Pragas emergentes no estado
do Espírito Santo
Dirceu Pratissoli Organizador
Pragas emergentes no estado do Espírito Santo
1ª edição
Alegre, ES UNICOPY
2015
Copyright©: Dirceu Pratissoli e-mail: dirceu.pratissoli@ufes.br Capa: José Romário de Carvalho
Editoração e Arte: José Romário de Carvalho Revisão de Linguística: Georgea Garcia Queiroz Impressão e Acabamento: UNICOPY
OBS:
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1ª edição: 2015
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Setorial de Ciências Agrárias, Universidade Federal do
Espírito Santo, ES, Brasil) P912d Pratissoli, Dirceu, 1957 -
Pragas emergentes no estado do Espírito Santo / Dirceu Pratissoli, organizador. – Alegre, ES: UNICOPY, 2015.
140 p.: il.; 14x21cm.
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-69340-00-3
1. Pragas agrícolas - Artrópodes. 2. Pragas agrícolas – Aspectos biológicos. 3. Pragas agrícolas - Hábitos e Ocorrência. 4. Pragas agrícolas – Culturas. 5. Pragas agrícolas - Danos. I. TÍTULO. II. Pratissoli, Dirceu. III.
Universidade Federal do Espírito Santo.
CDU: 632
Lista de Autores
David dos Santos Martins Pesquisador – INCAPER – Sede
Débora Ferreira Melo Fragoso
Assessora Técnica – NUDEMAFI / Centro de Ciências Agrárias-Universidade Federal do Espírito Santo (CCA- UFES)
Dirceu Pratissoli
Professor / Pesquisador – NUDEMAFI / CCA-UFES
Eli Carlos Betzel
Técnico Agrícola – Gerente da Consultoria Técnica – Cooperativa Agropecuária Centro Serrana “COOPEAVI”
Hugo Bolsoni Zago
Professor / Pesquisador – NUDEMAFI / CCA-UFES
Hugo José Gonçalves dos Santos Junior
Professor / Pesquisador – NUDEMAFI / CCA-UFES
João Paulo Pereira Paes
Doutorando em Proteção de plantas, Faculdade de Ciências Agrária, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho, Campus Botucatu – UNESP
José Roberto Gonçalves
Gerente de Consultoria Técnica – Cooperativa Agropecuária Centro Serrana “COOPEAVI”
José Romário de Carvalho
Doutorando em Produção Vegetal – PPGPV / CCA-UFES
José Salazar Zanúncio Junior
Pesquisador – INCAPER – Centro Regional de Desenvolvimento Rural Centro Serrano
Leandro Pin Dalvi
Professor / Pesquisador – Depto de Produção Vegetal / CCA- UFES
Luziani Rezende Bestete
Bolsista PNPD-CAPES – Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
Maurício José Fornazier
Pesquisador – INCAPER – Centro Regional de Desenvolvimento Rural Centro Serrano
Ulysses Rodrigues Vianna
Professor / Pesquisador – Depto. de Produção Vegetal / CCA-UFES
Victor Dias Pirovani
Doutorando – PPGPV / CCA-UFES
Vitor Zuim
Doutorado em Entomologia na Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Apresentação
Esta obra é fruto dos conhecimentos sobre manejo fitossanitário de pragas no estado do Espírito Santo, sendo aprimorada ao longo dos últimos anos, pelos trabalhos do grupo NUDEMAFI - Núcleo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Manejo Fitossanitário de Pragas e Doenças, coordenado pelo Prof. Dr. Dirceu Pratissoli, que tem trabalho da vanguarda da transferência destas tecnologias, auxiliando o processo e desenvolvimento agrícola.
Assim, é necessário destacar que o livro “Pragas Emergentes no Espírito Santo” foi elaborado por um dos pesquisadores com maior conhecimento sobre o assunto que o Brasil possui. O Prof. Dr. Dirceu Pratissoli graduou-se em Agronomia na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) em 1981, posteriormente realizou o Mestrado (1985) na Universidade Federal de Lavras, UFLA e o Doutorado (1995) na Universidade de São Paulo, USP.
Desenvolve atividades relacionadas ao controle de pragas na UFES desde 1983 e nesta instituição, destaca-se pela realização de estudos que visam o desenvolvimento de táticas de manejo fitossanitário de pragas, principalmente por meio do uso de estratégias relacionadas ao controle biológico. Dentre as contribuições, a que lhe trouxe maior reconhecimento foi o desenvolvimento do programa para o uso de parasitoides de ovos para o controle de pragas agrícolas, que tem resultado em enormes benefícios sociais, ambientais e econômicos para o país.
A sua experiência profissional, sua liderança, sua mente aguçada e rápida, sempre com foco na aplicabilidade e no futuro, são fatores marcantes que espelham sua personalidade profissional. A essa personalidade pode-se conferir o que agregou de valor para os produtores do estado do Espírito Santo, ao qual se orgulha de ter ajudado a instalar os planos de manejo de pragas e de ter ajudado o crescimento profissional de dezenas de técnicos e engenheiros a implantar tecnologia as lavouras, de forma a agregar valor à atividade agrícola.
Assim, destaca-se que a elaboração de um livro que alerta para os problemas recentes no controle de pragas no estado do Espírito Santo tem âmbito de demonstrar, sobretudo a experiência profissional deste renomado pesquisador, que se de dedica e confere a real importância que o agronegócio tem para a economia brasileira e que cada dia mais desempenha um papel de destaque no desenvolvimento do País.
Profa. Dra. Regiane Cristina Oliveira de Freitas Bueno Faculdade de Ciências Agronômicas/ Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquista Filho” – FCA/UNESP, Campus Botucatu
Prefácio
Insetos vivem na Terra há aproximadamente 350 milhões de anos, sendo possível desenvolver um retrato histórico sobre a origem de insetos e plantas nas sucessivas eras geológicas através de estudos fósseis.
A evolução das plantas transformou o ambiente terrestre em um recurso muito valioso para a comunidade de herbívoros. Em ecossistemas naturais, plantas e insetos são apenas alguns dos organismos vivos que estão continuamente interagindo de uma forma complexa. Estes dois organismos estão intimamente associados já que os insetos têm várias atividades benéficas, incluindo a defesa e polinização, enquanto as plantas fornecem locais de abrigo, de oviposição e alimentação, os três principais fatores requeridos para a proliferação dos insetos.
Durante todo o processo evolutivo, os insetos evoluíram adaptando-se a quase todos os tipos de habitat, desenvolvendo características diversificadas e específicas, que interferiram na sua biologia, comportamento, fisiologia, ecologia etc. O crescimento, desenvolvimento e reprodução dos insetos passou a depender diretamente da quantidade e qualidade do alimento utilizado.
Problemas relacionados a utilização de plantas como fonte de alimento, estão relacionados a localização da planta hospedeira, exposição às variações de fatores climáticos como temperatura, ventos e chuvas.
Com a implantação de monoculturas, o homem diminuiu a competição entre os insetos, devido à
abundância de alimento e a instabilidade do número de populações e de espécies de insetos devido à baixa diversidade de espécies de plantas. Este fato propiciou que insetos procedessem a uma herbívoria continua e intensa, o que tem causado injúrias extremamente prejudiciais às plantas e com isso esses insetos são colocados em uma categoria denominada de PRAGAS.
Este livro tem por objetivo mostrar que a interação inseto-planta é um processo evolutivo, dinâmico e continuo, onde diferentes herbívoros estão causando injúrias em plantas cultivadas no estado do Espírito Santo. Em alguns dos casos aqui relatados, os ataques foram em forma de surtos, localizados em algumas regiões, porém em outros os ataques tornaram-se frequentes causando sérios prejuízos para os agricultores.
Aqui foram relacionados 19 herbívoros, sendo um ácaro, duas cigarrinhas, um percevejo, um tripés, uma esperança, uma cochonilha, quatro coleópteros e oito lepidópteros. Para cada um desses relatos foi descrito o nome científico, a ordem e família, o nome vulgar, a identificação e aspectos biológicos, os hábitos e ocorrência, além das referências consultadas.
O Organizador
Sumário
Capítulo 1 ÁCARO-DA-LICHIA ... 14 José Salazar Zanuncio Junior, Maurício José Fornazier Capítulo 2 BICHO-FURÃO ... 20
Ulysses Rodrigues Vianna
Capítulo 3 BROCA-DAS-PONTAS-DO-CITROS .... 28 Victor Dias Pirovani, Hugo Bolsoni Zago
Capítulo 4 BROCA-DO-CHUCHU ... 34 Leandro Pin Dalvi, Eli Carlos Betzel
Capítulo 5 GORGULHO-DA-RAQUIS-DO-
COQUEIRO ... 40 Dirceu Pratissoli, José Romário de Carvalho
Capítulo 6 BROCÃO ... 46 Dirceu Pratissoli, José Roberto Gonçalves
Capítulo 7 CIGARRINHAS DAS ANONÁCEAS ... 54 José Romário de Carvalho, Hugo Bolsoni Zago
Capítulo 8 COCHONILHA-ROSADA ... 60 José Romário de Carvalho, Hugo Bolsoni Zago
Capítulo 9 ESPERANÇA-DA-BANANA... 68 José Salazar Zanuncio Junior, David dos Santos Martins Capítulo 10 GORGULHO DO TOMATEIRO ... 72
Dirceu Pratissoli, Luziani Rezende Bestete
Capítulo 11 LAGARTA DA ACEROLA ... 78 Leandro Pin Dalvi
Capítulo 12 LAGARTA DAS ANONÁCEAS ... 82 Dirceu Pratissoli, José Romário de Carvalho
Capítulo 13 LAGARTA DO MORANGUEIRO ... 88 João Paulo Pereira Paes, Victor Dias Pirovani, Dirceu Pratissoli
Capítulo 14 LAGARTA DAS PARTES
REPRODUTIVAS ... 96 Vitor Zuim, Dirceu Pratissoli
Capítulo 15 LAGARTAS EXÓTICAS DO
MARACUJAZEIRO... 106 Dirceu Pratissol, José Romário de Carvalho
Capítulo 16 MOSCA-NEGRA-DOS-CITROS ... 112 Dirceu Pratissoli, Ulysses Rodrigues Vianna
Capítulo 17 PERCEVEJO DO MELÃO-DE-SÃO-
CAETANO ... 120 Débora Ferreira Melo Fragoso, Hugo José G. dos Santos Junior
Capítulo 18 TRIPES DAS FLORES ... 126 Victor Dias Pirovani, Hugo José G. dos Santos Junior Capítulo 19 LAGARTA ROSCA... 134
Dirceu Pratissoli, Hugo José G. dos Santos Junior
106
Capítulo 15
LAGARTAS EXÓTICAS DO MARACUJAZEIRO
Dirceu Pratissoli José Romário de Carvalho
Nomes científico: Azamora penicillana Walter; Azamora sororia Druce, 1899.
Ordem - Família: Lepidoptera – Pyralidae.
Identificação e Aspectos Biológicos
A. penicillana: O adulto dessa mariposa possui de 2 a 2,5 cm de envergadura, tendo uma coloração marrom- acinzentada, e suas asas anteriores possuem duas estrias esbranquiçadas que as dividem em três seções, sendo a mediana mais clara que as demais (Figuras 15A-B). A postura é feita de forma isolada tendo preferência como local de oviposição às folhas novas. As lagartas apresentam uma coloração esbranquiçada, e ao final de seu desenvolvimento larval pode atingir, em média, 2,5 cm
Pragas Emergentes no Estado do Espírito Santo
de comprimento. A fase pupal provavelmente ocorre no solo uma vez que não foi encontrada nas folhagens essa fase.
A. sororia: Os adultos dessa espécie possuem o chamado dimorfismo sexual. As mariposas fêmeas possuem uma coloração marrom-acinzentada, tendo nas asas anteriores uma mancha escura com aspecto de uma meia lua (Figura 15C). Já os machos apresentam uma coloração cinza- esverdeada, tendo nas asas anteriores uma faixa transversal verde-escura que se estende de um lado a outro da mesma (Figura 15D). Os ovos são isolados e a postura é feita nas folhas e hastes novas. As lagartas quando desenvolvidas podem medir cerca de 2,5 com de comprimento. A fase de pupa preferencialmente ocorre no solo, para onde as lagartas migram e tecem um casulo feito de sua teia, grãos de areia etc. No entanto foi encontrado pupas dentro de hastes atacadas (Figura 15J).
Hábitos e Ocorrência
A. penicillana: A forma jovem dessa espécie possui uma grande voracidade visto que destroem folhas, flores, brotações e frutos novos. Vulgarmente conhecidas por lagarta-de-teia ou lagarta-do-capote, pelo fato de pegarem as folhas novas do ponteiro, dobrá-las e uni-las com uma teia, criando assim um abrigo para as mesmas. Outro dano que ocorre é quando essas lagartas regurgitam o líquido estomacal, de aspecto esverdeado, que ao entrar em contato com o tecido da planta provocam uma fitotoxicidade o que acarreta no secamento a área afetada (Figura 15E).
No Estado do Espírito Santo, além dessas injúrias foi constatado o seu ataque em frutos, onde causavam lesões
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na casca bem como em alguns frutos ocorria a penetração na polpa (Figuras 15E-G). Essas lesões tornavam-se porta de entradas de patógenos, ocorrendo o apodrecimento da polpa e que alguns casos havia a queda do fruto (Figuras 15H-I).
A. sororia: Neste gênero estão cadastradas cerca de 20 espécies, registradas em diversos países como Costa Rica, Nicarágua, México e Panamá. Na América do sul os relatos foram na Venezuela, Brasil, Suriname e Guiana Francesa.
A espécie em questão não possui nada de relato de sua ocorrência nem de suas injúrias e danos. No Espírito Santo ela foi encontrada em duas ocasiões, e nessas ocorrências constatamos que o ataque inicia-se na ponta das hastes, quando as lagartas recém-eclodidas penetram e iniciam a construção de uma galeria, e a medida que foram crescendo, atingiram as partes mais grossas das hastes (Figuras 15J-L). A consequência propiciou a seca e morte dessas hastes.
Literatura Consultada
BRANDÃO, A.L.S.; SÃO JOSÉ, A.R.; BOA-RETTO, M.A.C.
Pragas do maracujazeiro. In: SÃO JOSÉ, A.R.; FERREIRA, F.R.; VAZ, R.L., (ed.) A cultura do maracujá no Brasil.
Jaboticabal: FUNEP, 1991. p.136-168.
CHACON, P.; ROJAS, M. Entomofauna asociada a Passiflora mollissima, P. edulis f. flavicarpa y P. quadrangularis en el Departamento del Valle del Cauca. Turrialba, v.34, n.3, p.297- 311, 1984.
Pragas Emergentes no Estado do Espírito Santo
DE BORTOLI , S.A.; BUSOLI, A.C. Pragas. In: RUGGIERO, C.
Cultura do maracujazeiro. Ribeirão Preto: Legis Summa, 1987.
p.111-123.
FANCELLI, M. Occurrence of Azamora penicillana in wild passion fruit plants. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil. v.22, n.2. p.389-390. 1993.
FANCELLI, M. A lagarta de teia do maracujazeiro. Cruz das Almas: Embrapa-CNPMF, 1995. 2p. (Embrapa-CNPMF.
Maracujá em Foco, 54).
SANTOS, Z.F.A.F.; COSTA, J.M. da. Pragas da cultura do
maracujá no Estado da Bahia. Salvador: EPABA, 1983. (EPABA.
Circular Técnica, 4).
SOBRINHO, R. B.; CARDOSO, J. E.; FREIRE, F. C. O. Pragas de fruteiras tropicais de importância agroindustrial. Brasília, Embrapa/CNPAT. 1998. 209p.
Genus Azamora. Disponível em: <www.zipcodezoo.com>.
Acessado em: 8 de agosto de 2014.
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Figura 15: A e B - Caracterização do adulto da mariposa A.
penicillana; C - Caracterização da mariposa fêmea de A. sororia;
D - Caracterização da mariposa macho de A. sororia,; E e F - Danos na casca do fruto causado pela lagarta da teia.
Pragas Emergentes no Estado do Espírito Santo
Figura 15: G - Lagarta se alimentando da parte interna do fruto;
H - Parte interna do fruto destruído pelo ataque da lagarta da teia;
I - Orifício de saida da lagarta da teia do fruto; J - pupas de A.
sororia no interior de ramos; K e L - Destruição do interior dos ramos através das galerias feitas pelas lagartas de A. sororia.