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Cem anos de vitória

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Academic year: 2018

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CEM ANOS DE VITóRIA

Paulo Amorim Cardoso

Caminhava, certa vez, ao longo de uma estrada de ferro, acompanhado de um desconhecido, senhor idoso e forte, que aparentava muita inteligência.

Ao olhar um trem que passava, com uma só máquina puxando muitos vagões, disse-lhe em tom de prosa:

- Quando eu vejo um trem, transporto-me ao passado e lembro-me de que ele já prestava muitos serviços

à

humani-dade, mas havia, então, "homens cultos" que não admitiam a possibilidade de um trem com rodas de ferro rolar sobre tri-lhos de ferro, porque, conforme estavam convictos em suas ingênuas concepções, as rodas do trem deveriam deslizar. o o

O senhor idoso, de imediato, exclamou:

- O povo antigo era muito imbecil, não é verdade?! Concordei com a idéia dele, mas considerei que, ainda hoje, havia muita gente assim. E, para ilustrar o argumento, dis-se-lhe:

- Ainda hoje, há muita gente que não acredita que o ho-rr.em tenha ido

à

lua.

Fui interrompido bruscamente e, de modo incrédulo, in-terrogou-me:

- E ele foi mesmo? o • •

Certamente, ao lembrar-se de que chamara os antigos de imbecis, acrescentou:

-

I:

o o o pode ser que alguém tenha ido até à lua o o o

O episódio revela o quanto os seres humanos são inse-guros por causa de seus preconceitos, falsas sapiências e

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gênuas credulidades. Quase sempre, contrariam tudo o que lhes desagradam ou desaprovam o que não lhes favoreçam os pró-prios interesses.

Ao fim de uma vida de muitos desencontros e desacertos, bem poucos acabam abrindo as portas da percepção, para que a luz da realidade penetre os labirintos da inteligência, onde só havia sombras e obscuridades ...

Coisas semelhantes acontecem em relação com o Espe-ranto.

Há poucos dias fui procurado por um curioso professor de inglês, que desejava arranjar um determinado endereço si-tuado em país estrangeiro, onde, por meio da língua interna-cional, o Esperanto, deveria conseguir algo de seu interesse. Como não me tivesse encontrado, no momento, começou a con-versar com uma jovem que estava fazendo sua matrícula para o Curso de Esperanto.

O professor de inglês, que era versado nessa língua e do-minava seus segredos, exaltava a utilidade prática da língua de

Shakespeare. Mas, lamentavelmente, contrapunha-se, ・ュー・セ@ dernido, à idéia da língua internacional Esperanto.

A jovem, então, contestou-lhe:

- Ora, Professor, se como diz o Sr., o inglês é útil e prá-tico, e dominando o Sr. tão bem essa língua, por que vem atrás do Esperanto, para conseguir o que quer?

Parece que o argumento da jovem pesou-lhe sobre os ombros, pois mudou de assunto, passando, talvez, a consi-derar a asneira que havia cometido.

O ser humano é assim.

No ano de 1987, vamos comemorar o centenário do Espe-ranto, a língua do genial Zamenhof, falada e escrita nos quatro cantos do mundo, por cerca de 1 O milhões de esperantistas. laioma que foi reconhecido pelas Nações Unidas como veículo de difusão de cultura internacional. Idioma cuja literatura já orça em mais de 50.000 títulos. Idioma ensinado em centenas de universidades do mundo inteiro, cabendo à China a pri-mazia de contar com 31 universidades que o ensinam e cultuam.

Apesar dessas conquistas tão expressivas e significativas, não parecem ser suficientes para a inteligência de certas pes-soas que ainda são recalcitrantes em afirmar-se contra a idéia "maluca" de querer fazer do Esperanto a língua internacional, a língua do futuro.

182 Rev. de Letras. Fortaleza, 11 (2) : jul./dez. 1986

Não senhores, nós os esperantistas, nós que nos dedica-mos a esse trabalho honesto e útil para o bem da humanidade, r.ós não queremos fazer do Esperant o a língua do futuro, por-que o Esperanto já é efetivamente, em sua pujança e em sua vivência, a língua do presente. Através do Esperanto, estamos criando uma cultura internacional, estamos, sobretudo, man-tendo intacta a cultura de cada povo.

Não importa o que pensam e acham os outros, - o que importa é que o Esperanto venceu o mundo para o próprio bem da humanidade.

São cem anos de vitória.

Mas, perguntar-me-á o leitor, por que não escolheram outro Idioma já usado há séculos, um idioma que já tem uma grande cultura, como inglês, o espanhol ou o francês?

A primeira idéia do criador do Esperanto foi essa. Ele pensou em escolher um dos idiomas já existentes. Como na cidade onde ele nasceu e morava, falavam quatro idiomas e usavam três diferentes alfabetos, muito cedo ele compreendeu que nenhum povo quer aceitar o idioma de outro, com superio-ridade ao próprio; por isso seria difícil convencer a aceitação de qualquer dos idiomas existentes.

O idioma internacional deveria não ser patrimônio de ne-nhum povo e por isso ele lembrou que o latim poderia desem-penhar o honroso papel de idioma internacional, já que os ro-manos não mais existiam.

Assim pensando, Zamenhof dedicou-se ao estudo do latim . Verificando a impossibilidade de esse idioma ser o internacio-ョセャN@ devido as suas múltiplas dificuldades, concluiu: Só um idioma neutro, fonético, facílimo, sem exceções gramaticais e sem verbos irregulares, poderá ser o internacional.

Esse idioma não existia, alguém deveria criá-lo e ele tomou sobre si a nobre incumbência de dar à humanidade a maior e mais útil invenção para o desenvolvimento humano.

Hoje, o Esperanto é o mais rico dos idiomas do mundo, nele encontramos as obras-primas da humanidade: todos os povos procuram traduzir para esse idioma o que têm de me-lhor na sua literatura, tornando o Esperanto um filtro que não deixa passar as impurezas, mas só os livros úteis são traduzi-dos para o Esperanto.

Com mais de 50.000 obras selecionadas, quem pudesse ler um livro por dia teria que viver mais de 136 anos para ler o que existe nesse idioma.

Aprender o Esperanto é uma necessidade da época, em que tudo é mais rápido e mais fácil.

"Na era da comunicação, o Esperanto é a solução."

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gênuas credulidades. Quase sempre, contrariam tudo o que lhes desagradam ou desaprovam o que não lhes favoreçam os pró-prios interesses.

Ao fim de uma vida de muitos desencontros e desacertos, bem poucos acabam abrindo as portas da percepção, para que a luz da realidade penetre os labirintos da inteligência, onde só havia sombras e obscuridades ...

Coisas semelhantes acontecem em relação com o Espe-ranto.

Há poucos dias fui procurado por um curioso professor c!e inglês, que desejava arranjar um determinado endereço si-tuado em país estrangeiro, onde, por meio da língua interna-cional, o Esperanto, deveria conseguir algo de seu interesse. Como não me tivesse encontrado, no momento, começou a con-versar com uma jovem que estava fazendo sua matrícula para o Curso de Esperanto.

O professor de inglês, que era versado nessa língua e do-minava seus segredos, exaltava a utilidade prática da língua de

Shakespeare. Mas, lamentavelmente, contrapunha-se, ・ュー・セ@ dernido,

à

idéia da língua internacional Esperanto.

A jovem, então, contestou-lhe:

- Ora, Professor, se como diz o Sr., o inglês é útil e prá-tico, e dominando o Sr. tão bem essa língua, por que vem atrás do Esperanto, para conseguir o que quer?

Parece que o argumento da jovem pesou-lhe sobre os ombros, pois mudou de assunto, passando, talvez, a consi-derar a asneira que havia cometido.

O ser humano é assim.

No ano de 1987, vamos comemorar o centenário do Espe-ranto, a língua do genial Zamenhof, falada e escrita nos quatro cantos do mundo, por cerca de 10 milhões de esperantistas. laioma que foi reconhecido pelas Nações Unidas como veículo de difusão de cultura internacional. Idioma cuja literatura já orça em mais de 50.000 títulos. Idioma ensinado em centenas de universidades do mundo inteiro, cabendo

à

China a pri-mazia de contar com 31 universidades que o ensinam e cultuam.

Apesar dessas conquistas tão expressivas e significativas, não parecem ser suficientes para a inteligência de certas pes-soas que ainda são recalcitrantes em afirmar-se contra a idéia "maluca" de querer fazer do Esperanto a língua internacional. a língua do futuro.

182 Rev. de Letras. Fortaleza, 11 (2) : jul./dez. 1986

Não senhores, nós os esperantistas, nós que nos dedica-mos a esse trabalho honesto e útil para o bem da humanidade, r.ós não queremos fazer do Esperant o a língua do futuro, por-que o Esperanto já é efetivamente, em sua pujança e em sua vivência, a língua do presente. Através do Esperanto, estamos criando uma cultura internacional, estamos, sobretudo, man-tendo intacta a cultura de cada povo.

Não importa o que pensam e acham os outros, - o que importa é que o Esperanto venceu o mundo para o próprio bem da humanidade.

São cem anos de vitória.

Mas, perguntar-me-á o leitor, por que não escolheram outro idioma já usado há séculos, um idioma que já tem uma grande cultura, como inglês, o espanhol ou o francês?

A primeira idéia do criador do Esperanto foi essa. Ele pensou em escolher um dos idiomas já existentes. Como na cidade onde ele nasceu e morava, falavam quatro idiomas e usavam três diferentes alfabetos, muito cedo ele compreendeu que nenhum povo quer aceitar o idioma de outro, com superio-ridade ao próprio; por isso seria difícil convencer a aceitação do qualquer dos idiomas existentes.

O idioma internacional deveria não ser patrimônio de ne· nhum povo e por isso ele lembrou que o latim poderia desem-penhar o honroso papel de idioma internacional, já que os ro-manos não mais existiam.

Assim pensando, Zamenhof dedicou-se ao estudo do latim. Verificando a impossibilidade de esse idioma ser o internacio-ni:<l, devido as suas múltiplas dificuldades, concluiu: Só um idioma neutro, fonético, facílimo, sem exceções gramaticais e sem verbos irregulares, poderá ser o internacional.

Esse idioma não existia, alguém deveria criá-lo e ele tomou sobre si a nobre incumbência de dar à humanidade a maior e mais útil invenção para o desenvolvimento humano.

Hoje, o Esperanto é o mais rico dos idiomas do mundo, nele encontramos as obras-primas da humanidade: todos os povos procuram traduzir para esse idioma o que têm de me-lhor na sua literatura, tornando o Esperanto um filtro que não deixa passar as impurezas, mas só os livros úteis são traduzi-dos para o Esperanto.

Com mais de 50.000 obras selecionadas, quem pudesse ler um livro por dia teria que viver mais de 136 anos para ler o que existe nesse idioma.

Aprender o Esperanto é uma necessidade da época, em que tudo é mais rápido e mais fácil.

"Na era da comunicação, o Esperanto é a solução."

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