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Comemorar ou esquecer: 25 anos do acidente com o Césio-137 em Goiânia/GO (1987)

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Academic year: 2021

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Comemorar ou esquecer: 25 anos do acidente com o Césio-137 em Goiânia/GO

(1987)

Maíra Kaminski da Fonseca Graduanda do curso de História da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) e bolsista de IC pelo PIBIC/CNPq mahkaminski@gmail.com Jó Klanovicz Professor do Departamento de História da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) klanov@gmail.com

Resumo

O objetivo desta pesquisa é analisar como foi discutido e representado o “aniversário” de 25 anos do acidente com o Césio-137 que ocorreu no ano de 1987 em Goiânia/GO a partir da mídia impressa, com ênfase na revista Veja. A imprensa torna-se interessante para a leitura histórica das formas de apropriação de desastres como o do Césio-137, por ser uma das principais formadoras de opinião e de reações a eventos extremos. Por entender que o tecnodesastre com o Césio-137 perpassa as intersecções entre humano e não-humano, haja vista que a radiação existe no ambiente naturalmente, e só se torna um “perigo” para a sociedade quando manipulada pelos humanos, a perspectiva aqui adotada é a da História Ambiental dos desastres. Foram pesquisadas todas as revistas do ano de aniversário de 25 anos do acidente, ou seja, 2012, e absolutamente nenhuma reportagem sobre o assunto foi encontrada, embora haja outras publicações, locais e regionais, que ainda tem enfatizado a lembrança desse evento, significativo tanto em sentido internacional – no que diz respeito ao manejo de resíduos radioativos – como também no número de causas judiciais e de vítimas diretas e indiretas do evento. Nesse sentido, percebe-se a necessidade de se problematizar o silenciamento da grande mídia brasileira em relação ao acidente nos seus 25 anos.

Palavras-chave: Imprensa; tecnodesastres; rememoração. Abstract

The main objective of this research is the analysis of how is demonstrated the "25th anniversary" of the accident with Cesium-137 occurred in the year 1987, in Goiânia, by the print media with emphasis in Veja magazine. Understanding the technodisaster with Cesium 137 get through the intersections between humans and non humans, since the radiation exists in the enviironment, and only becomes a "danger" to the society when manipulated by humans. the perspective adopted here is the Environmental History of disasters. All the journals of the year's 25th anniversary of the accident were surveyed, ie, 2012, and absolutely no article on the subject was found, although there are other publications, local and regional, which has still emphasized the memory of the event, significant both international sense - with respect to the management of radioactive waste - but also in the number of lawsuits and direct and indirect victims of the event.

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Introdução

Para entendermos historicamente o tecnodesastre de Goiânia com o Césio-137 (1987), precisamos levar em conta as perspectivas da História Ambiental, pois este perpassa as intersecções entre o humano e o não-humano. Nesse sentido, o desafio que se coloca é evitar o dualismo entre o que é considerado “natural” do que é considerado “humano”, pois, como coloca José Augusto Pádua, as relações são muito mais complexas, e reduzi-las a essa dualidade prejudica essa complexidade (PÁDUA, 2010). Sendo assim, podemos afirmar que a visão que o ser humano tem do ambiente não é algo natural, e que as compreensões e maneiras de representá-lo são históricas na medida em que se modificam com o passar do tempo. No caso da intersecção entre energia nuclear e sociedade, essa perspectiva se torna clara por sabermos que a radioatividade pode ser encontrada no ambiente de forma natural, e que só se torna um problema quando manipulada erroneamente, ou quando sua aplicação e fiscalização foge do controle, como aconteceu na cidade de Goiânia em 1987.

Como base norteadora da pesquisa, será utilizado o conceito que Ulrich Beck definiu como “sociedade de risco”. Este modelo de sociedade, segundo ele, é um contraponto ao modelo industrial do final do século XIX no ocidente. Para Beck, a sociedade de risco se diferencia da sociedade industrial no controle das incertezas. Ou seja, no final do século XIX a preocupação das classes existentes girava em torno da distribuição de riquezas, e em como fazê-la ser considerada legítima mesmo sendo desigual. Acreditava-se que os riscos eram sempre controlados, visto que a miséria poderia ser segregada da fartura por fronteiras bem nítidas. Já na sociedade de risco, que se inicia no século XX, o avanço da tecnologia cria novos riscos, que já não podem ser controlados por fronteiras. A energia nuclear é um bom exemplo disto. Esta não escolhe nação, idade ou classe social. Em caso de mau uso, a contaminação pode atingir todas as esferas da sociedade sem se preocupar com fronteiras políticas ou sociais. Nesse sentido, Beck argumenta que “os riscos da modernização, cedo ou tarde, acabam alcançando aqueles que os produziram ou que lucraram com eles” (BECK, 2010, p. 27). O tecnodesastre com o césio-137 mostra como esse conceito pode ser visto em prática, pois não se pode dizer com certeza quais os níveis de contaminação, e nem mapeá-los completamente.

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memórias compartilhadas em uma população. Segundo ele, a História se utiliza da memória coletiva das sociedades, e apesar de apresentar um caráter de seletividade, alguns meios específicos permeiam essa “decisão” do que deve e do que não deve ser lembrado. Nesse sentido, Le Goff argumenta que a “amnésia” não é apenas um distúrbio individual, mas pode se apresentar em sociedades determinando “distúrbios graves de identidades coletivas” (LE GOFF, 1990, p. 426). Ou seja, o que será ou não tornado rememoração dentro de um ambiente social perpassa um jogo de poderes, onde “os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores desses mecanismos de manipulação da memória coletiva.” (LE GOFF, 1990, p. 427).

Como fonte de pesquisa, foram utilizados documentos da imprensa, dando ênfase à revista Veja. Esse tipo de fonte se torna importante no debate por ser um meio de difusão de notícias acessível, e um considerável produtor de senso comum. Para trabalhar com periódicos, portanto, optamos por considerar os cuidados e oportunidades identificados por historiadoras como Maria Helena Capelato que argumenta sobre o caráter de “empresa” das mídias. A imprensa jamais se exime das subjetividades dos articulistas, mas também não pode se eximir da responsabilidade e do chamamento dos leitores. Nesse sentido, jamais neutra, ela influencia, escolhe e estabelece eventos, ao mesmo tempo em que se apropria de tantos outros oriundos das demandas sociais, uma vez que, também, é mercado (CAPELATO, 1998). Quando pensamos as revistas de circulação nacional e as notícias que elas vinculam, é fundamental considerar, portanto, que cada colocação, cada artigo, cada manchete, dentro dela passa por um crivo editorial extremamente marcado pelos interesses tanto da editora, como do editor, e até a localização geográfica da notícia em uma página precisa ser perscrutada nesse jogo de interesses.

1. A imprensa e os aniversários do acidente

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contrapartida, com nenhum comprometimento com a visibilidade que deveria ser dada às vítimas do acidente.

Esse quadro se agrava nos aniversários do acidente. Absolutamente nenhuma reportagem foi encontrada na revista em todas as edições dos anos referentes à “comemoração” do evento. Ao se deparar com essa situação, seguiu-se uma busca em outros meios em caráter de comparação. Em sites da internet podem se encontrar algumas manchetes sobre os aniversários nos anos de 2007 e 2012, porém informações presentes na internet são esparsas e só são visualizadas mediante busca específica pelo tema. Sendo assim, precisa-se ter conhecimento do acidente para encontrar essas reportagens.

Segundo artigos referentes às comemorações do acidente publicados pela professora goiana Telma Camargo da Silva, até o ano de 2007 alguns eventos de aniversário foram realizados pelos radioacidentados em parceria com as fundações criadas para acompanhamento destes e com o Governo Estadual. Porém, esses eventos e consequentemente as notícias referentes a eles, são apenas locais, e não nacionais. Não sendo conhecidos pela maioria da população brasileira.

A questão que se impõe a partir dessa discussão é: qual é o papel da imprensa na sociedade brasileira? Informar ou vender? Analisando a abordagem da revista Veja sobre o acidente com o Césio-137 podemos observar claramente o que Maria Helena Capelato nos apontou em sua metodologia de trabalho com os periódicos. Estes são empresas visando lucros, o que nem sempre está em consonância com a real situação vivida, muito menos com os envolvidos em eventos traumáticos como o aqui exposto.

Considerações finais

Sendo assim, percebemos que a imprensa brasileira de circulação nacional não tem interesse algum em dar visibilidade a esse acidente. O intuito desse trabalho, portanto, é ir contra esse silenciamento, trazendo à tona a discussão para que outros tecnodesastres como esse não voltem a ocorrer no Brasil por negligência das autoridades e falta de informação das massas.

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BECK, U. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Editora 34, 2010. CAPELATO, Maria Helena. Imprensa e História no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, 1988. LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Editora UNICAMP, 1990.

SILVA, Telma Camargo da. As celebrações, a memória traumática e os rituais de aniversário. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2007.

Referências

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