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Arte e tecnologia: o papel da internet nas dinâmicas artísticas atuais. Júlia Borges do Nascimento Universidade Federal de Goiás - UFG

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Arte e tecnologia: o papel da internet nas dinâmicas artísticas atuais

Júlia Borges do Nascimento Universidade Federal de Goiás - UFG

Resumo:

Este trabalho tem o objetivo de compreender como as transformações proporcionadas pelo advento das tecnologias de informação, especialmente a invenção da internet, modificaram a produção e exposição artística. Baseado nessa compreensão, identificar os desafios que surgiram nesse contexto e quais as estratégias utilizadas pelas instituições para superar tais desafios e utilizar a tecnologia como aliada.

Palavras-chave: tecnologia, internet, arte, museus

Introdução

O desenvolvimento das tecnologias de informação representou uma mudança na forma de se comunicar, pois as dificuldades técnicas relacionadas à comunicação se tornam cada dia menores, e também modificou a forma de consumir. A internet se apresenta como o principal meio que proporciona tais mudanças. McLuhan (1964), utilizou o conceito de aldeia global pra se referir ao modo como as tecnologias modificaram a sociedade e a comunicação. Apesar de ele utilizar a televisão como exemplo, a transformação descrita em seu livro - escrito na década de 60 - se encaixa perfeitamente no contexto atual. Powers (1989) afirma que esse conceito se deve ao fato de que através da tecnologia distâncias são encurtadas de modo que as barreiras geográficas se tornam quase irrelevantes. De modo geral, a formação da aldeia global se dá através de processos como a substituição do espaço físico pelo espaço virtual e globalização da cultura.

Entende-se por globalização da cultura o processo no qual as intensas trocas e interações entre os indivíduos de diferentes locais acarreta na pulverização das pluralidades culturais, sendo assim praticamente impossível diferenciar elementos considerados locais de elementos considerados globais. Os teóricos da Escola de Frankfurt atribuem ao fordismo e à sociedade industrial o início desse processo que se intensificou com o desenvolvimento tecnológico, sobretudo desenvolvimento da internet.

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Desde a sua invenção, crescimento do meio é latente e a sua presença na vida do indivíduo cresce indiscutivelmente. De acordo com a Pesquisa Brasileira de Mídia 2014 (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, 2014): "O meio de comunicação preferido pelos brasileiros é a TV (76,4%), seguido pela internet (13,1%), pelo rádio (7,9%), pelos jornais impressos (1,5%) e pelas revistas (0,3%) – outras respostas somam 0,8%".

Ficando atrás apenas da televisão na preferência dos brasileiros, a Internet é uma mídia que merece destaque nos estudos de comunicação. Sua existência e crescimento não representaram apenas mais uma possibilidade de mídia para o público mas sim uma revolução na forma como as informações são difundidas. A informação passa a vir de inúmeras fontes, não mais de uma fonte unitária como nas mídias tradicionais, além de que não há mais a mediação no processo comunicativo. Cada indivíduo pode ser simultaneamente emissor e receptor de diversas informações. Redes sociais, blogs, páginas web são exemplos de ferramentas que possibilitam tal propagação de opiniões e informações. Dessa forma, acompanhando esse crescimento torna-se necessário que surjam manifestações culturais que se encaixam nesta nova dinâmica. Castells (2003 apud SANTINI, 2005, p.75) afirma que: "A produção histórica de uma dada tecnologia molda seu contexto e seus usos de modo que substituem além de sua origem, e a Internet não é uma exceção a essa regra. Sua história nos ajuda a compreender uma futura produção da história".

O crescimento desse meio também trouxe modificações na produção artística, segundo colocam os teóricos da Escola de Frankfurt, a cultura enquanto produto se adequou à lógica capitalista de uma visão produtivista, que consiste na afirmação de que todos os elementos da cultura devem se converter em riqueza. Dessa forma, tanto as formas de produção quanto de exposição e consumo das obras têm o objetivo de tornar a arte um produto vendável e atraente ao público.

O valor meramente estético não é suficiente, surge então a necessidade de valor monetário. Segundo Santini (2005, p.68) "A arte passa a ter um valor que é proporcional: à sua originalidade, à sua unicidade e à sua eventual possibilidade de permanência no futuro." As técnicas e suportes de armazenamento artístico, tais como os museus, as bibliotecas e os suportes musicais como o fonógrafo e posteriormente o CD, tiveram fundamental importância para essa materialização. Porém, o advento das tecnologias de informação e consequentemente o deslocamento das noções de tempo e espaço, modificou a indústria cultural de modo que o caráter material do produto

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artístico deixa de ser essencial a partir do momento no qual é substituído pela virtualidade.

A partir da compreensão de que as tecnologias, sobretudo a internet, são responsáveis pela forma como as dinâmicas artísticas, tanto de produção quanto de exposição, ocorrem na no século XXI, é possível identificar exemplos específicos de tais transformações e analisar como pode ocorrer o uso dessas ferramentas de forma eficiente. Dentre tais exemplos, destaca-se a transformação no processo de produção e veiculação musical que ocorreu após o surgimento do formato MP3 e as mudanças nas instituições de exposição e conservação artística tais como os museus.

A indústria musical e a era da internet

Durante anos a indústria fonográfica esteve sob o domínio completo de gravadoras e produtoras. O disco de vinil e posteriormente o CD permitiam que as gravadoras controlassem todo o processo de produção musical pois o mesmo era desenvolvido em sua totalidade por estas empresas.

“Nos anos 70, as grandes companhias desenvolviam todas as fases da produção de discos dentro de seus quadros, desde o planejamento do produto, na área de artistas e repertório, passando por todo o trabalho de estúdio, a produção física (na época, o disco de vinil), à capa, embalagem, marketing e difusão.” (DIAS, 2003 apud SILVA,p.12).

A dinâmica tradicional de produção e difusão dos produtos musicais permaneceu até o momento no qual surgiram tecnologias que possibilitaram a descentralização destes processos. O passo inicial para tal transformação foi a invenção do formato MP3, que representou a possibilidade de armazenamento de arquivos musicais ocupando consideravelmente menos espaço. Uma característica essencial desse formato é a possibilidade de reprodução fácil através de um computador devido ao fato de que não há uma proteção nos arquivos que impeça sua cópia e reprodução.

O desenvolvimento dessa tecnologia criou a necessidade de uma mudança na forma como as obras musicais eram comercializadas e de que a dinâmica da indústria fonográfica fosse repensada. As produtoras musicais enfrentaram o desafio de reverter a potencialidade da pirataria devido ao fato de que a reprodução ilegal das obras se tornou mais simples.

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A criação do Napster em 1999, software que permitia o compartilhamento de arquivos MP3 de um computador para outro desde que ambos tivessem o programa instalado, pelo norte-americano Shawn Fanning teve papel fundamental para que o CD deixasse de ser o principal meio de veiculação da indústria fonográfica. A possibilidade de download e compartilhamento dos arquivos musicais sem custos fez com que o interesse do público pelo consumo de discos diminuísse consideravelmente.

Inicialmente, as produtoras e gravadoras recorreram à justiça na tentativa de tornar o software ilegal, entretanto, essa tecnologia se difundiu rapidamente e surgiram inúmeros programas similares. Após longas batalhas judiciais, o Napster foi obrigado a sair do ar, deixando como legado o desafio para a indústria fonográfica de se manter rentável na era do compartilhamento gratuito.

A estratégia para competir com tal reprodução sem barreiras foi o aprimoramento dessa tecnologia por meio das produtoras e gravadoras, que incorporaram o download MP3 como produto de consumo. Nesse contexto, surgiram os programas de download pago de arquivos MP3 nos quais cada arquivo tem um valor individual.

Além disso, o surgimento de rádios on-line, na década de 90, também modificou a relação do público com as produções musicais. A principal diferença destas para com as rádios tradicionais consiste no fato de que são assíncronas, permitindo com que cada ouvinte possa personalizar a programação, escolher o gênero e adquirir os arquivos que o interessarem com poucos cliques. Apesar de tais diferenças, as rádios on-line e web-rádio não se apresentaram como ameaças às web-rádios convencionais. A tendência é a união entre elas, as emissoras convencionais adotando a tecnologia de rádio on-line para que os ouvintes possam mesclar a audiência entre ambos os meios.

Assim como em todos os ramos da indústria de produtos artísticos, as novas tecnologias na indústria da música não substituem completamente os processos tradicionais. Apesar de surgirem como ameaças se não forem bem aproveitadas, quando utilizadas de forma integrada estas tecnologias contribuem para a o desenvolvimento da indústria. Herschmann afirma que:

"É preciso ressaltar que, mesmo com as mudanças em curso, não há uma ruptura plena com a indústria da música que se consolidou no século XX (não há uma simples passagem de um modelo 1.0 para o 2.0, como muitos autores argumentam). Mesmo com a emergência de modelos de negócio digitais, essa indústria permanece tendo não só aspectos analógicos, como também características e dinâmicas de cunho fordista. É possível identificar,

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portanto, continuidade e rupturas nesse processo." (HERSCHMANN, 2010, apud SILVA p.10)

A exposição da arte na era digital

Entre os diversos suportes de exposição artística, o museu se destaca como uma instituição que assegura a preservação da arte e da identidade dos povos. O acervo de cada museu conserva fragmentos da história e a abertura aos expectadores permite que estes tenham contato com o legado histórico e cultural dos povos.

Para entender sua função pode-se considerar a definição da ICOM (1959):

“Museu é um estabelecimento de caráter permanente, administrado para interesse geral, com a finalidade de conservar, estudar, valorizar de diversas maneiras o conjunto de elementos de valor cultural: coleções de objetos artísticos, históricos, científicos e técnicos, jardins botânicos, zoológicos e aquários.”

Entretanto, percebe-se que os museus enquanto instituições que promovem a exposição artística precisam adaptar-se a uma nova realidade na qual a internet e os meios de comunicação de massa se encontram cada vez mais inseridos no cotidiano dos expectadores. A internet pode se caracterizar como uma ameaça às dinâmicas tradicionais de exposição de arte devido à possibilidade de que o público filtre o conteúdo que visualiza de acordo com suas preferências e encontre um vasto acervo virtual sem que seja necessário ir até a exposição.

O principal desafio dos museus na contemporaneidade está em se comunicar com seu público, que se caracteriza pela diversidade, de forma eficiente e cativante. Transmitir uma imagem de credibilidade a ele e estimular o interesse por seus produtos.

Dessa forma, a principal estratégia das instituições é recorrer à comunicação e aderir as tendências que foram trazidas pela tecnologia da informação. É necessário posicionamento dos museus como instituições que precisam atender as demandas do público e se adequar ao mercado de consumo através de ações de marketing que se iniciam com pesquisas sobre o público, investigando o perfil de cada visitante para que a comunicação seja eficiente. De acordo com Andrade (2008, p.14): "A atitude de marketing consiste em tomar decisões em função dos consumidores e não apenas do produtor, procurando fazer-se um esforço permanente para conhecer o público tal como ele é e adaptar-se lhe."

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Além disso, a comunicação, principalmente por meio da publicidade, é essencial para que o público tenha conhecimento daquilo que a instituição realiza: exposições, eventos culturais e educacionais e também através da publicidade os museus podem promover sua imagem institucional. Segundo Martin (1991) a publicidade funciona como um porta-voz social pois reproduz os valores da sociedade.

Num contexto no qual os conceitos de tempo e espaço já não tem caráter físico o museu virtual surge como uma alternativa eficiente para o uso da internet de forma competitiva. Os museus que utilizam essa estratégia se encaixam no modelo de museus sem fronteiras (MUCHACHO, 2005b).Levando em consideração a importância da internet como mídia que se consolida e se encontra presente no cotidiano do público e a necessidade de se comunicar eficientemente, os museus tiveram que inserira internet e os meios virtuais em suas estratégias de comunicação e relações públicas. Tal inserção não se restringe apenas à existência de um site da instituição para divulgação de seus projetos e comunicação direta com o público. Informações sempre atualizadas de forma clara e relevante, um espaço de interação e design que facilite o acesso são características essenciais na formulação de uma página web. Apesar de ser uma importante fundamental, a existência da mesma não assegura uma participação eficiente no espaço virtual.

Essa ideia de museu sem fronteiras faz referência aos museus virtuais, espaços onde o público pode visitar, ter contato e interagir com as galerias disponíveis no espaço físico. Dessa forma, esse contato e a possibilidade de interação virtual, na qual o público pode ter uma experiência personalizada com a arte, estimulam o interesse pelo acervo artístico e a aproximação entre o público e a instituição. Além disso, o público abandona a posição de total passividade frente as obras, passando a ser um agente operador da arte, que a desvenda. O expectador tem a liberdade de visualizar somente aquilo que o interessa de acordo com seu gosto e preferência, além de dispor do tempo que achar conveniente para apreciá-la.

Se apropriando dessa estratégia e visualizando a possibilidade de cativar o público, o Google inovou ao lançar um projeto de exposição artística online em parceria com instituições e cerca de 60 museus. De acordo com o site oficial do projeto (https://www.google.com/intl/pt-BR/culturalinstitute/about/artproject/, 2014):

“O Art Project é uma colaboração única com algumas das instituições de arte do mundo mais aclamadas para permitir que as pessoas descubram e vejam obras de arte on-line em detalhes extraordinários. Trabalhando com mais de

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250 instituições, disponibilizamos dezenas de milhares de obras de arte de mais de 6.000 artistas on-line. Isso envolveu a aquisição de imagens com resolução incrivelmente alta de obras de arte famosas, como também a combinação de mais de 30 mil outras imagens em um só lugar. O projeto também incluiu a construção de visitas em 360 graus de galerias individuais usando a tecnologia ''interior" do Street View. O projeto se expandiu imensamente desde seu primeiro lançamento. Mais de 45 mil objetos estão agora disponíveis para visualização em alta resolução, número esse que era de 1.000 na primeira versão. As imagens do Street View agora abrangem 60 museus, com outros a caminho. Uma vasta gama de instituições, grandes e pequenas, museus de arte tradicionais, bem como centros menos tradicionais para a grande arte, é representada no Art Project expandido.”

A proposta de interação total com o acervo, aliada à qualidade visual com a qual as obras são disponibilizadas se apresentam surpreendentes ao expectador cativando também a atenção de uma parcela do público que provavelmente não visitaria uma exposição tradicional.

Galeria virtual, blog institucional, página web ou quaisquer que sejam as estratégias adotadas pelas instituições para se integrarem ao universo da web, não são a garantia de sucesso absoluto da instituição para com o público. As ações de marketing e relações públicas garantem também são essenciais para que os museus alcancem seu público e não se restrinjam a ser apenas instituições de exposição artística, mas também se caracterize como disseminadores culturais.

Considerações finais

Neste contexto de aldeia global, defendida por McLuhan, no qual a sociedade se encontra, o virtual e o real se fundem de forma que não há mais uma distinção entre ambos. Dessa forma, apesar de representarem uma ameaça aparente às dinâmicas tradicionais da sociedade, inclusive da arte, as tecnologias de informação se encontram cada dia mais presentes no cotidiano dos indivíduos.

Sendo assim, não é uma estratégia inteligente se opor à inserção destes avanços na realidade de qualquer empresa ou instituição, mas sim utilizar as ferramentas disponíveis na rede como instrumentos para alcançar seus objetivos.

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GOOGLE ART PROJECT. Disponível em:<https://www.google.com/intl/pt-BR/culturalinstitute/about/artproject/> Acesso em: 3 de março de 2014

PESQUISA BRASILEIRA DE MÍDIA 2014, Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Disponível em:

<http://pt.slideshare.net/BlogDoPlanalto/pesquisa-brasileira-de-mdia-2014> Acesso em: 5 de março de 2014

SANTINI, Rose Marie. Admirável Chip Novo: A música na Era da Internet. 1º ed. Rio de Janeiro. E-papers serviços editoriais. 2005

ANDRADE, Juliana Filipa Dias. O museu na era da comunicação online [dissertação]. Instituto de ciências sociais. Universidade do Minho. 2008

TUCHERMAN, Ieda; CAVALCANTI, Cecília C.B. Museus: dispositivos d

Referências

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