EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA 10ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE FORTALEZA
Ação Civil Pública nº 0226170-82.2020.8.06.0001 A.: Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará RR.: COLÉGIO SANTA CECÍLIA e outros
COLÉGIO SANTA CECILIA, inscrito no CNPJ nº 10.847.762/0007- 77, localizado na Avenida Senador Virgílio Távora, nº 2000, CEP 60170-078, Fortaleza - CE;
representado por seus advogados que esta subscrevem (procuração já nos autos), vem à presença de Vossa Excelência, com supedâneo no art. 1.022 do CPC, opor EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO e a EXCEÇÃO DE IMPEDIMENTO com fundamento nos artigos 144, VII e 145, III e IV do Código de Processo Civil, em face do Juiz de Direito da 10ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza, Dr. MAGNO GOMES DE OLIVEIRA, pelas razões de fato e de direito a seguir articuladas:
DOS FATOS E DO DIREITO
O EXCIPIENTE teve ciência de que Vossa Excelência, na condição de pais de alunas, subscreveu eletronicamente uma carta a si dirigida, intitulada CARTA DOS PAIS E RESPONSÁVEIS AO COLÉGIO SANTA CECÍLIA, na qual está declarado o que segue (documento anexo):
Caros Diretores e/ou responsáveis,
É de largo conhecimento que a pandemia pelo COVID-19 no Brasil e no mundo tem abalado
os mais diversos setores da sociedade civil, cujos impactos não se restringem à saúde pública, mas têm provocado a desaceleração da economia global. Isso se dá, principalmente, em razão do plano de conngência do novo Coronavírus – quarentena – imposto pelos governos estaduais, surgindo uma preocupação dos parculares com as consequências que a pandemia causará nas relações jurídicas já estabelecidas, dentre as quais os contratos educacionais.
O contrato de adesão firmado entre a instuição desnatária e os pais e/ou responsáveis pelos alunos matriculados tem como objeto a prestação connuada de serviços educacionais, presenciais, durante os meses de janeiro a dezembro de 2020, tendo como contraprestação o pagamento das mensalidades, conforme os valores, formas e condições pré-estabelecidas no mencionado contrato.
Todavia, durante o período da quarentena, que se iniciou oficialmente no dia 18/03/2020, as aulas presenciais foram suspensas pela escola, que posteriormente optou pela antecipação das férias escolares referentes ao mês de julho, visando a connuidade do ano levo e minimização dos prejuízos decorrentes da atual crise. Entretanto, em que pese tal medida adotada pela instuição de ensino, sabe-se que a crise do COVID-19 já ultrapassa o período de trinta dias previsto para o gozo de férias escolares, estendendo-se por período incerto, momento em que a escola terá, de fato, uma redução significava de gastos.
Nesse período, os custos da instuição de ensino reduzem substancialmente, vez que não haverá a ulização dos espaços comuns pelos alunos, tais como, salas de aula, biblioteca, laboratório, quadras, auditórios, e de toda a infraestrutura de pessoal e apoio sico que regularmente teriam, impactando na diminuição dos gastos escolares, redução esta que, equitavamente, deverá ser repassada na mensalidade escolar.
Nesse sendo, a revisão das cláusulas e condições pré-estabelecidas no instrumento
parcular é medida essencial para a manutenção do contrato e para o restabelecimento do equilíbrio contratual entre a instuição educadora e os estudantes, vez que estes – seus pais ou responsáveis - veram seus rendimentos seriamente afetados pela crise do COVID-19.
Durante esse período, aguardamos que a escola encontre medidas, no intuito de assegurar a connuidade do ano levo, razão pela qual é necessário que o colégio Santa Cecília, a quem confiamos nossos filhos, busque medidas, garanndo a adequada metodologia pedagógica, para com isso não seja gerado demasiado prejuízo aos alunos, obviamente atentando para as diversas realidades dos estudantes de acordo com as séries, idades e respecvas necessidades, como forma de garanr a connuidade da prestação do serviço.
Por outro lado, é medida urgente e imprescindível a readequação/revisão do contrato outrora firmado para com a instuição de ensino, devido a alteração nas condições de cumprimento do mesmo que, por parte da escola já foram concrezadas com a suspensão da prestação do serviço, devendo, dessa forma, adequarem-se também aos estudantes, com a redução proporcional das mensalidades, de forma escalonada e justa, conforme determinação dos argos 478 e 480 do Código Civil.
Portanto, com base em todo o arcabouço fáco acima exposto, os pais e/ou responsáveis pelos
Ensinos Médio e Fundamental,e isenção total ou paralisação das cobranças das mensalidades para os alunos do Ensino Infantil, enquanto durar o plano de conngência do Coronavírus, de forma a se restabelecer o equilíbrio contratual e a evitar que se firme uma onerosidade excessiva para uma das partes, bem como a suspensão temporária das demais contratações dos serviços extracurriculares.
Desde já, confiantes no compromisso do Colégio Santa Cecília para com seus alunos, pais e responsáveis, aguarda-se posicionamento.
Fortaleza, 22 de abril de 2020
Os nomes abaixo são de pais e responsáveis de alunos do Colégio Santa Cecilia que devem ser compreendidos como assinatura virtual e anuência dos termos desta correspondência por:
[ seguem-se os subscritores]
Dentre os 300 signatários da carta, encontram-se Vossa Excelência e seu cônjuge, ambos genitores de alunas do estabelecimento de ensino EXCIPIENTE, postulando em interesse próprio a "...redução proporcional das mensalidades, na ordem de 50% (cinquenta porcento) para alunos dos Ensinos Médio e Fundamental e isenção total ou paralisação das cobranças das mensalidades para os alunos do Ensino Infantil, enquanto durar o plano de contingência do Coronavírus".
Deixa o EXCIPIENTE de juntar aos autos, ao menos neste momento, a listagem de assinaturas virtuais, posto que contém dados pessoais sensíveis.
A EXCIPIENTE traz aos autos os correspondentes dois CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS (documentos anexos) firmados com Vossa Excelência e sua esposa, que comprovam o vínculo jurídico havido entre EXCIPIENTE e EXCEPTO, exclusivamente para os fins de atendimento aos requisitos do art. 145, III e IV do CPC
DA SUSPEIÇÃO
Ante tais fatos, tem-se como certo que a imparcialidade objetiva e a subjetiva foram violadas flagrantemente por Vossa Excelência ao atuar no feito e notoriamente decidir em interesse próprio.
Vossa Excelência pisoteou a justiça, ao proferir uma decisão parcial, atingindo no coração o Estado Democrático de Direito, assegurado na Carta Constitucional em seu artigo 1o.
Trata-se, indubitavelmente, de situação claríssima de suspeição, o que desemboca na nulidade processual.
Primeiramente, o EXCIPIENTE é credor de Vossa Excelência e de seu cônjuge, consoante comprovam os inclusos CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS 2020 anexados.
Em segundo plano, Vossa Excelência, além de interessado no julgamento da causa, decidiu em proveito próprio, pois tinha um manifesto pleito extrajudicial desfavorável à EXCIPIENTE, traduzido no abaixo-assinado.
Claramente dispõe o Código de Processo Civil:
Art. 145. Há suspeição do juiz:
III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive;
IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes.
Assim, já se encontra patente que Vossa Excelência agiu com absoluta parcialidade no feito, o que acentua o grau máximo de suspeição.
DO IMPEDIMENTO
Como se não bastasse, o EXCIPIENTE é uma instituição de ensino e, daí decorre um vínculo contratual de prestação de serviços educacionais, no qual Vossa Excelência é beneficiária.
Cristalino no CPC, art. 144, VII, a configuração de impedimento.
Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo:
VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha
O manejo das exceções em tela configura louvor aos princípios éticos e jurídicos que o jurisdicionado espera da pessoa do magistrado, sendo inaceitável, sob qualquer ângulo que se olhe a questão, que um juiz decida uma demanda contra parte, com quem mantém manifesto interesse próprio, aqui traduzido no abaixo-assinado e nos vínculos objetivos decorrentes dos contratos de prestação de serviços firmados.
"A imparcialidade do julgador é requisito processual de validade;
portanto, o ato do juiz parcial é ato que pode ser invalidado", ensina Fredie Didier Jr, in Curso de Direito Processual Civil, vol. 1, Ed.Jus Podivm, 18a. ed, p. 681, constituindo- se também matéria de ordem pública.
Com efeito, a decisão judicial vergastada é nula, ao ser proferida por Vossa Excelência, na condição de impedido.
Nesse sentido, o Egrégio TRF-2, já decidiu:
EMENTA
EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. JUIZ FEDERAL.
PROLATOR DA DECISÃO IMPUGNADA. ATUAÇÃO ANTERIOR NO PROCESSO. PROCURADOR DA FAZENDA NACIONAL.
IMPEDIMENTO. NULIDADE DA DECISÃO.
1. É possível observar dos documentos que acompanham o presente recurso, concernentes à execução fiscal originária, que o Magistrado prolator da decisão impugnada atuou no processo na condição de Procurador da Fazenda Nacional, o que configura o impedimento previsto no artigo 134, IV, do Código de Processo Civil/73.
2. Considerando que o impedimento é matéria de ordem pública, deve ser conhecida de ofício pelo Tribunal para anular a decisão em comento, a fim de que outro magistrado examine as exceções de pré- executividade apresentadas pelos recorrentes.
3. Agravo de instrumento conhecido e parcialmente provido." (TRF-2 000372866201440020000 RJ 0003728-66.2014.4.02.0000. Relator:
CLAUDIA NEIVA, Data de Julgamento: 15/03/2016. 3ª TURMA ESPECIALIZADA)
DO PEDIDO
Diante do exposto, requer-se o reconhecimento do impedimento e da suspeição de Vossa Excelência, com a consequente suspensão do processo, na forma do art. 313, III do CPC e o processamento do feito, na forma legal.
Não sendo esse o entendimento, almeja a autuação deste arrazoado como figura processual de incidente de suspeição e de impedimento, onde pede-se que esse Magistrado ofereça, no prazo de (15) quinze dias, as razões que o convence de forma contrária, com a posterior remessa dos autos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (CPC/2015, art. 146, § 1º, segunda parte) para o devido julgamento.
Protesta pela a produção de prova por todos os meios admitidos em direito (art. 5º, inciso LV, da Lei Fundamental), notadamente pelo depoimento pessoal das partes, oitiva de testemunhas a serem arroladas oportuno tempore, e se necessário for, juntada posterior de documentos como contraprova, tudo de logo requerido.
Nestes termos Pede deferimento
Fortaleza - CE, 7 de maio de 2020.
Francisco Helder Alves do Nascimento OAB-CE 8.638
