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ARAPIRACA: MEIO TÉCNICO-CIENTÍFICO INFORMACIONAL E FOME NO AGRESTE ALAGOANO 1

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Academic year: 2021

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ARAPIRACA: MEIO TÉCNICO-CIENTÍFICO INFORMACIONAL E FOME NO AGRESTE ALAGOANO1

Paul Clívilan Santos Firmino UNEAL – NEJC. Email: paul.santos@uneal.edu.br Tairan Barbosa de Oliveira UNEAL – NEJC. Email: tairan.barbosa@uneal.edu.br

INTRODUÇÃO

Partindo do pressuposto de que a história da humanidade se desenvolve a partir da interação do homem com a natureza, pode-se entender o período atual como Técnico-Científico Informacional, conforme aponta Santos (2008), diferenciando-se dos anteriores pela forte interação entre a ciência, a técnica e a informação. Produzindo assim, um mundo cada vez mais artificial, abarcando não somente as grandes cidades como também o mundo rural, impondo um império de técnicas cada vez mais carregadas de artificialidades. Esse Período Técnico-Científico Informacional que se impõe a todos os territórios, sobretudo através da informação, conhece uma difusão mais rápida dos objetos. Entretanto não é uma difusão generalizada e está subordinada a lógica global, que é a lógica do capital e dos atores hegemônicos.

Trilhando nessa perspectiva observa-se que o mundo torna-se unificado, a ação humana passa a ser mundial e tendo a globalização como uma das características mais marcantes desse período da história. Porém, a globalização deve ser vista à luz de suas perversidades, uma vez que se impõe para a maior parte da humanidade de forma perversa de tal forma que todos os tipos de relações sociais passam a ser modificadas a partir da grande influência do dinheiro e da informação que se tem neste período. Nessa perspectiva aumenta-se a produção, o consumo, amplia-se a pobreza ao mesmo tempo em que também aumenta o papel das empresas frente à vida social.

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especialmente nas periferias do capitalismo, a ter que encará-los e lutar para dizimá-los do mundo de uma vez por todas. Na verdade, “não é que a produção necessária seja globalmente impossível. Mas o que é produzido – necessária ou desnecessariamente – é desigualmente distribuído” (SANTOS, 2008). Dessa forma, fica claro que com a tecnologia hoje disponível é possível produzir comida suficiente para alimentar a população do mundo com folga. Porém há uma escassez produzida, o que significa dizer que a produção de alimentos se processa como fenômeno econômico e não como um fator ligado a interesses de saúde pública.

OBJETIVOS

Em sintonia com esse contexto, busca-se no presente trabalho reconhecer e analisar o fenômeno da fome dentro do quadro de perversidades geradas pela globalização nos dias presentes concebendo-o como uma “expressão biológica dos males sociológicos”, conforme já apontado por Castro (2001). Para tanto, tomou-se como recorte espacial a porção sudoeste da cidade de Arapiraca (Alagoas) composta essencialmente pelos bairros Manoel Teles, Cacimbas e Primavera, bem marcados pela relação entre escassez x abundância, dando ênfase ao bairro Manoel Teles.

METODOLOGIA

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RESULTADOS PRELIMINARES

O homem – esse ser capaz de pensar e criar possibilidades para sua sobrevivência – e todo tipo de relação que o envolve com o seu meio é dada de maneira direta ou indireta por certo tipo de técnica, que vem desde períodos pré-históricos até os dias atuais. Cada técnica é especifica de seu tempo, criada na maioria das vezes para satisfazer determinadas necessidades humanas (comer, vestir, protege-se do frio ou do calor, locomover-se entre vários outros exemplos), e que evoluem a cada período da história, podendo ser substituída por uma nova técnica ou por várias técnicas ao mesmo tempo. Uma completando a outra formando conjuntos de técnicas, de modo que uma dependa da outra para continuar existindo, não conseguindo mais sobreviver isoladamente. Santos (2006, p. 176) se refere a vida e a evolução das técnicas como “conjuntos de técnicas aparecem em um dado momento, mantêm-se como hegemônicos durante um certo período, constituindo a base material da vida da sociedade, até que outro sistema de técnicas tome o lugar. É essa a lógica da sua existência e de sua evolução”.

Em um primeiro momento da historia, as técnicas que existiam eram especificas de cada grupo humano, basicamente o que havia eram as técnicas do corpo, as quais o homem intervia na natureza sem grandes modificações. Utilizando em sua maioria os objetos da natureza, o trabalho aí se dava de forma particular com o meio, de maneira que se tinha uma harmonia sócio-espacial respeitando a natureza ao seu redor, e o homem tinha o poder de comandar os sistemas técnicos existentes.

No decorrer da história os grupos humanos começaram a fazer trocas com outros grupos, chegando a um ponto em que um começa a impor suas técnicas no grupo do outro. Assim, certas técnicas começam a se envolver com outras, de tal forma que com o passar do tempo uma não possa mais viver sem outra, nesse período os objetos começa a sofrer uma grande substituição - os objetos naturais pelos artificiais - desafiando assim as lógicas naturais. O homem passa a criar um novo tempo tanto na vida pessoal como profissional colocando as ações humanas frente às forças naturais, possibilitando novos usos do território, não apenas através do corpo do homem, mas o que sobressai nesse momento é a invenção, implantação e difusão de um número variado de maquinas, rodovias, linhas férreas, entre outras.

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Técnico-Científico Informacional Santos (2008), diferenciando-se dos anteriores devido a forte interação entre a ciência, a técnica e a informação, produzindo um mundo cada vez mais artificial, abarcando não somente as grandes cidades como também o mundo rural, impondo seu império cada vez mais carregados de artificialidades.

O MEIO TÉCNICO-CIENTIFICO

O período histórico que surge após a Segunda Guerra Mundial, mas precisamente em fins dos últimos decênios do século XX e que vem se expandindo até os dias atuais, possibilita ao homem através do desenvolvimento das novas tecnologias, criar um novo tempo. Dando maior velocidade as forças produtivas, mudando todo um tradicional sistema de produção em um ritmo muito mais acelerado, com custos cada vez mais baixos como nunca se viu na história da humanidade, espalhando-se por todos os recantos da superfície do planeta.

Entretanto, malgrado todos os avanços conhecidos, o período é caracterizado pelas perversidades materializadas nos lugares, nos territórios, no espaço geográfico, que se constitui em receptáculo dos novos conteúdos. E, com eles, a internacionalização da produção, generalização do fenômeno do crédito, culturas e economias internacionais, contribuindo desse modo para o aumento da miséria e da exclusão social.

A partir do segundo pós-guerra da-se a introdução de uma gama de novas técnicas que resultam em novos usos do território, revelando diferentes condições de vida decorrentes dos novos meios e formas de consumo. Isso deve-se a expansão do modo de produção capitalista que atinge todos os lugares impondo-lhes normas e regras ditadas pelo mercado global, comandada pelos atores hegemônicos (empresas, instituições, grandes corporações, etc), que passaram a mudar o significado do tempo e do espaço para o homem.

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(...) aqueles que mais acumulam densidades técnicas e informacionais, ficando assim mais aptos a atrair atividades com maior conteúdo em capital, tecnologia e organização. Por oposição, os subespaços onde tais características estão ausentes seriam os espaços opacos (SANTOS, 2006, p.264).

Em contra partida é necessário observar que na maior parte do mundo ainda há uma profunda escassez dessas novas tecnologias, por não serem disseminadas de maneira generalizada. Logo, quando chegam em um determinado lugar já estão ultrapassada em relação a criação de um novo objeto, porém aparecem como algo novo, fazendo com que as pessoas fiquem fascinadas pelo “novo”. Alienando-se e esquecendo-se do que realmente é essencial para a vida. Assim, apesar de todo desenvolvimento que caracteriza o período, há uma crescente criação de novas desigualdades, visto que cada lugar tem suas diferenças e particularidades em relação aos demais, seja em termo econômico, social, cultural ou religioso.

Trilhando nessa perspectiva observa-se que o mundo torna-se unificado, a ação humana passa a ser mundial tendo a globalização como uma das características mais importante desse período da história. Porém deve ser vista à luz de suas perversidades que se impõe para a maior parte da humanidade como uma globalização perversa. De tal forma, que todos os tipos de relações sociais passam a ser modificadas a partir da grande influência do dinheiro e, sobretudo da informação que se tem neste período, aumentando dessa forma a produção, o consumo, amplia-se a pobreza.

MEIO TÉCNICO-CIENTIFICO, ABUNDÂNCIA E ESCASSEZ

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A fome determinada pela inclemência da natureza constitui um acidente excepcional, enquanto que a fome como praga feita pelo homem constitui uma condição habitual nas mais diferentes regiões da Terra: toda terra ocupada pelo homem tem sido por ele transformada em terra da fome (Castro, 1968, p.72).

Dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) apontam que com a tecnologia hoje disponível é possível produzir comida suficiente para alimentar a população do mundo com folga. Contudo, há uma escassez produzida, o que significa dizer que a produção de alimentos se processa como fenômeno econômico e não como um fator ligado a interesses de saúde pública. Por conseguinte, a fome se amplia cada vez mais, reforçando as “geografias da desigualdade” que são produtos do processo de apropriação desigual do valor – valor de uso versus valor de troca, conforme assevera Souza (1994, p. 30).

Assim, a relação escassez x abundância carece de outra explicação, pois enquanto uns poucos vivem com muito, muitos vivem com pouco, ou nada. Trata-se, pois, de uma realidade que se alastra mundo afora, especialmente nas periferias do capitalismo. O que significa dizer que a fome no dias de hoje não é algo que possa ser compreendido isoladamente, mas como “parte de um conjunto de desigualdades que se combinam de maneiras complexas nos diferentes lugares simultaneamente” (TOZI, 2003, p. 496).

À luz dessa realidade busca-se no presente trabalho reconhecer e analisar esse processo a partir da realidade alagoana, tendo como recorte espacial a porção sudoeste da cidade de Arapiraca, formada pelos bairros Manoel Teles, Cacimbas e Primavera, bem marcados por essa relação entre escassez X abundância.

Localizada na Mesorregião do Agreste Alagoano, Arapiraca se constitui numa importante cidade média do interior nordestino; centro dinâmico, prestador de serviços, comportando atividades modernas e consequentemente globalizadas. O que pode ser constatado a partir do seu amplo e variado comércio que atrai pessoas de todo o estado e de estados vizinhos.

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Fonte: Prefeitura Municipal de Arapiraca

ESTÁGIO ATUAL DA PESQUISA

O meio técnico científico-informacional é contraditório e é a cara geográfica da globalização. Assim, é possível concluir que a ‘escassez’ e conseqüentemente, a fome dela decorrente, está associada a esse meio. O quadro constatado na porção sudoeste de Arapiraca é prova dessa realidade que a rigor não se repete de forma tão explícita em outras partes da cidade. O elevado número de objetos técnico, associados a “qualidade de vida” por eles proporcionada contrastam com o quadro de pobreza e de fome dominante, especialmente no bairro Manoel Teles, que terá uma maior atenção na próxima etapa da pesquisa, reservada ao aprofundamento do estudo da fome.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

CASTRO, Josué. Geopolítica da Fome: ensaio sobre os problemas de alimentação e de população. 2 v. 8 ed. São Paulo: Brasiliense, 1968.

____. Geografia da Fome – O dilema brasileiro: pão ou aço. 14 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

ORTEGA Y GASSET, José. Meditação da Técnica. Rio de Janeiro: Livro Ibero-Americano Limitada, 1963.

SANTOS, Milton. O Retorno do Território. In: SILVEIRA, Maria Laura et al (Org.)

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_____. Por uma Outra Globalização – do pensamento único à consciência universal. 15 ed. Rio de Janeiro: Record, 2008a.

_____. Técnica, Espaço, Tempo: globalização e meio técnico-científico informacional. 5 ed. São Paulo: Edusp, 2008b.

SOUZA, Maria Adélia Aparecida de. Geografia das Desigualdades e Globalização: Relendo a Geografia da Fome. In: I Fórum A Fome e a Atualidade de Josué de Castro. Recife: Condepe, 1994.

SOUZA, Maria Adélia Aparecida de. Globalização e Efeitos Perversos: Relendo a Geografia da Fome. Aracaju, 1º Encontro Nacional da ANPEGE, 5 – 9 de Outubro de 1995.

_____, SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. 6 ed. São Paulo: Record, 2006.

_____. Geografias da Desigualdade: globalização e fragmentação. In: SILVEIRA, Maria Laura et al (Org.) Território, Globalização e Fragmentação. 2 ed. São Paulo: Hucitec, 1996. p. 21-27.

Referências

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