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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Tecnologia e Ciências Instituto de Geografia. Rogério dos Santos Seabra

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Tecnologia e Ciências

Instituto de Geografia

Rogério dos Santos Seabra

A rede de comercialização agrícola no Estado do Rio de Janeiro: articulações, processos e fluxos nas novas formas de

abastecimento alimentar

Rio de Janeiro 2015

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Rogério dos Santos Seabra

A rede de comercialização agrícola no Estado do Rio de Janeiro: articulações, processos e fluxos nas novas formas de

abastecimento alimentar

Tese apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor, ao Programa de Pós-graduação em Geografia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Área de concentração: gestão e estruturação do espaço geográfico.

Orientador: Prof. Dr. Glaucio José Marafon

Rio de Janeiro 2015

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CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CTC/C

Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese, desde que citada a fonte.

______________________________________ ______________________

Assinatura Data

S438 Seabra, Rogério dos Santos.

A Rede de comercialização agrícola no Estado do Rio de Janeiro: articulações, processos e fluxos nas novas formas de abastecimento alimentar / Rogério dos Santos Seabra. – 2015.

269f. : il.

Orientador: Glaucio José Marafon.

Tese (Doutorado) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Geografia.

Bibliografia.

1. Produtos agrícolas – Comercialização – Teses. 2.

Agricultura familiar – Rio de Janeiro(RJ) - Teses. 3. Espaço urbano - Rio de Janeiro(RJ) – Teses. 4. Logística empresarial. I.

Marafon, Glaucio José. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Geografia. III. Título.

CDU 631.115.1(815.3)

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Rogério dos Santos Seabra

A rede de comercialização agrícola no Estado do Rio de Janeiro: articulações, processos e fluxos nas novas formas de

abastecimento alimentar

Tese apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor, ao Programa de Pós-graduação em Geografia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Área de concentração: gestão e estruturação do espaço geográfico.

Aprovada em 29 de Janeiro de 2015.

Banca Examinadora:

___________________________________

Prof. Dr. Glaucio José Marafon - Orientador Instituto de Geografia – UERJ ___________________________________

Prof. Dr. Miguel Angelo Ribeiro Instituto de Geografia - UERJ ___________________________________

Prof. Dr. João Rua Departamento de Geografia – PUC-Rio ___________________________________

Prof. Dr. Cesar Ajara ENCE – IBGE ___________________________________

Profª. Dra. Vera Lúcia Salazar Pessoa - UFG – Regional Catalão

Rio de Janeiro 2015

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, à minha maravilhosa esposa e ao Joaquim.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, por todo exemplo de responsabilidade, por todas as orientações e principalmente por serem fontes inesgotáveis de amor.

Ao Professor Glaucio, pelas inúmeras oportunidades e, em especial, pela acolhida acadêmica durante 15 anos de orientação.

Aos meus queridos amigos do Centro Educacional Espaço Integrado pelo apoio durante a produção deste trabalho.

Aos inestimáveis companheiros da Geografia, Michel, Paulo Roberto/Raquel e César pela companhia em toda a trajetória.

Aos Professores Miguel Angelo e João Rua pela participação paciente e magnífica em todas as minhas bancas examinadoras.

Aos novos amigos de trabalho da ENCE, em especial à Alinne, pela ajuda na estatística e à dupla Júlia e Letícia pela força no Arc View.

Aos meus padrinhos de casamento, Felipe e Mariana, pela companhia no trabalho de campo e pelo primoroso empurrão rumo ao matrimônio.

À minha irmã, Márcia, por desbravar os mares acadêmicos e servir de exemplo.

Ao meu saudoso avô, Mário, exemplo de vida e carinho.

Ao Chico pela companhia durante algumas leituras na madrugada.

Ao Stan Lee por ter criado o universo Marvel e proporcionar o meu prazer pela leitura.

À minha sogra pelas diversas hospedagens.

À minha fantástica esposa, Fernanda Canedo, minha motivação e motivadora, meu amor maior, minha centralidade, minha companheira, minha fonte de carinho e minha base. No momento da produção deste material, minha linda estava grávida do nosso pequeno Joaquim, nosso primeiro filho que, ainda no ventre da mãe, foi importante para a aceleração na produção desta tese. Te amo milhões!

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RESUMO

SEABRA, Rogério dos Santos. A rede de comercialização agrícola no Estado do Rio de Janeiro: articulações, processos e fluxos nas novas formas de abastecimento alimentar. 2015. 269 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Instituto de Geografia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2015.

A comercialização agrícola da produção familiar fluminense passa por significativas transformações, especificamente pela inserção de novos agentes na intermediação do processo de distribuição. Nesse sentido, esta tese aborda algumas mudanças na configuração da rede de comercialização agrícola presentes no Estado do Rio de Janeiro, precisamente entre os municípios de Teresópolis e Nova Friburgo, na Região Serrana, e a área metropolitana, que modificam o formato clássico das relações cidades-campos. A alteração nas ações de alguns agentes e a estruturação de novos parâmetros de competição para a produção familiar, mediados por transformações representativas nas técnicas logísticas, configuram uma troca intensa de fluxos entre as duas regiões, apresentando uma dinâmica de maior fluidez nas interações espaciais. Dois atores, em virtude da sua atuação central, ganham destaque nesta análise: os supermercados e as empresas de distribuição de gêneros agrícolas (principalmente verduras e legumes). Tais empresas, dotadas de técnica logística de grande eficiência e capacidade de atuação transescalar, designam ordens para os produtores em busca da fluidez necessária para as suas práticas.

Palavras-chave: Comercialização agrícola. Logística. Interações cidade-campo. Rio de Janeiro.

.

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ABSTRACT

SEABRA, Rogério dos Santos. The network of agricultural marketing in the state of Rio de Janeiro: interaction, processes and flows in the new forms of food supply. 2015. 269 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Instituto de Geografia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2015.

Agricultural marketing from Rio de Janeiro family production undergoes significant changes, specifically the inclusion of new actors in the intermediation of the distribution process. Thus, this thesis addresses some changes in the configuration of agricultural marketing network present in the State of Rio de Janeiro, right between the cities of Teresopolis and Nova Friburgo, in the mountainous region, and the metropolitan area, which modify the classic format of town and country relations. The change in the actions of some actors and structuring of new competition parameters for family production, mediated by representative changes in logistics techniques, configure an intense exchange flows between the two regions, with a dynamic of greater fluidity in the spatial interactions. Two actors, by virtue of its central role, are highlighted in this analysis: supermarkets and distribution companies of farm products (mainly vegetables). These companies, with their technical logistics of great efficiency and transcale performance capacity, designate orders to producers in search of necessary fluidity for their practices.

Keywords: Agricultural marketing. Logistics. Interactions town and country. Rio de Janeiro.

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RESUMEN

SEABRA, Rogério dos Santos. La red de comercialización agrícola en el estado de Rio de Janeiro, las articulaciones, los procesos y los flujos en las nuevas formas de suministro de alimentos. 2015. 269 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Instituto de Geografia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2015.

La comercialización agrícola de producción doméstica fluminense pasa por transformaciones significativas, específicamente, por la inclusión de nuevos protagonistas en la intermediación del proceso de distribución. En este sentido, esta tesis aborda algunos cambios que se han producido en la configuración de la red de comercialización agrícola tanto en el estado de Río de Janeiro, concretamente entre las localidades de Teresópolis y Nova Friburgo; en la región de la sierra y el área metropolitana como también en el formato clásico de las relaciones entre campo y ciudad. La modificación en las acciones de algunos protagonistas y la estructuración de nuevos parámetros de competición para la producción doméstica, mediados por transformaciones significativas en las técnicas logísticas, configuran un intenso intercambio de flujos entre las dos regiones, mostrando una dinámica de fluidez más grande en las interacciones espaciales. Dos protagonistas, en virtud de su desempeño, ganan protagonismo en este análisis: los supermercados y las compañías de distribución de géneros agrícolas (principalmente hortalizas). Estas empresas, dotadas con una técnica logística de gran eficacia y capacidad de actuación transescalar, asignan las órdenes a los productores en búsqueda de la fluidez necesaria para sus prácticas.

Palabras clave: Comercialización Agrícola. Logística. Interacciones ciudad y el campo.

Río de Janeiro. Producción doméstica.

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LISTA DE FIGURAS

Mapa 1

Quadro 1 Mapa 2

Mapa 3

Mapa 4

Mapa 5

Foto 1 Quadro 2 Quadro 3 Foto 2

Foto 3 Foto 4 Esquema 1 Esquema 2 Foto 5 Quadro 4 Esquema 3 Foto 6 Foto 7 Foto 8 Foto 9 Foto 10 Foto 11 Imagem 1

Estado do Rio de Janeiro, Municípios e Regiões de Governo...

Dimensão das redes de primeiro nível...

Municípios do interior com mais de 100.000 habitantes...

Municípios do interior com mais de 100.000 habitantes...

Municípios do interior com menos de 50.000 habitantes...

Municípios com população residente maior do que 100 mil habitantes ...

Tobata – Teresópolis...

Condição do produtor – 2006...

Produção de Horticultura – 1996...

Condomínio construído no município de

Teresópolis...

Casas na margem da Rodovia RJ- 130...

Casas na margem da Rodovia RJ-130 (2)...

Segmento da rede – redução de vulnerabilidades...

A técnica como fundamento logístico...

Carregamento do caminhão de empresa de intermediação...

Canais de escoamento da produção...

Macro-organização do grupo JFC...

Descarregamento na plataforma de distribuição...

Carregamento dos caminhões...

Carregamento na linha natural salads...

Área de comercialização– Nova Friburgo...

Área de separação e organização dos produtos – Tuti-Fruti...

Pallets e caixas plásticas...

Esquema de orientação...

36 40

45

46

48

59 69 70 71

76 77 77 197 200 205 206 208 210 211 212 213 214 215 217

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Quadro 5 Mapa 6 Foto 12 Foto 13 Foto 14 Mapa 7 Foto 15 Foto 16 Foto 17 Foto 18 Esquema 4

Abertura de empresas – Teresópolis...

Nós da rede de comercialização...

A presença das caixas de madeira...

Carregamento de produtos de agricultores para o CEASA-Rio...

Separação de material – Operador logístico de menor porte...

Localização das filiais – Rede Mundial – Rio de Janeiro...

Área de embarque de mercadorias - plataforma de distribuição...

Controle de qualidade – Rede mundial...

Pavilhão 21 – CEASA-Rio...

Pavilhão 21 – Pedras...

Modelo didático da rede de comercialização agrícola...

218 555 221 222 223 225 227 229 231 232 246

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Gráfico 2 Gráfico 3 Gráfico 4 Gráfico 5 Gráfico 6

Gráfico 7 Gráfico 8 Gráfico 9 Gráfico 10 Gráfico 11

Gráfico 12 Gráfico 13 Gráfico 14 Gráfico 15 Gráfico 16 Gráfico 17

Rio de Janeiro - População Absoluta...

População residente – Região Metropolitana – 2010 ...

População urbana – Região Metropolitana – 2010 ...

Concentração da População – Rio de Janeiro – 2010 ...

Crescimento da população no município de Macaé ...

Comparação do crescimento populacional – Campos dos Goytacazes e Macaé...

Crescimento populacional – Cabo Frio e Rio das Ostras ...

Variação do PIB – Barra Mansa, Resende e Volta Redonda ...

Comparação - PIB per capita ...

Comparação do PIB municipal ...

Crescimento populacional – Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo...

População rural e urbana – Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo Crescimento no número de tratores ...

Comportamento da produção – cultivos selecionados ...

Maiores e menores UFs contempladas com o PRONAF ...

Produção de alface e repolho ...

Volume ofertado pelo sistema CEASA-Rio – Hortifrutigranjeiros ...

42 43 44 47 49

50 52 53 55 56

59

60 63 68 72 233

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABRACEN Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento B2B Business to Business

CEASA-Rio Unidade Grande Rio – Irajá

CEASA-RJ Centrais de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro CEPAL Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe

CEPERJ Fundação Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro

COBAL Companhia Brasileira de Alimentos

DECEN Departamento de Centrais de Abastecimento

DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

EDI Intercâmbio Eletrônico de Dados

EMATER-RJ Empresa de Assistência e Extensão Rural do Rio de Janeiro EMPRABA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IED Investimentos Estrangeiros Direitos

ICMS Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e a Prestação de Serviços

IPTU Imposto Predial Territorial Urbano ITR Imposto Territorial Rural

PIB Produto Interno Bruto

PROHORT Programa Nacional de Modernização do Mercado Hortigranjeiro PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

ROP Ponto de Reposição

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SINAC Sistema Nacional de Centrais de Abastecimento

VW Volkswagen

UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...15

1 O ESPAÇO FLUMINENSE E SUAS DESCONTINUIDADES

POPULACIONAIS E ECONÔMICAS...33 1.1 O espaço fluminense ...34 1.2 A desigual distribuição da população e das atividades econômicas ...41 1.3 A Região Serrana e sua produção para o abastecimento da área metropolitana...62 1.4 Breve nota sobre o turismo em espaço rural na Região Serrana ...73 1.5 Finalização do capítulo ...78 2 A COMERCIALIZAÇÃO AGRÍCOLA COMO UM DOS ELOS DAS RELAÇÕES CIDADES-CAMPOS: ARTICULANDO PRODUÇÃO E CONSUMO NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ...79 2.1 Transformações no campo e mudanças nas interações: da dicotomia à interdependência ...81 2.2 Relações campos-cidades e recortes espaciais: as dificuldades e os interesses nas delimitações ...96 2.3 Relações campos-cidades e interações urbano-rural: urbanidades e ruralidades em embate e transformação ...110 2.4 Relações campos-cidades e as redes geográficas: breves notas...123 2.5 Finalização do capítulo ...126 3 AS REDES GEOGRÁFICAS, A ESCALA E A ECONOMIA: AS TRANSFORMAÇÕES NO MOVIMENTO DA COMERCIALIZAÇÃO AGRÍCOLA COM BASE NA CENTRALIDADE DAS GRANDES VAREJISTAS...130 3.1 Acumulação flexível e paradigma produtivo: a construção da flexibilidade como

parâmetro competitivo ...131 3.2 A orientação econômica da flexibilidade: o neoliberalismo como oportunidade de investimentos transnacionais ...141 3.3 A distribuição de gêneros agrícolas no Estado do Rio de Janeiro e as escalas de interação: os agentes em jogo e o jogo entre os agentes ...151 3.4 Redes geográficas e comercialização agrícola sob a égide da globalização...161

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3.5 Processos, formas e funções: as regulações em disputa e a apropriação de

funções na comercialização agrícola ...174

3.6 Finalização do capítulo ...181

4 A REDE DE COMERCIALIZAÇÃO AGRÍCOLA NO RIO DE JANEIRO: PROCESSOS, DIMENSÕES, TÉCNICAS E AGENTES ...183

4.1 Problemas no abastecimento de gêneros agrícolas e políticas públicas de ajuste: o processo de formação do sistema CEASA-RJ e sua atuação ...184

4.2 A logística como ferramenta de gestão e diferencial competitivo ...195

4.3 As formas da rede de comercialização no Estado do Rio de Janeiro no período atual ...204

4.4 Finalização do capítulo ...238

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...239

REFERÊNCIAS ...253

ANEXOS ...267

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Introdução

A origem deste trabalho remete aos tempos de graduação. As pesquisas iniciadas em agosto de 2000 no NEGEF (Núcleo de Estudos de Geografia Fluminense) sobre o espaço rural no Estado do Rio de Janeiro foram, para a produção da monografia de graduação, direcionadas ao papel do sistema CEASA-RJ. Não apenas na graduação, a comercialização agrícola, em seguida, como foco nos supermercados, transformou-se no tema de mestrado.

Portanto, um dos desafios deste texto é avançar sobre as demais produções no sentido teórico e também empírico. Buscando fugir da armadilha que a repetição temática produz, este trabalho representa um novo caminho em relação ao projeto de pesquisa apresentado na seleção para o curso de doutorado na UERJ.

O projeto original indicava, na essência, uma atualização do texto apresentado no mestrado. O outro caminho escolhido, na verdade, muda o foco sem sair do tema trabalhado desde a iniciação científica. No projeto de pesquisa, o foco está na relação entre grandes varejistas e o sistema CEASA-RJ, ou seja, numa forma de articulação de dois projetos pretéritos sobre bases teórico-conceituais atualizadas e de maior densidade.

A premissa capaz de sustentar uma atualização era o caráter extremamente dinâmico da espacialização da rede de comercialização agrícola e das transformações na base técnica-logística inseridas nessa produção. Entretanto, a dinâmica da produção e da comercialização sinaliza transformações não lineares, isto é, não necessariamente são os mesmos agentes diante da mesma lógica sobre novas tecnologias.

Na verdade, há conversões muito mais amplas na lógica mercantil quando envolvemos as análises da técnica. As trocas de função, efêmeras ou não, entre os agentes envolvidos e o fortalecimento de novos agentes ou (re)criação de outros permitem uma compreensão das articulações socioespaciais entre os fixos envolvidos no processo de comercialização.

Dessarte, o mercado se faz presente no cotidiano das relações sociais sem determinar a plenitude das interações entre os indivíduos e as empresas. Isso potencializa as possibilidades sociais e, ao mesmo tempo, condiciona a maioria das práticas cotidianas. Nessas condições, a riqueza das articulações espaciais entre os

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agentes envolvidos na comercialização combina movimentos aparentemente paradoxais como, por exemplo, a resistência e o consentimento.

Assim, este texto buscará focalizar o múltiplo presente ao longo da cadeia de abastecimento de gêneros agrícolas. Diferente do projeto de pesquisa, o foco é voltado justamente às interações, à consequente produção de mais variáveis e, em seguida, à alteração na forma dessas interações. Isso posto, a comercialização agrícola representará o movimento dos fluxos e a mudança constante na atuação do fixos, ou seja, o processo capaz de gerar a função dos fixos em fluxos, também hábil na (re)criação de fixos e inexoravelmente dinâmico.

A lógica mercantil atua em praticamente todos os setores da sociedade e, certamente, direciona o comportamento da produção, da comercialização e do consumo de gêneros agrícolas. Nesse sentido, produtores e consumidores menos eficientes ou capitalizados, ou seja, com menor capacidade de atender às demandas de prazo e qualidade, ficam inseridos de forma precária ao processo. Sem embargo, funções públicas são incorporadas pela lógica mercantil, estruturadas pelo discurso hegemônico da produtividade e eficiência, criando uma nova dinâmica para os fluxos e elevando a complexidade na análise da rede de comercialização agrícola e, portanto, nas relações cidades-campos.

As transformações em curso na comercialização agrícola são, dessa forma, produtos e produtoras de mudanças no movimento do capital em busca de reprodução ampliada e, consequentemente, em constante adaptação sociotécnica e espacial. Os processos gerais, apesar de dominantes, encontram a inércia de sistemas historicamente enraizados e espacialidades preteritamente construídas. Em outras palavras, o hegemônico transforma e impõe sem equalizar, fomentando, além dos

pressupostos estabelecidos por verticalidades,

resistências/consentimentos/cooptações alteradas de forma sazonal.

A comercialização agrícola compreendida como processo espacial derivará de inúmeros mecanismos particulares, ou seja, de estratégias (des)ordenadas de (re)produção social que, no cotidiano, englobam também a manutenção do hegemônico e do hegemonizado dentro do mesmo processo, isto é, como lógicas distintas, porém complementares.

O próprio movimento do capital pressupõe a espacialidade como um elemento plural. A diferenciação é premissa para a produção de parâmetros de competitividade

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entre lugares, firmas e pessoas. A busca/criação de espaços ou empresas mais rentáveis cria/recupera práticas e agentes inviabilizando afirmações categóricas sobre inserção ou marginalização. Na verdade, a competitividade, associada ao movimento geral de reprodução ampliada, é entrave e, ao mesmo tempo, uma possibilidade para a participação ou a configuração dos canais de distribuição.

Uma materialidade para esse processo é a tecnologia carregada de poder político. De fato, as regras e normas construídas por relações sociais e escalares assimétricas, portanto impostas, viabilizam a marginalização dos menos eficientes.

Contudo, nos canais marginais, os fluxos são dimensionados e orientados por agentes hegemônicos de forma indireta criando, consequentemente, um nexo transversal de conexão para as redes sobrepostas. A configuração espacial reticular gera uma ambiguidade entre inserção e marginalização, reforçando a articulação e a sobreposição em detrimento da separação e do isolamento.

As técnicas expressam poder de gestão de fluxos e, para a comercialização agrícola, o gerenciamento da cadeia de suprimentos reflete a centralidade (ou não) dos nós na rede de abastecimento. A logística, por isso, é um diferencial competitivo de extrema importância para a compreensão da atuação dos agentes e, principalmente, de sua articulação.

Há um norte hegemônico na configuração e na gestão desses processos.

Entretanto as resistências não representam um outro mecanismo. Sem embargo, os canais de comercialização são plurais, porém não há rupturas nas mudanças. Há diferenças tecidas em conjunto e relações complementares entre os sistemas técnicos hegemônicos e hegemonizados.

A comercialização agrícola no território fluminense produzirá, nessa perspectiva, hierarquias, apropriações e dominações de caráter dinâmico. O convívio e a complementariedade são mais importantes do que a ruptura e a exclusão. Esse quadro identifica múltiplas(os) territorialidades/territórios acionados de acordo com as necessidades de reprodução ampliada do capital e/ou de acordo com as possibilidades/interesses, por exemplo, da reprodução dos agricultores familiares.

A comercialização leva, também, a pensar nas ligações reticulares entre áreas de produção e consumo e, sendo assim, da entrada de signos/racionalidades urbanas/metropolitanas nas áreas campestres. O campo e a cidade se estruturam com base em um urbano dominante, principalmente na construção e na percepção do

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tempo social. A produção e a comercialização passam por profundas mudanças cronológicas. Na prática, a agricultura perde seu caráter autárquico por ter seu tempo estabelecido nas demandas/racionalidades externas. Acelerada, a produção agrícola é modernizada e tecnificada para encaixar com o tempo produtivo em vigor na cidade.

A lógica urbana controla e domina os processos sociais e produtivos no campo, na cidade e entre eles sem, contudo, homogeneizá-los.

Essas transformações impõem alterações e deixam marcas na comercialização agrícola. Engendradas por forças verticais e horizontais, o atual e o eficiente são rotulados pelo convívio necessário e não paradoxal com o tradicional, assim como o local se fortalece pela presença intensa do global. O novo carrega o antigo e, por isso, é mais eficiente pela comparação e pela imagem produzida pelos agentes hegemônicos, ou seja, tão importante quanto ser é fazer-se competitivo segundo consensos sociais produzidos por agentes com possibilidades destoantes.

O horizonte de competição capitalista produz uma etapa de crise constante na comercialização agrícola e uma demanda incessante por mais técnicas e, por exemplo, maiores investimentos em logística. Pela lógica reticular inata ao processo de comercialização, a tecnologia denuncia o abismo entre os agentes envolvidos na comercialização e, consequentemente, na forma de articulação entre eles e, finalmente, na discrepante capacidade de controlar a circulação dos fluxos.

Dentre as principais alterações na comercialização agrícola no Estado do Rio de Janeiro, três são basilares para a compreensão dos atuais parâmetros técnicos e espaciais. A primeira é a atuação do sistema CEASA-RJ; o segundo, a entrada das grandes redes varejistas transnacionais; e, finalmente, o terceiro é a organização e o fortalecimento dos operadores logísticos. A escolha desses três momentos não esgota de forma alguma as transformações na dinâmica rede de abastecimento agrícola no território fluminense.

O sistema CEASA-RJ foi criado com base em uma legislação/orientação do Governo Federal para representar um entreposto comercial público atuante na produção agrícola e no consumo urbano. Na década de 1970, o Governo Federal criou uma rede nacional de centrais de abastecimento pensadas para as áreas metropolitanas nacionais alvo do planejamento federal daquele momento. Portanto, as centrais de abastecimento seriam uma forma de regulação pública do

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abastecimento de gêneros agrícolas e resolveria, na teoria, problemas de distribuição de produtos rurais nas cidades e entraves para o produtor rural acessar o mercado.

Na década de 1980, durante a crise financeira nas contas públicas federais, o sistema CEASA-RJ foi estadualizado e controlado pelo recente governo do Estado do Rio de Janeiro. Até os dias de hoje, o entreposto comercial continua administrado pela esfera estadual, no entanto atuando de forma e intensidade diferentes na gestão dos fluxos inerentes à comercialização agrícola no Rio de Janeiro.

As alterações no arcabouço jurídico do sistema CEASA-RJ são contextualizadas pela transformação no papel do Estado em agente regulador do mercado de abastecimento. Logo, a atuação das centrais de abastecimento revela, também, a capacidade (intenção) de intervenção do setor privado no interesse público no período atual. Tais afirmações indicam mudanças na função, sobretudo do CEASA- Rio, na rede de comercialização e também na forma de articulação com outros agentes.

O segundo ponto, de forma geral, deriva das transformações do poder público.

A entrada das grandes redes varejistas transnacionais, diante do empoderamento do discurso e das práticas neoliberais, altera as condições de articulação entre os agentes envolvidos na comercialização. Para além, o capital estrangeiro representa uma mudança na escala competitiva para a comercialização. Isso posto, os grandes varejistas marcam a comercialização agrícola com a imposição de modelos de eficiência de caráter global, elevando a logística ao patamar de diferencial competitivo.

Dessarte, a construção desses parâmetros serve para orientar todos os agentes envolvidos na comercialização, inclusive supermercados já instalados no território fluminense.

Além dos indicadores de eficiência, essa alteração revela um novo papel para o sistema CEASA-RJ e, por associação, as formas de regulação no processo de comercialização agrícola. O mercado torna-se regulador de si e para si, demonstrando novas interações entre os fixos da rede, assim como para a capacidade de gestão dos fluxos.

Finalmente, a consolidação dos operadores logísticos reflete as novas articulações construídas como consequência da entrada das grandes redes varejistas.

Na prática, considerar-se-ão as interações mais importantes do que a origem das empresas de distribuição, como ocorre a articulação entre os agentes na conjuntura

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procedente das alterações na função do entreposto público, da entrada do capital transnacional e do crescimento no número e na capacidade logística das empresas de distribuição de produtos agrícolas.

Assim, entende-se a comercialização de gêneros agrícolas como um mecanismo fundamental para qualquer tentativa de superação dos entraves, para a segurança alimentar e programas de fomento da produção familiar. As múltiplas formas de acesso aos circuitos de comercialização evidenciam os mais variados processos de reprodução social dos trabalhadores e a devida interação dialética com a produção do espaço.

A diversidade no acesso ao mercado também (re)alimenta processos tecnológicos, essencialmente de cunho logístico, com a constante troca/revalorização dos agentes envolvidos na distribuição de gêneros agrícolas. Além do surgimento de novos e/ou a revalorização de antigos, a possibilidade de ação múltipla, ou seja, de um mesmo agente atuar de forma distinta, configura uma arquitetura espacial em constante transformação para a rede de comercialização agrícola.

O reconhecimento da distribuição de gêneros agrícolas como um processo sempre em transformação não evita, contudo, a configuração de lógicas hierarquizadas. No caso do Estado do Rio de Janeiro, é notório, em virtude do peso metropolitano, a presença dos signos urbanos na determinação de processos hegemônicos para a comercialização de produtos agrícolas.

A hegemonia e a hierarquia da lógica oriunda de sistemas urbanos/metropolitanos é claramente dominante pela presença e ausência. Nesse sentido, a comercialização agrícola apresentará tramas distintas, com a presença marcante da lógica urbana expressa pelo tempo acelerado e a eficiência, e também com a ausência dessa regulação em outros circuitos. A interação da ausência e da presença compõe a descontinuidade da unidade.

Tais argumentos servem para indicar a presença de novos agentes no processo de comercialização e a ressignificação de outros, abrindo, ao mesmo tempo, formas distintas de acessar o mercado consumidor originado de um processo dominante e não homogêneo.

Diante dessa argumentação, relações campos-cidades e comercialização agrícola serão compreendidas como um processo múltiplo por ser submetido ao jogo

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das forças empenhadas na reprodução do modo de produção hegemônico e, consequentemente, responderá de forma distinta e particular aos mecanismos gerais.

Portanto, a distribuição de gêneros agrícolas, como parte da relação entre campo e cidade, revela etapas de maior ou menor densidade de ação de forças verticais agindo localmente e (re)produtoras de idiossincrasias. A presença dos signos urbanos é fundamental para a atribuição de novos significados para o campo e para as relações socioespaciais dinamizadoras do rural fluminense.

A presença dos signos urbanos no campo não é um elemento novo em si.

Entretanto, a atualidade registra uma capacidade ímpar de múltiplas conexões reticulares e uma aceleração dos fluxos capaz de reproduzir localmente tipos e formas de agentes distantes imbricados com agentes outrora exclusivamente locais.

A aceleração é um resultado técnico, isto é, fruto de infraestrutura, redes informacionais, transportes sofisticados e integração física e, principalmente, espacial-econômico-política de regulação mercantil das relações sociais. O atual período conhecido como globalização revela a capacidade técnica de realização rápida da aplicação de excedentes para a reprodução ampliada, integrando e marginalizando freneticamente necessidades do capital, pessoas e lugares.

Dessarte, analisar a comercialização agrícola exige a capacidade de produzir e redefinir constantemente hierarquias, processos, agentes e lugares ideais para a alocação de excedentes. Nessa linha, campos e cidades são articulados por uma lógica comum produtora de heterogeneidades essenciais para diferenciar investimentos e garantir a reprodução ampliada.

As articulações sinalizam, também, a relação entre escalas geográficas produzidas pelos agentes envolvidos na comercialização e as escalas possíveis, apresentando um jogo escalar assimétrico entre, por exemplo, produtores familiares e empresas de intermediação. De fato, a intermediação é um basilar para a comercialização agrícola no Estado do Rio de Janeiro e, como indicou Becker (1966), apresenta um momento fundamental para o abastecimento alimentar da capital fluminense.

O quadro de transformação e ressignificação também revela a aceleração e a maior intensidade dos fluxos, materiais e imateriais envolvidos na comercialização agrícola. Todavia, é crucial abstrair da intensidade e da velocidade das interações espaciais um sentido e, principalmente, um controle. Na prática, há uma

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intencionalidade e orientação geral para os fluxos capazes de indicar agentes com maior ou menor centralidade na rede de comercialização.

A centralidade no controle dos fluxos é função de poucas e grandes empresas varejistas, portadoras de técnicas eficientes de gestão e, sobretudo, com força para determinar, dentro dos parâmetros mercantis, as regras de competitividade para os agentes envolvidos na comercialização. Como esse processo é dominante pela presença e pela ausência, a centralidade não se faz homogênea no cotidiano dos agentes envolvidos no processo de comercialização, tampouco cria conexões estáveis entre lugares e pessoas.

Os parâmetros de eficiência e a aceleração dos fluxos explicitam as normas urbanas no espaço rural e, por isso, anunciam um campo alterado e impactado por racionalidades externas e imateriais. O campo transforma-se pela interação com a cidade sem necessariamente alterar a paisagem ainda representada pela natureza próxima. Logo, o tempo é uma medida dessa mudança e, nesse contexto, a logística é a materialidade desse campo repleto de signos metropolitanos.

As transformações permanentes são derivações de conflitos e contradições presentes nas relações socioespaciais. A instabilidade das relações sociais demonstra o aspecto “revolucionário” da reprodução do capital como modelo societário e, portanto, espacial. As contradições e os conflitos são inatos ao processo de reprodução do capital e da espacialidade, gerando, por exemplo, mudanças agudas nas técnicas de logística e na forma de acessar o mercado consumidor por parte da produção familiar.

Os movimentos aparentemente contraditórios são, portanto, condicionados, e o processo histórico é capaz de apresentar, de forma não linear, porém, em uma mesma significação, mudanças e permanências. Assim, técnicas novíssimas são contraditórias e simultaneamente integradas aos parâmetros pretéritos, enquanto antigos e novos agentes convivem, interagem e produzem hierarquias na configuração da comercialização agrícola.

Os laços íntimos entre as formas contraditórias (KONDER, 2008) estabelecem as unidades e as orientações gerais inatas ao processo de reprodução do capital e, logo, na comercialização de gêneros agrícolas. As práticas cotidianas são múltiplas e revelam, assim, variações, possibilidades e brechas das unidades derivadas da lógica dominante. Konder (2008) afirma que a “mudança e permanência são categorias

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reflexivas, isto é, uma não pode ser pensada sem a outra” (p. 52). Dessa maneira, agentes e formas de comercialização integrados ao canal hegemônico o são pela permanência de formas complementares e tradicionais de distribuição de produtos agrícolas.

Essa argumentação também indica a permanência de tempos diferenciados no processo de comercialização, ou seja, as transformações atuam de forma desigual e com ritmos distintos no espaço. Os ritmos, as mudanças, as permanências e os tempos são entrelaçados e sobrepostos constituindo hierarquias dinâmicas e novas funções para antigos ou novos agentes envolvidos na comercialização.

De fato, as permanências estão associadas à inércia dos interesses de grupos historicamente estabelecidos na comercialização e, por isso, particularizam o resultado (em processo) das transformações em curso na comercialização agrícola.

As relações verticais e horizontais estabelecidas de forma assimétrica exercem forças contrárias e/ou complementares no direcionamento das transformações técnicas, organizacionais e espaciais inerentes à distribuição de produtos agrícolas.

O processo histórico – também espacial-escalar - é fundamental para a análise das transformações na comercialização como uma totalidade parcial em interação sistêmica (MÉZAROS, 2013). Assim, analisar a comercialização agrícola é compreender uma totalidade parcial e reconhecer suas articulações com outras lógicas e, ao mesmo tempo, a impossibilidade de compreender a plenitude de suas conexões. Diante desse reconhecimento, são fundamentais a seleção e a exposição das escolhas feitas para a produção desta tese.

Nesse sentido, perante a rede de comercialização agrícola atuante no território fluminense, selecionaram-se as articulações entre os agentes localizados no eixo da rodovia RJ-130, a ligação entre os municípios de Teresópolis e Nova Friburgo e a dos consumidores na Região Metropolitana. Tal escolha reflete um dado específico da comercialização agrícola: o surgimento e o fortalecimento de empresas de operação logística – transporte – de produtos agrícolas localizadas, essencialmente, no eixo dessa rodovia.

O estudo dessas empresas representa mais uma etapa de análise da comercialização agrícola no Estado do Rio de Janeiro. Na prática, este texto é um desdobramento de uma pesquisa iniciada na graduação com foco no sistema CEASA-

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RJ, no mestrado com foco nas redes varejistas e, finalmente, neste momento busca- se a compreensão do papel desses agentes na distribuição de gêneros agrícolas.

Nesse sentido, as transformações na comercialização agrícola no território fluminense indicam novas interações entre o sistema CEASA-RJ1, as grandes redes varejistas e as empresas de transportes – operadores logísticos. Há, portanto, novas formas de configuração dos canais de distribuição e conexões diferentes derivadas da ascensão dos operadores logísticos na Região Serrana Fluminense.

Os laços e as sobreposições não negam a presença de hierarquias e controle sobre fluxos materiais e normas de qualidade, classificação, produção e transporte nos produtos agrícolas. Ao contrário, as regras de eficiência revelam centralidades baseadas na capacidade de gestão dos fluxos e o papel da logística como um diferencial competitivo.

A capacidade de gestão está associada ao conceito de escala geográfica e, na prática, apresenta as diferenças na atuação dos agentes envolvidos no processo. As grandes redes varejistas atuam, em geral, de forma transescalar, sinalizando a enorme diferença de poder no gerenciamento dos supermercados, sobretudo as empresas transnacionais, e dos produtos familiares localizados no circuito Tere-Fri (eixo da rodovia RJ-130).

As relações entre as grandes empresas varejistas e o sistema CEASA-RJ ilustram a entrada do capital internacional no Brasil e, consequentemente, no Estado do Rio de Janeiro e, diante da lógica neoliberal que reorienta o papel do Estado, o enfraquecimento do entreposto público como gestor dos fluxos agrícolas para a área metropolitana do território fluminense.

Essa afirmação abre espaço para uma interrogação envolvendo a comercialização agrícola, isto é, a atuação dos supermercados rebate no papel do sistema CEASA-RJ e, de alguma forma, cria as condições para a organização de operadores logísticos especializados na distribuição de gêneros agrícolas.

Como já indicado, apesar de dominante, essas práticas não configuram linearidades ou homogeneidades. Ao contrário, a criação de operadores logísticos é,

1 CEASA-RJ é uma referência aos mercados articulados pela central de abastecimento. Entre eles, há os mercados do produtor na Região Serrana (Nova Friburgo) e a unidade Grande Rio (CEASA-Rio), localizada no bairro de Irajá, na capital fluminense, no entroncamento da Avenida Brasil com a Via Dutra.

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em si, uma representação plural da lógica particular. Isso posto, a ação desses novos agentes está claramente distante de uma ação monolítica ou orientada para uma única direção.

Essas considerações exaltam a dificuldade em apontar-se o objetivo e a questão central para a tese, afinal, a pesquisa bibliográfica e os trabalhos de campo fomentaram ainda mais as particularidades dos agentes e dos processos envolvidos na comercialização, inviabilizando, consequentemente, as inquietações previstas no projeto de pesquisa submetido ao processo seletivo para o curso de Doutorado na UERJ.

Incialmente, o norte da pesquisa estava nas assimetrias de poder estabelecidas entre as grandes redes varejistas e os produtores familiares. Na verdade, além dessa relação, o objetivo era analisar o papel do Estado na distribuição dos produtos agrícolas no atual contexto da globalização neoliberal. Entretanto, diferente da ação pública materializada pelas centrais de abastecimento, atualmente a ordem global rompe a escala nacional criando racionalidades normativas para a escala local.

Assim, o avanço da tese, em relação à dissertação apresentada em 20062, seria ínfimo porque em ambos os textos a relação central passaria pela representação de temporalidade entre o CEASA-RJ e os supermercados. Da mesma forma, avaliar o papel das políticas públicas como mediadoras da relação desigual entre produtores familiares e grandes varejistas requer a existência da política e uma transformação no papel do Estado. Logo, a direção escolhida no projeto revelou-se inoportuna.

De fato, como argumenta Ribeiro (2013), o projeto de pesquisa foi “feito para ser modificado ao longo de sua execução e aplicabilidade” (p. 90). Então, sem fugir da comercialização agrícola no Estado do Rio de Janeiro, a tese, diferente do projeto, foca, como objeto de estudo, as articulações entre os agentes envolvidos na distribuição e o fortalecimento dos operadores logísticos. Na prática, as empresas de transporte de produtos agrícolas são fixos novos contextualizados por transformações históricas e escalares e, por isso, para além da sua função em si, é fundamental analisar como são suas interações com os elementos espaciais previamente estabelecidos e qual é o resultado dessa relação.

2 SEABRA, Rogério dos Santos. A modernização do sistema de comercialização agrícola no Estado do Rio de Janeiro: uma abordagem espacial para a cadeia de suprimentos. 110 f. Dissertação (mestrado em geografia). IGEO – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2006.

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Portanto, as transformações em curso na comercialização agrícola reorientaram os questionamentos e os objetivos baseados na delimitação de um recorte diferente daquele previsto pelo projeto de pesquisa. Nesse sentido, os objetivos relacionados à proposição de políticas públicas relacionadas ao tema foram absolutamente descartados.

A mudança de foco, contudo, não altera de forma significativa a justificativa da pesquisa. A comercialização agrícola representa o assunto estudado, enquanto que as formas de articulação dos agentes envolvidos, com destaque para os operadores logísticos, constituem o objeto de estudo. Dessa forma, a distribuição de gêneros agrícolas no território fluminense é uma etapa fundamental para a compreensão do processo de constituição e apropriação da renda do produtor rural e da formação do preço do produto agrícola, elementos importantíssimos para a análise das relações campos-cidades, da segurança alimentar, do turismo em áreas rurais, etc. Na prática, pesquisar a comercialização agrícola pode contribuir para avanços acadêmicos em temas para além dela própria.

Tais considerações sustentam a construção de uma questão central desenvolvida na tese:

Como são as articulações dos agentes envolvidos na comercialização agrícola no Estado do Rio de Janeiro com a consolidação e o fortalecimento dos operadores logísticos e quais são seus rebatimentos espaciais?

Com base na questão central, formulam-se outras indagações secundárias, cujas respostas estarão diretamente vinculadas à resolução da questão central. São elas:

a) Como as articulações entre os agentes de comercialização impactam nas relações entre o campo e a cidade?

b) Qual é o papel dos operadores logísticos na comercialização agrícola entre a Região Serrana e a área metropolitana?

c) Como ocorre a relação entre os produtores familiares e os operadores logísticos?

d) Qual é o papel das grandes varejistas transnacionais e nacionais na organização da distribuição de gêneros agrícolas?

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A pergunta central é bastante diferente da questão apresentada no projeto de pesquisa. Entretanto as investigações secundárias são, em geral, semelhantes aos propósitos iniciais. Nesse ponto, ressalta-se o resultado do exame de qualificação do atual curso na construção de um novo norte para a pesquisa sem, todavia, desconstruir totalmente os primeiros passos do estudo.

Os questionamentos anteriormente apresentados servem de base para a definição do objetivo central da pesquisa:

analisar os fluxos materiais e imateriais circulantes na rede de comercialização agrícola para compreender a atuação/interação dos agentes envolvidos na distribuição de gêneros agrícolas.

Esse objetivo poderá ser alcançado com a realização de alguns objetivos específicos, a saber:

a) identificar as características gerais do território fluminense e, em especial, as relações da área metropolitana com o interior;

b) caracterizar as relações entre as áreas de produção e consumo;

c) analisar o papel das técnicas logísticas como diferenciais competitivos; e d) verificar as estratégias de reprodução social dos produtores familiares.

Para responder essas questões e realizar tais objetivos, o desenvolvimento da pesquisa passou por algumas etapas de operacionalização. Os procedimentos de gabinete e de campo foram complementares e serão apresentados sem seguir uma ordem cronológica.

Os dados apresentados na pesquisa derivam da base do IBGE e do sistema CEASA-RJ. A quantificação deriva dos Censos Demográficos e Agropecuários inseridos na plataforma BME – Banco Multidimensional de Estatísticas. Além dessas pesquisas, o SIDRA – Sistema IBGE de Recuperação Automática – incorpora dados de vários levantamentos feitos pelo órgão e, segundo temas e seções programáveis, disponibilizou alguns dados utilizados na pesquisa. A obtenção dos dados brutos no IBGE foi transformada em quadros e gráficos com Microsoft Excel para melhorar a visualização, no caso dos gráficos, ou promover médias ou classificações para os quadros.

Todos os dados obtidos do IBGE foram retirados do sítio da instituição3 e posteriormente trabalhados no software indicado. Os dados referentes ao sistema

3 Disponível em http://www.ibge.gov.br. Acesso em 16 ago 2014.

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CEASA-RJ foram adquiridos de publicações mensais4 com dados e análises sobre o comportamento do mercado no entreposto comercial. Os números apresentados pela publicação são organizados a partir do mês anterior e por séries históricas. Assim, tais dados foram formatados no Microsoft Excel e inseridos no texto da tese.

O desenvolvimento da pesquisa também passou pela realização de quatro trabalhos de campo (dois na Região Serrana Fluminense e dois na Região Metropolitana) e uma entrevista com um proprietário. Em todos os trabalhos, foram feitas entrevistas com agentes envolvidos no processo de comercialização, além da produção de registro fotográfico.

O proprietário entrevistado mora na capital fluminense e produz gêneros agrícolas no município de Teresópolis por meio de sistemas de parceria. As perguntas não seguiram um questionário fechado e foram fundamentais para a compreensão das relações sociais envolvidas na meação e, principalmente, para elaborar o roteiro do primeiro trabalho de campo da tese.

O primeiro trabalho de campo foi realizado em Janeiro de 2013, nas seguintes etapas/tarefas:

a) realização de entrevistas com produtores rurais ao longo da RJ-130 e nas estradas vicinais partindo do eixo principal. Nesse momento, não houve a construção de questionários, ou seja, as entrevistas foram abertas;

b) marcação de coordenadas geográficas dos produtores entrevistados. O sistema de localização utilizado foi o de coordenada geográfica (grau, minuto e segundo) de um aparelho celular;

c) concretização de entrevista com um representante da administração do Grupo JFC, maior operador logístico de gêneros agrícolas atuando no município de Teresópolis. Além da entrevista, o trabalho foi fundamental para a visitação das áreas de seleção e classificação de produtos agrícolas no galpão da empresa;

d) entrevista com administradores do mercado do produtor – Unidade Região Serrana – no município de Nova Friburgo; e

e) visitação ao hotel Le Canton em Teresópolis – sem realização de entrevistas.

4 Informativos de mercado. Disponível em http://www.ceasa.rj.gov.br. Acesso em 16 ago 2014.

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O primeiro trabalho de campo foi fundamental para redirecionar a pesquisa à maior centralidade nos operadores logísticos. Durante o trabalho de campo, além do grupo JFC (já previamente conhecido), foi possível identificar outras empresas de diversos tamanhos. As empresas identificadas no campo formaram a lista apresentada no Quadro 5 do Capítulo 4. Ainda sobre o primeiro trabalho de campo, é fundamental ressaltar a imprecisão dos dados de localização obtidos pelo software utilizado na marcação dos pontos. Na prática, as coordenadas obtidas não foram utilizadas por apresentarem sérias imprecisões quando inseridas no Google Earth.

O segundo trabalho de campo foi realizado em agosto de 2014. Além dos objetivos gerais já indicados, essa atividade foi direcionada à marcação das coordenadas geográficas (após a falha no primeiro trabalho de campo) e à visitação de outros operadores logísticos. Precisamente, as etapas/tarefas realizadas foram:

a) marcação de coordenadas geográficas de produtores rurais de acordo com a inserção na rede de comercialização;

b) entrevista com a administração da empresa Tuti-Fruti;

c) marcação de coordenadas geográficas de operadores logísticos de acordo com o tamanho e o número de caminhões; e

d) entrevistas no mercado do produtor em Nova Friburgo.

Nesse trabalho de campo, em virtude do problema na marcação de coordenadas geográficas do primeiro trabalho, foi utilizado um aplicativo para aparelho celular – GPS área – capaz de apresentar a coordenada em forma decimal e, principalmente, com maior precisão. Assim, os produtores e as empresas visitadas foram marcados para a elaboração de mapas e esquemas apresentados ao longo da tese. Ainda sobre esse trabalho de campo, convém ressaltar o uso de questionários fechados (apresentados em anexo) de acordo com os apontamentos feitos segundo a qualificação. Além de orientar a entrevista, a elaboração de um questionário fechado permitiu, diferentemente do primeiro trabalho de campo, a quantificação das entrevistas realizadas. Foram 235 entrevistas realizadas: 19 com produtores familiares, 3 com operadores logísticos e 1 com atravessador (operador logístico sem formalização).

5 Não representam uma amostra probabilística.

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No mercado do produtor, as entrevistas realizadas serviram para levantar informações sobre o custo inicial e médio aos produtores rurais localizados na Região Serrana. Um destaque dessas entrevistas é o uso intensivo de agroquímicos e biotecnologia mesmo para produtores de pequeno porte, o que indica, consequentemente, uma relação direta entre a forma de produzir e atuais articulações entre os agentes envolvidos na comercialização.

Nos dois trabalhos, as relações entre a produção agrícola familiar e o turismo em espaço rural foi objeto de análise. As entrevistas e as observações em campo foram fundamentais para a caracterização da área de estudos – o circuito Tere-Fri – e também para as reflexões sobre as relações daquela área com a Região Metropolitana. A presença marcante de hotéis e pousadas próximas e articuladas aos produtores familiares foi suporte para alguns apontamentos feitos, essencialmente, nos dois primeiros capítulos.

Na área metropolitana, os dois trabalhos foram realizados em agosto de 2014.

O primeiro na Unidade Grande Rio do sistema CEASA-RJ – CEASA-Rio – e o segundo com feirantes em Jacarepaguá.

No CEASA-Rio, o objetivo principal era compreender as relações do entreposto público com as grandes redes varejistas. Na verdade, nos últimos 20 anos, a unidade deixou de abrigar vários supermercadistas sem, contudo, perder totalmente sua centralidade no processo de comercialização agrícola. Isso posto, as entrevistas, com questionários abertos, foram feitas com funcionários da rede mundial de supermercados (a única remanescente no entreposto) no pavilhão 14, com os três fornecedores (atacadistas) dos varejistas e no pavilhão 21.

Distinto dos demais pavilhões, o 21 é destinado, teoricamente, aos produtores familiares do Estado do Rio de Janeiro. Na prática, é, em geral, área de atuação de atravessadores (como indicou a entrevista no segundo trabalho de campo na Região Serrana). O objetivo principal foi verificar a origem dos produtos, isto é, se há produtos de circuito Tere-Fri, e o destino desses gêneros agrícolas para, em seguida, montar esse canal de comercialização. Foram 12 entrevistas no pavilhão 21, das quais 7 eram de Vargem Grande – Teresópolis – e nenhum entrevistado vendia seus produtos para supermercados.

O trabalho de campo com feirantes era basicamente para ratificar a formação de um canal paralelo e articulado de comercialização. Os produtos dos feirantes

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entrevistados foram comprados no CEASA-Rio não necessariamente no pavilhão 21, o que demonstra, portanto, articulações e contatos entre os canais de comercialização. De fato, o campo com feirantes também revelou uma série de relações desse modelo de comercialização com consumidores e configuração espacial da capital fluminense. Todavia, tais informações fogem do escopo desta pesquisa.

Das informações coletadas em campo, as coordenadas geográficas merecem destaque. Os pontos foram marcados na base cartográfica disponibilizada pelo IBGE originados no ArcMap 10 e transformados no mapa 6 (Capítulo 4). Os outros mapas foram feitos no Corel Draw com bases cartográficas elaboradas pelo governo do Estado do Rio de Janeiro e pela Prefeitura Municipal da Cidade do Rio de Janeiro. O uso de dois programas diferentes revela a necessidade (ArcMap) ou não (Corel Draw) de georreferenciar as informações de cada mapa. Além da elaboração de mapas, o software Corel Draw foi utilizado na elaboração de todos os esquemas apresentados na tese.

Além dos esquemas, a Imagem 1 (Capítulo 4) foi feita com georreferenciamento dos pontos no Google Earth e posterior sobreposição de informações pelo Corel Draw.

As duas ferramentas foram, em conjunto, utilizadas para a representação de informações coletadas no segundo trabalho de campo.

Os trabalhos de campo, quando associados ao embasamento teórico, foram organizados em quatro capítulos. O primeiro capítulo apresenta um breve panorama do território fluminense ressaltando o peso metropolitano e sua relação com o interior.

O principal objetivo é articular o recorte espacial não contínuo, ou seja, as conexões reticulares entre as áreas de produção e o consumo na Região Metropolitana. Para tanto, os dados demográficos e econômicos são enfatizados para exemplificar a orientação dos fluxos materiais, basicamente os produtos agrícolas do campo em direção à cidade, e imateriais, normas e regras geradas pela demanda produzida/criada pela centralidade urbana/metropolitana típica do Estado do Rio de Janeiro.

O segundo capítulo trabalha as relações campos-cidades com base no recorte espacial e temático. Em outras palavras, as interações entre cidade e campo são interpretadas pelo viés da comercialização agrícola e, portanto, das redes geográficas, e exemplificadas pelas articulações entre as áreas serrana e metropolitana. As

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referências empíricas exigem, também, algumas notas sobre a relação entre produção agrícola, comercialização e turismo em áreas rurais. Pensando no turismo, os fluxos da área metropolitana para a Região Serrana são importantes apontamentos para a caracterização da produção familiar, a paisagem e a comercialização.

O terceiro capítulo expõe a construção das normas e regras de competitividade das grandes redes varejistas e, sobretudo, analisa, de forma transescalar, os impactos na configuração da comercialização agrícola no espaço fluminense. De caráter mais teórico, essa seção articula a escala e redes geográficas ao caráter necessariamente reticular e fluido da organização da comercialização agrícola.

Finalmente, no quarto capítulo, a tese apresenta o resultado dos trabalhos de campo em interação com o cabedal teórico em uma perspectiva histórica. Assim, o texto busca as articulações atuais e pretéritas entre os agentes envolvidos na comercialização agrícola no Estado do Rio de Janeiro, com destaque para a capacidade de gestão dos fluxos e a centralidade na rede de distribuição.

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1 O ESPAÇO FLUMINENSE E SUAS DESCONTINUIDADES POPULACIONAIS E ECONÔMICAS

Galvão (2009) já indicara a relação entre o crescimento demográfico na antiga capital federal e a produção de gêneros agrícolas. Segundo a autora, áreas outrora dedicadas à produção de gêneros agrícolas e, consequentemente, ao abastecimento da cidade representavam “uma área de expansão da metrópole” (p. 203), relacionando, portanto, o constante processo de (re)criação de zonas produtoras de alimentos à pujança do mercado carioca.

Naquele contexto, o artigo apresentara as relações complexas entre a dilatação do urbano carioca (e da área metropolitana) e a permanência/resistência da produção agrícola em virtude do crescente mercado consumidor carioca. As articulações metropolitanas em construção foram marcadas também pelas raízes agrícolas e pela possibilidade múltipla desse processo. Nas palavras da autora,

Mas se por um lado a cidade representava então um incentivo à agricultura nessa área rural tão próxima, por outro poderia vir a ameaça-la, em pouco tempo, dado o seu vertiginoso crescimento demográfico e a consequente ampliação do espaço urbano (GALVÃO, 2009, p. 204).

Seguindo as constatações de Galvão (2009), as transformações na atual periferia metropolitana6 foram mediadas pela técnica, no caso, obras de drenagem, capazes de viabilizar a mutação de áreas de produção em loteamentos urbanos.

Assim, a especulação imobiliária, em associação com processos migratórios, fomentou a ocupação dos municípios vizinhos ao antigo Estado da Guanabara, empurrando as áreas de produção do cinturão verde para locais mais distantes.

Como afirma a pesquisadora,

Com tudo isso, vê-se que uma grande transformação da zona rural se vem processando em decorrência do crescimento urbano e, sobretudo, do loteamento que denuncia, mais do que uma explosão demográfica, o efeito da especulação (GALVÃO, 2009, p. 209).

Galvão (2009) apresenta algumas singularidades do Estado do Rio de Janeiro em relação a outros Estados da Federação, indicando o peso metropolitano, ou seja,

6 Municípios de Itaguaí e Nova Iguaçu.

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a importância econômica e demográfica da área metropolitana em relação ao interior fluminense.

A obra conversa de forma direta: há referências do transbordamento do crescimento populacional na atual capital do Estado para os municípios da periferia metropolitana, isto é, a construção daquilo que é explorado na segunda, ou seja, a desigualdade demográfica entre a metrópole e o interior.

As referências indicadas por Galvão (2009) são estruturantes para a construção deste capítulo. Aqui o objetivo principal é apresentar a atual concentração demográfica na Região Metropolitana em relação ao interior para, em seguida, edificar tal espaço como um principal centro de consumo de gêneros agrícolas produzidos no interior fluminense.

Na mesma linha, o crescimento demográfico metropolitano estruturou novas articulações entre produção agrícola e consumo. Portanto, este capítulo tem como objetivo caracterizar o peso da metrópole e o espaço de produção de hortícolas olerícolas na Região Serrana. Assim, este texto encadeará argumentos para justificar o intenso fluxo de produtos para a capital (e toda a Região Metropolitana) e, em seguida, apresentará uma caracterização geral da área de produção recortada para este estudo.

1.1 O espaço fluminense e suas dinâmicas demográficas e econômicas.

O Estado do Rio de Janeiro é marcado pelo intenso peso metropolitano em praticamente todos os indicadores. Conforme a indicação de Ribeiro (2002) e Ribeiro e Cavalcanti (2012), há uma concentração demográfica na Região Metropolitana e, dentro dessa área, uma centralização no núcleo metropolitano, ou seja, na capital do Estado.

Na mesma linha, Oliveira (2008) articula o processo de concentração na área metropolitana aos primórdios da industrialização, associada aos investimentos públicos da federação e à própria centralização política da atual capital fluminense.

Seguindo este autor, outro elemento importante para a concentração demográfica e econômica é a infraestrutura, principalmente as rodovias que projetam a antiga capital federal para o país, com pouca integração com o interior. Segundo Oliveira (2008),

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A industrialização e a formação do tecido urbano no estado do Rio de Janeiro, portanto, têm peculiaridades importantes tanto em termos de concentração das atividades industriais no núcleo metropolitano, quanto do processo de formação, ocupação e desenvolvimento da RMRJ e no interior do estado (p.

60).

O peso demográfico é processual, assim como a atual configuração político- administrativa do Estado do Rio de Janeiro é recente, resultante da sua história imbricada com as transformações que ocorreram na nação. A organização administrativa atual, com 92 municípios, decorre da última emancipação no Estado, ou seja, em 2001, quando o município de Mesquita foi emancipado de Nova Iguaçu.

Não obstante, tal formação administrativa tem uma série de marcos estruturantes, analisados por Ribeiro (2002) e Marafon et al. (2011), para a construção do enorme peso metropolitano (em indicadores demográficos e econômicos, por exemplo) em comparação ao interior fluminense. Já a divisão regional atual é ainda mais nova: foi redefinida em 2013 (Mapa 1).

A centralidade metropolitana está associada ao peso da atual capital do Estado, a cidade do Rio de Janeiro, fundada em 1565. Por ter passado uma grande parte da história nacional exercendo a função de capital (do Império Português, do Império Brasileiro e da República), extrapolou sua influência para além dos limites fluminenses7. Na verdade, como ressalta Ribeiro (2002), em 1763, a cidade do Rio de Janeiro foi transformada em capital e, em 1834, é transformada em Município Neutro, separando-se, do ponto de vista político e administrativo, da Província do Rio de Janeiro.

7 Vale destacar, como indicam Evangelista (1998) e Motta (2001), que capital e interior são desarmônicos até quando se trabalha com a construção de identidades, ou seja, os termos carioca e fluminense referem-se, respectivamente, ao município do Rio de Janeiro e ao Estado.

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Mapa 1 – Estado do Rio de Janeiro, Municípios e Regiões de Governo

Fonte: CEPERJ – 2014

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