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O papel social das incubadoras de empresas de Belo Horizonte: um estudo de caso MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

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Academic year: 2018

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Silvana Alves da Silva

O papel social das incubadoras de empresas de Belo Horizonte: um estudo de caso

MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

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Silvana Alves da Silva

O papel social das incubadoras de empresas de Belo Horizonte: um estudo de caso

MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais, sob a orientação da Prof.(a), Doutora Noêmia Lazzareschi.

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Página Linha/Nota Onde se lê Deve ler-se

14 27 pretendo fazer Fiz

15 12 2000 1998, mas a primeira empresa foi incubada em 2000.

40 26 invevitavelmente inevitavelmente

64 30 medida à medida

84 Nota 36 existem existiam

105 9 È É

110 22 é proposto foi proposto

110 22 é fazer foi fazer

151 20 Engenharia de

Computação Nada, pois o curso é mencionado na linha 23

157 25 a Tecla essa empresa

164 12 Engenharia em

Mecânica Engenharia Mecânica

165 27 Tipo de

incubadora no Natureza da incubadora na

165 28 tipo natureza

166 2 um tipo de uma

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...

...

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Neste trabalho, intitulado “O papel social das incubadoras de empresas de Belo Horizonte: um estudo de caso”, a autora, Silvana Alves da Silva, pretendeu analisar as representações simbólicas das incubadoras de empresas – especialmente as de base tecnológica –, relativas ao papel social por elas desempenhado, ao viabilizarem novas formas de obtenção de trabalho e renda e novos empreendimentos baseados no desenvolvimento tecnológico e em suas implicações. Para atender o objetivo, foi realizado um estudo de caso da Nascente, incubadora de empresas do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG).

O desenvolvimento deste estudo justificou-se pelo fato de a pesquisadora acreditar ser relevante a contribuição do sistema de incubação para o desenvolvimento econômico e social do País, principalmente em um momento em que as mudanças no mundo do trabalho têm trazido sérias consequências.

A hipótese condutora deste estudo foi a seguinte: as incubadoras de empresas de base tecnológica impactam positivamente cada vez mais a sociedade, abarcando iniciativas privadas e públicas, tanto no que diz respeito à promoção de novas possibilidades de um desenvolvimento profissional autônomo, via empreendedorismo, quanto no que diz respeito ao desenvolvimento tecnológico como gerador de novos postos de trabalho e renda.

A Sociologia do Trabalho forneceu os principais subsídios teóricos para a compreensão das transformações das formas de organização do processo de trabalho e de suas consequências sociais. As análises das Ciências Sociais levaram a pesquisadora, cuja formação de base efetivou-se nas Ciências Administrativas, a refletir sobre a necessidade de se encontrar outras saídas para a obtenção de trabalho e renda e sobre o lugar destinado ao desenvolvimento tecnológico na sociedade contemporânea.

Como resultado deste trabalho, concluiu-se que há muito a melhorar no sistema de incubação brasileiro, a fim de que se torne efetiva a função social para a qual esse sistema tem potencial. Sem desconsiderar os resultados positivos já obtidos pela Nascente, pode-se afirmar que a contribuição das incubadoras de empresas, dado o potencial social que demonstram ter, ainda não é muito significativa. Elas ainda necessitam ser reconhecidas como o espaço ideal e, é claro, estar realmente preparadas para auxiliarem no desenvolvimento de soluções que poderão se tornar produtos ou processos de relevância econômica e social.

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In this study, entitled “The social role of business incubators in Belo Horizonte: a case study”, the author, Silvana Alves da Silva, intended to analyze the symbolic representations of business incubators - especially technology based - on the social role played by them, to permit new ways of getting work, income and new ventures based on technological development and its implications. To achieve the goal, it was realized a case study of the Nascente, business incubator of the Federal Center for Technological Education of Minas Gerais (CEFET-MG).

The development of this study was justified because the researcher believes that the contribution of the incubation system for the economic and social development of the country is relevant, especially in a time when the changing in the world of work has brought serious consequences.

The hypothesis guiding this study was: the business incubators of technology-based impact positively the society, covering private and public initiatives, both as regards the promotion of new possibilities for developing a self employment through entrepreneurship, as regard to technological development as a generator of new jobs and income.

The Sociology of Labor provided the main theoretical basis for understanding the transformations of forms of organization of the work process and its social consequences. The analysis of the Social Sciences led the researcher, whose basic training was accomplished in Administrative Sciences, to reflect on the need of finding other ways of obtaining employment and income and about the specific place determined for the technological development in contemporary society.

As a result of this work, it was concluded that there is much to improve in the incubation system in Brazil, so that the social function for which this system has potential becomes effective. Without ignoring the positive results already achieved by the Nascente, it can be affirmed that the contribution of business incubators, taking into consideration the social potential that they seem to have is still not very significant. They still need to be recognized as the ideal space and, of course, be really prepared to assist in the developing solutions that could become products or processes of social and economic relevance.

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CAPÍTULO I – AS TRANSFORMAÇÕES DO MUNDO DO TRABALHO E A

RELEVÂNCIA ECONÔMICO-SOCIAL DAS INCUBADORAS...19

1.1. A Era de Ouro e o sucesso do taylorismo/fordismo...22

1.1.1. As características do mundo do trabalho nas organizações tayloristas/fordistas...22

1.1.2. O contexto político-econômico do período taylorismo/fordismo...26

1.1.2.1. A Divisão internacional do trabalho e suas consequências...31

1.2. A crise mundial e o esgotamento do fordismo...33

1.2.1. A globalização e suas consequências...33

1.2.2. As razões da crise da economia...36

1.2.2.1. No mundo...36

1.2.2.2. No Brasil...40

1.3. A reestruturação produtiva do final do século XX e a nova sociedade...41

1.4. Novos modelos organizacionais correspondentes às necessidades advindas da Sociedade Pós-Industrial...44

1.5. O inevitável aumento do desemprego...49

1.6. O declínio do trabalho assalariado e o surgimento de novas relações de trabalho...58

1.6.1. Qualificação versusdesqualificação da força de trabalho e de suas relações...59

1.6.2. Responsabilidade transposta para a força de trabalho?...60

1.6.2.1. Formação de um novo perfil de trabalhadores...61

1.6.3. Novas relações de trabalho: incentivos e tendências...66

1.7. O que esperar do mundo do trabalho na Sociedade Pós-Industrial?... 69

CAPÍTULO II – A GÊNESE DAS INCUBADORAS DE EMPRESAS... 71

2.1. Histórico da implantação das incubadoras...71

2.1.1. No mundo...71

2.1.2. No Brasil...73

2.1.2.1. A atuação da ANPROTEC ...80

2.1.3. Em Minas Gerais...86

CAPÍTULO III - CARACTERIZAÇÃO DAS INCUBADORAS DE EMPRESAS...93

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3.4. Desempenho do sistema de incubação...108

CAPÍTULO IV- SISTEMA DE INCUBAÇÃO E SUAS CORRELAÇÕES...111

4.1. Empreendedorismo ...114

4.1.1. Empreendedorismo tradicional e empreendedorismo social...122

4.2. Desenvolvimento tecnológico...125

4.3. Principais incentivos públicos ao empreendedorismo e ao desenvolvimento tecnológico...133

CAPÍTULO V – ANÁLISE DOS DADOS DO ESTUDO DA NASCENTE...142

5.1. A Nascente, a Educação Profissional e o CEFET-MG...143

5.2. Procedimentos metodológicos...152

5.3. Apresentação dos entrevistados...153

5.4. As entrevistas...165

CAPÍTULO VI – CONSIDERAÇÕES FINAIS...230

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...237

APÊNDICES...245

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O PROBLEMA

Foram significativas as transformações no mundo do trabalho a partir da segunda metade do século XX, influenciadas, sobretudo, pelas mudanças econômicas, políticas culturais, ideológicas, sociais e pelos avanços tecnológicos, ocorridos na Modernidade e na Pós-Modernidade. No entanto, é de se considerar que também as transformações nas formas de organização do processo de produção e prestação de serviços, ou seja, no mundo do trabalho, exerceram influência em todas as esferas da sociedade.

Em virtude das mudanças ocorridas a partir da reestruturação produtiva, os trabalhadores têm buscado opção à falta de perspectivas de inclusão e da inércia condicionante das forças do mercado. Os resultados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) demonstram que, nos últimos doze meses - novembro de 2008 a novembro de 2009 -, a taxa de desemprego total variou de 13% para 13,2% no conjunto das seis regiões pesquisadas - Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte, São Paulo, Distrito Federal e Recife.

Em uma sociedade capitalista não pode haver pleno emprego, no entanto, a taxa de desemprego no Brasil tem se mostrado um fato social patológico.

Segundo prognósticos, o século XXI será o século do fim dos empregos e do surgimento de novas e precárias relações de trabalho, sobretudo, pela nova lógica empresarial, cujo fundamento é a diminuição dos custos de produção com a utilização de uma sofisticada tecnologia e uma verdadeira revolução nas técnicas de gerenciamento do processo de trabalho, técnicas essas que intensificam a atividade dos trabalhadores ainda necessários e reduzem, consideravelmente, os níveis de contratação de novos. Os novos investimentos tendem a ser intensivos em bens de capital e, por isso, não são geradores de grande número de postos de trabalho, como nas organizações tayloristas/fordistas.

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As incubadoras são reconhecidas como uma das responsáveis pela transferência de tecnologia de universidades e centros de pesquisa para a sociedade. O amparo ao empreendedor e a transferência de tecnologia, atividades próprias das incubadoras de base tecnológica, fazem delas um canal que a universidade abre na sua relação com a sociedade.

Outra questão, afim ao sistema de incubação, que tenho acompanhado, está relacionada ao apoio aos inventores independentes, que são um dos públicos alvos das incubadoras de base tecnológica, seja na incubação de seus empreendimentos ou no desenvolvimento de tecnologias a serem transferidas para empresas que desejam levar adiante uma ideia, produto ou serviço inovador.

Minha pesquisa está no contexto da discussão acadêmica sobre a necessidade de se subsidiar outras possibilidades de obtenção de trabalho e renda. Problematizo, então: dadas as transformações que vêm ocorrendo ao longo do tempo nos processos de trabalho, serão as incubadoras de empresas, sobretudo, as de base tecnológica, capazes de viabilizarem novas formas de obtenção de trabalho e renda e novos empreendimentos e prepararem parcelas de trabalhadores para o trabalho autônomo? Para conseguir subsídios que possam responder a essa questão, será explorado, nesta pesquisa, o papel social das incubadoras de base tecnológica.

Pretendo fazer, no eixo articulador deste trabalho, a combinação da problemática da tendência de diminuição do número de empregos com uma das possíveis saídas para obtenção de trabalho e renda e seu papel social, com o fim de identificar caminhos e propostas mobilizadoras para manifestações e ações concretas da sociedade civil em busca de sua autonomia.

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Justificativa

Durante meu processo de graduação em Administração de Empresas, na Pontícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), pude perceber a importância das empresas de pequeno e médio porte no cenário econômico brasileiro que se consolidava. Ainda que a taxa de falência das empresas recém-fundadas desmotivasse os empreendedores, instituições como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) já apoiavam aqueles que encaravam o empreendedorismo como uma possibilidade viável. Em um tópico especial do curso, foram-me apresentadas as incubadoras de empresas como uma alternativa a mais de incentivo aos empreendedores, sobretudo, os que se dedicassem à prática de inovação tecnológica, tão carente no Brasil. Desde então, tenho buscado entender esse tipo de empreendimento, e mais, indagar sobre seu real impacto social. Recentemente, ao ingressar no quadro de servidores do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), busquei acompanhar o trabalho realizado na Nascente, incubadora de empresas desta instituição, acreditando ser relevante a contribuição do sistema de incubação para o desenvolvimento econômico e social do País.

Ressalto ainda que o curso de Administração conscientizou-me de que profundas mudanças estavam acontecendo no mundo empresarial, principalmente, após o processo de reestruturação produtiva. No entanto, não me conduziu ao conhecimento das implicações advindas de todas essas mudanças que impactaram a vida dos trabalhadores. Por influência das discussões possibilitadas na Sociologia do Trabalho, passei a refletir sobre a necessidade de se pensar outras saídas para obtenção de trabalho e renda e sobre o lugar destinado ao desenvolvimento tecnológico na sociedade contemporânea.

Entre os quadros teórico-metodológicos disponíveis, o da Sociologia do Trabalho forneceu os principais subsídios teóricos para a compreensão das transformações das formas de organização do processo de trabalho e de suas consequências sociais. A posição adotada é de que o momento exige a desconstrução teórica da noção de trabalho, criada e imaginada na Sociedade Industrial, pois a riqueza em uma sociedade capitalista é produzida não somente pelos empregados, que representam o mercado formal de trabalho, mas também, pelas pessoas que são produtoras de riqueza no mercado informal de trabalho e pelos que trabalham em cooperativas.

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desenvolvimento científico e tecnológico aumente constantemente a produtividade do trabalho e, por isso, reduza o número de postos de trabalho, sempre haverá trabalho, pois os homens, além de serem seres de necessidades, são eternos criadores de novas e infinitas necessidades, cuja satisfação dependerá do trabalho criativo e não necessariamente do emprego.

Precisam-se incentivar outras possibilidades de obtenção de trabalho e renda, dada a nova lógica organizacional da produção e da prestação de serviços que já se encontra instalada, fundamentada na introdução das tecnologias da informação e de novas tecnologias de gerenciamento do processo de trabalho. A revisão bibliográfica realizada compara, contrasta e discute diversas posições diante do tema.

Os estudos anteriores definem as incubadoras de empresas como mecanismos que têm viabilizado o desenvolvimento econômico e social de um país a fim de inseri-lo na nova conjuntura mundial, por meio da transformação de ideias e conhecimentos em produtos e serviços. Foram sinalizadas mudanças culturais no País e a percepção, dentro da academia, da importância de se garantir um suporte à criação de novos postos de trabalho, renda e tributos, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social da nação. Trabalhos demonstram a relevância das incubadoras, mormente, quando elas buscam a inovação, direcionando o país para o desenvolvimento econômico e social1. A pesquisa pretendida busca explorar as percepções dos envolvidos no sistema de incubação para além dos aspectos políticos, gerenciais, operacionais e financeiros. Pretende-se, justamente, sinalizar seus aspectos sociais.

O Instituto Euvaldo Lodi e o Sebrae-MG2retrataram o desempenho das incubadoras e das empresas incubadas em Minas Gerais, com o objetivo de subsidiar ações para superar os desafios e transformá-los em catalisadores de mudanças. Constataram, em 2002, que o Estado já se posicionava como referência nacional na indução do desenvolvimento tecnológico regional, especialmente com contribuição das incubadoras de base tecnológica. O relatório confirmou a importância das parcerias como ferramentas de modernização tecnológica e de indução ao crescimento socioeconômico. Também no Brasil a motivação inicial para a criação das incubadoras foi de natureza econômica e social, visando à geração de emprego e renda e o desempenho econômico. As instituições que realizaram esse estudo certificaram-se da

1

Um dos trabalhos que tratam dessas questões é o de Carlos Frederico Souza Avelino: “Incubadoras de Empresas: uma forma viável para o desenvolvimento econômico e social de um país” (1999).

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necessidade de estruturação de outros indicadores de desempenho. Pretende-se que este trabalho contribua, justamente, com questões acerca do impacto social gerado pelas incubadoras, podendo-se, a partir delas, subsidiar a criação de outros indicadores de desempenho, diferentes dos que priorizam somente os aspectos financeiros, de eficiência, de produtividade e de custos.

O perfil, a história, os objetivos principais motivadores da implantação, as características, os fatores determinantes de sucesso, os critérios de avaliação, o impacto econômico e outras questões relacionadas às incubadoras têm sido, de certa forma, mencionados em vários trabalhos acadêmicos3. Indaga-se, nesta pesquisa, sobre a percepção dos envolvidos acerca do potencial social desse tipo de empreendimento. É um aspecto de difícil mensuração, no entanto, é de relevante importância para se avaliar o desempenho das incubadoras.

Em outro trabalho, realizado em 20044, discorreu-se sobre a interação entre universidades e empresas, ressaltando-se que tal interação não ocorria de forma satisfatória. De um lado, os investidores não reconheciam projetos garantidores de retorno do capital; de outro, na academia não havia recursos suficientes para o incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento de tecnologias. Em decorrência da ausência dessa interação, historicamente, muito do conhecimento gerado no Brasil não alcançou o sistema produtivo. As incubadoras de empresas de base tecnológica e os parques tecnológicos foram pensados tendo como um de seus fins o de minimizar essa distância. Pensando na perspectiva de se subsidiar uma maior interação entre universidades, centros de pesquisa e demais instituições de ensino com a sociedade é que este trabalho foi elaborado.

Além de tentar preencher as lacunas apresentadas, sobretudo porque o movimento de incubadoras no Brasil é ainda recente, este estudo justifica-se por outras questões de cunho pessoal. Após minha imersão no contexto estudado, quando passei a acompanhar o trabalho realizado pela Nascente, pude perceber a magnitude do papel social a ser desempenhado pelas incubadoras, o que me motivou para a realização deste trabalho.

Em face da proporção dos esforços em incluir as incubadoras como possibilidades viáveis diante do crescente desemprego, do precário desenvolvimento tecnológico do País e

3

Um exemplo é a Monografia apresentada, na UFMG, por Cristiane Barbosa, em 2003.

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dos resultados até então obtidos quanto ao seu impacto social, torna-se importante a produção de conhecimentos que orientem as práticas e políticas públicas direcionadas às incubadoras de empresas, em especial, às de base tecnológica.

A relevância do estudo é fundamentada também pelos investimentos públicos – seja na esfera Federal, Estadual e Municipal – nas instituições de ensino, com o fim de promover o desenvolvimento local e regional, através de uma educação adequada à nova realidade do desenvolvimento econômico, social e tecnológico. É interessante ressaltar, ainda, que esta pesquisa está sendo incentivada pelo CEFET/MG, mediante seu programa de apoio à qualificação de seus servidores. A aludida instituição é um centro federal de educação tecnológica, referência em Minas Gerais e, por isso, torna-se interessante diagnosticar e compartilhar suas experiências relativas ao sistema de incubação.

Esta pesquisa pretende subsidiar, especialmente: o trabalho dos docentes do CEFET/MG; os discentes – já que precisam encontrar alternativa de trabalho e renda e aspiram a oportunidades de aplicar os conhecimentos adquiridos no curso; o corpo administrativo – no papel de concretizar a missão da instituição; e a sociedade como um todo – para a qual os investimentos públicos devem ser revertidos, na forma de benefícios acessíveis a todos, sem distinção.

Por fim, a ciência brasileira tem uma árdua missão, que é a de modernizar o País e melhorar a vida da população. Para que essa missão efetive-se, de maneira plena, é necessário fazer dialogar o desenvolvimento científico e tecnológico com as Ciências Sociais. Proponho, por isso, dar destaque à relação entre tecnologia e sociedade.

Metodologia

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acesso facilitado por contato pessoal prévio. A seleção deu-se julgando que, por meio desse caso único, as várias proposições que se apresentam para o tema possam servir de referência para a compreensão das demais incubadoras mineiras e nacionais.

O CEFET-MG é uma instituição federal que desenvolve programas nas áreas de educação profissional técnica de nível médio, graduação, pós-graduação lato sensu e pós-graduação strictu sensu. Em 2007, quando foi elaborado o último relatório de autoavaliação institucional, possuía cerca de catorze mil alunos matriculados, 828 professores e 62 cursos, somando todos os seus campi. Tem como finalidade e missão desenvolver o ensino técnico e

tecnológico articulado à educação geral, a fim de preparar o trabalhador para o exercício profissional, de modo a posicionar-se de forma crítica e consciente perante as mudanças do mundo do trabalho e da tecnologia. A Nascente, incubadora de empresas do CEFET-MG, foi criada em 2000.

Almejo, por meio dessa estratégia de pesquisa, contribuir com o conhecimento existente acerca do fenômeno “incubadora de empresas”, além de outros fenômenos a esse relacionados, considerando que os estudos de caso, embora sejam metodologias com certos limites, servem de base para explanações e generalizações significativas. Os estudos de caso são generalizáveis a proposições teóricas, e não a universos ou populações. Portanto, o estudo de caso, componente desta pesquisa, pretende expandir e generalizar teorias (generalização analítica), e não enumerar frequências (generalização estatística), como explica Yin (2005), ou seja, não pretende representar uma amostragem.

A fim de testar a hipótese com confiabilidade e de explorar em profundidade a atuação das incubadoras é que foi feito o estudo de caso, apropriando-se, especialmente, dos históricos e significados atribuídos às suas ações. Foram realizadas 21 entrevistas semi-estruturadas e análises documentais. As entrevistas tiveram o intuito de explorar o espectro de opiniões, as diferentes representações sobre as incubadoras, os diversos pontos de vista e, sobretudo, os caminhos já percorridos e as propostas de trabalho para o futuro. Os documentos foram registros escritos, tais como sítios, folhetos, periódicos e demais publicações.

O organograma do CEFET-MG, no que se refere à vinculação da Nascente, pode ser assim simplificado: Diretor-Geral → Vice-Diretora → Chefe de Gabinete → Diretor de Extensão e Desenvolvimento Comunitário → Nascente. Foi entrevistado o Diretor de Extensão e Desenvolvimento Comunitário.

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pela Nascente até 2009 –, o atual coordenador, o gestor da incubadora, nove empresas/projetos pré-incubados, incubados ou graduados, quatro professores-coordenadores de cursos superiores e quatro estudantes de graduação dos últimos períodos, todos do CEFET-MG.

O Diretor de Extensão e Desenvolvimento Comunitário tem como principais atribuições supervisionar e coordenar a execução das atividades de extensão e desenvolvimento comunitário no âmbito do CEFET-MG, cabendo-lhe, para esse fim, implementar as deliberações dos Órgãos Colegiados Superiores e do Conselho de Extensão e Desenvolvimento Comunitário. Do Diretor de Extensão, busquei informações relativas ao seu nível de conhecimento e interação às questões ligadas ao sistema de incubação, especialmente, referentes ao CEFET-MG e ao papel social da Nascente.

As principais atribuições do coordenador podem ser assim descritas: estabelecer um elo entre os objetivos da instituição na qual está inserida a incubadora e suas ações, coordenar o processo de seleção dos empreendimentos a serem incubados, traçar as políticas de trabalho a serem seguidas pelos envolvidos no processo de incubação, criar e fortalecer parcerias com os órgãos fomentadores e apoiadores do sistema de incubação e com os núcleos de inovação tecnológica, entre outras. Dos coordenadores da Nascente, busquei respostas, especialmente, às seguintes questões: experiência com o sistema de incubação, finalidade das incubadoras, papel social das incubadoras, dificuldades na execução do trabalho, identificação dos projetos a serem apoiados, critérios de seleção dos projetos, resultados alcançados, apoio da instituição mantenedora e do Governo, apoio às empresas ex-incubadas e divulgação do trabalho da incubadora.

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Das empresas incubadas, almejei respostas relacionadas, principalmente, às motivações que as levaram a ingressar na Nascente, ao apoio efetivo recebido acerca das questões tecnológicas, gerenciais e financeiras, à parceria entre a academia e a empresa, à interação entre empresas incubadas, à satisfação com a Nascente e à geração de postos de trabalho, novas tecnologias e registros de patente. Dos professores-coordenadores de cursos de graduação e dos estudantes, pretendi saber o nível de conhecimento sobre o sistema de incubação, empreendedorismo e desenvolvimento tecnológico, assim como sobre a relação existente entre empresa-academia-sociedade, além de obter informações relacionadas às intervenções dos professores para a solução de problemas pontuais vivenciados pelas empresas incubadas.

Por meio das entrevistas, encontrei possíveis respostas a várias indagações que me levaram a construir a problemática e a hipótese desta dissertação. Embora não sejam as questões centrais da pesquisa, as indagações a seguir me auxiliaram na análise. Seriam a postura e a qualificação profissional dos sujeitos envolvidos, assim como o apoio dos centros de pesquisa e universidades, fatores decisivos para o sucesso das incubadoras? As incubadoras são acessíveis aos pertencentes dos diversos grupos sociais? O caminho a ser percorrido por um projeto até a sua aceitação na incubadora é pautado por normas claras e de fácil inteligibilidade, ou é burocrático a ponto de desestimular quem pretende concorrer? Os serviços prestados pelas incubadoras são amplamente divulgados para a comunidade externa às universidades e aos centros de pesquisa? A incubação de empreendimentos é incentivada nos cursos mantidos pelas universidades? Várias outras questões têm surgido ao analisar diversas fontes de evidências, tais como: documentos, artigos, textos e outros impressos, que tratam do papel social das incubadoras de empresas, o que constitui a minha unidade de análise.

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Objetivos

Não pretendi, neste trabalho, simplesmente explicar o fenômeno “incubadoras de empresas” a partir da definição de sua utilidade, do papel que desempenham ou da necessidade social que satisfazem. A Sociologia, bem mais que qualquer outra ciência, ensina-nos que é necessário analisar, a partir do estudo das representações dos sinais e de suas evidências, os fenômenos sociais, correlacionando-os com a vida social como um todo.

Meu objetivo geral foi analisar as representações simbólicas das incubadoras de empresas, especialmente as de base tecnológica, no que tange ao papel social desempenhado por elas, ao viabilizarem novas formas de obtenção de trabalho e renda e novos empreendimentos baseados no desenvolvimento tecnológico e em suas implicações. Os objetivos específicos perpassaram pelas seguintes questões:

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CAPÍTULO I – AS TRANSFORMAÇÕES DO MUNDO DO TRABALHO E A RELEVÂNCIA ECONÔMICO-SOCIAL DAS INCUBADORAS

Para se compreender a importância das incubadoras de empresas, principalmente as de base tecnológica, é preciso entender que o século XX foi marcado pela predominância, durante sete décadas, do taylorismo/fordismo, como forma de organização do processo de trabalho. A partir da década de 1960, no entanto, começaram as dificuldades econômicas, advindas, acima de tudo, da crise de consumo provocada pela multinacionalização do capital, responsável por uma nova divisão internacional do trabalho e pelo acirramento da competição nos mercados de bens industrializados. O resultado inevitável dessa crise foi uma verdadeira revolução nas formas de organização do processo de trabalho para enfrentar a nova realidade da economia mundial.

Os trabalhadores das organizações tayloristas/fordistas não necessitavam ser qualificados, ou seja, não precisavam obter formação profissional nos bancos escolares; porém, o taylorismo/fordismo esgotou-se por produzir, numa época de ingresso de novos competidores, quantidades de um mesmo produto muito além da necessidade real de consumo. Esses competidores procuravam ganhar mercado não só com a redução dos custos de produção, mas também com a elevação dos níveis de qualidade dos produtos e, principalmente, com inovação tanto de produtos quanto de processos, graças à aplicação de novas tecnologias e novas técnicas de gerenciamento do trabalho.

A competição entre as empresas acirrou-se, levando à intensificação do processo de globalização, não só financeira e comercial, mas também de produção e de consumo. Karl Marx, em O Manifesto Comunista5, publicado em 1848, portanto antes de O Capital (1867), já previa a intensificação do processo de internacionalização dos mercados e do capitalismo, hoje denominado processo de globalização:

A necessidade de um mercado constantemente em expansão impele a burguesia a invadir todo o globo. Necessita estabelecer-se em toda parte, explorar em toda parte, criar vínculos em toda parte. Por meio de sua exploração do mercado mundial, a burguesia deu um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países, (p. 97).

Configura-se, portanto, uma verdadeira revolução nas organizações, nos sistemas de produção e de consumo, exigindo dos trabalhadores uma elevação da qualificação profissional, o que justifica as primeiras iniciativas de implantação de incubadoras de

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empresas de base tecnológica. Estas objetivam, especialmente, a qualificação de novos profissionais. Constituem-se numa importante, pois eficaz, alternativa para o desenvolvimento da inovação tecnológica e para o surgimento de novos produtos, razão pela qual estão, em sua grande maioria, vinculadas, principalmente, aos centros de educação tecnológica e às universidades estaduais e federais.

É fato que a questão do desemprego é, em grande parte, determinada pela conjuntura econômica, nacional e internacional, sobretudo nos países emergentes – como o Brasil, cujo mercado interno sempre foi muito incipiente –, tornando-os dependentes da capacidade de competição nos mercados internacionais de commodities e de bens industrializados com pouco valor agregado, além de serem dependentes de tecnologia sofisticada. Por isso, esses países só podem enfrentar os desafios da acirrada competição se tiverem profissionais competentes no mercado de trabalho e, fundamentalmente, se investirem vultosos capitais em pesquisa científica e tecnológica.

Quanto à formação profissional, historicamente, no Brasil, uma parcela considerável da população manteve-se sempre à margem do mercado formal de trabalho. Isso não só devido à insuficiência de capitais nacionais e à transferência de tecnologia poupadora de força de trabalho pelas empresas multinacionais, mas também por falta de empregabilidade, pois o País ainda não erradicou definitivamente o analfabetismo e ainda não solucionou o problema da baixa qualidade do ensino fundamental e técnico, a qual é responsável pelo analfabetismo funcional. Daí os elevados índices de trabalhadores no mercado informal de trabalho e, ao mesmo tempo, a necessidade de programas de proteção social para garantir a sobrevivência de milhões de brasileiros.

Como ilustração da realidade do mercado de trabalho no Brasil, basta citar os números fornecidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI): mais de 15 milhões de trabalhadores terão de ser treinados nos próximos cinco anos, para ingressar nos setores tais como construção civil, alimentos e bebidas, vestuário, produtos de metal, máquinas e equipamentos. Outro dado relevante é que o crescimento econômico previsto para 2010 está entre 5% e 6%, o que exigirá força de trabalho qualificada6. Portanto, é fato a escassez de trabalhadores qualificados até para os setores mais tradicionais da economia, um indicador expressivo da falta de qualificação profissional para os setores tecnologicamente mais sofisticados e para o empreendedorismo de oportunidades. Exemplo disso é o fato de que

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grandes empresas deparam-se com a escassez de profissionais adequados às suas vagas, embora, algumas delas façam exigências muito além do necessário para o desempenho do trabalho. A montadora Ford precisa contratar engenheiros e não consegue; a Google não encontra profissionais que preencham os requisitos básicos das vagas, o que justifica a necessidade de se empreender melhorias nos sistema de formação profissional.

As incubadoras de empresas, juntamente com outras iniciativas, como o Sistema S7, o Plano Nacional e Setorial de Qualificação (Planseq) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), as escolas técnicas, entre outros, são, por isso, relevantes. São importantes por contribuírem para o processo de elevação da qualidade educacional e profissional, por estreitarem as relações universidade-empresa-sociedade e incentivarem o empreendedorismo, num mundo marcado pela redução crescente de postos de trabalho de baixa qualidade, isto é, postos de trabalho tayloristas/fordistas, e de aumento crescente da utilização das tecnologias de base microeletrônica, que exigem novos e muito sofisticados atributos do trabalhador, tais como, raciocínio lógico, plasticidade mental para responder de muitas maneiras possíveis aos sinais emitidos pelas máquinas, iniciativa, criatividade, espírito crítico.

Neste mundo marcado por desemprego, crises conjunturais nacionais e internacionais, modernização tecnológica e administrativa, o resultado é sempre uma desorganização do mercado de trabalho. Em função disso, os trabalhadores precisam estar preparados para assumirem outras formas de obtenção de trabalho e renda, diferentes do mercado formal de trabalho, como por exemplo, o empreendedorismo. Por isso, as incubadoras de empresas ensinam os trabalhadores a libertarem-se do emprego formal e a desenvolverem uma mentalidade empreendedora.

O Brasil, assim como toda a América Latina, marcados por altas taxas de desemprego, obrigaram os menos privilegiados – e são milhões deles em todo o continente, quase 50% da População Economicamente Ativa (PEA) – a tornarem-se empreendedores, como única possibilidade de sobrevivência. E assim surgiram as mais diferentes atividades no mercado informal de trabalho, atividades sem relevância para a promoção do crescimento econômico e, portanto, para o desenvolvimento social. Trata-se do empreendedorismo de sobrevivência,

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muito diferente daquele pretendido com as incubadoras de empresas de base tecnológica, qual seja, o empreendedorismo de oportunidades e inovador, expressão dos tempos atuais que requerem atualização constante de conhecimentos, ousadia e competência, em outras palavras, que requerem espírito empreendedor.

Parte da população ainda vive de programas sociais (como o Bolsa Família), por insuficiência de capital, por falta de qualificação profissional ou por falta de emprego. Outra parte é empreendedora de subsistência, tais como os vendedores ambulantes e camelôs. No entanto, o empreendedorismo hoje tem um novo significado. Devido às novas tecnologias, de empreendedorismo de subsistência passou a significar empreendedorismo inteligente. As incubadoras de empresas de base tecnológica expressam o significado novo que se pretende dar ao empreendedorismo.

É necessário um empreendedorismo que seja mais condizente com a realidade da sociedade capitalista atual, que exige competência e capacidade de competição. Os participantes de sistemas de incubação de base tecnológica são empreendedores diferentes, modernos, que querem inovar e, acima de tudo, cientes de que no mundo hodierno as empresas, para permanecerem no mercado, necessitam ser extremamente competitivas e inovadoras de produtos e processos.

Adiante, será dado o suporte teórico para compreensão das mudanças ocorridas na sociedade capitalista e motivadoras do surgimento das incubadoras de empresas. O objetivo geral deste trabalho, que enfatizará as incubadoras de empresas de base tecnológica, é demonstrar o papel social exercido por estas, ao viabilizarem novas formas de trabalho e renda e novos empreendimentos de base tecnológica, tão necessários no atual modelo de sociedade, a Sociedade Pós-Industrial.

1.1. A Era de Ouro e o sucesso do taylorismo/fordismo

1.1.1. As características do mundo do trabalho nas organizações tayloristas/fordistas

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a racionalização e a maximização conquistaram a indústria automobilística. Ele instalou sua primeira linha de montagem em 19148, expressão e síntese máximas do taylorismo/fordismo.

Os esforços de racionalização e maximização consolidaram-se no modelo fordista de desenvolvimento que imperou até a década de 1970, em vários países, tendo como pilares da cidadania, o trabalho e o consumo. O fordismo define-se por dois pontos essenciais: de um lado, uma ação centralizadora e polarizadora por parte do Estado, atuando como promotor e garantidor dos direitos sociais básicos. De outro, o crescimento econômico proveniente de um sistema de mercado livre de regulações, gerador e distribuidor de riquezas, através de seus próprios mecanismos internos. Este modelo foi adotado pelos países do Norte e importado pelas elites dos países do Sul e do Leste, tornando-se um paradigma em termos de desenvolvimento, especialmente pela difusão de modelos de produção e de consumo próprios das regiões centrais.

Nesse modelo, o trabalho foi fragmentado e perdeu qualidade, enquanto a produtividade cresceu consideravelmente. É pelo progresso da produtividade do trabalho social que uma quantidade sempre maior de meios de produção pode ser mobilizada com um gasto progressivamente menor de força humana. Marx (1971) afirmou ser esta uma lei na Sociedade Capitalista, “onde o instrumental de trabalho emprega o trabalhador e não este o instrumental” (p. 748).

O trabalho passou a ser organizado em bases realmente novas, até atingir vertiginosos níveis de produtividade, e a organização do trabalho transformou-se numa ciência autônoma, baseada na experimentação científica, na programação dos eventos, nas técnicas de simulação do futuro, nas estratégias orientadas para o produto, integradas às orientadas para o mercado, na liderança científica e participativa e em dezenas de outras disciplinas - da medicina à psicologia, da pesquisa operacional (iniciada com o taylorismo/fordismo) à sociologia.

Taylor, ao conceber uma Organização Científica do Trabalho (OCT), deslocou o saber concentrado no chão da produção para a gerência, a qual poderia, por ter uma “visão mais ampla” dos processos, otimizar a racionalização e eficiência das tarefas e, com isso, aumentar a produtividade das empresas. A ideia era que com tal racionalização acontecessem ganhos materiais para toda a sociedade. Ele, em suas observações, constatou que o trabalhador é, por princípio e definição, vadio, trabalhando muito menos do que é fisicamente capaz; por isso,

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cronometrou os movimentos mais simples de cada operário e parcelizou metódica e acentuadamente todas as tarefas, de modo que cada um passasse a exercê-las dentro de um padrão ótimo de tempo e movimentos determinados pela gerência. O mecanismo guiava-se pela noção de que quanto menos o trabalhador pensasse, mais produtivo seria, o que resultou em uma simplificação e intensificação das atividades operárias, contribuindo para sua alienação.

Por meio da introdução de uma esteira rolante que percorria toda a linha de montagem, transportando o objeto de trabalho em suas diferentes fases, as atividades produtivas passaram a ser distribuídas e executadas em postos fixos. A linha de montagem de Ford permitiu a supressão do tempo e movimentos necessários para o trabalhador chegar até sua tarefa e, também, que a gerência fordista controlasse o trabalho não mais de modo individualizado, mas de forma coletiva, fazendo com que o tempo de produção passasse, definitivamente, para as mãos da gerência. O processo produtivo passou a ser pautado, dessa maneira, por uma rígida disciplina. Ford, por meio da fragmentação e distribuição das tarefas no espaço, maximizou a eficiência e minimizou gargalos do fluxo produtivo.

O capitalismo industrial trouxe a folha de ponto, o relógio, os informantes e as multas. Iniciaram-se as lutas em torno de minutos e segundos, do ritmo e da intensidade das escalas de trabalho, da vida do trabalho (e dos direitos de aposentadoria), da semana de trabalho, do ano de trabalho, do tempo livre. A intensidade e a velocidade da produção foram organizadas de maneira a favorecer o capital, gerando contratos de trabalho sacrificantes, situações extremas de cansaço e tensão, expansão do uso de álcool e drogas, tudo pensado em nome da obtenção de lucros, e não na humanização do momento de trabalho. O processo de desenvolvimento capitalista revolucionou as técnicas tradicionais, mudou as condições de emprego, aumentou a taxa de exploração e destruiu habilidades tradicionais.

O modelo fordista de produção em massa, em que a força de trabalho era facilmente substituível9, inaugura uma nova época na civilização capitalista, assinalando a passagem para uma nova economia planejada e centralizada, obcecada pela quantidade e pela supressão da variedade. Não somente a economia era planejada, mas também a pessoa, pois o fordismo não parava na porta da fábrica, invadia o lar e as esferas mais privadas e íntimas da vida do trabalhador. Os novos métodos de trabalho exigiam um novo modo específico de viver,

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pensar e sentir. O fordismo representou, dessa forma, toda uma cultura de produção e consumo em massa.

Com a implantação do dia de trabalho de oito horas a cinco dólares, Ford pretendia, além de obrigar o trabalhador a adquirir a disciplina necessária à operação do sistema de linha de montagem de alta produtividade, dar aos trabalhadores renda e tempo de lazer suficientes para consumirem a produção em massa que as corporações estavam por fabricar em quantidades crescentes. O intenso consumo, no mercado de massa, permitia ao empresário decidir sobre os produtos, escolher os processos e exercer o controle interno.

A força de trabalho era desqualificada, semianalfabeta, composta de imigrantes, paupérrima, recém-saída do campo, psicológica e socialmente estranha ao mundo industrial. Era nítida a superioridade educacional dos empresários, própria da elite, em relação aos operários, sendo que aqueles buscavam a cooptação destes, pagando salários acima da média.

Profissionalização define-se pelo conhecimento técnico e científico da totalidade do processo de trabalho na indústria, conhecimento da matéria prima a ser transformada, da maquinaria utilizada e das diferentes etapas do processo para se chegar ao produto final. Na prestação de serviços, define-se pelo conhecimento não só de todo o seu processo, mas também do comportamento de seus consumidores em termos socialmente aceitos, por ser uma modalidade de trabalho que envolve um relacionamento direto entre as partes; pela formação profissional adquirida durante anos de experiência e/ou nos bancos escolares; pela iniciativa do trabalhador; e, por fim, pela autonomia para a tomada de decisões.

Como se observa nas características do taylorismo/fordismo, a fragmentação do processo de trabalho reduziu consideravelmente o tempo necessário de aprendizagem para realizar as tarefas (critério determinante do grau de qualificação profissional e da diferenciação entre profissões, ofícios e empregos), segundo as determinações da gerência científica e resultou na desqualificação da maioria dos postos de trabalho do chão das fábricas e dos escritórios e na desprofissionalização dos trabalhadores envolvidos. Outro critério determinante da desqualificação profissional é o grau de frequência da atividade intelectual exigido para a execução da tarefa.

A fragmentação do processo de trabalho em tarefas simplificadas, característica da Sociedade Industrial, é muito bem sintetizada nas palavras de Henry Ford, ao tratar da aprendizagem técnica necessária:

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anos. Esta última categoria de trabalhos requer perícia – como a fabricação de instrumentos e a calibragem (FORD, 1925, p. 91).

A fragmentação do processo de trabalho deu-se não somente no chamado “chão de fábrica”. Segundo Mills (1976), com a introdução das máquinas de escritório e das técnicas de venda, mecanizaram-se o escritório e a loja, contribuindo para o surgimento do moderno empregado de “colarinho-branco”: gerentes, engenheiros e técnicos. Depois dos anos 20, as inovações aumentaram a divisão do trabalho entre os “colarinhos-brancos”, modificaram a repartição do pessoal e diminuíram os níveis de qualificações necessárias. Até mesmo no nível dos funcionários categorizados e dos profissionais, o desenvolvimento da racionalização burocrática tornou o trabalho semelhante à produção industrial, ou seja, as condições alienantes do trabalho moderno atingiram tanto os empregados assalariados quanto os operários, “colarinho-azul”.

Em resumo, pode-se considerar como características do mundo do trabalho nas organizações tayloristas/fordistas, basicamente, as a seguir: padronização, parcelização, concentração, centralização, controle de empreendimentos econômicos na estrutura da nação-estado, produção em massa, concentração geográfica e espacial de indivíduos e produção em cidades industriais. Tudo isso serve para caracterizar a diferença entre a sociedade capitalista que precedeu o surgimento das incubadoras de empresas e a nova sociedade que, portadora de características totalmente diferentes, abarcou o sistema de incubação e tenta, por meio do desenvolvimento contínuo, atingir uma parcela significativa da sociedade, seja auxiliando na qualificação de trabalhadores, seja incentivando o desenvolvimento tecnológico do País.

1.1.2. O contexto político-econômico do período taylorismo/fordismo

No campo político-econômico, destaca-se o longo período de expansão pós-guerra, que se estendeu de 1945 a 1973, denominado Era da Prosperidade (Anos Dourados ou Era de Ouro). Caracterizou-se por um conjunto de práticas de controle do trabalho, tecnologias, hábitos de consumo e configurações do poder político-econômico, denominado fordista-keynesiano.

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intervencionista, por meio da qual os governos utilizariam medidas fiscais e monetárias para abrandar os efeitos perversos dos ciclos econômicos. Keynes pretendia aperfeiçoar o sistema capitalista unindo o desprendimento social (através do Estado) com os instintos do ganho individual (por meio da livre iniciativa privada), pois considerava que tal união não ocorria por vias naturais. Defendeu, portanto, a intervenção do Estado na economia devido à ineficiência do sistema capitalista em empregar todos os que querem trabalhar e, também, devido ao espírito perverso dos capitalistas. A teoria keynesiana não pretendeu influenciar uma competição entre o Estado e o mercado, mas sim promover uma complementação adequada ao mercado.

Havia uma grande possibilidade de se encontrar emprego no período fordista-keynesiano. Nas grandes cidades estavam concentradas as indústrias manufatureiras, os serviços para o trabalho, a saúde, a família e o lazer. Nelas pulsava uma vida dinâmica, em que as pessoas entregavam-se ao consumismo e colhiam as novidades da criatividade tecnológica e artística. As grandes cidades ditaram as leis em matéria de trabalho, sendo desenhadas de forma a favorecer a cisão entre trabalho e vida, o que conduziu para a máxima separação das zonas industriais dos bairros dormitórios e os bairros dormitórios dos centros burocráticos e comerciais.

A racionalização da produção sustentou-se em uma hábil combinação de força, que foi o fortalecimento do sindicalismo operário e a persuasão, propiciada por altos salários, benefícios sociais diversos, propaganda, entre outros, que enquadravam o trabalhador tanto dentro quanto fora da fábrica. Em se tratando da esfera da circulação, do mercado de consumo e de trabalho, essa regulação efetivava-se mediante o Estado do bem-estar social, que respaldava a produção de massa por meio de políticas previdenciárias que equacionavam a questão do desemprego e aqueciam a demanda efetiva. Os novos sistemas de crédito, as grandes lojas de departamentos, associadas com inovações técnicas e organizacionais no nível da produção ajudaram a acelerar a circulação do capital em mercado de massa.

O grande boom da Era de Ouro foi alimentado pela força de trabalho especialmente dos vastos fluxos de migração interna, do campo para a cidade, da agricultura, de regiões mais pobres para outras mais ricas. A Era de Ouro foi um período de pleno emprego, pois a média de desemprego na Europa Ocidental estacionou-se em 1,5% e em 1,3% no Japão (HOBSBAWM, 1995).

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Estado-nacional social, respondendo à insegurança posta à sociedade. Esse Estado foi capaz de, nos países avançados da Europa Ocidental, garantir um conjunto coerente de proteções, porque manteve controle sobre os principais parâmetros econômicos. Havia condições para equilibrar o desenvolvimento econômico e social a fim de manter a coesão social.

O Estado nacional-social ajustou-se com o desenvolvimento do capitalismo industrial. As grandes empresas, a organização padronizada do trabalho e a presença de sindicatos fortes asseguraram as formas de regulação coletivas. Os trabalhadores, já agrupados, acolhiam as exigências do desenvolvimento do capitalismo industrial e, em compensação, beneficiavam-se das amplas proteções baseadas em condições de emprego estáveis. É por isso que as políticas de pleno emprego foram colocadas em prática nos países capitalistas avançados e ganharam espaço nos países capitalistas em geral e, até hoje, constituições de países, programas de partidos e governos prometem a promoção do pleno emprego.

Os salários foram elevados, sobretudo, por dois motivos: aumento da oferta de emprego e fortalecimento do sindicalismo de confrontação, que teve seu poder de barganha ampliado, principalmente, por fatores sociais, culturais e geográficos. A ampliação dos benefícios sociais também contribuiu para ampliar o poder aquisitivo dos assalariados.

As rendas públicas é que custeavam o pleno emprego e as rendas reais. Nos eufóricos anos 1960, alguns governos incautos chegaram a garantir a uns poucos desempregados 80% de seus antigos salários. No fim da década de 1970, todos os Estados capitalistas avançados haviam tornado-se “Estados do bem-estar”, gastando, geralmente, mais de 60% de seus orçamentos na seguridade social (Austrália, Bélgica, França, Alemanha Ocidental, Itália, Países Baixos) e produzindo consideráveis problemas após o fim da Era de Ouro. Vários foram os sinais de que o equilíbrio dessa era não podia durar. Na década de 1960, já eram nítidos os sinais de desgaste10.

A Era de Ouro foram anos excepcionais para o capitalismo desenvolvido, atingindo não somente a Europa e o Japão, mas também alguns países da América Latina. Houve a ascensão de uma série de indústrias tecnológicas, tais como: de carros, de construção de navios e de equipamentos de transporte, de aço, de produtos petroquímicos, de borracha, de eletrodomésticos e de construção, tornando-se propulsoras do crescimento econômico.

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Mais especificamente as décadas de 1950 e 1960 foram marcadas pela internacionalização das grandes empresas estadunidenses, cujos objetivos eram de buscar bases de atuação externas para diversificar riscos, alcançar mercados potencialmente consumidores, acessar fontes baratas de matérias primas e de força de trabalho e firmar a inserção hegemônica dos Estados Unidos em outros países.

Do mesmo modo, a década de 1960 e início dos anos de 1970 ficaram marcados pela desregulamentação financeira e expansão do euromercado, possibilitando a integração da economia mundial sob a forma de contratação de empréstimos, utilizados para sustentar o ciclo de substituição das importações. O fechamento econômico foi, na referida época, o instrumento estratégico utilizado para a consolidação da indústria nacional.

Fábricas gigantescas e seus escritórios executivos e de serviços moldavam-se em uma estrutura de muitas hierarquias verticalizadas, que cada vez mais necessitavam de profissionais (engenheiros, técnicos, supervisores, administradores, entre outros) que dessem conta da complexa organização do trabalho. Esses profissionais tinham certa estabilidade (via de regra, chegavam à aposentadoria na mesma fábrica), sobretudo nos 30 anos de intenso crescimento econômico vividos pelos países capitalistas centrais no pós II Guerra Mundial. Muitos trabalhadores iniciaram e concluíram suas carreiras em uma mesma empresa. Estabilidade e expectativas de longo prazo faziam parte de seus cotidianos, encontrando garantias em vários países no Estado de bem-estar social.

A Era de Ouro foi um fenômeno mundial, mesmo que a riqueza geral jamais tenha chegado à vista da maioria da população do mundo. A economia mundial crescia a uma taxa explosiva. A produção mundial de manufaturas quadruplicou entre o início da década de 1950 e o início da década de 1970, e o comércio mundial de produtos manufaturados aumentou dez vezes. A produção agrícola mundial elevou-se, embora modestamente, não por meio do cultivo de novas terras, mas mediante a elevação da produtividade. Também as indústrias de pesca mundial triplicaram suas capturas (HOBSBAWM, 1995).

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muito entre os países capitalistas avançados, mas todos criaram tanto um crescimento econômico estável como um aumento dos padrões materiais de vida, através de uma combinação de estado do bem-estar social, administração econômica keynesiana e controle de relações de salário. O fordismo dependia muito da nação-estado em seu papel no sistema geral de regulamentação social.

No Brasil, que, em 1929, ainda era um país basicamente agrícola, o processo de industrialização aconteceu de maneira vagarosa. Foi a partir de 1945 que o processo intensificou-se, também com a participação intensa do Estado, no entanto, o Brasil nunca constituiu o capitalismo organizado europeu.

O Brasil beneficiou-se da política de internacionalização das grandes empresas norte-americanas para negociar a entrada de investimentos estrangeiros em condições favoráveis, o que beneficiou os Anos Dourados brasileiros, marcados, sobretudo, pelo ciclo expansivo do governo Juscelino Kubitschek (JK), no período 1956-60.

Os anos JK ficaram assinalados pelo desenvolvimentismo (tinha como ideal trazer ao Brasil crescimento e desenvolvimento econômico)11, dinamização da economia e a entrada do capital estrangeiro para a produção de bens duráveis. Milhares de empregos foram gerados, com especial destaque para a transformação do ABC paulista (Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano) no pólo industrial de ponta da América Latina, sendo utilizada tecnologia estrangeira e administração fordista do processo de trabalho. Diversas empresas estrangeiras vieram para o País – entre elas, as automobilísticas Chrysler, Ford e Wolkswagen –, já que JK queria incentivar o comércio de bens de consumo duráveis. Uma unidade da siderúrgica Mannesmann foi inaugurada em 1953, entrando em operação na década seguinte. A Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), a Usina Siderúrgica de Minas Gerais (Usiminas), a recuperação da empresa Aços Especiais Itabira (Acesita) e a grande expansão de altofornos

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a carvão vegetal destacam-se entre os principais empreendimentos dessa época. Em resumo, pretendeu-se um alinhamento da economia brasileira à economia norte-americana.

O desenvolvimento industrial ocorrido no Brasil foi acompanhado por um padrão de gestão da força de trabalho que se utilizou das características tayloristas/fordistas da produção. A busca por qualificação dos empregados tornou-se frequente e necessária. Em meados da década de 1940, foram criados os organismos componentes do Sistema S, com exceção do SEBRAE, do SENAR, do SEST e do SENAT, que foram instituídos após a Constituição Federal de 1988.

Em suma, o século XX ficou marcado como o século do forte assalariamento da classe proletária, ou seja, o século do emprego, graças aos milhões de empregos gerados pelo taylorismo/fordismo. Embora tenham sido empregos de baixa qualidade, eram empregos formais e com certa proteção do Estado, devido às suas políticas de intervenção na economia. Entretanto, alguns sinais de transformação dessa sociedade do trabalho eram perceptíveis, acima de tudo, pelo incremento da tecnologia. As novas tecnologias eram de capital intensivo e exigiam pouca força de trabalho, ou até mesmo a substituíam. A lógica que se instalava era a de precisar cada vez mais de maciços investimentos e cada vez menos de gente, a não ser como consumidores de bens e serviços, constituindo o problema central da Era de Ouro: produção ou serviço sem seres humanos, robôs automatizados montando carros, espaços silenciosos cheios de bancos de computadores, controlando a produção de energia, trens sem maquinistas. Os seres humanos em cena só iriam aparecer como compradores.

1.1.2.1. A Divisão internacional do trabalho e suas consequências

A primeira divisão internacional do trabalho foi caracterizada pelas relações entre os países desenvolvidos e os países subdesenvolvidos não industrializados. Com a industrialização de alguns países subdesenvolvidos, surgiu uma nova divisão internacional do trabalho, expressando o relacionamento entre os países desenvolvidos e os países subdesenvolvidos industrializados. Os países subdesenvolvidos deixaram de ser apenas fornecedores de matéria prima para os países desenvolvidos. As relações tornaram-se mais complexas, ocorrendo, de ambos os lados, trocas de mercadorias e de capitais.

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Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura, Malásia, Indonésia e Filipinas), que até então eram produtores e exportadores de bens primários (commodities12) e de bens industrializados de

consumo (produtos alimentícios, de higiene pessoal, tecidos, sapatos, etc).

Pode-se afirmar que a Era de Ouro democratizou o mercado, multiplicou a capacidade produtiva da economia mundial – permitindo uma divisão de trabalho internacional muito mais elaborada e sofisticada – e permaneceu ancorada nas economias dos países-núcleo do capitalismo, apesar de não ter ficado restrita a nenhuma região. Foi a era do livre comércio13, livres movimentos de capital e moedas estáveis, devido, especialmente, à dominação econômica dos Estados Unidos e do dólar, que funcionou como estabilizador por estar ligado a uma quantidade específica de ouro, até a quebra do sistema, em fins da década de 1960 e princípios da de 1970.

No que tange à dependência tecnológica dos países subdesenvolvidos ou emergentes (é o caso do Brasil), é importante ressaltar que ela tem como resultado inevitável a sujeição econômica, expressa no desequilíbrio permanente da balança de pagamentos e na dependência do aporte de capitais estrangeiros, tanto na forma de investimentos produtivos diretos, quanto na de capital financeiro captado a juros altos no mercado internacional especulativo, desregulamentado e volátil, a fim de financiar investimentos em infraestrutura e garantir o lastro da moeda, cuja estabilização depende das reservas nacionais em dólares.

O Brasil tornou-se emergente em virtude das conjunturas internacionais. Os países de tecnologia atrasada, tais como o Brasil, foram exportadores de commoditiesprimárias (e ainda

permanecem), ou seja, exportadores de matérias primas, bens primários ou industrializados com pouco valor agregado, vendidos a preços inferiores no mercado internacional, com exceção do petróleo. A produção de bens duráveis, na maioria dos países dependentes na América Latina, somente foi possível, em princípio, graças ao processo de multinacionalização do capital, embutido no processo de substituição de importações. O processo de multinacionalização foi motivado pela perspectiva atraente de obtenção de altas taxas de lucro em virtude da grande quantidade de força de trabalho, da fraqueza dos movimentos sindicais e políticos e dos baixos salários nos países subdesenvolvidos. Desse

12 Commodity

é um termo da língua inglesa que, como o seu plural commodities, significa mercadoria, é utilizado nas transações comerciais de produtos de origem primária nas bolsas de mercadorias. Para verificar informações complementares, acesse http://pt.wikipedia.org/wiki/Commodities.

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modo, não era necessária a transferência de tecnologia avançada para diminuir os custos de produção e aumentar a competitividade dos países da região nos mercados internacionais.

A crescente divisão internacional do trabalho permitiu aos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) delegar às populações dos países subdesenvolvidos as tarefas mais repetitivas, cansativas, enfadonhas, alienantes e despojadas de criatividade. Essa divisão internacional de saber, poder e trabalho determinou que os países ricos ficassem com a produção de inovações (exercendo poder sobre os que não produzem inovação), enquanto os países pobres ficassem com a produção de commodities, ou seja, apenas experimentassem a inovação, gerando desalento por sua condição subalterna, como é o caso do Brasil. A divisão internacional do trabalho gerou, portanto, uma troca desigual entre os países.

As relações do Brasil com o restante do mundo sempre foram relações de dependência de capital, seja na forma de capital “dinheiro”, seja na forma de capital “ciência e tecnologia”. As commodities, tão bem transicionadas pelo Brasil, são muito importantes, entretanto, um país não se desenvolve às custas somente de sua comercialização. Os países de tecnologias atrasadas, como o Brasil, vivem as consequências dramáticas do círculo vicioso de dependência: são dependentes porque têm tecnologia atrasada e têm tecnologia atrasada porque são dependentes (LAZZARESCHI, 2008).

Como se vê, também pelas consequências advindas da divisão internacional do trabalho, as incubadoras de empresas, em especial as de base tecnológica, apresentam-se como estratégias relevantes de incentivo ao desenvolvimento de inovações tecnológicas, aproveitando-se do conhecimento que é produzido nas universidades brasileiras. No Brasil, a capacidade de transformação da produção científica em tecnologia e desenvolvimento ainda é incipiente e, por isso, o apoio e o investimento em ciência e tecnologia são imprescindíveis para aumentar o valor agregado dos produtos e processos originados no Brasil e consumidos interna e externamente.

1.2. A crise mundial e o esgotamento do fordismo

1.2.1. A globalização e suas consequências

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informação. As fronteiras entre os sistemas financeiros, nacional e internacional, foram rompidas e emergiram o paradigma tecnológico e de globalização, não só financeira, mas também comercial e de produção.

A globalização da economia foi mediada pela criação de instituições internacionais como o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), para a promoção do investimento internacional, manutenção da estabilidade do câmbio (dólar), além de tratar de balanças de pagamento. Os Estados Unidos, baseados no domínio militar, passaram a ter o poder econômico e financeiro, configurado pelo acordo de Bretton Woods, de 1944. Após esse acordo, o dólar passou a ser a moeda-reserva mundial e o desenvolvimento econômico do mundo ficou subordinado à política fiscal e monetária estadunidense. “A América agia como banqueiro do mundo em troca de uma abertura dos mercados de capital e de mercadorias ao poder das grandes corporações” (HARVEY, 1992, p. 131).

Com a nova economia ocorre, pela primeira vez, a integração de praticamente todo o planeta no mercado mundial, significando a entrada de novos povos no palco global. A globalização das economias introduziu o conceito de inserção competitiva como resposta aos processos de abertura dos mercados. As empresas passaram a operar nos mercados internos e externos, instituindo o que ficou conhecido por competitividade internacional. A partir dos anos 1980, todos os países desenvolvidos e emergentes começaram a redefinir suas políticas internas e externas em busca de um modelo de competitividade.

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Tabela 1 - Taxas de Desemprego Total
Figura  1:  Distribuição  das  incubadoras,  núcleos  de  empreendimentos  e  parques tecnológicos (associados à ANPROTEC) por Estado
Figura  2:  Distribuição  das  incubadoras,  núcleos  de  empreendimentos  e  parques tecnológicos (associados à ANPROTEC) por região
Tabela 2: Representação dos números apurados no período de 1987 a 2007, relativos ao  sistema de incubação brasileiro
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