes, osseusarroios,que descendo
com
suave mormurio pelo longo das serras se lançaoem
diversos canaes, ou se ajuntaoem
tanques cuja superfície aprezenta o seu espelho de christal, a verdura das ribeiras coroadas de lacre e myrtho.Os
seus estreitos, lagos, enseiádas, e as bahias, cheias dehuma
multidão de peixes, que guarnecidos de barba- tanas, e escarnas luzentes, fendem as brancas
tut
[23
Jaguas, e se adiantao sem
medo
até o meio do Oceano. ííuns solitários, e outroscom
seus se- milhantes pastão a erva domar
, e pâsseião en- tre as cauaranas.Humas
vezes brincão tocan- do subtilmente a superfície das aguas, outras vezes mostrão ao Sol os seus dourados, emu-
dáveis vestidos.
Huns
nas suas conchas de pé- rola esperão ao seucómodo hum
nutrimento e sustento liquido.O
Boi marinho, curvado sal-ta ligeiramente sobre ojunco da planície sere- na.
O
escamoso Crocodillo, e os mais anfíbios, já no mar, já na terra fazem o seu giro. Entre tanto as tépidas cavernas, lagoas, e praias fa-zem
desovar as suas ninhadas numerosas."
Não
intentarei descrever aqui avastidão" de terreno que os rios cortão
com
os seus*' multiplicados braços, e que facilitão aNave- gação interior, antes espiicára se possivei fo- ra,,
como
^^^x^t^ sobre a areiaowmri^ c* «ivjict devic ouroi^iAiKj, OS argenta-'^ dos arroios
, que nascendo de tantas fontes de christal vão subrojando
em
torno das arvo- res, e rolão as suas ondas de néctar, vizi- tando cada planta, para nutrirem flores dig- nas de serem perfeitamente examinadas.A
arte subtil gosta de ser circuní^pecta
com
o que he bello: gosta de fabricar leitos e re- partimentos curiosos:mas
a Natureza no vasto Continente doAmasonas
tem prodiga- lizado bellezas sem conto, sobre os montes e valles. Esfão assuas riquezas espalhadascom
profuzão pelo
Campo,
que o Sol aquenta li-vremente
com
osscus raios: e nesses bosques espessos, quehuma
sombra impenetráveltãoameno
constituo duranteo ardor do dia.A-
queJle terreno fértil onde cresse tudo quan-
m
[24]
to pode lizonjear a vista, o olfato, eogopfo, produs arvoredos sem numero, cujas Arvo-
res ricas,
humas
produsem a odorífera bau- nilha, Outras distihio o fino Umirí e os mais preciosos balçamos. Por toda a parte se vera arvores que carregadas a todo o tempo deflores e luzentes fructos adornão todo o cir- cuito Paraense, desde a parte do Oriente a- íé a do Occidento, e da do Poente até á da Aurora.
O
ouro das suas cores misturadocom huma
infinidade de bellos matizes, en*canta o Sol, que parece ter muito mais pra- zer
em
espraiar osseus raios sobre asfloridaií superfícies deJlas, do queem
pintar-se a simesmo
nas nuvens de liuma beiia tarde, oucm
variar as cores do Ins.As
incultas e sel- váticas montas que são gobremonladas por magníficos bosques de cedros , páo santo, meraquatiara, ançelim, e palmeiras, cujos ramos entrelaçados, bunscom
os outros, a- presentãu avistahuma
deliciosa prespecliva.Entre as arvores encontrào-se, já o ligeiro cervo que recioso desce ás serranias encanta- das, para hir beber nos arroios que coruío a foz jflorida dos valles, já osmansos rebanhos
,
que se adiantão pelos rizonhos espaços pas- tando a tenra herva; os animaes selváticos sao vistos huns
em
bando, outros aos pares, e até solitários.As
aves formando melodioso coro, e os Zéfiros trazendo consigo os perfu' mes dos campos e bosquesmurmurao
])oren- tre as folhas leveniente postasem
movimen-to,
em
quanto (5^) Pan, dançando porassim( * )
Pan
Deus naturoe.[2ã
]^' dizer
com
as Graças, ecom
as Horas, iras'' após d(? si por toda a parle
huma
eterna Pri-'^ mavera. ''
Oh
charaPalria, tuqueésbanhada peload- mirávelAmazonas
, pelo digno Soberano dos Rios;com
que prazer, correria eu a tua vasta circunferência? sehum
dcs duplicadosraiosque nascem das brilhantes luzes que animão estaAugusta
Assembléa, reverberá-se sobre-mim,
e inflamando o
meu
coração comoiúcá-se a mi- nha alma, luz própria deste depurado fóco que dimanou do ceioaLuza
Athenas; quemomen-
to felizJ seria aquelle?
em
que eu já substan- ciaanimada fizessehuma
leve sombra das par- tículas innumeraveis de que secompõem
esteineisgotavel manancial de Sciencias, este tlie-
zouro inapreciável! ! ! Então seria eu capas de tomaro gosto dos teus adornos, todo o teuCon- tinente
me
serviria deazilo, osminimos daquel-les bens
com
que a Natureza te fertiliza,me
serião muito agradáveis, feliz de
mim!
quando intrépidopenetrasse osteus montes,valles, rios,mattas
, planícies, Ilhas, mares, quando des- cesse as dilatadas costas coroadas de florestas
,
para examinar as rochas
, grutas, e cavernas.
Quanto
mais observá-se os teus admiráveis ob- jectes, tanto mais aprazer-me-hia interiormen- te; tal he a força domeu
espirito quandome
consagro ao serviço da minha Nação.
Não
he vaidadenem
o querer-me inculcar utíl aosmeus
amados Compatriotas, he sim o amor da Pátria, e o dezejo que sempre tivede dezempenhar as obrigações Sagradas que qua-lificão ao verdadeiro Cidadão, pelos talentosda virtude
,
quem me
traz a apprezentar nas mãosD
í r 26 ]
benéficas dos que
com
admiração de todaaEu-
ropa fazemagloria,daNação
queregem,
estas minhas primeiras observações patrióticascom
o que tenho adequerido de conhecimentos,sem
olhar para a mesquinhesa delles, e paraagran- desa de V.
Magestade
aquem
offereço.Ames- ma mão
poderosa queme
pode erguer donada,
e
me
appresentar á face de toda aNação
e domundo
todo,como hum
Cidadão útil, ehum
fiel súbdito, queira dar-lhe aquella grandeza, e importância, que a condignifique
com
a suaAugusta
presença. Permitão os Ceos, que eu possa gozar dafelicidade deexprimir por obras, quanto por palavras agora não exprimo da sen- siblidade domeu
coração.27
=^^{!)^>^^^
O
Espirito Santo aquem
couza nenhutiica hedesconhecida, despedi
huma
sentelha do vosso amor: sobre omeu
débil coração para que se torne honesto, e puro, instrui-me; Vós que já éreis desde o principio, e qual brancapomba
,
abristes as vossas poderosas azas para dispor a vida ás vossas producções ainda inanimadas, estendendo-vos sobre o vasto abismo o fizestes fecundo. Esclarecei as minhas idéas obtusas
,
nutri o
meu
espirito enfraquecidocom hum
raioda vossa presciência, edai alentos á minhafra- ca voz: queeu quero denodandoaverdade dian- te dos reprezentantes da Nação, desmascarar©
Despotismo, para que não continue a oppor as trevas do erro á luz da verdade.
"
He
taloestado lastimosoem
queseacha-" va a Província do Pará, que para não trans-
'' gredir avereda da virtude,
me
he forçosoao" menos esboçar asconsequências da Despótica
" Administração precedente. '^
"
Os
Agriculas que devião ser olhados co-"
mo
moveis denecessária duração érãooprimi-'' dos 110 seu tudo, por
huma
parte, estorquin-'' do-se a
hum
pai que débil já não podia sus-''' tentar o pezo dos duplicados Janeiros aquel-
'' le filho que fazia toda a sua fortuna, e que
'- tinha a seus hombros o maneio do pobre Ca-
^' zal, apobre viuva rodeada depequenas filhas
- Orfãas, e que não tinha mais que
hum
filho,D
2[ 28 ]
^' este que as amparava, lhe era tirado ficando
" tantas victimas expostas à intemperança do
" tempo para pereceremánecessidade, ou pros-
" tituirem se (que inhumanidadtíefaita de Re-
^' ligião) por outra parte oprimidos
com
as du-^' piicadas contribuições que havião ser pagas
'-' inialivelmente arisca, chegando os Dizimei-
" ros pela sua parte a avaliarem os
Campos
e^' não as prortucções que são íaliveis, ou por
^'
huma
repentinamudança
das Estações, ou'' pela falta de braços, o que acontece ordina-
'-' riamente aos Lavradores pouco opulentos, a
^'
quem
os mencionados Dizimeiroscom
a com-'' placencia dos Juizes depois de fazerem adita
^' avaliação arbitraria vão pegando
em
ferra-^' mentas, armas, e no que encontrão, talvez
^' para que osLavradores opressos por este mo-
'* do não tornem a lavrar
Campos
que não pro-" duzão aquellas novidades que nellessesamia-
" rfo, ou antes para saberem melhor conhecer
^' as
mudanças
do tempo.He
de necessidade" mostrar oque se pratica
com
aquelles pobres*' Ligeiros que estão cituados por todo o con-
^' tinente; os
Commándantes
dos destrictos,pela" maior parte, á sombra do Serviço Nacional
^' os
mandão
buscar para os seusem
titulo de^' deligencia conservando-os a trabalhar parasi
" dous, três, e quatro mezes, e no fim deste
^' tempo despedem-os5 eestá a deligenciafeita
;
'' o maior
numero
dos Juizes por outro lado ou^' por fas ou por nefas não praticâo o contrario;
" pobres dos Ligeiros que proferirem
huma
só'' palavra queixando-se deste procedimento, o
" menos que lhes custa he
huma
roda de páo,^^ quandonão sãodepois distoprezos
em
troncosgglglll
r 29
]
de cattipanlia, e Aiithoados remetidos para a
Cadèa
da Capital onde vão jazerimmenso
tempo primeiro que selivrem; O' tempo des- graçado! pois ouve-seareprezentação dehum
Juiz da veDtena,ou de
hum
meroComman-
danterque ambos Déspotas fazem e praticão o que querem, oprimindocomo bem
Jhes pa- rece aos quetem
a desdita de estar debaixo do seu férreo jugo? e não se hade ouvir ao menos aos moradores de mais credito sobre os factos, para que combinando as destescom
as d'aquelles
, proceder
com
Justiça? e não deixara entradafranca a aquellesDivans, que das suas vontades tirão causascom
aquella gravidade que lhes he mister! pois elles ado- ptâo aqueila fraze que dizem
quanto o páo vaievem
folgão as costas,em
quanto aquel- les mizeraveis sejustiíicâo vãojazendo captu- rados, e elles nutrindo a sua vingança.Os
que não podendo sofrer a opressão a que sevem
sugeitos trabalhando de dia, epescando de noute para se sustentarem por que oman- timento que alguns dão não he soficiente pa- ra suster os alentos vitaes, e obrigados da necessidade desertão, miseráveisdelles quan- do aparecem, que não lhes acontece menos.Tem
de talmodo
amedrentado os Déspotas aos ditos Ligeiros, que inda não há muito tempo quehum
certoCommandante
no Rio do Mujii fez sorrar ahum homem
livre, ahum
morador, cujo logo que pôde fugío para a Capital a hir queixar-se, porem aquelle Déspota
Commandante mandou
atrazporter- ceira pessoa dizerao referido Cidadão,quese elle queria deixar de existirprocedesse con^[ 30 ]
tra elle
Commandante
por que ohavia cie su- mir; o miserável assim amedrentado, e te-mendo
riâo ser ciivido, pelo exemplo queha- via de não serem atendidos osopressos deRio Negro, eMacapá,
cujos queixumes e repre- seníaçôes nao lhes fci dealgema utilidadepor que os mizeraveis órfãos fòrão continuar asof-freraaquelles últimos Governadores tanto da- quella Provincia do Rio-Negro,
como
desta Cidadella deMacapá;
por que era naquelletempo
não se atreveoaqueixar-se esò cuidouem
curar-se daschagas querecebeo amarrado ahum
troncocomo hum
agressor, atentado que foi vizivelatodaa gente da fabrica do di- to Rio onde foipraticado,como
constanteaos moradores domesmo
destricto.O
que eunão posso levar abem
hé, os taes Dizimeiros con- servarem os ditos índios, Mestiços, ou Li- geiros, dous, trez mezes quando não he mais no seu serviçojá nas canoas de cobrança, emesmo em
suas Gazas,eno
fim deste tempo despidirem-os, as mais das vezes sem radical pagamento, edahiahum mez
ou quinzedias que por lá vão querem queospobres morado- res que não tiverão tempo para roçarhumá
braça deterreno por que estiverão no seuser- viço, ou no do
Gommandante
que os obrigou a largar o roçado quando apenas havião prin- cij)iadoamesquinha colheta por falta de mon- da a tempo, não lhes valendo os seus clamo- res, ficandoapequena colheta porefectuar-sé exposLa a todas as pragas , a nada atendeni e querem ser pagos dos Dizimos fazendo vio- lências aosmizeraveis que não temde queco»mer
mormente de que pagar Dizimos n'hu-HM
'[ 31 ]
ma
palavra chegão-Ihes aaprezar o própriofa- to quando não achãooutra couza! não ademi- ra ser a Província do Fará a iinica que paga Dizimo do Dizimo, quando fazem aos seus Habitantes pagar Dizimes do que não existe.Só Vós Senhor podeis milhorar asorte daquel- les desgraçados que dispersos pelos mais in- trincados dosseus bosques, vastas campinas,, e
mesmo
no recôncavo de suas Cazas onde não lhes valendo o direito de propriedade, parecem dezejar ocultar-se aos Déspotas n'a- quellas espessas florestas que impenetráveis aos raios do Sol fazem a noute de perpetua duração, eahi aindasenaô julgariaõ seguros, naõ só das violências já expostascomo
dos contínuos recrutamentos, cujas victimas ou saõ immoladas nas aras da Eternidade,como
condenadas a servirem toda a vida, porque
ser Soldado na minha Provincia he o
mesmo
que ser Frade professo, ouespulços do servi- ço quando curvados dos annos, ou impossi- blitados por alguma outra causa, e depois disto as mais das vezes naõ contentes doser- viço que ellesjá tem feito pregãocom
osque inda sepodem
mover nas Millicias que naõsei se lhes
chame
Millicias,por que ainda a guerra naõ andava pelo Norte, e já os JMilli- cianos jaziaõ debaixo d'Armasem
serviço vi-vo, montando guardas, e fazendo rondas no- cturnas diariamente, provindo daqui muiías desgraças, e robôs,
como
foi a morte atroz dehum Menino
caixeirodehuma
lojademer-
ciaria na
Rua
d'Alfama, por estar deguarda seu patraõ o qual infelizmente voltando para Caza depois de rendidas ajs guardas achou a[ 32
sua porta fechada fora do costume, eporque batendo não lha abrião, entrou pela Caza do vizinho iminediáto para arrombar a porta do quintala qual achou aberta, voltou sobressal- tado a buscar algumas pessoas para testemu- nharemasua desgraça por que sejulgavarou- bado, e o caixeiro fugido, porem qual foi a sua sorpreza quando abrindo a porta da rua vio a Caza toda salpicada de sang^ue, julgou logo do resultado, involto era lagrimas não
^'^sabia decidir-se, os
queoacompanhão
porem,dão
com
o desgraçado Minino, victima datirania morto debaixo do balcão, tirão no para fora e achão
hum
mártir innocente, o corpo todo coberto de facadas, o pescoço de- golado até as guéllas, os dedos todos lanha- dos, e não satisfeita a barbaramão
que ofe-" rio indâ lhe meteo
hum
chuço de ferro por" baixo do queixo que thesahio na nuca, etaí-
" vez
com
orror damesma
maldade o esconde'' para a parte de dentro do balcão debaixo de
^' liuns paneiros de farinha, onde foi achado
j
" he tão certo pois , que foivisivel aconcorren-
" cia do povo; fez se corpo de delicto, e pro-
" cedendo-se a devassa sahio pronunciado o a-
'' gressor,
com
provas tão evidentes que ate"" inda restituio parte dodinheiro raptado, que
" tinha enterrado n'hum quintal, cujo reomor-
^' reo impune
com hum
crime tão execrandof" por mais que trabalhou o referido patrão co-
"
mo
parte mais forte nãofoipossivel obtersen-" tença contra o dito reo; não adimira isto por
'' que era naquelle tempo
em
que só se senten-" ciavão innocentes. ''
Como
bàstarião os maisacoíitecimentos para se aliviarao^ Milliciano»