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Conhecendo o Índice de Gestão Descentralizada do Programa Bolsa Família (IGD-PBF) e o seu gerenciamento
Após estudarmos sobre o contexto histórico em torno do repasse de recurso financeiro por meio dos Índices de Gestão Descentralizada do Programa Bolsa Família e do Sistema Único da Assistência Social, neste segundo módulo nosso debate se focará na utilização dos recursos repassados exclusivamente por meio IGD-PBF. Porém, antes se faz necessário termos uma compreensão acerca da finalidade desse Índice e como funciona, ou seja, seu gerenciamento.
O recurso repassado através do IGD-PBF tem por finalidade promover o fortalecimento da gestão do Programa Bolsa Família, incluído os setores que atuam em parceria, como as políticas de Saúde e Educação. Há uma preocupação prioritária com a atualização e cobertura cadastral junto ao CADÚNICO, como também, à qualidade e integridade das informações no que diz respeito ao acompanhamento das condicionalidades.
Trata-se, na verdade, de um mecanismo de medição sobre o desempenho que o município possui com relação ao seu gerenciamento com o CADÚNICO/Bolsa Família e ao mesmo tempo funciona como um incentivo para a obtenção de resultados satisfatórios e qualitativos como requisitos para receberem o recurso e até mesmo aumentá-lo. É por isso que devemos olhar o IGD-PBF como um direito conquistado pelas gestões municipais que para receber o valor específico atingiram os indicadores necessários por meio de ações orientadas nos documentos legais do MDS, dentre os quais podemos citar o Decreto nº 7.332/2010 que dispõe sobre as ações adequadas para
utilização do recurso.
De acordo com o próprio manual do Índice de Gestão Descentralizada Municipal desenvolvido pelo MDS é possível elencarmos algumas destas ações que podem auxiliá-los em seus planejamentos, considerando a realidade, limitações e peculiaridades de cada município:
• Gerenciamento das condicionalidades, realizada de forma intersetorial, compreendendo as atividades necessárias para o registro, sistematização e análise das informações relacionadas à frequência escolar e à agenda de saúde;
• Gestão de benefícios – averiguando a situação dos benefícios (se já foi liberado; ou está com alguma pendência de bloqueio, suspensão ou cancelamento; dentre outras);
• Acompanhamento das famílias beneficiárias, em especial daquelas em situação de maior vulnerabilidade social realizada de forma articulada entre as áreas de assistência social, saúde e educação;
E que ações são essas que podem e devem ser realizadas para o
aprimoramento da gestão do CADÚNICO/Bolsa Família
IMPORTANTE!
Podemos encontrar informações mais detalhadas sobre as ações de aprimoramento da gestão do CADÚNICO/Bolsa Família no Decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004 e na Portaria GM/MDS nº 754, de 20 de outubro de 2010.
• Identificação e cadastramento de novas famílias1, atualização e revisão dos dados do Cadastro Único referentes aos cidadãos residentes no território;
• Promover em parcerias com as demais Secretarias municipais, bem como, a Rede Socioassistencial ações complementares visando o desenvolvimento das famílias beneficiárias, tais como: Alfabetização e educação de jovens e adultos; Educação integral; Capacitação profissional; Geração de trabalho e renda; Educação financeira; Acesso ao microcrédito produtivo orientado; Ações na área de alimentação e nutrição.
• Atividades relacionadas ao acompanhamento e à fiscalização do PBF, requisitadas pelo MDS;
• Promover sempre que necessária articulação e integração com a Gestão de Gestão de Benefícios por meio do atendimento técnico e realizar os encaminhamentos quando necessário;
• Apoio técnico e operacional às Instâncias de Controle Social (ICS)2.
Entendendo como funciona o cálculo do IGD-PBF
De acordo com o art. 3º da Portaria GM/MDS nº 754, de 20 de outubro de 2010, o IGD-M é calculado pela multiplicação de quatro fatores:
Cada fator está relacionado a um conjunto de ações, conforme verificado nas ilustrações, que são supervisionadas pela Gestão do CADÚNICO/Bolsa Família no MDS para averiguar se o município atendeu as exigências necessárias a fim de realizar o repasse do recurso. Por isso, é importante atentar para estas questões, elaborar um planejamento que contemple todas essas atividades e realizar reuniões periódicas junto à equipe responsável no
1 Um detalhe importante é que essa ação especificamente permite, por exemplo, inserirmos a família no “Tarifa Social”
da CELPE e da COMPESA, além de atribuirmos o NIS a cada membro que possibilitará, dentre outras questões, a sua inscrição gratuita em concursos públicos.
2 É importante acrescentar que em alguns municípios essas Instâncias possuem uma composição específica para o
intuito de avaliar as suas efetivações, compreendendo os quatro fatores responsável pelo cálculo e detalhado nas ilustrações, abaixo:
Outra questão igualmente importante com relação ao recurso do IGD-PBF e que todos e todas devem ter conhecimento diz respeito aos procedimentos realizados pela equipe e gestão do CADÚNICO/Bolsa Família que interfere positivamente no valor repassado aos municípios. É que na verdade o MDS possibilita o repasse de até 10% do valor total calculado para o município como um incentivo para a realização de algumas ações que também interferirão no aprimoramento e qualidade dos serviços oferecidos.
O incentivo trata-se de até 10% a mais do valor repassado e seu cálculo é feito a partir de 4 (quatro) ações gerais – que compreendem diversas atividades cada uma – com um percentual específico, conforme analisado na ilustração, a seguir:
E quais as RECOMENDAÇÕES de como os recursos do IGD-PBF podem ser utilizados
Essa indiscutivelmente é um dos questionamentos que mais inquietam a vivência dos gestores e demais profissionais que compreendem as equipes do CADÚNICO/Bolsa Família nos municípios, principalmente pelas ações recorrentes das Instituições de controle e acompanhamento, como o Tribunal de Contas, por exemplo.
Mas antes de elencarmos as ações propriamente tidas como norte para facilitar o trabalho desenvolvido nos municípios é pertinente visualizarmos as atividades demandantes de tais ações e que são pensadas justamente no foco de aprimoramento e qualidade – discutidos anteriormente como cruciais para o repasse do recurso do IGD-PBF – para compreendermos a lógica de sua execução.
O Manual de Orientações do IGD-PBF elaborado pelo MDS contextualiza essas atividades e suas respectivas necessidades a partir de sua finalidade, conforme descriminado, a seguir:
1. Identificação e cadastramento de novas famílias, atualização e revisão dos dados dos beneficiários no Cadastro Único:
1.1. Estrutura adequada para manter a base cadastral qualificada e atualizada;
1.2. Capacitação contínua da equipe de gestão1 sobre o atual sistema de operacionalização do Cadastro Único, seus fluxos internos e intersetoriais;
1.3. Ações para cadastramento de populações indígenas e tradicionais, nos municípios que apresentarem essa demanda.
2. Gestão intersetorial de condicionalidades
2.1. Atividades para o acompanhamento, registro, sistematização e análise das informações relacionadas à frequência escolar e à agenda de saúde;
2.2. Criar perfil de acesso e domínio no Sistema de Condicionalidades (Sicon) para o gestor do PBF, bem como os gestores/técnicos das áreas de Assistência Social, Educação e Saúde.
demanda. 3. Gestão de benefícios
3.1. Criar domínio de acesso e entendimento sobre o Sistema de Benefícios ao Cidadão (Sibec) e articulação com a agência de vinculação da CAIXA no município e com a Gerência Regional de Programas Sociais da CAIXA; 3.2. Recomenda-se que o gestor tenha conhecimento do número de cartões em estoque na CAIXA e da efetividade de pagamento do seu município;
3.3. Pensar estratégias a fim de sanar as dificuldades que possam impedir um beneficiário de receber o seu benefício, principalmente por falta de informação; tal fato compromete todo o esforço de cadastramento/atualização cadastral realizado pela gestão.
Tratando das ações para utilização dos recursos do IGD-PBF recomendadas para compor o planejamento do setor devem seguir as peculiaridades e necessidades de cada município, contudo tomar cuidados com todo o processo de aquisição e prestação de contas (que serão detalhados no módulo 4).
Elencaram as seguintes ações, como sugestão: - Aquisição de equipamentos de informática;
- Capacitação em informática para as equipes que operam os sistemas informatizados do PBF e do Cadastro Único; - Melhorias no ambiente de trabalho e instalações da gestão municipal do CADÚNICO/Bolsa Família;
- Aquisição de mobiliário e utensílios (mesas, cadeiras, sofás, ventiladores, ar-condicionado, armários, gaveteiros, arquivos, estantes, máquinas fotográficas e demais equipamentos de áudio e vídeo, bebedouros, quadros de avisos e outros que porventura sejam necessários à estrutura física do ambiente onde funciona a gestão municipal e é realizado o atendimento às famílias);
- Aquisição de materiais de expediente (carimbos, papéis para impressoras, canetas, lápis, borrachas, grampeadores, perfuradores, pastas, caixas para arquivo, CDs e DVDs para gravações, entre outros materiais a serem destinados à gestão intersetorial do CADÚNICO/Bolsa Família);
- Capacitação de entrevistadores;
- Locação de espaço para realização de eventos;
- Aquisição de veículos para a utilização exclusiva do CADÚNICO/Bolsa Família; - Ações de cadastramento e atualização cadastral;
- Soluções práticas para o desafio de melhorar o atendimento às famílias (palestras educativas e atividades afins sobre o CADÚNICO/Bolsa Família e demais temas de interesse para as famílias beneficiárias do PBF e cadastradas no Cadastro Único);
- Divulgação e comunicação de campanhas de inclusão, revisão e atualização cadastral; - Contratação temporária de profissionais;
- Relacionamento com a CAIXA e entrega de cartões3;
- Implementar ações com equipes volantes ou itinerantes (que se deslocam pelas zonas urbana e rural do município) para acompanharem as famílias quanto às condicionalidades do PBF e instruí-las de acordo com a legislação vigente; - Ações de atenção especial aos Indígenas, Quilombolas e Comunidades Tradicionais;
- Elaboração de estudos e pesquisas.
3 Cabe apenas à CAIXA a emissão e entrega dos cartões. Contudo, quando os Correios não encontram as residências
dos Responsáveis Familiares e para evitar que os benefícios não sejam cancelados é permitido que o Gestor do CADÚNICO/Bolsa Família promova ações para informar aos beneficiários que seus cartões encontram-se disponíveis.
5. Controle Social: participação e acompanhamento do PBF1
5.1. Interlocução contínua com o CMAS e com a ICS do PBF e do Cadastro Único, quando houver, e capacitação de conselheiros;
É importante reforçar que pelas ações elencadas anteriormente serem sugestões para auxiliar/clarear e nortear o planejamento nos municípios, muitas outras atividades podem ser realizadas utilizando os recursos do IGD-PBF, contudo atenta-se, apenas, para o cuidado em utilizar-se minimamente de conhecimentos acerca de gestão financeira/orçamentária, como a Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, que institui normas gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos municípios e do Distrito Federal, bem como demais legislações do MDS que tratam destas questões.
Referências
Lei nº 12.058, de 13 de outubro de 2009, alterou o art. 8º da Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004 – institucionaliza o IGD, tornando-o transferência obrigatória.
Decreto nº 7.332, de 19 de outubro de 2010, dá nova redação ao Decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004, que regulamentou a Lei do PBF.
Manual do Índice de Gestão Descentralizada Municipal do Programa Bolsa Família e do Cadastro Único – Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
Portaria GM/MDS nº 350, de 3 de outubro de 2007 – dispõe sobre a celebração do Pacto de Aprimoramento da Gestão dos estados e do Distrito Federal no contexto do Sistema Único de Assistência Social - Suas, do Programa Bolsa Família e do Cadastro Único;
Portaria GM/MDS nº 754, de 20 de outubro de 2010, e suas alterações – estabelece ações, normas, critérios e procedimentos para o apoio à gestão e à execução descentralizadas do Programa Bolsa Família.
Portaria GM/MDS nº 319, de 29 de novembro de 2011 – altera as Portarias nº 754, de 20 de outubro de 2010 e nº 256, de 19 de março de 2010.