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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 6202/2004-6

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Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 6202/2004-6

Relator: PEREIRA RODRIGUES Sessão: 08 Julho 2004

Número: RL

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: AGRAVO Decisão: PROVIDO

PATROCÍNIO JUDICIÁRIO ADVOGADO

Sumário

Tendo a parte constituído como seu mandatário forense advogado cuja

inscrição na Ordem dos Advogados se encontrava suspensa verifica-se falta de constituição de advogado regulada pelo art. 33° do CPC.

A sanação da falta do pressuposto processual do patrocínio judiciário faz-se pela junção aos autos de procuração a advogado devidamente habilitado ao exercício da advocacia, sem necessidade de se proceder à ratificação dos actos do primeiro mandatário.

Texto Integral

ACORDAM NO TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA:

I. OBJECTO DO RECURSO E QUESTÕES A SOLUCIONAR.

No Tribunal Cível da Comarca de Lisboa, A intentou a presente acção de despejo, sob a forma de processo sumário, contra B e mulher, alegando, em suma, que:

A autora e seu marido, de quem entretanto se divorciou, deram de

arrendamento a C, o 1° andar do prédio urbano sito em Lisboa, para habitação deste e do seu agregado familiar, pela renda mensal que actualmente ascende a 8.460$00.

O referido C faleceu em 4 de Outubro de 1997, no estado de viúvo, deixando como descendente o ora réu, que com ele conviveu no ano anterior ao seu falecimento.

Por carta datada de 4 de Novembro de 1997 o réu comunicou à autora o falecimento de C e invocou o seu direito à transmissão do arrendamento, à

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qual a autora respondeu aceitando a transmissão do arrendamento e reclamando do réu o pagamento de uma renda condicionada no valor de 73.549$00.

O réu nada respondeu à autora nos quinze dias subsequentes ao recebimento dessa carta.

Em 29 de Dezembro de 1997 o réu enviou à autora uma carta propondo a fixação da renda condicionada em 35.000$00.

Considerando-se aceite por parte do réu a renda fixada pela autora, aquele não pagou as rendas mensais no valor de 73.549$00 cada uma, referentes aos meses de Janeiro a Novembro de 1998, inclusive.

Pediu que seja declarado resolvido o contrato de arrendamento e os réus condenados a despejar imediatamente o arrendado e as rendas vencidas, no valor de 809.039$00 e as vincendas, até efectiva entrega do locado.

Os Réus foram citados para a presente acção de despejo e apresentaram a sua contestação e juntaram duas procurações forenses, uma do Réu marido e outra da Ré mulher, passadas ambas a um Sr. Dr. Advogado, com escritório em Almada.

A acção seguiu normalmente os seus termos até ao saneador-sentença de fls.

62-68, no qual os Réus foram condenados ao despejo.

Dessa decisão recorreram os Réus de apelação e suscitou-se então, a respeito da tempestividade do requerimento de recurso, um incidente de justo

impedimento do mandatário dos Réus.

No âmbito desse incidente veio a saber-se, por comunicação da Ordem dos Advogados, que o Sr. Dr. Advogado não tinha a sua inscrição de advogado em vigor na Ordem dos Advogados, suspenso que se encontrava desde 22 de Maio de 1997.

Então juntaram os RR. procuração a favor de outro mandatário e invocaram ter sido cometida a nulidade inominada prevista no art. 201º do CPC e

pediram a anulação de todo o processado.

Na pronúncia da nulidade invocada, veio a ser proferido despacho, de fls. 88, declarando sem efeito todos os actos praticados pelo Sr. Dr. Advogado e

anulando todo o processado desde a citação dos Réus, concedendo-lhes ainda a faculdade de apresentarem nova contestação.

Notificados deste despacho, apresentou a autora recurso de agravo e os réus contestaram.

Prosseguiram os autos os seus trâmites, admitindo o agravo interposto com subida diferida, tendo a A. apresentado as suas alegações e os RR. Contra- alegações e, por fim, procedeu-se a audiência de discussão e julgamento, sendo depois proferida sentença, julgando a acção improcedente e absolvendo os réus do pedido.

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Inconformada com a decisão, veio a autora, mais uma vez, interpor recurso para este Tribunal da Relação.

Em ambos os recursos apresentou a A. doutas alegações.

As questões a resolver são as de saber

a) Quanto ao agravo: Saber se a constituição de mandatário na pessoa de advogado com inscrição suspensa na Ordem integra falta de constituição de advogado, regulada no art. 33° do Cód. Proc. Civil ou se insuficiência ou irregularidade da procuração, regulada pelo art. 40°, do mesmo Cód. e, em qualquer dos casos, como se opera a sanação da irregularidade ou falta.

b) Quanto à apelação: (…)

II. FUNDAMENTOS DE FACTO.

(…)

III. FUNDAMENTOS DE DIREITO.

a) Quanto ao agravo:

A questão que se coloca é a de saber se a constituição de mandatário na pessoa de advogado com inscrição suspensa na Ordem integra falta de constituição de advogado, regulada no art. 33° do Cód. Proc. Civil ou se insuficiência ou irregularidade da procuração, regulada pelo art. 40°, do mesmo Cód. e, em qualquer dos casos, como se opera a sanação da irregularidade ou falta.

Como acima ficou consignado, os Réus, ora agravados, foram citados para a presente acção de despejo e apresentaram a sua contestação e juntaram duas procurações forenses, uma do Réu marido e outra da Ré mulher, passadas ambas ao Sr. Dr.(J) Advogado, com escritório na R. D. ..., 2800-120 Almada, tendo a acção seguiu os seus legais termos até ao saneador-sentença de fls.

62-68, no qual os Réus foram condenados ao despejo.

Dessa decisão recorreram os Réus de apelação e suscitou-se então, a respeito da tempestividade do requerimento de recurso, um incidente de justo

impedimento do mandatário dos Réus.

No âmbito desse incidente veio a saber-se, por comunicação da Ordem dos Advogados, que o Sr. Dr. (J) não tinha a sua inscrição de advogado em vigor na Ordem dos Advogados, suspenso que se encontrava desde 22 de Maio de

1997.

Então juntaram os RR. procuração a favor de outro mandatário e invocaram ter sido cometida a nulidade inominada prevista no art. 201º do CPC e

pediram a anulação de todo o processado.

Foi então proferido o despacho recorrido, declarando sem efeito todos os actos praticados pelo Sr. Dr. (J) e anulando todo o processado desde a citação dos

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Réus, concedendo-lhes ainda a faculdade de apresentarem nova contestação.

Será que no despacho recorrido se fez correcta interpretação da lei?

O art. 33º do CPC diz que se a parte não constituir advogado e for obrigatória a constituição, o tribunal, oficiosamente, ou a requerimento da parte, notificá- lo-á para o constituir dentro de certo prazo, sob pena de o réu ser absolvido da instância, de não ter seguimento o recurso ou de ficar sem efeito a defesa.

Quer dizer: a parte que esteja a pleitear, por si ou através de mandatário não autorizado a exercer a advocacia, deve ser notificada para constituir advogado e se não o fizer no prazo estabelecido, serão considerados de nenhum efeito os actos praticados sem o mandatário judicial, designadamente com as

consequências assinaladas no preceito em análise. Mas tendo a parte, na sequência da notificação efectuada, constituído advogado, fica, desde logo, sanada a falta e o processo seguirá seus termos e sem necessidade de

qualquer ratificação do processado se os actos praticados o foram pela própria parte ou por outrem em sua representação e com os necessários poderes.

Só no caso de os actos terem sido praticados por pessoa sem poderes de representação haverá também lugar a ratificação do processado, como decorre do art. 268º do CC.

Por seu lado, o art. 40º do CPC, reportando-se à falta, insuficiência ou

irregularidade do mandato, diz que em qualquer altura do processo podem ser arguidas pela parte contrária e suscitadas oficiosamente, devendo ser fixado prazo para ser suprida a falta ou corrigido o vício e ratificado o processado, sob pena de ficar sem efeito tudo o praticado pelo mandatário e de este ser condenado nas custas e em indemnização pelos prejuízos causados se tiver agido culposamente.

Como se constata, os preceitos em estudo, contemplam campos de aplicação distintos. No primeiro a parte não está representada por mandatário

autorizado a exercer a advocacia e tudo se sana pela constituição de advogado feita dentro do prazo estabelecido pelo juiz. No segundo a parte está

representada por mandatário autorizado a exercer a advocacia, mas falta a procuração no processo ou a junta mostra-se insuficiente ou irregular e tudo se sana pela ratificação do processado e pela junção de competente

procuração dentro do prazo estabelecido.

Ora, como bem assinala a agravante, tendo no caso dos autos os Réus

constituído como seu mandatário, com procuração forense no processo, um advogado cuja inscrição na Ordem se encontrava suspensa, não há falta,

insuficiência ou irregularidade da procuração mas sim falta de constituição de advogado e essa falta é regulada pelo art. 33° do Cód. Proc. Civil, e não pelo art. 40º, ficando sanada pela junção aos autos de procuração a advogado

devidamente habilitado ao exercício da advocacia. E não há lugar à ratificação

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dos actos do primeiro mandatário, porquanto foram, ou é como se tivessem sido, praticados pelos Réus, através de mandatário constituído. Nem pode também ser declarada sem efeito a intervenção do primeiro mandatário, antes se aproveitando toda a sua actividade, que foi exercida em nome e

representação dos Réus.

Aliás é nesse sentido que se tem pronunciado a jurisprudência, nomeadamente nos casos em que os candidatos à advocacia intervêm em processos de

constituição obrigatória de advogado.

No despacho recorrido entendeu-se que se aplicava o disposto no art. 40º do CPC e além disso que havia nulidade processual, em consequência,

declarando-se sem efeito todos os actos praticados pelo Sr. Dr. (J) e anulando- se todo o processado desde a citação dos Réus, concedendo-lhes ainda a faculdade de apresentarem nova contestação.

Sucede que mesmo a entender-se que se estava no âmbito de previsão deste último preceito e que deviam ficar sem efeito os actos praticados pelo

pretenso mandatário, nunca poderia conferir-se aos Réus a faculdade de contestarem de novo. Com efeito, nos termos do art. 40º do CPC quando a falta, insuficiência ou irregularidade da procuração tenham como

consequência a ineficácia dos actos praticados pelo suposto mandatário, tudo se terá de passar como se esses actos não tivessem existido, mas não pode haver lugar para a repetição desses actos, desde que se mostre esgotado o prazo em que devessem ser praticados.

O art. 40º do CPC consagra um regime específico para a falta, insuficiência ou irregularidade da procuração, onde não há lugar para aplicação do regime geral das nulidades processuais previsto nos art.s 193º e ss. do mesmo

Código, sendo que no primeiro preceito não se comporta a possibilidade de a ineficácia dos actos praticados ter como consequência a repetição desses actos. Com efeito, seria um benefício injustificado para a parte onerada com o dever de regularizar o patrocínio, em caso de não o fazer, poder praticar

novamente os actos declarados ineficazes, mormente nos casos em que esses actos lhe tivessem sido desfavoráveis.

Ora, no caso dos actos foi o que se verificou. Com efeito, como diz a

agravante, “o que o despacho recorrido faz é beneficiar o infractor e abrir a faculdade de os Réus, tendo contestado já a acção através do mandatário por si escolhido e constituído, que agiu em nome e em representação deles e

decerto com as suas instruções, contestarem novamente – numa acção em que já foi proferida sentença que lhes é desfavorável!”.

A faculdade conferida aos RR. de apresentarem uma nova contestação, quando sempre estiveram representados por mandatário que escolheram é faculdade que a lei não contempla, designadamente no art. 40º do CPC e que

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nem, de resto, se poderia justificar dentro da lógica do processo.

Por isso, o que o despacho recorrido se devia ter limitado a fazer era

considerar suprida a falta de advogado e ordenar o prosseguimento dos autos, obviamente com aproveitamento dos actos praticados pelo mandatário dos RR.. E não ter-se anulado o processado a partir da contestação, dando origem a nova tramitação do processo até ter sido proferida a sentença, ora recorrida, e que até é de sentido contrário à inicialmente proferida.

O agravo merece, pois, provimento e tem de ser provido na medida em que a decisão recorrida veio a influenciar no exame ou decisão da causa e, em todo o caso, tem interesse para o agravante.

E tendo-se chegado a esta conclusão, fica prejudicado o conhecimento da apelação, uma vez que o provimento do agravo conduz a que o despacho

recorrido seja substituído por outro a considerar suprida a falta de advogado e ordenar o prosseguimento dos autos, ficando, assim, sem efeito todo o

processado a partir daquele despacho e que conduziu à sentença recorrida.

Procedem, por isso, as conclusões do recurso de agravo, sendo de revogar o despacho recorrido, o que conduz a que não se possa conhecer da apelação.

IV. DECISÃO:

Em conformidade com os fundamentos expostos, concede-se provimento ao agravo e considerando-se suprida a falta de advogado, revoga-se o despacho recorrido, que deverá ser substituído por outro a ordenar o prosseguimento dos autos, com os efeitos acima descritos. E não se conhece da apelação.

Custas pelos agravados.

Lisboa, 8 de Julho de 2004.

FERNANDO PEREIRA RODRIGUES FERNANDA ISABEL PEREIRA MARIA MANUELA GOMES

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