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II SEMANA DE ECONOMIA POLÍTICA UFC/UECE RELAÇÃO TRABALHO E EDUCAÇÃO: a questão do princípio educativo do trabalho na sociedade capitalista

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II SEMANA DE ECONOMIA POLÍTICA UFC/UECE

RELAÇÃO TRABALHO E EDUCAÇÃO: a questão do princípio educativo do trabalho na sociedade capitalista

Grayceane Gomes da Silva – estudante Mestrado em Educação UFC Amanda Maria dos Santos Silva – estudante Mestrado em Educação UFC Marilza Nayara Soares Nobre – estudante Mestrado em Educação UFC

GT 4- Educação e Cultura

RESUMO

Este artigo visa o debate acerca do princípio educativo do trabalho, na construção da interligação entre as categorias trabalho e educação, tendo como fundamentação a centralidade do trabalho na constituição do homem como ser social. Assim, esta breve análise a partir do estudo de teóricos marxistas, tais como Tonet e Sousa, tem como intenção tecer considerações acerca da realidade em que nos encontramos no que diz respeito ao acesso a educação. Concluímos a partir desse estudo que a educação continua desigual, agravando desigualdades sociais, sendo necessárias, mudanças nas bases educacionais para a construção de uma educação realmente democrática e emancipadora.

INTRODUÇÃO

Neste estudo procuramos analisar algumas questões referentes ao debate entre a relação trabalho e educação na constituição da sociedade capitalista, a partir da centralidade que o trabalho ocupa na formação do ser social.

Esse assunto surge a partir das questões referentes à construção teórica de Marx em torno da categoria trabalho na constituição da sociedade, principalmente em sua análise acerca da sociedade capitalista, cuja sustentação se encontra na acumulação de capital, através da exploração do trabalho dos despossuídos dos bens de produção. A partir da constituição da propriedade privada e da divisão de classes sociais, a sociedade tomou um caráter dicotômico entre dominantes e dominados, expresso na relação homem livre/escravo, senhor/servo e capitalista/operário.

No contexto das condições educacionais, essa diferença entre classes se encontra expressa no acesso desigual as informações acumuladas pela humanidade, em que a classe dominante desde períodos antigos teve acesso aos conhecimentos teóricos e aqueles pertencentes às classes empobrecidas exercem trabalhos manuais.

O processo de aperfeiçoamento dos meios de produção e o advento da industrialização requereu um conhecimento básico dos trabalhadores para garantir a produtividade. Assim, a escolarização foi amplamente difundida, ainda hoje com caráter dicotômico, em que pessoas abastadas são incentivadas a estudar muitos anos até o ensino superior. Por outro lado, aqueles empobrecidos, têm maior necessidade de começar a trabalhar cedo e têm como oferta de ensino a educação profissional.

O debate sobre a relação entre trabalho e educação, desse modo, busca problematizar a cisão entre o conhecimento teórico e a prática existente na execução das atividades laborais.

De acordo com os teóricos marxistas é necessário que as pessoas tenham acesso a uma educação crítica, pautada na realidade da sociedade capitalista, para que possam reivindicar melhores condições de vida, ao passo que dominem o conhecimento em torno das atividades que exercem.

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Desse modo, a partir de uma análise crítica da realidade à luz de autores marxistas que discutem o princípio educativo do trabalho, elaboramos o presente estudo que objetiva sucintamente debater a relação entre trabalho e educação na sociedade capitalista de classes.

TRABALHO E SER SOCIAL

Compreendemos que o trabalho e seu desenvolvimento estão presentes no percurso da humanidade desde os tempos mais remotos enquanto atividade de produção e reprodução humana, dessa forma ele torna-se uma condição necessária para a perpetuação da nossa espécie. Assim, percebemos que com essas determinações nesse momento havia a unidade do trabalho em seus aspectos do “pensar” e do “fazer”.

Essa articulação foi rompida com a emergência do modo de produção industrial que promove uma ruptura entre o trabalho manual e o trabalho intelectual, o trabalho transforma- se em um meio para a produção de riqueza em geral deixando de ser uma categoria abstrata e se fundando dentro de condições sócio/históricas pré-determinadas. Tendo a compreensão que houve essa ruptura no sentido atribuído ao trabalho, a partir da divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual permanece a indagação motivadora desse tópico. Afinal, qual a concepção que Marx nos apresenta sobre essa categoria?

Como ponto fundamental de nossa análise devemos compreender trabalho enquanto a relação estabelecida entre homem e natureza. Seu processo torna-se possível à medida que o homem interage, se apropria, transforma o meio que está inserido. Nessas circunstâncias dialeticamente transforma também a si mesmo, como nos mostra Marx (2004) “trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com a sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza”.

A partir desse movimento de transformação da natureza, o homem se “constrói”.

Atuando sobre a natureza externa a ele, modificando-a, ele ao mesmo tempo tem sua própria natureza modificada (Marx, 2004). Dessa forma entende-se que o trabalho é o elemento que possibilita a construção de uma identidade humana uma vez que esse processo permite a constituição de um “ser social” e é, por conseguinte um artifício fundamental de sua organização coletiva, pois, esse movimento possibilita sua organização social.

Torna-se necessário, contudo, caracterizar o trabalho em sua natureza dúplice, se por um lado ele possibilita a constituição do homem enquanto ser social pertencente/transformador de uma sociabilidade ele também tem como característica a alienação/estranhamento proporcionado pelo assalariamento e pelas condições em que suas atividades são desenvolvidas. Dessa forma, para compreendermos de que formas o trabalho se desenvolve processualmente em suas dimensões basilares, devemos compreender suas dimensões positivas e negativas.

Como norteador dessa compreensão é importante ressaltar que em Marx existe uma relação conectada entre o trabalho útil-concreto (positivo), produtor de valores de uso indispensáveis à (re)produção humana e o trabalho abstrato (negativo), contido nas mercadorias, cujo principal fim é a criação de mais-valia indispensável a lógica do capital.

Dialeticamente Marx considera seus aspectos positivos, onde se debruça sobre a contribuição dada pelo trabalho, entre elas o tornar-se homem propiciado pela produção dos seus meios de subsistência.

[...] para viver, é preciso antes de tudo comer, beber, ter habitação, vestir-se e algumas coisas mais. O primeiro ato histórico, é portanto, a produção dos meios que permitam a satisfação destas necessidades, a produção da própria vida material, e de fato esse é um ato histórico, uma condição fundamental de toda a história, que ainda hoje, mesmo a milhares de anos, deve ser cumprida todas as horas, para manter os homens vivos (Marx, p.39).

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Dessa forma, vemos que o homem em seu contato com a natureza utiliza-se de suas forças vitais; pernas, braços, cabeça e mãos transformando a matéria prima contida na natureza para canalizar os recursos disponíveis com o objetivo de subsidiar sua vida social.

Assim, o homem imprime na natureza a sua forma útil a vida humana. A partir desse movimento de transformação, o homem transforma a natureza e a sua própria essência humana.

Pode-se distinguir os homens doa animais pela consciência, pela religião ou por tudo que se queira. Mas eles próprios começam a se diferenciar dos animais tão logo começam a produzir seus meios de vida, passo este que é condicionado por sua organização corporal. Produzindo seus meios de vida, os homens produzem, indiretamente sua própria vida material (Marx, p.27.).

Nesses termos o trabalho pode ser exposto como um movimento de transformação/apropriação da natureza pelo homem com o objetivo de subsidiar sua existência. Marx, ainda relacionado a esse processo, apresenta que outros animais tem essa interação com a natureza, contudo, nos mostra que por não ser uma atividade mediada pela consciência e sim por instinto, delegamos apenas ao homem esse status transformador da natureza com a finalidade de prover sua existência. Isso fica claro quando ele expõe que

Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera mais de um arquiteto ao construir sua colmeia. Mas o que o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade (MARX, 1989, 202).

Com isso Marx afirma que o processo em sua integralidade, desde a formulação até a execução pertence exclusivamente ao homem, ao trabalhador. Ele não apenas transforma o material que está a sua disposição como dá uma na materialidade/utilidade a partir de um projeto desenvolvido a priori em sua consciência, construindo valore de uso, que podemos compreender como a transformação da natureza em elementos úteis a manutenção da vida humana.

Tendo esclarecido essas noções, Marx apresenta os três elementos que compõe o processo de trabalho, a saber: “(1) a atividade adequada a um fim, isto é, o próprio trabalho;

(2) a maneira que se aplica o trabalho, o objeto de trabalho; (3) os meios de trabalho, o instrumento de trabalho” (2004, p.202).

Após apresentar essas noções, Marx ainda amplia suas determinações e apresenta os seguintes desdobramentos ao processo de trabalho. Primeiro aponta que o homem transforma um objeto com o fim de satisfazer suas necessidades humanas como valores de uso; e para tornar isso possível, atua nesse objeto por meio do instrumental do trabalho. Em uma segunda determinação, Marx aponta que objetos de trabalho só se caracterizam enquanto matérias- primas a partir do momento que são alvo de uma modificação pelo trabalho.

Por fim, ele caracteriza os meios de trabalho, esses podem ser compreendidos como um complexo de coisas, que são inseridos entre o trabalhador e objeto de seu trabalho, ou seja, o meio de trabalho direciona a atividade sobre o objeto de trabalho (matéria prima) a ser manipulado. Em suma, a forma como os objetos e os meios de trabalho são utilizados definem historicamente as diferentes épocas econômicas. Assim, os meios de trabalho podem ser considerados como as condições materiais necessárias para a efetivação do processo de trabalho.

Assim, entendemos o homem como um ser de atividade, onde o fim de seu trabalho e delineado em sua consciência e executando na transfiguração de um objeto ou de uma matéria

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prima utilizando-se para isso de instrumentos ou meios de trabalho. Como resultado dessa ação temos um produto acabado, objetivado, detendo o processo de trabalho.

Neste processo de interação com a natureza e com os outros homens, construído historicamente, tornamo-nos seres humanos e aprendemos, com a nossa prática cotidiana de transformar a natureza. Socializamos e aprimoramos o conhecimento adquirido neste processo. Esta unidade entre pensar e fazer, está em constante movimento permitindo nossa interação com o meio, proporcionando o aprimoramento de nosso conhecimento sobre a natureza e sobre nós mesmos.

DESVELANDO A EDUCAÇÃO EM MARX

Muito embora quando se fala das matrizes da educação, a matriz marxista nem sempre tem Marx como autor, pois para alguns estudiosos este não abordou em sua obra a temática da educação. Como aponta Sousa (2010):

A temática da educação jamais se constituiu, para Marx, como um problema central, pelo menos se tomada em sentido estrito, como processo formal de ensino- aprendizagem. Porém, mesmo não sendo a educação, no sentido apontado acima, um tema sobre o qual Marx houvesse dedicado especial atenção, ainda assim, acredita-se que sua obra ofereça grande contribuição para a discussão do tema, especialmente se a concepção de educação se amplia para além dos processos formais e dos espaços institucionalizados (SOUSA JUNIOR, 2010, p.19).

Na perspectiva Marxiana, Tonet (2013), afirma que buscar compreender a concepção da educação em Marx, pode seguir dois caminhos:

O primeiro: considerando que Marx não escreveu nenhuma obra específica sobre a questão da educação, tratar-se-ia de rastrear, nas suas obras, as passagens em que ele se refere a esta problemática. O segundo: buscar, em primeiro lugar, a arquitetura mais geral do pensamento de Marx, para em seguida, apreender, o sentido da atividade educativa no interior desse quadro arquitetônico. Como essa arquitetura significa uma teoria geral do ser social, esse caminho implicaria, em primeiro lugar, a resposta à pergunta pela natureza geral e essencial do ser social. Só num segundo momento é que se buscaria a resposta acerca da natureza da educação (TONET, 2013, p. 1).

A educação em Marx é uma práxis articulada com o processo de construção social;

como uma atividade humana. Assim, a educação está misturada com todas as reflexões marxistas, quais sejam: filosofia, economia, sociologia. A Educação é práxis humana (transforma o mundo e os homens) e envolve questões de formação política, etc.

A educação perpassa todas as categorias filosóficas presentes na obra marxiana, a saber: alienação, estranhamento, coisificação, fetichismo da mercadoria, pois o que está por detrás é o sujeito em formação. Assim, a alienação como processo de separação entre sujeito e produto, que esgota o sujeito no processo de criação, que não se reconhece no objeto, bem como alienação como a relação que é o efeito da separação da alienação afetam o sujeito, tem sua práxis na elaboração dos valores de uso e ambas constituem o processo pedagógico. O processo que transforma as pessoas no processo de fetichização das mercadorias também é um processo pedagógico de educação, pois está presente a relação do sujeito com a mercadoria.

Nas categorias políticas classe-em-si, como uma classe que não se reconhece, bem como a classe-para-si que se dá conta de seu lugar na história, na reprodução social, também estão presentes o processo de educação, uma vez que a consciência exerce papel relevante

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para que a classe trabalhadora, através dos partidos e sindicatos, esteja em processo de formação.

A revolução social também é um processo pedagógico, pois o sujeito que faz revolução deve ter algum grau de consciência política. Os sujeitos revolucionários não se tornam revolucionários aleatoriamente, sendo necessário um processo de formação dos mesmos. Assim, a consciência revolucionária é um objeto pedagógico. Ele é um processo educativo, pois “pretende romper com toda a ordem vigente [...] e formar o homem para novas relações nas quais possa ele afirmar-se e reconhecer-se em liberdade plena” (SOUSA, 2010, p).

Neste sentido, a educação encontra-se na obra de Marx porque ela faz essencial das categorias marxianas. As propostas explícitas da Educação de Marx são: união trabalho e ensino que pode ser encontrada no “Manifesto do Partido Comunista”, “Instrução aos Delegados”; “O Capital”; A Politecnia que articula três dimensões, ensino geral (ciências, matemática), ensino tecnológico (métodos, técnicas) e físicos.

A primeira conquista marxista está em afirmar a educação para além da escola; o segundo passo é compreender que o trabalho é a atividade fundamental formadora do homem.

Mesmo sendo o trabalho alienado, este permanece como princípio educativo. A educação não se trata apenas de um processo progressista, de melhoramento, de aperfeiçoamento, mas a educação é o amplo processo de modificação do sujeito, seja para o seu aperfeiçoamento ou decaimento. A alienação não é apenas do trabalhador com a atividade, mas identifica no trabalhador o sujeito mais afetado pela alienação e, mesmo assim, é um processo de formação desse sujeito. Neste sentido, Sousa Junior afirma:

Não é possível pensar o ser social, que vive porque trabalha e age-pensa-fala com outros, sem que se ponha em relevo o caráter pedagógico do processo de constituição da sociabilidade humana, seja na perspectiva da ‘civilização’, seja na perspectiva da ‘barbárie’ – dimensões, que se complementam dentro do sócio- metabolismo do capital (SOUSA, 2010, p.20).

Destarte, é através da apropriação dos conhecimentos adquiridos nos processos educacionais que o homem tem a possibilidade de refletir e perceber os determinantes que envolvem a sua ação como ser social, na perspectiva de unir teoria e prática em práxis transformadora de si e da sociedade.

TRABALHO E EDUCAÇÃO COMO PARTE DA DESIGUALDADE SOCIAL

A partir da constituição da hegemonia capitalista, baseada na acumulação de capital, cada vez mais os meios de produção foram se aprimorando para garantir maior produção de mercadorias na perspectiva de obter mais lucros. Assim, houve uma maior necessidade de assimilação dos conhecimentos acumulados pela humanidade e busca de mais informações para o desenvolvimento da produção.

Nesse ponto, a educação enquanto parte do desenvolvimento da sociedade, se configura como objeto de reprodução do antagonismo entre as classes sociais, ao passo que ao se materializar na escola, a educação formal tem viés classista quando se tem uma valorização da contemplação teórica e política para aqueles da classe dominante, para os demais se estrutura um modelo de educação universal pautado na assimilação de conhecimentos básicos para leitura, escrita e contagem, que sirvam para a execução de atividade laboral, sem qualquer reflexão acerca das questões que permeiam a organização social. Sobre isso Saviani (2007, p. 155) afirma que:

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Ora, essa divisão dos homens em classes irá provocar uma divisão também na educação. Introduz-se, assim, uma cisão na unidade da educação, antes identificada plenamente com o próprio processo de trabalho. A partir do escravismo antigo passaremos a ter duas modalidades distintas e separadas de educação: uma para a classe proprietária, identificada como a educação dos homens livres, e outra para a classe nãoproprietária, identificada como a educação dos escravos e serviçais. A primeira, centrada nas atividades intelectuais, na arte da palavra e nos exercícios físicos de caráter lúdico ou militar. E a segunda, assimilada ao próprio processo de trabalho.

Ao estruturar-se através da escola, a educação passa a ser sinônimo da instituição que a abriga, causando a separação entre trabalho e educação, pois nos primeiros modelos de escola destinadas ao ensino dos conhecimentos acumulados pela sociedade aos membros da classe dominante se tinha a intenção de formar dirigentes, filósofos e demais pensadores que usufruíam tempo livre para o ócio.

Saviani também afirma que assim como o trabalho a educação faz parte da essência do homem, que não se limita somente as relações com a natureza, mas se relaciona com os demais indivíduos na vivência em sociedade no sentido de realizar sua intervenção na adequação do meio para satisfação de suas necessidades. O ser humano tem a capacidade de sistematizar os conhecimentos e socializar com os demais, na perspectiva de aprimorar as relações com os outros homens e se apropriar cada vez mais da natureza.

É importante salientar que a educação faz parte do processo de produção material, no entanto também se configura como parte da produção imaterial, no campo das abstrações em torno da análise da realidade. É através da educação que o homem exerce sua práxis na relação com os outros homens, a atividade que consiste na socialização das ideias hegemônicas, bem como, na possibilidade de problematização da realidade.

Ivo Tonet em debate acerca da educação como propiciadora das condições para a emancipação humana assevera que esta reflete os interesses das classes dominantes, a partir do seu papel de reprodução das ideologias. Este autor define que a natureza essencial da atividade educativa:

(...) consiste em propiciar ao indivíduo a apropriação de conhecimentos, habilidades, valores, comportamentos, etc., que se constituem em patrimônio acumulado e decantado ao longo da história da humanidade. Deste modo, contribui para que o indivíduo se construa como membro do gênero humana e se torne apto a reagir face ao novo de um modo que seja favorável à reprodução do ser social na forma em que ele se apresenta num determinado momento histórico (TONET, 2005, P. 142).

O autor defende que se a educação seguir sua natureza ela alcançará sua possibilidade de emancipação humana, que se constitui como práxis revolucionária, na medida em que os indivíduos poderão usar de sua liberdade para apropriar-se dos conhecimentos necessários para refletir e realmente exercer uma atividade transformadora no âmbito das relações sociais, além de estabelecer a luta contra a hegemonia da burguesia.

Sendo assim, a relação entre trabalho e educação é essencial, na medida em que aquele se constitui em atividade fundante do ser social na sua relação com o mundo, como podemos observar é a partir das necessidades do trabalho que a educação ganha importância no desenvolvimento da sociedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como pensar no atual estágio de desenvolvimento do sistema capitalista a união entre trabalho e ensino/ educação/ instrução. Compreendemos que um dos fatores de maior

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importância em analisar a obra marxiana é perceber que a educação não pode ser vislumbrada apenas na forma da educação institucionalizada, tal como a vivenciamos atualmente.

A categoria trabalho, no que concerne à sua centralidade na (re) produção material da vida dos homens na sociedade contemporânea, é central. O capitalismo contemporâneo, pois, não suprimiu o trabalho, mas o redimensionou, de forma a garantir a manutenção do sistema de capital através de transformações como a reestruturação produtiva, desemprego estrutural, fragmentação do trabalho e da classe trabalhadora, aumento do trabalho informal, autônomo, doméstico, etc. Neste sentido, nem todas as atividades humanas são trabalho, no entanto, mesmo neste contexto diverso, o trabalho continua central na vida humana.

Desse modo, a educação surge como processo de assimilação de conhecimentos que melhorem a execução do trabalho na produção de mercadorias, mas ultrapassa as determinações desse objetivo ao conferir a possibilidade de reflexão e problematização dos aspectos dominantes na sociedade burguesa, que culmina na luta de classes e proposição de outras formas de sociabilidade.

No entanto, falta muito a fazer, já que observamos uma difusão e reedição de cursos profissionalizantes que não conferem poder de entendimento da totalidade das relações que permeiam a prática das atividades especializadas que são objeto dos cursos. Assim, a educação pautada nas relações de estranhamento contribui para a agudização do desinteresse de parcelas empobrecidas da população em concluir os estudos, visto que o desemprego estrutural deixa parte da população sem acesso ao trabalho.

Portanto, mesmo com seus determinantes de alienação que subjugam o homem o trabalho se configura como sendo central na sociabilidade humana e fim último dos processos educacionais, aqui entendidos não só como os conhecimentos sistematizados na escola, mas aqueles provenientes das relações sociais gerais no processo de inter-relação entre os homens, bem como, na luta de classes.

REFERÊNCIAS

MARX, Karl. Manuscritos econômicos-filosóficos. Tradução Jesus Ranieri. São Paulo:

Boitempo, 2010.

___________. Miséria da filosofia: resposta à filosofia da miséria do Sr. Proudhon.

Tradução de José Paulo Netto. 1. ed. Expressão Popular: São Paulo, 2009. p. 119-257.

__________. O Capital: crítica da economia política. Livro I. Tradução de Reginaldo Sant’Anna. 22ª ED. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2004; Vol. I.

SAVIANI, Dermeval. Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos. Revista Brasileira de Educação. s/l. v.12, n. 34, p. 152-165, jan/fev, 2007.

SOUSA Jr. J. de. Marx e a crítica da educação – da expansão liberal-democrática à crise regressivo-destrutiva do capital. Aparecida-SP: Idéias & Letras, 2010.

TONET, Ivo. Marxismo e educação. Disponível em: <

http://www.ivotonet.xpg.com.br/arquivos/MARXISMO_E_EDUCACAO.pdf.>. Acesso em:

07 jan de 2013.

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