• Nenhum resultado encontrado

Os Sertões na Formação de Professores

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "Os Sertões na Formação de Professores"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

Os Sertões na Formação de Professores

Terezinha Maria Bogéa Gusmão

Os sertões caracterizam regiões, delimitam territórios, criou um tipo específico de brasileiro - o sertanejo -, além, de um pensamento social e imaginário característicos desses espaços, o que denota a relevância dessa categoria, mas, infelizmente não é trabalhada na educação escolar da rede pública maranhense e provavelmente essa realidade se estende a nível nacional. Segundo Amado, “vivido como experiência histórica o ‘sertão’ constituiu, desde cedo, por meio do pensamento social, uma categoria de entendimento do Brasil, inicialmente na condição de colônia portuguesa e, após o século XIX, como nação” (1995, p.146). Servindo assim, para a compreensão da formação do território brasileiro como da sua população miscigenada incipiente. E se tratando especificamente do sertão maranhense Pacheco Filho grafa que,

Por ter sido, durante muito tempo, região de fronteira, o sertão dos Pastos Bons recebeu migrantes de quase todas as províncias os que mais tarde viriam a construir o Nordeste do Brasil. Distante da capitania e com a dificuldade inerente ao interior brasileiro, o sertão Maranhão também serviu de esconderijo aos perseguidos políticos da Confederação do Equador (1824) aos integrantes da Revolução Liberal (1831) e aos escravos fugitivos da Balaiada (1838-1841). Mas, também recebeu homens de letras, que ajudaram a fundar e construíram escolas, jornais e clubes literários. Essas figuras que se destacaram nas letras, e posteriormente na política local, fundaram em 1828, a República de Pastos Bons ou a Chapada, e contribuíram para a constituição de peculiaridades decisivas para a formação do perfil socioeconômico do sertanejo bastante diferente do homem do litoral. 103 (PACHECO FILHO, 2019)

É perceptível que também o sertão do Maranhão tem a sua importância para a constituição territorial da nação brasileira. Além de suas peculiaridades, por ser um sertão de águas, ou em relação ao perfil socioeconômico do sul do território, que refugiou fugitivos políticos que posteriormente acabaram contribuindo em vários seguimentos da sociedade. Dessa forma, a necessidade de estudar o sertão, seja ele de forma macro ou regional se faz necessário.

1.2 A TERRA

Desde o Brasil colonial, a palavra sertão designava “quaisquer espaços amplos, longínquos, desconhecidos, desabitados ou pouco habitados” (SOUZA, 1974:148), que com o passar do tempo foi acentuando-se e “litoral” e “sertão” representaram categoria que ao mesmo tempo eram opostas e complementares.

(2)

Essas duas nomenclaturas desde o século XVI, foram empregadas por numerosos viajantes e cronistas do nascente império português na África, Ásia e América como o sentido apontado, de grandes espaços interiores pouco ou nada conhecidos (AMADO, 1995, p. 147).

Amado ainda coloca que no começo do século XIX, “os sertões estava de tal modo integrado a língua usada no Brasil que os viajantes estrangeiros em visita ao país registraram a palavra utilizando-a várias vezes em seus relatos” (1995, p.148). A palavra sertão na primeira metade do século XIX tinha várias conotações sendo utilizada no singular ou no plural. Além da observância de “novas formas de apreciação da região denominada sertão, são fixadas, oferecendo orientações ideológicas que transformam a concepção do agir sobre esse espaço. Sobretudo, um reposicionamento da relação do sertão com a nacionalidade” (SOUZA, 1998, p.57). Incorporando a ideia de que,

A nação só seria totalizada com a apropriação coletiva de todos os espaços atrasados e incultos. A tarefa civilizatória rumo à nação ideal retiraria do sertão suas características negativas unificando e homogenizando os desequilíbrios regionais. A noção de fronteira é produto dessa nova ambiência de representações sobre o sertão e traduz o movimento de englobamento ideológico e ocupação concreta de nacionalização das periferias sertanejas. (SOUZA, 1998, p.59).

Compreende-se que para desenvolver os espaços vazios, atrasados ou incultos era necessário colocar em “pé de igualdade” sertão e litoral, este ultimo sempre apresentado como sendo lugar civilizado.

Assim, na fronteira seria conciliada qualidade positiva do litoral – a civilidade – com a crença de que o interior/o sertão resguarda um Brasil já contaminado, o lugar da preservação da nacionalidade autêntica. A fronteira, por tudo isso, resume as esperanças e os projetos de construção de uma nacionalidade equilibrada e harmonizada no desenvolvimento de suas partes (SOUZA, 1998, p.59).

Esse enaltecer do litoral como civilizado, lugar desenvolvido e bom para se viver tem alimentado a permanência de um sertão onde a concepção até os dias de hoje é de um lugar inóspito, distante, atrasado, de poucas possibilidades, lugar de dor, de pobreza, de abandono, de injustiças sociais e tantas outras mazelas. O que em parte é uma verdade, porém, alimentada por aqueles que não tem interesse de mudar essa realidade, os nossos representes políticos.

Francisco de Paula Ribeiro provavelmente fez o mais completo relato sobre o sul do Maranhão e o Sertão dos Pastos Bons. O percurso que durou exatos 91 dias, desde a saída da Ilha do Maranhão até São Pedro de Alcântara, Paula Ribeiro anotou as condições geográficas, a ocupação do território, o modo de vida de seus habitantes, as distâncias percorridas, localização dos povoados, rios, riachos, serras, morros e fazendas. (PACHECO FILHO, 2016).

(3)

Pacheco Filho deixa claro em outro momento que todo esse processo de descoberta do interior do Maranhão registrado por Paula Ribeiro foi possível, devido à navegabilidade do rio Itapecuru e auxílio da sociedade local, nos direcionamentos e ensinamentos aos exploradores “quer no fabrico de canoa sem quilha, feita de um único tronco de árvore, quer no ensino de como navegar nessas canoas” (PACHECO FILHO, 2019, p. 104). Era mais fácil desbravar o interior do território por rota fluvial em canoas, as quais tinham facilidade de navegar em rios com correntezas, pedras e cachoeiras do que embrenhar pelas matas onde certamente enfrentariam os mais diversificados perigos.

O rio Itapecuru foi o primeiro rio pelo qual se alcançou o Alto sertão maranhense, tendo se instalado em suas margens engenhos de açúcar, lavoras de algodão e de arroz, fazendas, vilas e posteriormente, cidades e bem mais tarde uma linha férrea em que eliminou em definitivo sua navegação comercial (PACHECO FILHO, 2019, 105).

O rio Itapecuru ao longo de suas margens foi possibilitando importantes recursos, não só para o território que ele cortava, em direção ao sertão maranhense, mas, gerou riqueza promovida pela produção de algodão feita próximo às suas margens e forneceu capital para construção de casarões com suas fachadas de azulejos na Praia Grande em São Luís.

Paula Ribeiro, ao desbravar o sul do território maranhense tornou possível para as autoridades portuguesas do Maranhão o controle de um vasto território até então praticamente desconhecido.

Foi Paula Ribeiro quem através de suas várias “viagens do Poder”, realizada no interior desses vastos espaços geográficos, deu a conhecer a esse Maranhão dos criadores de gado, os vaqueiros, dos vadios, aventureiros e dessas novas fazendas que rapidamente se transformariam em vilas. Francisco de Paula Ribeiro fez um trabalho magnífico para os conhecimentos tecnológicos da época (PACHECO FILHO, 2019, P. 104).

Apesar dos rudimentares recursos tecnológicos da época de Paula Ribeiro, este desempenhou um excelente trabalho de reconhecimento dessa extensa área do sul do Maranhão e dos Pastos Bons. Produziu um mapa considerado o mais preciso sobre o território maranhense até aquele momento, pontuando precisamente o revelo, bacias hidrográficas, matas, dando sugestões sobre o espaço de povoamento, além de levar ao conhecimento das autoridades e outros vários seguimentos da sociedade como os colocados na citação acima.

Paula Ribeiro escreveu suas impressões obtidas ao longo de mais de vinte anos de viagens pelos sertões dos Pastos Bons, trazendo a lume um Maranhão desconhecido em seus aspectos geográficos, históricos e antropológicos. E ele não só nomina rios, serras, vales, planícies e chapadas; menciona, também, o clima ameno, o frio nas noites de julho;

descreve flora e fauna; e distingue as várias etnias indígenas da região (PACHECO FILHO, 2016).

É interessante lembrar que a obtenção dessas informações coletadas por Paula Ribeiro ocorria mediante as grandes dificuldades de deslocamento e serviços. Pois,

“faltavam estradas, os serviços mais elementares, ou melhor, faltava tudo, sobrava necessidade. Era um mundo desconhecido e desamparado pelo Estado. O Estado só chegou muito tempo depois” (Pacheco Filho, 2016). Porém, o que Paula Ribeiro conseguiu conhecer e registrar é de um legado imprescindível para o conhecimento da história da colonização incipiente dessa região. Deixando em sua narrativa do cotidiano

(4)

sertanejo a possibilidade de várias interpretações feitas diferente autores e segundo Pacheco Filho,

Todas com uma boa dose de ideias pré-concebidas, que vão desde

“sociedade menos civilizada”, “sertanejo ambicioso e rude” e região

“violenta e sanguinária”. Socialmente diferente do homem do litoral, o sertanejo e o sul do Maranhão são, ainda nos nossos dias discriminados pelo poder público (2016).

Ainda hoje há um preconceito acerca do sertanejo, como se ele fosse o ocasionador do estado de miserabilidade que ele tem sido submetido ao longo dos séculos em nosso país. Onde as políticas públicas não os contemplam ou custam a chegar. E são redimensionados pelo cotidiano a “se virar” com o quer for possível no momento, a salvo a minoria que conseguem romper esse ciclo que tem enclausurado gerações e gerações de sertanejos sedentos para romper o ciclo da pobreza, do descaso e abandono.

Provavelmente um dos elementos que possibilitou a interpretações de Pacheco Filho em classificar os sertões maranhenses de sertões de águas, foram os registros de Paula Ribeiro que registrou “a imensidão dos pastos sempre verdes, irrigados permanentemente pela quantidade de rios, riachos, lagoas que encantaram e ajudou a fixar os primeiros colonizadores vindos dos sertões da Bahia e de Pernambuco” (PACHECO FILHO, 2009).

Portanto, a terra do sertão maranhense foi demarcada precisamente por Paula Ribeiro, que ao fazer com excelência, apesar de toda dificuldade de transporte e de diversos serviços, deixou em seus relatos contribuições historiográficas, geográficas, antropológicas, sociológicas para se compreender o sertão e o sertanejo maranhense.

Segundo Santos, o sertão registrado por Paula Ribeiro é, também, um sertão paradisíaco,

De ampla variedade de vegetação, espécies animais, inúmeros rios e clima agradável que deveria ser mais bem aproveitado no aspecto econômico, sobretudo por meio do gado. Acerca dos indígenas defende a sua incorporação à cultura do trabalho e do modo de vida em geral da

“civilização” para serem aceitos como seres humanos. O índio é compreendido como uma ameaça ao projeto da Coroa, de criação de fazendas nos sertões maranhenses, que constantemente destruía povoações, matava os habitantes, levava o gado e alimentos. Paula Ribeiro reconhecia que essas práticas eram fruto de injustiças cometidas contra esses habitantes, mas só reconhece sua humanidade pela assimilação cultural (SANTOS, 2011, p. 231).

1.3 O homem sertanejo como elemento constitutivo da identidade nacional O homem sertanejo tem sido submetido a um estado de inferioridade imposto pela perspectiva de uma hierarquia cultural. Para Ribeiro o que caracteriza essa inferioridade sertaneja encontra-se na ausência de escolas na região, “não só as primeiras letras e as artes liberais, mas ainda mesmo as mecânicas, lhe são inteiramente desconhecidas”2 . A falta de uma cultura institucionalizada na região sul do Maranhão e o “modo de vida rude”

vivido pelo sertanejo são vistos como algo errado e prejudicial. Alguns são taxados de inimigos do trabalho, que não conseguem assimilar uma vida de trabalho formal, provavelmente se referido aos indígenas. Porém, os sertanejos, apesar de “rústicos e brutais”, sua índole é boa, e só é boa porque suas práticas culturais e sociais não se chocam com as necessidades da criação do gado, elemento fulcral para o sistema econômico do sertão. Ao contrário, sua maneira de ser encaixava-se perfeitamente à realidade da

(5)

fazenda. Esta não era apenas o local da criação do gado, mas também o lugar da produção de todas as necessidades: alimentos, roupas, instrumentos de trabalho, dentre vários outros produtos. (SANTOS, 2011, p. 228).

Santos ao escrever sobre a importância da fazenda e a criação do gado como atividades imprescindíveis para sertanejo do maranhão concorda como o grafado por Ribeiro (1848, p. 11), [...] os gados que apesar de nascerem e de se criarem nos capins chamados agrestes, únicos pastos gerais de que são próprios estes sertões do sul da Capitania do Maranhão têm, contudo, pela grandeza de seu corpo, gordura e aptidão para grandes marchas, muito mais valor nas feiras do Itapecuru do que todos os outros gados da Capitania do Piauí, menos vistosos, sem diferença do que os de Balsas e Pastos Bons. (Apud PACHECO FILHO, 2016).

Existe uma vertente romântica por parte do sertanejo que observa a mutação do lócus sertão que após longos períodos de estiagens, floresce trazendo a beleza da terra transfigurada pelas chuvas. Ernest Curtius sugere pela sensibilidade romântica e simbólica que o sertão é um novo Éden – descrição da paisagem, lócus amoemus adaptado brasilicamente ao vasto espaço. Nesse contexto, se descrevem amores tão campestres e simples, como intensos e fatais. José de Alencar em sua obra-chave, O Sertanejo faz uma construção literária que o sertão se revelou em todo o seu esplendor paradisíaco, “tudo ali é formosura, pureza de intenções, susto e rubores de gente ingênua e simples. Abundam sentimentos, a linguagem prudente e elegante, um verdadeiro campo de flores, pássaros e animais” (Apud CRISTOVÃO, 1995).

O sertanejo convive com as envolventes belezas da fauna e da flora, em um ambiente de magia e mistério é acrescentado, o do luar misturando-se com a música e convidando ao canto, a dança ou a intimidade na descrição de Hugo de Carvalho Ramos, em Tropas e Boiadas. Na análise de Bonéjan-Bomtemps a paz, a abundância, a justiça são devidamente adaptadas as circunstância brasileira. A paz é a vida familiar calma, tranquila, observante de um estatuto familiar e social estável e incontestado, coincide como o período romântico da ficção brasileira. “Na procura dos tipos simbolizadores da nacionalidade, o sertanejo é escolhido pelo modo de vida admirável, pela destreza, simplicidades e valores que dignificariam o Brasil”. (SOUZA, 1995 p. 57).

Porém, há um olhar realista desse espaço do sertanejo, que retrata uma realidade mais crua e cruel que o desencanta pela condição de vida proporcionada pelo interior, “o lugar distante e vazio” do Brasil. O sertão se apresenta despido de qualquer roupagem idílica, é lugar causticante e de difícil vivência para o sertanejo.

Esse sertão é inferno, como coloca Fernando Cristovão, antes de nada, pelo destempero da natureza abrasada por um sol de fogo e pelas chamas dos incêndios, pelo castigo das secas expulsando os retirantes. Sertão é inferno, pelo desespero que leva a querer libertar-se pela violência: dos retirantes, dos cangaceiros, dos volantes, pelos beatos – ex: Canudos - Por isso o fatalismo se instalou como expressão de falta de toda e qualquer esperança. Excluídos pela justiça, lançados para a margem do convívio sócia, perseguidos pelas volantes, sem esperança de perdão ou salvação, sabem que não tem futuro e erram pelo sertão como em círculos fechados destruindo até serem destruídos.

Nesse sertão inferno ou purgatório, “já se pode detectar a emergência do sertão como um problema para a nação. Um outro negativo, oposto a urbanidade litorânea. A diferença é enfatizada e percebida como um obstáculo, porção indesejável e vergonhosa do Brasil (SOUZA, 1995, p. 57). O sertão e o sertanejo se converte em um exemplar do

(6)

fenótipo suspeito. A miscigenação do interior passa a ser um sinal da degenerescência sertaneja. No Maranhão, Capistrano de Abreu relata uma “civilização do couro”.

Constituída por fazendas, vaqueiros, aventureiros, vadios, porém, essa gente, sem ajuda da monarquia portuguesa, na primeira metade século XVIII, iria criar fazendas de gado, vilas, cidades e costumes totalmente diferenciado das gentes da frente que colonizou o litoral (...) A tônica segundo a qual, o sertanejo é um homem ignorante, inculto e sem

“civilização”, viria a prosperar praticamente em todos os autores do século XIX e início do século XX (...) Alguns autores viam o sertanejo como uma sub-raça ou até mesmo como um homem em estado natural ( Apud PACHECO FILHO, 2019, p.101, grifo nosso).

A dicotomia entre litoral e sertão conduziu um processo em que o sertanejo ainda nos dias atuais é visto de forma pejorativa atribuindo-lhe características que o inferioriza e o marginaliza, mesmo sendo tão importante quanto o homem litorâneo visto como o civilizado, desenvolvido e preparado, segundo uma visão eurocêntrica que ainda perdura.

Dessa forma observamos em nossa realidade simultaneamente a existência de dois

“Brasis” um que enaltece e outro inferioriza os brasileiros, possibilitado pelo interesse de quem governa.

1.4 A formação de professores de história e literaturas sertanejas

Atualmente entre os desafios impostos aos professores de História, encontra-se o tema ou conteúdo Sertão, rico em diversas vivências e formador de identidade nacional.

Mas, como já coloquei no início desse artigo não é trabalhado na educação escolar.

Porém, relatarei uma sequência de obras e autores que possibilitarão aos docentes trabalhar essa temática que atribuo imprescindível para o seu conhecimento e do aluno acerca da realidade sertaneja que se afirmou como área de confrontos, como espaço privilegiado de interrogações.

Múltiplas e complementares leituras do sertão são praticamente iniciadas no Romantismo. O professor de história para compreender os Sertões existentes no Brasil tem que fazer um passeio pela literatura brasileira, podendo também desenvolver um trabalho interdisciplinar como o professor de Literatura.

Os primeiros autores a escreverem sobre o sertão foram os poetas: Álvares de Azedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire, Castro Alves estes em suas obras celebram a natureza florida e os amores como prolongamento natural do sertão. Esses foram os que mais se ocuparam do sertão e formaram a primeira fase do Romantismo a partir da segunda metade do século XIX. Caracterizando um romantismo exacerbado/ultra romântico. Em 1869, foi publicado O Ermitão de Muquém de Bernardo de Guimarães e em 1875, José de Alencar publica a obra prima O Sertanejo, retratando um sertão romântico e tranquilo, onde a paz e a felicidade se dão as mãos para que tanto o senhor como servo se sintam felizes.

Essas obras contribuíram decisivamente para o estabelecimento de uma tipologia do sertão. O Sertanejo é considerado obra-chave nessa construção literária que o Sertão se revelou em todo o seu esplendor paradisíaco... tudo ali é formosura, pureza de intenções, susto e rubores de gente ingênua e simples. Abundam sentimentos, a linguagem prudente e elegante, um verdadeiro campo de flores, pássaros e animais.

(7)

O visconde de Taunay inaugura a segunda fase do Romantismo sertanejo, com Inocência (1876), iniciando uma visão mais situada, de teor realista, que havia de ser aprofundada por Franklin Távora (1876) em O Cabeleira e por Manoel de Oliveira Piava, com Dona Guidinha do Poço (1952). Essa fase valoriza, sobretudo, a literatura regionalista.

A obra Sagarana de 1946, caracterizada pela ultrapassagem da problematização social dominante e pela proposta de uma visão diferente da realidade de teor mítico, inaugurada por Guimarães Rosa, no Pós-Modernismo e estruturada com O Grande Sertão:

veredas, em 1956. Após participar de um percurso de 240 quilômetros no sertão mineiro em 1952, durante dez dias, em companhia de vaqueiros, conduzindo uma boiada, lhe possibilitou anotar expressões, casos, histórias, procurando apreender de forma mais profunda esse universo sertanejo que tantos valores agregaram ao brasileiro.

Os escritores José Lins do Rego, Guimarães Rosa e Ariano Suassuna se ocuparam do sertão-deserto, lugar de meditação e penitência. Para Lins, paira sobre o sertão algo de sagrado onde misteriosas maldições precisam ser exorcizadas para que chegue o reino da felicidade. Porque o sertão é reino a desencantar visão contida no episódio da Pedra Bonita. Para Suassuna, o mistério do Sertão, o seu clima psicológico e a presença no imaginário coletivo, residem também no fato, de ele ser um reino a desencantar e a decifrar. Já Guimarães Rosa conseguiu fazer do sertão um tema universal, a ponto de naturalmente o aproximarmos do poema de Dante Alighieri (A Divina Comédia) e explorando veredas e tribos fez o romance O Grande Sertão: Veredas, considerado uma das mais significativas obras da literatura brasileira. Publicada em 1956, inicialmente chama atenção por sua dimensão – mais de 600 páginas – e pela ausência de capítulos.

Guimarães Rosa fundiu nesse romance, elementos do experimentalismo linguístico da primeira fase do modernismo e a temática regionalista da segunda fase do movimento, para criar uma obra única e inovadora.

Outros autores também deixam suas contribuições sobre a temática sertão ou regionalismo como Rachel de Queiroz com O Quinze, o primeiro romance da escritora modernista. Publicada em 1930, a obra regionalista e social apresenta como tema central a seca de 1915 que assolou o nordeste do país e os campos de concentração no Ceará.

Castro Alves com o poema América – “Passa os ventos das campinas, leva a canção do tropeiro. Está deserto o mundo inteiro, que viu a minha senhora dona do meu coração?

Chora, na viola, violeiro do sertão”; Catulo da Paixão Cearense, o mais celebrado membro da “trindade caipira” com o Meu Sertão, Sertão em Flor e Alma do Sertão – popularizando o tema no Brasil e em Portugal. Os Caboclos de Valdomiro Silveira, obra considera muito importante para o estabelecimento do regionalismo. Através de todos os autores citados podemos entender que:

Há vários tipos de sertão: geográfico ou poético; distante, como o de Euclides da Cunha; ou tão próximo que chega a se fundir com a própria pessoa, onde quer que ela esteja, segundo a perspectiva de Guimarães Rosa. Há sertão inferno, paraíso; há sertão que é Brasil e outro que não é. Simplesmente esse lugar pode ter muitas formas e sentidos, dependendo de quem o observa (SANTOS, 2011, p. 210).

O “Sertão” ocupa ainda lugar extremamente importante na literatura brasileira.

Grande parte da denominada literatura regionalista tem o sertão como lócus ou se refere diretamente a ele. Dentre os literatos citados nesse trabalho talvez o maior, mais completo e importante autor relacionado ao tema tenha sido João Guimarães Rosa (1965).

(8)

O evocador dos sertões misterioso, míticos, ambíguos, situados ao mesmo tempo em espaços externos e internos na literatura brasileira povoou os variados sertões e constituiu com personagens colocais, poderosos símbolos, narrativas míticas, marcando com eles forte, funda e definitivamente o imaginário brasileiro.

Os sertões estão em uma zona transitória entre a temática racial e a temática da civilização via desenvolvimento. E se constitui como objeto da historiografia brasileira pela relevância na construção da identidade nacional a qual foi sendo edificada no discorrer dos séculos. Para Euclides da Cunha em sua obra Os Sertões (1902) o sertanejo

“é um retrógrado não um degenerado. A separação dos filhos do mesmo solo estava de todo dada pela distância entre as coordenadas históricas - o tempo”. A partir de Euclides da Cunha antevesse a conciliação de uma identidade nacional viável,

Em termos étnicos, com a necessidade de transformações sociais através de medidas civilizatórias. A problemática sertão e nação sofre modificações significativas porque a diferença inegável entre o sertão e o mundo civilizado é temporária e pode ser superada pela vontade governamental. A distinção entre a diferença radical e o semelhante distante – o espaço e o tempo. (SOUZA, 1995, p.58).

Ao elencar todas essas obras e autores, compreendemos que o sertão exerce valor literário, identitário, ideológico, geográfico e resiste ao abandono e descaso por parte da vontade governamental que insiste em excluí-lo de investimentos que possam possibilitar ao sertanejo melhores condições de vida sem ter que se aventurar ir para outras regiões que não o reconhece de fato como um homem inteligente e capaz de superar os entraves que lhes apresentam. Diante dessa análise, ratifico a necessidade de todo brasileiro conhecer o sertão habitat de homens valoroso, fortes, sonhadores e conquistadores.

Referências Documentos

file:///C:/Users/Aurinyvia/Downloads/2429-Texto%20do%20artigo-7765-1-10-

20110804%20(3).pdf https://www.culturagenial.com/livro-o-quinze-de-rachel-de- queiroz/ https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/grande-sertao-veredas-resumo-da- obra-de-guimaraesrosa/

Bibliografias

AMADO, Janaína. Região, sertão, nação. Estudos histórico, Rio de Janeiro, vol. 8, 1995, p. 145 – 151.

CRISTOVÃO, F. A transfiguração da realidade sertaneja e a sua passagem a mito (A Divina Comédia do Sertão). Revista USP, (20), 1994, p. 42-53.

PACHECO FILHO, Alan Kardec Gomes. Um militar a serviço da coroa portuguesa no sul do maranhão anpuh – XXV Simpósio Nacional de História – Fortaleza, 2009.

_________ O Sertão do Maranhão nas memórias de Francisco de Paula Ribeiro. Anais eletrônicos do 15º do Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia Florianópolis, Santa Catarina, 16 a 18 de novembro de 2016.

_________ Caminhos do Rio: rios das grandes civilizações. In: SILVA, Carlos Guardado da; XXI Encontro Turres Veteras: 1ª Ed, 2019.

(9)

SANTOS, Raimundo Lima dos. O sertão inventado: a percepção dos sertões maranhenses pelo olhar de Francisco de Paula. Revista de História Regional 16(1): 209-234, Verão, 2011.

SOUZA, Candice Vidal e. Fronteira no pensamento social Brasileiro: o sertão nacionalizado. Sociedade e cultura, 1(1): 55-61, jan/jun. 1998.

Referências

Documentos relacionados

Portanto, mesmo percebendo a presença da música em diferentes situações no ambiente de educação infantil, percebe-se que as atividades relacionadas ao fazer musical ainda são

Tautologia – Quando uma proposição sempre é verdadeira, o que acarreta que toda sua coluna na tabela- verdade possui somente valores Verdadeiros. Contradição – Oposto à

Os prováveis resultados desta experiência são: na amostra de solo arenoso ou areia, a água irá se infiltrar mais rapidamente e terá maior gotejamento que na amostra de solo

Verificar a efetividade da técnica do clareamento dentário caseiro com peróxido de carbamida a 10% através da avaliação da alteração da cor determinada pela comparação com

Adotam-se como compreensão da experiência estética as emoções e sentimentos nos processos de ensinar e aprender Matemática como um saber epistêmico. Nesse viés, Freire assinala

Neste estágio, assisti a diversas consultas de cariz mais subespecializado, como as que elenquei anteriormente, bem como Imunoalergologia e Pneumologia; frequentei o berçário

Estudos sobre privação de sono sugerem que neurônios da área pré-óptica lateral e do núcleo pré-óptico lateral se- jam também responsáveis pelos mecanismos que regulam o

La asociación público-privada regida por la Ley n ° 11.079 / 2004 es una modalidad contractual revestida de reglas propias y que puede adoptar dos ropajes de