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REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL: O MST COMO MOVIMENTO EDUCACIONAL

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PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO ESPECIAIS DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO PROJETO “VEZ DO MESTRE”

REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL:

O MST COMO MOVIMENTO EDUCACIONAL

AUTORA: SARA DA SILVA BARRETO ORIENTADOR(A): FABIANE MUNIZ

Rio de Janeiro – RJ

Fevereiro- 2003

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PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO ESPECIAIS DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO PROJETO “VEZ DO MESTRE”

REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL:

O MST COMO MOVIMENTO EDUCACIONAL

AUTORA: SARA DA SILVA BARRETO ORIENTADOR(A): FABIANE

Monografia apresentada ao Curso de Supervisão Escolar da Universidade Cândido Mendes, como requisito Parcial do Curso de Supervisão Escolar a nível de Pós-graduação

“Lato-sensu”.

Rio de Janeiro – RJ

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Fevereiro- 2003

___ Barreto, Sara da Silva

Monografia (Pós-Graduação em Supervisão Escolar - Áreas:

Metodologia da Pesquisa) - Universidade Cândido Mendes.

Bibliografia:

CDD ____.____

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REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL:

O MST COMO MOVIMENTO EDUCACIONAL

Monografia apresentada ao Curso de Supervisão Escolar da Universidade Cândido Mendes, como requisito Parcial do Curso de Supervisão Escolar a nível de Pós-graduação

“Lato-sensu”.

Aprovada em ... de 2003.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Rio de Janeiro – RJ

Fevereiro- 2003

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Ao meus filhos, netos, nora e genro, por todo o amor e carinho que me transmite.

Obrigado por vocês existirem.

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iv

A Deus por Ter me dado força e coragem para chegar até aqui e vencer mais essa etapa da minha vida.

A professora Fabiane pelas as orientações Seguras.

Aos demais Professores, por todas experiência transmitida.

Ao meus familiares e amigos pelo incentivo.

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v

A partir do momento que a educação começar a valorizar o homem enquanto ser, procurando fazer com que ele se situe no tempo e no espaço, trabalhando sua interação com o outro e sua relação com o mundo, poderá ter início uma grande mudança.

Nazaré Lima

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NOVA FORMA DE APRENDIZADO

Ninguém educa ninguém ninguém se educa sozinho As pessoas se educam entre si Descobrindo esse novo caminho

Como pensa o MST

E o setor pensa a educação Muito além do a, e, i, o, u

Ou um canudo de papel na mão Professor tem de ser militante Ensinar dentro da realidade

A importância da Reforma Agrária E a aliança do campo e cidade Discutindo as tarefas da escola Ensinado como plano quer Ir gerando sujeitos da história Novo homem e nova mulher Combatendo a individualismo Se educando contra os opressores Aprendendo a viver coletivo

Construindo assim novos valores

Discutindo cooperativismo o avanço da organização É na vida do assentamento Que a criança aprende a lição Conhecer a caneta e a enxada Afinando estudo e trabalho Aprendendo teoria e prática Nova forma de aprendizado

Avançar nossa pedagogia

Construir é bem mais que querer Educando pra sociedade

Que implantaremos ao amanhacer.

Músico Zé Pinto

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RESUMO

Entre os movimentos sociais recentemente no Brasil, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra – MST ocupa um lugar de proeminência, considerando e tratado como “movimento revolucionário”

e referenciado pelos articulistas como “um dos grupos rebeldes mais importantes da América Latina”. A tática do movimento é assim registrada:

como uma nova forma de pressão dos camponeses brasileiros que usam

“as ocupações organizadas dos latifúndios improdutivos para dar um pedaço de terra a milhares de famílias.

Além de tratar o MST como um movimento social que inovou e reacendeu a luta política revolucionário, no Brasil, também a educação do movimento merece um lugar de destaque, pois para eles a Educação é tão importante como a luta pela terra ou a reforma agrária.

Um dos grandes problemas dos países menos desenvolvidos é,

sem dúvida, o analfabetismo no meio rural. Mas o MST busca em torno da

educação e seu trabalho pelo desenvolvimento de um novo modelo de

homem através da construção de um novo paradigma educacional voltado

para a realidade rural, discutindo-se alguns de seus pressupostos

ideológicos, levando-se em conta sua mística e sua visão da necessidade

inexorável da reforma agrária e da educação como instrumentos capazes de

libertar a classe trabalhadora da exploração a que está submetida,

transformando a realidade social do homem do campo.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 1

CAPITÚLO I - BRASIL: 500 ANOS DE LUTA PELA TERRA... 3

1.1. A RESISTÊNCIA CAMPONESA... 4

1.2. O MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA ... 12

CAPÍTULO II- ESTRUTURA ORGANIZATIVA DA EDUCAÇÃO NO MST... 20

2.1. A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO DO MST... 20

2.2. ESTRUTURA EDUCATIVA E FORMATIVA DO MST ... 27

CAPÍTULO III - PRINCÍPIOS EDUCATIVOS DO MST... 30

CONCLUSÃO ... 35

BIBLIOGRAFIA... 37

ANEXO... 38

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1

INTRODUÇÃO

No momento em que a globalização faz parte da parte da nossa realidade e que, em contrapartida a todos os avanços provenientes dela observamos um abismo incomensurável do cotidiano das pessoas - alguns poucos têm acesso às mais variadas formas de informação, outros tantos vivem em um mundo a parte onde a tal globalização ainda não ousou chegar, a iniciativa do MST em capacitar em suas frentes crianças, jovens e adultos demonstra preocupação não somente com a luta pela reforma agrária como garantia de subsistência para os seus integrantes. Mais do que isto, demonstra a preocupação de que, uma vez garantindo o direito ao seu pedaço de terra o indivíduo esteja pronto para os seus sustento, baseado em todo o treinamento ao qual estiver submetido.

Esta iniciativa vem provar ainda que com organização pode-se mudar a realidade de toda uma nação com base na Educação.

Os objetivos gerais são identificar no Movimento Sem Terra brasileiro a busca por uma prática intelectual e política que permita a produção de conhecimento científico necessário à sociedade partindo de um Sistema Educacional..

E conceituar e contextualisar o MST, estudando as atividades do movimento no âmbito educacional, refletindo sobre um projeto popular para o Brasil que nosso povo desejar construir e sobre as escolas do campo e como elas se inseriam na dinâmica das lutas pela implementação deste projeto.

Esta pesquisa será baseada nas mais diversas fontes que nos forneçam

subsídios relativos ao Movimento Sem Terra Brasileiro e o Projeto Educacional por ele

desenvolvido tais como matérias da imprensa escrita - jornais e revista, da TV,

documentários, publicações literárias e internet - especificamente a página do MST na rede,

buscando os subsídios teóricos nos pensadores socialistas que desenvolveram suas teorias

dentro de contextos bastantes semelhantes ao vivenciados por nós neste momento na

sociedade brasileira. A consolidação da ordem burguesa, industrial e capitalista na Europa do

Século XIX produziu profundas transformação no mundo do trabalho. As precárias

condições de vida dos trabalhadores, as longas jornadas de trabalho, a exploração em larga

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escala do trabalho feminino e infantil, os baixíssimos salários, o surgimento de bairros operários onde conforto e higiene inexistiam, eram apenas algumas das condições geradas pela nova sociedade capitalista, em muito semelhantes as condições que geraram hoje os conflitos pela terra.

É dentro deste contexto que se desenvolve a teoria socialista. Trata-se ao mesmo tempo, de uma reação aos princípios da economia política clássica e às práticas do liberalismo econômico que, nessa época, serviam de referencial teórico ao desenvolvimento do capitalismo.

Os pensadores socialistas entendiam que a produção capitalista, estabelecida a partir da propriedade privada dos meios de produção e da exploração do trabalho assalariado, era incapaz de socializar a riqueza produzida. Pelo contrário, o capitalismo tendia à máxima concentração de renda, não apenas pelo avanço contínuo do progresso da técnica aplicada à produção mas, também, e principalmente, pelo fato de se apropriar do excedente das riquezas, produzidas pelo trabalhadores. A necessidade de modificações profundas na sociedade, geraram, e continuam gerando teorias, propondo mudanças desejáveis, visando alcançar uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna, sem, no entanto, apresentar de maneira concreta os meios pelos quais essa sociedade se estabeleceria. Mais tarde, com a teoria desenvolvida por Karl Max e Friedrich Engels algumas considerações sobre essa sociedade almejada seria desenvolvida partindo-se da análise crítica de científica do próprio capitalismo. Marx e Engels acreditaram que chegar-se-ia a mais completa igualdade entre os homens, o que seria uma realidade concreta e inevitável e que para se alcançar tais objetivos o primeiro passo seria a organização da classe trabalhadora.

Pretendemos, assim, levar à reflexão e ao debate o MST como movimento

organizado de uma classe trabalhadora, bem como sobre a educação básica do campo,

proposta por esse movimento que vem sendo articulada, mais sistematicamente no Brasil

desde 1998. Visamos aqui, de modo especial, refletir num primeiro momento sobre um

projeto popular para o Brasil que nosso povo deseja construir e, num segundo momento,

refletir sobre as escolas do campo e como elas se inserem na dinâmica das lutas pela

implementação deste projeto.

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CAPÍTULO I

BRASIL: 500 ANOS DE LUTA PELA TERRA

A luta pela terra é uma ação desenvolvida pelos camponeses para entrar na terra e resistir contra a expropriação. A resistência do campesinato brasileiro é uma lição admirável. Em todos os períodos da história, os camponeses lutaram para entrar na terra.

Lutaram contra o cativeiro, pela liberdade humana. Lutaram pela terra das mais deferentes formas, construindo organizações históricas.

Desde as lutas messiânicas ao cangaço. Desde as Ligas Camponesas do MST, a luta nunca cessou, em nenhum momento. Lutaram e estão lutando até hoje.

No nosso País, a reforma agrária é uma política recente, comparada ao processo de formação do latifúndio e da luta pela terra. A luta pela reforma agrária ganhou força com o advento das organizações políticas camponesas, principalmente, desde a década de cinquenta, com o crescimento das Ligas Camponesas. Todavia, a luta pela terra é uma política que nasceu com o latifúndio. Portanto, é fundamental distinguir a luta pela terra da luta pela reforma agrária. Primeiro, porque a luta pela terra sempre aconteceu, com ou sem projetos de reforma agrária. Segundo, porque a luta pela terra é feita pelos trabalhadores e na luta pela reforma agrária participam diferentes instituições.

Na realidade, a diferença da luta pela terra da luta pela reforma agrária é

fundamental, porque a primeira acontece independentemente da segunda. Todavia as duas

são interativas. Durante séculos os camponeses desenvolveram a luta pela terra sem a

existência de projeto de reforma agrária. O primeiro projeto de reforma agrária do Brasil é da

década de sessenta - O Estatuto da Terra, elaborado no início da ditadura militar e que nunca

foi implantado. A luta pela reforma agrária é uma luta mais ampla, que envolve toda a

sociedade. A luta pela terra é mais específica, desenvolvida pelos sujeitos interessados. A luta

pela reforma agrária contém a luta pela terra. A luta pela terra promove a luta pela reforma

agrária (ANDRADE, p. 56).

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Essa distinção nos ajuda a compreender que ainda não foi implantado um projeto de reforma agrária no Brasil, mas está acontecendo uma intensificação da luta pela terra, por meio do crescimento das ocupações massivas, realizadas por diversos movimentos sociais, principalmente pelo MST. Na realidade, nos últimos anos, o aumento do número de assentamentos foi resultados do territorialização do MST, que em duas décadas multiplicou intensamente o número de ocupações em todo o País. A política de assentamentos do governo federal e de alguns governos estaduais é apenas uma resposta às ações dos sem- terra. Essa política não existiram sem as ocupações.

1.1. A RESISTÊNCIA CAMPONESA

Há 500 anos, desde a chegada do colonizador português, começaram as lutas contra o cativeiro, contra a exploração e consequentemente contra o cativeiro da terra, contra a expulsão, que marcam as lutas dos trabalhadores. Das lutas dos povos indígenas, dos escravos e dos trabalhadores livres e dos imigrantes, desenvolveram-se as lutas camponesas pela terra. Lutas e guerras sem fim contra a expropriação produzida continuamente no desenvolvimento do capitalismo.

A formação das fazendas desenvolveu-se um processo de grilagem de terras.

As terras devolutas foram apropriadas por meio de falsificação de documentos, subornos dos responsáveis pela regularização fundiária e assassinatos de trabalhadores. Assim, os grileiros - verdadeiros traficantes de terra - formaram os latifúndios. Os camponeses trabalhavam na derrubada da mata, plantavam nessas terras até a formação da fazendas, depois eram expropriados. Aos que resistiram na terra, o poder do coronel era explicitado pela perseguição e morte. Dessa forma, os camponeses sem-terra formavam fazendas que eram apropriadas pelos coronéis.

Territórios indígenas, terras de camponeses - posseiros invadidas por grileiros.

A migração como sobrevivência e resistência, procurando se distanciar da cerca e do cerco

do latifúndio. Os diversos enfrentamentos geraram a morte, muitas vezes o massacre e o

genocídio. A violência contra esses povos delimitaria as extensões históricas do latifúndio. Em

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todo o tempo e em todo o espaço, a formação do latifúndio frente a resistência camponesa determinaria a realidade da questão agrária.

O fim do cativeiro humano foi após alguns anos de instituído o cativeiro da terra. Assim, os escravos libertos que deixaram as fazendas migraram pelas estradas, por onde encontram terras cercadas. Quando acampavam nas fazendas, os coronéis convocavam a polícia para expulsá-los. Igualmente, os camponeses europeus, migraram por e para diferentes regiões, lutando contra o latifúndio. Muitos de seus filhos e netos ainda continuam migrando. A maioria absoluta desses trabalhadores começaram a formar uma categoria, que ficaria conhecida como Sem-Terra.

A migração e a peregrinação como esperança de chegar à terra liberta, são marcas da história do campesinato brasileiro. Na luta contra o cerco da terra e da vida, surgiram várias formas de resistência. Lutar contra as cercas era lutar contra o coronelismo, porque os latifundiários foram senhores absolutos e dominavam a terra e a vida dos camponeses. Na Bahia, camponeses sem-terra terminaram uma longa peregrinação no arraial de Canudos. Era um movimento social messiânico que não se submetem à ordem coronelista e latifundiária. E por essa razão, foram declarados inimigos de guerra.

A guerra contra os camponeses foi marcada pela maior exemplo da organização de resistência camponesa do Brasil chamada de Canudos. Os camponeses sem- terra acamparam na fazenda Canudos e passaram a chamar o lugar de Belo Monte. A organização econômica se realizava por meio de trabalho cooperado, o que foi essencial para a produção da comunidade. Todos tinham direito à terra e desenvolviam a produção familiar, garantindo um fundo comum para uma parcela da população, especialmente os velhos e desvalidos, que não tinham como subsistir dignamente.

Canudos sofreu vários ataques do militares, exércitos foram enfrentados e refreados até o cerco completo e o massacre do povo de Canudos. Foi a guerra mais trágica, mais violenta do Brasil.

Esta guerra representou o desdobramento das disputas pelo poder, entre os

coronéis e o governo. Derrotar Canudos significava mais força política entre militares e civis,

ligados ao interesse da economia da monocultura cafeeira. Para os sertanejos, combater os

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republicanos, tinha, antes de mais nada, o sentido de luta contra os inimigos dos trabalhadores: os fazendeiros e os militares.

Fechava-se o século XIX com uma guerra contra os camponeses e abria-se o século XX como outra. No sul do Brasil, no Paraná e em Santa Catarina, também, os coronéis controlavam a terra e a vida dos camponeses. Na primeira década deste século, na região fronteira destes estados começaram outro movimento de resistência.

A entrega de terras à empresa norte-americana para a construção da ferrovia São Paulo - Rio Grande, gerou expropriação de camponeses, que organizaram a resistência.

Em 1912, em Campos Novos - SC, formaram-se um movimento camponês de caráter político - religioso. Foram vários enfrentamentos com a Polícia, contra o Exército e contra jagunços. Milhares de camponeses foram assassinados. Vencidos, reorganizavam-se e retomavam as lutas de resistência até o massacre final.

Da mesma forma no Contestado, como em Canudos e em diversos outros movimentos messiânicos que ocorreram no Brasil, os camponeses foram destroçados. Foram movimentos populares que acreditaram na construção de uma organização em oposição à república dos coronéis, da terra do latifúndio e da miséria. Em nome da defesa e da ordem, os latifundiários e o governo utilizaram as forças militares, provendo guerras políticas. Não era a monarquia que combatiam, mas sim a insurreição dos pobres do campo.

A revolta contra o cerco e a submissão gerou novas formas de resistência.

Nas primeiras décadas do século XX, nas terras do Nordeste, onde a expulsão e a perseguição até a morte era coisas comuns aos camponeses, surgiu uma forma de banditismo social que ficou conhecida como cangaço. Tornar-se cangaceiro era decorrência da ação em defesa da própria dignidade e da vida de sua família. Nas terras onde a lei não alcança o coronel porque ele é ou está acima da lei, restou bem pouco à resistência camponesa a não ser a rebelião.

O cangaço foi uma forma de organização de camponeses rebeldes que

atacavam fazendas e vilas. Os grupos eram formados, principalmente, por camponeses em

luta pela terra, expulsos de suas terra pelos coronéis. Os cangaceiros replicavam, vingando-se

em uma ou mais pessoas da família do fazendeiro. Os diferentes grupos cangaceiros

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desenvolviam suas ações por meio de saques nas fazendas e nas casas comerciais. Essa forma de banditismo colocava em questão o próprio poder do coronelismo.

A forma de organização deste movimentos messiânicos até os grupos de cangaceiros demarcavam os espaços políticos da revolta camponesa. Era conseqüências do cerco à terra e à vida. Embora fossem lutas localizadas aconteciam em quase todo o território brasileiro e representaram uma importante força política que desafiava e contestava incessantemente a ordem instituída. São partes da marcha camponesa que percorre o espaço da história do Brasil.

Os camponeses sempre enfrentaram os latifúndio e se opuseram ao Estado representante de classe dominante. Assim, a resistência camponesa manifesta-se em diversas ações que sustentam formas distintas e se modificam em seu movimento. Deste meada do século XX, novas feições e novas formas de organização foram criadas na luta pela terra e na luta pela reforma agrária: as ligas camponesas, as diferentes formas de associações e os sindicatos do trabalhadores rurais.

Em todo o país, diversos conflitos, e eventos foram testemunhados da organização camponesa no início da segunda metade do século XX. As lutas dos pequenos proprietários, dos arrendatários e dos posseiros para resistirem na terra juntamente com as lutas dos trabalhadores assalariados e os congressos camponeses, desenvolveram o processo de organização política do campesinato. Crescia a luta pela reforma agrária e o Partido Comunista Brasileiro - PCB - e a Igreja Católica, entre outras instituições, disputaram esse espaço político, interessada nesse processo.

As Ligas Camponesas surgiram por volta de 1945. Ela foram uma forma de organização política de camponeses que resistiram a expropriação e a expulsão da terra. Sua origem está associada a recusa ao assalariamento. Foram criadas em quase todos os estados brasileiros e tinham o apoio do PCB, do qual eram dependentes. Em 1947, o governo decretou a ilegalidade do Partido e com a repressão generalizada, as ligas foram violentamente reprimidas, muitas vezes pelos próprios fazendeiros e seus jagunços.

Em Pernambuco, em 1954, as ligas ressurgiram e se organizaram em outros

Estados do Nordeste, bem como em outras regiões. Neste mesmo ano, o PCB criou a União

do Lavradores e Trabalhadores Agrícolas - ULTAB, que se organizou em quase todo o

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território nacional. Com essa forma de organização, o Partido pretendia realizar uma aliança camponesa operária. Em 1962, as ligas realizaram vários encontros e congressos, promovendo a criação de uma consciência nacional em favor da reforma agrária. A ação das ligas era definida na luta pela reforma agrária radical, para acabar com o monopólio de classe sobre a terra. Em suas ações, os camponeses resistiam na terra e passaram a realizar ocupações.

O crescimento da luta pela terra dimensionava a questão agrária, colocando a reforma agrária na pauta política. Esse avanço foi acompanhado por disputas pela sua representação. A ULTAB era controlada por Partido Comunista. A Igreja Católica estava dividida em dois setores: o conservador e o progressista. O primeiro, no Rio Grande do Norte, criou o Serviço de Assistência Rural. Em Pernambuco criou o Serviço de Orientação Rural e no Rio Grande do Sul a Frente Agrária Gaúcha. O segundo setor da ação católica era liderado pela Confederação dos Bispos do Brasil - CNBB, e formou o Movimento de Educação de Base, que trabalhava com a alfabetização e com a formação política dos camponeses.

No Rio Grande do Sul surgiu, no final da década de cinquenta, o Movimento dos Agricultores Sem-Terra - MASTER. Os agricultores sem-terra eram assalariados, parceiros e também os pequenos proprietários e os filhos destes. Em 1962, os sem-terra começaram a organização de acampamentos e territorializaram a luta por todo o Estado.

Receberam o apoio de Partido Trabalhista Brasileiro do então governador Leonel Brizola e ficaram circunscritos ao Rio Grande. Com o golpe militar de 1964, todos esses movimentos camponeses foram aniquilados.

De 1940 a 1964, esse tempo foi abundante em lutas de resistência pela

conquista de terra. Em Minas Gerais, nos vales dos rios Mucuri e Doce, os posseiros

formaram vários movimentos camponeses e resistiram a expropriação. Na região de

Governador Valadares, em Minas Gerais, desde do início da década de quarenta, os

posseiros enfrentaram fazendeiros interessados naquelas terras, por causa da construção da

rodovia Rio - Bahia. Para formar fazendas, os fazendeiros impuseram aos posseiros a

condição de derrubar a mata para a formação de pastos, e só poderiam plantar para a

subsistência.

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Ainda, nos vales dos rios Mucuri e Doce, agora no Espírito Santo, na porção noroeste do Estado, ocorreram vários conflitos, onde muitos camponeses foram assassinados pela Polícia Militar e jagunços. Nessa região está localizado o município de Ecoporanga. No final da década de 40, a região era contestada pelos Estados de Minas Gerais e do Espírito Santos. Essas terra estavam oculpadas por posseiros e passaram a ser disputadas por fazendeiros - grileiros, que procuravam tirar vantagem daquela situação indefinida.

Em Goiás, no norte do Estado, com a construção da Transbrasiliana e por causa do projeto de colonização promovido pelos governos federal e estadual, as terras da região foram valorizadas. As terras devolutas, ocupadas por posseiros, passaram a ser griladas por fazendeiros. O processo de legalização fundiária foi feito por meio de documentos falsos. Iniciou-se um processo de resistência nos povoados de Trombas e Fomoso, que foram atacados por jagunços e pela Polícia Militar. Os camponeses resistiram e as lutas multiplicaram-se por o Estado até serem dizimadas pelo governo militar.

No norte e no sudeste do Estado do Paraná, ocorreram diversos conflitos por terra. Na região de Porecatu aconteceu um enfrentamento armado entre posseiros e a polícia.

Desde meados da década de 40, os posseiros estavam em luta com um grande latifundiário, que recebia proteção do governador do Estado. Envolvido em negócios irregulares com a compra de venda de terras. No Sudoeste do Estado, também aconteceu manobras ardilosas com as terras devolutas, entre o governo e latifundiários, gerando conflitos com os trabalhadores que lá viviam.

No Maranhão, em meadas da década de 50, na região do Pindaré chegaram

famílias expulsas do vale do Mearin, que foram expulsas do Piauí e que já vinha expulsas do

sertão do Ceará. Nessa mesma época, iniciou o processo de grilagem da região, expulsando

novamente muitas famílias, que partiram para o oeste e sudoeste do Maranhão, sempre em

busca da terra liberta e da conquista da liberdade. Assim, camponeses migrantes e expulsos

chegaram na região que depois se tornaria conhecida como Bico de Papagaio. Desde essa

época iniciaram os conflitos entre grileiros e posseiros que transformaria região em uma das

mais violetas do Brasil, com intensos conflitos por terra e de continua resistência dos

camponeses.

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Durante toda a história do Brasil, os camponeses, bem como todos os trabalhadores, foram mantidos à margem do poder, por meio da violência. Nos grandes projetos nacionais não foram considerados. Ao contrário, foram julgados como obstáculos que precisavam ser removidos. Em 1964, os militares tomaram o poder, destituindo o presidente eleito João Goulart, numa aliança política, em que participaram diferentes setores da burguesia: latifundiários, empresários, banqueiros, etc.

O golpe significou um retrocesso para o país. Os projetos de desenvolvimento implantados pelos governos militares levaram ao aumento da desigualdade social. Suas políticas aumentaram a concentração de renda, conduzindo a imensa maioria da população à miséria, intensificando a concentração fundiária e promovendo o maior êxodo rural da história do Brasil. Sob a retórica da modernização, os militares aumentaram os problemas políticos e econômicos, e quando deixaram o podem, em 1985, a situação do País estava extremamente agravada pelo que fora chamado de “milagre brasileiro”.

No campo, o avanço do capitalismo fez aumentar a miséria, a acumulação e a concentração da riqueza. Esse processo transformou o meio rural com a mecanização e a industrialização, simultaneamente a modernização tecnológica de alguns setores da agricultura.

Também expropriou, expulsou da terra os trabalhadores rurais, causando o crescimento do trabalho assalariado e produzindo um novo personagem da luta pela terra e na luta pela reforma agrária: o bóia fria.

Em seu pacto tácito, os militares e a burguesia pretendiam controlar a questão agrária, por meio da violência e com a implantação de seu modelo de desenvolvimento econômico para o campo, que priorizou a agricultura capitalista em detrimento da agricultura camponesa. Ainda, governo da ditadura ofereceu aos empresários subsídios, incentivos e isenções fiscais, impulsionando o crescimento econômico da agricultura e da indústria, enquanto arrochava os salários, estimulava a expropriação e a expulsão, multiplicando os desejos das famílias camponesas. Essas ações políticas tiveram efeitos na questão agrária, intensificando ainda mais a concentração fundiária.

O Brasil se transformara no paraíso dos latifundiários e os camponeses foram

forçados a migração pelo território brasileiro e para o Paraguai. O ataque contra os

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trabalhadores, e especificamente contra os camponeses, agregou novos elementos à questão agrária, aumentando e expandido os conflitos, fazendo eclodir as lutas camponesas.

De meadas da década de 60 até o final da década de 70, as lutas camponesas eclodiam por todo o território nacional, os conflitos fundiários triplicaram e o governo, ainda na perspectiva de controlar a questão agrária determinou a militarização do problema da terra.

A militarização proporcionou diferentes e combinadas formas de violência contra os trabalhadores. A violência do peão que é o jagunço da força privada, muitas vezes com o amparo da força pública. A violência da polícia, escorada na justiça desmoralizada, que decretou ações contra os trabalhadores, utilizando recursos dos grileiros e grandes empresários, defendendo claramente e tão somente os interesses dos latifundiários. No ano derradeiro do governo militar. 1985, os jagunços dos latifundiários e a polícia assassinavam um trabalhador rural a cada dois dias.

No começo dos anos 60, nasceram as primeiras Comunidades Eclesiais de Base - CEB’s. Em meadas dos anos 70, elas existiam em todo o País. No campo e na cidade, foram importantes lugares sociais, onde os trabalhadores encontraram condições para se organizar e lutar contra as injustiças e por seus direitos. À luta dos ensinamentos da Teologia da Libertação, as comunidades tornaram-se espaços de socialização política, de libertação e organização popular. Em 1975, a Igreja Católica criou a Comissão Pastoral da Terra - CPT. Trabalhando juntamente com as paróquias nas periferias das cidades e nas comunidades rurais, a CPT foi articuladora dos novos movimentos camponeses que insurgiram durante o regime militar.

Ao reprimir a luta pela terra e não realizar a reforma agrária, os governos militares tentaram restringir o avanço do movimento camponês. Com a implantação do atual modelo de desenvolvimento econômico da agropecuária, apostou-se no fim do campesinato.

No entanto, por causa da repressão política e da expropriação resultantes do modelo econômico, nasceu o mais amplo movimento camponês da história do Brasil: O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra - MST.

A luta marca a vida e fica na memória. Aos que lutam, a memória persiste e

jamais se esquece da história (FERNANDES, P.62). Foi assim que em 1979, no dia 7 de

setembro, 110 famílias ocuparam a gleba Macali, no município de Ronda Alta, no Rio Grande

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do Sul. Essa ocupação inaugurou o processo de forma do MST. As terras da Macali eram remanescentes das lutas pela terra da década de sessenta, quando o MASTER organizara os acampamentos na região. Portanto, a luta pela conquista desta terras estava registrada na memória dos camponeses, que agora participavam de um luta maior: a luta pela construção da democracia (FENANDES, p.63).

No inicio da década de oitenta, as experiências com ocupações de terra nos Estados do Sul e em São Paulo e Mato Grosso do Sul, reuniram os trabalhadores que iniciaram o processo de formação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra. A construção do Movimento se constituiu na interação com outras instituições, especialmente a Igreja Católica, por meio da Comissão Pastoral da Terra - CPT. Aprendendo com história da formação camponesa, na sua caminha o MST construiu o seu espaço político, garantido a sua autonomia, uma das diferenças com os outros movimentos camponeses que o precederam.

O MST leva na memória a história camponesa que está construindo. Esse conhecimento explica que o fato dos camponeses não terem entrado na terra até os dias de hoje é político. É a forma estratégica de como o capital se apropriou e se apropria do território. Portanto, as lutas pela terra e pela reforma agrária são antes de mais nada, a luta contra o capital. É essa luta que o MST vem construindo nessa história que completa meio século (FERNANDES, p. 23).

1.2. O MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS S EM-TERRA

De 1979 a 1985, os trabalhadores sem-terra reuniram as principais lutas e

fundaram o MST. Essa lutas foram realizadas no Centro - Sul e representaram o processo de

formação do Movimento. Em janeiro de 1984, no município de Cascavel - PR, os sem-terra

fundaram o MST e partiram para a construção de um movimento nacional. Com a realização

do Primeiro Congresso em 1985, na cidade de Curitiba, abriram caminhos para a organização

do Movimento nas regiões Nordeste e Amazônia, territorializando a luta pela terra. Nesse

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período de reconstrução da democracia no Brasil e início da Nova República, os camponeses sem-terra definiram a ocupação da terra como forma de resistência da luta camponesa.

Na Região sudeste o surgimento do MST aconteceu nos estados de Espírito Santo, onde o MST foi formado em 1985, mais suas primeiras reuniões iniciaram em 1983 com grupos de famílias sem-terra na favela do Pé Sujo, na periferia da cidade de São Mateus, no Litoral Norte Espírito-santenseção do MST iniciou-se no ano de 1983. Essa famílias foram expropriadas e expulsas pela territorialização de grandes projetos agroindustriais, principalmente, eucalipto e cana-de-açúcar, por meio de incentivos fiscais e financeiros, que ocorreram desde meadas da década de 1960. As reuniões para discussão das realidades dessas famílias eram parte dos trabalho das Comunidades Eclesiais de Base, que recebiam orientação e apoio da Comissão Pastoral da Terra e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Mateus. Nesse mesmo ano, em diversos municípios da região, outros grupos de famílias começaram a se organizar com o objetivo de negociar terra e trabalho com os governos municipais e estadual. Das negociações com prefeitos e o governador resultaram as conquistas de dois assentamentos: Córrego de Areia e São Roque, no município de Jaguaré.

O objetivos de construir o MST só aconteceu mesmo após o primeiro Congresso que defendia a ocupação como forma de acesso à terra, mas os poucos assentamentos conquistados foram resultados de muita negociações e pressão principalmente da ocupação, pessoa como Hamilton Santos Moura, morreu numa emboscada por pistoleiros e assassinado, e a intensificação dos conflitos aumentava na proporção em que os sem-terra se organizavam para as ocupações. Esse fato resultou numa onda de perseguições e prisões.

Com esse conflitos a Arquidiocese de Vitória divulgou uma nota em todas as CEBs,

informando que esse conflito era fruto da “injustiça institucionalizada no campo, gerada pela

concentração da terra, pelo insucesso das tentativas de reforma agrária e pela impunidade

diante de centenas de assassinatos de trabalhadores e índios” (Pizetta, 1999, p. 33). O

governo estadual se manifestou por meio da imprensa, afirmando que os latifundiários se

apropriam de terras devolutas, acusando-os de “serem invasores de colarinho branco... são

invasores tanto quanto os trabalhadores que invadem propriedades... já que nos dois casos a

ocupação é feita em áreas que não pertencem nem aos trabalhadores e nem aos

proprietários” (Bussinger, 1992, p.153).

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Trabalhadores sem-terra, lideranças sindicais e pastorais precisaram deixar a região para não serem chacinados. Em 1990, no Espirito Santo, o MST já havia conquistado vinte e um assentamentos, onde foram assentados aproximadamente 700 famílias.

Em Minas Gerais (1989) a questão agrária fora militarizada. O MST denunciava a ação conjunta da polícia e da UDR, de modo que a repressão policial contra os sem-terra aumentava na mesma proporção que os trabalhadores intensificava suas ações.

Em 1990 em Iturama, no Triângulo Mineiro, os sem-terra tentaram ocupar a fazenda Colorado e foram impedidos por jagunços e policiais. As duzentos e cinqüentas famílias, que não conseguiram ocupar, acamparam nas margens da rodovia. Um grupo ocupou a sede do INCRA, em Belo Horizonte, exigindo a vistoria da fazenda, que foi declarada empresa rural. A luta por outras fazendas existiram, três anos depois, organizadas no MST, essas famílias conquistaram a terra.

No Rio de Janeiro a formação do MST foi singular. Um dos principais aspectos dessa distinção com os outros estados foi a ocorrência de um interstício no processo de formação do MST-RJ. No período de 1985 a 1987 aconteceu a primeira fase desse processo, quando o Movimento tentou, sem sucesso, se consolidar no Rio de Janeiro. No final de 1993, o MST-RJ voltou a se organizar e desde então começou a se territorializar por diversas regiões do estado. Outro aspecto importantes, que diferenciava de outros estados, era a participação massiva de trabalhadores urbanos na luta pela terra.

Nesse interstício de 1987 a 1993, os sem-terra cariocas mantiveram contato com o MST, principalmente via comissão do Programa Especial de Crédito para a Reforma Agrária (Procera). Nesse período, ocorreram várias reuniões, quando os sem-terra do Rio e dos outros estados matutaram as discussões a respeito da rearticulação do MST-RJ. Em 1993, o Movimento enviou uma liderança do Paraná, que juntamente com as lideranças cariocas reiniciaram os trabalho de construção do Movimento no Rio de Janeiro. Começava, dessa forma, uma nova fase da formação do MST-RJ.

No estado de São Paulo, a gestão e nascimento do Movimento aconteceram

da conjunção das lutas e conquistas dos movimentos em várias regiões do Estado. Até 1984,

a articulação desses movimentos foram coordenadas pela Comissão Pastoral da Terra. Com

a fundação do MST e a realização do Primeiro Congresso, os sem-terra escolheram uma

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coordenação e estabeleceram a Secretária Estadual na cidade de São Paulo, em uma sala na sede da Central Única do Trabalhadores (CUT). Em 1985, o MST-SP iniciou o seu processo de territorialização a partir da região de Campinas. Nesse ano, nas regiões de Sorocaba e Araçatuba também ocorreram diversas ocupações organizadas por movimentos isolados.

Essas primeiras ocupações do MST-SP foram realizadas em terras do Estado. A partir do quarto grupo, o Movimento começou a ocupar latifúndios e terras devolutas do Estado de São Paulo. No período 1985-1990, o MST territorializou-se para outras regiões.

Em 1990, no dia 14 de julho, quatrocentos famílias organizadas no MST ocuparam a fazenda Nova Pontal, no município de Teodoro Sampaio, na região do Pontal do Paranapanema. Essa ocupação marcou o processo de territorialização do Movimento sobre um dos maiores grilos de terra do Estado de São Paulo. Na primeira metade da década de 1990, o Pontal se tornaria uma das principais regiões de conflitos de terra do Brasil. O MST começava a desentranhar um grilo de mais de 1.000.000 de ha. Nesse tempo, o Movimento se consolidara no estado, constituindo seus principais setores: frente de massa, educação, formação, produção etc. Desenvolvida várias lutas, em diversas regiões, ao mesmo tempo.

No estado, onde se defendia que os latifúndios era áreas fictícias, conforme Graziano Neto:

“Vale a pena repetir que nenhum dos latifíndios ‘ por dimensão’ do Estado de São Paulo sofreu ação desapropriatória do poder público, simplesmente porque não foram encontrados:

eram áreas fictícias...” (Graziano, Neto, 1989, p. 37), os sem-terra espacializaram e territorializaram a luta pela terra, derrubando essa tese.

Em 1985 foi apresentada à sociedade o Plano Nacional de Reforma Agrária.

Em quatro anos, menos de 10% previsto no Plano foi realizado. Em parte, as desapropriações ocorreram porque os sem-terra intensificavam as ocupações de terra. Por essa razão surgiu a União Democrática Ruralista, organização dos latifundiários criada para defender seus privilégios e interesses. Em 1988, essa organização conseguiu minar a criação de uma lei de reforma agrária no processo Constituinte e inviabilizou a solução para a questão agrária.

O processo de territorialização do MST aconteceu por meio da construção

do espaço de socialização política. Nas periferias das cidades, os sem-terra organizados

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realizaram levantamentos das realidades da luta pela terra nos municípios. Com o apoio da Igreja Católica, dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais e de Partidos Políticos, reuniram as famílias para refletirem sobre suas vidas e as perspectivas da vida e trabalho. Formam organizações locais, analisaram as conjunturas políticas por meio da construção de conhecimentos e tomaram decisões para transformar os seus destinos. Esses trabalhos foram feitos pelos próprios sem-terras, que têm na experiência de vida, a história da luta. Dessa forma, dimensionam os espaços de socialização política e os transformam em espaços de luta e resistência.

Os espaços de luta e resistência são materializados na ocupação da terra. A ocupação é condição da territorialização. A terra conquista é uma fração do território, onde os sem-terra se organizam para promoverem um novo grupo de famílias que irá realizar uma nova ocupação, conquistando outra fração do território. Assim, a luta se renova e se amplia, territorializando-se. Dessa forma, os sem-terra migram por todo o território nacional, plantando as raízes da luta e minando a concentrado estrutura fundiária.

Em 1989, a reforma agrária saiu da pauta política do governo federal, com a eleição de Fernando Collor, árduo defensor dos latifundiários. Começaram as mais fortes repressões contra os sem-terra, que não se limitavam nas ações da força policial, e se valiam também da intervenção do Poder Judiciário como uma nova cerca para impedir as ocupações, por meio da incultivável criminalização ações das famílias sem-terra. Criou-se, assim, a judiciarização da luta pela terra e pela reforma agrária, resultando em prisões e massacres de camponeses sem-terra. Embora esse processo seja histórico, com o aumento das ocupações, o Poder Judiciário mostrou sua face, descoberta pela realidade construída pelos sem-terra.

Por causa de tamanha repressão e sem perspectiva de fazer a luta pela terra

avançar, os sem-terra voltaram-se para outra dimensão organizativa, investindo no

desenvolvimento do Sistema Cooperativista dos Assentados, criando cooperativas locais e

regionais. Desse modo, o MST fundou a Confederação das Cooperativas de Reforma

Agrária do Brasil - CONCRAB. Esse fortalecimento da luta promoveu a territorialização do

Movimento, que a cada dia contava com o apoio da sociedade, enquanto o presidente fora

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impedido pelo Congresso Nacional, por ser criador e criatura de um profundo e não explicando processo de corrupção.

Em 1992, o FAO - Órgão da Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação - Apresentou o relatório de uma pesquisa nacional a respeito da realidade econômica dos assentamentos, em que demonstrava a sustentabilidade das experiências dos assentados na consolidação da agricultura camponesa. A luta pela reforma agrária tinha uma nova amplitude: construir um outro modelo de desenvolvimento para a agropecuária. Durante séculos, o desenvolvimento do campo esteve referenciado nos padrões do latifúndio e da agricultura capitalista. Agora será preciso pensar um modelo para a agricultura familiar, em que o campesinato seja o principal protagonista.

Em 1994, com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, a reforma agrária torna-se uma política compensatória, com de implantação de assentamentos rurais, de acordo com a territorialização de luta pela terra e, também, com a regularização das terras de posseiros nas áreas de fronteira da Amazônia.

Nesse ano, o MST estava territorializado por todas as regiões e se consolidava como uma das principais forças políticas do País. O governo FHC ampliou a política neoliberal, que vinha sendo implantada desde o governo Collor, agudizando a crise da agricultura, transformando muitos camponeses em sem-terra, entre outros fatores econômicos que atingiram a classe trabalhadora.

Da mesma forma, o desenvolvimento tecnológico da agricultura patronal contribuiu para o desemprego de milhões de trabalhadores assalariados. Esses problemas aumentaram a população na luta pela terra e por conseguinte multiplicou os conflitos fundiários, que resultam no assassinato de trabalhadores. Segundo pesquisa da Comissão Pastoral da Terra nos 20 anos de ditadura militar - 1964 - 1984, foram assassinados 42 trabalhadores por ano. De 1985 a 1989, esse número triplicou e chegou a 117 assassinatos por ano. De 1990 a 1993, morreram 53 pessoas na luta pela terra. No período governo FHC - 1994 - 1997, esse número foi 43 pessoas assassinadas por ano. Número maior que do período da ditadura.

E, 1995, em Rondônia, na porção ocidental da Amazônia, aconteceu o

primeiro grande conflito, no governo FHC, que resultou na chacina de 9 sem-terra e dezenas

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de feridos e desaparecidos. Naquele ano, 500 famílias haviam ocupado uma fazenda no município de Corumbiara. Por ordem da Justiça. 300 policiais realizaram o despejo das famílias de forma violenta. Aquela ação era um indicador que nada mudara na luta pela terra e a resistência camponesa.

De fato, um ano depois, no dia 17 de abril, agora na porção oriental da Amazônia, outro massacre aconteceu. No município de Eldorado dos Carajás, no Pará, centenas de famílias sem-terra caminhavam por um rodovia em direção à cidade de Belém, quando foram surpreendidas pela ação policial. Resistiram e foram massacradas. A ação violenta da Polícia Militar causou 19 mortes e dezenas de feridos. A caminhada tinha como objetivo pressionar o governo para que as famílias fossem assentadas. O MST denominou o dia 17 de abril como o Dia Internacional de Luta Camponesa.

A impunidade dos assassinos e de seus mandantes também continua sendo uma realidade, em que o Poder Judiciário é inoperante. Uma liminar de reintegração de posse com ordem de desejo é expedida em horas. Em julgamento de assassinos de trabalhadores demora anos e na maioria absoluta das vezes, os criminosos não são condenados (FERNANDES, p. 54).

Desde 1994, com o aumento de intensidade de problema fundiário, surgiram novos movimentos sociais na luta pela terra. Alguns como dissensão do MST, outros formados a partir de suas própria lutas. O desemprego gera uma demanda crescente, principalmente nas médias e pequenas cidades. Uma opção para os trabalhadores rurais e urbanos é a luta pela terra. Dessa forma, é constante a formação de um movimento social no interior do Brasil. Os latifúndios estão em toda a parte, assim com o sem-terra.

Em 1977, o MST realizou a Marcha Nacional por Terra, Emprego e Justiça.

Duas mil pessoas partiram de três diferentes pontos do País em direção ao Distrito Federal. A caminhada durou dois meses e na chegada em Brasília, com mais de 30 mil pessoas, torno-se o principal assunto, chamando a atenção e ganhado a admiração do Brasil e do mundo.

Chegaram no dia 17 de abril, lembrando e registrando na memória de toda a sociedade o massacre de Eldorado do Carajás.

O MST atua numa nova conjutura da questão agrária. O prolongamento

dessa questão deve-se ao emperramento causado pelo sobre poder do latifúndio, que

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determina o controle político do problema fundiário. Por ser estrutural, o arranjo do problema mantém-se firme, quase inabalável, pelo seu vigor astucioso e fundamentado em um projeto político linear e evolutivo, relacionado com a dependência de uma política internacional.

Durante século, os movimentos camponeses tentaram romper com essa estrutura de poder, por meio de luta pela terra. Entretanto, todas as lutas ainda não foram suficientes para uma mudança eminente. Pela sua perenidade, a questão agrária nutre-se de conflitos, assumindo diferentes feições sem modificar sua essência. Portanto, a persistência da questão agrária é um cerco político e uma projeto camponês. A questão agrária hoje já não coloca mais a pergunta: quem é contra ou a favor da reforma agrária? A sociedade em geral é favorável à sua realização. Mas, como será feita a reforma agrária? O que está em questão é a fundamental participação política dos trabalhadores.

O poder e a estúcia dos ruralista e o papel fundamental do Poder Judiciário em defesa dos interesses e privilégios dos latifundiários e grileiros, têm um resultado perverso para a sociedade (OLIVEIRA, 80). Em vários estados, as propriedades em desapropriação são supervalorizadas pela perícia e pelo Judiciário, tornando as indenizações impraticáveis.

Atualmente, o governo federal possui um precatório de 4 bilhões para pagar aos latifundiários.

Essas ações inescrupulosas ainda são utilizadas para convencer a sociedade que o melhor para o Brasil é a mercantilização da terra, por meio da venda direta do latifúndio aos sem- terra.

Por causa da diminuição de preço da terra, têm muitos latifundiários interessados em vender suas terras. Como o único comprador em potencial é o Estado, a criação de uma política imobiliária é de interesse dos latifundiários para manterem seus privilégios. Dessa forma, os latifundiários transferem suas riquezas para outros setores da economia. Nesse sentido, a reforma agrária como política pública de desapropriação precisa ser mantida. Para isso, é fundamental a participação dos trabalhadores.

O Censo Agropecuário de 1995/1996 registrou que a concentração fundiária

aumentou. Mesmo a multiplicação das ocupações, o crescimento da luta pela terra na

territorialização do MST e implantação de milhares de assentamentos não foram suficientes

para causar alguma mudança na estrutura fundiária, por menor que seja. A luta pela reforma

agrária passa ser um das principais políticas do século XXI.

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ESTRUTURA ORGANIZATIVA DA EDUCAÇÃO NO MST

A problemática educacional ganha importância à medida que o MST coloca como fundamental o rompimento de três grandes “cercas”: a cerca do latifúndio, a cerca do capital e a cerca da ignorância e que submetem os trabalhadores rurais sem terra a condições de vida degradantes na sociedade brasileira.

2.1 - A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO DO MST

Falar de Educação no interior do MST é um grande desafio, pois esse movimento, apesar de sua organização e disciplinar, devido à dispersão nesse imenso continente que é o Brasil, não dispõe de dados precisos sobre o número de escolas ou alunos que estudam nos acampamentos ou assentamentos de R.A., nem das crianças, jovens e adolescentes que, morando em assentamento ou acampamentos, estudam na zona urbana.

É certo que ao longo dos tempos, o MST vem construindo uma proposta pedagógica através da qual educar não se reduz meramente a transmitir conhecimentos acumulados (FUNDEP 1995, p. 14-15), uma vez que, através da educação o Movimento busca integrar o homem a seu meio. Essa proposta de educação está sendo concebida por um projeto a ser aplicado nas suas áreas de influência, visando contribuir para a redução da retenção e evasão escolar, procurando ao mesmo tempo poder ir além da escola tradicional, no sentido de construir um projeto educativo dos oprimidos.

É nesse eclético projeto pedagógico, iniciado no seio do Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem-Terra que se pratica o processo educacional do MST e que será

estudado, buscando entender-se as diferença teórico-metodológicas que estão na origem

dessas concepções pedagógicas, visto que o MST adota a mesma concepção de Salm (1980:

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p. 34) ao conceder a educação como uma arma na luta contra a opressão, como instrumento moral e intelectual da jovem geração da classe oprimida e base de organização do movimento socialista atual para o futuro socialista.

A educação é vista, nessa perspectiva, como possuidora de uma vocação redentora da miséria a que a maior parte da sociedade brasileira está submetida pelos

“desmandos” da classe dirigente do país, formada por um burguesia capitalista aliada a um segmento agrário retrógrado e mal intencionado, que procura manter o povo na ignorância como forma de facilitar a dominação dos trabalhadores por essa classe de parasitas.

O poeta Pedro Tierra, num de seus discursos, quando do assassinato de trabalhadores rurais sem-terra no município de Eldorado dos Carajás/PA, afirmava que, para o MST, investir em educação é tão importante quanto o gesto de ocupar a terra, um gesto, aliás, que se encontra no cerne da pedagogia do movimento. Aqui, educar é o aprendizado coletivo das possibilidades da vida. As dores e as vitórias são face e contraface do mesmo processo (CALDART, 1997: p. 23).

Essa busca de contribuir com a educação numa perspectiva que julga mais adequada à classe trabalhadora e, principalmente, aos trabalhadores rurais, tem possibilitado ao MST desenvolver algumas experiências que o movimento considera inovadoras, sobretudo no que diz respeito à prática de gestão democrática da escola que se vem tentando construir, principalmente, no que diz respeito aos conteúdos e metodologias de ensino, bem como o envolvimento da comunidade no direcionamento das atividades escolares.

Sendo assim, os pais participam e estimulam a participação de outros pais nos conselho escolares, nas associações de pais e mestres, além de buscarem estar próximo dos professores, discutindo o conteúdo ensinado. Esse processo fica mais evidente quando o MST realiza seus encontros de educadores, com o objetivo de ampliar a formação de seus professores ou através dos materiais que seus coletivos de educação produzem para servirem de apoio aos professores.

Esse trabalho educativo tem sido desenvolvido com êxito, visto que o setor de

educação do movimento consegue atingir grande número de analfabeto, que jamais teriam

oportunidade de acesso à escola no meio rural se não fosse sua participação nas fileiras do

MST.

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Outros trabalhadores, mesmo sentindo a necessidade de estudar, por habitarem no meio rural, muitas vezes ficavam impossibilitados de freqüentar as aulas, devido às longas distâncias entre a escola e o local de moradia, problemas que só se resolveu com sua participação no MST, após a construção de escolas nos acampamentos ou assentamentos próximas de suas casas.

O MST acredita, ainda, na necessidade da educação como possibilidade de transformar a sociedade através de uma revolução cultura, que se daria também através de suas escolas de formação. Nesse aspecto, o MST adota as posições assumidas ensino tecnológico, ao proclamar que não há dúvida de que a trará a adoção do ensino tecnológico, teórico e prático nas escolas dos trabalhadores.

Considerando o analfabetismo como o mais sério entrave a ser enfrentado no sentido de transformar a realidade agrária do povo brasileiro, o MST coloca como tarefa fundamental para si, eliminar o analfabetismo nos assentamentos e preparar os jovens para assumirem a condição de futuros técnicos, futuros doutores e transformar o meio rural numa sociedade pregressista, igualitária, onde haja justiça social e educação para todos.

Um sério problema enfrentado pela trabalhador rural em geral, e pelo MST em particular, é a falta de propostas dos órgãos oficiais para a educação no setor rural, em praticamente todo o território nacional. No Rio Grande do Sul, por exemplo, um dos Estado onde o movimento está mais bem organizado, principalmente no setor educacional, a coordenação do setor de educação no MST em 1992 afirmava que o governo estadual gaúcho não tinha um projeto de educação para o meio rural. Sua única proposta seria o fechamento das pequenas escolas multisseriadas, assegurando o transporte das crianças e sua reunião nos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPS), escolas rurais de tempo integral (HADDAD e DI PIERRO, 1994: p. 12).

Os problemas da educação no Brasil não se restringem ao meio rural, nem os problemas da educação rural se restringem à falta de escolas ou de propostas para esse setor.

Englobam também os professores, pois estes são preparados para atuar no meio urbano, com

material típico do setor urbano e com falhas de formação, visto que não há uma proposta de

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formação específica para o professor da zona rural, que leve em conta as especificidades desse meio e o conhecimento que a criança traz em sua bagagem.

Para o desenvolvimento desse trabalho, o MST tem investido na habilitação de professores leigos através do trabalho desenvolvido na Escola Nacional de Formação, cujas primeiras turmas aconteceram na Escola “Uma Terra de Educar”, do Departamento de Educação Rural FUNDEP, em Braga, noroeste do RS. A partir de então, várias outras turmas por lá passaram, consolidando o trabalho de equipe.

A partir de 1993, com a implantação das Oficinas de Capacitação Pedagógicas (OFOCs), tiveram grande avanço os trabalhos de formação de educadores do MST, visto que o número de formandos aumentou. Outro fator importante naquele momento, para o qual os OFOCs contribuíram, foi a definição de quem poderia ser ou não considerado como educador do MST.

Para o MST, é importante que os filhos dos agricultores permaneçam no campo e continuem a luta pelo acesso à terra, partilhando as tradições e o projeto social do movimento. Em outras palavras, a luta por uma R.A. e por uma sociedade socialista não deve parar jamais, pois somente assim se construirá o homem novo almejado pelo movimento. A educação é considerada fundamental nesse processo.

Para o MST, a conquista da R.A. faz parte de uma luta dos sem-terra para se transformarem em cidadãos. Sendo assim, a luta do MST deve ser, em primeiro lugar, por terra, para dela tirarem o sustento, por trabalho para poderem vislumbrar um futuro melhor para suas famílias, se livrarem da exploração dos latifundiários e da miséria que existe no meio rural. O MST entende, no entanto, que não terá atingido plenamente seus objetivos, se tudo isso não vier acompanhado de um sistema educacional verdadeiramente comprometido com as necessidades da classe trabalhadora.

O MST, ao definir sua proposta de trabalho educacional, procurou aliar a

educação ao trabalho e à organização que poderá possibilitar uma formação para as suas

lutas, cujos princípios norteadores podem ser assim sintetizados através do trabalho,

organização e participação coletivos, tornando mais firme o vínculo entre o trabalho produtivo

e o estudo, que deve ser uma tônica constante na educação do MST, bem como a necessária

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ligação entre a teoria e a prática, sendo esta última entendida como tarefa obrigatória dos educandos.

Partindo desses princípios, o MST reivindica do Estado que a escola pública do meio rural seja pensada e organizada para o trabalho no campo, dando a mesma ênfase para o trabalho manual e o trabalho intelectual, rompendo assim com a dicotomia social do trabalho intelectual para uma classe e o trabalho braçal para outra. O MST entende, portanto, que, partindo da prática produtiva para a educacional, estariam fazendo uma relação dialética entre teoria e prática.

Cumpre assinalar que a proposta pedagógica do MST não é uma proposta que surge do nada ou que busque dar início a uma nova pedagogia. Na prática, é uma apropriação da proposta educacional de Paulo Freire, inclusive com os problemas decorrentes dessa metodologia, acompanhada das orientações pedagógicas de pensadores como Makarenko, Piaget, Martí e Che Guevara.

O MST tem como objetivo construir um novo modelo de educação mas, ao mesmo tempo, entende que há muitas dificuldades para mudar a mentalidade educacional no Brasil. Essas dificuldades estão presentes tanto nos órgãos do Estado, que fiscalizam e enquadram o currículo e os conteúdos trabalhados pelos professores, como no conservadorismo dos pais que muitas vezes se colocam contra as novas propostas educacionais. Outra dificuldade para implantar seu programa é a falta de colaboração de alguns órgãos regionais de educação, sobretudo quando esses são dirigidos por pessoas simpatizantes ou, até mesmo, ligadas aos grandes latifundiários, como era o caso da 39ª DE do Rio Grande do Sul, onde a titular (no ano de 1993) era, segundo Haddad e Di Pierro, ligada à UDR o que a levava a boicotar as propostas do MST no sentido de dar uma formação entendida como a mais adequada para os professores que trabalhavam nos acampamentos e assentamentos.

Embora tenha optado por não construir uma estrutura escola autônoma,

durante muito tempo o MST pensou em ter sua própria escola no assentamento educando na

realidade do movimento. Onde tanto o conteúdo quando a metodologia deveriam estar ligada

à sua ideologia, chegando mesmo a afirmar por algum tempo que os professores do MST

deveriam ser formados pelo próprio movimento, através de um escola “diferente”, integrada

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ao assentamento e ao mesmo tempo lugar de estudo e trabalho, em que os alunos aprendam a organizar-se e participem democraticamente, tendo por objetivo formar militantes que dêem continuidade à sua luta, “sujeitos de práxis”, dotados de clareza de objetivos, consciência organizativa, conhecimento teórico e competência prática.

O movimento entende que esse objetivo deva ser conquistado através de um método específico, constituído pela dialética entre teoria e prática, perspectiva epistemológica que subjaz a um currículo desenvolvido através de complexos temáticos.

Apesar de se auto reivindicarem dialéticos, apontam para a utilização de uma metodologia advinda do existencialismo cristão de Paulo Freire, ao escolherem com ponto de partida os complexos temáticos em torno de uma abordagem interdisciplinar.

Esses complexos temáticos giram em torno da realidade do MST, sobretudo em torno da R.A., da cooperativa e da luta pela terra num sentido mais amplo. É também importante para a educação a problemática associada à formação política e a organização dos trabalhadores. Sendo assim, trabalho, R.A., organização e cooperação compreendem os principais eixos temáticos em torno dos quais o MST se estrutura para educar.

A utilização da proposta pedagógica de Paulo Freire pode também ser percebida nas palavras de Haddad e Di Pierro (1994: p. 48), a respeito das proposições do MST, quando afirmam: “Os objetos ou temas geradores devem emergir da realidade ou das necessidades da comunidade na qual a escola e as crianças estão inseridas”, como se, por si mesmos, os temas geradores levassem à dialética. A proposta do MST demonstra um certo equívoco tanto em torno do método em si, como em torno do conteúdo do método.

Para viabilizar tal proposta a ser fiel a realidade dos assentamentos ou acampamentos, cujos temas deveriam ser bem conhecidos, o MST, por algum tempo, desenvolveu uma espécie de xenofobia maniqueísta, acreditando que somente quem morasse no assentamento, fazendo parte do MST, poderia ter capacidade para ser um verdadeiro professor de sem-terra. Isso levou o movimento a pensar em construir sua própria rede de ensino ou, pelo menos, tentar controlar ao máximo as escolas onde estudavam as crianças dos moradores de acampamentos ou assentamentos.

Essa proposta de formação de professores militantes do movimento fica

claramente identificada nos documentos do MST que tratam da problemática educacional no

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período anterior a 1995, quando este reivindicava que os professores de suas escolas deveriam ser pessoas que vivessem nos acampamentos e assentamentos como trabalhadores sem-terra. Verificou-se na prática que a proposta de ser ter esse professor militante vivendo entre os acampados e assentados não seria viabilizada, visto que o MST deparava-se com as dificuldades da formação específica do professor e da formação do cidadão que tem de ter, também, conhecimentos técnicos e não apenas políticos, como demonstram Haddad e Di Pierro (1994: p. 48), ao sugerirem que os professores influenciados pelo MST de fato militantes, aparentemente, estão mais bem preparados politicamente (porque consciente das metas que desejam alcançar) que tecnicamente (porque nem sempre dispõem do conhecimento específico das disciplinas que seria necessário ao desenvolvimento de seu trabalho)

Com relação à gestão e manutenção da escola, o movimento baseia-se no princípio de que o que confere o caráter público à escola não é a gestão estatal e sim a participação democrática da comunidade na qual a escola está inserida. Nesse sentido, a comunidade tem que ser entendida tal qual ela é concebida pelo MST, ou seja, como todos os usuários e trabalhadores daquela área de abrangência do assentamento ou acampamento.

Segundo Haddad e Di Pierro (1994: p. 49), na prática, o MST busca fundamentalmente garantir a influência das associações de trabalhadores rurais cooperados na gestão da escola. Através dessa participação, somada à prática dos professores assentados, o movimento procura exercer influência sobre os conteúdos e metodologias de ensino, na perspectiva de atingir seus objetivos filosófico-pedagógicos.

O MST tem insistido na participação de toda a comunidade interessada na

gestão da escola, entendendo que nisso consiste a democracia. Mas fica explícito que, até

agora, nem mesmo onde o movimento está mais organizado, esse apelo tem dado os

resultados esperados, como demonstram Haddad e Di Pierro (1994: p. 51), ao constatarem

que “o discurso do MST que insiste na participação das crianças na gestão da escola não

encontrou ainda formas de efetivação” pois na prática as crianças não têm como assumir

tarefas que se destinam exclusivamente a adultos, tais como administração e direção da

escolar.

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O MST tenta partir das necessidades práticas dos assentamentos e acampamentos para desenvolver seu projeto pedagógico. Nesse sentido, a orientação pedagógica dada pelo setor de educação do MST aos professores e às liderança comunitárias estimula e incentiva a adoção de conteúdos e metodologias de ensino mais próximos e adequados ao contexto econômico e sócio-cultural dos assentamento rurais.

Diante desse contexto, o que se tem verificado é que o grau de influência do MST nas escolas dos assentamentos está diretamente relacionado com o comprometimento que os professores daquele assentamento tiverem com as causas do movimento, bem como do perfil dos delegados de ensinos, diretores e supervisores ligados às escolas da região.

Não podemos, no entanto, deixar de reconhecer que a proposta de educação do MST está profundamente conectada ao projeto político e sócio-econômico do movimento, encontrando maior ressonância nas áreas onde vivem os trabalhadores assentados num projeto de R.A..

2.2 – ESTRUTURA EDUCATIVA E FORMATIVA DO MST

O trabalho de educação desenvolvido pelo MST abrange a maior parte dos acampamentos e assentamentos, com uma estrutura maior que alguns Estados brasileiros.

Segundo Caldart (1997: p,28), esse universo de trabalho atualmente desenvolvido pelo Setor de Educação abrange aproximadamente 950 escolas públicas de 1ª a 4ª séries e 50 de 5ª a 8ª série (Ensino Fundamental), o que significa cerca de 1.800 professores de 40 mil alunos.

Além disso, existem 600 monitores de alfabetização trabalhando com um número aproximado de 8 mil alfabetizados jovens e adultos dos assentamentos e acampamentos, bem como algumas experiências (ainda sem contabilização) de educação infantil.

No campo educacional, em área de acampamentos e assentamentos, o MST

entende que um dos maiores desafios é erradicar o analfabetismo que, segundo seus

componentes atinge índices de 80% a 90% entre seus militantes. Esse números levaram a

Movimento a buscar ampliação dos níveis de escolarização das crianças e jovens, através da

criação de escolas de ensino fundamental e ensino médio nas regiões de ocupação. O MST

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