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Denise Regina da Costa Aguiar

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Academic year: 2021

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O MOVIMENTO DE REORIENTAÇÃO CURRICULAR A PARTIR DA ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA EM CICLOS NO MUNICÍPIO DE DIADEMA

AGUIAR, Denise Regina da Costa costaag@uol.com.br Programa de Pòs-Graduação em Educação: Currículo da PUC - SP Orientadora: Profª Drª Ana Maria Saul

RESUMO

A proposta de política pública educacional no Município de Diadema apresenta como meta a democratização do acesso e da permanência do educando das camadas populares, a democratização da gestão e do fazer pedagógico e a qualidade social de ensino e para isso propõe, dentre suas ações, o movimento de reorientação curricular através da construção coletiva de um currículo por eixos temáticos interdisciplinares a partir da organização da escola em ciclos. Pretendo investigar através deste trabalho quais são as facilidades e as dificuldades de construção/implantação dessa proposta na Rede Municipal de Diadema tendo como fundamento os pressupostos da filosofia e da pedagogia Freireana. Para desenvolver tal discussão, utilizo-me da revisão teórica da literatura, dissertações, teses e estado do conhecimento sobre os ciclos e de fontes documentais oficiais das Secretarias de Educação, além da legislação pertinente ao tema. Trata-se de um estudo de caso do tipo etnográfico e de natureza qualitativa que compreende uma análise documental e revisão da literatura e que se utiliza também da observação participante e de entrevistas.

Palavras-chave: ciclos, reorientação curricular, qualidade de ensino.

Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo, Os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo. Paulo Freire.

Introdução

A presente pesquisa pretende investigar quais são as ações facilitadoras e obstaculizadoras na implantação/construção do movimento de reorientação curricular a partir da organização da escola em ciclos na Rede Municipal de Diadema e que tem como

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fundamento em sua proposta de política pública educacional os princípios e pressupostos da filosofia e da pedagogia freireana.

Este trabalho é parte integrante de um projeto de pesquisa amplo e coletivo desenvolvido pela Cátedra Paulo Freire, sob a coordenação da Professora Drª Ana Maria Saul, que tem como proposição o estudo da influência e contribuições do pensamento do educador Paulo Freire na educação brasileira, a partir da década de 90, estudo este que vem sendo desenvolvido em diversos municípios brasileiros.

Referencial Teórico

A implantação do movimento de reorientação curricular a partir da proposta de organização da escola em ciclos constitui-se como uma proposta anti-hegemônica, porque busca a superação da lógica da organização da escola seriada, ou seja, da concepção de educação enraizada nos princípios da burocracia e da racionalidade técnica, da competitividade, da eficiência e da eficácia, do modelo de ensino bancário, da cultura do silêncio, da “coisificação” dos educandos, da alienação cultural, das relações verticalizadas de poder, projeto este que se configura para a manutenção de uma sociedade burguesa, elitista e opressora.

O movimento de reorientação curricular a partir da organização da escola em ciclos propõe a construção de uma escola pública, popular e democrática através da consolidação de uma proposta político-pedagógica e crítico-emancipatória que pressupõe o combate ao déficit da quantidade, da expulsão e da seletividade através de uma prática educativa dialógica, crítica, curiosa, alegre e ousada.

Além disso, pensar em qualidade da educação significa pensar na construção coletiva de uma proposta curricular interdisciplinar acompanhada do movimento de formação permanente de educadores.

Para Paulo Freire a mudança no perfil da escola não se faz por imposição de um decreto, de forma autoritária e arrogante, com medidas centralizadoras e verticalizadas, com reformas administrativas e burocráticas. Pelo contrário, afirmava que tal medida não garantiria em nada a melhoria da escola e/ou sua efetividade na implantação.

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A mudança da escola não se faz de um dia para outro, não se faz de “terça para quarta-feira”. Ela se faz pelos seus instituintes, pelos sujeitos coletivos, históricos e culturais do processo, por meio do princípio da dialogicidade, da participação, da descentralização e da autonomia, ou seja, ouvindo e dialogando com todos da comunidade escolar: pais, educadores, alunos, funcionários, a própria comunidade em que a escola se situa e os especialistas das diferentes áreas de conhecimento.

A proposta da escola seriada apenas contribuiu para a produção do fracasso escolar, para a expulsão e seletividade dos educandos das camadas populares na escola pública, para consolidar os princípios da barbárie e da exclusão social, para a negação de um dos direitos sociais fundamentais que é o acesso à educação, para a negação do direito humano à vida digna.

A proposta da reorganização da escola em ciclos visa a combater a rígida seriação anual, o modelo curricular fragmentado por disciplinas, a avaliação classificatória e a seletividade no ensino, a partir da concretização de um outro Projeto Político-Pedagógico a favor da vida.

Tem por princípio um outro fazer político e pedagógico que flexibiliza o tempo escolar, reorganiza os espaços, propõe um currículo interdisciplinar, uma avaliação do ensino-aprendizagem diagnóstica e formativa, que respeite o tempo de vida, histórico e social, o ritmo de aprendizagem e as experiências de cada educando, assegurando o direito a aprendizagens significativas, a construção e à reconstrução do conhecimento e à formação cidadã.

Nas palavras de Paulo Freire ([1996], 2001): “todo projeto pedagógico é político e se acha molhado de ideologia. A questão é a favor de quê e de quem, contra quê e contra quem se faz a política de que a educação jamais prescinde” (p.44-45).

Educar é um ato político e, por ser político, define uma intencionalidade de proposta e de práxis educativa, de currículo e de cidadão a ser formado para uma determinada sociedade em questão.

Trata-se de uma escolha: a favor de quê, de quem, contra quê, para quê, qual ensino? Nesse sentido, o que determina aqui a concepção crítico-emancipatória de educação pública, popular e democrática é a vida, é a humanização, ou seja, é a formação da

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consciência humana, o que permite ao homem compreender, interpretar e apreender o mundo em que vive para transformá-lo a partir da relação dialógica com o outro e dialética com o mundo.

O ensino, numa concepção seriada caracteriza-se apenas pela instrução e pelo depósito de conteúdos: o conhecimento é meramente consumido pelos alunos, destinado a ajudá-los a dominar uma determinada cultura “dada” como certa, um conhecimento absoluto já elaborado oficialmente e pré-definido por alguns experts. A prática educativa ignora os sonhos, as utopias, as histórias que os alunos trazem, vivem no seu cotidiano, o que nas palavras de Paulo Freire, é isto que nos leva á crítica e á recusa ao ensino bancário ([1996], 2001, p.27).

Uma educação crítico-emancipatória, como aqui pretendida, entende o conhecimento como uma construção dinâmica, um movimento contínuo, num determinado tempo e lugar, numa unidade epocal e sua aquisição como um processo de apropriação que se faz na interação dialética sujeito/objeto entendendo-se esse sujeito como um ser inerente ao processo social e histórico e por isso uma educação libertadora.

Partir do conhecimento que tenha significado para o educando, do conhecimento de experiência feito, para que ele adquira e produza conhecimento dentro do ciclo gnosiológico do ato de conhecer e se aproprie, requer uma ressignificação dos conceitos de relação de poder, na tríade educando-educador - conhecimento, acompanhado da ressignificação da práxis educativa, ou seja, da ação-reflexão-ação sobre a teoria/prática pedagógica com o objetivo sempre da conscientização e da formação humana como um projeto de ser mais.

Outra reformulação necessária refere-se à questão da avaliação do ensino- aprendizagem. O processo de avaliação do ensino-aprendizagem é inerente ao processo de construção do ato de ensinar-aprender, apresenta-se como um caminho para a ação-reflexão-ação que irá nortear a relação-reflexão-ação teoria/prática, para o redimensionamento de novas ações e reflexões, novas prática, pois como diz Freire, quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender (Freire, [1996], 2001, p.25), ou seja, quem ensina ressignifica o ato de aprender e vice-versa.

Numa concepção conservadora de educação e de ensino, as salas são organizadas de forma homogênea, ou seja, salas com alunos “classificados” de fortes, médios e fracos, para

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que, a partir de seu “mérito” e de seu esforço individual, cada aluno consiga evoluir e ser aprovado. O que demonstra o caráter anacrônico e descontextualizado da prática pedagógica.

Em contraposição à seriação, a proposta da organização da escola em ciclos manifesta-se propondo a organização das salas de forma heterogênea, considerando que, - como cada educando apresenta um ritmo de aprendizagem -, os mais avançados podem interagir com os educandos que apresentam maior dificuldade e vice-versa por meio de diferentes formas de agrupamentos e considerando, também, o respeito ao conhecimento, o saber que cada educando possui, a crível proposta que cada educando possa ensinar e aprender.

O importante é o educador criar estratégias diferenciadas, agrupamentos diversificados, que garantam atividades significativas, desafiadoras e curiosas, que visem ao sucesso de todos, ou seja, que o ensino na escola pública popular resgate a sua verdadeira função social, que é a de trabalhar com a construção de conhecimentos significativos.

E, conseqüentemente, o ato educativo por ser um ato amoroso, de respeito ao saber do educando, é compreendido dentro de um continuum, de ensino-aprendizagem e pesquisa, ao longo de cada ciclo e entre os ciclos sem rupturas e/ou fragmentações, em busca das melhores condições/situações para a oferta de um ensino-aprendizagem emancipatório e com qualidade.

O currículo na organização seriada é entendido como sinônimo de ordem, disciplinamento, método, estruturado por grades curriculares hermeticamente fechadas e através de práticas escolares que consolidam suas propostas na ênfase da tradição cultural acumulada ao longo dos tempos e em conteúdos academicistas, enciclopédicos que valorizavam apenas os saberes organizados pela ordenação das listas de conteúdos.

A proposta curricular na organização da escola em ciclos visa à ruptura desse modelo através da proposição da construção de um currículo interdisciplinar coletivo a partir de eixos temáticos, através de uma metodologia dialógica, construída com rigorosidade metódica e que pressupõe o estudo preliminar da realidade, escolha dos temas geradores e a construção coletiva do programa interdisciplinar pelos sujeitos do processo.

Objetivo da pesquisa.

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1- Que pressupostos presidem a estrutura curricular do Ensino Fundamental de 9 anos, em Diadema?

2 - Como se efetiva a estrutura curricular em ciclos, na concepção crítico-emancipatória de educação, em Diadema?

2.1 - Quais são as condições facilitadoras e dificultadoras para a implantação dessa estrutura curricular em ciclos?

3 - Que práticas pedagógicas são evidenciadas na estrutura curricular em ciclos?

4 - Como se dá a formação permanente dos educadores para o trabalho nos ciclos, em Diadema?

5 - O que esse estudo acrescenta ao “estado do conhecimento” realizado sobre o tema ciclos, no período de 2003 a 2007?

Metodologia

O projeto pretendido configura-se como um estudo do tipo etnográfico e de natureza qualitativa, dado que pretende realizar: observação participante, entrevistas e análise dos conteúdos “, características básicas deste método.

 Observação Participante: participação em encontros realizados no período de organização da escola, destinados à elaboração do Projeto Político-Pedagógico e reorientação da estrutura curricular; participação em reuniões pedagógicas realizadas ao longo do ano e nos horários coletivos de trabalho na escola, acompanhamento dos projetos desenvolvidos na sala de aula.

 Entrevista com o chefe de departamento de ensino fundamental e membros do grupo de intervenção metodológica da Secretaria Municipal de Educação de Diadema.

 Entrevistas com educadores, educandos e pais da escola.

 Análise documental: documentos da Secretaria Municipal de Educação de Diadema; da legislação sobre a temática.

 Análise bibliográfica da literatura sobre o tema abordado, e do ‘estado do conhecimento’ sobre a temática - ciclos.

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 Atualização do estado do conhecimento sobre a temática – ciclos, relativa ao período de 2003 a 2007.

Referências

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Referências

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