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RELAÇÕES ÉTNICO - RACIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL EM ESCOLA DA REDE PUBLICA NA CIDADE DE VITÓRIA-ES

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RELAÇÕES ÉTNICO - RACIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL EM ESCOLA DA

1REDE PUBLICA NA CIDADE DE VITÓRIA-ES

(Autor: 12pt – Garamond – Alinhado à Direita) (Inserir apenas o nome dos autores após a aprovação do artigo, com informações institucionais e pessoais ao final do artigo, como formatado neste modelo)

INTRODUÇÃO

Este artigo e resultado da pesquisa sobre as relações raciais na educação infantil, realizada com crianças de 04 a 06 no centro municipal de educação Infantil localizado no município de Vitoria – ES, no 2º semestre de 2018. A partir do questionamento: como se dá o processo de inclusão das relações étnicos raciais na educação infantil e quais conteúdos didáticos e ações pedagógicas são desenvolvidas no ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nesta etapa da formação.

Para alcançar o objetivo dessa pesquisa utilizei o procedimento metodológico qualitativo com entrevistas semiestruturadas e observação participante. A escuta dos sujeitos se efetivou: com as professoras dos grupos 5 e 6; com as pedagogas do turno da manhã e com a diretora. Na observação participativa analisei o espaço escolar, o material didático utilizado, a ambientação, as imagens em murais, as atividades desenvolvidas em sala de aula, as refeições, brincadeiras, passeio, o tratamento ofertado as crianças no convívio do dia a dia, as relações das crianças entre si e com os demais envolvidos no processo educacional no âmbito escolar.

O ensino da educação étnico-raciais na educação infantil é um grande desafio para o enfrentamento das desigualdades sociais, discriminação e preconceito racial sofrido por negros e negras, abandonados à própria sorte após a chamada abolição da escravatura com a lei áurea. O processo de educação desenvolvido no Brasil ao longo dos séculos excluiu a população negra de ter acesso a sua história e cultura, negando a construção de sua identidade e os colocando numa situação de inferioridade em relação aos brancos. Neste sentido, Dias, L. R. e Bento, M. A. S. (2015, pp.1-2) defendem que, “Devemos garantir as crianças o direito de serem crianças, protegendo-as de propostas educacionais que "roubem suas infâncias", [...] e que educação para a primeira infância deve incluir as relações raciais como parte integrante da construção socialização”.

Este artigo é fruto de um projeto de pesquisa desenvolvido no semestre de 2018/2 como parte da atividade avaliativa da disciplina Métodos e Técnicas de Pesquisa II, ministrada pela Profa. Aline Trigueiro no Departamento de Ciências Sociais da UFES.

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Os dilemas sobre as relações étnico-raciais no Brasil são constantemente associados à educação de forma geral, porém, as “relações raciais e educação raramente se voltam à Educação Infantil. ” (SILVA, SOUZA, 2013).

Neste artigo, os aspectos observados na pesquisa serão destacados e problematizados nos tópicos: inclusão da lei 10639/2003; formação da identidade da criança; formação de professores e suas trajetórias; prática pedagógicas no enfrentamento do racismo e preconceito, e os desafios do cotidiano. Com um olhar concentrado no cuidado e na educação nesta etapa primordial da formação.

INCLUSAO DA LEI 10639/2003

A educação infantil é a primeira etapa da educação básica que atende crianças de 0 a 5 anos de idade. Compreende-se que entrar em uma instituição de educação infantil significa um primeiro rompimento com a família experimentado pela criança, dessa forma, a instituição deve estabelecer uma forte ligação com a família e comunidade de cada criança, buscando “conhecer e trabalhar com as culturas plurais, dialogando com a riqueza/diversidade cultural das famílias e da comunidade. ” “Base nacional curricular comum” BNCC (2017, p.35).

Essa reflexão aqui apresentada é uma das bandeiras de luta do movimento negro a partir da década de setenta, e tomado como prioridade em sua agenda em todo território brasileiro. Este debate ganha força no meio acadêmico, com a promulgação da lei federal 10.639/2003 que versa sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira.

Na investigação realizada junto a escola, observei o trabalho em curso no qual a instituição de ensino analisada trabalha a partir de projetos, sendo relatado pela diretora, pedagogas e professores entrevistados que no ano de 2017 eles trabalharam com um projeto sobre diversidade e no qual estava inserido reflexões sobre a cultura negra. As questões étnicas raciais são trabalhadas no dia a dia a partir de formação recebida e da experiência dos profissionais deste centro de ensino.

Que intervém dialogando, cotando histórias para que a criança perceba que devemos respeitar o outro que é diferente dela. Foi salutar ver na escola a preocupação com a discriminação racial sofrida por crianças negras e a imediata ação de moderar tais práticas. Pois na sociedade brasileira é muito reforçado o padrão branco como única forma de humanidade. Os alunos negros precisam entender de onde vem, conhecer sua cultura, poder se identificar. E os que são brancos, precisam conhecer outras culturas, entender que não é a sua que é dominante, e sim que existem outras com a mesma importância e com muita história.

Há grande dificuldade das escolas em abordar a temática das relações étnicos raciais com as crianças. Principalmente quando se fala em educação infantil é praticamente deixado de lado, muitas vezes, por subestimarem as crianças de conseguirem entender ou lidar com o assunto. Sendo o Centro Municipal de Educação Infantil no qual realizei a pesquisa é um espaço privilegiado por contar com profissionais capacitadas no conhecimento e na vivencia das questões étnicos raciais, no qual em relação ao conhecimento da lei 10639/2003, das cinco entrevistadas, quatro tinham conhecimento de seu conteúdo. Esta consciência foi adquirida pelos sujeitos na participação em atividades do movimento negro (a diretora e uma pedagoga”, nas formações promovidas pela Secretaria Municipal de Educação e no diálogo e estimulo de ações na própria escola. Decorridos 15 anos da aprovação desta lei muita coisa foi realizada, mas é preciso estar atento pois a pratica do racismo continua muito presente e de forma velada.

A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DA CRIANÇA

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Na educação infantil pude perceber que surgem questões como: quem sou eu? Quem é ele? Por que ela é diferente de mim? Por que meu amigo/a tem essa cor? Por que o sapato dele e diferente do meu? Por que a bolsa dela é desse jeito? Partindo dessas questões, o papel do educador e da educadora na construção da identidade é bastante influente. Assim, o estudo da história e da cultura africana na educação infantil torna-se de extrema importância na construção da identidade das crianças negras e na desconstrução de uma história contada ao longo dos séculos, que perpetua os negros numa situação de inferioridade em relação ao branco. Segundo Cunha (2003, p. 2), o

“elemento básico para a introdução da história africana não está na história africana e sim na desconstrução e eliminação de alguns elementos básicos das ideologias racistas brasileiras. ” Nessa concepção, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI, 2009) apresentam a criança como um sujeito histórico e de direitos, que através das relações e interações cotidianas desenvolve a sua identidade pessoal e coletiva, nesse proposito, constrói e questiona os sentidos sociais e produz cultura. De acordo com a professora da turma de 04 anos:

“Na hora de colorir os desenhos quando eu comecei a trabalhar aqui, hoje já bem menos era bem assim. Eu quero pintar essa boneca aqui, me dá o lápis cor de pele. O que vem a ser cor de pele? Cor de pele naquela época era aquela pele rosada. Hoje eu pergunto qual cor de pele você quer? Cor de pele igual a mim!

Cor de pele igual a dele! Cor de pele igual a de quem? Existe vários tons de cor de pele, então eles começam a perceber. E aí você como se fosse o outro vai explicando no desenho que eles estão pintando na rotina, na atividade você vai falando essas questões. ” (Entrevista literal concedida a Elio, em 21/09/18).

Identifiquei nas relações entre as crianças e no depoimento relatado pela professora, que o espaço da educação infantil não deve ser alheio aos desafios enfrentados no dia a dia pela população negra. Segundo Paim (1993, p.26), “um ambiente hostil, tem se observado nos currículos, no material didático das mais diferentes disciplinas, nas relações entre alunos e professores e alunos”. Nessa perspectiva o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil-RCNEI (1998, p.11), recomenda que:

“O desenvolvimento da identidade e da autonomia está intimamente relacionado com os processos de socialização. Nas interações sociais se dá a ampliação dos laços afetivos que as crianças podem estabelecer com as outras crianças e com os adultos, contribuindo para que o reconhecimento do outro e a constatação das diferenças entre as pessoas sejam valorizadas e aproveitadas para o enriquecimento de si próprias” (RCNEI, vol. 02, 1998, p.11).

A participação das educadoras e dos educadores detém uma forte influência sobre as crianças e nessa situação estes profissionais devem ter o cuidado todo especial para que uma criança não seja privilegiada em detrimento da outra. A criança percebe e senti tal situação, isto a deixa desmotivada para a convivência com seus pares e a prejudica na compreensão dos conteúdos transmitido em aula. Nesta circunstância um acompanhamento individualizado se faz necessário para a criança, isso tende a requerer uma dedicação extra dos professores. Essa situação presenciei em uma aula com as crianças onde a professora dedicou uma atenção especial a uma criança negra para o aprendizado do conteúdo. Essa atitude de orientar individualmente eleva a autoestima e confiança da criança em si mesma, para que não se sinta inferior aos demais colegas da turma, pelo fato de não ter assimilado num primeiro momento o conteúdo quando esse foi transmitido.

Segundo Damasceno (2016, p.255), “A criança negra [...] sofre com os estigmas do preconceito, porque ela está continuamente recebendo uma imagem desagradável de si própria através dos outros para com ela”. Assim sendo deva ser favorecido um ambiente com espaço acolhedor para as crianças, privilegiando a integração social entre negros e brancos, valorizando a

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diversidade cultural e dando o mesmo tratamento a ambos, buscando preparar o local de estudo e aprendizado com imagens e história que elevem a sua autoestima.

A formação da identidade perpassa várias áreas, entre elas a cultural, a econômica: porque a bolsa dela e diferente da minha? Um questionamento feito por uma criança no campo social e econômico, que aponta para a situação de desigualdade social presente em nossa sociedade, que impacta no modo de vida de cada indivíduo desde criança. Neste sentido Gomes (2003, p.172) lembra que:

“O olhar lançado sobre o negro e sua cultura, na escola, tanto pode valorizar identidades e diferenças quanto pode estigmatizá-las, discriminá-las, segregá-las e até mesmo negá-las. É importante lembrar que a identidade construída pelo negro se dá não só por oposição ao branco, mas também pela negociação, pelo conflito e pelo diálogo com este. As diferenças implicam processos de aproximação e distanciamento. Nesse jogo complexo, vamos aprendendo, aos poucos, que as diferenças são imprescindíveis na construção da nossa identidade” (GOMES, 2003, p.172).

FORMAÇÃO DE PROFESSORES E SUAS TRAJETÓRIAS

Para acabar com a cultura racista é preciso que esta seja combatida desde a infância, desmistificando o domínio da cultura branca imposta ao longo da história educacional brasileira. A pesquisa de (DIAS, 2012), foi escrita a partir de entrevistas feitas com professoras e monitoras de algumas instituições de educação infantil. Ao serem questionadas a respeito das relações étnico- raciais, as respostas provinham de uma apropriação de cursos feitos independentes da instituição de ensino ou da graduação. Porém, as respostas não foram, em sua totalidade, satisfatórias.

A pesquisa de (DIAS, 2012), é relevante, pois apresenta uma conformidade com as respostas obtidas nas entrevistas realizadas durante minha pesquisa. Ao debater sobre as questões étnicos raciais, constatei que a formação dos profissionais da educação se deu através de cursos promovidos pela secretaria de educação, entidades sociais ligada ao movimento negro e atividades promovidas pela própria escola com assessoria externa. Ao pensar a importância da formação de professores e professoras dentro desse processo, faço a descrição das trajetórias das pessoas entrevistada na pesquisa.

Trajetória da diretora:

“Olha só têm mais ou menos 16 anos que eu trabalho na educação infantil tenho 25 anos de trabalho em vitória e mais ou menos 16 anos, 15 a 16 anos atrás eu até essa época trabalhava no ensino fundamental, [...] eu estava disposta mesmo a sair do fundamental para ir para a educação infantil. [...] eu fiz uma nova descoberta. [...] conhecer uma nova realidade que a gente no fundamental tinha muito preconceito com a educação infantil, a gente tinha aquela fala de que a criança chega no primeiro ano e não sabe nada, o que que eles fazem no CMEI, só brincam e tal, e quando eu cheguei aqui eu vi que não e nada daquilo ne que havia, que há até hoje como naquela época profissionais maravilhosos. O trabalho desenvolvido com muita seriedade, muita responsabilidade e aí foi isso, [...] acabei vindo parar na educação infantil, e foi uma escolha muita feliz, porque eu não me arrependo foi muito bom para mim. ” (Entrevista literal concedida a Elio, em 25/09/18).

Trajetória da professora da turma de 04 anos:

“Quando entrei no ensino infantil tinha uns 15 anos de ensino fundamental, [...]

eu imaginava que no ensino infantil não ensinava nada. [...] eu pensava que o

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queria de jeito nenhum. Quando eu passei no concurso [...] pra mim na época só sobrou o ensino infantil. No primeiro ano [...] já me identifiquei, já percebi que não era aquilo que imaginava, [...] aí eu fui me profissionalizando, me especializando junto com o grupo, junto com as crianças, aí eu me envolvi a partir do conhecimento que eu tive na pratica e nas leituras que eu fiz. [...] eu tenho dois momentos, um que eu entrei e outro que eu me envolvi. Hoje eu sou 100%

educação infantil. ” (Entrevista literal concedida a Elio, em 21/09/18).

Trajetória da professora da turma de 05 anos:

“Eu comecei mesmo porque eu tive um filho [...] eu comecei a trabalhar no berçário e meu filho ficou na sala de maternal dois. Eu comecei a me identificar com a educação infantil e muito cuidar mesmo. [...] eu tinha feito secretariado, aí fui fazer o magistério a noite, depois fiz pedagogia [...] passei no concurso de Vitória e estou até hoje, me senti uma pessoa que por uma necessidade passei a gostar desde o começo. [...] 22 anos eu iniciei mesmo na educação infantil. ” (Entrevista literal concedida a Elio em 21/09/18).

Trajetória da pedagoga das crianças de 04 a 06 anos:

“Eu me formei em 2010 e comecei a trabalhar nessa modalidade da educação infantil no ano de 2017 nessa escola, pra mim e tudo muito novo. [...] eu inicie na educação infantil e gostei da rotina, nunca foi a minha praia, nunca fui professora de educação infantil. Eu gostei, é uma etapa que demanda muito cuidado, muita atenção no cuidar, no educar [...] eu sempre me identifiquei melhor com as series iniciais, mas eu gosto muito de trabalhar com as crianças”.

(Entrevista literal concedida a Elio, em 25/09/18).

Trajetória da pedagoga das crianças de 0 a 03 anos:

“Este ano faz 07 anos que estou na educação infantil, eu me envolvi foi meio sem querer mais foi por força do destino, porque até então eu tinha atuado no ensino médio, fundamental 1, fundamental 2, eja. [...] eu sempre dizia que eu não tenho estrutura para atua na educação infantil [...] eu não queria ir pra educação infantil. Em 2011 eu passei no concurso, [...] então eu assumi a vaga no cmei, consciente assim, eu vou no cmei para finalizar o ano porque quando acaba o ano você obrigatoriamente vai para remoção, vai e escolhe sua cadeira definitiva.

[...] Só que eu cheguei na cmei e não quis mais sair, vi pra cá em 2011 eu me apaixonei”. (Entrevista literal concedida a Elio, em 25/09/18).

As trajetórias narradas evidenciam a seriedade, comprometimento e a paixão, que cada

uma das entrevistadas adquiriu pela educação infantil, aprendendo na pratica do dia a dia e buscando formação para trabalhar nesta etapa de ensino. Por outro lado, é preocupante como foram os critérios de escolha dos profissionais e como se dá o processo de formação voltado para os profissionais que trabalham com as crianças. Nessa perspectiva Gomes (2003, p.169) questiona:

“como os/as professores/ras se formam no cotidiano escolar? Atualmente, quais são as principais necessidades formadoras dos/das docentes? Que outros espaços formadores interferem na sua competência profissional e pedagógica? ”

(DIAS, 2012), salienta que contrapor com o eurocentrismo cultural, e apresentar a cultura e pensadores africanos na sala de aula é essencial. Existem os desafios, tanto para os professores quanto para os alunos. Professores e alunos precisam sair da sua zona de conforto e abrir os horizontes para uma nova cultura. Propostas lúdicas para crianças são uma ótima forma de se apresentar algo diferente, nesse sentido, deve-se enfatizar que a diversidade apenas acrescenta de forma positiva na sociedade.

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Portanto, cursos para a formação docente em relação à diversidade cultural e étnico-racial são essenciais, por uma lacuna aberta no processo de aprendizado nas universidades e para que sejam transpassados aos alunos da educação infantil os saberes de forma eficiente.

PRATICA PEDAGÓGICAS NO ENFRENTAMENTO DO RACISMO E PRECONCEITO

Ao observar o espaço escolar constatei a inclusão de bonecas negras, imagens de pessoas negras nos murais e livros de histórias com a participação de personagens negros, isso demonstra uma preocupação da escola com os processos de discriminação e com relação a auto estima da criança negra, que não se via representada nesse ambiente. No entanto essa preocupação revela muito sobre a condição que a sociedade está subordinada. O processo de branqueamento da população ainda está muito arraigado nas ideias sociais, mesmo que de forma inconsciente para muitas pessoas, pois, sempre faz com que o padrão de humanidade esteja relacionado ao homem branco. Se isso não fosse uma realidade, não haveria a preocupação de incluir a imagem de uma criança negra, pois tal ato aconteceria naturalmente. Ou, até mesmo, aconteceria ao contrário, haveria uma preocupação de incluir a imagem da criança branca.

Em uma das visitas a escola presenciei a seguinte situação em sala de aula: uma criança estava chorando em seu canto e quando a professora percebeu parou o que estava explicando, voltou-se para a criança e perguntou porque ela estava chorando. A criança respondeu mostrando um desenho no qual o colega havia dito que o menino ali representado era ele, essa criança se sentiu rejeitada pelo colega. A professora com o desenho em mãos, olhou para o mesmo e mostrou para as crianças fazendo uma reflexão com a classe, mostrando diversos aspectos positivo na imagem do desenho. Ao concluir a professora revela que desejava ser aquela criança, isso levou o grupo a se manifestar de forma espontânea dizendo que queria ser a criança da imagem, nessa altura o menino já não chorava mais e foi reintegrado à sala tendo sua autoestima elevada. A pratica pedagógica no combate ao racismo deve ser enfrentada diariamente, convivemos numa sociedade carregada de informações preconceituosas e racistas sobre os negros e isso as crianças já vivem desde pequenas e podemos perceber nos relatos das professoras das turmas de 04 e 05 anos:

“Vai acontecendo as coisas em sala e você vai fazendo as intervenções, porque nós não podemos ficar esperando pelo um projeto engessado, esperando ter esse projeto para falar disso. E o tempo todo que estamos falando em diversidade, o tempo todo. A criança pega o livro e fala assim, esse aqui e o cabelo dele, o cabelo dele é feio. [...] fazer uma rodinha não quer, se afasta não dá a mão, o professor perceber essa situação, aí é a hora de estar chegando conversando procurando história, musicas, relato, fazendo essa integração, buscando o entendimento das crianças, a coisa acontecer assim no momento, sentiu vamos fazer esse trabalho”. (Entrevista literal concedida a Elio, em 21/09/18).

Gomes (2003, p.175), afirma que é na escola que as crianças percebem “desde muito cedo, que ser chamada de “negrinha” nem sempre significa um tratamento carinhoso, pelo contrário, é uma expressão do racismo”. A autora também apresenta as experiências negativas vividas em relação ao cabelo crespo e os penteados que são usados pelas crianças negras, e diz que são altamente criticados e considerados como “não arrumados”. Nesse sentido Forde (2016, p.51) salienta “que a cor da pele e a textura do cabelo estão associadas a significados “outros” do que aqueles que simplesmente nos remeteriam às diferenças fenotípicas”. Por isso ser importante as crianças começarem a aprender sobre as diferenças e o respeito a cada uma delas. E na qual Segundo Munanga (2003, p.7): A igualdade supõe também o respeito do indivíduo naquilo que tem de único, como a diversidade étnica e cultural e o reconhecimento do direito que tem toda pessoa

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DESAFIOS DO COTIDIANO

As crianças negras estão diariamente expostas a situações nas escolas que afetam sua dignidade; e a educação infantil, como espaço que associa educar e cuidar, deve estar disposta a educar as crianças que praticam atos inapropriados, e cuidar, não somente dos aspectos físicos de

cada criança, mas também dos subjetivos, que diariamente são ignorados pelos educadores.

Diante disso, (GOMES, 2013) faz seu estudo com base em vários depoimentos de homens e mulheres negros, na faixa de 21 a 60 anos, que ao retomarem momentos marcantes de sua história de vida, destacaram a sua passagem na escola, que se apresenta em suas lembranças como um tenso processo na construção da identidade negra, reforçando estereótipos e representações negativas sobre o negro e o seu padrão estético. (GOMES, 2013) questiona com esse estudo as representações sobre o corpo negro e os processos de formação de professores.

Através das entrevista e de minha observação dentro do espaço escolar, apresento neste artigo alguns desafios que interfere na formação e relação das crianças em seu cotidiano escolar: A relação da escola com a família, onde a família muitas vezes cruza o braço e delega para a escola, o papel que seria deles; O tempo para reuniões internas dos profissionais prevista no calendário escolar; a carência de formação presencial que privilegie a discussão coletiva; A estrutura física da escola, que não dispõe de área com arvores e outras plantas; Os recursos financeiros para melhoria das instalações e do planejamento pedagógico; A falta de um profissional na função de coordenador, que acaba sobrecarregando outros profissionais da escola; o número ideal de criança por sala de aula.

A escola e as famílias precisam estar bem articuladas para que grandes mudanças e melhorias ocorram no ambiente escolar. Entretanto, (BARBOSA, 1987) em seus estudos discorre sobre a forma como as famílias lidam com seus filhos negros em uma sociedade com a cultura racista, e observa que muitos pais possuem uma postura de acomodação, possivelmente por estarem habituados com o tratamento que receberam desde crianças e também por terem sido criados nessa cultura racista.

E um desafio pensar como o racismo impende as pessoas de serem elas mesmas, uma violência que tem seu início como criança e perpassa todas as etapas da vida, e a escola não deve deixar que as crianças negras tenham seus sonhos diminuídos ou apagados por privilegiar o domínio do branco nesse espaço de aprendizado. De acordo com Munanga (2003, p.5):

“ [...] os indivíduos da raça “branca”, foram decretados coletivamente superiores aos da raça “negra” e “amarela”, em função de suas características físicas hereditárias, tais como a cor clara da pele, o formato do crânio (dolicocefalia), a forma dos lábios, do nariz, do queixo, etc. que segundo pensavam, os tornam mais bonitos, mais inteligentes, mais honestos, mais inventivos, etc. e consequentemente mais aptos para dirigir e dominar as outras raças, principalmente a negra mais escura de todas e consequentemente considerada como a mais estúpida, mais emocional, menos honesta, menos inteligente e portanto a mais sujeita à escravidão e a todas as formas de dominação”

(MUNANGA, 2003, p.5).

Desse modo, é imprescindível essa relação afinada entre as famílias e a escola, para que os pais e a escola percebam que as situações que afetam negativamente uma criança não deve ser silenciada ou amenizada. Ao contrário, todos os desafios que ocorrem no cotidiano escolar devem ser explorados, conversados e solucionados.

CONCLUSAO

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A educação das relações étnico-raciais na educação infantil apresenta um grande desafio de repensar as práticas pedagógicas desenvolvidas nessa etapa inicial de formação e construção da identidade das crianças, que vai impactar em todas as etapas de sua vida.

Destacamos a necessidade de promover a integração escola e família, para apontar um novo olhar sobre as questões raciais e a preparação do ambiente escolar com elementos da cultura africana. Inserindo imagens que retratem positivamente as pessoas negras para que as crianças se reconheçam. Portanto, se faz necessário que desde cedo a criança saiba quem ela é.

Nesse sentido, torna-se imprescindível que se organize formação continuada sobre a cultura e história africana para os docentes que, além de estarem no dia a dia com as crianças, irão colaborar na elaboração do currículo escolar e na escolha dos materiais utilizados que respeitem e valorizem a diversidade cultural do povo brasileiro, repensando as relações sociais, a didática e os tipos de avaliação. Precisa estar capacitado para poder enfrentar algo difícil como essa temática aqui refletida, trazendo para o espaço escolar os diversos saberes dos povos que constitui a origem da nação brasileira e não apenas os saberes centrados na cultura europeia.

Devemos estar sempre atentos às orientações da lei federal 10.639/03, na promoção de uma educação inclusiva e participativa. Favorecendo relações mais igualitárias entre os indivíduos, rompendo um ciclo de oprimido e opressor. Escutar as crianças enquanto sujeito nesse processo, garantido a ela o direito de ser criança.

O ambiente da educação infantil é um dos espaços privilegiados da construção da identidade da pessoa humana, e que as relações ali experimentadas e vivenciadas, iluminarão as trajetórias de vidas dessas crianças, impactando o seu jeito de ser no presente e no futuro, por isso torna-se importante observar e entender esse período da formação escolar.

REFERÊNCIAS

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Diário Oficial da União. Brasília, 2003.

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (Brasil). Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Resolução CNE∕CEB nº 5/2009, de 18 dezembro de 2009. Diário Oficial da União, Brasília, 18 dez. 2009. Seção 1, p. 18.

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2013. Editora UFPR

Referências

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