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CONSOLIDANDO UMA REDE DE COLABORAÇÃO SOLIDÁRIA NA BAHIA: O CASO DA REDEMOINHO

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CONSOLIDANDO UMA REDE DE COLABORAÇÃO SOLIDÁRIA NA BAHIA: O CASO DA REDEMOINHO

Por Diogo Rêgo

Este texto nos apresenta a história da RedeMoinho – Cooperativa de Comércio Justo e Solidário a partir do relato de um membro desta, carinhosamente chamada, Rede. Faz ainda um paralelo da experiência da RedeMoinho com grupos de consumo da Espanha e Portugal.

O COMEÇO

O sonho da RedeMoinho começou a partir da iniciativa para criação de um grupo de consumo, sendo alimentada pelo desejo de pessoas praticarem o consumo responsável sem terem que pagar um preço absurdo por isso nos poucos lugares existentes na capital baiana (nenhum com a bandeira do consumo responsável até então), e aproveitando o forte caráter produtivo que a Bahia tem no interior do Estado com muitos produtos de qualidade e com uma variedade impressionante.

O BanSol – Associação de Fomento à Economia Solidária, que atuava na assessoria a empreendimentos de economia solidária, e a Colivre – Cooperativa de Tecnologias Livres, que trabalha com a construção de softwares em plataformas livres, começaram uma relação de parceria e troca de serviços no ano de 2007. Nela a Colivre prestava assistência técnica aos computadores do BanSol, mas o BanSol não tinha nenhum serviço a prestar a Colivre em troca, pois muitos membros da Colivre foram ex-membros do BanSol, levando o conhecimento da associação para dentro da cooperativa recém-formada Sendo assim, a Colivre demandou ao BanSol que este organizasse um processo de compras coletivas entre os membros das duas organizações. Com o passar do tempo esta proposta não conseguia sair do papel pois a dedicação para organizar um processo como este exigiria bastante tempo e um certo montante de recurso. Então, em janeiro de 2008, foi fomentada a criação de uma cooperativa de consumo para dar sustentação a este processo de compras coletivas. Entretanto, a equipe inicial da

“cooperativa” somente se formou em abril deste mesmo ano e as primeiras compras foram feitas em novembro de 2008.

Após 6 meses a sua primeira feira houve a adesão de novas pessoas para a organização deste grupo de consumo. A partir de então passamos a fazer feiras semanais!

Este foi um momento importante para a Rede, de muitos acertos e desacertos. Passamos por problemas de desabastecimento dos produtos, em especial os hortifrutis, mas conseguimos superar as dificuldades.

A Transformação para uma Rede

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Durante o processo percebemos que somente trabalhar sendo uma cooperativa estritamente de consumo limitava a nossa atuação e desejo, na medida que os grupos tinham necessidades de serviços anteriores a fase de comercialização de seus produtos para consumo. Além disso nossa proposta é atender pessoas que não são cooperadas apenas. Sendo assim a antiga cooperativa de consumo virou a RedeMoinho – Cooperativa de Comércio Justo e Solidário, virando uma cooperativa de serviços na área do Comércio Justo e Economia Solidária, tendo na produção e consumo de produtos da agricultura familiar, agroecológicos e da Economia Solidária seu principal objetivo. Atuamos em duas frentes, uma com o produtor, buscando ampliar a sua venda e dando o suporte necessário para a comercialização, e a outra frente com o consumidor, buscando produtos que este tenha interesse.

Mas por quê este nome? RedeMoinho é um símbolo que representa bem os nossos ideais, pois remete à natureza transformadora. Assim como a rede representa a relação entre os seres humanos, o moinho nos remete ao trabalho e a produção. E este é o conceito base da nossa cooperativa (rede+moinho = redemoinho) que nasceu do sonho de se criar uma estrutura de comercio diferente, integrando consumidores e produtores numa relação de confiança, transparência e parceria, com base nos princípios da economia solidária, do comércio justo e do consumo responsável.

E março de 2010 houve a primeira reunião da RedeMoinho enquanto uma Rede, com os produtores já parceiros na época onde foi explicada a mudança de rumo do grupo e convidando- os para fazerem parte da cooperativa. Três meses depois houve outra reunião, mas desta vez tendo as pessoas, tanto da zona rural como urbana, produzindo e consumindo dentro dos princípios do comércio justo e solidário, como associadas. Os produtores eram todos do Estado da Bahia, de diversas regiões, boa parte já participavam de espaços comuns de articulação e produziam sobretudo alimentos. Estavam organizados ainda em grupos, de diferentes tamanhos, mas que tinham diretrizes polítcas comuns.

Vale salientar que também nos identificamos enquanto cooperativa, mesmo não sendo legalizada ainda enquanto tal, pois entendemos que é o formato jurídico ideal para as ações que a Rede quer realizar e por também estarmos de acordo com os princípios do cooperativismo.

Neste mesmo período pela primeira vez a Rede passou a ter pessoas trabalhando exclusivamente nela, no que chamamos de Secretaria Executiva. Porém, concomitante a esta vitória de ter uma equipe fixa na rede, vieram algumas dificuldades ocasionado por uma série de imprevistos. No final de 2010 e começo de 2011 passamos momentos difíceis. Ocorreram 2 mudanças de sede em apenas 6 meses e ainda fomos roubados. Além disso as vendas da Rede estavam caindo assustadoramente pelo difícil acesso aos locais das sedes As coisas precisavam ser repensadas e assim foram! Na reunião de planejamento da Rede em janeiro de 2011 foi decidido que iríamos suspender as feiras de sábado e focar na abertura de uma loja virtual.

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A criação de nosso site

Entre março e maio a Rede passou por uma reformulação, foi repensada e se aperfeiçoou para melhor atender seus associados, parceiros e consumidores.

Com isso em maio de 2011 foi inaugurado o nosso site (www.redemoinho.coop.br) com um espaço para pedidos. A partir deste momento passamos a pedir os hortifrutis com base em pedidos anteriormente feitos, evitando com isso desperdícios).

Houve de imediato um aumento nos pedidos e estimulou que novas pessoas se aproximassem da rede, o que serviu de estímulo para a consolidação desta ligação direta entre produtores e consumidores e para a melhoria na qualidade dos produtos a partir dos “feedbacks” recebidos.

Também neste período começamos a fazer parte da Rede de Coletivos de Consumo Responsável criada em agosto, e da Plataforma Faces do Brasil e da Coordenação Executiva do Fórum Brasileiro de Economia Solidária.

Atualmente a RedeMoinho está num processo de melhorar os seus serviços, aperfeiçoar o processo produtivo existente nos grupos e ampliar a diversidade de produtos. i

OBJETIVO DA REDE

A Cooperativa tem como principal objetivo a criação de uma Rede de Colaboração Solidária (RCS) visando a promoção econômica e social por meio de ajuda mútua, libertando os produtores e consumidores do comércio intermediarista, através da comercialização e beneficiamento de produtos oriundos de uma produção socialmente justa, ambientalmente sustentável e biologicamente saudável, tendo em vista a melhoria de qualidade e preço dos mesmos ou facilidades no seu abastecimento.

A cooperativa segue os princípios da economia solidária, comércio justo, agricultura familiar e agroecologia. Para isso, fomentamos internamente na rede a colaboração entre os cooperados, produtores e consumidores, tendo o consumo responsável como um ato político e consciente de mudança social e de fortalecimento mútuo para a transformação e melhoria da qualidade de vida das pessoas e as comunidades onde elas estão inseridas.

O objetivo básico dessas redes é remontar de maneira solidária e ecológica as cadeias produtivas: a) produzindo nas redes tudo o que elas ainda consomem do mercado capitalista:

produtos finais, insumos, serviços, etc; b) corrigindo fluxos de valores, evitando realimentar a produto capitalista, o que ocorre quando empreendimentos solidários compram bens e serviços de empreendimentos capitalistas; c) gerando novos postos de trabalho e distribuindo renda, com a organização de novos empreendimentos econômicos para satisfazer as demandas das próprias redes; d) garantindo as condições econômicas para o exercício das liberdades públicas e privadas eticamente exercidas. O reinvestimento coletivo dos excedentes possibilita reduzir progressivamente a jornada de trabalho de todos, elevar o tempo livre para o bem viver, aprimorar o padrão de consumo de cada pessoa e agregar valor aos produtos dos grupos

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atuantes da rede (MANCE, 2000).

Percebam que o consumo é um dos elementos centrais da Rede. No início da cooperativa havia uma preocupação em fazer um trabalho permanente de sensibilização para o consumo responsável e comércio justo com os cooperados e outros interessados em consumir na Rede, porém isto não foi priorizado e não foi feito em sua plenitude como desejaríamos. Estamos em busca da realização de atividades periódicas, principalmente com os consumidores, visando a sua sensibilização para a prática do consumo responsável. Evoluímos em alguns materiais de comunicação visando esta sensibilização, mas sabemos que isto apenas não cumpre o seu papel.

JUSTIFICATIVA PARA CRIAÇÃO DA REDEMOINHO

Um dos grandes desafios para os produtores da agricultura familiar e economia solidária é a comercialização. Em ambos os casos há uma dependência muito forte do atravessador.

A Senaes – Secretaria Secretaria Nacional de Economia Solidária, em conjunto com o FBES - Fórum Brasileiro de Economia Solidária realizaram um mapeamento da Economia Solidária que se iniciou em 2006 e está em andamento ainda hoje. Foram registrados mais de 1660 grupos produtivos que trabalham sobre esta lógica no Estado da Bahia, em números absolutos perde apenas para São Paulo, Rio Grande do Sul e Ceará. Considerando a importância da Economia Solidária para geração de trabalho e renda, os números se mostram bastante significativos para o desenvolvimento do estado. Cerca de 65% destes grupos trabalham na zona rural. Se por um lado os números refletem uma oferta bastante extensa de produtos, por outro, a dificuldade de comercialização destes mostra uma realidade bastante árdua. Desses grupos cerca de 70%

remuneram em menos de 1 salário mínimo seus trabalhadores e 65% deles apontam a comercialização como a principal dificuldade a ser superada.

Diante dessa situação, os produtores ficam obrigados a venderem para os atravessadores, o que os tornam vulneráveis, seja pelo pagamento muito aquém do preço adequado, ou ainda pela descaracterização dos seus produtos. No intuito de articular a produção e consumo, surge a idéia da construção desta cooperativa para a comercialização desses produtos, atenuando os prejuízos causados pela ação dos atravessadores, e levando ao desenvolvimento do segmento.

Em relação a agricultura familiar, de acordo com o IBGE (2009), os Agricultores Familiares (AF) representam 87% do total de estabelecimentos rurais baianos, e ocupam 34% da área total e são representam 76% da População Economicamente Ativa rural do Estado e são responsáveis pela produção de 77% do nosso alimento. Recebem, no entanto, cerca de 25% do financiamento destinado a agricultura. A Bahia possui a maior número de agricultores familiares do Brasil, ou seja, 15% dos agricultores familiares brasileiros estão na Bahia.

Porém nem sempre estes números em nossos Estados se refletem em uma condição digna para estes produtores e produtoras rurais, pois ainda segundo o IBGE (2009) 46% são pobres (renda per capta < R$ 140,00/mês) e 18% são extremamente pobres (renda per capta < R$ 70,00/mês).

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Enquanto que no restante do Brasil o Rendimento Médio da AF (R$/ha/ano) chega a R$ 1.462,00, na Bahia são de apenas R$ 375,00. Mesmo assim todos estes números da Agricultura Familiar na Bahia são maiores que o da agricultura não familiar.

Mesmo com números que demonstram a importância da AF para a soberania alimentar na Bahia e no Brasil, percebe-se que estas pessoas se encontram em situação de fragilidade econômica e dependem das políticas direcionadas a esse setor, um destes resultados mais visíveis atualmente é a alta no preço dos alimentos brasileiros.

Esta situação é dramática mas não irreversível, pois ultimamente surge a nível global e também no Brasil a consciência dos consumidores. Segundo o Instituto Akatu (2006) cerca de 30% dos consumidores brasileiros tem uma tendência a consumir de forma consciente, ou seja, se preocupando com o ato de consumir em três etapas: compra (escolha), uso e descarte. Destes 20% já praticam o consumo consciente em seu cotidiano. Estes consumidores atualmente estão desorganizados e sem uma referência para praticarem suas compras baseados nesses princípios.

Estas pessoas em geral têm uma média de idade que não envolve a terceira idade, pois esta prática de consumo responsável é recente (CENTRO VIRTUAL DE COMÉRCIO JUSTO, 2007).

Este público tem uma postura de vida não materialista, escolhem profissões de maior retorno intelectual que financeiro, e por isso sua relação de consumo não é financeira. Eles também têm uma forte percepção do impacto do meio ambiente sobre a própria saúde (SEBRAE, 2004;

AKATU, 2006).

Segundo o Sebrae (2004), esses consumidores moram em cidades médias e grandes, onde há um poder aquisitivo maior. Atualmente já existe pessoas que querem consolidar uma rede, e é necessário a criação de uma entidade que fomente as redes a nível local. A importância dela na consolidação desta rede se dá no rompimento da lógica do individualismo e competição, tendo um ator que incentive outras pessoas e coletivos a atuarem sobre um outro viés.

Mesmo com os benefícios da atuação em rede, segundo o mapeamento dentre os grupos de Economia Solidária (e que não deve ser exceção dentro dos movimentos sociais em geral) apenas 50% dos grupos participam de alguma rede. Isso é resultado da necessidade imediata por retorno material, fazendo com que as ações que tem resultados a médio e longo prazo não tenham prioridade.

O FUNCIONAMENTO DA REDEMOINHO

Abaixo veremos a filosofia geral que guia as ações da Rede Moinho, além da metodologia de atuação da própria rede com/entre os seus associados.

Partimos do princípio das Redes de Colaboração Solidária (RCS). Considerando o seu aspecto econômico, trata-se de uma estratégia para conectar empreendimentos solidários de produção, comercialização, financiamento, consumidores e outras organizações populares (associações, sindicatos, ONGs, etc) em um movimento de realimentação e crescimento conjunto, auto-

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sustentável, antagônico ao capitalismo (MANCE, 2000).

As RCS é uma forma de organização de pessoas e grupos que buscam gerar alternativas de auto- sustentação comprometida com a transformação estrutural da sociedade, conectando seus anseios políticos e suas ações de produção e consumo em uma ampla rede de colaboração solidária. A proposta é que grupos que comunguem dos mesmos valores possam se juntar e criar um mercado alternativo, com a circulação de informação/conhecimento, valor e produtos, gerando consigo trabalho e renda aos participantes, além de promover uma articulação política dos mesmos (MANCE, 2000).

Quando uma RCS é organizada, ela passa a atender demandas imediatas da população por trabalho, melhoria no consumo, educação, reafirmação da dignidade humana das pessoas e do seu direito ao bem-viver, ao mesmo tempo em que combate as estruturas capitalistas de exploração e dominação responsáveis pela pobreza e exclusão, e começa a implantar um novo modo de produzir, consumir e conviver em que a solidariedade está no cerne da vida (MANCE, 2000).

As Redes de Colaboração Solidária, portanto: a) permitem aglutinar diversos atores sociais em um movimento social orgânico com forte potencial transformador; b) atendem demandas imediatas desses atores por emprego de sua força de trabalho e por satisfação de suas demandas por consumo, entre outras; c) negam estruturas capitalistas de exploração do trabalho, de expropriação no consumo e de dominação política e cultural, e d) passam a implementar uma nova forma pós-capitalista de produzir e consumir, de organizar a vida coletiva afirmando o direito à diferença e à singularidade de cada pessoa, promovendo solidariamente as liberdades públicas e privadas eticamente exercidas (MANCE, 2000).

Eticamente, as RCS promovem a solidariedade, isto é, o compromisso pelo bem viver de todos, o desejo do outro em sua valiosa diferença, para que cada pessoa possa usufruir, nas melhores condições possíveis, das liberdades públicas e privadas. Desejar a diferença significa acolher a diversidade, de etnias, de religiões e credos, de esperanças, de artes e linguagens, em suma, acolher as mais variadas formas de realização singular da liberdade humana que não neguem as liberdades públicas e privadas eticamente exercidas. Promover as liberdades significa garantir às pessoas as condições materiais, políticas, informativas e educativas para uma existência ética, solidária. É esse o objetivo maior das Redes de Colaboração Solidária.

Segundo Mance (2003), quatro são os critérios básicos de participação na rede: a) que nos empreendimentos não haja qualquer tipo de exploração do trabalho, opressão política ou dominação cultural; b) busque-se preservar o equilíbrio ecológico dos ecossistemas (respeitando- se todavia a transição de empreendimentos que ainda não sejam ecologicamente sustentáveis); c) compartilhar significativas parcelas do excedente para a expansão da própria rede; d) autodeterminação dos fins e autogestão dos meios, em espírito de cooperação e colaboração.

Entendemos que assim como há a transição para a agroecologia e para a economia solidária,

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também estamos num processo de consolidação da Rede com todos os princípios que almejamos, ou seja, alguns dos itens acima não estão plenamente consolidados dentro da RedeMoinho.

A realidade do cotidiano

A realidade da cooperativa, ou seja, o seu dia a dia, mudou bastante desde a sua primeira reunião, na sala das casas dos fundadores e fundadoras, até hoje. Atualmente estamos localizados em um território, que é o Bairro do Santo Antônio, em Salvador. Temos como desafio envolver mais as pessoas do bairro na dinâmica da Rede, além de darmos nossa parcela de contribuição para transformar este território na mesma medida em que somos transformados.

Para as pessoas fazerem parte da Rede há um estímulo para que tanto os consumidores como os produtores se envolvam e fomentem esta relação direta entre produtores e consumidores. Para os consumidores, por exemplo, após um ano de compras na rede o(a) consumidor(a) associado tem direito a um bônus em novas compras de 10% do valor total consumido na Rede no período. No final de 2011 se deliberou em reunião geral que cada consumidor para se configurar enquanto associado deve consumir, ao menos, R$ 360,00 no ano, participar das atividades e dedicar voluntariamente uma parte de seu trabalho na Rede. Já para os produtores há a diluição dos custos operacionais ligados a comercialização principalmente para acesso a mercados e promoção dos seus produtos em Salvador , pois a Rede sempre participa de feiras e eventos, além da constante busca por apoios e projetos para investir no processo produtivo e nos produtos dos associados. Neste ponto tentamos investir no aumento da diversidade de produtos e maior qualificação dos próprios produtos, comprando equipamentos e investindo em embalagens que comuniquem melhor o produto e consiga condicioná-lo de forma mais adequada.A parceria com uma empresa de design neste sentido é fundamental também para a construção de materiais de (in)formação e sensibilização para os consumidores.

Uma outra iniciativa da Rede, que partiu dos próprios produtores, é a adoção de um Fundo Rotativo Solidário (FRS). O FRS é uma metodologia de apoio financeiro às atividades produtivas de caráter associativo mediante compromissos devolutivos voluntários, considerando formas flexíveis de retorno monetário ou de equivalência por produtos ou serviços, ou ainda, sem retorno, dirigidos para o atendimento de comunidades ou grupos associativos produtivos que adotam princípios de gestão compartilhada e convivência solidária. Na RedeMoinho com a captação de recurso em projetos tanto com organizações da sociedade civil como através das políticas públicas, foi encaminhado que todo o recurso disponível e executado para equipamentos deveria ser devolvido em produtos ou dinheiro para um fundo coletivo para ser reinvestido em equipamentos para outros grupos da rede. O prazo para devolução é de até 4 anos e não há juros.Esta é uma importante iniciativa para nos tornarmos independentes com relação ao investimento para a melhoria e aumento da diversidade dos próprios produtos.

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Para intensificar a interação entre os associados fazemos intercâmbios sempre que possível. A estrutura destes intercâmbios pode variar de acordo com cada contexto. Alguns grupos da Rede fazem atividades festivas de divulgação de seus produtos e de suas cadeias produtivas periodicamente como as festas e festivais do umbu, licuri e da cachaça, por exemplo. Sempre que possível fazemos reuniões e atividades da Rede nestes eventos.

A forma como é construíido o preço também fortalece as relações entre os membros. O desafio constante é adotarmos um preço justo ao mesmo tempo que buscamos tornar a cooperativa viável economicamente, mesmo assim a precificação dos produtos da Rede sofreu poucas variações com o tempo. No começo adotávamos uma taxa única de 30% para todos os produtos, mas com o tempo os custos da cooperativa aumentaram devido a proposta de crescimento da mesma, com o pagamento de aluguel, aumento nos custos operacionais (ligações, comunicação), e necessidade de pessoas trabalhando em sua estrutura, com isso a taxa média cobrada “em cima” dos produtos é de 50% atualmente. Essa porcentagem incide em cima do valor do produto e é adicionado ao preço final eventuais custos decorrente do transporte deste produto, ou seja, os produtos tem a seguinte composição de preço: preço de compra (pago ao produtor) * taxa da cooperativa (50%) + mais custos operacionais do produto (transporte principalmente) = valor de venda. Mesmo com este aumento a maior parte dos produtos da cooperativa se mantém com um preço abaixo do de mercado (principalmente nos produtos orgânicos).

É importante ressaltar que há uma avaliação permanente dos preços praticados pelos produtores na tentativa de adoção de um preço justo para quem consome e para quem produz o produto. Por falta de uma equipe técnica a adoção do preço justo tem sua limitação, pois não conseguimos fazer um estudo detalhado e formativo com o produtor para construir de forma mais objetiva esta precificação . Alguns produtos que estão com um preço muito acima do preço praticado pelo mercado procuramos junto ao produtor entender a composição do preço para a partir daí diminuir ou repassar os motivos do aparente alto preço ao consumidor. A negociação é feita na base do diálogo e o preço final é construído conjuntamente. As condições de pagamento são negociadas da mesma forma, como a cooperativa não possui capital de giro, então vemos quais produtores tem condições de receberem seu pagamento à vista (que seria o ideal) e qual tem condição de receber a prazo. É importante destacar que as compras à prazo são mais viáveis para se pedir em grande quantidade, barateando assim os custos de transporte.

A divulgação da RedeMoinho é feita basicamente por e-mail, inclusive a divulgação da distribuição dos produtos. Sabemos da limitação deste meio de comunicação, mas é a forma que tem um melhor custo benefício e pode ser feito sem disponibilizar uma pessoa para tratar exclusivamente desta área. O site tem papel central na estruturação da comunicação da Rede, concentrando lá informações sobre os produtos, produtores, como entrar na rede, como chegar em nossa sede, notícias, dentre outras questões que consideramos importantes. As pessoas devem fazer o pedido antecipadamente no site para assegurar os seus produtos que são entregues semanalmente aos

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sábados. As pessoas podem pegar os seus produtos na sede ou recebê-los em casa mediante a cobrança de uma taxa de entrega. Estamos em um processo de estímulo a retirada dos produtos na própria sede, principalmente para os moradores do bairro.

Por fim, a RedeMoinho procura sempre participar dos espaços do que podemos chamar de

“construção política”. Consideramos que somente a articulação em rede com outros grupos possibilitará alguma mudança sistêmica na estrutura desta sociedade. Atualmente participamos do Fórum Baiano de Economia Solidária, do Faces do Brasil, e dos Conselhos Estaduais de Seguranças e Soberania Alimentar (CONSEA) e de Economia Solidária (CEES). Além disso fazemos parte de uma articulação de uma Rede Nacional de Grupos de Consumo Responsável.

Em resumo as estratégias para consolidar esta rede estão elencadas abaixo, umas implementadas, outras em fase de implementação, e ainda há algumas a serem implementadas:

• aliar a articulação política com o retorno material;

• haver direitos e deveres claros para todos, prezando por seu cumprimento, mantendo sempre a democracia e a transparência em sua gestão;

• realizar encontros gerais da rede;

• pensar em formas de gerar comodidade ao consumidor, melhorando o serviço (implementação de entrega a domicílio, por exemplo, que está sendo estudada) e aumento da diversidade de produtos;

• estimular o casamento entre oferta e demanda na rede;

• buscar a consolidação dentro da rede de instrumentos de comunicação interna eficazes, estando de acordo com a realidade dos grupos;

• criar mecanismos de interação com o público externo a rede, atraindo mais pessoas para ela;

• promover formações, visando a sensibilização para a atuação em rede e o fortalecimento disto enquanto estratégia de superação das dificuldades econômicas, políticas e sociais;

• promover a criação de um sistema de trocas, baseados em serviços, produção e consumo;

• dialogar com outras redes da região e outros grupos de consumo a nível nacional;

• relevar a importância do local (cultura, social, econômica), tendo uma rede flexível a atenta a dialogar com as diferenças;

Percebe-se que a gestão da rede não é uma mera soma de relações econômicas entre os empreendimentos, merecendo, portanto, uma gestão própria, que é a RedeMoinho. Com isto, esta gestão faz com que consigamos aliar o atendimento da necessidade material com a atuação em rede, visando romper a dependência com o sistema econômico dominante.

A Gestão da RedeMoinho

A busca na RedeMoinho pela autogestão é constante, portanto buscamos a transparência em suas ações para que democraticamente seus membros fiscalizem e contribuam em suas ações.

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Cada pessoa que se relacione na rede terá direitos iguais de voz e voto em suas decisões.

Temos na Rede uma secretaria executiva que faz a gestão cotidiana da Rede. Atualmente a cooperativa conta com uma equipe fixa de 3 pessoas, sendo um de forma inteiramente voluntária, outro recebe de acordo com o volume de receitas do mês, e outro recebe uma ajuda de custo fixa mensal. A Cooperativa busca projetos para atuar com os produtores para aperfeiçoar e diversificar o seu processo produtivo, e também para manter uma equipe maior e multidisciplinar para operacionalizar as ações da RedeMoinho.

Para tornar esta gestão colegiada há um comitê gestor do Fundo Rotativo Solidário que acaba na prática se misturando com um comitê de gestão dos projetos e da própria RedeMoinho.

A proposta é que num curto prazo todos os cooperados que dedicarem suas horas para a cooperativa terão estas horas computadas num banco de horas, que será trocado por produtos e/ou serviços dentro da própria rede, mas isto ainda é uma construção.

A Rede, historicamente, se divide nas seguintes atividades:

- Administrativo/ financeiro: gere os recursos financeiros, inclusive planejando investimentos, avaliar e efetua o pagamento.

- Relação com o produtor: contacta os produtores, faz pedidos, prospectar novos fornecedores, mapeia a necessidade desses grupos, estrutura a logística de recebimento dos produtos, condicionamento dos produtos, controle de estoque.

- Relação com o consumidor: recebe pedidos, prospecção de novos consumidores, organização das feiras semanais, entrega dos pedidos.

Na prática muitas vezes estas ações são executadas por todos da secretaria executiva e conta com o apoio pontual de alguns voluntários e cooperados, embora haja a divisão de responsabilidades por áreas, ou seja, quanto menor a equipe menos esta divisão acontece na prática.

O PARALELO COM OS GRUPOS DE CONSUMO DE PORTUGAL E ESPANHA

Este parágrafo é fruto de uma vivência deste que vos escreve que pesquisou por um mês grupos de consumo responsável na Espanha (País Vasco e Madrid) e Portugal. Foram entrevistados 9 grupos de consumo responsável, sendo 06 na Espanha e 03 em Portugal.

No Brasil o debate em torno do consumo responsável é bastante novo. No movimento de economia solidária, por exemplo, é recente a aparição destes grupos de forma organizada. No último encontro dos grupos de consumo responsavel brasileiros, ocorrido em agosto de 2013, 78% dos grupos presentes tinham menos de 6 anos de vida e a RedeMoinho está dentro destes.

Os grupos de consumo da Espanha e Portugal, embora muitos com uma idade semelhante a maioria dos grupos brasileiros, vem de uma cultura onde o tema do consumo responsável é debatido já a um certo tempo. Para que se tenha uma ideia em Madrid onde chegamos a constatar mais de um grupo de consumo por bairro há, provavelmente mais grupos de consumo

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organizados do que em todo o Brasil. Alguns dados da pesquisa sustentam esta afirmação. As entrevistas apontam que a maior motivação para criação do grupo é a sensibilidade para a situação dos produtores rurais (43%) enquanto que somente 1 grupo (7%) afirmou que o grupo foi criado para “consumir produtos que não achavam por um preço justo no mercado”. No Brasil e na RedeMoinho a realidade é distinta e é dado um peso maior para o consumo de produtos por um preço justo e não há tanto como constatado na Europa uma sensibilidade para a situação dos produtores rurais.

No Brasil a RedeMoinho tem uma facilidade maior de se articular em rede para tentar se fortalecer economicamente e politicamente. Já em Portugal e Espanha é mais visível a desarticulação dos grupos de consumo entre eles e não há uma estratégia enquanto grupo/coletivo para a participação política. Dos grupos pesquisados 22 % afirmaram que o grupo não tem nenhum tipo engajamento político, já outros 44% afirmaram que apesar do grupo não se envolver politicamente as pessoas que dele participam tem seu engajamento, mas não o fazem representando aquele coletivo.

Algo que chamou bastante a atenção deste pesquisados é que boa parte dos grupos espanhois e portugueses entrevistados não crescem por uma opção própria. Isto fica evidente em alguns grupos que afirmam não estarem mais recebendo pessoas ou de terem fixados um número limite de pessoas que podem atender e participar do grupo. A intenção é que não se perca o caráter autogestionário dos processos de organização do grupo. Um exemplo disso é que a maior parte dos grupos conseguem fazer reuniões gerais mensais (57%) e a maioria afirmou (80%) que pelo menos a maior parte dos membros participa dela. Esta “facilidade” de realizar reuniões periódicas é também devido a proximidade das pessoas, já que a maior parte dos grupos (44%) tem como abrangência geográfica de sua atividade o próprio bairro. Um outro dado interessante é que 40%

dos grupos afirmaram não ter nenhuma ação para atrair novos consumidores e 20% disse que a forma de atrair novos consumidores é criando outros grupos de consumo. Embora não conste nas perguntas da pesquisa realizada, mas nas visitas se pode constatar que a grande maioria dos grupos se sustenta exclusivamente com trabalho voluntário e contam com um produtor organizado na outra ponta que facilita a distribuição e faz com que os grupos tenham uma boa diversidade de produtos.

Estes dados demonstram uma diferença com relação a RedeMoinho que concentra suas ações em toda a cidade e participa de ações de abrangência estadual, além de pela sua própria dimensão em possuir membros em todo o Estado não consegue realizar reuniões gerais com a mesma periodicidade dos grupos europeus. Além disso mesclamos o trabalho voluntário com a remuneração de algumas pessoas o que aumenta a margem de contribuição nos produtos.

Porém há também semelhanças entre os grupos pesquisados na Espanha e em Portugal com relação a RedeMoinho. Em perguntas de múltipla escolha com relação ao perfil do produto e composição do preço percebemos que as realidades das experiências se encontram. Com relação

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ao preço a maior parte afirmaram que os produtos no grupo são mais caros do que os produtos convencionais no mercado (29%), mas que não variam o seu preço por longos períodos (29%).

Entretanto, a pesquisa apontou que o principal critério para que o produto seja consumido no grupo é que ele não tenha agrotóxico (27%). As diferenças neste ponto é que logo em seguida vem a importância dada aos produtos locais ou mais próximos possíveis (23%) e não há uma busca pela compra em grupos que tenham a produção coletiva, pois somente 10% afirmaram ser este um dos critérios.

Outro ponto de convergência entre os grupos europeus, a RedeMoinho e ouso afirmar que também com outros grupos de consumo brasileiros, é sobre o posicionamento político com relação ao papel dos grupos de consumo responsável para a sociedade. Estão sempre presentes a construção de um outra economia que fortaleça o desenvolvimento local a partir da segurança e soberania alimentar e de uma outra forma de tratar a produção e consumo com base em outros valores como a confiança, casamento entre a oferta e demanda, a agroecologia, além de ter um preço real, sem especulação e com transparência. Faz parte também de um discurso comum a denúncia contra este modelo de produção e consumo, em especial com relação ao uso dos agrotóxicos e transgênicos.

Todas estes dados e informações acima somente reforçam que os grupos de consumo mesmo distante e muitas vezes desconectados formalmente uns dos outros, conseguiram criar uma consciência comum acerca de seu papel para uma mudança de realidade. Além disso percebemos que há uma diversidade na forma de organização e funcionamento que estão de acordo com o contexto local de cada um, ou seja, não há formula e nem grupos de consumo padrões, todos eles se organizam a partir da dinâmica do território onde estão e das pessoas que dele participam.

DESAFIOS

O Processo de Formalização

Desde o seu início a cooperativa busca o melhor formato jurídico para sua regularização, assim como boa parte dos empreendimentos de economia solidária. Alguns desafios são enfrentados para que a cooperativa não tenha conseguido vencer o processo da formalização são:

1- ter um formato onde consumidores e produtores sejam associados e a troca de produtos e serviços dentro dela seja considerada um ato cooperativo;

2- a cooperativa possa ter em seu objetivo atividades relativas a produção, prestação de serviço, comercialização e consumo;

3- os altos custos para a regularização e manutenção mensal, como contador, taxas e outras obrigações formais inerentes ao próprio processo de funcionamento.

Vale ressaltar que a legislação que trata sobre o tema das cooperativas no Brasil é altamente defasada, sendo de 1971 (ainda na ditadura), e que onera enormemente a constituição de uma

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cooperativa se comparado com uma empresa, seja com suas obrigações administrativas, seja em aspectos tributários.

A autogestão na Rede

Caminhamos um passo por vez rumo a autogestão, mas esta jornada é bastante desafiadora.

Tornar as decisões da Rede mais coletivas possíveis nos espaços de construções políticas e nas suas questões operacionais é um enorme desafio. Devido a dificuldade de comunicação e mesmo a não realização de reuniões dentro de uma periodicidade, a construção coletiva de determinadas decisões não se viabiliza. E isto põe em xeque a própria autogestão da Rede.

Um constação na Rede foi com relação ao voluntariado. Percebemos que apenas com o voluntariado não conseguiríamos realizar todas as atividades cotidianas da Rede necessárias ao seu funcionamento, por isso se optou por mesclar o trabalho voluntário com o trabalho remunerado, assim como na constituição de uma secretaria executiva, o que ajudou o aumento dos seus custos.

Há ainda um desafio maior no campo da autogestão. Com a “profissionalização” da secretaria executiva, os membros se desobrigaram em fazer parte de atividades operacionais da Rede. Com isso perde-se o protagonismo dos associados nas atividades cotidianas da Rede, passando pelo risco de centralização excessiva das ações e decisões, podendo fortalecer entre os membros e outras pessoas externas uma relação clientelista e meramente de compra e venda de produtos, e não de construção de uma outra lógica de organização. Este é um desafio constante: a busca por um caminho onde não percamos o princípio da autogestão, dentro de um contexto onde a participação voluntária tem seus limites e uma dedicação de tempo mínima da rede é necessária.

Em busca da sua sustentabilidade financeira

Outro desafio bastante importante se refere a sustentabilidade financeira e ponto de equilíbrio da Rede. Como já destacado no texto dependemos de algumas políticas públicas para investimos na rede e termos uma equipe de trabalho consolidada. Embora já tenhamos dado passos em direção ao fortalecimento de uma maior autonomia da Rede com relação a estes subsídios, como a adoção do FRS e incentivo para a ampliação do consumo na Rede, muita coisa ainda precisa ser feita, principalmente com relação ao aumento nas receitas da Rede a partir da produção, comercialização e consumo dos seus membros.

Vale salientar que este debate sobre o subsídio do Estado é amplo, e entendemos que todas as grandes empresas recebem apoios públicos, sejam em isenções de impostos ou de apoio em infra-estrutura. Por isso consideramos que é um dever do Estado direcionar políticas públicas para os empreendimentos de economia solidária.

ALGUMAS CONQUISTAS

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Abaixo destacamos apenas alguns resultados que consideramos mais expressivos nesta nossa curta história:

• Realização permanente da distribuição dos produtos, que é o principal espaço de interação da RedeMoinho com o público em geral. Como chamamos, as feiras, hoje contam com uma dinâmica própria, tendo consumidores fixos. Espaços como estes são uma vitória, pois há muito poucos na capital baiana. Aos poucos a sede da Rede começa a dialogar com os moradores do Bairro do Santo Antonio e redondezas.

• Criação e consolidação de uma rede de produção, comercialização e consumo na Bahia de produtos com base na agricultura orgânica, familiar, na Economia Solidária e agroecológica. Tanto produtores já estruturados que inclusive exportam (pois para eles é mais fácil exportar do que vender para o mercado interno) como pequenos produtores que não comercializavam seus produtos para além de sua região hoje conseguem expor seus produtos na RedeMoinho e consequentemente, em Salvador. E os consumidores que antes não tinham espaços para o consumo destes produtos tem um espaço onde todo o processo é transparente e feito de forma dialogada.

• Aproximação de produtores e consumidores. Não é incomum terem produtores nas feiras ou até em outros espaços em que a Rede participa.Isto propicia a aproximação com os consumidores, para que eles possam entender melhor sobre o produto e o produtor, assim como o produtor pode aprender com a opinião, críticas e sugestões de quem consome o seu produto.

• Conversas e palestras (in)formativas. A RedeMoinho participa constantemente de espaços formativos que tenham como o tema o consumo responsável e outros temas afins, como o Comércio Justo e a Economia Solidária. Estas palestras tem demonstrado importantes resultados na medida que estimulam uma maior reflexão da importância do consumo como um ato político e como força motriz de um desenvolvimento mais justo e solidário. Em geral alguns dos que participam das palestras acabam frequentando as feiras da cooperativa ou pelo menos colaboram na sua divulgação.

• Consolidação de um processo de integração logística entre os produtores e consumidores. Em geral não há estudos e nem sistematizações acerca do transporte de pequenas quantidades de cidades pequenas para importantes pólos consumidores. A RedeMoinho já conseguiu estruturar uma metodologia que contempla o transporte de pequenas quantidades através, por exemplo, das caronas solidárias, das compras coletivas com outras organizações e estímulo a melhoria da embalagem dos produtos para que eles possam ter mais durabilidade e assim possamos comprar em maior quantidade. Esta metodologia é importante pois é fácil de ser replicada e facilita criação de novos pólos de consumos deste tipo de produto. A metodologia é simples, mas é importante que os produtos não tenham um valor tão baixo e nem uma perecividade curta.

Uma experiência como a da RedeMoinho, embora seja nova com relação ao seu tempo de

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fundação , já é bastante intensa, principalmente no contexto que ela foi criada, onde há produtores e consumidores interessados na constituição desta rede. Sabemos que, devido ao pequeno número de pedidos, boa parte da renda destes grupos não provem ainda das vendas oriundas da RedeMoinho, porém a meta é que cada vez mais possamos fortalecer esta rede produzindo, comercializando e consumindo os produtos provenientes dela.

Por fim, a experiência da cooperativa nos mostra que é praticamente inviável consumirmos e produzirmos com base nos princípios da agroecologia e da economia solidária de forma isolada, é preciso nos articularmos em rede. Cada vez mais temos a certeza que uma estratégia de emancipação econômica e política deste sistema hegemônico somente é possível através do trabalho coletivo e da articulação dos diversos atores do processo produtivo.

CONCLUSÃO

Este relato teve como objetivo descrever uma experiência baiana de aproximação entre produtores e consumidores com base nos princípios da economia solidária e do comércio justo.

Tentamos descrever com um certo nível de detalhes a realidade que vivenciamos com “a dor e a delícia de ser o que é”. Uma coisa é certa, nesta caminhada já podemos perceber alguns frutos, mas ainda há muito chão pela frente para chegarmos aonde queremos.

temos muito o que aprender com as outras experiência de grupos de consumo que estão espalhados no Brasil e principalmente na Europa, pois eles nos trazem uma importante reflexão acerca da forma de organização e da sensibilização para a prática do consumo responsável.

Enfim, a RedeMoinho e outros grupos de consumo espalhados pelo mundo mostram todos os dias que outro comércio e formas de relação entre produção e consumo existem, e que outra economia acontece!

REFERÊNCIAS

Atlas da Economia Solidária no Brasil 2005. Brasília: MTE, SENAES, 2006. 60 p.: il. Rever formato.

AKATU, Instituto. Pesquisa nº. 7 - 2006: como e por que os brasileiros praticam o consumo consciente?. Disponível em <http:// www.empresaresponsavel.com>. Acessado em 20 de julho de 2012

CENTRO VIRTUAL DE COMÉRCIO JUSTO. Apertura de una Tienda de Comercio Justo::

Aspectos y pasos fundamentales. Disponível em:

<http://comerciojusto.eurosur.org/guias_creartiendas.htm>. Acesso em: 10 maio 2007.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Censo agropecuário – 2006. Rio de Janeiro, 2009

MANCE, Euclides André. A Revolução das Redes - A Colaboração Solidária como uma Alternativa Pós-Capitalista à Globalização Atual. Editora Vozes, Petrópolis, 2000

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MANCE, Euclides A. Redes de Colaboração Solidária. Petrópolis, Vozes, 2002

MANCE, Euclides. Palavras sobre a economia solidária no Brasil. Mídia da Paz, maio 2003.

Disponível em:< http://www.midiadapaz.org/entrevistas/solidaria.htm>. Acesso em: 06.jun. 2003 SEBRAE. Pesquisa Mundial de Comércio Justo. 2004.

Referências

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