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Estado capitalista, lutas políticas e eleições: uma análise com Gramsci

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D O S S IÊ G R A M S C I

E S T A D O C A P IT A L IS T A , L U T A S P O L íT IC A S

E E L E iÇ Õ E S : U M A A N Á L IS E C O M G R A M S C I

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

osso esforço nestelkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAM ARIA CRISTINA DE Q UEIRO Z NO BRE*

artigo consiste em RESUMO

Pensar com Gramsci o O artigo trata da política na sociedade capitalista, delimitada

,..,nificado da po Iítica na pelo momento em que ocorre a ampliação do Estado. Este

ociedade ca p ita Iista e, representa a necessidade da construção de uma hegemonia em torno dos interesses da classe capitalista. Nesse

senti-- mbérn, como corolário, o

do, o domínio de uma classe sobre as outras se víabiliza

entido e o alcance dos não apenas pela força (coerção), mas também pelo

con-~rocessos eleitorais. O que senso. A partir do próprio desenvolvimento do Estado

de-_ possível mudar no ca pi- mocrático, a luta pela hegemonia é estabelecida, comumente, num campo político mais participativo, possibilitado pelas

.ísmo a partir da política? formas institucionais do sufrágio universal edo parlamento. ( .. .)edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAc o m o o r g a n i s m o p r ó

-ual o espaço das eleições Portanto,aseleiçõesganhamimportâncianesseprocesso p r i o d e u m g r u p o , d e s t i

-contexto do Estado por evidenciarem a disputa ideológica entre as classes n a d o a c r i a r a s c o n d i ç õ e s

pita lista? Por que os sociais, mesmo sendo apenas um momento da luta política fa v o r á v e i s à e x p a n s ã o entre elas. De forma geral, percebe-se que a política é

nrocessos eleitorais se m á x i m a d e s s e g r u p o , m a s

sempre a capacidade das classes sociais se enfrentarem

realizam nesta sociedade? mais diretamente na disputa pelo poder, como condição e s t e d e s e n v o l v i m e n t o e

Que elementos estão em jogo para a constituição de uma nova sociabilidade. e s t a e x p a n s ã o s ã o c o n c e

-nesses momentos? Estes são b i d o s e a p r e s e n t a d o s c o m o

ABSTRACT

ecisivos para provocar This article deals with capitalist society, in the context of a fo r ç a m o t r i z d e u m a 1Uda n ças s u bsta n cia is nas state enlargementt and the need of a capitalistic hegemony e x p a n s ã o u n i u e r s a i , d e

relações sociais? Qual o thatprotectstheinterstsofcapitalism.Butunderstanding u m d e s e n v o l v i m e n t o d e Gramsci's conception of State as a construction of hegemony

alcance de uma eleição do t o d a s a s e n e r g i a s ' n a c i o

-by coercion and consensus, we've noted that in democratic

pomo de vista da legítímação contries, elections are influenced by social movements,HGFEDCBAn a is ', i s t o é , o g r u p o d o

-Je projetos sociais? unions and others. So, this capitalistic hegemony has a m i na r i t e é c o o r d e n a d o

Estas questões se particularcaracteristicthatincludessocialconflictsandpo- c o n c r e t a m e n t e c o m os i n -pular participation.

inscrevem numa reflexão t e r e s s e s g e r a i s d o s g r u p o s

geral sobre o Estado capi- 'Professora Assistente do Curso de Serviço Social, da s u b o r d i n a d o s e a v i d a e s

-ta lis-ta , referenciada em Universidade Estadual do Ceará. Aluna do Doutorado em t a t a l é c o n c e b i d a c o m o

categorias teóricas elabora- Sociologia, na Universidade Federal do Ceará. u m a c o n t í n u a fo r m a ç ã o e

das por Gramsci. Esta escolha ocorre porque s u p e r a ç ã o d e e q u i l í b r i o s i n s t á v e i s ( n o

nosso interesse não é o Estado em toda a sua â m b i t o d a l e i ) e n t r e os i n t e r e s s e s d o

dimensão histórica, mas a expressão do Estado g r u p o fu n d a m e n t a l e o s i n t e r e s s e s d o s

capitalista em sua fase ampliada, o que é g r u p o s s u b o r d i n a d o s , e q u i l í b r i o s e m

particularmente acompanhado pelo teórico q u e o s i n t e r e s s e s d o g r u p o d o m i n a n

-italiano. Nesse momento, o processo político na t e p r e v a l e c e m , m a s a t é u m d e t e r m i

-sociedade capitalista torna-se mais complexo, n a d o p o n t o , o u s e j a , n ã o a t é oe s t r e i t o

-, [vendo diferentes instâncias nas relações i n t e r e s s e e c o n ô m i c o - c o r p o r a t i v o

m como, quando se (Gramsci, 2002: 41-42),

-',

- -..

B e

L ' I I! 1 - :.....: ·r. .,-..,',

P E R !O D iC O S

consolidam instituições e

práticas sociais que são

determinantes para

cons-truir e consolidar projetos sociais, até mesmo aqueles com caráter anticapitalista.

Assim, para Gramsci, o

Estado deve ser concebido:

(2)

D O S S IÊ G R A M S C IzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Em outra passagem, quando aborda a

função do direito, Gramsci reafirma a

subordinação do Estado aos interesses da classe

dominante:edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

( . . . ) a t r a u é s d o ' d i r e i t o ' , o E s t a d o t o r n aHGFEDCBA 'h o m o g ê n e o ' og r u p o d o m i n a n t e e t e n

-d e a c r i a r 1 1m c o n fo r m i s m o s o c i a l q u e

s e j a ú t i l à l i n h a d e d e s e n v o l v i m e n t o d o

g r u p o d i r i g e n t e (2002: 240).

Este primeiro aspecto da leitura de Grarnsci sobre o Estado ressalta o seu caráter capitalista;

ou seja, o Estado se traduz como um poder de

dominação de classe, mas que não aparece dessa

forma e sim como uma representação imparcial

de interesses abstratos e, portanto, um poder que está acima das classes sociais. Aqui se estabelece

uma relação visceral entre o poder político e o

tipo de sociedade em que este se realiza. Significa

perceber que a classe capitalista domina

exatamente porque nela se assentam condições

mais favoráveis ao domínio social que decorrem

das relações originadas no processo de produção de mercadorias.

Em outros termos, reconhecer o caráter de

classe do poder político significa lembrar que o

conjunto das relações nesta sociedade incorpora a

relação igualitária entre os proprietários de

mercadorias, bem como a relação antagônica entre capital e trabalho e a dominação do segundo pelo

primeiro. Isto ocorre na medida em que o

capitalismo se organiza a partir da produção e

troca de mercadorias e pelo fato desse processo

estar pautado na expropriação do trabalho e na

exploração do seu produtor direto (Cf. Marx, 1996). Esse antagonismo revela um movimento ininterrupto

de negação do próprio homem: suas capacidades

laboral e intelectual estão subordinadas ao processo de produção de mercadorias, bem como o conjunto de suas relações sociais é delineado pela dominação do capital sobre o trabalho.

Assim, a sociabilidade no capitalismo se

fundamenta, de fato, numa relação entre classes

sociais, embora se expresse imediatamente como

72

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS V. 35lkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAN.2

a efetivação de relações entre indivíduos

atomizados. Por sua vez, essas relações entre as

classes se concretizam enquanto dominação de

uma sobre as outras, ainda que se apresentem

unicamente como relações de igualdade entre

indivíduos livres. Portanto, a dominação na

sociedade capitalista, da classe dos capitalistas

sobre a classe dos trabalhadores, é subsumida

nas formas abstratas de liberdade e igualdade.

O poder político assume funcionalidade

a partir dessa totalidade contraditória do

capitalismo e da sua forma peculiar de se

expressar. O Estado capitalista constitui-se em

uma instituição de poder que sintetiza as relações dessa sociedade; quer dizer, preserva as relações

de igualdade entre os indivíduos para que as

relações desiguais entre as classes sociais se

realizem. Com isto, esse poder cumpre um papel

fundamental na sociedade capitalista: tanto

ideológico, ao encobrir esse caráter de classe

do capitalismo, quanto coercitivo, ao garantir a

efetivação desse domínio através de suas

instituições militares e jurídicas".

Como a dominação da classe dos

capitalistas sobre a classe dos trabalhadores não

se apresenta enquanto exploração direta, mas é

mediada pelo intercâmbio mercantil/, surge a

necessidade de um poder político que se coloque

acima das classes, representando somente a

liberdade e a igualdade dos cidadãos. Da mesma

forma, dado o caráter contraditório do modo de

produção capitalista, o Estado organiza e

implementa suas políticas a partir da idéia de

representação de todos os indivíduos, ainda que

tais políticas tenham como fundamento a

particular dominação de classe capitalista.

Conquanto o Estado seja a representação

predominante do poder da classe capitalista

-configurada a partir das condições específicas

da luta social - ele não pode demonstrar a

transparência de seu poder, apresentando-se

como uma vontade geral. O Estado capitalista

se organiza e desenvolve suas funções a partir

das noções abstratas de liberdade e igualdade

consubstanciadas na representação dos cidadãos,

(3)

D O S S IÊ G R A M S C I

o m ozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAna representação dos interesses gerais

munidade. Assim, esse Estado aparece não

o poder burguês que é, mas como o poder

o' os indivíduos que compõem a sociedade.

me ma forma, os interesses da classe

iina nte aparecem representados como

e sses gerais e como interesses de toda a

edade.

A razão de o Estado capitalista tomar a

de uma vontade geral fundamenta-se na

e' 'idade, já exposta, de que as desigualdades

rentes ao conjunto dessa sociedade sejam

uardadas, ou seja, que as relações desiguais re as classes sociais, originadas no processo

modução capitalista, apareçam como relações

izualdade entre os indivíduos portadores de

eitos porque são proprietários. O Estado só

e realizar essa tarefa na medida em que se

resente acima das classes. Por sua vez, a

Iízação dos interesses da classe dos capitalistas

plica que estes assumam a forma de um

jeto de toda a comunidade, sintetizados na

ra do Estado.

Isto significa, portanto, que a realização

o poder classista do Estado pressupõe que ele

. sua legitimidade. Tal legitimidade se expressa

ser o Estado assumido como representação

zeral da comunidade e/ou ao serem suas ações

eiras como necessárias e adequadas a toda a

ciedade. Dessa forma, o Estado aparece como

m poder autônomo, independente de interesses

.ndividuais ou de grupos sociais e que unificalkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

'1 . interesses do conjunto da sociedade. O Estado

.apitalista precisa se mostrar enquanto

(. .. ) oedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAr e p r e s e n t a n t e d o s ' i n t e r e s s e s u n i

-v e r s a i s ' d a s o c i e d a d e e , e n q u a n t o t a l , a

e x p r e s s ã o o r g â n i c a d a c o m u n i d a d e

n a c i o n a l (B oron, 1994: 255).

Aqui se trata tanto de um processo que

busca a adesão de outras classes e segmentos

de classe em torno das idéias da classe majoritária

economicamente, quanto um processo de

incorporação de interesses dos gru pos

subordinados, conquanto não prejudique os

interesses essenciais daquela classe social.

Trata-se de um processo de constituição e

consoli-dação da hegemonia de uma classe sobre as

outras, o que pressupõe:

( . . .) s e j a m l e v a d o s e m ç o n t a o s i n t e r e s

-s e -s e a -s t e n d ê n c i a -s d o s g r u p o s s o b r e os

q u a i s a h e g e m o n i a s e r áHGFEDCBAe x e r c id a , q u e

s e fo r m e u m c e r t o e q u i l í b r i o d e c o m

-p r o m i s s o s , i s t o é , q u e og r u p o d i r i g e n t e fa ç a s a c r i fí c i o s d e o r d e m e c o n ô m i c o

-c o r p o r a tiu a , m a s t a m h é m é i n d u b i t á v e l

q u e t a i s s a c r i fí c i o s e t a l c o m p r o m i s s o n ã o

p o d e m e n v o l v e r o e s s e n c i a l , d a d o q u e , s e a h e g e m o n i a é é t i c o - p o l í t i c a , n ã o

p o d e d e i x a r d e s e r t a m b é m e c o n ô m i c a ,

n ã o p o d e d e i x a r d e t e r s e u fu n d a m e n t o

n a fu n ç ã o d e c i s i v a q u e og r u p o d i r i g e n t e e x e r c e n o n ú c l e o d e c i s i v o d a a t i v i d a d e

e c o n ô m i c a (Gramsci, 2002: 48).

O conceito de hegemonia, nos termos

elaborados por Gramsci, portanto, não nega o

caráter capitalista do Estado. Ao contrário,

preserva essa dimensão e, ao mesmo tempo,

revela que a dominação é também de ordem

ideológica e político-cultural; ou seja, que o

domínio de uma classe sobre outras classes se

viabiliza não apenas pela força (coerção), mas

também pelo consenso. Por sua vez, o próprio

consenso em torno das idéias mais diretamente

vinculadas à classe majoritária só tem sentido

caso se projete no mundo das leis e da coerção.

Como nos adverte Gramsci, o próprio

Estado participa ativamente da construção desse

consenso: "O Estado tem e pede o consenso,

mas também 'educa' este consenso através das

associações políticas e sindicais" (Idem: 119).

Em outra passagem, ele enfatiza esse caráter

educativo do Estado:

Q u e s t ã o d o ' h o m e m c o l e t i v o ' o u d o

' c o n fo r m i s m o s o c i a l ' . T a r e fa e d u c a t i u a

efo r m a tiu a d o E s t a d o , c u j o fi m é s e m

(4)

D O S S IÊ G R A M S C IedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

p r ezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAo d e c r i a r n o v o s e m a i s e l e v a d o s t I P O Sd e c i v i l i z a ç ã o , d e a d e q u a r a ' c i v i

-l i z a ç ã o ' e a m o r a l i d a d e d a s m a i s a m

-p l a s m a s s a s p o p u l a r e s à s n e c e s s i d a d e s

d o c o n t í n u oHGFEDCBAd e s e n u o lo im e n to d o a p a

-r e l h o e c o n ô m i c o d e p r o d u ç ã o e . p o r

-t a n -t o . d e e l a b o r a r t a m b é m fi s i c a m e n t e

t i p o s n o v o s d e h u m a n i d a d e (2002: 23).

Portanto, na manutenção de um dado

consenso social ou na criação de um outro, a

figura do Estado é central a esse processo.

A partir deste ponto, quando já passamos

a apresentar a grande contribuição de Grarusci"

ao debate marxista sobre o Estado, ao utilizar a

hegemonia como categoria central, chamo a

atenção para o desenvolvimento do poder estatal

também em termos históricos-políticos. Significa

reconhecer que a realização do Estado como

um poder decorre tanto das relações entre as

classes no sistema de produção de mercadorias,

em que a classe capitalista é de fato a força

social dominante, como também decorre dolkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

enfrentam ento político das classes sociais no

conjunto da vida social. É desse processo que

resulta o próprio Estado nacional, o que implica a constituição de "interesses universais"

perrneando as relações entre as classes. Em

outros termos, a realização de uma dada forma

estatal, como resultante das lutas entre as classes sociais, implica avançar de um poder

econômico-corporativo para construir, a partir de uma

vontade política, interesses que são "universais"

e, portanto, imediatamente acima dos interesses

particulares das classes sociais.

Ressalte-se que a elaboração do conceito

de hegemonia deve-se às novas condições

históricas que Gramsci acompanha. Tal conceito

relaciona-se à noção ampliada de Estado; ou

seja, ao reconhecimento de uma forma estatal

que resulta de relações mais complexas entre as

classes sociais. Trata-se, portanto, do próprio

desenvolvimento do Estado enquanto sociedade

política (no qual se expressa mais claramente o

poder coercitivo de classe) e sociedade civil

74

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS V.35 N.2

(espaço onde se sobressai o poder hegemônico

da classe dominante).

Esta última, a sociedade civil, constitui-se nos

( . . . ) o r g a n i s m o s p r i v a d o s ' e v o l u n

-t á r i o s , c o m o os p a r t i d o s , a s d i v e r s a s

o r g a n i z a ç õ e s s o c i a i s . os m e i o s d e

c o m u n i c a ç ã o , a s e s c o l a s , a s i g r e j a s . a s

e m p r e s a s . e t c (S em eraro, 1999: 74).

Nesses espaços são elaborados ideologias,

valores e projetos que buscam imprimir uma

direção na sociedade como um todo, a partir dos

interesses majoritários de uma dada classe social. A sociedade política, por sua vez, indica as

c..) i n s t i t u i ç õ e s m a i s p ú b lic a s , c o m o o

g o v e r n o , a b u r o c r a c i a . a s fo r ç a s a r m a

-d a s , o s i s t e m a j u d i c i á r i o . o t e s o u r o p ú -b l i c o , e t c . - s e c a r a c t e r i z a p e l o c o n j u n t o

d e a p a r e l h o s q u e c o n c e n t r a m o m o n o -p ó l i o l e g a l d a v i o l ê n c i a e v i s a a ' d o m i

-n a ç ã o (Serneraro, op. cit: 74).

o

Estado assume essa forma (sociedade

política + sociedade civil) na medida em que

não é mais só a expressão de força da classe

dominante, é também o seu triunfo ideológico,

pois cria um consenso em torno de seus

interesses e idéias, ainda que isto não signifique

a totalidade da aceitação desse projeto. Isto

ocorre no plano interior da luta de classes (Cf.

Carvalho, 1983: 43), quando as ideologias

( . . . ) e n t r a m e m c o n fr o n t a ç ã o e l u t a m

a t é q u e u m a d e l a s , o u p e l o m e n o s u m a

ú n i c a c o m b i n a ç ã o d e l a s , t e n d a a p r e

-v a l e c e r . a s e i m p o r . a s e i r r a d i a r p o r

t o d a a á r e a s o c i a l ( . . . ) c r i a n d o a s s i m a

b e g e m o n i a d e u m g r u p o s o c ia lfu n d a

-m e n t a l s o b r e u m a s é r i e d e g r u p o s s u

-h o r d i n a d o s (Grarnsci, 2002: 41).

Esta é uma fase da consciência coletiva

que Gramsci chama de mais estritamente política.

(5)

D O S S IÊ G R A M S C IzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Gramsci desenvolve esse conceito de

a partir do reconhecimento das diferenças

:1 -sociedades - suas formações históricas,

como suas organizações econômicas e

ítico-culturais.lkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

VoedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAO r i e n t e , o E s t a d o e r a t u d o , a s o c i e

-d a -d e c i v i l e r a p r i m i t i v a eg e l a t i n o s a ; n o

O c i d e n t e , h a v i a e n t r e o E s t a d o e a s o -c i e d a d e c i v i l u m a j u s t a r e l a ç ã o e , a o

o s c i l a r oHGFEDCBAE s ta d o , p o d i a - s e i m e d i a t a m e n -t e r e c o n h e c e r u m a r o b u s t a e s t r u t u r a d a

s o c i e d a d e c i v i l . OE s t a d o e r a a p e n a s u m a t r i n c h e i r a a v a n ç a d a , p o r t r á s d a q u a l

s e s i t u a v a u m a r o b u s t a c a d e i a d e fo r ta

-l e z a s e c a s a m a t a s . . . (2002: 262).

as sociedades ocidentais - em que as

coes entre as classes são mais complexas e

der político expressa tanto a coerção como

onsenso - ganha r e l e v o a força da "opinião lica". Esta constitui

( ... ) op o n t o d e c o n t a t o e n t r e ' s o c i e d a

-d e c i v i l ' e a ' s o c i e d a d e p o l í t i c a ' , e n t r e o c o n s e n s o e a fo r ç a . O E s t a d o q u a n d o q u e r i n i c i a r u m a a ç ã o p o u c o p o p u l a r .

c r ia p r e v e n t i v a m e n t e a o p i n i ã o p ú b l i

-c a a d e q u a d a . . . (2002: 265),

Dada essa importância,

( . . . ) e x i s t e l u t a p e l o m o n o p ó l i o d o s ó r

-g ã o s d a o p i n i ã o p ú b l i c a - j o r n a i s , p a r t i

-d o s , P a r l a m e n t o - d e m o d o q u e u m a s ó

fo r ç a m o d e l e a o p i n i ã o e , p o r t a n t o . a

v o n t a d e p o l í t i c a n a c i o n a l , d e s a g r e g a n d o

os q u e d i s c o r d a m n u m a n u v e m d e p o e i

-r a i n d i v i d u a l e i n o r g â n i c a (2002: 265).

Embora o Estado ampliado e o próprio

desenvolvimento da sociedade civil tenham

e tabelecido o exercício do poder político em

ermos mais complexos, é preciso lembrar que,

em momentos diferentes da luta social, esse poder

se expressa como a maior ou menor capacidade

do domínio hegemônico da classe dos

capitalistas. De fato, em momentos de intensa

luta social, a classe proprietária se vê forçada a

exercer um poder direto com o predomínio da

força, ou, nos termos grarnscíanos, uma maior

coerção. Nesses casos, ocorre a

( . . . ) s e p a r a ç ã o e n t r e s o c i e d a d e p o l í t i c a

e s o c i e d a d e c i v i l , d e s i n a l d e l i b e r d a d e ,

p o r t a n t o , a c a b a s e t r a n s fo r m a n d o e m

d e s l o c a m e n t o d a b a s e h i s t ó r i c a d o E s

-t a d o , a b r i n d o , a s s i m , o c a m i n h o p a r a fo r m a s e x t r e m a s d e s o c i e d a d e p o l í t i c a

(Serneraro, 1999: 74)

Essa forma autoritária do Estado expressa, de fato, uma crise de hegemonia.

Gramsci classifica essas situações como

crise de autoridade:

S e a c l a s s e d o m i n a n t e p e r d e o c o n s e n -s o , o u s e j a , n ã o é m a i s ' d i r i g e n t e ' , m a s

u n i c a m e n t e ' d o m i n a n t e ' , d e t e n t o r a d a

p u r a fo r ç a c o e r c i t i v a , i s t o s i g n i fi c a e x a

-t a m e n -t e q u e a s g r a n d e s m a s s a s s e d e s

-t a c a r a m d a s i d e o l o g i a s t r a d i c i o n a i s ,

n ã o a c r e d i t a m m a i s n o q u e a n t e s a c r e

-d i t a v a m , e t c (2002: 184),

Nesses períodos de crise orgânica, quando

a própria hegemonia do grupo dirigente está

comprometida,

( . . .) a s i t u a ç ã o i m e d i a t a t o m a - s e d e l i c a d a e

p e r i g o s a , p o i s a b r e - s e o c a m p o à s s o l u ç õ e s d e fo r ç a , à a t i v i d a d e d e p o t ê n c i a s o c u l t a s

r e p r e s e n t a d a s p e l o s h o m e n s p r o v i d e n c i a i s e

c a r i s m á t i c o s (Gramsci, 2002: 60).

E o pensador italiano descreve a crise de

hegemonia da classe dirigente:

( . . . ) q u e o c o r r e o u p o r q u e a c l a s s e d i r i

-g e n t e fr a c a s s o u e m a l g u m g r a n d e e m

(6)

D O S S IÊ G R A M S C IedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

p r e e n d i m e n t o p o l í t i c o p a r azyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAo q u a l p e d i u o u i m p ô s p e l a j o r ç a o c o n s e n s o

d a s g r a n d e s m a s s a s ( c o m o a g u e r r a ) ,

o u p o r q u e a m p l a s m a s s a s ( s o h r e t u d o

d e c a m p o n e s e s e d e p e q u e n o s b u r g u e

-s e -s i n t e l e c t u a i -s ) p a -s -s a r a m s u b i t a m e n t e

d a p a s s i u i d a d e p o l í t i c a p a r a u m a c e r t a

a t i v i d a d e e a p r e s e n t a m r e i v i n d i c a ç õ e s

q u e , e m s e u c o n j u n t oHGFEDCBAd e s o r g a n iz a d o ,

c o n s t i t u e m u m a r e o o l u ç â o . F a l a - s e d e

' c r i s e d e a u t o r i d a d e ' : e i s s o é p r e c i s a

-m e n t e a c r i s e d e b e g e m o n i a , o u c r i s e

d o E s ta d o e m s e u c o n j u n t o (2002: 60).

Nessas condições, a classe dirigente reage de forma mais rápida que as classes subalternas

para manter o poder, mesmo que tenha de fazer

sacrifícios ou expor-se com promessas

demagógicas. Assim, é comum o reforço do

próprio poder, a fim de esmagar os adversários.

Os períodos ditos normais, ou do

C .. ) e x e r c í c i o ' n o r m a l ' d a b e g e m o n i a .

n o t e r r e n o t o r n a d o c l á s s i c o d o r e g i m e

p a r l a m e n t a r , c a r a c t e r i z a m - s e p e l a

c o m b i n a ç ã o d a j o r ç a e d o c o n s e n s o .

q u e s e e q u i l i b r a m d e m o d o v a r i a d o ,

s e m q u e a j o r ç a s u p l a n t e e m m u i t o o c o n s e n s o , m a s , a o c o n t r á r i o , t e n t a n d o

j a z e r c o m q u e a fo r ç a p a r e ç a a p o i a d a

n o c o n s e n s o d a m a i o r i a . . .(2002: 9').

Nesses momentos, o Estado capitalista

incorpora interesses da classe dos trabalhadores,

bem como expressa as divergências internas da

própria classe dominante. os dois casos,

revela-se que o Estado incorpora a dinâmica da luta social,

porém, sem anular seu caráter de dominação

burguesa. Isto significa que, se a hegemonia é

fundamental para a dominação de classe, não pode

ser compreendida como uma forma absoluta e

intransponível dos interesses dominantes.

Do exposto até aqui, podemos concluir que

o Estado não pode ser reduzido a sua expressão

de dominação de classes, mas representa também

76

lkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAREVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS V. 35 N.

2

a capacidade de construção hegemônica dos

interesses da classe dos capitalistas sobre os

trabalhadores e os outros segmentos de classes.

Isto ocorre em contextos históricos específicos,

sempre determinados pela própria luta social e,

mais especificamente, pela correlação de forças

entre capital e trabalho. Nesses termos, as

normatizações e as políticas estatais passam a

regular não só as condições gerais da propriedade e das trocas, mas invadem o conjunto das relações sociais, determinando as possibilidades e limites de utilização dos espaços e dos serviços públicos,

organizando e redefinindo as reivindicações

sociais, patrulhando as manifestações políticas e

culturais, enfim, estabelecendo o horizonte da

cidadania capitalista. Este horizonte significa a preservação dos interesses maiores da burguesia, mas sempre tencionado pelos interesses das outras

classes e seu poder de pressão sobre o Estado.

Se a sociabilidade capitalista impõe o

desenvolvimento de um projeto hegemônico

-expressão de interesses particulares, mas que

incorpora outros interesses sociais - este só pode

ser compreendido como resultado da própria luta

política. Isto ocorre através de negociações,

interferências de pressões sociais diretas e indiretas,

bem como inúmeras ações mediadas pelos

partidos políticos e organizações de classe. A

partir dessa situação histórica - que é a do próprio

desenvolvimento do Estado democrático - a luta

pela hegemonia é estabelecida, comumente num

campo político mais participativo, possibilitado pelas formas institucionais do sufrágio universal e do parlamento.

Os direitos políticos na sociedade

capitalista não são, portanto, decorrência natural

dessa forma de organização social, e sim,

resultam da expressão histórica dos conflitos

entre as classes sociais. Na realidade, o que move a luta pelos direitos políticos - o reconhecimento de liberdades políticas pelo Estado - é o fato de

os trabalhadores procurarem obter,

L ) p o r m e i o d a c o n q u i s t a d e n o v o s d i

-r e i t o s , a q u i l o q u e a i n s t a u r a ç ã o d e d i r e i

(7)

D O S S IÊ G R A M S C IedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

t o s c i v i s p r o m e t e u e n ã o c u m p r i u : a r e a

-l i z a ç ã o d a i g u a l d a d e e n t r e o s h o m e n s .

E n t e n d a - s e q u e a n e c e s s i d a d e p e r m a n e n

-t e d e o s -t r a b a l h a d o r e s r e d e fi n i r e m o s s e u s

i n t e r e s s e s m a t e r i a i s ( . . . )HGFEDCBAézyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAo e l e m e n t o d e fu n d o q u e c o m p e l e c o n t i n u a m e n t e o s

t r a b a l h a d o r e s a r e i v i n d i c a r e m d o E s t a d o

n o v a s p r e r r o g a t i c a s (Saes, 2003: 2':;).

A política na sociedade capitalista consiste

uma das formas de luta entre as classes

iais. Em termos gerais, os conflitos entre as

ses revelam a permanente contradição entre

ital e trabalho posta ainda no processo

odutivo. Esta contradição se expressa no Estado

mo Lima síntese das relações desiguais entre

classes que aparecem como relação entre iguais

- forma abstrata da liberdade e da igualdade

- contratantes:

É n o i n t e r i o r d a s i n s t i t u i ç õ e s e s t a t a i s q u e a c o n t r a d i ç â o d e c l a s s e s e n c o n t r a a s

c o n d i ç õ e s o b j e t i v a s p a r a o s e u d e s e n -v o l -v i m e n t o . C o m o a s s i m ? E n q u a n t o

g u a r d i ã o d a i d e n t i d a d e d o s c o n t r a t a n

-t e s . o E s ta d o o s c o n s i d e r a c o m o p e s s o -a s d o d i r e i t o c i v i l , c o m o p e s s o a s i g u a i s

p e r a n t e a l e i . O r a , é r a z o á v e l t r a t á - I a s

c o m o i g u a i s , p o i s o q u e a í e s t á e m j o g o s ã o r e l a ç õ e s c o n t r a t u a i s d e c o m p r a e

v e n d a . E v i s t o q u e c o m p r a s e v e n d a s

s ã o e fe tu a d a s e n t r e i n d i v í d u o s i s o l a d o s ,

e n t r e p r o p r i e t á r i o s d e c o i s a s , o E s t a d o d e v e t o m á - I a s c o m o t a i s , i s t o é , c o m o

i g u a i s p o r q u e s ã o t o d o s p r o p r i e t á r i o s

( . . . ) a o t r a t a r i g u a l m e n t e p e s s o a s e s t r u

-t u r a l m e n -t e d e s i g u a i s , o E s t a d o r e p r o -d u z p e r m a n e n t e m e n t e a d e s i g u a l d a d e

e n t r e e l e s (Teixeira, 2003: 179).

Conforme referido anteriormente, as

relações entre esses desiguais se expressam

sempre como conflito. A forma desses conflitos

e os termos em que ocorre a mediação do Estado

(sociedade política) têm sido diferenciados ao

longo do processo histórico; ou seja, resultam

das relações entre capital e trabalho no conjunto

da vida social. Como exemplo, que não deve

ser tomado como exclusivo, podemos apresentar

a relação do Estado com a sociedade nos

seguintes termos:

( . . . ) p e l a s a r m a s o u p e l o s v o t o s . N o p r i

-m e i r o c a s o , é u m a g e n t e d a d o m i n a

-ç ã o , d a c o e r ç ã o , d a i m p o s i ç ã o ; n o

s e g u n d o , u m a g e n t e d a p e r s u a s ã o , d o

c o n s e n s o . A d o m i n a ç ã o p e l a fo r ç a e a

d i r e ç ã o p e l o c o n v e n c i m e n t o s ã olkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAos

m e i o s d a p o l í t i c a (Maar, 1994: 49).

Observe-se, portanto, que o processo de

realização dos interesses dominantes do capital

sempre sofre resistência por parte dos

trabalhadores, sobretudo no tocante à disputa

pela riqueza social, como também enfrenta

resistência de outros setores sociais e a expressão

de demandas diversas da sociedade. O conjunto

dessas resistências encontra ressonância nas

decisões governamentais, criando maior

capacidade de controle das classes sociais sobre a estrutura burocrática do Estado, podendo

torná-Ia mais democrática, como também impõe a

necessidade de que os interesses gerais do capital sejam pontuados por outros interesses, portanto, não sejam absolutos.

Assim, para entendermos o sentido e o limite da política, devemos considerar a particularidade do próprio governo: "... o agente da atividade política do Estado (. ..) Para ser governo, é preciso

se subordinar à lógica própria da atividade do

Estado" (Maar, op. cit: 36). Ou seja, a política, no tocante à disputa de interesses sociais na esfera

governamental, é sempre limitada pelo caráter

capitalista do Estado, mas essa atividade implica sempre uma relação de forças, que pode significar

a incorporação de outros interesses que não só

os do capital, exatamente porque a" .. ,

imprevisibilidade torna a política interessante,

porque ela significa mudança, transformação, Em

suma, ação prática" (Idem: 46),

(8)

D O S S I Ê G R A M S C IzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

E essa atividade encontra na esfera

governamental, ainda que não se restrinja a ela,

um espaço significativo porque se traduz em

decisões e ações concretas. Por sua vez, dada a

necessidade da construção hegemônica dos

interesses do capital, sobretudo nas sociedades

democráticas, o próprio governo precisa

permanentemente se legitimar e legitimar aqueles

interesses. Assim, um governo

c ..)

edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAq u e fa z p r o p a g a n d a d e s e u s a t o s , p a r a g a n h a r e l e i ç õ e s , e s t á p r o c u r a n d oHGFEDCBA

u r n a b e g e m o n i a , u m a fo r ç a d e d i r e ç ã o

b a s e a d a n o c o n s e n s o , n o c o n v e n c i

-m e n t o . Q u a n d o s e t o r e s o p o s i c i o n i s t a s

p r o c u r a m g a l g a r og o v e r n o p e l a s e l e i -ç õ e s , p r o c u r a m a p r e s e n t a r - s e c o m o

a l t e r n a t i v a b e g e m ô n i c a , s e p e g a m e m

a r m a s , o p t a 1 1 1 p e l a fo r ç a d a c o e r ç ã o

(Maar, op. cit: 36).

Essa leitura só pode ser feita quando

consideramos aquelas sociedades identificadas

por Gramsci como sendo do tipo Ocidental; ou

seja, sociedade nas quais as relações entre as

classes se realizam tanto como coerção quanto

como consenso, e as lutas sociais se espalham

por todolkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAO conjunto da vida social. essas

sociedades - em função das pretensões e de

efetivas realizações do trabalho para obter

espaços - o capital precisa, permanentemente,

resistir, se organizar, se legitimar, se reestruturar

a fim de não perder sua condição de poder. Em

outras palavras, o poder do capital precisa tanto conter o "impulso ~I liberdade" (Cf. Holloway,

2003), quanto

( . . . ) r e a l i z a r a p r e s s ã o e d u c a t i v a s o b r e

c a d a u m p a r a o b t e r s e u c o n s e n s o e s u a

c o l a b o r a ç â o , t r a n s fo r m a n d o e m ' l i h e r

-d a -d e ' a n e c e s s i d a d e e a c o e r ç ã o . . .

(Grarnsci, 2002: 23).

E isto ocorre tanto via sociedade política,

que inclui o governo, quanto via sociedade civil

78

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS V.35 N.

2

- onde se localizam formas diversas do exercício

do poder e práticas educativas voltadas para a

obtenção do consenso.

Ressalte-se, pois, que a política não se

restringe à esfera governamental, sobretudo

quando se pensa sobre a realização da

hegemonia. De fato, antes mesmo de se

processar como ação governamental, a atividade

política já se espalhou pelo conjunto da

sociedade civil, colocando-se duas tarefas: 1)

obter um consenso na sociedade civil, pela

organização e mobilização em torno de direções

a serem adoradas pela sociedade; 2) transformar

o resultado deste consenso em poder de direção

hegemônica na 'sociedade política', através do

qual se transformará em direção dominante,

amparada nos seus instrumentos de coerção legal

(Maar, op. cit: 63).

Portanto, ainda que a concretizaçào de

interesses sociais passe pela esfera do Estado

(sociedade política), e, particularmente, pelo

governo, sua plena realização implica a

consolidação desses interesses também na

sociedade civil, seu reconhecimento e sua

legitimação, exatamente porque ambos são

objetos da política.

Ao longo deste texto, tenho procurado

demarcar a condição da sociedade capitalista

no sentido de extirpar qualquer ilusão de que a

liberdade e a igualdade dos cidadãos - postas

pelo Estado e, particularmente, na democracia

burguesa - sejam tomadas como absolutas. Em

outros termos, meu esforço é no sentido de

explicitar que a desigualdade real entre as classes

sociais - de ordem sócio-econômica - se traduz

em desigualdade política, já que se realiza o

poder de uma classe sobre outra. Porém, essas

desigualdades não podem aparecer como tais,

o que requer do capitalismo a capacidade

constante de criar fetiches, bem como do próprio

Estado a necessidade de gerar valores e

elementos ideológicos e políticos que sustentem e legitimem a dominação capitalista. Isto só pode

ocorrer à medida que também são incorporados

interesses e demandas das classes subalternas.

(9)

D O S S IÊ G R A M S C IzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Cabe examinar, ainda, a política enquanto ação

- ansforrnadora.

A política é sempre a disputa de interesses

projetos sociais - o que se realiza tanto no

:100da sociedade política como no da sociedade

'i1, como já expresso - envolvendo, portanto, - o apenas a condição coercitiva do Estado, mas

mbém a sua capacidade de criar consenso. Isto

loca as relações entre as classes sociais em um -' 'el de complexidade que não permite qualificar

Estado apenas como a expressão dos interesses

, classes economicamente fortes e, tampouco,

e esses possam ser plenamente respondidoslkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

10 poder político, sem gerar problemas. Assim, admite-se haver sempre uma margem e disputa entre as classes sociais, permitindo "anços na participação política dos trabalhadores conseqüentemente, na possibilidade de controle

. níveis da exploração capitalista. Isto porque a minaçào de classe precisa expandir-se e impor-. superando "... sua própria base estreita para

anizar o consenso de uma ampla camada da

pulaçào em torno de sua política" (Cf Buci-ucksmann, 1980: 145-146), através de práticas e ituições que viabilizam sua hegemonia, sempre orporando interesses dos grupos subordinados. e 'e sentido. não se trata aqui de qualificar a

icipação política como "mera ilusão", mas de

onhecê-la como um campo real em que as

es sociais se enfrentam, ainda que demarcado r limites, o que ocorre em termos da participação

s :etores dominados.

Os termos dessa disputa são constantemente

.idos e recriados no processo histórico das

ções entre as classes sociais. Se essas relações

1determinações de natureza material e social, o

e limita os resultados da disputa política

idiana, não podem ser tomadas como o processo initivo e exclusivo da ação histórica dos homens.

a política, como condição geral do confronto

e as classes, que torna possível também aos

minados a capacidade de constituir-se como a

'pressão de um novo poder e construir interesses _ rais, ou seja, convencer as outras classes de seus ietos e buscar legitimar-se como uma nova classe

dirigente. Isto ocorre especialmente em

determinados momentos históricos e em condições

especiais, e requer a acumulação de forças, a partir

daquela luta cotidiana, quando novos valores e

novos interesses sociais vão se sobressaindo.

Nesse sentido, a política é sempre a

capacidade dos grupos de fazer a análise das

relações de força entre as classes e realizar

práticas orientadas por essa análise, ou seja,

construir novas realidades históricas. Isto implica

distinguir, no estudo de uma estrutura:edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

( . . .) o s m o v i m e n t o s o r g â n i c o s ( r e l a t i v a

-m e n t e p e r m a n e n t e s ) d o s m o v i m e n t o s

q u e p o d e m s e r c h a m a d o s d e c o n j u n

-t u r a s ( e q u e s e a p r e s e n -t a m c o m o o c a

-s i o n a i -s , i m e d i a t o s , q u a s e a c i d e n t a i s ) .

T a m b é m osfe n ô m e n o s d e c o n j u n t u r a

d e p e n d e m , c e r t a m e n t e , d e m o v i m e n

-t o s o r g â n i c o s , m a s s e u s i g n i fi c a d o n ã o

t e m u m a m p l o a l c a n c e h i s t ó r i c o : e l e s

d ã o l u g a r a u m a c r í t i c a m i ú d a , d o d i a

-a - d i -a , q u e e n v o l v e osp e q u e n o s g r u p o s

d i r i g e n t e s e a s p e r s o n a l i d a d e s i m e d i a

-t a m e n -t e r e s p o n s á v e i s p e l o p o d e r . O s

fe n ô m e n o s o r g â n i c o s d ã o l u g a r à c r í t i

-c a h i s t ó r i c o - s o c i a l . q u e e n v o l v e os

g r a n d e s a g r u p a m e n t o s , p a r a a l é m d a s

p e s s o a s i m e d i a t a m e n t e r e s p o n s á v e i s e

d o p e s s o a l d i r i g e n t e . Q u a n d o s e e s t u d a

u m p e r í o d o h i s t ó r i c o , r e v e l a s e a g r a n

-d e i m p o r t â n c i a d e s s a d i s t i n ç ã o . T e m

l u g a r u m a c r i s e q u e , à s v e z e s , p r o l o n

-g a - s e p o r d e z e n a s d e a n o s . E s t a d u

-r a ç ã o e x c e p c i o n a lHGFEDCBAs ig n ific a q u e s e

r e v e l a r a m ( c h e g a r a m à m a t u r i d a d e )

c o n t r a d i ç ô e s i n s a n â u e i s n a e s t r u t u r a e

q u e a s fo r ç a s p o l í t i c a s q u e a t u a m p o s i

-t i v a m e n -t e p a r a c o n s e r v a r e d e fe n d e r a

p r ó p r i a e s t r u t u r a e s fo r ç a m - s e p a r a

s a n á - I a s d e n t r o d e c e r t o s l i m i t e s e

s u p e r á - I a s . E s s e s e s fo r ç o s i n c e s s a n t e s e

p e r s e v e r a n t e s ( j á q u e n e n h u m a fo r m a

s o c i a l j a m a i s c o n fe s s a r á q u e fo i s u p e

-r a d a l fo r m a m o t e r r e n o d o ' o c a s i o n a l ' ,

(10)

D O S S IÊ G R A M S C IedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

n o q u a l s e o r g a n i z a m a s fo r ç a s a n t a

-g o n i s t a s q u e t e n d e m a d e m o n s t r a r

( d e m o n s t r a ç ã o q u e , e m ú l t i m a a n á l i

-s e ) -s ó t e m ê x i t o eHGFEDCBAé ' v e r d a d e i r a ' s e s e

t o r n a n o u a r e a l i d a d e } s e a s fo r ç a s a n

-t a g o n i s -t a s t r i u n fa m } m a s q u e i m e d i a

-t a m e n -t e s e e x p l i c i t a n u m a s é r i e d e

p o l ê m i c a s i d e o l ó g i c a s } r e l i g i o s a s , [ile s o

-fic a s , p o litic a s , j u r í d i c a s . e t c . , c u j o c a

-r á t e -r c o n c r e t o p o d e s e r a v a l i a d o p e l a

m e d i d a e m q u e s e t o r n a m c o n v i n c e n t e s

e d e s l o c a mzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAo a l i n h a m e n t o p r e e x i s t e n t e d a s fo r ç a s s o c i a i s ) q u e j á e x i s t e m a s c o n

-d i ç õ e s n e c e s s á r i a s e s u fi c i e n t e s p a r a q u e

d e t e r m i n a d a s t a r e fa s p o s s a m e , p o r t a n

-t o , d e v a m s e r r e s o l v i d a s h i s t o r i c a m e n t e

(Gramsci, 2002: 37).

Portanto, como ação transformadora dos

homens, a política é sempre a capacidade das

classes sociais se enfrentarem de forma mais direta

na disputa pelo poder, como situação propícia a

uma nova sociabilidade. Isto só ocorre a partir

de realidades históricas concretas; ou seja, quando

uma sociedade apresenta contradições que já não

permitem soluções como as anteriores, bem

como, já tenham sido desenvolvidas novas formas

de vida e de pensar, portanto, novas condições

para as relações entre os homens.

Enquanto processo cotidiano, a política

expressa aquele estado de coisas necessário ao

grupo dominante de fazer prevalecer os seus

interesses no poder político, requerendo, além

de sua condição de dominação, que esses sejam

incorporados e naturalizados pelo conjunto da

sociedade. Em determinados momentos - por

exemplo, quando ocorrem os processos eleitorais

- essa condição requer um tratamento mais

especial.

A partir desta abordagem geral da política

na sociedade capitalista, chamo a atenção para

o fato de ser a disputa eleitoral um momento

significativo para a realização do poder político

e, conseqüentemente, para a viabilização de

determinados interesses sociais. Nas democracias,

80

REVISTA DE CIÊNCIAS SO CIAIS V.35 N.

2

lkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

esse momento é uma exigência à legitimação

de projetos sociais e, especificamente, de

propostas político-administrativas, ainda que

demarcado por limites e contradições próprios

aos regimes representativos. Indicar essa

importância é reconhecer que durante o processo

eleitoral opera-se uma dinâmica em que, de um

lado, modelam-se discursos e selecionam-se

imagens e símbolos afinados à intencionalidade

de uma dada política, recursos necessários ao

consenso que permite a própria realização do

poder de um grupo dirigente. De outro lado, as

eleições demarcam, de forma imediata, a direção

e os limites dessa política, já que decorre de

negociações e acordos em torno dos apoios que

sustentarão o governante.

Ressalte-se, aqui, o reconhecimento da

importância de um processo eleitoral, na medida

em que se insere no complexo quadro das relações entre as classes sociais. Neste, aparece o esforço

da construção ideológica e, ao mesmo tempo,

revela-se como uma das formas pelas quais as

classes (e segmentos de classes) disputam o poder institucional: o governo (Cf. Maar, op. cit.). Em

outros termos, nas eleições estão em jogo

complexos processos de afirmação de idéias e

de projetos sociais, de disputa de espaços no

campo ideológico e da medição das relações de

forças entre as classes sociais.

Reconhecendo-se que o processo eleitoral

cumpre essa função, de afirmar idéias e

legitimá-Ias no plano ideológico, cabe indagar dessa

necessidade, e até que ponto esse processo é

essencial à sociedade capitalista. De fato, só

podemos pensar a importância das eleições em

um contexto histórico determinado - de uma

sociabilidade em que estão postas relações de

domínio e de hegemonia entre as classes sociais. Nesse caso, com as eleições é possível mensurar:

( . . . ) a e fic á c ia e a c a p a c i d a d e d e e x p a n

-s ã o e d e p e r -s u a -s ã o d a s o p i n i õ e s d e p o u

-c o s } d a s m i n o r i a s a t i v a s } d a s e l i t e s , d a s

v a n g u a r d a s ( . . . ) s u a r a c i o n a l i d a d e o u

b i s t o r i c i d a d e o u fu n c i o n a l i d a d e c o n

(11)

D O S S IÊ G R A M S C IedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

e r e t a .HGFEDCBAIs to q u e r d i z e r q u e n ã o é v e r d a

-d e q u ezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAop e s o d a s o p i n i õ e s d e c a d a u m s e j a ' e x a t a m e n t e ' i g u a l . A s i d é i a s e a s

o p i n i õ e s n ã o ' n a s c e m ' e s p o n t a n e a m e n

-t e n o c é r e h r o d e c a d a i n d i v í d u o : t i v e

-r a m u m c e n t r o d e fo r m a ç ã o , d e

i r r a d i a ç ã o , d e d i fu s ã o , d e p e r s u a s ã o ,

h o u v e u m g r u p o d e h o m e n s o u a t é

m e s m o u m a i n d i v i d u a l i d a d e q u e a s

e l a b o r o u e a p r e s e n t o u n a fo r m a p o l í

-t i c a d e a -t u a l i d a d e .lkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAO n ú m e r o d o s ' v o -t o s ' é a m a n ife s ta ç ã o t e r m i n a l d e u m

l o n g o p r o c e s s o , n o q u a l a m a i o r i n fl u

-ê n c i a p e r t e n c e e x a t a m e n t e a o s q u e ' d e

-d i c a m a o E s t a d o e à N a ç ã o s u a s

m e l h o r e s fo r ç a s ' ( q u a n d o s ã o t a i s ) . S e

e s t e p r e t e n s o g r u p o d e e x c e l ê n c i a s , a p e

-s a r d a -s in fin d á o e is fo r ç a s m a t e r i a i s q u e

p o s s u i , n ã o o b t é m o c o n s e n s o d a m a i -o r i a , d e v e s e r j u l g a d -o o u i n e p t o o u n ã o

r e p r e s e n t a n t e d o s i n t e r e s s e s ' n a c i o n a i s ' ,

q u e n ã o p o d e m d e i x a r d e p r e v a l e c e r

q u a n d o s e t r a t a d e i n d u z i r a v o n t a d e

n a c i o n a l n u m s e n t i d o e n ã o n o u t r o

CGramsci, 2002: 82).

Do que trata Gramsci neste longo'

parágrafo' Além de indicar o sentido do processo eleitoral na sociedade capitalista - uma relação

desigual entre as forças sociais, porém,

necessária, em um contexto específico, para a

própria manutenção dessa relação - ele chama

a atenção para a complexidade do Estado, ao

ressaltar o seu caráter classista e sua expressão

como vontade geral.

Assim, ao se reconhecer a disputa entre

:1 classes nos campos ideológico e político,

destaca-se o momento eleitoral como essencial

para a legitimação de projetos sociais e, conforme

expresso anteriormente, a singularidade dessa

disputa se dá pelo envolvimento de inúmeras

mediações, como os discursos, as posturas e

imagens construídas pelos sujeitos políticos no

sentido de se mostrarem afinados com

determinados projetos. Isto ocorre tanto em

relação às classes dominantes como às classes

trabalhadoras: a primeira tem necessidade de

manter o poder e impor seus interesses de forma

mais tranqüila; à segunda importa,

princi-palmente, expressar suas diferenças ideológicas

e influir nas políticas governamentais para que

seus interesses sejam incorporados.

Não se trata aqui de superestimar a disputa

eleitoral, mas de chamar atenção para a sua

importância, ainda que represente apenas um

momento da luta política e seja regida por regras

que limitam a disputa entre as classes. De fato,

as eleições ocorrem em tempos determinados e

restringem o objeto da escolha:

( . . .) V o t a - s e n u m c a r g o e l e t i v o g o v e r

-n a d o r , d e p u t a d o ( . . .) p r e s i d e n t e d a r e

-p ú b l i c a . N ã o s e v o t a , p o r e x e m p l o , o q u e fa z e r c o m a e c o n o m i a d o p a í s . . .

(M aar, 1994: 72-73).

Assim, as eleições encerram uma disputa

em termos de legitimidade de projetos sociais,

de forças partidárias e de lideranças que sejam

competentes nas respostas à capacidade de

mobilização e organização social das classes,

no cotidiano, e de atender a expectativas dos

indivíduos manifestas pelo voto.

A possibilidade de algo mudar, de tempos

em tempos, pelo voto é diretamente

propor-cional à avaliação das forças expressas

diariamente no debate parlamentar, nas g r e v e s ,

nos congressos, nas manifestações intelectuais,

de movimentos de bairros, de mulheres,

estudantes, nas relações de trabalho ou na vida

cultural. A legalidade é uma atribuição das

instituições, assim como a legitimidade provém

da sociedade e seu cotidiano. O voto constitui

uma grande oportunidade para conferir se esta

legalidade é legítima e para manifestar a

necessidade de tornar legal uma nova

legitimidade (Maar, op. cit: 79).

A oportunidade do momento eleitoral, do

ponto de vista da classe trabalhadora, já havia

sido lembrada por Gramsci, seja em relação a

(12)

D O S S IÊ G R A M S C IzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

sua utilização como arma revolucionária, seja

como forma de ocupar o espaço do parlamento.

o primeiro caso. esse momento proporciona a

agitação eleitoral, o queedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

( . . . ) p e r m i t e m o b i l i z a r a s m a s s a s , e l a -HGFEDCBA

r ific a r p a r a e l a s m e s m a s a s u a s i t u a

-ç ã o , d i fe r e n c i á - I a s d a b u r g u e s i a , s u p r i m i - I a s a o c o m a n d o i d e o l ó g i c o

b u r g u ê s (Dias, 2000: 197).

No segundo caso, " ... a eleição de um

número alto de deputados socialistas significa

tornar impossível o exercício do poder das classes proprietárias ..." (Idem: 195). Mais adiante, citando

Gramsci, Edrnundo Dias esclarece que a luta

dentro do Parlamento faz com que " ... a

burguesia demonstre a sua absoluta incapacidade de satisfazer as necessidades das multidões" (Gramsci, in Dias, op. cit: 197>. Ainda conforme

Dias, Grarnsci reconhece que, para as classes

burguesas, o significado das eleições é:

c..)

u m a q u e s t ã o d e s o h r e v i v ê n c i a . P o r i s s o , e l a s g a s t a m m i l h õ e s p a r a v e n c e r

a s e l e i ç õ e s ( . . . ) a s c l a s s e s p r o p r i e t á r i a s

t ê m fu n d a m e n t a l m e n t e a n e c e s s i d a d e

d e u m a m a i o r i a t r a n q ü i l a n o P a r l a

-m e n t o p a r a p o d e r g o v e r n a ? ' o s s e u s

n e g o c i a s . à r e v e l i a d a n a ç ã o e , a l é m

d i s s o , a n i q u i l a r o p r o g r e s s i v o c r e s c i -m e n t o p o l í t i c o d a s c l a s s e s o p e r á r i a e

c a m p o n e s a (2002: 195).

Em suma, as eleições devem ser

reconhe-cidas como significativas no processo de

disputa ideológica entre as classes sociais,

mesmo sendo apenas um momento da luta

política entre elas. Por sua vez, ainda que as

eleições tenham seus limites demarcados pela

própria democracia burguesa - que está longe

de ser o pleno reino da liberdade e da igualdade

entre os homens - esses momentos restringem

e condicionam o poder burguês. este caso,

não está em jogo olkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBApróprio poder dos proprietários,

82

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS V.3 5 N.

2

mas o nível da exploração que é originada pela

existência da propriedade privada. Esta

condição não foi uma necessidade da ordem

burguesa, resulta, sim, do processo ele

enfrentamento dessa ordem societária pelos

trabalhadores e por outros segmentos sociais.

Por sua vez, como durante o processo eleitoral

entram em debate as idéias e projetos das

classes subalternas, este momento não pode

ser subestimado no processo de construção de

uma outra hegemonia, como, também, o próprio

espaço do parlamento.

N o ta s

1Para essa análise, devem-se conferir também os

escri-tos de Fausto (987), Hirsch (1998), Holloway

(992) e Oliver Costilla (992).

2Sobre essa forma de dominação no capitalismo, são

reveladoras as pala nas de Holloway & P icciotto: A c a r a c t e r í s t i c a m a i s i m p o r t a n t e e d i s t i n r i u a d a d O / 1 /i n a ç ã o d e c l a s s e n a s o c i e d a d e c a p i t a l i s t a é q u e e s t á m e d i a d a p e l o i n t e r c â r n b i o m e r c a n t i l : o t r a b a

-lb a d o r n ã o e s t á s u j e i t o d i r e t a m e n t e n e m fi s i c a m e n -t e a o c a p i t a l i s t a , s u a s u j e i ç ã o e s t á m e d i a d a p e l a v e n d a d e s u a fo r ç a d e t r a b a l h o c o m o l i m a m e r c a -d o r i a n o m e r c a d o (1984: 90).

:\ Essa contribuição supera as visões parciais produzi-das pela tradição marxista, em que predominaram posições economicistas e voluntaristas.

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Referências

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