Possibilidades, limites e desafios dos Serviços de Psicologia: a avaliação psicológica e as teorias e técnicas psicoterápicas na formação do profissional de saúde
Neuza Maria de Fátima Guareschi Carolina dos Reis PUCRS
No intuito de contribuir nos debates que pretendem realizar neste Encontro, no que se refere à construção de um diálogo que fortaleça a construção de espaços permanentes de discussão sobre a interface formação-profissão com as Instituições Formadoras e os Serviços de Psicologias destas, propomos discutir uma área da formação em Psicologia que prepara o profissional para a atuação nestes serviços. Para isso apresentamos a análise de uma pesquisa que estamos realizando com os conteúdos de Teorias e Técnicas Psicoterápicas e a Avaliação Psicológica na formação em Psicologia.
Essa pesquisa tem por objetivo discutir o quanto à formação em Psicologia, a partir da análise de currículos contempla a formação dos profissionais de saúde para o SUS. O processo de análise aconteceu em duas etapas: a primeira envolveu o contato com as universidades. Foram contatadas seis Instituições de Ensino Superior, para estas foram apresentados o projeto e os objetivos da pesquisa. Nessa primeira etapa, realizou-se uma análise das grades curriculares de cursos de Psicologia de seis universidades. Através dessa análise, foram selecionadas as disciplinas que, pelas nomenclaturas, remetiam direta ou indiretamente às questões sobre saúde.
A partir desse levantamento, as disciplinas foram organizadas em Eixos Temáticos que emergiram no decorrer da pesquisa, esses eixos foram assim intitulados: Eixo das Biomédicas, Eixo das Teorias e Técnicas Psicoterápicas e da Avaliação Psicológica e Eixo da Psicologia Social e Comunitária.
Na segunda etapa da pesquisa objetiva-se destacar e discutir os direcionamentos para os
quais as ementas, conteúdos e bibliografias dos programas das disciplinas caminham, no sentido
de demarcar a formação acadêmica em Psicologia para as transformações do conceito de saúde
proposto pelo SUS. Para tanto os conteúdos dos programas foram organizados em quadros, com
intuito de organizar o conjunto de disciplinas pelos eixos temáticos. Podendo-se, assim,
visualizar possíveis atravessamentos entre os conteúdos desses programas. Posteriormente,
destacamos alguns enfoques temáticos através da análise dos Programas – Ementas, Conteúdos e
Bibliografias – que evidenciam os fundamentos teóricos e epistemológicos dos processos de
aprendizagem que sustentam, atualmente, a formação em Psicologia na área da saúde. Para esse
evento traremos a discussão deste segundo Eixo. Portanto, o que se refere ao Eixo das Teorias e Técnicas Psicoterápicas e da Avaliação Psicológica, destacando-se três enfoques temáticos: Teorias e Técnicas, Avaliação Psicológica e Diagnóstico, e, Psicopatologia e Tratamento.
Teorias e Técnicas
Neste primeiro enfoque temático estão inseridas as disciplinas do eixo de Avaliação Psicológica e Psicopatologia que aparecem voltadas para o estudo teórico de conceitos que deverão, posteriormente, ao longo dos currículos dos cursos fundamentar o ensino do desenvolvimento das técnicas e das práticas de psicoterapia na formação do psicólogo. Este processo de ensino focado na aprendizagem das técnicas se mostra, de maneira geral, caracterizado por um viés mais tecnicista. Essa lógica direciona os currículos no sentido de privilegiar o ensino dos conteúdos que fundamentam a aprendizagem dessas técnicas e práticas de psicoterapia. Se tomarmos como exemplo a disciplina de Teorias e Técnicas Psicoterápicas em Psicanálise
1são elencados conteúdos a serem estudados que se referem ao estudo teórico das especificidades da psicanálise com crianças e adolescentes, e a conceitos como o de transferência e o de sintoma. Esses conteúdos aparecem no programa sempre ao lado de expressões como a construção do campo clínico ou a clínica com crianças, direcionando o estudo desses conceitos, ou seja, a aprendizagem para a aplicação dessas práticas psicoterápicas. Esse mesmo direcionamento se evidencia na disciplina de Teorias e Técnicas Psicoterápicas em Cognitivo, em que na relação de conteúdos aparece o estudo de conceitos como o de pensamentos automáticos e crenças centrais, e, ainda, o estudo dos modelos teóricos: cognitivo racionalista, cognitivo construtivista e cognitivo pós-racionalista. Esses conteúdos são seguidos de outros voltados, então, para o estudo da técnica, ou seja, para a aplicação dessas na prática terapêutica: Processo Terapêutico: entrevista inicial, setting terapêutico, estrutura das sessões, Relação Terapeuta – Cliente, Terapeuta: pessoa e papel.
Embora os conceitos sejam estudados visando à aprendizagem para a aplicação da técnica, na grande maioria, as disciplinas propõem pouca ou nenhuma interação com as vivências práticas e/ou com experiências profissionais. Os currículos dos cursos estão organizados de forma que primeiro sejam estudadas todas as disciplinas teóricas e, somente para depois, na inserção dos alunos em estágios profissionais, vivenciarem esta interação. Geralmente, nos currículos, as disciplinas de estágio iniciam a partir do sexto ou sétimo semestre, quando as disciplinas teóricas já foram concluídas, evidenciando um distanciamento entre a teoria e a prática, o que vem reforçar uma dicotomização no processo de aprendizagem e formação. Essa lógica dicotomizada exposta nos currículos pode levar a pensar a
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