AVALIAÇÃO CATALÍTICA DE FERROESPINÉLIOS MFe
2O
4(M = Cu, Co, Mn e Ni) EM REAÇÃO DE TRANSESTERIFICAÇÃO VISANDO OBTENÇÃO DE
BIODIESEL
Kleberson Ricardo de Oliveira Pereira
1; Joelda Dantas
1; Daniel Reinaldo Cornejo
2; Adriano Sant’Ana Silva
3; Ana Cristina Figueiredo de Melo Costa
11
Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Ciências e Tecnologia, Unidade Acadêmica de Engenharia de Materiais.
2
Universidade de São Paulo, Instituto de Física.
3
Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Ciências e Tecnologia Agroalimentar, Unidade Acadêmica de Tecnologia de Alimentos.
e-mail: klebersonric@usp.br
RESUMO
Dentre os biocombustíveis existentes, o biodiesel tem alcançado grande destaque econômico e tecnológico, pelo seu potencial em substituir o diesel de petróleo e por ser biodegradável, possuir baixa emissão de gases poluentes e ser proveniente de fontes renováveis. Neste contexto propomos avaliar o desempenho de ferroespinélios tipo MFe
2O
4, onde M representa metais bivalentes (Cu, Co, Mn, e Ni) em reação de transesterificação metílica de óleo de soja. Os ferroespinélios foram sintetizados por reação de combustão e caracterizados por DRX, FTIR e medidas magnéticas. Os resultados indicam que a síntese foi favorável a produção dos ferroespinélios, com valores de magnetização variando de 11,0 a 58,0 emu/g. Os valores de conversão foram de 53; 55; 57 e 52 %, respectivamente, concluindo-se que o tipo de metal bivalente interfere na morfologia e consequentemente na conversão catalítica.
Palavras-chaves: metais bivalentes; ferrita, biocombustível.
INTRODUÇÃO
Atualmente, as principais fontes de energias utilizadas são obtidas a partir de combustíveis fósseis não renováveis (petróleo, carvão e gás natural). Porém, a extensa queima destes combustíveis causa efeitos nocivos ao meio ambiente devido à emissão excessiva de partículas de hidrocarbonetos e gases de efeito estufa
(1).
Pesquisadores de todo o mundo têm apostado no desenvolvimento de fontes
de energia renováveis, que são sustentáveis e podem substituir os recursos não
renováveis. Dentre estas energias, uma das que apresenta grande perspectiva é o
biodiesel, por ser obtido a partir de fontes renováveis e segundo Kumar e Nerella
(2)tem o potencial de aliviar emissões prejudiciais durante o processo de combustão
em relação aos combustíveis fósseis.
A obtenção do biodiesel por reação de transesterificação, esquema apresentado na Fig. 1, é o processo mais usado e se dá pela inserção de três componentes: álcool, óleo vegetal ou gordura animal e catalisador. Sendo assim, o biodiesel é considerado um combustível biodegradável formado por ésteres de ácidos graxos de cadeia longa (ésteres alquílicos)
(3).
Figura 1 – Esquema reacional da reação de transesterificação
(4).
Na transesterificação de óleos vegetais com metanol ou etanol podem ser usadas duas classes de catalisadores: homogêneos ou heterogêneos. De acordo com Nizah et al.
(5), o uso de catalisadores homogêneos apresenta desvantagens, como: maior custo de produção e corrosão de equipamentos. Por outro lado, o uso de um catalisador heterogêneo pode reduzir estes problemas, pois pode ser separado dos produtos líquidos e ser concebido para dar uma maior atividade, seletividade e tempo de vida do catalisador.
Tal substituição vem se destacando mediante a utilização de materiais cerâmicos nanoestruturados. De acordo com Bressiane et al.
(6), a utilização de nanopartículas cerâmicas em catálise heterogênea abre um leque de oportunidades científico-econômicas.
Entre as nanopartículas cerâmicas, os óxidos do tipo espinélio vêm sendo usados como catalisadores e suportes catalíticos devidos principalmente a estabilidade química e térmica, elevada resistência a ácidos e álcalis, alto ponto de fusão e elevada área superficial
(7). O espinélio tem como fórmula geral AB
2O
4e a característica principal de sua estrutura é a de permitir variações através do grau de inversão do espinélio. As ferritas são promissoras em virtude da sua estrutura espinélio com alta estabilidade termodinâmica, condutividade elétrica, atividade eletrocatalítica e resistência à corrosão
(8).
Desta forma, neste estudo foram testadas diferentes composições de ferrita
(Cu, Co, Mn, Ni e Fe) como catalisador em reação de transesterificação metílica do
óleo de soja para obtenção de biodiesel.
METODOLOGIA Síntese das amostras
As amostras (CuFe
2O
4, CoFe
2O
4, MnFe
2O
4e NiFe
2O
4) foram sintetizadas utilizando-se reator com capacidade de produção de 10 g
(9)através do método de reação de combustão, que se baseia na teoria dos propelentes e explosivos, conforme descrito por Jain et al.
(10). A mistura dos nitratos metálicos e combustível foi submetida ao aquecimento direto em uma resistência espiral acoplada em base cerâmica. As amostras foram caracterizadas por:
Difração de raios-X: conduzida em difratômetro de raios-X Shimadzu modelo XRD-6000 (radiação CuK), a partir das curvas de difração determinaram-se as fases presentes nas amostras.
Espectroscopia na região do infravermelho: foi realizada em pastilha de brometo de potássio (KBr) como suporte para a amostra em equipamento espectrômetro Perkin Elmer modelo 400 FT-IR/FT-NIR, com varredura entre 500 e 4000 cm
-1, resolução de 4 cm
-1e 20 varreduras.
Caracterização magnética: Os ciclos de histerese magnética das amostras foram obtidos utilizando-se um magnetômetro de gradiente alternado (AGM).
Processo Catalítico
Os testes catalíticos foram conduzidos em reator de aço inox com agitação a temperatura de 180 ºC, razão molar óleo:álcool de 1:12, com 2% de catalisador por 1 hora. O produto resultante foi analisado quanto a conversão (C) em éster metílico, por cromatografia a gás usando cromatográfico VARIAN 450c com detector de ionização de chama em uma coluna capilar curta DB1 da J&W Scientific.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Fig. 2 as curvas de difração de raios-X das nanopartículas magnéticas CuFe
2O
4, CoFe
2O
4, MnFe
2O
4e NiFe
2O
4são apresentadas.
A análise destes resultados revelou para as nanopartículas magnéticas NiFe
2O
4e CoFe
2O
4a formação apenas da fase espinélio, as quais foram identificadas pelas fichas padrões JCPDS 86-2267 e 22-1086, respectivamente. Os sistemas MnFe
2O
4e CuFe
2O
4apresentaram a fase espinélio como majoritária, conforme fichas padrões JCPDF 89-8104, 77-0010 e 88-0315, respectivamente.
Entretanto, estes sistemas apresentaram segregação da fase Fe
2O
3(JCPDS 79-
0007) para todas as amostras e CuFeO
2(JCPDS 74-1953) para o sistema CuFe
2O
4.
20 30 40 50 60 70
(331)
*
* *
*
* *
*
Intensidade (cps)
2 (graus)
*CuFe2O4 Fe
2O 3 CuFeO
2
*
* CuFe2O4
(311)
(111) (220) (222) (400) (440) (531) (442)
20 30 40 50 60 70
(111)
CoFe2O4
*
* *
*
*
Intensidade (cps)
2 (graus)
*CoFe 2O
4
*
*
*
*
(311)
(220) (222) (400) (422) (511) (440)
20 30 40 50 60 70
* MnFe2O4
Intensidade (cps)
2 (graus)
*MnFe2O4 Fe2O3
*
*
*
*
*
*
*
(311)
(111) (220) (222) (400) (422) (440)
(511)
20 30 40 50 60 70
NiFe2O4
Intensidade (cps)
2 (graus)
*NiFe 2O
4
*
*
*
*
*
*
*
*(111) (220) (311) (222) (400) (422) (511) (440)
Figura 2 – Curvas de difração das nanopartículas magnéticas sintetizadas.
Na Fig. 3 os espectros de infravermelho das nanopartículas magnéticas CuFe
2O
4, CoFe
2O
4, MnFe
2O
4, e NiFe
2O
4estão apresentados.
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8
0.9 CuFe2O4
Número de onda (cm-1)
Absorbancia (u.a.)
3432
2927 2352
1637 1381
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9
1.0 CoFe2O4
Absorbancia (u.a.)
Número de onda (cm-1) 3432
2927 2352
1637 1381
461 537
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
0.3 0.4 0.5 0.6 0.7
0.8 3432 MnFe2O4
Absorbancia (u.a.)
2927
2352 1637
1381
Número de onda (cm-1)
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8
1.0 NiFe2O4
Absorbancia (u.a.)
3432
2927 2352
1637 1381
Número de onda (cm-1)
602
Figura 3 – Espectro de infravermelho das nanopartículas magnéticas sintetizadas.
Conforme análise destes resultados verificou-se a presença de bandas vibracionais em 1381, 1637, 2352, 2927 e 3432 cm
-1. Além destas bandas, foram constatadas as bandas 461 e 537 cm
-1para CoFe
2O
4, e 602 cm
-1para o sistema NiFe
2O
4.
Com relação as bandas vibracionais 1637 e 3432 cm
-1, estas se referem ao
dobramento e estiramento de O-H, o que indica presença de água nas amostras. A
banda vibracional presente a 1381 cm
-1refere-se ao estiramento antissimétrico do
íon NO
3-, que não foi completamente eliminado durante a combustão. Com relação a
banda vibracional a 2352 cm
-1, esta se refere a presença do CO
2atmosférico. A
banda vibracional a 2927 cm
-1indica o estiramento assimétrico de C-H, provavelmente oriundo de carbono residual das amostras.
As bandas vibracionais em 602, 574, 537 e 554 cm
-1para as amostras NiFe
2O
4e CoFe
2O
4, respectivamente, são atribuídas ao estiramento intrínseco de Fe-O no sítio tetraédrico. Nos espectros da amostra CoFe
2O
4observou-se a banda vibracional a 461 cm
-1, a qual é atribuída a vibração do Co presente nos sítios octaédricos
(11).
Na Fig. 4 podem ser observados os resultados de medida magnética para as nanopartículas magnéticas CuFe
2O
4, CoFe
2O
4, MnFe
2O
4e NiFe
2O
4.
-20 -10 0 10 20
-80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80
Ms = 20,0 emu/g Mr = 5,4 emu/g Hc = 0,350 kOe
-2 -1 0 1 2
-4 0 4
H (emu/g)
H (kOe)
H (emu/g) FCu
H (kOe)
FCu
-20 -10 0 10 20
-80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80
Ms = 58,0 emu/g Mr = 24,0 emu/g Hc = 1,140 kOe
-4 0 4
-20 0 20
H (emu/g)
H (kOe) FCo
H (emu/g)
H (kOe)
FCo
-20 -10 0 10 20
-80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80
Ms = 55,0 emu/g Mr = 8,4 emu/g Hc = 0,080 kOe
-3 0 3
-9 0 9
H (emu/g)
H (kOe) FMn
H (emu/g)
H (kOe)
FMn
-20 -10 0 10 20
-80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80
Ms = 11,0 emu/g Mr = 2,5 emu/g Hc = 0,230 kOe
-2 -1 0 1 2
-4 0 4
H (emu/g)
H (kOe)
H (emu/g) FNi
H (kOe)
FNi