PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
TÍTULO DA DISCIPLINA:MEMÓRIA E PATRIMÔNIO:ANTIRRACISMO E ESTÁTUAS EM DISPUTA NO ESPAÇO
PÚBLICO CONTEMPORÂNEO
MPORÂNEO
DOCENTE RESPONSÁVEL: DEPARTAMENTO:
FACULDADE:
CRÉDITOS:CARGA HORÁRIA:SEMESTRE/ANO:1º/2022
TIPO DE ATIVIDADE: TEÓRICA MODALIDADE DE ENSINO: ONLINE
DOCENTE RESPONSÁVEL:AMILCAR TORRÃO FILHO
DEPARTAMENTO:HISTÓRIA FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CRÉDITOS:3 CARGA HORÁRIA:54 HORAS.1º SEM.2022 TIPO DE ATIVIDADE: TEÓRICA MODALIDADE DE ENSINO: ONLINE
I.EMENTA.
Em 2018, com a retirada de uma estátua de Cristóvão Colombo de um parque da cidade de Los Angeles, feita pelos vereadores e prefeitura da cidade por considerá-lo um genocida dos povos ameríndios, isso reabriu um debate sobre a violência da colonização da América e a legenda negra que acompanha os povos colonizadores, sobretudo os espanhóis. Um debate que se inicia no século mesmo da conquista e chega até nossos dias com toda a sua carga identitária e nacional, uma disputa entre diversos projetos coloniais e memórias enfrentadas. Com os distúrbios antirracistas de 2020 as estátuas de heróis confederados, traficantes de escravos, escravocratas e racistas em geral renovaram esse debate sobre os usos dos espaços urbanos de celebração oficial e a ocupação das ruas por manifestantes contrários ao esquecimento de determinadas memórias. A derrubada de estátuas não é novidade, como demonstram a destruição da coluna da praça Vendôme, durante a Comuna de Paris, em 1871, ou na derrubada da estátua de Saddam Hussein na Praça Firdos, em Bagdá, logo após a invasão do Iraque em 2003 pelos estadunidenses. A destruição e o vandalismo de estátuas e monumentos, como o monumento às Bandeiras de Victor Brecheret em São Paulo ou a queima da estátua do bandeirante Borba Gato no contexto de manifestações contrárias ao governo federal em 2021, coloca em confronto noções oficiais de patrimônio histórico e demandas reprimidas de memória social. A cidade é um grande espaço de memória, não apenas suporte de monumentos comemorativos, como ela própria um repositório de memórias afetivas, simbólicas, imateriais, arquitetônicas e históricas, além de uma arena de combate de narrativas sobre o passado. Este seminário pretende conceitualizar a memória coletiva e histórica e seus usos nas políticas públicas, nas práticas sociais, bem como nas resistências ao esquecimento e à exclusão social de grupos marginalizados e memórias sufocadas.
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II.OBJETIVO DO CURSO.
O objetivo dessa disciplina optativa é tratar das relações entre memória, história, monumentos e cidade contemporânea, pensando o espaço urbano como lugar de embates de memória e da própria escrita da história. Nos lugares de memória da cidade e em seus monumentos, erigidos e destruídos, se estabelece uma luta pelo domínio de uma narrativa sobre o passado produzindo, ao mesmo tempo, recordações, esquecimentos, comemorações e exclusões, que se refletem na construção do espaço urbano e de seus lugares de memória, bem como nos usos desses lugares por apropriação, negação, esquecimento e destruição.
III.CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS.
1. Apresentação do curso. Práticas de memória no espaço urbano: esquecimentos e conflitos.
2. GAGNEBIN, Jeanne-Marie. A memória dos mortais: notas para uma definição de cultura a partir de uma leitura da Odisseia; Verdade e Memória do Passado; Memória, História, Testemunho. In:
Lembrar escrever esquecer. São Paulo: 34, 2006, pp. 13-27; 39-57.
3. NORA, Pierre. Entre memória e História. A problemática dos lugares. Trad. port. Yara Aun Khoury. Projeto História. São Paulo: Educ, 10: 7-29, dez. 1993.
SEIXAS, Jacy Alves de. Comemorar entre memória e esquecimento: reflexões sobre a memória histórica. História: Questões e Debates. Curitiba: UFPR, 32: 75-95, jan./jun., 2000.
4. LACAPRA. Dominick. Historia y memoria. A la sombra del holocausto. In: Historia y memoria después de Auschwitz. Trad. Esp. Marcos Mayer. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2009, pp. 21-58.
5. ASSMAN, Aleida. Memória funcional e memória cumulativa. Dois modos de recordação; Locais.
In: Espaços de Recordação. Formas e transformações da memória cultural. Trad. port. Paulo Soethe.
Campinas: Unicamp, 2011, pp. 143-158; 317-361.
6. ROBIN, Regine. A cor do esquecimento; O novo ar dos tempos. In: A memória saturada.
Campinas: Unicamp, 2016, pp. 78-107; 169-213.
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7. HARTOG, François. Patrimônio e Presente. In: Regimes de Historicidade. Presentismo e experiências do tempo. Trad. Port. Belo Horizonte: Autêntica, 2013, pp. 193-245.
8. Avaliação.
9. HUYSSEN, Andreas. Present Pasts: Media, Politics, Amnesia: The Voids of Berlin; After the War:
Berlin as Palimpsest. In: Present Pasts. Urban Palimpsests and the Politics of Memory. Stanford, CA:
Stanford University Press, 2003, pp. 11-29; 49-84.
10. MATSUDA, Matt K. Monuments: Idols of the Emperor; Numbers: The Temple of Time. In: The Memory of the Modern. Nova Iorque, Oxford: Oxford University Press, 1996, pp. 19-59.
11. HANDLER, Richard. Is “Identity” a Useful Cross-Cultural Concept?; LOWENTHAL, David.
Identity, Heritage, and History; SAVAGE, Kirk. The Politics of Memory: Black Emancipation and the Civil War Monument. In: GILLIS, John R. (org.). Commemorations. The Politics of National Identity. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1994, pp. 27-57; 127-149.
12. FREIRE, Cristina. Dois monumentos: uma fisionomia para a cidade. In: Além dos mapas. Os monumentos no imaginário urbano contemporâneo. São Paulo: Annablume, SESC, 1997, pp. 227- 301.
13. MARZO, Jorge Luis. Un pueblo autentico; La función de la imagen (I). In: La memoria administrada. El Barroco y lo Hispano. Buenos Aires, Madri: Katz, 2010, pp. 255-323.
14. ANDRADE, Luís Miguel Oliveira. Roteiro da Memória historiográfica da restauração do liberalismo ao Estado Novo. In: História e Memória. A Restauração de 1640: do liberalismo às comemorações centenárias de 1940. Coimbra: MinervaCoimbra, 2001, pp. 115-182.
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15. STREJILEVICH, Nora. La verdad del testimonio; El rescate de una práctica narrativa en América latina; Exclusión, exilio y testimonio; Las voces del exilio; Argentina: de la punición a la memoria.
In: El arte de no olvidar. Literatura testimonial en Chile, Argentina y Uruguay entre los años 80 y los 90. Buenos Aires: Catálogos, 2006, pp. 11-40; 61-100.
16. SCHNEIDER, Alberto Luiz. A luta pela memória de São Paulo (1890-1940); A luta pela memória da Capitania de São Paulo vem de antes. Frei Gaspar da Madre de Deus e Pedro Taques no século XVIII. In: Capítulos de História Intelectual. Racismo, identidades e alteridades na reflexão sobre o Brasil. São Paulo: Alameda, 2019, pp. 129-210.
17. ATENCIO, Rebecca J. Introduction: The Turn to Memory in Brazilian Culture and Politics;
Testimonies and the Amnesty Law. In: Memory’s Turn. Reckoning with Dictatorship in Brazil.
Madison, Wisconsin: The University of Wisconsin Press, 2014, pp. 3-58.
18. Avaliação.
IV.ORIENTAÇÃO METODOLÓGICA.
As aulas serão expositivas, com a leitura conjunta dos textos, documentos selecionados, artigos de jornais e apresentação oral pelos alunos em forma de seminários.
V.CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DO ENSINO E APRENDIZAGEM
Seminários, com apresentação oral realizada pelos alunos em grupo e duas avaliações escritas.
VI.BIBLIOGRAFIA BÁSICA E COMPLEMENTAR.
ASSMANN, Aleida, SHORTT, Linda (orgs.). Memory and Political Change. Nova Iorque: Palgrave Macmillan, 2012.
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade. Lembranças de velhos. São Paulo: T.A. Queiroz, 1987.
BRESCIANI, Stella, NAXARA, Márcia (orgs.). Memória e (res)sentimento. Indagações sobre uma questão sensível. 2. ed. Campinas: Unicamp, 2004.
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BUTLER, Judith. Quadros de Guerra. Quando a vida é passível de luto? 2. ed. Trad. port. Sérgio Lamarão, Arnaldo Marques da Cunha. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. Trad. port. Luciano Vieira Machado. São Paulo:
Estação Liberdade, Unesp, 2001.
CHUVA, Márcia Regina Romero. Os arquitetos da memória: sociogênese das práticas de preservação do patrimônio cultural no Brasil (anos 1930-1940). Rio de Janeiro: UFRJ, 2009.
DOMANSKA, Ewa. The Material Presence of the Past. History and Theory. 45: 337-348, oct., 2006.
FERNÁNDEZ DE ROTA Y MONTER, José Antonio (coord.). Ciudad e historia: la temporalidad de un espacio construido y vivido. Madri: Akal, Universidad Internacional de Andalucía, 2008.
FORTY, Adrian, KÜCHLER, Susanne (orgs.). The Art of Forgetting. Oxford, Nova Iorque: Berg, 2001.
GARCÍA CANCLINI, Néstor. Culturas híbridas. Estratégias para entrar e sair da modernidade. Trad.
port. Ana Regina Lessa, Heloísa Pezza Cintrão. 4. ed. São Paulo: Edusp, 2008.
GUIXÉ, Jordi (org.). De Un Valle de Lágrimas a Un Valle de Memorias. Bases para un proyecto de futuro sobre el Valle de los Caídos. GUE/NGL, EUROM, Fundació Solidaritat, Universitat de Barcelona, 2018.
HALBWACHS, Maurice. Les cadres sociaux de la mémoire. Paris: Albin Michel, 1925.
__________. A memória coletiva. Trad. port. Laurent Leon Schaffter. São Paulo: Vértice, Revista dos Tribunais, 1990.
HARTOG, François. Régimes d’Historicité. Presentisme et expériences du temps. Paris: Seuil, 2003.
JELIN, Elizabeth. Los trabajos de la memoria. Madri: Siglo Veintiuno, 2002.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Trad. port. Irene Ferreira, Bernardo Leitão e Suzana Ferreira Borges. 5. ed. Campinas: UNICAMP, 2003.
MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. O Museu na Cidade X a Cidade no Museu. Para uma abordagem histórica dos museus de cidade. Revista Brasileira de História. São Paulo, 5(8/9): 197-205, set., 1984/abr., 1985.
_________. A história, cativa da memória? Para um mapeamento da memória no campo das Ciências Sociais. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. São Paulo, 34: 9-24, 1992.
NEIMAN, Susan. Learning from the Germans. Race and the Memory of Evil. Nova Iorque: Farrar, Straus and Giroux, 2019.
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NEUMEISTER, Sebastian. La ciudad como teatro de la memoria. (Argumentos literarios de un entorno humano). Revista de Occidente. Madrid: Fundación José Ortega y Gasset. 145: 65-79, jun., 1993.
RICOEUR, Paul. A Memória, a História e o Esquecimento. Trad. port. Alain François et. al.
Campinas: Unicamp, 2007.
ROSSI, Paolo. O passado, a memória, o esquecimento. São Paulo: Editora da Unesp, 2010.
SEIXAS, Jacy Alves de. Comemorar entre memória e esquecimento: reflexões sobre a memória histórica. História: Questões e Debates. Curitiba: UFPR, 32: 75-95, jan./jun., 2000.
__________. Os tempos da memória: (des)continuidade e projeção. Uma reflexão (in)atual para a história? Projeto História. São Paulo: Educ, 24, jun., 2002.
SILVA, Helenice Rodrigues da. Rememoração”/comemoração: as utilizações sociais da memória.
Revista Brasileira de História. São Paulo: ANPUH, 22(44): 425-438, 2002.
SPIEGEL, Gabrielle M. Memory and History: Liturgical Time and Historical Time. History and Theory. 41: 149-162, may, 2002.
STREJILEVICH, Nora. Una sola muerte numerosa. Madri: Sitara, 2018.
__________. Un día allá por el fin del mundo. Santiago, Chile, Lom Ediciones, 2019.
TARACENA ARRIOLA, Arturo. De la nostalgia por la memoria a la memoria nostálgica. La prensa yucateca y la construcción del regionalismo yucateco en el siglo XIX. Mérida: UNAM, 2010.
TORRÃO FILHO, Amilcar. A sétima porta da cidade: memória, esquecimento e ressentimento na história de São Paulo. História e Perspectivas. Uberlândia: EDUFU, 31: 127-152, jul./dez., 2004.
VIDAL-NAQUET. Pierre. Os assassinos da memória. “Um Eichmann de papel” e outros ensaios sobre o revisionismo. Trad. port. Marina Appenzeller. Campinas, São Paulo: Papirus, 1988.
VILLACAÑAS, José Luis. Imperiofilia y el populismo nacional-católico. Otra historia del imperio español. 4. ed. Madri: Lengua de Trapo, 2019.
WILKERSON, Isabel. Caste. The Origins of Our Discontents. Nova Iorque: Random House, 2020.