Sillogés
– v.1, n.1, jan./jul. 2018 - ISSN 2595-4830 9
Apresentação
O GT Acervos da ANPUH/RS inaugura a revista Sillogés, uma publicação em defesa do patrimônio documental do Rio Grande do Sul, através do Dossiê “Releituras do passado no presente: memória, patrimônio e educação”, em lançamento no XIV Encontro Estadual de História, da Associação Brasileira de História – seção Rio Grande do Sul, realizado em Porto Alegre, entre os dias 24 e 27 de julho de 2018, na Pontifı́cia Universidade Federal do Rio Grande do Sul/PUCRS.
Após tantos anos de atuação, de militância dedicada aos acervos, já era tempo de tecer e compartilhar conhecimento com os veteranos que atuam com o patrimônio cultural, assim como com os que estão chegando, e se situando nos equipamentos de memória
O número inaugural da Revista, conta com articulistas convidados, de reconhecida atuação nos cenários patrimoniais aos quais vêm se dedicando.
A participação internacional vem da França. Voltado à museologia comunitária, Hugues de Varine tem sido no Brasil uma referência proeminente no campo do patrimônio e da memória coletiva. Nesta oportunidade, sua contribuição destaca preocupações do tempo presente, diante dos desafios da era digital, alertando para “a vigı́lia patrimonial” e a necessidade de se constituir um “banco de dados patrimoniais”, no cotidiano das práticas de trabalho com bens culturais.
No âmbito nacional, a consagrada museóloga Maria de Lourdes Parreiras Horta traz seu texto inaugural da Educação Patrimonial no Brasil. Em Petrópolis/RJ, em julho de 1983, ela apresentou as referências desta metodologia, hoje tão consagrada nos equipamentos de memória do paı́s. Trata-se de um texto clássico, revestido de atualidade, além de comemorativo aos 35 anos de seu lançamento, que em boa hora ela retoma e compartilha com profissionais que vêm atuando com educação para o passado.
Atila Bezerra Tolentino debate os desafios da Educação Patrimonial pautada pela perspectiva decolonial, conceito tratado à luz de autores que ele contempla e examina.
Aborda a invenção do patrimônio cultural brasileiro e sua gênese colonialista, fazendo no
seguimento a defesa de uma epistemologia que contemple a ecologia de saberes, baseado
no reconhecimento da pluralidade e da diversidade de conhecimentos heterogêneos. A
sua abordagem propõe a Educação Patrimonial decolonial como projeto ético-polı́tico.
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Em seguimento, Janice Gonçalves toma a palavra, informando que realiza uma breve reflexão sobre os papéis e os significados atribuı́dos à memória e como têm sido articulados ao patrimônio cultural, nas últimas décadas. Para tanto, ela dialoga com autores que no tempo presente vêm tratando de patrimônio cultural e memória. Sua preocupação volta-se, sobretudo, para os desafios das polı́ticas públicas de memória, pautadas pela ética e por princı́pios democráticos.
Na atualidade, diante dos riscos da perda de patrimônio digital, urge tratar da virtualização da memória, tema abordado por Priscila Chagas Oliveira. No contexto tecnológico contemporâneo da cultura digital, a autora chama a atenção sobre criação e/ou adaptação de diversos museus, bibliotecas e acervos para a linguagem eletrônica, o que vem dando novos contornos no campo de estudo acerca da memória social. Para ilustrar esse fenômeno recorrente, a autora traz quatro casos do campo museológico e patrimonial.
No trato dos acervos arquivı́sticos, a contribuição de Humberto Celestre Innarelli transita para o futuro, no presente, diante da necessidade premente de se adotar condutas seguras sobre a preservação de documentos digitais. Nessa direção, o autor aborda questões relacionadas às teorias e práticas arquivı́sticas e às tecnologias da informação e da comunicação, o que, sem dúvida, vem para contribuir no debate sobre o desenvolvimento de modelo conceitual de gestão da preservação de documentos arquivı́sticos digitais,
Finalmente, Rodrigo Luı́s dos Santos examina a importância dos acervos pessoais para novos olhares e reinterpretações no campo historiográfico, a partir de uma análise crı́tica de seus processos de organização e dos documentos neles contidos. Tendo como cenário o Rio Grande do Sul, nas décadas de 1930 e 1940, a abordagem contempla três acervos pessoais de personagens sociais, polı́ticos e intelectuais, ativos no perı́odo.
Esta edição especial foi arquitetada, portanto, com a perspectiva de abranger antigas e novas demandas diante dos fazeres do campo do patrimônio, em diferentes suportes de memória.
Inicialmente, tivemos a intenção de atualizar o debate em torno de conceitos
básicos que fundamentam o trabalho com a memória e a educação para o passado, sem
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