ALINE CRUZ INOUE
TENDÊNCIA DE MORTALIDADE POR CÂNCER DE PULMÃO NA REGIÃO SUL DO BRASIL NO PERÍODO DE 1996 A 2015
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado como requisito parcial ao grau de Médico e aprovado em sua forma final pelo Curso de Medicina, da Universidade do Sul de Santa Catarina.
Palhoça, 21 de novembro de 2017.
______________________________________________________________ Márcia Regina Kretzer
Universidade do Sul de Santa Catarina
______________________________________________________________ Aline Daiane Schlindwein
Universidade do Sul de Santa Catarina
______________________________________________________________ Alberto Chterpensque
Trabalho de Conclusão de Curso Medicina
Nome: Aline Cruz Inoue
Revista: Jornal Brasileiro de Pneumologia
Tendência de mortalidade por câncer de pulmão na Região Sul do Brasil no período de 1996 a 2015
Temporal trend of lung cancer mortality in the Southern Region of Brazil from 1996 to 2015
Aline Cruz Inoue1
Fabiana Oenning da Gama2
Giovanna Grunevald Vietta3
Márcia Kretzer4
1. Universidade do Sul de Santa Catarina UNISUL. Acadêmica de
Medicina. End. Altamiro Guimarães 321, Florianópolis, Santa Catarina. Tel. (48) 991022048. E-mail: alineinoue@gmail.com
2. Universidade do Sul de Santa Catarina- UNISUL. E-mail: oenning_gama@yahoo.com.br
3. Universidade do Sul de Santa Catarina- UNISUL. E-mail:
ggvietta@gmail.com
4. Universidade do Sul de Santa Catarina- UNISUL. Profª Drª. End. Assis
Brasil Ponta de Baixo 4581, São José, Santa Catarina. CEP: 88104200. Tel. (48) 33431584. E-mail: marcia.kretzer1@gmail.com
RESUMO
Objetivo: Analisar a Tendência de Mortalidade por câncer de pulmão na região sul do Brasil no período de 1996 a 2015. Métodos: Estudo Ecológico de tendências temporais, realizado com dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) da população da região Sul do Brasil, que utilizou a 10ª revisão, CID-10 código C34. Realizada regressão linear simples. Estudo aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Sul de Santa Catarina. Resultados: Foram analisados 95.340 óbitos. Observou-se forte tendência crescente (p<0,05) nas taxas de mortalidade na Região Sul com variação anual percentual de 2,78%. Nos estados da região, a variação foi de 3,41% em Santa Catarina, 3,42% no Paraná e 2,44% no Rio Grande do Sul. O sexo masculino apresentou variação de 2,01%, e o sexo feminino 4,48% ao ano. Nas faixas etárias do sexo masculino observou-se tendência decrescente de -3,04% ao ano na população de 40 a 49 anos e de -0,19% na população de 60 a 69 anos. Já na população de 80 anos ou mais observou-se forte tendência crescente com 4,31% na taxa ao ano. No sexo feminino ocorreu tendência crescente nas faixas etárias acima de 40 anos, com maior variação percentual em 80 anos ou mais (4,31%). Conclusões: Existe uma tendência ascendente nas taxas de mortalidade por câncer de pulmão na Região Sul e estados nos dois sexos e faixas etárias acima de 40 anos nas mulheres e 80 anos nos homens. As faixas etárias masculinas de 40-49 e 60-69 anos apresentam tendência decrescente.
Palavras- chave: Neoplasia de pulmão; mortalidade; tendência; Região Sul. ABSTRACT
Objective: To analyze the Mortality Trend for lung cancer in the southern
region of Brazil from 1996 to 2015. Methods: Ecological study of temporal trends, carried out with data from the Mortality Information System (SIM) of the population of southern Brazil , who used the 10th revision, CID-10 code C34. Simple linear regression was performed. This study was approved by the Research Ethics Committee of the Southern University of Santa Catarina.
Results: 95,340 deaths were analyzed. There was a strong upward trend in
mortality rates in the Southern Region with annual percentage change of 2,78%. In the states of the region, the variation was 3,41% in Santa Catarina, 3,42% in Paraná and 2,44% in Rio Grande do Sul. The male gender presented variation of 2,01%, and the female sex 4,48% per year. In the male age groups there was a downward trend of -3.04% per year in the population aged 40 to 49 years and of -0,19% in the population aged 60 to 69 years. Already in the population of 80 years or more it was observed a strong tendency increasing with 4,31% in the rate per year. In the female sex, there was an increasing tendency in the age groups above 40 years, with a greater percentage variation in 80 years or more (4,31%). Conclusions: There is an upward trend in lung cancer mortality rates in the South Region and states in both sexes and age groups over 40 years in women and 80 years in men. The age groups 40-49 and 60-69 years show a decreasing trend.
INTRODUÇÃO
O câncer é um crescimento celular anormal que pode invadir tecidos adjacentes e tecidos à distância1. Quatro tipos histológicos respondem por 88%
das neoplasias pulmonares: carcinoma epidermóide (29%); adenocarcinoma (35%); grandes células (9%); e pequenas células (18%)2,3.
O câncer de pulmão representa um grande problema para saúde pública e tornou-se em alguns países desenvolvidos, a primeira causa de morte4. A
incidência de câncer de pulmão no mundo está aumentando rapidamente5. De
acordo com o relatório GLOBOCAN 2012 ocorreram 1,8 milhões de novos casos de câncer de pulmão no mundo, constituindo 12,9 % da incidência total de câncer estimado no ano de 2012. Desses casos, 58 % incidem em países subdesenvolvidos6.
Nos países desenvolvidos, como o Reino Unido e os EUA, a mortalidade por câncer de pulmão está em declínio e uma elevada taxa de sobrevivência foi alcançada, provavelmente devido a programas de sensibilização e tecnologias médicas avançadas. No entanto, nos países em desenvolvimento, como Índia e Egito, a mortalidade está aumentando7.
Em 2015, no Brasil, o número de mortes por câncer de pulmão foi de 31.114 representando 12,6% do total de óbitos por neoplasia. Uma estimativa de óbitos por câncer de pulmão para o ano de 2020 prevê 36.935 casos, ou seja, um aumento de 18,7% em relação aos casos de 20158.
A taxa de mortalidade no Brasil em 1990 indicou 7,0/100 mil habitantes e 11,7/100 mil habitantes em 2011, o que corresponde a um aumento da taxa de mortalidade no período citado. Em relação aos padrões regionais do Brasil a maior taxa em 2011 correspondeu à região Sul do país (16,3/100 mil) seguido da região Sudeste (11/100 mil), região Centro-oeste (7,4/100 mil), Nordeste (4,4/100 mil) e Norte (4,3/100 mil)9.
A poluição ambiental, a exposição de profissionais em áreas de risco, o tabagismo e a herança genética têm papel importante para o desenvolvimento da neoplasia de pulmão10. O papel do tabagismo como principal causa de
câncer de pulmão vem sendo demonstrado nos últimos 50 anos. Acima de 90% dos tumores poderiam ser evitados abandonando-se o hábito de fumar3,11. O
cancerígenos. Além do tabagismo, a poluição ambiental é um fator de risco para o câncer de pulmão em moradores de áreas urbanas12. O ar ambiente
está contaminado por diversos carcinógenos, e a exposição a esses componentes favorecem a maior incidência de câncer. Alguns estudos identificaram o arsênio, o cromato e a sílica como possíveis fatores de risco11,13.
Para intervir na epidemia do tabagismo a Organização Mundial da Saúde (OMS) adota em 2005 a Convenção-Quadro para o controle do Tabaco que determina um conjunto de medidas para deter a expansão do consumo de tabaco ao estabelecer políticas públicas que incluem ações nas áreas de vigilância, legislação, publicidade e comércio14. No Brasil, o Instituto Nacional
de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) coordena as ações de controle do tabagismo a partir do Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT) com o objetivo de reduzir a prevalência de fumantes e a morbimortalidade relacionada ao consumo de derivados do tabaco3.
A redução da mortalidade por câncer de pulmão no futuro depende da implementação das políticas públicas de promoção da saúde e prevenção de riscos e agravos e, principalmente, da conscientização dos jovens quanto aos fatores de risco11,15. Estudos de tendência de mortalidade podem contribuir para
ampliar o conhecimento sobre o comportamento epidemiológico da neoplasia de pulmão de forma a avaliar as políticas públicas e definir novas condutas. Desta forma, o objetivo do estudo é analisar a tendência de mortalidade por câncer de pulmão na região Sul no período de 1996 a 2015.
MÉTODOS
Este estudo caracteriza-se por ser epidemiológico Ecológico de tendências temporais, realizado com dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) da população da região Sul do Brasil, a qual possui três estados: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi estimado 29.439.775 habitantes para 2016. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos estados da região Sul é considerado elevado em Santa Catariana (0,840), Rio Grande do Sul (0,830) e Paraná (0,820)16. Foram analisados todos os 95.340 óbitos por
câncer de pulmão na população residente na região sul do Brasil no período de 1996 a 2015.
A coleta de dados foi realizada por meio de levantamento de informações registradas em base de dados de mortalidade por câncer de
pulmão, disponível no DATASUS
(http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/obt10uf.def) em formato Comma Separeted Values (CSV). O SIM utilizou a 10ª revisão, a partir de 1996, portanto foram coletados óbitos com CID-10 código C34 (Neoplasia maligna dos brônquios e dos pulmões). Para o cálculo das taxas de mortalidade foram utilizados os dados populacionais provenientes dos censos de 1990, 2000 e 2010 e as estimativas intercensitárias para os demais anos, fornecidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)16.
As variáveis dependentes incluíram a taxa de mortalidade por câncer de pulmão na região Sul e estados, segundo sexo e faixa etária por sexo, calculados para cada 100 mil habitantes. A variável independente deste estudo foi o ano em que as informações foram coletadas, de 1996 a 2015.
A tabulação e tratamento primário dos dados foram realizados pelo software TABWIN disponível no DATASUS e posteriormente exportados para o programa EXCEL. A análise dos dados foi realizada por meio do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS). Version 18.0. [Computer program]. Chicago: SPSS Inc; 2009. Para cada ano do período estudado e para cada estado, foram calculados os coeficientes de mortalidade por neoplasia brutos e específicos de acordo com as variáveis dependentes calculados para cada 100 mil habitantes utilizando o número total de óbitos no período. Para a análise das tendências temporais de mortalidade foram utilizados os coeficientes de mortalidade padronizados e o método de regressão linear simples. Neste método, os coeficientes de mortalidade padronizados foram considerados como variável dependente, e os anos calendário de estudo como variável independente obtendo- se assim o modelo estimado de acordo com a formula Y = b0 + b1X onde Y = coeficiente padronizado, b0= coeficiente médio do período, b1= incremento anual médio e X= ano. A padronização dos coeficientes de mortalidade foi realizada pelo
método direto, considerando a população da região Sul de 1996 a 2015 como população padrão. Em seguida, foi realizada a exponenciação do coeficiente ℬ e calculada a variação anual percentual da taxa (p<0,005).
O estudo foi aprovado pelo Comitê de ética em pesquisa CEP- UNISUL sob o número CAAE 62461116.6.0000.5369.
RESULTADOS
Foram analisados 95.340 óbitos por neoplasia de pulmão na região Sul do Brasil no período de 1996 a 2015. Observou-se forte tendência crescente nas taxas de mortalidade com variação anual percentual de 2,78% (r=0,981; β=0,443; p <0,001). No início do período analisado a taxa foi de 13,81/100 mil habitantes e ao final foi de 23,12/100 mil habitantes como pode ser observado no Gráfico 1.
Gráfico 1: Tendência de mortalidade geral por Câncer de Pulmão na Região Sul do Brasil no
período de 1996 a 2015 199619971998199920002001200220032004200520062007200820092010201120122013201420150 5 10 15 20 25 Tx_ Sul R: 0,981 : 0,443 P: <0,001 VAP(%) : 2,78ℬ M o rt al id ad e p o r 1 0 0 .0 0 h ab .
Na análise por estados da região sul, ocorreu tendência crescente e significativa em todos, com variação anual percentual de 3,41% em Santa Catarina (r=0,967; β=0,447; p <0,001), 3,42% no Paraná (r=0,989; β=0,371; p <0,001) e 2,44% no Rio Grande do Sul (r=0,965; β=0,532; p <0,001). Em Santa Catarina a taxa foi de 11/100 mil habitantes no início e de 20,27/100 mil habitantes no final do período analisado. No estado do Paraná a taxa de início foi de 8,92/100 mil habitantes e no final do período foi de 16,77/100 mil habitantes. O Rio Grande do Sul apresentou as maiores taxas entre os estados da Região Sul, 19,8/ 100 mil em 1996 habitantes com aumento significativo ao final do período com taxa de 31,06/100 mil habitantes (Gráfico 2).
Gráfico 2: Tendência de mortalidade por Câncer de Pulmão de acordo com os estados da
Região Sul no período de 1996 a 2015
0 5 10 15 20 25 30 35
Santa Catarina R: 0,967 : 0,447 P: <0,001 VAP(%): 3,41ℬ
Linear (Santa Catarina R: 0,967 : 0,447 P: <0,001 VAP(%): 3,41)ℬ
Paraná R: 0,989 : 0,371 P: <0,001 VAP(%): 3,42ℬ
Linear (Paraná R: 0,989 : 0,371 P: <0,001 VAP(%): 3,42)ℬ
Rio Grande do Sul R: 0,965 : 0,532 P: <0,001 VAP(%): 2,44ℬ
Linear (Rio Grande do Sul R: 0,965 : 0,532 P: <0,001 VAP(%): 2,44)ℬ
M o rt al id ad e p o r es ta d o s d a re gi ão S u l
R: Correlação ℬ: Significância P: Incremento VAP(%): Variação anual percentual
Em relação à análise segundo sexo na Região Sul do Brasil, o masculino respondeu por 67,5% dos óbitos por neoplasia de pulmão. Ocorreu tendência crescente com variação anual percentual de 2,01% ao ano (r=0,969; β=0,394; p <0,001). No início do período analisado a taxa foi de 20,18/ 100 mil habitantes e ao final foi de 29,18/100 mil habitantes. Em relação ao sexo feminino foram analisados 31.005 óbitos. Observou-se forte tendência crescente nas taxas de mortalidade com variação anual percentual de 4,48%
ao ano (r=0,977; β=0,499; p <0,001) com taxa de 7,55/100 mil habitantes em 1996 e 17,28/ 100 mil habitantes em 2015 (Gráfico 3).
Gráfico 3: Tendência de mortalidade por Câncer de Pulmão segundo sexo na Região Sul do
Brasil no período de 1996 a 2015 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 0 5 10 15 20 25 30 35
Sexo Masculino R: 0,969 : 0,394 P: <0,001 VAP(%): 2,01ℬ
Linear (Sexo Masculino R: 0,969 : 0,394 P: <0,001 VAP(%): 2,01)ℬ
Sexo Feminino R: 0,977 : 0,499 P: <0,001 VAP(%): 4,48 ℬ
Linear (Sexo Feminino R: 0,977 : 0,499 P: <0,001 VAP(%): 4,48 )ℬ
M or ta lid ad e se gu nd o S ex o
R: Correlação ℬ: Significância P: Incremento VAP(%): Variação anual percentual
De acordo com as faixas etárias, no sexo masculino observou-se tendência decrescente com variação anual percentual de -3,04% na população de 40 a 49 anos (r=0,941; β=-0,362; p <0,001) e variação anual percentual de -0,19% na população de 60 a 69 anos (r=0,834; β=-1,862; p <0,001). Já na população de 80 anos ou mais observou-se forte tendência crescente com variação anual percentual de 4,31% ao ano (r=0,814; β=6,259; p <0,001) com 200/100 mil habitantes em 1996 e 394,39/100 mil em 2015. Em relação ao sexo feminino ocorreu tendência crescente em todas as faixas etárias acima de 40 anos com maior variação percentual na faixa etária de 80 anos ou mais, onde se evidenciou 80,85/100 mil habitantes no início do período e 144,62/100 mil habitantes no final do período analisado. Nessa faixa etária ocorreu forte tendência crescente com variação percentual de 4,31% ao ano (r=0,729; β=2,551; p <0,001) como pode ser observado na Tabela 1.
Tabela 1: Tendência de mortalidade por Câncer de Pulmão segundo faixa etária e sexo na
Região Sul do Brasil no período de 1996 a 2015
Variáveis Ra pb βc VAP(IC 95%)d Faixa Etária Masculina 0 a 29 0,222 0,348 -0,002 12,53 (-17,54 – 42,61) 30 a 39 0,423 0,063 -0,02 0,73 (-9,67 – 11,14) 40 a 49 0,941 <0,001 -0,362 -3,04 (-7,89 – 1,80) 50 a 59 0,813 <0,001 -0,766 -0,55 (-3,46 – 2,35) 60 a 69 0,834 <0,001 -1,862 -0,19 (-2,74 – 2,34) 70 a 79 0,08 0,739 -0,144 0,62 (-1,48 – 2,73) 80 ou mais 0,814 <0,001 6,259 4,31 (-1,77 – 10,41) Faixa Etária Feminina 0 a 29 0,255 0,277 0,001 50,88 (-53,06 – 154,83) 30 a 39 0,038 0,873 -0,002 9,12 (-8,38 – 26,62) 40 a 49 0,523 0,018 0,065 2,41 (-4,81 – 9,64) 50 a 59 0,76 <0,001 0,398 2,28 (-2,04 – 6,61) 60 a 69 0,875 <0,001 1,039 2,52 (-0,35 – 5,41) 70 a 79 0,916 <0,001 2,356 3,48 (0,16 – 6,40) 80 ou mais 0,729 <0,001 2,551 4,31 (-1,77 – 10,41)
a: Correlação b: Significância c: Incremento d: Variação anual percentual; Intervalo de Confiança
DISCUSSÃO
No presente estudo observou-se forte tendência crescente nas taxas de mortalidade na Região Sul do Brasil no período de 1996 a 2015, com variação anual percentual de 2,78%. Os três estados da Região Sul apresentaram tendência crescente, sendo as maiores taxas observadas no Rio Grande do Sul com variação anual percentual de 2,44%. Entretanto, os estados de Santa Catarina e Paraná, apresentaram as maiores variações anuais percentuais no aumento das taxas de mortalidade, 3,41% e 3,42%, respectivamente.
Resultados similares de aumento na tendência de mortalidade por câncer de pulmão foram identificados em alguns países europeus. Na década de 90, a mortalidade era de 84/100 mil habitantes na Hungria e de 71/100 mil habitantes na Polônia, taxas mais elevadas do que as encontradas na Região
Sul. A mortalidade nesses dois países continua a aumentar, ocupando atualmente os primeiros lugares em toda a Europa15. Em 2008, o câncer de
pulmão foi a causa mais frequente de morte por câncer no mundo e correspondeu a 18,2% do total de mortes por câncer17. No ano de 2012,
aproximadamente 402.326 americanos tinham câncer de pulmão, representando 13,0% de todos os casos de câncer diagnosticados7.
A tendência de aumento da mortalidade no Brasil por esta neoplasia apresenta-se crescente desde 1980. Segundo estudo realizado por Filho et al de 2002 as neoplasias malignas da traqueia, brônquios e pulmão corresponderam a 22,7% das mortes por câncer em 1995. As taxas tenderam a ser mais altas nas regiões Sul e Sudeste. De 1980 a 1995, as taxas de mortalidade aumentaram em todas as regiões, com a única exceção da população masculina do Sudeste18. No Brasil, a taxa padronizada de
mortalidade por câncer de pulmão, traqueia e brônquios passou de 7,2 por 100 mil habitantes em 1980 para 9,4 óbitos por 100 mil habitantes em 200319, taxa
menor que a encontrada na região Sul em 2003 (16,36/100 mil habitantes). Resultados contrários foram identificados no Reino Unido desde o início da década de 1970, com 23% de redução das taxas de mortalidade por câncer de pulmão. Essas taxas deverão cair 21% entre 2014 e 2035, para 58/100 mil pessoas até 203515.
Estes resultados podem ser atribuídos principalmente ao tabagismo. De acordo com Instituto Nacional de Câncer (INCA) a última estimativa mundial apontou incidência de 1,82 milhão de casos novos de câncer de pulmão para o ano de 2012, em 90% dos casos diagnosticados, o câncer de pulmão está associado ao consumo de derivados de tabaco3. Outros fatores também
participam da etiologia desta doença, risco atribuível menor, variando de 1,0% a 10,0% com poluição ambiental17,19. Fatores como idade, genética, poluição e
níveis de radiação e estilo de vida, podem também afetar o desenvolvimento do câncer de pulmão7.
Em relação ao consumo do Tabaco, o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), demonstrou que em 2006 a prevalência no Brasil era de 15,7% e em 2015 de
10,4%. Em 2006 as capitais da Região Sul apresentaram as seguintes prevalências: Curitiba (18,8%), Florianópolis (18,7%) e Porto Alegre (21,2%), variando em 2015 para Florianópolis (7,8%) Porto Alegre (11,2%) e Curitiba (11,8%)20. Estes dados demonstram uma redução do consumo de tabaco no
Brasil e estados da Região Sul, o que provavelmente impactará na redução dos indicadores de mortalidade por câncer de pulmão no futuro.
As regiões do Brasil apresentam taxas muito diferentes de mortalidade por câncer, apresentando um padrão de crescimento do Norte para o Sul. Uma possível explicação para as altas taxas encontradas no Rio Grande do Sul é a qualidade dos registros de mortalidade por câncer considerado os mais confiáveis entre os demais estados brasileiros. Com relação ao câncer de pulmão, entre 1980 e 1995, as regiões Sul e Sudeste do Brasil apresentaram as mais altas taxas de mortalidade21. Observou-se em estudo de 2012 que as
maiores taxas de incidência de câncer de pulmão estavam localizadas nos estados das regiões Sul e Sudeste, conhecidos pelo elevado índice de urbanização e pelas maiores prevalências de tabagismo17.
No atual estudo, o câncer de pulmão foi mais frequente no sexo masculino (67,5%) com variação anual percentual de 2,01% ao ano, e com as maiores taxas de mortalidade. A taxa foi de 20,18/ 100 mil habitantes em 1996 e 29,18/ 100 mil habitantes em 2015. Entretanto a tendência se apresentou crescente nos dois sexos.
Uma estimativa de novos casos de câncer de pulmão e brônquios nos Estados Unidos em 2015 apontou 221.200 novos casos em ambos os sexos, sendo 52,26% em homens e 47,73% em mulheres22. A distribuição e os
estudos iniciais de câncer de pulmão no Brasil apontam taxas mais elevadas entre os homens do que em mulheres, porém tendências de mortalidade reduzidas para homens e aumento das taxas para as mulheres9,18,23. Entre os
homens a taxa de mortalidade no Brasil em 1990 foi de 10,6/100 mil e 14,5/100 mil habitantes em 2011. Entre as mulheres aumentou de 3,6/100 mil para 8,9/100 mil habitantes em 20119,24. O estudo realizado no estado da Bahia por
Fonseca et al, corroboram estes achados, de 1980 a 2011 foram registrados 12.721 óbitos por câncer de pulmão, sendo que as taxas de mortalidade para
os homens variaram de 2,78/100 mil, em 1980, para 7,11/100 mil habitantes, em 2011, e de 1,00/100 mil, em 1980, para 4,90/100 mil habitantes, em mulheres25.
Resultados divergentes foram encontrados em outros estudos15,23. Ao
longo da última década no Reino Unido, as taxas de mortalidade por câncer de câncer de pulmão diminuíram 6% para homens e mulheres. Para os homens, as taxas de mortalidade aumentaram 4% entre 1971-1973 e 1978-1980 e diminuíram 54% entre 1978-1980 e 2012-2014. Para as mulheres, as taxas aumentaram 92% entre 1971-1973 e 2008-2010 e, em seguida, permaneceram estáveis entre 2008-2010 e 2012-201415. Estudo realizado no Brasil em 2016
verificou que o número de óbitos no sexo masculino reduziu de 20,4% em 1996 para 10,1% em 2011. O mesmo foi observado para as mulheres: variação de 34,2% em 1996 e 10,0% em 201123.
Os resultados obtidos no atual estudo podem estar relacionados ao hábito de fumar ser mais disseminado entre homens do que entre mulheres, como verificado nos dados do VIGITEL 2016. No conjunto das 27 cidades, a frequência de adultos fumantes foi de 10,2%, sendo maior no sexo masculino (12,7%) do que no feminino (8,0%)26. As taxas de mortalidade por câncer de
pulmão entre as mulheres, quando comparadas com as dos homens, refletem as diferenças históricas no consumo de cigarros entre os dois sexos19,24. No
Brasil, as mulheres começaram a usar o tabaco mais tarde que os homens, com o tabagismo promovido como um comportamento desejado em filmes e na mídia, juntamente com o forte apelo cultural de afirmação de independência das mulheres27. Fatores genéticos, hormonais e fisiológicos podem atuar de
forma específica no processo de carcinogênese pulmonar entre mulheres28,
aspectos que merecem estudos mais aprofundados para elucidar as possíveis causas da mudança desse comportamento epidemiológico.
No presente estudo observou-se tendência decrescente nas taxas de mortalidade nas faixas etárias masculinas entre 40 e 69 anos. A partir dos 80 anos, forte tendência crescente, com altas taxas de mortalidade. O sexo feminino apresentou tendência crescente a partir dos 40 anos de idade, sendo as maiores taxas observadas a partir de 80 anos.
As taxas de mortalidade por câncer de pulmão diminuíram nos homens na maioria dos grandes grupos de idade adulta no Reino Unido desde o início da década de 1970, mas aumentaram nos homens com mais de 80 anos. Em mulheres de 60 a 69 anos, as taxas de mortalidade por câncer de pulmão aumentaram desde o início dos anos 1970, mas diminuíram em mulheres com idade entre 25-49 anos e 50-59 anos. O maior aumento ocorreu em mulheres idosas, 80 ou mais, onde as taxas aumentaram 274% entre 1971-1973 e 2012-201415.
Em estudo realizado no Brasil por Malta et al em 2016, a análise por região mostrou que na região Sudeste, entre 1996 e 2003, a faixa etária mais jovem (40-59 anos) mostrou uma diminuição da mortalidade entre os homens e um aumento entre as mulheres. A análise por idade mostrou o mesmo padrão para esta faixa etária23. Em relação a idade, a taxa de mortalidade no Brasil no
período de 1990 a 2011 apresentou um aumento entre os mais idosos e redução entre a população mais jovem. Em 1990 a população de 50 a 59 anos apresentou uma taxa de mortalidade de 24,8/100 mil habitantes, e aqueles com 80 anos ou mais uma taxa de 81,5/100 mil. Em 2011, a população de 50 a 59 anos teve uma taxa de 23,7/100 mil. A população de 80 anos ou mais apresentou um aumento significativo na taxa de mortalidade, correspondendo 120,5/100 mil habitantes10.
Dados do GLOBOCAN sobre incidência de câncer de pulmão no Brasil em 2015, demonstram que a população menor de 65 anos correspondeu a 43,73%, enquanto os maiores de 65 anos representaram 56,26% do total6,
destacando que tanto a incidência quanto a mortalidade se apresentam mais elevadas a partir desta faixa etária.
Os resultados da análise temporal de redução da mortalidade nas faixas etárias abaixo de 80 nos homens e aumento nas faixas etárias femininas a partir dos 40 anos, reforçam a ideia de que a política de controle do tabagismo no Brasil, como principal forma de intervenção na morbimortalidade por câncer de pulmão, precisa ainda avançar para impactar na redução destes indicadores. Os indicadores de uso do tabaco avaliados pelo VIGITEL desde o ano de 2006, quando foi implantado este inquérito telefônico para fatores de
risco e proteção de doenças crônicas no Brasil e capitais, têm demonstrado reduções importantes. Recente estudo realça que a prevalência de tabagismo no Brasil está decrescendo especialmente na população mais jovem e de nível socioeconômico mais elevado28. Entretanto, são necessárias novas ações de
intervenção para prevenir a iniciação de uso de fumo em jovens e atingir mais diretamente os diferentes extratos sociais.
O aumento significativo da tendência das taxas de mortalidade por câncer de pulmão na região Sul do Brasil verificado no atual estudo, aponta para a necessidade de investimentos nas políticas de combate ao tabagismo, principal fator de risco para esta neoplasia. Destaca-se a necessidade de realizar novos estudos, principalmente no sexo feminino, que apresentou uma forte tendência crescente a partir dos 40 anos, perfil epidemiológico que está se diferenciando do sexo masculino, que apresentou tendência de redução na faixa etária a partir dos 80 anos.
REFERÊNCIAS
1. Uehara C, Jamnik S, Santoro I. Câncer de Pulmão. Medicina Ribeirão Preto. 2016; 266-76.
2. Longo D. Câncer de Pulmão. In: Baumann G, Josephson A, Langford C, Lilly L, Mount D, Silverman E et al. Manual de Medicina de Harrison. 18. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013; 433-41.
3. Instituto Nacional de Câncer [homepage on the Internet]. Tipo de câncer pulmão [acesso em 12 ago 2016]. Disponível em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/pulm ao/definicao
4. World Health Organization [homepage on the Internet]. Global status report on noncommunicable diseases 2010 [acesso em 10 set 2016]. Disponível em:http://www.who.int/nmh/publications/ncd_report2010/en/
5. Ali I, W Wani, K Saleem. Câncer Scenario In India With Future Perspectives. Cancer Therapy. 2011; 56-70, 8.
6. International Agency for Research on Cancer. Estimated Cancer Incidence, Mortality and Prevalence Worldwide in 2012 [acesso em 20
ago 2016]. Disponível em: http:
http://globocan.iarc.fr/Pages/fact_sheets_cancer.aspx
7. Dubey A, Gupta U, Jain S. Epidemiology of lung cancer and approaches for its prediction: a systematic review and analysis. Chin J Cancer. 2016; 35-71.
8. World Health Organization [homepage on the Internet]. Globocan 2012:
Estimated Cancer Incidence, Mortality and Prevalence in 2012. [acesso em 12 ago 2016]. Disponível em: http://globocan.iarc.fr/old/burden.asp? selection_pop=24076&Text-p=Brazil&selection_cancer=15110&Text-c=Lung&pYear=8&type=1&window=1&submit=%C2%A0Execute %C2%A0
9. Brasil. Minsitério da saúde. Departamento de Informática do SUS. Estatísticas Vitais: Mortalidade Geral. [Acesso 2017 out 12]. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/obt10uf.def
10. Zamboni M. Epidemiologia do Câncer do Pulmão. J Pneumol. 2002;28 (1):41-7.
11. Wang L, Wang K, Liu X, He Y. Association of education & lifestyle factors with the perception of genetic knowledge on the development of lung câncer. Indian J Med Res 2016; 32-7.
12. Brown H, Goble R, Kirschner H. Social and Environmental Factors in Lung Cancer Mortality in Post-War Poland. Environmental Health Perspectives. 1995;103(1):64.
13. International Agency for Research on Cancer. Monographs on the
Evaluation of Carcinogenic Risks to Humans [acesso em 14 set 2016]. Disponível em: http://monographs.iarc.fr/index.php
14. Por que a Convenção- Quadro para o controle do tabaco? [acesso em 12 set 2016]. Disponível em: www.inca.gov.br/tabagismo
15. Cancer research UK [Homepage on the Internet]. London: Cancer
Research UK [cited 2017 Octo 26] Lung cancer mortality. Available from: http://www.cancerresearchuk.org/health-professional/cancer-statistics/statistics-by-cancer-type/lung-cancer/mortality#heading-Zero
16. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) [acesso em 10 out
2016]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br
17. Souza M. Câncer de pulmão: tendências de mortalidade e fatores associados á sobrevida dos pacientes do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Rio de Janeiro, 2012.
18. Filho VW, Moncau JE. Mortalidade por câncer no Brasil 1980- 1995: padrões regionais e tendências temporais. Rev Assoc Med Bras 2002; 48(3): 250-7.
19. Malta D, Moura L, Souza M, Curado M, Alencar A et al. Tendência de mortalidade do câncer de pulmão, traqueia e brônquios no Brasil, 1980-2003. J Bras Pneumol. 2007; 33 (5): 536- 543.
20. Vigitel Brasil 2015 Saúde Suplementar: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico [recurso eletrônico]. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.
21. Assunção R, Vieira V, Castro M. Padrões espaço- temporais da mortalidade por câncer de pulmão no Sul do Brasil. Rev. Bras. Epidemiol. Vol. 7, N2, 2004.
22. Siegel R, Miller K, Ahmedin J. Cancer Statistics, 2015. Ca Cancer J Clin. 2015; 65-5, 29.
23. Malta D, Abreu D, Moura L, Lana G, Azevedo G, França E. Trends in corrected lung cancer mortality rates in Brazil and regions. Rev Saúde Pública. 2016; 50:33.
24. Devessa S, Bray F, Vizcaino P, Parkin M. International lung cancer trends by histologic type: Male: Female diferences diminishing and adenocarcinoma rates rising. Int. J Cancer. 2005; 117(2): 294-99.
25. Fonseca AA, Rego MAV. Tendência de Mortalidade por Câncer de pulmão na cidade de Salvador e no Estado da Bahia, Brasil, 1980 a 2011. Revista Brasileira de Cancerologia 2013; 59(2): 175-183.
26. Vigitel Brasil 2016: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico [recurso eletrônico]. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.
27. Malta D, Iser B, Sá N, Yokota R, Moura L, Claro R et al. Trends in tobacco consumption from 2006 to 2011 in Brazilian capitals according to the vigitel survey. Cad Saude Publica. 2013; 29(4): 812-22.
28. Silva G, Noronha C, Santos M, Oliveira J. Diferenças de gênero na tendência de mortalidade por câncer de pulmão nas macrorregiões brasileiras. Ver Bras Epidemiol 2008; 11(3): 411-9.