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Lei 10.639/03 e a história da educação: alguns aspectos históricos

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LEI 10.639/03 E A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: ALGUNS ASPECTOS HISTÓRICOS Adriano Ferreira de Paulo | acanibalia@gmail.com

INTRODUÇÃO

Realizando pesquisas sobre educação e relações étnicas, é possível perceber que a Lei 10.639/03 ainda causa impacto para quem a conhece agora, na metade dos anos 2010, tempo de escrita deste artigo. Em alguns casos, as reações são de surpresa e admiração e em outros, é possível ver descaso ou mesmo indignação com frases do tipo “ para quê uma lei destas?” ou mesmo “ é justo o benefício a um grupo étnico com o estabelecimento de uma lei?”.

Estruturando esta pesquisa, é possível esclarecer que a lei 10.639/03 não “surgiu” repentinamente numa folha de papel pedindo a assinatura do presidente da república. Ela tem meandros de luta e dor e muitas vezes, profissionais docentes desconhecem o caminho percorrido até o estabelecimento dela e os desdobramentos sociais que se pretende alcançar, com maior abertura de uma educação pluricultural e de convivência pacífica entre as diferentes manifestações culturas que constituem o Brasil.

Pesquisadores como Flores (2011) e Hédio (2002) revelaram em seus estudos, alguns episódios da caminhada realizada pelo Movimento Negro no Brasil para se chegar à publicação oficial da lei 10.639/03, como também os estigmas que os séculos de escravidão no Brasil trouxeram para a imagem e representação social do povo negro para a educação. Temos também estudos de Bittencourt (2007) e Cunha Jr.(2012), que provoca reflexões sobre a educação afro-brasileira e a busca de uma identidade a partir da escola.

Para a composição desta pesquisa, que integra estudos de pós-graduação em Educação Brasileira pela UFC, sobre educação e relações étnico-raciais, foram utilizadas fontes documentais, tanto legislativas como documentos impressos de variadas naturezas, como também empregamos fontes bibliográficas.

As fontes documentais são impressos digitalizados, expedidos pelo Ministério da Educação sobre os eventos idealizados pelo Movimento Negro no Brasil, como também atas, convenções e outros registros deste agrupamento da causa negra. Estes serão encarados como portadores de interesses diversos desde sua confecção, revelando além do que as palavras

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demonstram, entendendo que

Documento algum é neutro, e sempre carrega consigo a opinião da pessoa e/ou do órgão que o escreveu [...] Acima de tudo ,o historiador precisa entender as fontes documentais em seus contextos, perceber que algumas imprecisões demonstram os interesses de quem as escreveu. (BACELLAR, 2008, p.63).

Sobre a utilização da pesquisa bibliográfica, aplicamos ainda o método de coleta de informações mediante técnicas de leitura (LIMA e MIOTO, 1986, p.41). Munido de tais fontes, suas interpretações e combinações, para a estruturação da escrita deste trabalho, atentamos para as considerações do historiador Carlo Ginzburg, para quem

Escavando os meandros dos textos, contra as intenções de quem os produziu, podemos fazer emergir vozes incontroladas [...] Ler os testemunhos históricos a contrapelo significa supor que todo texto inclui elementos incontrolados (GINZBURG, 2007, p.11).

ASPECTOS HISTÓRICOS DA LEI 10.639/03 ENTRE 1900 E 1990

O estabelecimento da lei 10.639, em 09 de janeiro de 2003, foi fruto de um longo caminho, com manifestações desde as primeiras décadas do século XX, de articulações entre grupos representativos da população negra no Brasil e vários setores da sociedade, visando ao diálogo com o Estado brasileiro sobre as condições sociais desta etnia. Há registros históricos, como por exemplo, da “imprensa negra paulista”111 com seus periódicos, até os anos 1950, em

defesa do povo negro (O Menelick, O Kosmos, A Liberdade, A Raça, O Novo Horizonte, Tribuna Negra, Senzala, O Clarim Alvorada, Mundo Novo, Auriverde), grupos como “FNB112

(Frente Negra Brasileira) em 1931, manifestações culturais como o TEN113 (Teatro

111No começo do século XX, pouco mais de 20 anos após a abolição da escravatura no Brasil, alguns grupos de homens negros paulistas, sentindo a necessidade de um movimento de identidade étnica que enfrentasse as barreiras de uma imprensa (branca) impermeável aos anseios e reivindicações da comunidade, decidiram fundar uma imprensa alternativa. A idéia era que naquele pequeno espaço físico se concentrassem assuntos que refletissem os desejos, denúncias, bem como a vida associativa, cultural e social dos negros do estado. Disponível em: < http://omenelick2ato.com/o-menelick/>. Acesso em: 20 jun. 2013.

112A Frente Negra Brasileira foi fundada em 16 de setembro de 1931 e durou até 1937, tornando-se partido político em 1936. Foi a mais importante entidade de afro-descendentes na primeira metade do século, no campo sócio-político. Disponível em:<http://www.quilombhoje.com.br/frentenegra/franciscolucrecio.htm>. Acesso em: 20 jun. 2013.

113Idealizado, fundado e dirigido por Abdias do Nascimento, o Teatro Experimental do Negro tem como objetivo a valorização do negro no teatro e a criação de uma nova dramaturgia. Contemporâneo de Os Comediantes, companhia com a qual realiza intercâmbios, o Teatro Experimental do Negro atua no nascimento

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Experimental Negro) entre 1944 a 1968 e o periódico carioca O Quilombo: Vida, Problemas e Aspirações do Negro114 (1948-1950)” dentre muitos outros pelo Brasil (FLORES, 2011, p.1).

Uma destas expressões do movimento negro no Brasil, o TEN, sediou o I Congresso do Negro Brasileiro, na cidade do Rio de Janeiro, entre 26 de agosto e 4 de setembro de 1950, quando aconteceram as primeiras reivindicações sobre inserção da cultura africana nas disciplinas escolares do País.

Recomendou-se o estímulo ao estudo das reminiscências africanas no país bem como dos meios de remoção das dificuldades dos brasileiros de cor e a formação de Institutos de Pesquisas, públicos e particulares, com esse objetivo (SANTOS, 2005 apud NASCIMENTO, 1968, p.293).

Ainda levaria tempo para que as primeiras reivindicações tivessem êxito no Brasil e o movimento negro organizado ainda teria que amargar o período da ditadura militar que, entre 1964 e 1985, desarticulou muitos grupos populares e suas pautas de lutas. Seriam anos de espera para novas oportunidades de mostrar à sociedade que as pautas de racismo, educação, cultura e trabalho, careciam de amparo de políticas sociais.

Passados os anos dos militares no poder, uma nova manifestação afro-brasileira repercutiu: a Convenção Nacional do Negro pela Constituinte, entre os dias 26 e 27 de agosto de 1986, sendo que, desta vez, aconteceu em Brasília e contou com a presença de representantes de 63 grupos, entre membros do movimento negro, sindicatos, partidos políticos e grupos sociais de 16 estados da Federação: Pará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás e Distrito Federal (CONVENÇÃO, 1986). O Ceará, conhecido como primeiro estado brasileiro a libertar seus escravos, porém, não se fez representar.

O documento final dessa convenção foi lavrado no Cartório de Títulos e Documentos

da profissionalização. O projeto do Teatro Experimental do Negro - TEN, engloba o trabalho pela cidadania do ator, por meio da conscientização e também da alfabetização do elenco, recrutado entre operários, empregadas domésticas, favelados sem profissão definida e modestos funcionários públicos. Disponívelem:<http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?

fuseaction=cias_biografia&cd_verbete=649>. Acesso em: 21 jun. 2013.

114No ano de 1948 foi publicada aprimeira edição de Quilombo. Vida, Problemas e Aspiração do Negro, sob a direção de Abdias Nascimento. Saíram dez edições até o ano de 1950, quando por questões financeiras deixou de ser publicado. Quilombo foi o jornal que melhor retratou o ambiente político e cultural de mobilização anti-racista. (FLORES, 2011, p.3).

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de Brasília, no mesmo ano de sua realização, tendo como representante do Movimento Negro, do Distrito Federal, Maria das Graças Santos e como delegado da Ordem dos Advogados do Brasil - DF, Maria Lúcia Junior, dando formalidade à Convenção, na busca de realizar suas pautas.

Disseminado no meio popular negro e hoje difundido em sites da internet, tal documento cobrava do Estado, um ano depois, na “Assembléia Nacional Constituinte 87”, a elaboração de leis que dessem um parecer favorável à luta negra secular no Brasil, nas suas variadas pautas sociais. Entre os pontos principais, os que tangem ao ensino de História da África ficaram destacados pelo seguinte

• O processo educacional respeitará todos os aspectos da cultura brasileira. É obrigatória a inclusão nos currículos escolares de I, II e III graus, do ensino da história da África e da História do Negro no Brasil;

• Que seja alterada a redação do § 8ª do artigo 153 da Constituição Federal, ficando com a seguinte redação: “A publicação de livros, jornais e periódicos não dependem de licença da autoridade. Fica proibida a propaganda de guerra, de subversão da ordem ou de preconceitos de religião, de raça, de cor ou de classe, e as publicações e exteriorizações contrárias à moral e aos bons costumes(CONVENÇÃO, 1986).

A formalidade desta luta levaria o movimento negro a participar da reformulação da Constituição Federal no ano de 1988, quando mais uma vez foi colocada a proposta em forma de anteprojeto, de modificação da lei de ensino no País, sendo solicitada a valorização da cultura negra. O Movimento Negro entendia, então, que a gênese da discriminação estava nas escolas, sendo, portanto, urgente a modificação do balizadores de ensino sobre a questão racial.

Submetido à Comissão de Temática da Ordem Social e à Comissão de Sistematização Política, o Anteprojeto, para inclusão na Constituição de 1988, defendia os direitos raciais de negros e índios e uma vasta camada de minorias vítimas das mazelas sociais do Brasil. O anteprojeto foi intitulado de Anteprojeto da Subcomissão dos Negros, Populações Indígenas, Pessoas Deficientes. Sobre ensino e educação, a redação era a seguinte:

Art. 4º A educação dará ênfase à igualdade dos sexos, à luta contar o racismo e todas as formas de discriminação, afirmando as características multiculturais e pluriétnicas do povo brasileiro.

Art. 5º O ensino de “História das Populações Negras do Brasil” será obrigatório em todos os níveis da educação brasileira, na forma que a lei dispuser.

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A resposta do Governo Federal, entretanto, não foi afirmativa aos artigos do anteprojeto, ficando um texto vago sobre a valorização dos elementos raciais formadores da nação: “Art. 242 O ensino de História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e étnicas para a formação do povo brasileiro” (BRASIL,1988).

Era um ganho considerável para a luta que desde o início do século, buscava brecha de notabilidade para a causa racial e sua valorização na História. Além do mais, como descrevem as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, o Governo Federal precisava dar resposta afirmativa à UNESCO sobre o combate ao racismo, como também a compromissos internacionais, firmados desde 1960, no sentido da discriminação étnica (Resolução CNE/CP nº 03/2004).

A LEI 10.639/03 NA DÉCADA DE 1990 E O ANO 2000

Os militantes da questão negra seguiram em suas pautas por busca de direitos civis, tanto que sete anos depois conseguiram realizar, em 20 de novembro de 1995, a Marcha Zumbi dos Palmares contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida, que ensejou um documento intitulado Programa de Superação do Racismo e da Desigualdade Racial, sendo este entregue ao então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. O documento, como os demais, pedia deferimento em forma de lei para as questões raciais, mais uma vez tendo itens importantes para a questão da educação. Podemos considerar que depois deste Programa, o Estado brasileiro finalmente caminharia na intenção de algo concreto a ser realizado.

Sobre educação, ensino, cultura e valorização do elemento negro na História, o documento entregue ao Presidente descrevia as seguintes reivindicações:

•Monitoramento dos livros didáticos, manuais escolares e programas educativos controlados pela União;

•Desenvolvimento de programas permanentes de treinamento de professores e educadores que os habilite a tratar adequadamente coma diversidade racial, identificar as práticas discriminatórias presentes na escola e o impacto destas na evasão e repetência das crianças negras (EXECUTIVA, 1996).

A revisão dos livros didáticos tinha como um dos objetivos a eliminação de deduções racistas, pois estes eram “apontados como responsáveis pelas imagens negativas com as quais alunos negros tinham de conviver e que, portanto, era necessário reconsiderar o livro-didático

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na diversidade racial”. (HÉDIO, 2002, p.32). Assim, textos e imagens que tivessem cunho de preconceito e degradação da etnia negra deveriam ser revistos, abrindo espaço para reconhecimento de valor. Além de imagens de castigos e trabalhos forçados, deveria haver a contrapartida das lutas de resistência, das estratégias nos quilombos e discussões sobre a cultura africana sendo absorvida pela população brasileira.

Em 1995, mais uma vez, a UNESCO, em seus programas internacionais de luta anti racista, pedem deferimentos sobre ações do Estado brasileiro, por um do Programa Nacional de Direitos Humanos para o desenvolvimento de “políticas afirmativas, de reparações e reconhecimento, dirigidas à correção de desigualdades raciais e sociais, desvantagens e marginalização criadas e mantidas por estrutura social excludente e discriminatória”(Resolução CNE/CP nº 03/2004).

Em 20 de dezembro de 1996, foi editada a lei 9394, conhecida como LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), que reformulou os objetivos a serem atingidos pela educação no Brasil, tendo já em sua redação a valorização das variadas culturas responsáveis pela formação do povo brasileiro. A Lei também apresentava o aluno com um ser interligado à vida escolar e à família, grupos sociais, trabalho e manifestações culturais diversas, valorizando a diferença e buscando entender na multiplicidade étnica a estruturação do Brasil.

Artigo 26 - Parágrafo 4ª: O ensino de história do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia (BRASIL,1996).

Em sustento à lei 9.394/96, foram criados pelo MEC, no ano de 1997, os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), em que todas as disciplinas da grade de Ensino Fundamental são pautadas de acordo com o estabelecido pelo Governo Federal, ficando para o ensino de História a indicação de que,

Nos programas e livros didáticos, a História ensinada incorporou a tese da democracia racial, da ausência de preconceitos raciais e étnicos. Nessa perspectiva, o povo brasileiro era formado por brancos descendentes de portugueses, índios e negros, e, a partir dessa tríade, por mestiços, compondo conjuntos harmônicos de convivência dentro de uma sociedade multirracial e sem conflitos, cada qual colaborando com seu trabalho para a grandeza e riqueza do País (MEC, 1997).

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Ensino Médio. Mais uma vez estava assegurada a referência à pluralidade cultural na formação do povo brasileiro que já era descrita pela LDB com a repetição de seu texto no Artigo 26. Debruçando-se sobre estes PCNs, logo pesquisadores, historiadores e pedagogos perceberam que sua redação orientava um reconhecimento multicultural étnico, porém sem problematizar, sem dar vazão às questões sociais e culturais do País.

Apesar de seu caráter de parâmetro e não-obrigatoriedade, é complementar às orientações curriculares e à LDB/96,quando propõem a abordagem da “ Pluralidade Cultural” acrítica, sendo assim, os conceitos de diversidade, multiculturalismo e diferença, devem estar articulados com o conceito de desigualdade social, rompendo com o silêncio e a indiferença às diversidades presentes no espaço escolar(HÉDIO, 2002, p.33).

Parecia ironia, mas a causa negra “ganhava, mas não levava”, como se diz em jargão popular. Anos de luta pela inserção nas escolas da história do negro como um dos componentes importantes do Brasil, e percebeu-se que a lei foi instituída sem entrar com profundidade na questão do negro na formação do povo brasileiro. Citar o elemento negro, descrevê-lo e contar sua origem era simplório para o que de fato queriam as frentes de lutas raciais: problematizações históricas. Era preciso dar nuanças de grandeza, de orgulho, pela pele, discorrer sobre os reinos africanos. Faltava a colocação detalhada, descrita de forma direta, para que não acontecessem defloramentos de palavras ao sabor dos interesses de terceiros, que pouco se importavam com a história do negro no Brasil. Corria solta a velha articulação frasal de que o Brasil se reconhecia sem preconceito de cor e mais gerações saíam das escolas vendo a figura do negro e do índio como subjugados e explorados: papel comum que infelizmente lhes coube nas salas de aula.

ENFIM A INSTITUIÇÃO DA LEI 10.639/03

Em 09 de janeiro de 2003, sob a defesa da deputada Esther Grossi e do deputado Bem-Hur Ferreira, foi aprovada a Lei Federal 10.639, que

Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as

diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências ( BRASIL,2003).

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negra no Brasil há tempos.

Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida

dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o

estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.

§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão

ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.

§ 3o (VETADO)

Art. 79-A. (VETADO)

Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’."

Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação ( BRASIL,2003).

De fato, a partir de 09 de janeiro de 2003, o valor a ser atribuído a este tema estava embasado em uma lei federal e traria para as salas novos conceitos sobre africanidades, com suas formas simbólicas sendo ressignificadas, pois afinal “a obrigatoriedade do ensino de História da África e da cultura afro-brasileira, apresenta, entre outras passagens, a estreita relação entre história escolar e a constituição de identidade”( BITTENCOURT, 2007, p.33).

Em 2004, foram publicadas as DCNs (Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana) sob a Resolução CNE/CP nº 03/2004, criadas em 10 de março de 2004. Em 17 de junho do mesmo ano, foi publicada a CNE/CP Nº 01/2004, que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.

Por fim, em 2008 a lei 10.639/03 foi modificada pela da lei 11.645, no qual se repetem os mesmos textos da lei anterior, acrescentando, junto ao povo negro, a população indígena, ampliando assim o campo de lutas pelo reconhecimento na formação da História nacional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Brasil, ajudou a elaborar, com a constituição da Lei 10.639/03, pode ser considerado um arcabouço de ideologias, um ponto de partida para dignidade intelectual e de cunho científico sobre o negro na História do Brasil.

A lei 10.639/03 estabelece-se, na história da educação brasileira, como resultado de um caminho árduo de lutas, que faz uma “ponte”, desde o início da República no Brasil, com seu “esquecimento” à população negra, até o ano de 2003, onde, pode-se afirmar, debaixo desta “ponte”, ao longo de décadas, pôde ser vista, através da educação, a desqualificação da cultura e valor dos negros na História do Brasil. É como se esta lei contribuísse como “desagravo” às gerações passadas por toda sorte de males que sofreram.

Deste modo, esta lei torna-se de fundamental importância, colocando-se como um canal multicultural para a reversão da História que marginalizou tanto índios como negros, indo além de aspectos folclóricos e artísticos e resgatando sua função na formação social, econômica e política do Brasil (CUNHA JR., 2012), revertendo o que a educação, em muitos de seus componentes curriculares, colaborou, muitas vezes, em desconstruir.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Históricas. PINSKY, Carla Bassanezi (org.) 2.ed.,1ª reimpressão.—São Paulo: Contexto,

2008.

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Ensino de História e Memória Coletiva. CARRETERO, Maria; ROSA, Alberto;

GONZÁLEZ, Maria Fernanda (org.). Porto Alegre: Editora Artmed, 2007.

CUNHA JR.,Henrique.Olhando pela janela e vendo as árvores africanas: as relações Brasil-África: continuidades e permanências da África no mundo atlântico.In:Memórias de Baobá. PETIT, Sandra Haydée;SILVA, Geranilde Costa (org.). Fortaleza: Edições UFC, 2012.

FLORES, Hélio Chaves. África e Negritude: a percepção de intelectuais afro-brasileiros (1944-1968). Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH: São Paulo, jul. 2011.

GINZBURG, Carlo. O fio e os rastros: verdadeiro, falso, fictício; tradução de Rosa Freire de Aguiar e Eduardo Brandão – São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

HÉDIO, Silva Jr. Discriminação Racial nas escolas: entre a lei e as práticas sociais. Brasília: UNESCO, 2002.

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metodológicos na constituição do conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica.

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SANTOS, Sales Augusto dos. A lei Nº 10.639/03 como fruto da luta anti-racista do Movimento Negro. In: Educação anti-racista : caminhos abertos pela Lei Federal nº

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