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A aplicação do custo de oportunidade na seleção de alternativas de investimento em uma indústria de confecção de jeans da cidade de Fortaleza

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Academic year: 2021

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Bruno Chaves Correia LIMA (UFC) - brunoccl@hotmail.com Vânia Freitas Lopes (UECE) - vania.mestrado@gmail.com Resumo:

RESUMO

Neste trabalho mostra-se que no cotidiano de uma empresa é comum o gestor se deparar diante de uma situação que exija uma escolha de investimento, mediante alternativas selecionadas. Nesse contexto, o custo de oportunidade se apresenta como ferramenta útil para uma tomada de decisão segura, a partir da coleta de informações relevantes de cada alternativa e posterior confronto das mesmas. São levantados questionamentos acerca da aplicabilidade prática do conceito de custo de oportunidade, devido, muitas vezes, as alternativas apresentarem características de natureza muito distintas, tornando difícil compará-las de forma coerente. Apresentam-se os fatores objetivos e subjetivos geralmente encontrados em análises de alternativas de investimento. O objetivo principal do estudo foi identificar, de forma teórica e prática, a variabilidade dos fatores que mais dificultam o confronto das opções. A escolha do tema justifica-se pela existência do impacto desses fatores que são merecedores de maior estudo acadêmico, visando maior aplicabilidade do conceito de custo de oportunidade. A metodologia utilizada incluiu um estudo de caso através de uma entrevista com gestor identificando, na prática empresarial, os fatores que geram heterogeneidade nas alternativas. Conclui-se que nas decisões práticas de uma empresa o custo de oportunidade é, realmente, uma ferramenta importante, mesmo com as dificuldades de quantificação monetária e comparativa dos fatores subjetivos. Esses fatores, por vezes, são determinantes na escolha final do gestor.

Palavras-chave: Custo de oportunidade. Alternativas de investimentos. Fatores objetivos e subjetivos. Área temática: Controladoria

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A aplicação do custo de oportunidade na seleção de alternativas de

investimento em uma indústria de confecção de jeans da cidade de

Fortaleza

RESUMO

Neste trabalho mostra-se que no cotidiano de uma empresa é comum o gestor se deparar diante de uma situação que exija uma escolha de investimento, mediante alternativas selecionadas. Nesse contexto, o custo de oportunidade se apresenta como ferramenta útil para uma tomada de decisão segura, a partir da coleta de informações relevantes de cada alternativa e posterior confronto das mesmas. São levantados questionamentos acerca da aplicabilidade prática do conceito de custo de oportunidade, devido, muitas vezes, as alternativas apresentarem características de natureza muito distintas, tornando difícil compará-las de forma coerente. Apresentam-se os fatores objetivos e subjetivos geralmente encontrados em análises de alternativas de investimento. O objetivo principal do estudo foi identificar, de forma teórica e prática, a variabilidade dos fatores que mais dificultam o confronto das opções. A escolha do tema justifica-se pela existência do impacto desses fatores que são merecedores de maior estudo acadêmico, visando maior aplicabilidade do conceito de custo de oportunidade. A metodologia utilizada incluiu um estudo de caso através de uma entrevista com gestor identificando, na prática empresarial, os fatores que geram heterogeneidade nas alternativas. Conclui-se que nas decisões práticas de uma empresa o custo de oportunidade é, realmente, uma ferramenta importante, mesmo com as dificuldades de quantificação monetária e comparativa dos fatores subjetivos. Esses fatores, por vezes, são determinantes na escolha final do gestor.

Palavras-chave: Custo de oportunidade. Alternativas de investimentos. Fatores objetivos e subjetivos.

Área Temática: Controladoria 1 INTRODUÇÃO

A racionalidade humana é exigida constantemente para realizar escolhas. É condição para que haja a possibilidade de escolha a existência de, no mínimo, duas alternativas. O ato de preterir uma delas faz surgir um custo de decisão, ou seja, o custo da oportunidade não escolhida. O Custo de Oportunidade é um conceito econômico que advém de uma situação que exige uma escolha por parte de alguém, mediante diferentes opções. Seja a decisão sob uma ótica pessoal ou sob uma visão empresarial, o custo de oportunidade se apresenta como uma importante ferramenta auxiliar na análise das alternativas, pois representa o quanto alguém deixou de ganhar por ter abandonado a segunda melhor alternativa ao escolher a mais vantajosa.

Em uma empresa, os gestores muitas vezes se deparam com um número grande de opções de investimentos e deverão optar pelo projeto que melhor atingir os objetivos da entidade, para os quais existe disponibilidade de recurso. Se as alternativas configurarem-se excludentes, há, então, uma situação propícia à aplicação do custo de oportunidade, além da consideração dos outros custos explícitos, para maior clareza na mensuração econômica desse investimento. Sempre que o gestor encontrar opções de escolha entre várias alternativas de ação estará presente o conceito de custo de oportunidade. No ato de analisar essas

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alternativas, o decisor, intuitiva ou propositadamente, concluirá qual alternativa trará maior benefício possível, naquelas circunstâncias, em relação aos sacrifícios de recursos correspondentes.

Uma situação hipotética, em que quatro oportunidades estão comparadas de acordo com os ganhos obtidos de cada uma, é apresentada graficamente, ilustrando a consideração do conceito do custo de oportunidade em um fato de decisão empresarial:

Figura 1 – Custo de Oportunidade de alternativas Fonte: Souza e Clemente (1997, p. 22)

Na figura 1, o custo de oportunidade de cada alternativa é apresentado como a diferença entre seus ganhos e os ganhos da melhor alternativa possível, a alternativa A.

As demonstrações da contabilidade societária não contemplam a aplicação do custo de oportunidade, pois se restringem a controlar os custos explícitos, ou seja, que trouxeram desembolsos à entidade, avaliando seu desempenho diante de fatos ocorridos. Já que a consideração do custo de oportunidade tende a visualizar as possibilidades econômicas futuras da empresa, seu aproveitamento geralmente fica restrito às avaliações da contabilidade gerencial e da administração financeira.

Antes da análise das alternativas de investimentos, pressupõem-se a existência de necessidades da empresa a serem supridas, a análise dessas necessidades, a busca de alternativas e a possibilidade da aplicação de recursos que atendam as expectativas dos gestores. A partir disso, a empresa analisa cada uma das alternativas, comparando seus respectivos resultados, levando em consideração diferentes fatores contributivos: alguns de mais fácil previsão, como remuneração, prazo e custos explícitos; outros de difícil mensuração, como riscos, incertezas, aspectos humanos e intangíveis. O excesso de subjetividade, ou seja, a impossibilidade de mensuração objetiva de alguns desses fatores dificulta uma coerente comparação das alternativas e o confronto da previsão dos seus resultados.

Esse estudo teve como objeto as variáveis que dificultam uma comparação justa e plausível das diferentes alternativas na tomada de decisão de qualquer empresa que pretenda investir recursos. Contudo, faz-se necessário o seguinte questionamento: Quais fatores, objetivos e subjetivos, dificultam a aplicação do custo de oportunidade através de uma comparação das diferentes alternativas de investimento?

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O trabalho teve como objetivo verificar a utilização, na prática empresarial, do conceito de custo de oportunidade, identificando as variáveis objetivas e subjetivas que dificultam a homogeneização das alternativas de investimento existentes na aplicação do custo de oportunidade.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

As formas de aplicação interna do custo de oportunidade, exemplificadas por Catelli (2006), qualifica o conceito como importante ferramenta na execução da controladoria, principalmente quanto à avaliação de alternativas de investimentos.

Martins (2001, p.192) problematiza a aplicação do Custo de Oportunidade na comparação dos projetos disponíveis:

No que se refere à homogeneização das alternativas comparadas, essa tarefa é fundamental e, por vezes, difícil. Devemos estabelecer um denominador comum, para compararmos opções existentes. Quando elas possuem características muito diferentes, a quantificação de seus impactos sobre a satisfação do agente pode requerer elevada dose de subjetividade.

Contudo, há questões fundamentais que são merecedoras de maior estudo, como por exemplo, identificar quais as variáveis, objetivas e subjetivas, que comprometem uma comparação coerente entre as opções de aplicação de recursos. Identificar esses fatores de dificuldade é essencial para a aplicação de um modelo eficaz de mensuração do Custo de Oportunidade.

FATORES OBJETIVOS - Quanto mais objetivos forem os fatores comparados, mais facilmente a decisão pode ser tomada, pois são mensurados por medidas quantitativas, tais como:

● Receitas – A projeção das receitas em um projeto de investimento é o ponto de partida à execução do fluxo de caixa, pois determinará os limites de gastos do projeto e, conseqüentemente, sua viabilidade econômica. A ausência de certeza da realização das vendas não impede a receita de ser considerada um fator quantificável e objetivo, Figueiredo e Caggiano (2006, p 123) afirmam que: “A importância de uma projeção exata não pode ser superenfatizada”. Não havendo grandes influências de fatores qualitativos, a mensuração de seus valores é possível ser estimada através de projeção de vendas, como atribuindo metas aos vendedores, ou analisando o mercado quanto à sua capacidade de absorção;

● Custos – Em um projeto de investimento é essencial, para o gestor, conhecimento dos custos e o entendimento do seu comportamento para formação do fluxo de caixa previsto. Atkinson et al (2000, p 213) afirmam que “o conceito-chave para entender o comportamento do custo é reconhecer que os gerentes devem comprometer o suprimento de muitos recursos de produção antes de conhecer sua demanda efetiva”. Existem alguns métodos de apuração dos custos: o método de custeio variável, que é considerado um bom método para fins gerenciais por informar a margem de contribuição do produto e a relação custo/volume/lucro; o método de custeio por absorção, que absorve os custos, possibilitando uma boa noção dos custos totais, porém traz subjetividade e arbitrariedade no custo do produto; e o método ABC, baseado em atividades, pouco utilizado em pequenas empresas e aconselhável quando os são grandes os custos indiretos de fabricação. Para atender o princípio contábil do custo histórico como base de valor, a contabilidade registra o custo com seu valor histórico. Entretanto, para comparar alternativas de investimento, o custo dever ser considerado por seu valor econômico, pois os gastos relevantes são os que irão acontecer no futuro, por sua característica de suscetibilidade a mudanças, assim como afirmam Figueiredo e Caggiano

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(2006, p. 212): “Custos passados são custos ‘afundados’, são irrelevantes; sua única utilidade situa-se no fato de que eles podem auxiliar os contadores na estimativa dos custos futuros”. Atkinson et al (2000, p. 447) corroboram afirmando “Como regra geral, custos históricos não são custos relevantes”.

● Inflação - Fator em uma economia definido como o aumento generalizado e constante de preços, ocasionando perda do poder aquisitivo da moeda, trazendo efeitos nos setores sociais, cambais, fiscais e monetários, em suma, na política econômica do país. Pode ser conseqüência de diversos fatores, tais como: desequilíbrio entre oferta e demanda, excesso de moeda em circulação, especulação de estoques, etc.

A inflação é um fator que, se desconsiderado, pode comprometer a decisão do gestor que terá um falso resultado quanto ao valor monetário. Por essa razão Figueiredo e Caggiano (2006, p. 103) orientam que “os contratos com preços fixos, que cobrem longo período de tempo, devem possuir cláusulas de reescalonamento de custos para minimizar os efeitos da inflação”.

● Juros – é entendido como o fator que remunera o capital. Sendo o capital, um fator indispensável em um projeto de investimento, os juros têm presença constante na análise das alternativas. Sendo esses juros o pagamento pela oportunidade de poder dispor de um capital por um determinado tempo. Portanto, quanto maior o período de execução do projeto, maior a influência dos juros no resultado das opções de investimentos, influindo diretamente no valor do custo de oportunidade.

Os juros são considerados um fator quantificável, pois através da definição de sua taxa ele apresenta um valor objetivo e suscetível a comparações. Entretanto, é exatamente na definição da taxa de reside a dificuldade de coerência em estabelecer uniformidade, devido ao risco grande heterogeneidade das alternativas.

● Tributos – Instrumento que representa receita para o governo e gasto para a entidade contribuinte. Os tributos podem ser representados pelas taxas, as contribuições de melhoria e, principalmente, pelos impostos. Normalmente, são esses últimos que incidem sobre os investimentos de uma empresa.

FATORES SUBJETIVOS – Apesar da importância dos cálculos objetivos na análise da tomada de decisão, faz-se necessário também considerar a existência e a relevância da consideração de outros fatores, assim como afirma Catelli (2006, p. 105) acerca do uso do custo de oportunidade: “Assim, embora que se justifique o uso de tipos específico de modelos e procedimentos matemáticos, a princípio isso também implica avaliações subjetivas e valores psicológicos.

Críticas aos modelos de avaliação de projetos que ignoram as características qualitativas também foram feitas por Atkinson et al (2000, p. 779) visto que “claramente, um sistema que produz informações inconsistentes, coleta apenas informações quantitativas, quando uma combinação de informações qualitativas e quantitativas é necessária”.

Eis alguns fatores subjetivos a serem considerados:

● Incerteza e Risco – Ambos os fatores surgem do fato de os eventos de um projeto de investimento serem desconhecidos, ao certo, no presente, pois seu comportamento será definido somente no futuro. Os comportamentos futuros da economia de um país, as vendas futuras de determinado produto, o desgaste e custos de manutenção de equipamentos são exemplos clássicos citados por Souza e Clemente (1997). A ausência de certeza desses fatores reflete diretamente na confiabilidade do fluxo de caixa projetado e, conseqüentemente, no resultado da análise das alternativas de investimentos.

Considerando também o risco, Martins e Assaf Neto (1985) afirmam que sempre que a incerteza vinculada à verificação de determinado fato possa ser quantificada, através da

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atribuição de probabilidades aos diversos resultados previstos, pode-se dizer que o fator risco está presente dentre os fatores importantes de decisão.

Apesar da existência dessas formas de se reduzir os efeitos do risco na análise de um projeto de investimentos, ele ainda é considerado um fator de complicação devido sua distinção entre um projeto e outro, gerando subjetividade na comparação das alternativas, conforme Martins (2001, p. 192):

O aspecto mais discutido sobre a homogeneização das diferentes alternativas consiste no risco. Quando duas ou mais alternativas oferecem o mesmo benefício, devemos optar pela menos arriscada. Contudo, geralmente, tanto os benefícios, quanto os riscos são diferentes.

Importante ressaltar que o grau do risco é um fator determinante na definição da taxa de juros que será usada na análise de fluxo de caixa. Portanto, um fator com características quantificáveis e objetivas, os juros, são influenciados decisivamente por outro fator de difícil quantificação e elevada subjetividade, principalmente quando confrontado com os riscos de outros projetos de investimentos.

Como um dos principais fatores responsáveis pela heterogeneidade na comparação das alternativas de investimento, o risco, é, conseqüentemente, um relevante obstáculo na aplicação prática do conceito de custo de oportunidade. Figueiredo e Caggiano (2006) afirmam que a identificação de investimentos que possuam riscos equivalentes é o principal obstáculo na aplicação do conceito de custo de oportunidade na comparação de alternativas de investimentos.

● Responsabilidade Social – Qualquer entidade existente está atrelada à sociedade a qual faz parte, desde seus objetivos e missões iniciais até os recíprocos efeitos gerados pela rotina diária.. Segundo Drucker (1984) é incompatível a realidade de haver uma empresa sadia e uma sociedade doentia. As responsabilidades sociais das empresas podem ser originadas de duas maneiras diferentes: por conseqüências de ações da própria entidade ou por problemas já existentes na sociedade. Ambas interessam à administração, porque a entidade administrada vive na sociedade e na comunidade.

É inerente à comparação de projetos de investimentos a existência desse fator subjetivo de impacto social, seja ele positivo ou negativo, portanto, um fator que precisa ser levado em consideração, porém de difícil mensuração, pois vai além do aspecto quantitativo de benefícios futuros. Entretanto, a importância da responsabilidade social cresce à medida que a sociedade detecta mais problemas, aumentando a necessidade dos gestores tomarem decisões coerentes com o contexto social ao qual estão inseridos.

● Imagem da Entidade – As decisões relacionadas a projetos de investimentos que levam em consideração somente o aspecto financeiro estão sob risco de trazer consideráveis conseqüências negativas para entidade, principalmente no que diz respeito à imagem da empresa junto à sociedade. Por trás do superficial lucro financeiro a curto prazo pode haver uma série de fatores que impactarão negativamente na reputação e aceitabilidade da imagem da empresa e de seus produtos, gerando um problema a médio e longo prazo. Do contrário, uma decisão correta traz confiabilidade à empresa e aos seus produtos, agregando valor ao patrimônio da entidade, mesmo que esse valor seja de difícil mensuração, por ser intangível.

A marca de uma empresa ou de seus produtos é associada às vantagens e desvantagens percebidas pela sociedade. O potencial comunicativo da confiabilidade de uma marca reconhecida como positiva gera à entidade valorização diferenciada no seu patrimônio.

Assim como a construção de uma imagem boa valoriza o ativo da entidade, erros de decisões podem gerar relevantes prejuízos à entidade por associar sua imagem a algo negativo, desqualificado, proveniente, muitas vezes, de uma opção de projeto mais econômico

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a priori, porém com conseqüências na qualidade do produto ou serviço. Segundo Atkinson et al (2000, p. 777)“Estudos têm mostrado que, em média, os clientes que estão insatisfeitos, com um produto ou serviço contam cinco vezes mais para outras pessoas sobre suas experiências que os clientes que estão satisfeitos”, afirmando os efeitos significativos da imagem da empresa na sociedade. A dificuldade de consideração dos efeitos sobre a imagem e a marca está justamente na sua subjetividade, desde a avaliação de um projeto que as consideram relevantes até a contabilização no patrimônio. Iudícibus e Marion (2000) explicam a subjetividade no valor marcas afirmando que não há uma forma bem definida de mensurá-lo, por não ser comum a compra e venda desse tipo de ativo no mercado.

● Motivação Humana – Segundo Drucker (1984) os fatores qualitativos mais importantes e mais encontradiços são os seres humanos. Afirmação baseada no fato de que todo projeto de investimento envolve seres humanos, desde a sua idealização até os efeitos da sua execução. A relevância do fator humano em um projeto é decisiva a ponto de torná-lo apropriado à realidade empresarial ou inconveniente aos anseios da entidade.

O fator subjetivo de motivação humana está presente desde a criação de qualquer entidade, pois ela partiu da vontade humana do seu idealizador. Segundo Catelli (2006, p. 89) “o desejo de alguém que tem expectativas a serem atingidas influencia positivamente na formação e continuidade de uma empresa, e por isso se dispõe a investir seu patrimônio não só econômico, como também moral.” São empreendedores motivados por um conjunto de crenças, valores, convicções e expectativas individuais.

Todas as pessoas envolvidas em um projeto de investimento devem estar motivadas, por alguma razão, a participar. Para isso é necessário um cuidado e análise sensível por parte do gestor responsável pela tomada de decisão em fazer ou deixar de fazer algo e seus impactos no comportamento dos colaboradores.

Muitos fatores podem motivar ou desmotivar um funcionário, tais como oportunidades de crescimento, infra-estrutura adequada, remuneração satisfatória, tarefas apropriadas, dentre outros. Tudo isso influência no desempenho dos trabalhos individuais e coletivos, podendo contribuir com a qualidade da entidade ou comprometer gravemente a imagem da empresa perante seus clientes, fornecedores, imprensa, parceiros de atividade, etc.

Independente da ausência de objetividade, a motivação humana deve ser levada em consideração na apuração do resultado de um projeto de investimento, assim como Buchanan (1993) diz que os custos agregados externamente aos indivíduos que não fazem parte do processo decisório devem ser considerados nos cálculos de que for tomar a decisão.

A subjetividade do fator motivação humana, levando em consideração a unicidade de personalidade de cada pessoa, consiste na dificuldade de se mensurar, avaliar o grau de motivação ou desmotivação gerada por uma decisão de investimento e, ainda, comparar sua importância coerentemente com outros fatores subjetivos e objetivos do mesmo e de outros projetos em confronto.

● Ética – Segundo Hendriksen e Breda (1999, p. 147) “como tomar a decisão certa, ou, como foi dito por Sócrates,´Como se deve viver´, é um problema que antecede a existência de empresas e forma o campo da ética”. As características e de uma alternativa de investimento podem está em desacordo com ética, seja ela pessoal ou coletiva. O comportamento ético é almejado em todas as decisões da empresa, entretanto esse conceito tem sua prática comprometida quando surgem possibilidades de obtenção de consideráveis resultados econômicos positivos, em detrimento de alguns valores considerados corretos pela sociedade, pela entidade e pelos indivíduos envolvidos.

A qualidade ética das decisões impacta não apenas os tomadores de decisões, aqueles que administram a entidade, mas também, as outras pessoas envolvidas com a

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entidade, principalmente seus próprios colaboradores. Se o custo dessas conseqüências for levado em consideração no momento da tomada de decisão, o projeto, ao certo, não terá o mesmo resultado econômico, assim como exemplifica Buchanan (1993, p. 98):

Para o criminoso que incorpora em seu custo algum tipo de consideração sobre o mal que seu crime provoca a terceiros, o ponto no qual o crime poderá não compensá-lo será atingido muito antes do ponto no qual o economista que o observa anota o desaparecimento do lucro líquido.

As conseqüências das decisões, quanto à sua ética, também alcançam outros indivíduos, além dos gestores. Atkinson et al (2000), afirmam que a forma de obter efeitos positivos na qualidade ética das ações da empresa é, ter um conjunto claro de padrões éticos que acabam gerando motivação, principalmente, com esforços bem focados, e deve ajudar a reduzir o comportamento não coerente por parte dos usuários.

Para uma comparação coerente das alternativas de investimentos e para almejar fidelidade no cálculo do custo de oportunidade, a empresa precisa levar em consideração seus próprios padrões éticos e levá-los ao conhecimento e aplicabilidade de seus funcionários.

3 METODOLOGIA

Inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico a fim de fundamentar o arcabouço teórico através da literatura pertinente à área de Controladoria. A pesquisa adotou o modo de investigação de estudo de caso, pois, este método “reúne informações tão numerosas e tão detalhadas quanto possível com vistas a apreender a totalidade de uma situação” (BRUYNE, 1977, p.224-225).

Os dados foram coletados em 03 de junho de 2008, através de uma entrevista semi-estruturada com perguntas abertas e fechadas, aplicada com o gestor de uma indústria de confecção de jeans situada na cidade de Fortaleza. O gestor de 48 anos de idade, apto a responder aos questionamentos devido a sua formação acadêmica em administração de empresas, especializado em Controladoria e suas experiências em gestão na empresa onde trabalha há 19 anos. Solicitamente, o gestor contribuiu respondendo todas as perguntas, porém preferiu manter sob sigilo seu nome e o nome da empresa que representa.

4 ANÁLISE DE RESULTADOS

A forma de utilização prática do custo de oportunidade e a identificação dos principais fatores objetivos e subjetivos que dificultam a comparação de alternativas na tomada de decisão de investimento são comentadas a seguir com a apresentação do levantamento realizado pela entrevista semi-estruturada:

4.1 – Utilização, na prática empresarial, do conceito de custo de oportunidade Respondendo ao questionamento sobre a freqüência forma de utilização do custo de oportunidade na realidade da empresa, o gestou afirmou utilizar o conceito, percebendo ou não, sempre em que pensa no que poderia estar ganhando tivesse feito outra escolha na empresa.

Entretanto, foi mencionado pelo gestor que cálculos monetários quanto ao valor do custo de oportunidade são realizados somente quando estão em questão grandes somas monetárias dentre as alternativas, além da impossibilidade de decidir intuitivamente, mediante efeitos óbvios gerados pelas alternativas existentes. Essa situação está sempre presente na elaboração do orçamento anual, pois comumente deve-se optar apenas por algumas das muitas

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necessidades. Portanto, o custo de oportunidade é calculado para dar maior exatidão monetária na escolha dos gastos, objetivando, também, estabelecer uma ordem de prioridade de aplicação nos investimentos idealizados no orçamento anual.

O gestor exemplificou uma situação de aplicação do cálculo do custo de oportunidade ao narrar um fato acontecido em meados de 2008. Ao decidir por aumentar a linha de produtos prevendo o crescimento de demanda decorrente do consumo típico de final de ano, a empresa percebeu a possibilidade de, ao invés de fabricar, comprar peças já montadas de pequenos fornecedores, faltando somente a qualidade do acabamento final. Uma equipe de três gerentes concentrou esforços na análise dessa nova alternativa durante uma semana, confrontado seu resultado com o resultado da opção de fabricação interna, como vinha sendo feito. Por fim, foi decidido comprar as peças já prontas, ficando a empresa responsável apenas pelo acabamento final para preservar o estilo e a qualidade dos produtos no mercado.

4.2 – Identificação dos fatores, objetivos e subjetivos, considerados no confronto de alternativas de investimento

Nessa análise, o gestou foi questionado sobre quais fatores foram levados em consideração na escolha pela compra das peças já prontas, situação narrada por ele anteriormente. Foram apresentados a ele os cinco fatores objetivos e os cinco subjetivos apresentados na pesquisa bibliográfica.

Dos fatores objetivos, o gestor assinalou como variáveis consideradas no cálculo: receita, custos, juros e tributos. E não assinalou a opção inflação, alegando que os índices inflacionários não estão mais tão significativos quanto já estiveram há tempos atrás. O gestor ressaltou ainda que foi possível quantificar todos os fatores assinalados por ele, devido uma grande quantidade de informações seguras disponíveis à empresa acerca dos fatores relacionados por ele, assim representado adiante:

● Receita – prevista mediante histórico de vendas da empresa em exercícios anteriores e pesquisas mercadológicas contratadas que possibilitam uma quantificação satisfatória, mesmo considerando a existência de riscos mercadológicos;

● Custos – previstos devido existência de um bom controle de custos já existentes na empresa, inclusive, com controle gerencial paralelo através de informações de margem de contribuição e custo-padrão. Além disso, o gerente de compras tinha contatos de pequenas indústrias e cooperativas fornecedoras que facilmente orçaram valores para compor a previsão de custos;

● Juros – segundo o gestor, facilmente calculados pelo setor financeiro da empresa, devido o conhecimento de valores dos juros bancários e de fornecedores.

● Tributos – Já contidos na previsão de custos, com informações vindas do planejamento tributário feito por ele mesmo aliado à expectativa de não haver tempo suficiente para mudanças de alíquotas entre o momento de previsão e o momento de realização.

Dos fatores subjetivos levados em consideração no confronto das alternativas existentes, o gestor assinalou incerteza e risco, motivação humana e imagem da empresa. Desconsiderando como fator divergente, pelo menos naquela decisão, os fatores ética e responsabilidade social. Segundo ele, os efeitos desses dois fatores não representavam relevantes diferenças entre as alternativas em questão. Adiante, a análise dos fatores assinalados:

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● Incerteza e Risco – Incerteza e risco existiam na opção que gerava dependência do fornecimento de terceiros. Atrasos de entregas, defeitos de fabricação ou qualquer outro descumprimento de acordo afetaria diretamente os resultados da empresa;

● Motivação Humana – A alternativa de não comprar, e sim produzir, as peças geraria uma necessidade de contratação de novos funcionários. Segundo o gestor, no mercado, profissionais qualificados não iriam aceitar receber de salário o mesmo valor que a empresa, naquele momento, pagava aos seus contratados. Esse fato geraria uma desmotivação no restante do pessoal. Segundo ele, não havia previsão orçamentária para aumento de salário coletivo naquele período.

● Imagem – Fator subjetivo que poderia ser afetado por conseqüência dos riscos e incertezas existentes na opção de compra, pois atrasos de entregas, queda de qualidade do produto e variações de preços afetam a uma boa imagem construída na sociedade ao longo do tempo.

O gestor não mencionou, mesmo ciente dessa liberdade, a existência que quaisquer outros fatores objetivos ou subjetivos.

A comparação entre as alternativas de comprar as peças ou de produzi-las deu-se através das expectativas de receitas e gastos das duas opções. Os fatores subjetivos também foram confrontados, mas não quantitativamente. O critério de confronto utilizado pelo gestor foi eliminar a opção que trouxesse efeitos consideráveis inaceitáveis pela empresa. O gestor afirmou a existência de heterogeneidade nos fatores, mas que não impediram o julgamento dos gestores diante dos critérios estabelecidos a partir da realidade da empresa.

A comparação gerou as seguintes informações essenciais à tomada de decisão: se optasse pela fabricação das peças o resultado seria 3% superior em relação à alternativa de compra. Essa diferença financeira, segundo o gestor não é significativa o suficiente para anular outras desvantagens na opção de fabricação. Segundo ele, foi eleito como fator a ser evitado a qualquer custo, mesmo sem quantificação monetária, a desmotivação generalizada dos funcionários devido diferenças salariais existentes caso a alternativa de fabricação das peças fosse a escolhida. Ele ainda ressaltou que o aspecto humano poderia gerar outros esforços administrativos, como treinamentos, faltas imprevistas ao trabalho, eventuais rescisões, dentre outros.

A empresa buscou outras formas de melhorar seu resultado financeiro, entretanto, segundo ele, não houve um projeto específico para reparar exatamente os 3% de lucro não efetivados em decorrência da escolha.

O gestor ainda ressaltou que, após a decisão tomada, e empresa buscou reduzir o impacto dos riscos e incertezas presentes na alternativa de compra das peças, como, por exemplo, fazer contratos de fornecimento de mercadorias com mais de uma terceirizada, buscando não ficar dependente de uma única fonte de fornecimento, além de exigir descontos expressivos em caso de atrasos de entregas.

A desconsideração do custo de oportunidade em decisões administrativas pode gerar erros de escolha. Fato comprovado pelo gestor que, por fim, narrou uma situação de prejuízo de oportunidade ocorrida há três anos na empresa. O fato aconteceu quando houve uma substituição do gerente da lavanderia. O novo gerente apresentou um relatório em que concluía que a produção de duas linhas de calças femininas não estava trazendo vantagens financeiras para a empresa. Para comprovar, esse relatório apresentou que se a quantia gasta com a produção dessas calças tivesse sido empregada na ampliação do armazém de estoques, possibilitaria o aumento do giro de mercadorias. Fato que teria resultado em lucros bem mais expressivos.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O custo de oportunidade é uma ferramenta muito importante em qualquer tomada de decisão. Alternativas de investimentos geralmente trazem consigo características peculiares que dificultam uma comparação coerente, visando encontrar valores que indiquem a melhor opção a ser escolhida. Essa variabilidade de fatores gera mensurações muito subjetivas, fato que explica a não consideração do custo de oportunidade pela contabilidade societária, porém não invalida sua utilização nos resultados econômicos de projetos de investimentos.

Quanto maior a possibilidade de quantificação dos fatores das alternativas, maior é a sua objetividade, fato que torna comum sua consideração e comparação de resultados. São os primeiros fatores a serem mensurados: receitas e custos previstos. Porém, quando o grau de subjetividade é muito elevado, sua quantificação é dificultada, porém sua importância não perde valor. Os efeitos dos fatores subjetivos podem ser ainda mais impactantes em relação aos objetivos.

Na prática empresarial, confirmou-se a relevância da consideração do custo de oportunidade na avaliação de alternativas de investimentos, bem como as dificuldades encontradas na comparação de alternativas de características heterogêneas. Independente disso, conclui-se que, os fatores subjetivos são, realmente, determinantes na tomada de decisão, principalmente quando não é muito grande a diferença econômica dos fatores objetivos dos projetos.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Referências

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