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A filosofia da linguagem de Wittgenstein E suas contribuições para educação infantil

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Academic year: 2021

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A filosofia da linguagem de Wittgenstein

E suas contribuições para educação infantil

Carlos André de Lemos Faculdade dos Guararapes Carlosdelemos1@hotmail.com

Maiara Araújo de Santana Faculdade dos Guararapes

Maya.blue@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo apresentar e demonstrar o problema da linguagem e seu

ensino, tal como se apresenta na segunda fase da filosofia da linguagem de Ludwig Wittgenstein (Investigações filosóficas- 1945) para o estudo e o desenvolvimento da linguagem na educação infantil. Trata-se não tão somente de expor um pensamento, mas, sobretudo, fazer uma reflexão sobre ensino de linguagem na educação infantil. O foco principal é a crítica feita à semântica tradicional da linguagem ostensiva (visão agostiniana) e a descritiva, o pensador alemão, adota os jogos de linguagem como adequada maneira que os indivíduos apreendem sua linguagem. Para Wittgenstein o processo: nome sempre ligado a um referencial ou que toda palavra sempre nomeia algo, designa um objeto, não descreve a essência da linguagem e sua função. Porque isso é um ensino ostensivo de palavras, que é importante, mas não suficiente, pois segundo o filósofo, as crianças aprendem a linguagem materna através dos jogos de linguagem. A criança aprende a linguagem porque participa de um jogo, ou seja participamos do jogo de palavras, das regras práticas de uso, que são construídas nos seus contextos específicos. Tal crítica e posição verberam, inevitavelmente na concepção de linguagem e de como é ensinada e abordada na educação infantil.

Palavras-chave: Linguagem ostensiva, Jogos de linguagem, uso, aprendizado.

1.Introdução

O presente trabalho tem por objetivo apresentar e demonstrar o problema da linguagem e seu ensino tal como se apresenta na segunda fase da filosofia da linguagem de Ludwig Wittgenstein (Investigações filosóficas- 1945) para o estudo e o desenvolvimento da linguagem na educação infantil. Trata-se não tão somente de expor um pensamento, mas

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sobre tudo, fazer uma reflexão sobre ensino de linguagem na educação infantil. O foco principal é a crítica feita à semântica tradicional da linguagem ostensiva (visão agostiniana) e a descritiva, o pensador alemão, adota os jogos de linguagem como adequada maneira que os indivíduos apreendem sua linguagem. Para Wittgenstein o processo: nome sempre ligado a um referencial ou que toda palavra sempre nomeia algo, designa um objeto, não descreve a essência da linguagem e sua função. Porque isso é um ensino ostensivo de palavras, que é importante, mas não suficiente, pois segundo o filósofo, as crianças aprendem a linguagem materna através dos jogos de linguagem. A criança apreende a linguagem porque participa de um jogo, ou seja, participamos do jogo de palavras, das regras práticas de uso, que são construídos nos seus contextos específicos. Tal crítica e posição verberam inevitavelmente na concepção de linguagem e de como é ensinada e abordada na educação infantil.

O aprendizado e a metodologia do ensino da linguagem um tema sempre oportuno e na educação e principalmente no ensino infantil. A linguagem é muito importante no desenvolvimento educação infantil em todas as esferas, social, cultural moral e ética: desenvolve a criança; a crianças se constrói sua identidade, desenvolve sua capacidade de comunicação, ou seja, fundamental para inserção e participação da criança nas diversas atividades sociais. Através da linguagem a crianças amplia seu mundo, participa de várias experiências significativas, se constitui como sujeito, interage com outras pessoas e desenvolve outras habilidades e conhecimentos.

O estudo da linguagem e do seu ensino tem sido também é um importante espaço de debates e estudos (FREIRE,1997; BKTHIN, 1997; KAMII, 1986; PINTO, 1997; VYGOTSKI, 1991; BENJAMIN, 1997), tomando diferentes contornos, abordagens cognitivas, textual, psicologista, da linguística, todas essas buscam estratégias para o ensino da língua? Mas o a linguagem só se restringe ao estudo e ensino da língua, linguagem só se remete aos elementos verbais e da escrita? O objetivo desse artigo que mostrar que a linguagem possui outros aspectos amplos, que não é apenas, dizer o mundo, nomear as coisas, os objetos ou estados de coisas no mundo, ou apenas dizer o que a linguagem é usada, pois a um consenso atraente, segundo, “que as expressões linguísticas têm os significados que tem porque representam as coisas; o que significam é o que representam”. (2012, p. 12). Essa

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teoria costumeiramente, aplicada e entendida por nós na educação é chamada teoria referencial. Esta teoria também é conhecida de teoria descritiva, seus representantes principais (Frege (1892)1 e Bertrand Russerl).

A teoria referencial parece plausivelmente correta, porque comumente, achamos correto, que a referência ou nomeação é a relação mais clara entre palavra e mundo. Entretanto para Wittegentein essa teoria enfrenta séries objeções. Por isso é importante explicitar a crítica do filósofo a esta teoria.

De forma muito clara a metodologia consiste em tomar como ponto de partida o argumento contra a linguagem ostensiva, psicologista e privada em Wittgenstein por um lado, analisando quais suas implicações para as relações entre linguagem, aprendizado e ensino infantil, e numa outra via, analisar o problema da linguagem por um viés semântico, i.e., pensá-los como estritamente vinculados a uma rede inferencial de jogos de linguagem, regras de uso e gramatica. Teremos um posicionamento crítico tanto do argumento da linguagem privada tomado isoladamente, quanto do problema da linguagem tomado isoladamente nos seus respectivos domínios como já fora colocado. Todo esse esforço servirá para ao final dispormos de uma espécie de semântica para o problema dos jogos de linguagem via uma concepção pública de linguagem e assim ser usada como objeto de aprendizado.

Crítica pedagógica a linguagem ostensiva

O ponto central da argumentação de Wittgenstein é a crítica ao que ele concebe como “uma determinada essência da linguagem humana”, (WITTGENSTEIN, 2009, p. 15), a saber, a linguagem ostensiva. Essa linguagem também é chamada visão Agostiniana da linguagem. Nesta toda palavra tem um significado e este significado é atribuído a palavra. Este

1 FREGE, Gottlob. Sobre o sentido e a referência, p. 132: explicita a relação entre nome e sentido, “a conexão

regular entre um sinal, e seu sentido e sua referência é de tal modo que ao sinal corresponde um sentido determinado e ao sentido, por sua vez, corresponde uma referência determinada, enquanto que uma referência (objeto) pode receber mais de um sinal.

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mecanismo, segundo filósofo, é usado em toda representação primitiva, ou se ousarmos ainda, até nas nossas práticas pedagógicas.

Wittgenstein critica essa linguagem porque nem todas as palavras nomeiam ou denotam um objeto efetivo, é ainda suficiente, pois como ele afirma:

Imagine uma escrita na qual seriam usadas letras para designar sons, mas também para designar a acentuação e os sinais de pontuação. (Pode-se conceber uma escrita como uma linguagem para descrever imagens sonoras.) Imagine agora que alguém compreendesse aquela escrita como se cada som correspondesse àquela escrita como se cada som correspondesse simplesmente a cada letra e as letras não tivessem também funções bem diferentes. A concepção agostiniana da linguagem assemelha-se a tal. Muito simples, concepção da linguagem. (Conf. WITTGENSTEIN, 2009, p. 17).

Outra objeção feita a essa visão equivocada é justamente, porque temos nomes de objetos inexistentes (Pégaso, saci Pererê, coelhinho da páscoa). Esses nomes não denotam nada. Ainda mais existem expressões como “ninguém”, exemplo; “ninguém viu o João”; “j” de Júlio, faz pouco sentido. Que fique claro que tais expressões não deixem de ser usadas ou excluídas do vocabulário infantil e assim destruí a fantasia. Até porque também na educação utilizamos muito a linguagem visual, antes de aprender a ler. Para este modelo, segundo WITTGENSTEIN: “Ensinar a linguagem aqui não é explicar e sim um treinar”. (2009, p. 17). Faz parte do treinamento a professora (o) apontar os objetos para criança ler. O que o filósofo austríaco que mostrar de que a definição ostensiva teria a responsabilidade de dar nomes aos objetos e assim resolver muitos problemas linguísticos e didáticos, porém menos dar conta das variedades e expressões de tipos não particulares. No Livro Azul já aparece tal questão:

Uma dificuldade com que nos chocamos consiste no fato de que parece não existirem definições ostensivas para muitas palavras na nossa linguagem; g. para palavras como “um”, “número”, etc.

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Questão: Será necessário compreender a própria definição ostensiva? Não poderá a definição ostensiva ser mal compreendida? (WITTGENSTEIN, 1992: 2).

O fato da crítica de Wittgenstein reside de que o ouvinte tema que ter um conhecimento prévio; o gestor de apontar, na definição ostensiva, tem que haver uma condição anterior, que sugere entidades mentais ou entidades mentais, isso chamado de linguagem privada (que é outro problema que não será aprofundado aqui). Mas repito a questão da cor, da quantidade, a forma? Seria possível apontar palavras sem supor de tal de um conhecimento prévio?

Essa definição em suma também acaba omitindo a variedade e as distinções de espécies de palavras. Mas tratando isso na educação na linguagem infantil isso é comum. A linguagem ostensiva, de certa forma, penaliza a liberdade e o diálogo. A definição ostensiva é crucial quando se transforma em ensino ostensivo.

O ensino ostensivo no universo da educação infantil não leva em conta a totalidade dos vários tipos de linguagem. A linguagem não é, apenas, o suporte para o aprendizado da escrita e da leitura (ir à escola para saber ler e escrever). Em oposição a este ensino Wittgenstein nos fornece os jogos de linguagem e como maneira para que aprender a linguagem. A despeito disso veremos no próximo tópico.

Os jogos de linguagem e sua contribuição para o ensino da linguagem

É importante relembrar o fio condutor da crítica pedagógica ao ensino ostensivo: de que a relação que o nome sempre está para o denominado e que fato de “apontar” a um objeto, já se pressupõe que o ouvinte saiba ou consiga saber. Enfim o ensino ostensivo não dá conta das variadas expressões linguísticas e de como elas são usadas.

Para o filósofo, a aquisição da linguagem como também seu aprendizado é possível porque participamos de um jogo de linguagem:

Podemos imaginar também que todo o processo de uso de palavras, seja um dos jogos por meio dos quais as crianças aprendem

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sua língua materna. Quero chamar esses jogos de “jogos de linguagem” (grifo do autor), e falar de uma linguagem primitiva ás vezes como de um jogo de linguagem. (WITTGENSTEIN, 2009, p. 18-19).

Como vemos o que o filósofo considera jogos é muito amplo, porque o autor entende a linguagem como um todo por isso: “Chamarei de jogo de linguagem também a totalidade

formada pela linguagem e pelas atividades com as quais ela vem entrelaçada”. (conf.

WITTGENSTEIN, 2009,p. 19). Se a linguagem é um jogo devemos estar atentos que todo jogo é guiado por regras, para Wittgenstein, são as regras gramaticais. Neste caso o próximo lance de fala ou de um jogo, por isso, o significado de uma palavra não é precedido de um objeto que a sucede. Tendo dito isto, o que faz aprendemos um significado de uma palavra sabendo seu uso, sabendo a regra: “Assim como no caso dos jogos, os lances possíveis dependem da situação (posição no tabuleiro), e, para cada lance, certas reações serão inteligíveis, ao passo que outras serão rejeitadas” (GLOCK, 1998, p.226).

Eis aqui o ponto central de nossa discussão o aprendizado da linguagem no ensino infantil. As crianças naturalmente, naturalmente trazem consigo um rápido aprendizado da linguagem. As crianças antes mesmo da escola já participam do jogo de linguagem da sua família, das brincadeiras de casa ou com os amigos, é importante ter atenção a forma pela qual fazem o uso da linguagem.

Quando ensinamos objetos ou numerais que estão expressos nos livros, estamos ensinando seu uso ou apenas “designar grupos de coisas que se podem captar com os olhos”. (WITTGENSTEIN, 2009, p. 19). Aponta-se no livro ou no quadro “para lá”, “para cá”, “ali”, “aqui”, o “B” é de bola”, o “J de Júlio”. O que na verdade esse modo designa. “como

demonstrar o que designam a não ser pelo modo como são usadas ?”. Porque, nem sempre a

palavra denota ou designa o mesmo objeto, por exemplo: “lapiseira”. Imaginemos assim o exemplo:

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2idem, p.20.

Pense nas ferramentas dentro de uma caixa de ferramentas: encontra-se aí um martelo, um alicate, uma encontra-serra, uma chave de fenda, um metro, uma lata de cola, cola, pregos e parafusos. – Assim como são diferentes as funções desses objetos, são diferentes as funções das palavras. (E há semelhanças aqui e ali). (WITTEGENSTEIN, 2009, p.20).

O fato de a palavra designar alguma coisa não quer dizer que a linguagem não é um domínio de objetos, nem uma apropriação mecânica, na verdade o Wittgenstein com o conceito de jogo inaugura um novo invés da linguagem: a concepção pragmática, na qual o significado da palavra pode ser entendido como o seu uso em um determinado contexto. Dessa forma, para o filósofo, o significado das palavras não pode ser mais concebido como algo fixo e determinado, como se a linguagem servisse para representar a realidade. Ele mesmo defendeu no Tratactus lógico- philosophicus, quando o pensador ainda estava preso a semântica tradicional. Seja qual for o uso: numa linguagem de comandos, informes de batalha, de ordens, representar algo, “E representar uma linguagem equivale a representar

uma forma de vida”. (Wittgenstein, 2009, p.23).

A aquisição da linguagem por meio de jogos pode nos fornecer ganhos qualitativos, além de desenvolver a habilidades cognitivas, estimularam as crianças, ajuda a fazer, aprender e a trabalhar em grupo; regula o comportamento e a personalidade. A brincadeira sempre é um recurso importante no desenvolvimento infantil. Podemos observar as diferentes formas de comunicação, seja na sala de aula, no recreio, na leitura, e em casa, dessa forma também ajuda nas responsabilidades morais e éticas.

Considerações Finais

Ao dispor o conceito de jogo de linguagem, além de quebrar o paradigma da escola semântica, nos fornece uma contribuição nas práticas de ensino da linguagem. Partindo do uso para entender o significado das palavras mostra a variedade de formas que uso linguístico

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possui, que também antes de usar ou ensinar um signo, ou quando a criança começa usar uma palavra, a criança está participando de um jogo, de uma regra. A regra justamente é a regra gramatical. A linguagem não monolítica é montada como num jogo. O conceito de jogo ajuda a repensar a nossa prática de ensino, rever as situações nas quais a crianças desenvolve a linguagem. Basta apontar, decorar nomes de objetos, é importante saber que a linguagem é um processo amplo, diversificado. A aquisição da linguagem já começa muito cedo e me determinado contextos; não basta treinar de emitir sons, estrutura de uma frase e saber o significado, tem que se adequar a tudo isso ao contexto que se em que se está sendo empregado, ou seja, sua pragmática, seu uso.

Referências Bibliográficas

BAKHITIN, M. Marxismo e filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 1992. _____Estética da criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 2o

ed. São Paulo: Cortez, 1988.

GLOCK, Hans-Johann. Dicionário Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998. KAMII, C.A criança e o número. Campinas, SP: Papirus, 1992.

WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. Trad. Marcos G. Montagnoli. 6o ed.-

Petrópolis: Vozes, 2009.

WITTGENSTEIN. Ludwig. Tractatus logico-philosophicus. Tradução de Luiz Henrique Lopez, 3ª edição. São Paulo: Edusp, 2008.

Referências

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