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A contribuição dos contos infantis para o ensino da leitura da escrita dos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ– UFC FACULDADE DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

FRANCISCA GLÁUBIA SOARES DE SOUSA

A CONTRIBUIÇÃO DOS CONTOS INFANTIS PARA O ENSINO DA LEITURA

E DA ESCRITA DOS ALUNOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

FRANCISCA GLÁUBIA SOARES DE SOUSA

Trabalho apresentado à Universidade Federal do Ceará como um dos pré-requisitos para a obtenção do grau de Licenciada em Pedagogia.

FORTALEZA – CEARÁ

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca de Ciências Humanas

S696c Sousa, Francisca Gláubia Soares de.

A contribuição dos contos literários infantis para o ensino da leitura e da escrita dos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental / Francisca Gláubia Soares de Sousa. – 2012.

73 f. : il. color., enc. ; 30 cm.

Monografia (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades, Faculdade de Educação, Curso de Pedagogia, Fortaleza, 2012.

Orientação: Profa. Dra. Ana Paula de Medeiros Ribeiro.

1.Aprendizagem. 2.Aquisição da escrita. 3.Arte de contar histórias. 4.Crianças – Livros e leitura I. Título.

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FACULDADE DE EDUCAÇÃO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

A CONTRIBUIÇÃO DOS CONTOS LITERÁRIOS INFANTIS PARA O

ENSINO DA LEITURA E DA ESCRITA DOS ALUNOS DOS ANOS INICIAIS

DO ENSINO FUNDAMENTAL

Autora: Francisca Gláubia Soares de Sousa

Monografia defendida e aprovada em 25/06/2012

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ Profa. Dra. Ana Paula de Medeiros Ribeiro (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará - UFC

___________________________________________________ Profa. Ma. Joyce Carneiro de Oliveira

Faculdade Cearense- FAC

_______________________________________________ Profa. Dra. Maria Cilvia Queiroz Farias

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DEDICATÓRIA

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AGRADECIMENTO

Agradeço primeiramente, a Deus por ter me concedido o sopro da vida e depois a coragem de lutar em busca de meus ideais buscando sempre a superação diante de tantas dificuldades.

Agradeço a minha mãe, Maria Alves Soares, por sempre ter acreditado nos meus sonhos.

Agradeço ao meu pai, Firmiano Teixeira de Souza (em memória) por ter sido um grande homem em minha vida, um grande exemplo.

Agradeço a minha irmã e madrinha, Francisca Francineide Soares de Sousa, por ter sido um apoio e alguém com quem sempre pude contar.

Agradeço ao meu Esposo, Clademilson Barros das Chagas, pelo seu imenso companheirismo e paciência ao longo desse tempo, por sempre ter acreditado que essa seria mais uma conquista em nossas vidas.

Agradeço aos meus professores, em especial, à alfabetizadora que foi aquela que me possibilitou o contato com as primeiras letras e me fez apaixonar-me pelo o mundo letrado.

Agradeço à Escola Popular Cooperativa de Boa Vista que me trouxe a oportunidade de entrar para um mundo onde tive a concretização de um sonho: o ensino superior na Universidade Federal do ceará.

Agradeço à Escola popular Cooperativa de Miguá Terra, da qual fui fundadora e semeei sonhos, sonhos estes que agora já estão sendo realizados.

Agradeço aqueles que foram meus alunos de pré-vestibular na EPC: Migúa Terra por terem acreditado em si próprios e hoje serem universitários e terem me dado a certeza de que este sucesso também faz parte da minha história, pois é fruto também de meus ensinamentos, me faz acreditar na pedagoga que pretendo ser, que acredita que sua maior recompensa é o sucesso de seus alunos e a melhor resposta de seu trabalho. Agradeço à comunidade onde nasci por ter sido um ambiente fértil e propício para que eu acreditasse e buscasse dias melhores.

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O homem existe no tempo. Está dentro. Está fora. Herda. Incorpora. Modifica. Porque não está preso a um tempo reduzido A um hoje permanente que o esmaga, emerge dele. Banha-se nele. Temporaliza-se.

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RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo analisar a aprendizagem da leitura e da escrita mediada pelos contos infantis realizados em sala de aula. Trata-se de um estudo de campo cuja abordagem das análises foi realizada na dimensão qualitativa. O instrumento de coleta de dados abrangeu entrevistas com a professora e aplicação de formulários de observação da prática docente e das crianças no momento da contação de história. Os resultados do estudo demonstraram que a contação de histórias realizada na escola pesquisada é uma prática bastante válida para o desenvolvimento da leitura e da escrita das crianças. O momento do conto possibilita à criança a interação social, a compreensão textual, associação e distinção do seu mundo real com o imaginário, desenvolve a imaginação e o interesse pelo saber ler e escrever.

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ABSTRACT

This research aimed to examine the learning of reading and writing fairy tales performed mediated classroom. This is a field study approach whose analysis was performed on the qualitative dimension. The instrument for data collection included interviews with the teacher and application forms of observation of teaching practice and children at the time of storytelling. The study results demonstrated that the storytelling in the school researched is a practice quite valid for the development of reading and writing for children. The timing of the story allows the child to social interaction, comprehension, association and distinction of your real world with the imaginary, develops the imagination and interest in reading and writing.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Desenho do aluno E ... 44

Figura 2- Desenho da aluna M ... 44

Figura 3- Desenho do aluno J ... 45

Figura 4- Desenho do aluno S... 46

Figura 5- Desenho da aluna T ... 46

Figura 6- Desenho da aluna I ... 47

Figura 7- Desenho da aluna S ... 47

Figura 8- Desenho do aluno T ... 48

Figura 9- Da aluna E ... 48

Figura 10- Desenho da aluna V ... 49

Figura 11- Desenho do aluno A ... 49

Figura 12-Atividade escrita do aluno E ... 53

Figura 13- Atividade escrita do aluno M ... 54

Figura 14- Atividade escrita da aluna T ... 54

Figura 15- Atividade escrita da aluna M ... 55

Figura 16- Atividade escrita da aluna E ... 55

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

JUSTIFICATIVA ... 12

OBJETIVOS ... 14

1 CAPÍTULO 1.1-Contar histórias: Uma arte milenar ... 15

2 CAPÍTULO 2.1-A função social do conto e sua importância no contexto escolar ... 20

3 CAPÍTULO 3.1 Metodologia ... 29

3.2 o Percurso da pesquisa ... 29

3.2 As observações ... 30

3.2.1 A escola ... 30

3.2.2 A sala de aula ... 31

3.3 Os sujeitos ... 32

4 CAPÍTULO 4- ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS 4.1 A contação das histórias ... 33

4.2 A proposta de atividades de compreensão textual pós-contação da história ... 41

4.3 A proposta de atividade de leitura pós-contação da história ... 49

4.4 A entrevista com a professora ... 57

4.5 Considerações sobre a prática docente da professora ... 59

5.6 Considerações sobre as atitudes dos alunos durante a atividade ... 60

5 CONCLUSÕES

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INTRODUÇÃO

Ainda durante a infância, percebe-se um mundo no qual a escrita está presente em todos os lugares. Visualizam-se letras formando palavras, frases ou textos nos nomes de ruas, avenidas, propagandas dentre outras situações. Tudo isso indica para a criança que é preciso aprender a ler e a escrever, para poder entender a sociedade que se comunica em todos os lugares através da linguagem escrita.

Para que a criança aprenda a ler e a escrever é importante que esta tenha contato com textos impressos que possa manuseá-los e ouvir a leitura dos mesmos, feita pelos adultos, tanto em casa como na escola. Sobre essas leituras é comum que antes mesmo que a criança vá para a escola, os pais leiam para elas belas narrativas que falem de magia, de princesas e príncipes, reis, rainhas, bruxas, animais e bonecos e bonecas falantes.

Recordo-me bem que cresci ouvindo histórias, esta era uma prática comum dos meus pais. Eles sentavam comigo e meus irmãos para contar o que chamamos de histórias de ―Trancoso‖. Essa era a expressão que usávamos para falar das belas histórias que sempre mostravam o desenrolar de um problema a ser resolvido, um feitiço a ser quebrado ou um mistério a ser desvendado. Tudo nos fascinava e nos fazia permanecer sempre atentos para não perdermos a próxima cena, tampouco o final da história.

Logo que aprendi a ler com seis anos de idade e ainda no primeiro ano do ensino fundamental comecei a ler contos. Isso sempre me encantou, principalmente, porque falavam de príncipes, princesas e bruxas malvadas. Eu sempre lia e relia por demasiadas vezes. O meu interesse pela leitura foi, então, despertado através dessas histórias e mais ainda quando percebi que poderia conhecer muitas delas através dos livros e não mais apenas através da forma oral utilizada por meus pais ou pelas leituras feitas por minhas professoras.

Com o passar do tempo meu interesse pela leitura só aumentou, então eu sempre levava para casa livros da escola. Os meus preferidos eram os que narravam fatos interessantes, os que tinham romances e finais felizes. Motivada por essa experiência e sendo atualmente professora do Ensino Fundamental, acredito que essa pesquisa poderá auxiliar no conhecimento sobre como as crianças interpretam os contos e os relacionam com o aprender ler e escrever e o que lhes é possível construir a partir da contação de história.

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e segundo ano, tendo como sujeitos a professora e onze crianças, sendo cinco do primeiro ano e seis do segundo ano.

Durante a coleta de dados percebeu-se que o conto realizado pela professora pode ser muito significativo para o aprender a ler e a escrever destas crianças, pois sempre que se realizava sobre os panos de TNT a contação de histórias, as crianças participavam ativamente desse momento, dando palpites, fazendo perguntas e até falando de fatos ocorridos em seu cotidiano que lembravam a partir da história. E além de participar oralmente faziam desenhos para representar a história e até se arriscavam a escrever algo sobre a mesma, ainda que fosse apenas uma palavra ou uma frase e em alguns casos, embora, apresentassem uma escrita pré-silábica, quando perguntávamos sobre o que queriam dizer, respondiam rapidamente, demonstrando, assim, sua compreensão textual.

O trabalho está dividido em três capítulos. No primeiro, há um breve histórico sobre o surgimento do conto na cultura Greco-romana, na Pérsia, no Império Árabe, no antigo Egito e no Brasil, falando de suas características no interior de cada uma dessas culturas, ressaltando-se que esta era uma prática inicialmente oral, mas que veio a tornar-se um gênero literário e, portanto, passou a fazer parte do mundo da escrita.

O segundo capítulo traz uma discussão sobre a função social do conto e sua importância no contexto escolar, considerando a contação de história uma prática que pode contribuir tanto para o ensino da leitura e da escrita como para a compreensão da criança a respeito do que lhe é contado.

O capítulo que trata da análise contém uma descrição do momento do conto e das atividades de leitura e de escrita que o tinha como base. Está ressaltado, também, o entendimento das crianças acerca das histórias contadas e o que conseguiam expressar sobre ela, através da escrita, dos desenhos ou da fala. Além disso, foi relatado o que a professora opinou sobre a importância do conto, bem como as percepções da pesquisadora a respeito dos achados.

Escolhi esta escola por já conhecer todos os funcionários da mesma, tendo assim um bom acesso para poder realizar minha pesquisa de campo.

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JUSTIFICATIVA

Durante uma das disciplinas do meu curso de graduação em Pedagogia, tivemos a oportunidade de ser apresentada a diversos estudos sobre a leitura e a escrita. Dentre as discussões sobre a temática leitura, uma despertou-me o interesse: os contos de fadas. A partir das leituras que ia fazendo, comecei a indagar: como as crianças nos anos iniciais do Ensino Fundamental compreendem esse gênero? De que maneira eles contribuem para o desenvolvimento da leitura e da escrita? E que conexões as crianças fazem entre os contos e a realidade?

Como a disciplina chegou ao fim e essas questões continuaram não esclarecidas, resolvi dar continuidade à busca das respostas para minhas indagações, estruturando o meu trabalho de conclusão de curso, voltando-me para o referido tema. Na verdade, como pesquisadora, queria investigar qual a importância dos contos para o desenvolvimento da leitura e da escrita nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Durante a disciplina de alfabetização e letramento realizei um trabalho, no qual observei minha sobrinha que, na época, tinha sete anos. Houve um momento em que pedi que me contasse a história da chapeuzinho vermelho porque ela tinha um DVD ilustrado que narrava a história e em alguns momento representava as cenas ao som de uma música cantada pela chapeuzinho.E minha sobrinha o representava frequentemente muito bem o que via no DVD.

No desenvolvimento do trabalho, observei-a por dias ela sempre pedia à mãe para colocar o DVD e quando este chegava ao final ela pedia pra ouvi-lo novamente. A minha indagação girava em torno dos motivos que a faziam gostar tanto da história. Na entrevista que fiz com ela, ficou evidente que ela gostava muito dos personagens. Quando indagada do porquê de tanta fascinação pela história, ela justificava dizendo que tinha uma vovó, uma menina, a mãe da menina, um caçador e um lobo mau. E continuava pontuando alguns trechos importantes, tais como: (1) a mãe havia mandado a menina levar doces para a avó e no caminho ela ia cantando: ―pela estrada a fora eu vou bem sozinha levar esses doces para a vovozinha, ela mora longe o caminho é deserto e o lobo mal passeia aqui por perto‖.

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Chapeuzinho e (5) quando o caçador abriu a barriga do lobo e tirou a chapeuzinho e a vovozinha.

Analisando os pontos que a criança destacou, percebi coisas muito interessantes e fiquei fascinada, pois ela havia demonstrado, claramente, uma compreensão linear da história que ouvia e visualizava frequentemente. Porém, ela extrapolou a história em si, inserindo um fato novo: o casamento da vovó com o caçador. Este detalhe é muito importante ressaltar por que destaca o real poder do reconto: fazer com que as crianças deem asas à imaginação e acrescentem ou mudem, na história, aquilo que ela realmente queria que acontecesse. Dessa forma, a criança se constrói socialmente na história e na vida real, pois ao acrescentar um fato que ocorre na vida das pessoas, a criança demonstra que faz associação entre o conto e os fatores sociais que ela conhece em seu cotidiano. Além disso, ao contar a história, a criança demonstra oralmente sua compreensão de mundo, assim como dizia Freire (2006 p.14), ―a leitura de mundo precede a leitura da palavra‖, ou seja, antes de a criança aprender a ler, a decodificar as palavras alfabéticas ela já sabe ler o mundo em que vive, pois percebe e entende o lugar onde vive e associa o texto ao contexto, desse modo, ao recontar e acrescentar em uma história fictícia algo que faz parte do mundo, a criança está nada mais do que associando o real ao imaginário.

Observar minha sobrinha realizando, fascinada, o reconto daquela história e vê-la acrescentar um final diferente, me deixou muito curiosa para entender como se dá esse saber, compreender, modificar e acrescentar e, ainda, como poderia favorecer o seu desenvolvimento da leitura e da escrita.

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OBJETIVOS

Objetivo Geral

Analisar como o conto infantil pode auxiliar o desenvolvimento da aprendizagem da leitura e da escrita.

Objetivos Específicos

Compreender os significados que os alunos dão aos contos trabalhados no cotidiano escolar.

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CAPÍTULO 1

CONTAR HISTÓRIAS: UMA ARTE MILENAR

A arte de contar história é muito antiga. Ao longo do tempo, várias civilizações tinham este hábito em sua cultura.

Há muitos e muitos anos, ainda quando a vida amanhecia no planeta, o Homem já narrava. Primeiro, falava de seu cotidiano: seus hábitos e seus revezes. Depois, em determinado momento, sentiu necessidade de dar conta de acontecimentos que escapavam a seu entendimento racional. Precisava encontrar explicações tanto para fenômenos da natureza quanto para o fato de ser quem era e estar onde estava. Assim concebeu então, um conto maravilhoso que, com seus elementos mágicos, explicava o que a razão desconhecia (CHEOLA, 2006, p.47).

Durante a pré-história, o homem já tinha o hábito de reunir-se com seus semelhantes para contar histórias e, para isso, utilizava como recursos os gestos e a linguagem oral e contava aquilo que para ele fazia sentido, sendo importante ser compartilhado com outras pessoas.

Foram considerados, uns dos mais antigos, os contos mágicos desenvolvidos no antigo Egito, por volta de 400 a. C.. Já na cultura Greco-romana, destacaram-se os contos das mil e uma noites que aparecem, também, na Pérsia, ainda no século X, repercutindo no Egito, no século XII, e na Europa no século XVIII. O conto vai se delineando ao longo dos anos e se diferindo de outras formas de comunicações orais ou escritas.

Segundo Magalhães (1972), durante a Antiguidade, o conto poderia ser uma história separadamente de qualquer outra ou estar dentro de uma narrativa longa.

Ao longo da Idade Média, a narrativa tornou-se confusa, pois não se separava anedotas, parábolas, exemplos morais, fábulas, novelas, contos e romances, tudo se misturava. No século XIV, o conto deixou de ser realizado apenas de forma oral, passando, também, a ser escrito e, no século XIX, os contos começaram a ser publicados nos jornais. Como os espaços destinados para a publicação dos contos em jornais eram bastante limitados, os autores passaram a resumir a história para que pudesse caber no espaço destinado para ela. E foi justamente o jornal que fez com que o conto se tornasse conhecido no mundo ocidental e se tornasse um importante instrumento cultural.

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16 forma de renovar valores e costumes e dar ao leitor uma oportunidade de entrar na história para poder reconstruir um final a maneira de cada leitor.

Pode-se perceber que o costume de contar história vem se desenvolvendo desde os primórdios da humanidade como hábito que passa a fazer parte da cultura de vários povos, iniciando-se como um velho costume oral de se narrar fatos ocorridos ou imaginados pelo o homem indo até uma maneira de expor sua forma de ver o mundo de perceber o lugar e a sociedade onde se vive.

O hábito de contar é um costume antigo praticado pelos mais velhos que costumam contar, para os mais jovens, histórias para demonstrar, para expor para as crianças costumes e valores morais, embora o contar seja realizado em um momento de lazer familiar. Muitas vezes, à noite, enquanto o sono não vem os pais ou avós contam belas histórias para os mais moços.

A contação de história literárias contribui para o desenvolvimento intelectual infantil à medida que desperta as curiosidades, a imaginação, o interesse pela leitura, pois dessa forma possibilita que a criança faça uma associação entre o universo da realidade e da ficção. O conto facilita o desenvolvimento comunicativo, devido ao seu irresistível convite à oralidade que leva a criança a conversar com seus colegas, sobre o que ocorreu e o que gostaria que tivesse ocorrido ou, até mesmo, contar para outras crianças, que não ouviram a história, o desenrolar da mesma, interação sociocultural também é trabalhada nas crianças, pois ao ouvirem uma história não são convidadas apenas a falarem sobre o conto, mas também a discutirem sobre os valores presentes na mesma.

Para que existam, nas escolas, bons professores contadores é preciso que estes estejam sempre buscando novos conceitos e técnicas para que possam associar teoria e prática, ou seja, não apenas saber que é preciso contar, mas saber o porquê contar e o como contar e assim promover a interação, a compreensão da leitura de contos literários, pois quando a história é trabalhada voltando-se para a construção do conhecimento social, ela assume para a criança a função de formadora de valores e conceitos sociais, que acompanhará a criança até a sua vida adulta.

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baseado no discurso de que era necessário preparar a criança para tornar-se adulta física e mentalmente. Foi, também, durante este século que escritores e ilustradores se preocuparam em criar obras literárias voltadas para o infantil, pois a partir de então as crianças eram vistas de forma diferenciadas e não mais um adulto em miniatura.

As histórias já existiam antes da escrita existir e eram passadas ao longo dos milênios de geração em geração. Nas famílias e nas comunidades, eram narradas histórias que pregavam valores e costumes sociais. Muitos contos existiam apenas nas memórias de pessoas que eram ouvidas e que ao narrar contavam e encantavam, disseminava valores e conceitos sobre o que era ou não correto.

Mesmo toda a tecnologia do século XX, onde surgiu a televisão, o rádio e a internet, estes não foram capazes de superar os contadores de histórias. Segundo Jorge Luís Borges, o conto marcará a literatura durante várias décadas do século XXI. E como se pode presenciar nos dias atuais, nos sites de literatura, o conto ocupa um enorme espaço, justamente por ser curto e intenso.

As histórias ajudam os pais a disseminarem para os filhos seus valores ainda de forma indireta, pois é transmitido através da história traços da própria cultura tais como a distinção do bem e do mal, do bom e do ruim ou até mesmo do certo e do errado.

Cantando, celebrai, oh, anciãos, a história da nossa raça. Que me seja dado ver em minha alma, o amor em todos os rostos. E todos os espíritos que vieram antes, o poder mágico que eles adquiriram A tradição sagrada que me transmitiram para que a memória não desapareça. Oh, Contador de Histórias, sede minha ponte para aqueles outros tempos, para que eu possa caminhar em beleza com o ritmo antigo e a antiga rima (SAMS, 2000).

Cristo ensinava através de parábolas, as quais sempre terminavam com uma lição de vida, que buscava ensinar a separar as boas atitudes, das ruins. Para Carvalho (1975), as histórias são para as crianças o que as parábolas de Cristo são para os cristãos.

Diz Gotilib (2000, p.6), afirma que ―Enumerar as fases da evolução do conto seria percorrer a nossa própria história, a história de nossa cultura, detectando os momentos da escrita que a representam‖.

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18 Afirma Coelho (1998, p.31) que.

Esta é sem dúvida, a mais fascinante de todas as formas, a mais antiga, tradicional e autêntica expressão do contador de histórias. Não requer nenhum acessório e se processa por meio da voz do narrador, de sua postura. Este, por sua vez, com as mãos livres, concentra toda a sua força na expressão corporal. contos de fadas, eu sempre conto sob a forma de simples narrativa. Que gravura mostraria o esplendor do baile de Cinderela, ou a emoção da fuga ao soar das badaladas da meia-noite?

A história é para a criança a ligação entre o seu mundo real e o seu imaginário, por isso contar é despertar na criança o desejo de aprender, de compreender o mundo em que vive.

Coelho (1998) assevera que:

A história é um alimento da imaginação da criança e precisa ser dosada conforme sua estrutura cerebral‖. Sabemos que o leite é um alimento indispensável ao crescimento sadio. No entanto, se oferecermos ao lactente. Leite deteriorado ou em quantidade excessiva, poderão ocorrer vômitos, diarreia e prejuízo da saúde. Feijão é excelente fonte de ferro, mas nem por isso iremos dar feijão a um bebê, pois fará mal a ele. Esperamos que cresça e seu organismo possa assimilar o alimento. ―A história também é assimilada de acordo com o desenvolvimento da criança e por um sistema muito mais delicado e especial (p.14)

Os primeiros livros infantis literários tinham objetivos estritamente pedagógicos, pois buscavam passar para a criança os cuidados higiênicos ou as ideias de patriotismo. Um diferencial foi Monteiro Lobato, que criou personagens femininos, com uma percepção crítica da realidade. Na primeira metade do século XX, passaram a ser exploradas as histórias em quadrinhos, devido à internacionalização da indústria norte-americana. Essa produção tornou-se mais intensa com o contrato entre a Editora Abril com a Walt Disney. As crianças brasileiras, a partir de então, passaram a conhecer as histórias de Mickey Mouse, Tio Patinhas e Pato Donald.

Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo.. (ABRAMOVICH, 1993, p.16).

Atualmente, no Ceará, a contação de história é realizada nas escolas públicas, incentivada pelo PAIC, Programa Alfabetização na Idade Certa, com intuito de promover um incentivo ao desenvolvimento da leitura e a escrita a partir do despertar do interesse por histórias que possam estabelecer um elo entre o imaginário e o mundo real em que as crianças vivem.

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professora e alunos a se tornarem companheiros de trabalho. Leva a história para dentro da comunidade extrai à história de dentro da comunidade. Ela ajuda os menos favorecidos, especialmente aos idosos, a conquistarem dignidade e autoconfiança. Propicia o contato – e a compreensão- entre classes sociais e entre gerações. E para cada um dos historiadores e outros que partilhem das mesmas intenções, ela pode dar um sentimento de pertencer a determinado lugar e a determinada época. Em suma, contribui para formar seres humanos mais completos. Paralelamente, à história oral propõe um desafio aos mitos consagrado da história, ao juízo autoritário inerente à sua tradição. E oferece os meios para uma transformação radical no sentido social da história‖. (THOMPSON, 1992 p.44 apud MEIHY 2007, p.83).

No Brasil, vivemos um momento em que contar história, é mais que contar é encantar, é cantar é imaginar, é possibilitar as crianças a realização de uma viagem interior, onde é possível ver e viver o personagem e essa prática está sendo exercida pelo o professor em sala de aula. Através da história contada ou lida à criança pode estabelecer comparações da história com elementos de sua vida real e ao mesmo tempo recontar a história acrescentando nela o que gostaria que fosse mudado.

Conto histórias para formar leitores; para fazer da diversidade cultural um fato; valorizar as etnias; manter a História viva; para se sentir vivo; para encantar e sensibilizar o ouvinte; para estimular o imaginário; articular o sensível; tocar o coração; alimentar o espírito; resgatar significados para a nossa existência e reativar o sagrado (BUSATTO, 2003, p. 45-46).

Além disso, o conto literário permite a criança a oportunidade de um contato direto com o mundo escrito, impresso, onde ela precisa conhecer e decodificar letras e também praticar a escrita, pois estas fazem parte de um saber que é cobrado na sociedade atual, embora o não saber decodificá-las não significa não saber nada, pois mesmo quando não se ler, se compreende. E isso é provado quando uma criança ainda não leitora conta uma história oralmente ou até mesmo através de desenhos.

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CAPÍTULO 2

A FUNÇÃO SOCIAL DO CONTO E SUA IMPORTÂNCIA NO

CONTEXTO ESCOLAR

A contação de história realizada na escola não é um momento de distração, mas um momento em que se busca atrair a atenção das crianças para o que está sendo narrado. Nos contos, costumam-se serem narrados não só acontecimentos mágicos, mas também elementos da vida real, como por exemplo, na história do boneco Neco e Maria Flor, narrado por Francisco Gilson e ilustrado por Eduardo Azevedo. No desenvolvimento da história, é narrado o casamento entre o casal de bonecos. O casamento em si é um fator social que está muito presente na vida das pessoas, embora as crianças não se casem, mas assistem a casamentos e sabem que essa é uma possibilidade futura e que precede a formação de uma família. Dessa forma, pode-se perceber que o hábito de contar histórias pelas professoras em sala de aula possui um fator social que é trazer para as crianças uma discussão acerca de fatos que estão presentes no ambiente em que vivem e que tem um valor social, no caso do casamento mostra um modelo de família estruturada formada inicialmente por um casal através do matrimônio. Isso significa dizer que, perante a sociedade, esta é a forma adequada de se constituir uma família.

O conto é uma narrativa curta e linear não havendo dispersão em seu desenvolvimento. Ele ocorre em um só momento não havendo variação de tempo nem de espaço, pois ocorre em um só lugar e em um determinado tempo. Possui inicio meio e fim, inicia-se com a apresentação dos personagens e, no seu desenvolvimento, surge um problema e todos os acontecimentos, a partir daí, estão voltados para que no final o problema seja resolvido. Nele está presente, também, o suspense, a surpresa, pois o conto deve prender a atenção do leitor durante toda a contação. O conto se caracteriza pela presença do encantamento, do conflito, busca sempre a resolução de um problema e termina justamente no clímax.

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sobre ele e daí veio a necessidade de ouvi-lo novamente, para que em sua mente este seja esclarecido.

Segundo Piaget (1923, p.59-60),

O pensamento dirigido é consciente, isto é, persegue objetivos que estão presentes na mente daquele que pensa. É inteligente, isto é, encontra-se adaptado a realidade e luta para influenciá-la. É suscetível de verdade e erro (...) e pode ser comunicado por meio da linguagem. O pensamento austístico é subconsciente, isto é os objetivos que persegue e os problemas que coloca a si mesmo não estão presentes na consciência. Não está adaptado a realidade externa, mas cria para si mesmo uma realidade de imaginação ou de sonhos. Tende a gratificar desejos, e não a estabelecer verdades, e permanece estritamente individual e incomunicável como tal por meio da linguagem, uma vez que opera basicamente em imagens e, para ser comunicado, precisa recorrer a métodos indiretos, evocando por meio de símbolos e de mitos, os sentimentos que o guiam.

Contar histórias deveria ser um ato comum na vida das pessoas, não só de educadoras, mas também de mães e pais. Nas escolas o momento do conto é algo que faz parte da rotina das crianças desde o infantil esta atividade é tida como ponto de partida para o ensino da leitura e da escrita.

Sabemos que nos atos de leitura estão sempre presentes dois elementos observáveis: a pessoa que ler e o objeto que está sendo lido. A presença dos dois não basta, entretanto para assegurar que um ato de leitura esteja sendo efetivado. É necessário que a pessoa atue de determinada maneira sobre o objeto para que sinais externos de realização do ato sejam captados como identificadores do processo de leitura. Além de interpretar os índices da ação de ler, é também necessário que o objeto com o qual o leitor interage seja identificado como algo que pode ser lido ou algo que serve para ler. Adotaremos o termo ―portador de texto‖ para denominar este objeto que apresenta algo que possa ser lido ou ―qualquer objeto‖ que leve um texto impresso (FERREIRO; TEBEROSKY, p.156).

No caso dos contos lidos em sala de aula, eles devem ser ilustrados, as imagens dos personagens precisam estar presentes em cada cena para que seja possível a contextualização adequada para facilitar a compreensão das crianças acerca do inicio meio e fim da história.

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22 Gundlach (1982, p.37), afirma que vários pesquisadores observam que, na escrita infantil, desenhar é uma atividade de ensaio para o escrever. E citando Graves (1974), o autor diz que ―algumas crianças de 7 anos parecem utilizar o desenho como um treino para a escrita‖.

Gelb (1981), resaltando os proveitosos estudos da psicologia da criança, diz que esses concluem que o agir das crianças, com respeito à escrita, parecem com as práticas de sociedades primitivas, que no início utilizavam os desenhos rústicos de animais e objetos em paredes e rochas, como forma de comunicação.

A maneira como é trabalhado o conto influencia no como a criança percebe, sente os personagens, o contexto e principalmente os fatos que se desenrolam ao longo dessa contação, por isso o conto lido em sala de aula não deve ser contado simplesmente por contar, sem um propósito de atividades seguintes que leve a compreensão, devendo assim, também, passar por uma introdução que solicite das crianças atenção para a resolução de atividades que seguem a leitura assim sendo esta atividade não deve ser realizada pela professora com intuito de preenchimento de tempo, não deve se tratar de uma prática vazia, pois as crianças podem atribuir aos contos, associação de fatos narrados a fatos semelhantes que possivelmente tenham ocorrido em suas vidas.

Ao aprender a escrever, a criança aprende formas de linguagem, processos de escrita e usos de linguagem escrita (GUNDLACH, 1982, p.130). É de se supor, portanto, que quanto maior a vivencia com material escrito, tanto maior a facilidade de compreender os usos da linguagem escrita. Quanto mais a criança partilha de atos de leitura e de atos de escrita, mais fácil será para ela interpretar a aprendizagem da leitura e da escrita como ―uma extensão do potencial funcional da linguagem‖ (HALLIDAY, 1978, p. 57).

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pela criança são repletas de significados daí o motivo de poder trabalhar a leitura e a escrita através dos contos.

Segundo Contini (1988),

Uma criança exposta a um ambiente propício, ou seja, material escrito e pessoas que o manuseiem, incluindo a própria criança, já estaria apreendendo seus usos e funções como forma de comunicação antes mesmo dos dois anos de idade.

Os contos costumam despertar nas crianças a imaginação, o interesse em saber como se dá a sequencia dos fatos, o que poderá acontecer na cena seguinte, pois é um gênero textual cheio de suspense, surpresas, em que cada cena pode surpreender a criança ou levá-la a criar expectativas a respeito de como será o final dessa história. É justamente esse encantamento da criança pelo o conto que precisa ser aproveitado pela professora para trabalhar o ler e o escrever.

O conto, lido em sala de aula, pode auxiliar bastante no processo de aquisição da escrita, mas para isso é preciso que os contos venham a fazer parte das vivências das crianças, estar ao alcance de suas mãos para que possam manuseá-lo, observar as ilustrações contidas no livro, pois estas dizem muito sobre o que é narrado ao longo da história, além disso, saber ler não significa apenas decodificar letras, mas compreendê-las, mesmo que através de imagens, pois esta faz com que as crianças construam ideias dos fatos ali narrados.

O ato de ler, não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto (FREIRE, 2006, p.15).

Para falar das contribuições dadas pelos contos ao desenvolvimento das habilidades leitoras nas crianças, torna-se necessário mencionar algumas passagens escritas por Freire sobre o ato de ler.

Saber ler‖ não é simplesmente juntar as letras formando palavras, juntar palavras formando frases e nem juntar frases formando textos, saber ler não é simplesmente ler, ―saber ler‖ é ler e entender, é ler e depois poder expressar aquilo que leu com suas próprias palavras, saber ler é saber interpretar (FREIRE 2006 P.16)

(26)

24 criança ainda não possui esse saber, ainda assim ela é capaz de fazer o que Freire (2006), chamou de ―leitura de mundo‖, já que as crianças percebem muito através de imagens e costumam associá-las a sua realidade social.

De acordo com Charlot (2000, p.53),

A criança é um sujeito confrontado com a necessidade de aprender e com a presença, em seu mundo de conhecimento de diversos tipos. Pois possui desejos e é movido por eles, nasce e cresce numa família e está inserido em um espaço social, esse sujeito age no e sobre o mundo e por viver em um ambiente de pessoas portadoras do saber ele precisa aprender.

Vivemos em uma sociedade da leitura e da escrita, sendo que este aprendizado é de extrema importância em nosso cotidiano assim também se faz necessário para as crianças, pois logo que entram na escola, e até mesmo antes, fazem parte de uma família, percebem um mundo cheio de letras, em que é preciso ler, entender, saber para que seja possível a compreensão do mundo no qual estão inseridas. Daí, pode se perceber a criança como sujeito que sente a necessidade de aprender para situar-se em seu espaço social e que precisa de instrumentos que lhe possibilitem o saber, tais como os contos infantis.

Dado que a criança nasce inacabada, deve construir-se e só pode fazê-lo de ―dentro‖, a educação é produção de si próprio. Dado que a criança só pode construir apropriando-se de uma humanidade que lhe é ―exterior‖, essa produção exige a mediação do outro. A educação não é subjetivação de um ser que não seria sujeito; o sujeito está sempre aí. A educação não é socialização de um ser que não fosse já social: o mundo, e com ele a sociedade, já está sempre presente (CHARLOT, 2000, p. 54).

As atividades trabalhadas a partir do conto, com o intuito de desenvolver a leitura e a escrita infantil, são de extrema importância para a apropriação do mundo da escrita.

A criança mobiliza-se, em uma atividade quando investe nela, quando faz uso de si mesma como de recurso, quando se posta em movimento por móbeis que remetem a um desejo, um sentido, um valor. A atividade possui então, uma dinâmica interna. Não se deve esquecer, entretanto que essa dinâmica supõe uma troca com o mundo, onde a criança encontra metas desejáveis, meios de ação e outros recursos que não ela mesma (CHARLOT, 2000, p.55).

Quando a criança realiza um desenho que representa sua compreensão acerca do que percebeu no texto ela ―diz‖, através de desenhos, o que ela conseguiu ler e, desta forma, busca ser entendida pelos adultos.

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O ser humano é um indivíduo que se move pelo desejo de atuar no mudo em que vive e neste tornar-se um ser ativo, que faz parte de uma sociedade e atua sobre ela.

A relação com o saber é a relação de um sujeito com o mundo, com ele mesmo e com os outros. É relação com o mundo com o conjunto de significados, mas também, com espaços de atividades, e se inscreve no tempo. O mundo é dado ao homem somente a partir do que ele percebe, imagina, pensa desse mundo, através do que ele deseja, do que ele sente: o mundo se oferece a ele como um conjunto de significados partilhados com outros homens. O homem só tem um mundo porque tem acesso ao universo de significados, ―ao simbólico‖; e nesse universo simbólico é que se estabelecem as relações com o saber, forma de relação com o mundo, é uma relação com sistemas simbólicos, notadamente com a linguagem (CHARLOT, 2000, p.78).

Ferreiro e Teberosky (1979), afirmam que a criança já constrói hipóteses sobre a língua escrita ainda antes de aprender a ler. E em seus estudos sobre a representação gráfica perceberam que as crianças criam hipóteses a respeito da representação escrita da fala e o motivo deste desenvolvimento é a percepção de que a base da representação é de natureza alfabética.

Segundo Ferreiro (1979),

A criança é um sujeito consciente do mundo que a rodeia e constrói suas próprias teorias de pensamento, ao mesmo tempo em que organiza esse mundo. Desta forma, é o próprio sujeito que determina seu desenvolvimento através de comparações, exclusões, ordenações de categorias e formulação de hipóteses.

Contar histórias para crianças é uma prática bastante comum em diversas culturas, realizada provavelmente com a intenção de tornar a criança um ser social que interaja com as pessoas e com o mundo, pois este possui um universo de significados que a criança precisa aprender a decifrar.

Para Charlot (2001, P.77),

[...] o homem nasce inacabado, em um mundo humano que preexiste a ele e que já está estruturado; ele se transforma em sujeito humano por apropriação do humano já presente no mundo onde ele chega; a transformação em sujeito exige uma mediação de outros seres humanos (a mãe, os parentes, outros adultos, as instituições).

(28)

26 O conto ao ser lido para a criança pode possibilitar a criança, em suas relações interpessoais, aprender a viajar em sua própria imaginação, pensar sobre o que lhe é dito e o que pode ser construído, aprendido a partir disso.

(...) a relação com o saber é o conjunto das relações que um sujeito mantém com um objeto, um ‗conteúdo de pensamento‘ uma atividade, uma relação interpessoal, um lugar, uma pessoa, uma situação, uma ocasião, uma obrigação, etc., ligados de certa maneira com o aprender e o saber; e, por isso mesmo, é também relação com a linguagem, relação com o tempo, relação com a ação no mundo e sobre o mundo relação com os outros e relação consigo mesmo enquanto mais ou menos capaz de aprender tal coisa, em tal situação. (CHARLOT, 2001, P.81).

A leitura e a escrita são uma necessidade humana e a criança, como ser integrante da sociedade, precisa passar por esse processo de aquisição e os contos poderão ser utilizados como meio, pois através dele a criança pode desenvolver curiosidades, estabelecer um nexo entre o que lhe é contado e os fatos de sua vida real. É importante também que ela possa manusear esses contos, pois assim eles passaram a fazer parte de suas vivencia e possivelmente essa proximidade da criança com a leitura e a escrita facilitará a interpretação e compreensão do que lhe é contado.

Para Vygotsky (1991, p. 133),

Ensinar à escrita nos anos pré-escolares impõe necessariamente que a escrita seja relevante à vida (...) que as letras se tornem elementos da vida das crianças, da mesma maneira como, por exemplo, a fala. Da mesma forma que as crianças aprendem a falar, elas podem muito bem aprender a ler e a escrever.

(29)

professora e através da leitura a criança poderá descobrir o mundo que se constituiu em registros escritos.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam capazes de:

Compreender a cidadania como participando ao ação social e política,assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro exigindo para si o mesmo respeito;

Posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas;

Conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao país;

Conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais;

Perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente;

Desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania;

Conhecer o próprio corpo e dele cuidar, valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva;

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28 Saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos;

Questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação.

De acordo com os objetivos estabelecidos pelos parâmetros curriculares nacionais durante o ensino fundamental fica claro que a criança deve compreender a cidadania, e desenvolver o senso crítico. No momento do conto realizado na escola é aberta para a criança uma porta para mostrar essas características sociais e culturais, quando se canta uma música, quando se fala de casamento, valores morais tais como a distinção do bem e do mal, quando se fala de bruxa malvada e princesa boazinha, fala-se também do certo e do errado quando, no conto de chapeuzinho vermelho se dá um exemplo claro deste valores, pois o certo seria a menina ser obediente à mãe, mas chapeuzinho desobedeceu a mãe e por isso foi punida, aqui entra também a consciência de que se fazemos algo errado, logo somos punidos.

Por fim, esse capítulo teve como intuito reforçar a importância de se trabalhar o conto no cotidiano escolar como atividade auxiliar no processo de desenvolvimento da leitura e da escrita.

(31)

CAPÍTULO 3

METODOLOGIA

3. 1 O percurso da pesquisa

Para Gil (1991, p.30), ―o estudante inicia o processo e pesquisa pela a escolha de um tema, que por si só não constitui um problema. Ao formular perguntas sobre o tema, provoca-se a sua problematização‖. Desprovoca-se modo, no delineamento desse estudo, foram consideradas as etapas descritas pelo autor, uma vez que foi definido o tema e estabelecida a problematização a partir das experiências pessoais e profissionais da pesquisadora.

De acordo com a leitura realizada sobre os estudos de Bogdan e Biklen (1982 apud Ludke p.12), o presente trabalho possui uma abordagem qualitativa, pois segundo os dois autores:

A pesquisa qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada, vias de regra através do trabalho intensivo de campo. Os dados coletados são predominantemente descritivos. A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto. Os significados que as pessoas dão á sua vida são focos de atenção especial pelo o pesquisador. A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo.

Após a definição do tema, foram elaboradas as questões investigadoras e definido o percurso metodológico. Para dar sustentabilidade teórica à pesquisa, foi realizada uma revisão de literatura.

Segundo May (2004, p.44),

A ideia de teoria, ou a capacidade de explicar e entender as descobertas da pesquisa em um marco conceitual que faça sentido com os dados, é a marca de uma disciplina madura, cujo objetivo é o estudo sistemático de fenômenos particulares. No nosso caso, como pesquisadores sociais, esses fenômenos são a dinâmica, o conteúdo, o contexto e a estrutura das relações sociais.

(32)

30 Os focos de observação nas abordagens qualitativas de pesquisa são determinados basicamente pelos propósitos específicos do estudo, que por sua vez derivam de um quadro teórico geral, traçado pelo pesquisador. Para isso é particularmente útil que ele oriente seu a sua orientação em torno de alguns aspectos, de modo que ele nem termine com um amontoado de informações irrelevantes nem deixe de obter certos dados que vão possibilitar uma analise mais completa do problema.

Foi elaborado, também, um roteiro de entrevista para suscitar esclarecimentos da professora acerca de suas percepções a respeito do tema em questão.

De acordo com Ludke (1986, p.34),

A grande vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela permite a captação imediata e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados tópicos. A entrevista permite correções esclarecimentos e adaptações que a torna sobremaneiras eficaz na obtenção das informações desejadas.

3. 2 As observações

Foram realizadas 4 visitas à escola, todas no horário da manhã. Na primeira, foi objeto de investigação o espaço escolar, a estrutura da escola e o ambiente de uma forma geral. Nesse momento, houve a definição das turmas e dos sujeitos a serem investigados.

Na segunda visita, foi realizada a primeira observação da atividade de leitura e interpretação de um conto. Logo após essa atividade, a professora foi entrevistada.

Na terceira visita, houve a observação de mais um momento da contação de história. Foram devidamente registradas as atividades de compreensão textual realizada através da solicitação de desenhos e, também, atividades de leitura e escrita.

Na quarta visita, deu-se a observação de mais um momento de exploração do conto e das atividades que o sucederam.

Nos tópicos a seguir, serão descritos os ambientes em que se deu a pesquisa, a fim de contextualizar melhor os dados que serão discutidos em capítulo posterior.

3.2.1 A escola

(33)

A escola funciona durante os três turnos. No horário da manhã, que se inicia às sete horas e termina às onze horas, funcionam três turmas, sendo elas uma turma de educação infantil, uma turma de primeiro e segundo ano multisseriada e uma turma também multisseriada de terceiro e quarto ano. No turno da tarde, que se inicia às treze horas e termina às dezessete horas, funcionam apenas duas turmas, uma de quinto e uma de oitavo ano, ambas não são multisseriadas. E no turno da noite, que se inicia às dezoito horas e termina às vinte e uma horas, funcionam duas turmas de EJA que faz parte do PBA: Programa Brasil Alfabetizado.

O quadro de funcionários da escola é constituído por quatro professoras, uma coordenadora pedagógica e três auxiliares de serviços, não havendo diretor (a), nem porteiro.

Funcionam, na escola, sete salas de aula totalizando os três turnos. A escola não possui laboratório de química, ciências, nem mesmo de informática, possuindo apenas uma biblioteca de pequeno porte. Na escola, há apenas dois pequenos banheiros sendo um feminino e um masculino, que são utilizados por todo o público adulto e infantil, não havendo banheiros adaptados para a educação infantil.

A escola não possui quadra esportiva, nem refeitório. A escola possui, também, uma pequena cantina, onde são feitas as refeições das crianças e guardados os alimentos e o almoxarifado, onde são guardados os materiais de limpeza. Além de recursos financeiros da prefeitura, a escola recebe o PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola).

3.2.2 A sala de aula

A sala de aula em que ocorreu a observação dessa pesquisa é bastante ampla, possuí uma boa iluminação e ventilação. As cadeiras são organizadas em forma de círculo, possuindo um birô no centro. As cadeiras ficam organizadas próximas do birô da professora, facilitando assim a boa comunicação entre ela e as crianças.

(34)

32 Nas paredes da sala, há alguns cartazes colados que, segundo a professora, tratam-se de atividades que são trabalhadas durante as aulas no decorrer do ano, portanto fazem parte do cotidiano da escola. Os cartazes mostram textos ampliados (a vida de uma menina chamada ―Letícia‖ de autor desconhecido, nome da gente de Pedro Bandeira etc). Esses dois textos, segundo a professora, foram trabalhados em sala em um momento em que se explorou a origem dos nomes de cada criança da turma. Está presente na parede no lado esquerdo da sala, em uma altura adequada para a visualização infantil, o nome completo de todos os alunos escrito em letras cursivas em ordem alfabética e depois apenas o primeiro nome de cada criança separado em sílabas. Exemplo: A-dri-el. E o texto; linda rosa juvenil, que expõe a repetição de palavras.

Está exposto na parede também o mapa do Brasil, sinais de trânsito, cartazes informativos sobre a olimpíada de matemática e as regras de convivência que traz uma demonstração do que é necessário para um ambiente agradável no qual as pessoas se entendem e conseguem conviver harmonicamente.

3.3 Os sujeitos

Os sujeitos desta pesquisa constituíram-se da professora de uma turma multisseriada de primeiro e segundo ano e seus onze alunos, sendo cinco do primeiro ano e seis do segundo ano.

(35)

CAPÍTULO 4

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.1 A contação das histórias

Ao entrar na sala de aula para realizar a primeira observação, percebeu-se um ambiente arrumado especialmente para o momento da contação de histórias. No chão estavam panos de TNT roxo, verde, e vermelho, a mesa estava coberta com TNT amarelo e preto e, em cima dela havia duas caixas de papelão cobertos com um tecido branco enfeitado de flores de várias cores, dando assim um toque especial de magia para aquele momento de alegria. A TV e o DVD estavam em outra pequena mesa ao lado. Tais equipamentos estavam preparados para auxiliar o momento da história.

Para Kato (1995, p. 14), crianças que têm o privilégio de ter contato com a língua escrita antes de irem para a escola, através da leitura que lhes é feita pelo o adulto, já têm consciência pelo menos dos aspectos discursivos que diferenciam a fala e a escrita.

Dando início à atividade, a professora pediu que as crianças saíssem das suas carteiras para sentar-se em círculo sobre os panos de TNT e ouvir a contação de história. Depois que todas as crianças sentaram-se a professora, já com o livro na mão, mostrou a primeira ilustração na capa que exibia um boneco e uma boneca. Desse modo, lançando mão da predição, perguntou para as crianças sobre o que achavam que falava aquela história. Nesse momento, houve ativa participação dos alunos que mencionaram os seguintes assuntos:

boneco boneca macaco

macaco e a velha bombom

(36)

34 afirmando que sim. Daí, a professora foi retirando o papel e dizendo que as crianças é que iam ler sozinhas. Quando visualizaram o título, iniciou-se uma leitura coletiva, três meninas do segundo ano liam as palavras uma por uma e as outras crianças apenas reproduziam a palavra lida, participando também da leitura. Então, a professora leu o título completo: Boneco Neco e Maria Flor, e prosseguiu com a seguinte frase que se encontrava exposta ainda na capa do livro: Uma história de bonecos e bonequices. E seguiu falando que o autor se chamava Francisco Gilson e o ilustrador Eduardo Azevedo.

O aluno A, que havia dito que a história falava de bombom, interrompeu a história perguntando: ―E o bombom?‖. A professora prosseguiu perguntando pelo o título da história:

―Vocês acham que fala de bombom?‖. As outras crianças responderam que não e uma menina

falou que falava de um boneco que era amigo da menina. Ela iniciou a história com a seguinte frase: ―Senhoras e senhores a história vai começar! É hora de pendurar empanados e exibir bonecos‖.

Ela prosseguiu dizendo que se trava de uma história costurada com muito amor e carinho. Nesse momento, uma menina interrompeu dizendo: ―O boneco se apaixonou pela boneca!‖. Para Kato, (1995, p.37), ―[...] tanto no caso da palavra isolada como no caso da contextualizada, a leitura tem muitas vezes as características de uma antecipação seguida de confirmação‖. A professora continuou e, enquanto lia a descrição do boneco e da boneca, a coordenadora da escola retirava, lentamente, da caixa, os bonecos exibindo-os para as crianças. Daí, então, outra menina exclamou: ―É! Se apaixonaram!‖. A professora, então, perguntou aos demais: ―Será que foi isso mesmo?‖. E algumas crianças confirmaram: ―Foi!‖. E prosseguiu lendo a história que descrevia que flor adorava ouvir as histórias contadas por sua avó que falava de reis, rainhas, príncipes, princesas e bruxas malvadas. E em uma tarde, ela foi à casa da avó levar suas deliciosas rosquinhas com a mãe Dona Florinda, no caminho encontrou Neco, sentado em um banco de jardim. Neco e Maria Flor ficaram se olhando um bom tempo até que ela decidiu se apresentar. Nesse momento, a professora continuou narrando, enquanto a coordenadora entrou em cena dando vida aos personagens. Os dois se apresentam e ela tentou consolá-lo de sua tristeza por sentir-se só e feio, pois era todo feito de sucata, com retalhos de tecidos e botões velhos. E a boneca diz que ele era bonito, assim mesmo, à maneira dele. Logo, o boneco descobriu que existiam vários tipos de beleza e passou a sentir-se melhor. A partir de então, os dois passaram a se encontrar todos os dias naquele mesmo lugar e se apaixonaram.

(37)

felicidade de Neco por ter encontrado uma companheira para todas as horas e, no dia dos namorados, ele pediu Flor em casamento. Para oficializar o casamento, organizaram uma festa com muito forró, bebidas e comidas típicas. Nesse momento, houve o toque da marcha nupcial. E para finalizar, a professora encerrou a história com a seguinte frase: ―Assim me contaram essa história de amor, que termina com o final feliz, quem quiser que conte outra, pois esta já acabou‖. Então, a coordenadora começou a cantar o refrão da música e as crianças a seguiam cantando: ―E ele, Neco de apaixonar, Neco de se apaixonar, Neco de se apaixonar e ele, Neco‖. Nesse momento foi tocada a música novamente e solicitado que as crianças dançassem, ficassem à vontade para participar da festa de casamento dos dois bonecos. E a professora e algumas crianças dançaram.

O procedimento de contação dessa história envolveu a narração oral da história. Segundo Kato (2005, p.28), ―[...] a fala é regida por imposições de ordem comunicacional e funcional, enquanto a escrita sofre, além disso, a imposição de ordem normativa e convencional‖.

Em seguida, a professora sentou-se com as crianças para realizar a atividade que daria continuidade à leitura. Depois de explicar como seria a atividade, utilizando uma garrafa pet de dois litros, ela iniciou girando a garrafa. A direção em que a boca da garrafa apontasse, depois de parada, indicaria a criança que iria pegar uma pergunta no saco vermelho, tentaria ler e caso não conseguisse, as outras crianças tentariam ler e se não conseguissem, a professora receberia o papel e leria esperando que a criança apontada respondesse. Se mesmo assim, ela não soubesse a resposta, seria dada pelo grupo, ou seja, pelas demais crianças da sala.

Segundo o filósofo americano Grice (1975, Apud. Koch p. 41-48), O principio básico que rege a comunicação humana é o princípio da cooperação (seja ―cooperativo‖). Isto é, quando duas ou mais pessoa se propõem a interagir verbalmente, elas normalmente irão cooperar para que a interlocução transcorra de maneira adequada

Seguiu-se, então, a atividade de interpretação da leitura, e as perguntas feitas pela professora foram:

Como terminava a história? E a resposta foi construída coletivamente pelas meninas M, S e T: ―Terminou no casamento, com muita festa e alegria‖.

(38)

36 O que o Neco gostava de comer? Depois da pergunta lida pela professora, o aluno A, que havia falado antes da leitura seu palpite de que a história seria sobre bombom, embora não tivesse ouvindo falar de bombom a contação inteira insistiu no bombom. Nesse momento, a professora falou que não era de bombom que Neco gostava e insistiu na pergunta. Então, as crianças disseram: ―Feijoada e arroz‖. ―Mas, a professora insistiu: E pan...‖. Daí, as crianças exclamaram em coro: ―Panelada!‖.

A pergunta: ―Qual o título da história?‖ foi lida pela aluna S, do segundo ano. Logo que recebeu a pergunta, leu com fluência. Duas outras alunas responderam: ―Boneco Neco e Maria Flor‖. Logo, a professora convidou todos as repetirem com ela: ―O título da história é Boneco Neco e Maria Flor‖.

A pergunta: ―Como se chama a boneca?‖ foi lida pela aluna V, do segundo ano, que ao concluir a pergunta respondeu: ―Maria Flor‖.

A pergunta: ―O que a Maria Flor gostava de fazer?‖ foi lida pela professora e a aluna M e o aluno T responderam: ―Maria Flor gostava de desenhar, de ler e escrever‖. Então, a professora pegou o livro e confirmou a resposta: ―Ela gostava de desenhar e pintar, mas o que ela gostava mais era de ler e escrever‖.

A pergunta ―Qual o lugar onde todos os dias Neco e Maria Flor se encontravam?‖ foi lida pela aluna M, a qual respondeu que era no pátio. A aluna T disse que era no banco lá fora e a professora falou que era no bando do jar... Daí, elas lembraram e disseram: ―No banco do jardim de uma praça‖.

A pergunta: ―Com quem Neco morava?‖ foi respondida pelas alunas S e P, que responderam cantando: ―Com ninguém, com ninguém, com ninguém‖. E a professora explicou: ―Neco morava sozinho, então não morava com ninguém‖. De acordo com Kato (1995, p.40), ―a capacidade de reconhecimento instantâneo de palavras não explica, pois a leitura fluente com compreensão‖. Como se pôde observar na atividade descrita anteriormente, as crianças que não sabiam ler responderam as perguntas demonstrando, claramente, sua compreensão, quando a professora ou os colegas leram.

Esse momento de interpretação foi muito rico, pois solicitavam das crianças dois requisitos básicos que antecedem a escrita: a oralidade e a leitura, pois mesmo sendo uma leitura de imagens, sabe-se que é muito importante para desenvolver as habilidades infantis desde o que se aprende na escola, na família e na sociedade.

(39)

o processamento do texto por parte dos ouvintes, em termos de compreensão ou interpretação depende da atividade de ouvir, pois o ouvinte não é meramente um receptor passivo, pois ele pode atuar sobre o material linguístico de que dispõe, além disso, deve está atento, a entonação, os gestos, as expressões fisionômicas e aos movimentos corporais na linguagem falada e desta maneira construir um sentido criar uma leitura a cerca do que lhe foi dito.

É interessante observar que ainda antes da leitura ser realizada, as crianças já buscavam construir uma ideia do que lhes seria narrado, quando diziam que a história falaria de boneco, boneca, macaco, velha e até mesmo de bombom. Quanto ao fato de um aluno do primeiro ano dizer que a história falaria de bombom e continuar insistindo depois de ter sido lida a história e não ter sido citado nada a esse respeito, foi bastante interessante, pois leva a crer que isso se trata de uma aproximação feita pela criança entre o que fala a história e o que ele gostaria que falasse. Vê-se isso como uma forma de ele tentar reescrever, na história, o que gostaria que estivesse nela.

De acordo com Freire (2006), o entendimento da criança ainda não letrada acerca do mundo enxergado por ela, pode ser chamado de uma leitura de mundo, esta precede a leitura alfabética, no entanto é de extrema importância para as crianças, pois ler o mundo significa entender que desde pequena a criança já é um ser social que precisa conhecer o mundo e atuar sobre ele.

Quando a professora leu para o aluno T sobre quem era a mãe de Maria Flor, a criança que não soube ler a pergunta logo respondeu: ―É Dona Florinda‖, isso demonstra que embora a criança não saiba decodificar a escrita alfabética, ela foi capaz de compreender a história, interpretar a pergunta e como prova de que estava atento ao momento da leitura, respondeu prontamente a pergunta.

Ao ser perguntado sobre o título da história, as alunas M e S responderam que era: ―Boneco, Neco, Neco e Maria Flor‖ e a professora logo disse que era:―Boneco Neco e Maria Flor‖. A professora efetuou a correção do título sem falar que estava equivocado (Boneco Neco Neco), mas apenas repetindo o título corretamente, enfatizando em apenas um ―Neco‖.

(40)

38 É interessante, também, perceber que na história há um incentivo à leitura quando fala que a personagem Maria Flor gostava de desenhar e pintar, mas gostava ainda mais era de ler e escrever.

Ao falar do lugar onde os dois bonecos se encontravam, a aluna M falou que era ―no banco lá fora‖, demonstrado que sabia que era em um espaço livre e que nesse momento aproximava a história de si mesma, pois esse ―lá fora‖ é como se dissesse: ―logo ali, no pátio da escola‖.

Quando a professora perguntou com quem Neco morava, as alunas S e P cantarolaram ―com ninguém, com ninguém, com ninguém‖, a professora as parabenizou, pois a resposta era

―sozinho‖ e ao dizer com ninguém elas estavam dizendo a mesma coisa, mas usando outras

palavras de acordo com seus vocabulários e compreensão infantil.

Sempre que se concluíam as respostas, a professora solicitava uma salva de palmas para quem respondia, incentivando, assim, a participação e motivando os alunos.

Durante a atividade de interpretação, a reação das crianças foi bastante variada. Observou-se um aluno que não participou em nenhum momento da atividade. Permanecia sempre retraído e quase não sentava junto das outras crianças, mostrando total desinteresse pela aula. As outras crianças, todas participaram ativamente da aula e permaneceram atentas às perguntas e respostas, pois respondiam de forma imediata. As respostas elaboradas e dadas por elas indicaram uma compreensão do texto e de como ele ocorre, pois as perguntas foram feitas desordenadamente, ou seja, não obedeciam à sequência lógica do tempo da história. As crianças conseguiram organizar as cenas ocorridas na história não demonstrando dúvidas ao responder. Essa não organização cronológica das perguntas poderia ter feito as crianças ficarem confusas para responder, mas isso não ocorreu em nenhum momento, pelo contrário, a maioria delas sempre responderam claramente o que se pediu.

A narrativa do conto O boneco Neco e Maria Flor, foi realizada pela professora utilizando a forma oral e a escrita, pois para narrar, tanto a fala como o texto são fundamentais para que o narrador conte a história com todo detalhamento que se faz necessários. De acordo com Ehrlich ―[...] há necessidade de se preservar a transmissão do oral, mas também é preciso que aqueles que ingressaram no mundo dos letrados façam uso funcional da escrita para ter acesso independente às informações‖ apud Kato (2005, p, 34)

Imagem

Figura 1 - Desenho do aluno E
Figura 3 - O desenho do aluno J.
Figura 5 - O desenho da aluna T.
Figura 6 - O desenho da aluna I.
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