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A influência do desmame, da contenção em tronco e do transporte rodoviário na etologia, hematologia e bioquímica clínica de bovinos da raça Nelore (Bos indicus)

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Paulo Ricardo de Oliveira Paes

A influência do desmame, da contenção em tronco

e do transporte rodoviário na etologia,

hematologia e bioquímica clínica de bovinos

da raça Nelore (Bos indicus).

Tese apresentada à Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista, para a obtenção do título de Doutor em Clínica Veterinária.

Botucatu, SP

2005

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Paulo Ricardo de Oliveira Paes

A influência do desmame, da contenção em tronco e

do transporte rodoviário na etologia, hematologia e

bioquímica clínica de bovinos da raça Nelore (Bos indicus).

Tese apresentada à Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista, para a obtenção do título de Doutor em Clínica Veterinária.

Orientador: Prof. Ass. Dr. Roberto Calderon Gonçalves

Botucatu, SP

2005

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO TÉCNICA DE AQUISIÇÃO E TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO

DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CAMPUS DE BOTUCATU - UNESP BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: SELMA MARIA DE JESUS

Paes, Paulo Ricardo de Oliveira.

A influência do desmame, da contenção em tronco e do transporte rodoviário na etologia, hematologia e bioquímica clínica de bovinos da raça Nelore (Bos indicus) / Paulo / Ricardo de Oliveira Paes. – 2005.

Tese (doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Botucatu, 2005.

Orientador: Roberto Calderon Gonçalves Assunto CAPES: 50501046

1. Nelore (Bovino) 2. Bovino - Criação

CDD 636.28

Palavras-chave: Bovino; Bioquímica clinica; Desmame; Hematologia;

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PAES, P.R.O. A influência do desmame, do transporte rodoviário e da contenção em tronco, na etiologia, hematologia e bioquímica clínica de bovinos da raça Nelore (Bos indicus). Botucatu, 2005. 124p. Tese (Doutorado em Clínica Vetarinária) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Estadual Paulista.

Resumo

O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência do desmame, do transporte rodoviário e da contenção em tronco, na etologia, hematologia e bioquímica clínica de bovinos jovens da raça Nelore, criados em regime extensivo. Para tal, 40 bovinos foram subdivididos em quatro grupos, compostos por 10 animais como segue: (GL) permaneceram com a mãe, (GD) foram desmamados no primeiro momento do experimento, (GDT) foram desmamados no primeiro momento do experimento e submetidos a transporte rodoviário por quatro horas e (GD7T) foram desmamados uma semana antes do primeiro momento do experimento e submetidos as transporte rodoviário por quatro horas. Os animais foram avaliados no momento do desmame, e 12, 16, 36 e 48 horas após. Com relação ao transporte, os animais foram avaliados no dia anterior ao embarque, no momento imediatamente anterior a este, logo após o desembarque e 24 e 36 horas após o embarque. A ordem de entrada dos animais de cada grupo, no tronco de contenção, foi comparada ao seu comportamento durante a colheita das amostras, não sendo observada correlação estatística. O comportamento dos animais não variou durante os momentos, assim como, não houve correlação com a concentração sérica de cortisol. A repetição por três dias consecutivos da contenção dos animais no tronco determinou elevações da concentração sérica de albumina e da atividade sérica de creatina quinase (CK) e aspartato

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aminotransferase (AST). O desmame, por sua vez, determinou alterações hematológicas, com diminuição do hematócrito, e elevações das variáveis do leucograma, compatíveis com leucocitose fisiológica. O desmame também influenciou a bioquímica clínica, com elevações nas concentrações séricas de albumina e uréia e nas atividades séricas da AST e alanina aminotransferase (ALT), e diminuições na concentração plasmática de glicose e atividade sérica de fosfatase alcalina. Já o transporte, determinou aumento da concentração sérica de cortisol, alterações no leucograma característicos da ação deste hormônio, elevações das concentrações sérica da albumina e plasmática da glicose e das atividades séricas da AST, ALT e CK. Apesar da presença de hematozoários nos esfregaços sangüíneos de 65% dos animais, nenhum apresentou anemia durante o experimento.

Palavras-chave: Bovinos, desmame, transporte, hematologia, bioquímica clínica.

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PAES, P.R.O. Weaning, highway transportation, and stock use influences in etiology, hematology and clinical chemistry of Nelore bovines (Bos indicus). Botucatu, 2005. xxxp. Dissertation (Ph.D. in veterinary internal medicine) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Estadual Paulista.

Summary

The goal of the present study was to evaluate the influence of weaning, highway transportation, and the stock use in the etiology, hematology, and clinical chemistry in extensively raised Nelore bovines. For this purpose, 40 bovines were divided into four groups (n=10) as following: (GL) nursing continued; (GD) the weaning happened in the first experimental moment; (GDT) the weaning happened in the first experimental moment and the animals were also highway transported during four hours; and (GD7T) the weaning happened one week before the first experiment moment and the animals were highway transported for four hours. The animals were evaluated one day prior to transportation, in the moment just before, just after, 24 after, and 36 hours after highway transportation. The order of animal getting in the stock and their behavior during sampling was compared and no statistical correlation was found. The animal behavior did not vary between the experiment moments; and no correlation with serum cortisol concentrations was found. After three consecutive days of stocking the animals, an increase in the creatinin kinase (CK) and aspartate aminotransferase (AST) activity was observed. Weaning, on the other hand, caused hematological alterations as the hematocrit decreased and the leukogram variations compatible to physiologic leukocytosis. Weaning also influenced the clinical chemistry increasing serum albumin, urea concentration; and serum AST, and alanine

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aminotransferase (ALT) activities; and decreasing glucose concentration and alkaline phosphatase activity. The highway transportation caused the serum cortisol concentration to increase, with compatible leukogram alterations. Serum albumin and plasmatic glucose concentration increase along with AST, ALT and CK activities. Although hemoparasites were present within the blood smears, anemia was not seen in any animal.

Key-words: Bovine, nursing ceasing, transportation, hematology, clinical chemistry.

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Introdução

O estresse dos animais pode ocorrer por motivo físico, como fome, fadiga, lesão e temperatura ambiente extrema, ou por fatores psicológicos, como contenção, manejo ou novidade (GRANDIN, 1998). Apesar das reações do estresse serem organizadas para a proteção da homeostasia, elas contém elementos que podem aumentar ou diminuir a susceptibilidade do animal a doenças, embora, muitas vezes, as reações do estresse por si própria possam resultar em enfermidades. Entretanto é importante reconhecer que nem todo estresse é prejudicial, já que sem ele o animal não sobreviveria (BREAZILE, 1988).

O córtex da adrenal e a medula adrenal são os principais participantes na adaptação ao estresse, atuando, por ação do cortisol e das catecolaminas, no aumento da produção de glicose. As catecolaminas o fazem rapidamente, ativando a glicogenólise, enquanto o cortisol age mais lentamente, proporcionando

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substrato de aminoácidos para a gliconeogênese. Em conjunto, desviam a utilização de glicose para o sistema nervoso central e para longe dos sistemas periféricos. Ambos elevam o débito cardíaco e a pressão arterial aumentando o fornecimento de substratos aos tecidos que são essenciais para a defesa imediata do organismo (GENUTH, 2000).

Além da produção de glicose a partir da proteína, o cortisol facilita o metabolismo das gorduras, preserva a responsividade da árvore vascular, modula a função do sistema nervoso central e afeta profundamente o sistema imune (GENUTH, 2000). Nos bovinos o cortisol induz mudanças dos leucócitos que incluem neutrofilia sem desvio nuclear, linfopenia, eosinopenia e monocitose, ao passo que a adrenalina causa leucocitose neutrofilica com aumento de linfócitos e monócitos e leve eosinopenia (TAYLOR, 2000).

O desmame é possivelmente o fator mais estressante no manejo de bezerros de criação de corte, já que a separação das mães é realizada de forma abrupta, não natural, enquanto o transporte é provavelmente o evento mais exaustivo na vida de um bezerro (LOERCH & FLUHARTY, 1999). Estes dois elementos, desmame e transporte, estão presentes no transporte rodoviário de bezerros no momento em que são desmamados, prática comum na bovinocultura de corte. Estas viagens ocorrem tanto em função do manejo das propriedades, que possuem diferentes sedes para cria e recria dos animais, como motivadas pela negociação dos bezerros para outros criatórios.

No Brasil, como fator agravante para o comprometimento da saúde dos bovinos submetidos ao desmame e transporte, Souza et al. (2000) e Osaki et al. (2002) relataram alta soropositividade dos animais dos estados do Paraná e Rio de

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Janeiro para Babesia bovis e B.bigemina, enquanto Valeska et al. (2001) relataram alta prevalência de anaplasmose bovina no Estado de Minas Gerais.

Nos últimos anos foram publicados vários trabalhos sobre o transporte de bovinos, na sua maior parte com animais destinados ao abate e/ou em países desenvolvidos. Estas pesquisas têm avaliado as alterações comportamentais, como posição dos animais, e os elementos fisiológicos, como peso dos animais, valores hematológicos e de bioquímica clínica, em diferentes temperaturas ambiente, umidades relativas do ar, densidades de animais no caminhão e períodos de viagem (TARRANT et al.,1989; TARRANT et al., 1992; WARRIS et al., 1995; KNOWLES et al., 1999; TADICH ET AL., 2000; ARTHINGTON ET AL., 2003; NANNI-COSTA ET AL., 2003; Radic et al., 2003; TADICH et al., 2003; VILLARROEL, et al., 2003; WATER et al., 2003). Segundo Grandin (1997, 1998), as variáveis envolvidas no estresse justificam os resultados aparentemente conflitantes das pesquisas sobre o tema.

O presente trabalho teve por objetivo estudar os efeitos do desmame, do transporte rodoviário e da contenção em tronco, em bovinos da raça Nelore, com idades de sete a oito meses, criados de forma extensiva na região norte do Estado do Espírito Santo.

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Revisão de literatura

1. Hormônios da adrenal

As supra-renais ou adrenais são órgãos endócrinos complexos, multifuncionais, essenciais à vida. Cada adrenal é constituída por duas partes funcionais distintas. A zona externa, ou córtex, perfaz 80 a 90% da glândula. A zona interna, ou medula, perfaz os outros 10 a 20% (GENUTH, 2000).

1.1. Cortisol

Os principais hormônios secretados pelo córtex da adrenal são 1) os glicocorticoides, cortisol e corticosterona, que são essenciais à vida em virtude de seus efeitos sobre o metabolismo dos carboidratos e proteínas; 2) Um mineralocorticóide, aldosterona, que é vital para a manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico; e 3) os precursores dos esteróides sexuais, dos androgênios e dos estrogênios, que contribuem para manter as características sexuais secundárias (GENUTH, 2000).

Dos glicocorticóides que ocorrem naturalmente, o cortisol é o mais potente. A secreção dos glicocorticóides é quase que exclusivamente controlada pelo hormônio da pituitária ACTH (hormônio adrenocorticotrópico). A ação do ACTH

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na glândula adrenal é rápida e, com minutos de liberação, aumenta a concentração dos esteróides no sangue venoso da adrenal (RIJNBERK & MOL, 1997). Segundo Guyton & Hall (1997), em um experimento com um rato, demonstrou-se que a concentração plasmática do cortisol aumentou, seis minutos após a fratura de dois ossos do membro posterior, em 400%.

Nas células alvo, os glicocorticóides atuam da mesma maneira que os outros hormônios esteróides: difusão através da membrana celular; ligação aos receptores citoplasmáticos de glicocorticóides e mineralocorticóides; translocação do complexo hormônio-receptor ao núcleo e subseqüente estimulação da síntese de RNAs específicos, levando à síntese de enzimas específicas. Estas enzimas, como a frutose-1,6-difosfato, a glicose-6-fosfatase e a piruvato carboxilase, participam da gliconeogênese. Nos cães, o excesso de glicocorticóides induz também o aumento de fosfatase alcalina, o que não está descrito nas outras espécies (RIJNBERK & MOL, 1997).

O efeito final dos glicocorticóides no metabolismo é o suprimento de glicose para o organismo a partir da transformação das proteínas. Assim, os glicocorticóides desviam o metabolismo da fase de crescimento e/ou armazenamento para aumentar a atividade física e o consumo de energia, enquanto o excesso crônico leva aos efeitos catabólicos como a perda muscular, a atrofia da pele e a osteoporose. A tendência à hiperglicemia é combatida pela secreção de insulina, que por sua vez tende a aumentar a síntese de gordura. Estas alterações, somadas ao aumento da ingestão de alimento a partir da estimulação do apetite, resultam no aumento abdominal pela deposição de gordura (RIJNBERK & MOL, 1997).

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Além da produção de glicose a partir da proteína, o cortisol facilita o metabolismo das gorduras, preserva a responsividade da árvore vascular, modula a função do sistema nervoso central e afeta profundamente o sistema imune (GENUTH, 2000).

Na ausência de um estresse extraordinário, a concentração do cortisol plasmático no animal saudável varia dentro de certos limites, embora a secreção adrenocortical freqüentemente não ocorra ao longo do dia, mas em explosões. Em humanos, a maioria das explosões secretórias ocorre entre meia-noite e o início da manhã, levando a um ritmo diurno dos níveis de cortisol circulante. Nos animais domésticos, há controvérsias sobre a ocorrência da variação circadiana nas concentrações do cortisol (RIJNBERK & MOL, 1997). Apesar de Rijnberk & Mol (1997) e Aggarwal et al. (2001) admitirem a ocorrência de variação circadiana no cortisol de bovinos, Oba et al. (1999) e Abebe et al. (1992) não observaram variações significativas na concentração plasmática do cortisol nesta espécie.

1.2. Adrenalina

A medula da adrenal é a fonte do hormônio catecolamínico circulante adrenalina. Secreta também a noradrenalina, um neurotransmissor que, em circunstancias selecionadas, também pode funcionar como hormônio. Esses compostos exercem efeitos diversificados sobre o metabolismo, bem como sobre virtualmente todos os sistemas orgânicos no corpo. A medula supra-renal representa, essencialmente, um gânglio simpático aumentado e especializado. No entanto, seus corpos neuronais não têm axônios; em vez disso, descarregam seus hormônios catecolamínicos diretamente na corrente sangüínea e, dessa forma,

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funcionam como células endócrinas, e não como células nervosas (GENUTH, 2000).

Os principais estímulos à liberação das catecolaminas são a hipoglicemia, a hipovolemia, a hipotensão, o estresse e a dor. Quando liberadas, as catecolaminas estimulam a glicogenólise hepática e muscular. Simultaneamente, a adrealina inibe a captação de glicose, mediada pela insulina, por parte dos tecidos adiposos e musculares. As catecolaminas também estimulam a secreção do glucagon e inibem a secreção da insulina. Todas essas ações das catecolaminas ajudam a impedir a hipoglicemia, ou a restaurar a glicose plasmática e o fornecimento de glicose ao sistema nervoso central (GENUTH, 2000).

1.3. Cortisol e catecolaminas

A íntima relação anatômica entre a medula e o cortex adrenal reflete uma relação funcional fundamental entre o sistema nervoso adrenérgico e o eixo CRH (hormônio liberador de corticotropina) hipotalâmico-ACTH hipofisário-cortisol supra renal. O córtex adrenal e a medula adrenal são os principais participantes na adaptação ao estresse. O cortisol e as catecolaminas aumentam a produção de glicose. As catecolaminas o fazem rapidamente, ativando a glicogenólise, enquanto o cortisol age mais lentamente, proporcionando substrato de aminoácidos para a gliconeogênese. Em conjunto, desviam a utilização de glicose para o sistema nervoso central e para longe dos sistemas periféricos. Ambos elevam o débito cardíaco e a pressão arterial aumentando o fornecimento de substratos aos tecidos que são essenciais para a defesa imediata do organismo (GENUTH, 2000).

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2. Hematologia

2.1. Volume sangüíneo e equilíbrio hídrico

O volume de sangue é tão importante para a dinâmica da circulação sangüínea que é mantido constante, apesar da ingestão periódica de água, produção de água do metabolismo e da perda contínua de água pela pele, pulmões, rins, glândula mamária e trato gastrointestinal. Na perda de sangue aguda, a reposição do volume de sangue por meio da movimentação do liquido intersticial para o sistema vascular inicia-se em minutos e continua até que o volume de sangue perdido seja restaurado (JAIN, 1986).

O volume de sangue de bezerros é em média de 66 a 77ml/Kg ou 7 a 8% do peso corporal. Este volume pode ser influenciado por fatores como tamanho e conformação do corpo, clima, atividade física, prenhes, lactação e raça. As mudanças no volume de sangue também podem ocorrer nas enfermidades. Ocorre redução no volume sangüíneo devido à perda de água do plasma na desidratação grave e na inanição (JAIN, 1986). A desidratação resulta em hemoconcentração e conseqüentemente em aumento do volume globular (VG), da concentração de proteínas plasmáticas e de uréia sérica (JAIN, 1993).

2.2. Hematologia normal de bovinos

Quando se estabelecem os valores de referência na hematologia dos ruminantes domésticos, as variáveis exercício físico e estado emocional devem ser consideradas. Os bovinos podem ter pouco ou nenhum contato com humanos e, para coleta de sangue, os animais têm que ser contidos fisicamente, alterando-os emocionalmente. Os valores de referência devem incluir variáveis como idade, estado emocional, temperatura ambiente, estado de hidratação e presença de parasitas (KRAMER, 2000).

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Segundo Jain (1986), os valores de referência para o volume globular (VG) da espécie bovina variam entre 24 e 46%, com valores médios de 35%.

Fagliari et al. (1998) relataram valores médios de 37,3 e 37,6% para, respectivamente, animais Nelore lactentes (46 a 180 dias) e desmamados (181 a 360 dias) criados no Estado de São Paulo. Resultados semelhantes foram relatados por Paes et al. (2003c) para Nelore de 10 a 12 meses em regime de confinamento, VG=38%, e por Gonçalves et al. (2001), para zebuínos da raça Guzerá criados no Estado de São Paulo com um a oito meses de idade, VG=36,2%, e oito a 24 meses de idade, VG=38,3%.

2.2.2. Leucograma

Os numerosos valores de referência de leucograma publicados para bovinos revelam poucas diferenças entre as raças (KRAMER, 2000). Paes et al. (2003a) não observaram diferença significativa entre o leucograma de bovinos Nelore (Bos indicus), Simental (Bos taurus), Simbrasil (5/8 Nelore e 3/8 Simental) e mestiços F1 Nelore X Simental com idades de 10 a 12 meses e criados em condições idênticas. O mesmo foi relatado por Paes et al. (2003b) na comparação das raças Nelore, Brangus e Mestiços Angus X Nelore.

A resposta leucocitária em ruminantes freqüentemente difere da observada em outras espécies. A septicemia freqüentemente é caracterizada por neutropenia ao invés de neutrofilia, e há uma menor tendência nos ruminantes de desenvolver uma neutrofilia marcante. Contagens de leucócitos totais entre 20 a 30 x103/µL é comparável em importância a contagens entre 50 e 100 x103/µL em cães. Freqüentemente as alterações na contagem diferencial de leucócitos ocorrem com contagens de leucócitos totais normais. A presença de leucócitos tóxicos muitas

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vezes acompanha a resposta hematológica dos ruminantes à inflamação aguda (TAYLOR, 2000).

O número de neutrófilos circulantes reflete um equilíbrio entre a taxa de liberação da medula óssea, a distribuição entre o pool marginal e o pool circulante e a taxa de migração das células do sangue para os tecidos. Um maior número de neutrófilos ocorre no final de tarde em bovinos, cães, suínos e humanos. Um aumento na contagem dos neutrófilos do sangue periférico ou neutrofilia reflete alterações fisiológicas ou patológicas. A neutrofilia fisiológica ocorre mais freqüentemente em animais jovens em resposta ao medo, excitação ou exercício intenso. Esta alteração fisiológica é na realidade uma pseudoneutrofilia mediada por adrenalina, resultando em mobilização do pool marginal para o pool circulante. As alterações hematológicas resultam em neutrofilia de curta-duração (10 a 20 minutos) que é acompanhada de linfocitose, particularmente nos gatos e primatas não humanos. O numero dos outros leucócitos do sangue permanecem no intervalo de referência (SMITH, 2000). Segundo Taylor (2000), a leucocitose fisiológica induzida por adrenalina em bovinos é caracterizada por uma leucocitose neutrofilica com aumento de linfócitos e monócitos e uma leve eosinopenia.

A leucocitose induzida por corticosteróides ou “leucograma de estresse” também pode ocorrer nos animais saudáveis como resposta fisiológica. Esta resposta precisa ser diferenciada da resposta dos leucócitos à adrenalina (JAIN, 1993). Os corticosteróides induzem uma neutrofilia leve a moderada, que varia conforme a espécie. A neutrofilia é causada principalmente pelo aumento na liberação de neutrófilos da medula óssea, mas também ocorre devido à menor migração dos neutrófilos da circulação para os tecidos, assim como da diminuição

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da aderência dos neutrófilos com conseqüente desvio do pool marginal para o pool circulante (SMITH, 2000). Nos bovinos os corticosteróides endógenos ou exógenos induzem mudanças dos leucócitos que incluem uma neutrofilia sem desvio nuclear, linfopenia, eosinopenia e monocitose (TAYLOR, 2000). A linfopenia ocorre principalmente por linfólise das células T sensíveis aos corticosteróides e por marginzação ou seqüestro dos linfócitos em locais extravasculares. A eosinopenia ocorre por diminuição da liberação destas células pela medula óssea em função da interferência da ação quimiotáxica da histamina nos eosinófilos. O mecanismo da monocitose permanece desconhecido (JAIN, 1993). Segundo Taylor (2000), estas alterações dos leucócitos, assim como às observadas na leucocitose fisiológica por adrenalina, ocorrem em menores amplitudes nos bovinos quando comparados às outras espécies. Para Jain (1993), a monocitose é característica dos cães e ocorre com menor consistência nos bovinos, eqüinos e gatos.

No quadro 1 estão descritos os valores de referência para o hemograma da espécie bovina descritos por Jain (1993).

Quadro 1. Valores normais do leucograma da espécie bovina, segundo Jain (1993). Valores absolutos

Tipo celular Variação (µL) Média (µL)

Leucócitos totais 4.000-12.000 8.000 Neutrófilos bastonetes 0-120 20 Neutrófilos segmentados 600-4.000 2.000 Linfócitos 2.500-7.500 4.500 Monócitos 25-840 400 Eosinófilos 0-2.400 700 Basófilos 0-200 50 Valores relativos (%) Neutrófilos bastonetes 0-2 0,5 Neutrófilos segmentados 15-45 28,0 Linfócitos 45-75 58,0 Monócitos 2-7 4,0 Eosinófilos 0-20 9,0 Basófilos 0-2 0,5

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No quadro 2 estão descritos os valores médios da contagem de leucócitos em zebuínos criados no Brasil, relatados por diversos autores.

Quadro 2. Valores médios da contagem de leucócitos em diferentes raças zebuínas, segundo

diversos autores.

Tipo celular Pesquisadores Condição 1 Condição 2 Valor médio (céls/µL)

Costa (1994) Nelore Seis a 12 meses de idade 16.992 Paes et al. (2003) Nelore 10 a 12 meses de idade 10.800

Benesi et al. (2002) Nelore Adultos 13.572 Lactentes 9.690 Desmamados 9.450 Fagliari et al. (1998) Nelore Adultos 9.290 Um a oito meses de idade 11.410

Leucocitos totais

Gonçalves et al. (2001)

Gir

Oito a 24 meses de idade 9.230 Costa (1994) Nelore Seis a 12 meses de idade 2.416 Paes et al. (2003) Nelore 10 a 12 meses de idade

Benesi et al. (2002) Nelore Adultos 2.954 Lactentes 3.203 Desmamados 2.855 Fagliari et al. (1998) Nelore Adultos 2.590 Um a oito meses de idade 2.640

Neutrófilos

Gonçalves et al. (2001)

Gir

Oito a 24 meses de idade 2.550 Costa (1994) Nelore Seis a 12 meses de idade 14.079 Paes et al. (2003) Nelore 10 a 12 meses de idade 7.330

Benesi et al. (2002) Nelore Adultos 9.940 Lactentes 5.657 Desmamados 5.699 Fagliari et al. (1998) Nelore Adultos 5.890 Um a oito meses de idade 8.470

Linfócitos

Gonçalves et al. (2001)

Gir

Oito a 24 meses de idade 6.260 Costa (1994) Nelore Seis a 12 meses de idade 458

Benesi et al. (2002)

Nelore Adultos 621 Um a oito meses de idade 80

Eosinófilos

Gonçalves et al. (2001)

Gir

Oito a 24 meses de idade 310 Costa (1994) Nelore Seis a 12 meses de idade 0 Paes et al. (2003) Nelore 10 a 12 meses de idade 820

Benesi et al. (2002)

Nelore Adultos 0

Um a oito meses de idade 220 Monócitos

Gonçalves et al. (2001)

Gir

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3. Bioquímica clínica 3.1. Albumina

A absorção de compostos nitrogenados e a manutenção do equilíbrio do nitrogênio nos animais envolvem essencialmente a ingestão e o metabolismo de aminoácidos de proteínas ingeridas. Poucos aminoácidos livres e amônia estão presentes na dieta. No adulto, as perdas por excreção são equilibradas pela absorção para a manutenção do equilíbrio do nitrogênio. As maiores perdas ocorrem por lactação, doenças com lise celular e perdas pelos tratos gastrointestinais e urinários, que podem causar desequilíbrio negativo se não houver aumento na absorção do nitrogênio. O desequilíbrio positivo pode ocorrer durante a prenhes, crescimento e recuperação de doença (KANEKO, 1997b).

Mais de 200 proteínas plasmáticas são descritas e quantificadas em humanos e animais. Muitas dessas proteínas plasmáticas são marcantemente alteradas nas enfermidades. Devido ao fato das proteínas de um individuo ou uma determinada espécie serem sintetizadas sob controle genético, são esperadas variações nas proteínas características do individuo ou da espécie. Essas variações refletem em padrões de proteínas plasmáticas diferentes entre as espécies. Por exemplo, nos bovinos o padrão da eletroforese de proteínas plasmáticas é a presença de albumina e três frações de globulinas, enquanto em outras espécies o padrão normal é a presença de cinco ou seis frações de globulinas (KANEKO, 1997b).

O estresse da temperatura, por febre ou hipotermia, está associado à perda de nitrogênio, ao aumento da atividade da adrenal e ao consumo de proteínas. Este estresse causa diminuições das proteínas totais séricas e da albumina e,

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freqüentemente, aumento da α2-globulina. Devido à redução no volume líquido

corpóreo, a desidratação leva a hemoconcentração (KANEKO, 1997b).

Segundo Kaneko et al.(1997), os valores normais mínimo, médio e máximo da concentração sérica de albumina são, respectivamente, 3,0; 3,3 e 3,6 g/dL. Para bovinos Nelore lactentes e desmamados, Fagliari et al. (1998) relataram valores médios, respectivamente, de 2,97 e 3,17 g/dL. Morais et al. (2000) estudando o efeito da época do ano na albumina sérica de vacas aneloradas criadas à pasto, obteve valores médios que variaram de 3,20 a 3,90 g/dL.

3.2. Glicose

A quantidade de glicose que entra e sai da circulação sanguínea depende de vários fatores e determina a concentração sanguínea de glicose do indivíduo no momento do exame (KANEKO, 1997a). Uma concentração plasmática de glicose adequadamente alta é essencial para o funcionamento normal do cérebro. O organismo utiliza vias elaboradas para garantir a manutenção da glicemia e, como resultado, a glicose plasmática pode, em um momento particular, vir de uma ou mais (entre várias) fontes, dependendo do estado atual do metabolismo de carboidratos. Na fase pós-absortiva, a glicose é transportada do seu local de captação no intestino aos locais de estoque de glicogênio, principalmente o fígado e os músculos. No animal em jejum, as concentrações plasmáticas de glicose são mantidas pela mobilização de carboidratos de qualquer lugar que possam ser encontrados. Geralmente há predomínio de glicogenólise hepática, com pouco de lipólise e gliconeogênese, mas se o quadro de inanição for prolongado, a lipólise e, até mesmo, a proteinólise passam a ser importantes. Há uma retroalimentação complexa e específica e um controle hormonal sobre estas vias para assegurar uma concentração plasmática de glicose razoável e constante, seja comendo muito ou em jejum. Nas situações normais do dia-a-dia, o glucagon e o hormônio de

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crescimento (GH) são os responsáveis pela manutenção de níveis adequados de glicose, enquanto os estados anormais, como jejum prolongado ou estresse, os glicocorticóides e a adrenalina são particularmente importantes. Em contraste com os múltiplos agentes que atuam aumentando a concentração plasmática de glicose, existe apenas um que a diminui, a insulina (KERR, 2003). A presença de insulina aumenta a taxa de utilização da glicose por aumentar o seu transporte celular e a sua fosforilação. Esta ação da insulina é prejudicada pelos fatores diabetogênicos como hormônios de crescimento, glucagon, cortisol e adrenalina (KANEKO, 1997a). Portanto, a hiperglicemia (que, a curto-prazo é menos perigosa para o animal) é muito mais comum e tem várias causas, enquanto a hipoglicemia (que é potencialmente ameaçadora à vida) é menos encontrada (KERR, 2003).

Segundo Kaneko et al.(1997), os valores normais mínimo, médio e máximo da glicose plasmática de bovinos são, respectivamente, 45,0; 57,4 e 75,0 mg/dL. Para bovinos Nelore lactentes e desmamados, Fagliari et al. (1998) relataram valores médios, respectivamente, de 80,9 e 71,8 mg/dL. Morais et al. (2000) estudando o efeito da época do ano na glicose plasmática de vacas aneloradas criadas à pasto, obteve valores médios que variaram de 70,3 a 129, 6 mg/dL.

3.3. Uréia e creatinina 3.3.1. Uréia

A síntese de uréia provê um mecanismo para a excreção da amônia. O ciclo da uréia incorpora duas moléculas de amônia em cada molécula de uréia. A formação da uréia é uma reação dependente de energia que ocorre exclusivamente no

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fígado. A proteína é a principal fonte de amônia para a síntese de uréia, e a taxa da formação da uréia depende da taxa de catabolismo das proteínas, ou seja, aminoácidos. Um aumento na concentração sérica de uréia reflete uma aceleração no catabolismo protéico tanto quanto diminuição da excreção urinaria de uréia. Em um estudo com cães, observou-se que a concentração de uréia sérica fica elevada após 10 a 18 horas após a alimentação. A taxa da formação de uréia pode ser mais rápida em bovinos do que em cães e humanos. O papel do rúmen no metabolismo da uréia não está completamente elucidado (FINCO, 1997).

Segundo Carvalho et al (2003), os microrganismos que habitam o rúmen precisam de nitrogênio para que se desenvolvam e colonizem o rúmen, e eles utilizam de diversas maneiras os compostos nitrogenados da dieta, sejam eles proteínas, aminoácidos, amônia, nitratos, e outros, como a uréia, seja ela endógena quando vem da saliva, seja ela exógena, fornecida pelo homem. O metabolismo nitrogenado microbiano inicia-se quando as enzimas microbianas hidrolisam rapidamente as proteínas contidas na dieta do bovino, quebrando-as e liberando os aminoácidos que formam estas proteínas. Os aminoácidos livres ficam expostos no meio ruminal. Estes aminoácidos livres são rapidamente utilizados pelas bactérias ruminais diretamente para a síntese de proteínas microbianas, e formam a base de multiplicação e colonização dos microrganismos por todo o rúmen. A velocidade de multiplicação microbiana é extraordinária e logo todo o rúmen está colonizado pelos microrganismos, que se nutrem do alimento ingerido pelo animal. Parte destes aminoácidos não são utilizados estruturalmente pela microbiota (bactérias, fungos e protozoários), eles são digeridos pelos microrganismos e se transformam em ácidos graxos voláteis, metano, gás carbônico e amônia. Estas formas gasosas são fundamentais para que o meio

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ambiente ruminal esteja propício para a vida dos microrganismos, que se alimentam das forragens. A uréia, tanto a exógena, como a endógena, é rapidamente hidrolisada pela urease e transforma-se em amônia, que é o componente que dispara todo o processo de multiplicação microbiana, principalmente dos fungos precursores da digestão da parede celular, que vai fornecer nutrientes para que a multiplicação microbiana atinja os maiores níveis possíveis. Finalmente, os nitratos presentes no alimento também são transformados em amônia.

Qualquer processo que induza ao catabolismo protéico pode resultar em um aumento da concentração sérica de uréia. Em homens, as causas específicas incluem febre, administração de corticosteróides e infecção. A febre, aparentemente, aumenta a concentração sérica de uréia por aumentar o catabolismo tecidual. O efeito dos corticosteróides na concentração sérica de uréia foram demonstrados em estudos com cães e humanos tratados respectivamente com predinosolona e predinisona. Em humanos praticantes de exercícios vigorosos prolongados, a concentração sérica de uréia pode aumentar em até 60% (FINCO, 1997).

3.3.2. Creatinina

A maioria da creatinina excretada é originada da creatina endógena. Os aminoácidos arginina e glicina formam o guanidinoacetato no pâncreas, rins e intestino delgado. No fígado, a metionina provê um grupo metil para a conversão do guanidinoacetato em creatina. A creatina do plasma é aprisionada pelo músculo para o armazenamento de energia na forma de fosfocreatina. A única reação catabolica que a creatina sofre é para ser decomposta à creatinina. Este é um processo não-enzimático irreversível que ocorre com uma taxa de 1,6 a 2%

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diariamente. A quantidade de creatinina formada por dia depende da concentração corpórea total de creatina, que por sua vez depende da dieta ingerida, taxa de síntese de creatina e da massa muscular (FINCO, 1997).

O treinamento físico, por influenciar na massa muscular, pode afetar o tamanho do pool de creatina e, desta forma, alterar a produção diária de creatinina(FINCO, 1997).

3.3.3. Valores normais de uréia e creatinina em bovinos

No quadro 4 são descritos os valores médios da concentração sérica de uréia e creatinina relatados por Kaneko et al. (1997) para bovinos, por Fagliari et al.(1998) para gado Nelore lactentes e desmamados criado em pastagem de

Brachiaria decumbens, e por Morais et al. (2000) para vacas aneloradas criadas

em pastagem de Brachiaria decumbens em diferentes meses do ano.

Quadro 4. Valores médios em mg/dL para as concentrações séricas de creatinina e uréia em

bovinos.

Enzima Pesquisadores Condição 1 Condição 2 Valor médio

Kaneko et al. (1997) Bovinos - 1,0 a 2,0

Lactentes 1,34 Fagliari et al. (1998) Nelore

Desmamados 1,49 Janeiro 1,71

Março 1,76 Agosto 2,50 Creatinina

Morais et al. (2000) Nelore adulto

Outubro 2,28 Kaneko et al. (1997) Bovinos - 42,9 a 64,3

Lactentes 14,39 Uréia Fagliari et al. (1998) Nelore

Desmamados 15,97

3.4. Enzimas hepáticas

As enzimas séricas utilizadas rotineiramente no diagnóstico clínico estão presentes em altas concentrações no fígado. Nas lesões hepatocelulares ou na colestase estas enzimas são liberadas no sangue e aumentam a atividade sérica podendo, portanto, serem utilizadas como meio diagnóstico. A duração da

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elevação da atividade sérica das enzimas hepáticas é dependente de vários fatores, que incluem tamanho molecular, localização intracelular, clearence plasmático, taxa de inativação enzimática e, em alguns casos, como na fosfatase alcalina e na gamaglutamiltransferase, na taxa de produção hepática (TENNANT, 1997). 3.4.1. Alanina aminotransferase (ALT) e aspartato aminotransferase (AST)

Em todas espécies de animais domésticos, a atividade do apartato aminotransferase (AST) é alta no fígado e, em lesões hepáticas agudas ou crônicas, a atividade do AST sérico é elevada. A atividade sérica do AST é também alta nos rins, pâncreas e hemácias e, quando estas células ou tecidos são danificados, a atividade sérica desta enzima também pode estar aumentada. O AST pode ainda estar elevado por doenças do músculo esquelético, incluindo o trauma. Para diferenciar a elevação do AST por doença hepática do causada por doença muscular, pode-se utilizar a determinação sérica da creatina quinase (CK). Na lesão muscular aguda, a atividade sérica da CK aumenta e declina antes da AST. Já a alanina aminotransferase (ALT), por ter baixa atividade hepática nos grandes animais, é menos utilizada nestas espécies quando comparado ao uso diagnóstico em cães e gatos (TENNANT, 1997). Segundo Meyer et al. (1995), cães recebendo tratamento com corticosteróides poderão apresentar um suave aumento na atividade sérica da ALT e, com muito menor freqüência, da AST. 3.4.2. Fosfatase alcalina

As fosfatases alcalinas são metaloenzimas de zinco que estão presentes na maioria dos tecidos. Altas concentrações são encontradas nos intestinos, rins, ossos e fígado. As funções fisiológicas da fosfatase alcalina são pouco compreendidas. A localização da enzima na superfície celular sugere um papel no transporte de membrana. Existem evidências que a fosfatase alcalina está

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envolvida na calcificação óssea, no metabolismo dos ácidos nucléicos e em outras atividades. Em animais normais, a atividade sérica da fosfatase alcalina origina-se principalmente dos ossos e fígado. Elevações nas atividades da fosfatase alcalina são observadas em animais em crescimento ou em adultos com atividades osteoblásticas. A atividade da fosfatase alcalina pode também estar elevada nas doenças hepáticas aguda e crônica, porém, aumentos marcantes são indicativos de colestase. A atividade da fosfatase alcalina é menos útil para avaliação de colestase hepática em ruminantes devido à ampla variação dos seus valores de referência para estas espécies (TENNANT, 1997). Em cães, os corticosteróides parecem provocar a produção de uma nova isoenzima de fosfatase alcalina que pode ser diferenciada eletroforeticamente da isoenzima hepatobiliar induzida pela colestase (MEYER et al., 1995).

3.4.3. Gamaglutamiltransferase (GGT)

A gamaglutamiltransferase (GGT) é encontrada principalmente nas células com alta taxa de absorção e secreção. A atividade da GGT é alta no fígado, rins, pâncreas e intestinos, sendo considerado um marcador sérico para doenças do sistema hepatobiliar associados com colestase. A atividade desta enzima é relativamente mais alta no fígado de grandes animais do que de cães e gatos (TENNANT, 1997).

3.4.4. Valores normais das enzimas hepáticas em bovinos

No quadro 5 são descritos os valores médios para a atividade das enzimas ALT, AST, fosfatase alcalina e GGT relatados por Kaneko et al. (1997c) para bovinos e por Fagliari et al.(1998) para gado Nelore lactentes e desmamados criado em pastagem de Brachiaria decumbens, e de ALT, AST e fosfatase

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alcalina relatados por Morais et al. (2000) para vacas aneloradas criadas em pastagem de Brachiaria decumbens em diferentes meses do ano.

Quadro 5. Valores médios em U/L para a atividade de enzimas hepáticas de bovinos, segundo

diversos autores.

Enzima Pesquisadores Condição 1 Condição 2 Valor médio

Kaneko et al. (1997c) Bovinos - 27

(11-40)

Lactentes 13,14 ALT

Fagliari et al. (1998) Nelore

Desmamados 13,64

Kaneko et al. (1997c) Bovinos - 105

(78-132)

Lactentes 41,25 Fagliari et al. (1998) Nelore

Desmamados 40,81 Janeiro 88,79

Março 72,57 Agosto 49,88 AST

Morais et al. (2000) Nelore adulto

Outubro 48,02

Kaneko et al. (1997c) Bovinos - 194

(0-488)

Lactentes 130,93 Fagliari et al. (1998) Nelore

Desmamados 112,73 Janeiro 69,25 Março 69,20 Agosto 36,84 Fosfatase alcalina

Morais et al. (2000) Nelore adulto

Outubro 39,33

Kaneko et al. (1997c) Bovinos - 15,7

(6,1-17,4)

Lactentes 15,09 GGT

Fagliari et al. (1998) Nelore

Desmamados 16,68

3.5. Creatina quinase (CK)

A enzima sérica mais utilizada para a avaliação muscular é a creatina quinase (CK), anteriormente chamada de creatina fosfoquinase (CPK). No músculo, esta

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enzima torna disponível, para a contração muscular, o ATP originado da fosforilação do ADP da creatina fosfato (CARDINET III, 1997).

Os valores normais para a atividade da CK nos animais domésticos, sofrem influência da atividade e contenção físicas, idade e sexo (CARDINET III, 1997). Segundo Kaneko et al. (1997), os valores normais mínimo, médio e máximo da atividade de CK (U/L) para bovinos são, respectivamente, 4,8; 7,4 e 12,1. Já Morais et al. (2000) relataram valores médios de CK (U/L) em bovinos adultos da raça Nelore que variaram de 45,5 a 165,3, conforme a época do ano.

4. Estresse

Embora o estresse seja freqüentemente considerado como uma adaptação às mudanças no ambiente interno ou externo, é mais razoável considerar o estresse como um estímulo que resulta nessas adaptações. A reação de adaptação, ou reação de estresse, representa uma modificação nos mecanismos fisiológicos objetivando responder ao estímulo do estresse com alterações mínimas na homeostasia de um animal. Apesar das reações do estresse serem organizadas para a proteção da homeostasia, elas contém elementos que podem aumentar ou diminuir a susceptibilidade do animal às doenças, embora, muitas vezes, as reações do estresse por si próprias possam resultar em enfermidades. É importante reconhecer que nem todo estresse é prejudicial, já que sem ele o animal não sobreviveria (BREAZILE, 1988).

O estresse dos animais pode ocorrer por motivo físico, como fome, fadiga, lesão e temperatura ambiente extrema, ou por fatores psicológicos, como contenção, manejo ou novidade. O estresse psicológico é o estresse do medo. A resposta do medo a uma situação particular é difícil de avaliar porque depende de como o indivíduo interage com o estímulo. A reação do animal depende de uma

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complexa interação entre os fatores genéticos e suas experiências anteriores (GRANDIN, 1998).

Existem diferenças no temperamento entre as diferentes raças bovinas (GRANDIN, 1997). Zavy et al. (1992) encontraram níveis basais de cortisol mais altos em gado zebuínos (Bos indicus) em relação ao gado europeu (Bos taurus). Já Adeyemo et al. (1981), trabalhando em condições tropicais, não encontraram diferenças entre indivíduos adultos das duas subespécies criados na Nigéria.

Os resultados aparentemente conflitantes entre as pesquisas sobre os estresse físico e psicológico do manejo e transporte em bovinos podem ser justificados pelas variáveis envolvidas no estresse (GRANDIN, 1998).

4.1. Contenção em tronco

Os procedimentos que envolvem contenção de bovinos em um tronco normalmente não causam dor, mas o componente medo, principalmente em animais de criações extensivas, é um componente altamente estressante (GRANDIN, 1998). No sistema de manejo de gado extensivo, os animais normalmente são alimentados pela mãe e tem um contato neutro ou aversivo com os seres humanos. Muitos problemas de bem-estar relacionados à interação entre os animais e os seus tratadores, podem surgir quando há intensificação do manejo (NEINDRE et al., 1996). Durante a contenção, os bezerros de criação extensiva possuem níveis de cortisol mais altos do que aqueles acostumados ao contato humano (GRANDIN, 1998).

A novidade é um forte agente estressante. Como as recordações de medo não podem ser apagadas da memória de um animal, é fundamental que o primeiro contato de um animal com uma experiência seja minimamente estressante. Os bovinos que tiveram uma experiência prévia ruim com a contenção em tronco

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tendem a ser mais estressados em nova contenção do que aqueles que foram submetidos anteriormente a um manejo mais gentil. A contenção com manejo bruto tende a causar um impacto maior aos animais com temperamento agitado do que aqueles com temperamento mais calmo. A experiência prévia interage com os fatores genéticos (GRANDIN, 1997, 1998).

Os métodos do manejo e a seleção de animais apropriados devem ser estudados para minimizar os problemas de manejo e as suas conseqüências negativas. O estresse dos animais aumenta quando ocorrem situações particulares como inseminação artificial, exame veterinário ou manejo pré-abate. O temperamento agressivo está associado a uma carcaça de pior qualidade. A intensificação do manejo, como o aleitamento artificial por pessoas nas primeiras semanas de vida de um bezerro, leva o animal a um comportamento menos agressivo e mais fácil de trabalhar ao longo da sua vida. (NEINDRE et al., 1996).

O temperamento do gado é uma herança genética que afeta a reação do animal ao manejo. Em estudo realizado com gado europeu, os animais de temperamento agitado não se adaptaram ao contato com o tronco, realizados em quatro sessões com intervalos de trinta dias. Os animais com temperamento calmo se adaptaram à contenção não dolorosa de forma que foram diminuindo os níveis de estresse durante as etapas do experimento, ao passo que os animais agitados tiveram um aumento do estresse durante os mesmos momentos (GRANDIN, 1993, 1997). Em outro estudo, com zebuínos da raça Brahman, Solano et al. (2004) observaram que os indivíduos do lote que tendem a ser os últimos a entrar no tronco, tendem a um temperamento mais calmo e ao longo de repetidos procedimentos de manejo tem níveis mais baixos de cortisol.

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Grandin (1998), para avaliação do temperamento bovino em tronco, propõe o seguinte o escore: 1) permanece calmo no tronco; 2) torna-se impaciente; 3) agita vigorosamente o tronco; 4) agita vigorosamente o tronco e tenta escapar.

Já Hickley et al. (1999) propõe: 1) brando: o animal para em qualquer direção, mas nunca arranca sobre o brete; 2) intenso: o animal arranca sobre o brete; 3) grave: o animal tenta escapar, cai e/ou dá coices.

4.2. Desmame

Os efeitos do desmame do ponto de vista do bem estar animal e da economia foram amplamente pesquisados nos últimos anos. Segundo Loerch & Fluharty (1999), o desmame é possivelmente o maior fatorr estressante no manejo de bezerros de criação de corte, já que a separação das mães é realizada de forma abrupta, não natural.

Price et al. (2003) e Smith et al. (2003) observaram que os bezerros que ao desmame permanecem em contato visual com a mãe, caminham menos e tem menor freqüência de vocalização de estresse do que os animais que são totalmente isolados do contato materno. Já Thomas et al. (2001) atribuíram a vocalização dos animais desmamados à oferta de leite, já que, segundo o trabalho dos autores, os animais que recebem maior quantidade de leite vocalizam menos.

Lefcourt & Elsasser (1995) apartaram das mães bezerros mestiços de Angus e Hereford com quatro a seis meses de idade. Um dia após a separação, as concentrações de adrenalina e noradrenalina aumentaram significativamente enquanto o cortisol teve um aumento discreto, permanecendo em concentrações baixas. Já Hickey et al. (2003), estudando os efeitos do desmame em bezerros mestiços das raças Limousin e Charolês acostumados ao contato humano, não encontraram alterações na concentração de cortisol, adrenalina, contagem de

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leucócitos e comportamento dos animais ao manejo. Fell et al. (1999), Bueno et al. (2003) e Smith et al. (2003) também não observaram alterações na contagem de leucócitos totais de bezerros desmamados, ao passo que Coppo et al. (2003) relataram maiores contagens de leucócitos totais, neutrófilos e linfócitos nos animais desmamados e Phillips et al. (1989) observaram diminuição da contagem de leucócitos totais em animais de raças européias e mestiças com zebuínos e aumento de fibrinogênio nos últimos. Hickey et al. (2003) também observaram aumento da concentração de fibrinogênio no desmame.

Apesar de não observarem alterações na contagem total de leucócitos, Hickey et al. (2003) descreveram um aumento na relação neutrófilos:linfócitos após o desmame, resultado diferente do obtido por Smith et al. (2003), que não observaram alteração na relação neutrófilos:linfócitos.

Fell et al. (1999) pesquisaram o efeito do temperamento no desmame de bovinos com idades padrão de desmame, entre sete e nove meses, relatando que, comparados aos animais mais calmos, os animais mais nervosos tem concentrações de cortisol mais altas no momento do desmame e ganho de peso menor e morbidade mais alta 85 dias após o desmame.

Smith et al. (2003), observaram, em animais desmamados precocemente aos quatro meses de idade, maior quantidade de sinais de estresse e pior performance de crescimento em comparação aos animais desmamados à idade comum de sete meses. Já Bueno et al. (2003), estudando os efeitos da idade do desmame em bezerros mestiços da raça Angus, relataram que os animais desmamados aos sete meses têm concentrações de cortisol, glicose e proteínas totais mais elevadas do que os animais desmamados aos cinco e aos nove meses, entretanto os animais desmamados aos sete meses obtêm a melhor performance de crescimento. O

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estresse, segundo os autores, influenciou positivamente o crescimento dos animais.

Albospino et al. (1994), Restle et al. (1999) e Almeida et al. (2003) não observaram diferença no peso final e na qualidade da carcaça dos animais desmamados precocemente. Para Fluarty et al. (2000) e Arthington & Kalmbacher (2003), desde que haja nutrição adequada, o desmame precoce pode trazer maior ganho de peso final. Entretanto, Catto & Afonso (2001) e Baker-Neef et al. (2001), relataram menor peso final nos animais desmamados precocemente e, para Baker-Neef et al. (2001) o resultado econômico final é desfavorável.

Na avaliação do desmame precoce deve-se considerar ainda, conforme Callejas et al. (1999), Arthington & Kalmbacher (2003) e Arthington & Minton (2003), que ocorre diminuição no intervalo entre partos da mãe do bezerro desmamado precocemente.

4.3. Transporte

O estresse do transporte ocorre por várias razões, como trajetos longos com privação de água e alimento, superlotação do caminhão, má qualidade do ar e barulhos desconhecidos. O transporte é provavelmente o evento mais exaustivo na vida de um bezerro (LOERCH & FLUHARTY, 1999).

Tarrant et al. (1989), analisando os efeitos da lotação de caminhões transportando bovinos adultos para o abate, concluíram que os animais transportados por quatro horas em lotações maiores (600kg/m2) apresentam concentrações de CK, glicose e cortisol mais altas e pior qualidade de carcaça do que os animais transportados pelo mesmo tempo em densidades menores (200 e 300kg/m2).

Comparando o comportamento do gado em diferentes densidades no transporte por distâncias maiores, de 24 horas, Tarrant et al. (1992) observaram

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que há maior número de mudanças de posição dos animais quando em menores densidades, sendo mais freqüentes nas primeiras nove horas de viagem e não sendo influenciadas pela posição na carroceria do caminhão (dianteira, média ou traseira). Já Water et al. (2003), pesquisando o efeito da posição dos bezerros nos caminhões de transporte, constataram que a freqüência cardíaca dos animais aumentam 80, 38 e 72%, respectivamente durante o embarque, transporte e desembarque, sendo que os animais que permanecem no compartimento posterior do caminhão tem um aumento da freqüência cardíaca 3% maior do que a dos que permaneceram no compartimento anterior do caminhão; ao passo que o cortisol aumenta de forma inversa, sendo significativamente mais alto nos animais da parte anterior do caminhão.

Ainda segundo Tarrant et al. (1992), quanto à orientação, em densidades baixa e média, os animais evitam principalmente a posição diagonal e, em segundo lugar, a posição paralela ao trajeto. Quando em alta densidade, os animais evitam somente a posição diagonal. Posteriormente, Nanni-Costa et al. (2003), pesquisando a influencia da umidade relativa do ar e da temperatura ambiente (Temperature-Humidity Index, THI) sobre o transporte de gado, observaram que com aumento do THI, ocorrem mudanças no posicionamento dos animais no caminhão, passando da posição perpendicular ou paralela em relação ao trajeto para a posição diagonal.

Tarrant et al. (1992) acompanharam por oito horas os movimentos agudos dos animais, observando que, nos animais que viajaram em densidades baixa e média, ocorre maior quantidade de mudança de passo para manutenção do equilíbrio, 153 e 142, respectivamente, quando comparados aos animais transportados em densidade alta, 26. Porém, os movimentos mais bruscos dos animais para a

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manutenção do equilíbrio ocorreram em maior quantidade (10) nos espaços mais densos, quando comparados (cinco e quatro) aos outros dois tipos de densidade. Mais significativo, ocorreram oito quedas no transporte de alta densidade e apenas uma em cada tipo de menor densidade. Após o transporte, os autores observaram diferenças significativas no cortisol, glicose e CK plasmáticos dos animais dispostos nos diferentes tipos de lotação. As concentrações de cortisol e glicose e a atividade da CK foram, respectivamente, de 0,1; 0,5 e 1,1ng/ml; 0,81; 0,93 e 1,12mmol/l e 132; 234 e 367U/l para animais transportados, respectivamente, em baixa, média e alta densidades.

Warris et al. (1995) estudaram, em 24 bovinos machos castrados com 12 a 18 meses de idade, os efeitos do transporte por cinco, 10 e 15 horas, respectivamente, 286, 536 e 738km. A concentração do cortisol antes da viagem (mediana de 2,5µg/100ml) aumentou significativamente após cinco horas de viagem (7,2µg/100ml) e diminuiu significativamente após 10 e 15 horas de viagem (respectivamente 4,5 e 3,7µg/100ml), levando os autores a sugerir que a concentração de cortisol aumenta em resposta ao estresse associado com o embarque e os estágios iniciais da jornada. A concentração de CK dos animais aumentou progressiva e significativamente nos três tempos de percurso (medianas de 126, 372 e 615U/l, respectivamente para os transportes de cinco, 10 e 15 horas), permanecendo alta nos dois primeiros dias e retornando aos valores iniciais no quinto dia após a viagem. A possível fadiga muscular, segundo os autores, não foi suficiente para que os animais deitassem durante o transporte. A concentração de glicose aumentou significativamente após os três tempos de jornada, sem, entretanto, haver diferença significativa entre elas, retornando aos valores controle dois dias após a viagem. A concentração de uréia sérica

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aumentou significativamente nos momentos logo após as viagens e novamente no dia posterior, retornando ao momento controle entre o segundo e o quinto dia. Segundo os autores, a ação das catecolaminas na glicogenólise é a provável causa do aumento de glicose mesmo no dia posterior ao transporte, enquanto que o aumento de uréia um dia após o descanso dos animais deveu-se a ruptura dos padrões normais de alimentação dos animais. Ocorreram ainda aumentos discretos de proteínas totais e albumina séricas, atribuídas à desidratação, sem, contudo, serem acompanhadas de aumento no volume globular. Os autores concluíram que, baseados nas avaliações fisiológicas, o transporte de bovinos por períodos de quinze horas é aceitável sob o ponto de vista do bem-estar animal.

Posteriormente, Knowles et al. (1999) estudaram os efeitos de transportes mais longos, de até 31 horas, observando que a atividade mais alta da CK ocorreu em 26 horas de transporte. A diminuição da CK após a vigésima sexta hora, segundo os autores, deveu-se ao fato que alguns animais passaram a deitar-se a partir da vigésima hora de transporte, provavelmente por extrema fadiga. O comportamento de sete dos quinze animais transportados que deitaram após 24 horas de viagem levaram os autores a concluir que a jornada máxima a qual os bovinos devem ser submetidos é de 24 horas. Além disso, outros achados do experimento, como aumentos progressivos de uréia e osmolalidade do plasma, sugerem avanço da desidratação e da quebra protéica.

Tadich et al. (2003) pesquisaram a influência da contenção sem água ou alimento por três e 16 horas (isolamento) e do transporte pelo mesmo período em novilhos do Chile. Os animais transportados por três e isolados por 16 horas apresentaram elevações na concentração de cortisol, enquanto os animais submetidos ao transporte por 16 e isolados por três horas não apresentaram

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alterações desta variável. O hematócrito diminuiu nos animais isolados por três horas e aumentou significativamente nos indivíduos transportados por três e 16 horas. Os valores de leucócitos totais não apresentaram um padrão consistente, mas aumentaram significativamente nos animais transportados. A concentração de glicose plasmática aumentou em todos os grupos, ao passo que a creatina quinase (CK) aumentou significativamente apenas nos grupos transportados.

Tadich et al. (2000) descreveram que, em bovinos adultos mestiços de Angus e Hereford transportados no Chile por 36 horas para abate, uma parada de descanso de oito horas após 24 horas de viagem resultou em menores alterações nas concentrações sangüíneas de CK, glicose e hematócrito, comparados aos animais que percorreram o mesmo trajeto sem parada de descanso, concluindo que o descanso em longas viagens é benéfico pois diminuem os índices de estresse.

Nanni-Costa et al. (2003) observaram que as concentrações de CK, glicose e cortisol aumentam devido ao transporte, mas somente a CK aumenta concomitante ao THI (Temperature-Humidity Index).

Steinhardt & Thielscher (2000) transportaram 47 bezerros de 60 dias de idade por 60 minutos, concluindo que os animais que vivem em grupo estável manifestam maiores índices de estresse do que aqueles que vivem isolados ou em grupos com mudanças de composição.

Radic et al. (2003) pesquisaram os efeitos do transporte por 150 e 300km e do isolamento por 12 horas em bezerros. As concentrações séricas de CK e creatinina aumentaram significativamente nos grupos transportados, enquanto a uréia aumentou nos animais isolados. A glicose aumentou significativamente no grupo transportado por 300km e diminuiu no grupo isolado. No hemograma

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observaram-se aumentos significativos na contagem de leucócitos em todos os grupos, sendo significativamente mais elevados nos grupos transportados em relação ao grupo isolado. Observaram-se também diminuições significativas de eosinófilos nos grupos transportados e de linfócitos em todos os grupos.

Parker et al. (2003) estudaram os efeitos do transporte e/ou da privação de água e alimento no equilíbrio ácido-base de zebuínos adultos, concluindo que a desidratação dos animais submetidos as condições do experimento resultam em elevação das proteínas séricas e conseqüente discreta acidose.

Villarroel, et al. (2003) pesquisaram 39 viagens de gado a abatedouros da Espanha, constatando que as concentrações de cortisol, glicose e CK e a relação neutrófilos:linfócitos estão aumentados nos animais transportados e que a elevação do cortisol é maior nos trajetos com duração de uma a duas horas, quando comparados aos trajetos inferiores à uma hora e superiores a duas horas.

Phillips et al. (1989) observaram que o transporte tem efeito sobre o leucograma de bovinos, aumentando a contagem total de leucócitos, enquanto o aumento da concentração de fibrinogênio é bastante variável. Os autores não observaram diferenças entre o leucograma e a concentração de fibrinogênio do gado europeu comparado ao gado mestiço europeu e zebuíno submetidos ao transporte.

5. Hemoparasitos

A babesiose e a anaplasmose são doenças economicamente importantes que afetam o gado nativo em várias partes do mundo, entre estas, a Américas do Sul. Além disso, grandes perdas podem ocorrer em rebanhos importados não vacinados (GUGLIELMONE, 1995, GAUNT, 2000).

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5.1. Babesiose

Os protozoários Babesia bovis e B.bigemina causam anemia hemolítica nos bovinos. A anemia intravascular com hemoglobinúria e a babesiose cerebral ocorrem principalmente em animais infectados com a B.bovis. A babesiose bovina é transmitida por várias espécies de carrapatos, ocorrendo em várias partes do mundo. Outras espécies de babesia podem infectar os bovinos, incluindo B.major,

B.divergens, B.jakimovi e B.ovata. Entretanto estas espécies ocorrem com menor

freqüência e tem patogenicidade menor (GAUNT, 2000).

Nas Américas do Sul e Central, as espécies B.bovis e B.bigemina são encontradas do Uruguai e norte da Argentina até a Guatemala, sendo que, nesta localização, o Chile é o único país livre da enfermidade. Esta distribuição geográfica coincide com a presença do principal vetor, o carrapato Boophilus

microplus, já que, nestas regiões, o carrapato B.annulatus só transmite a Babesia

sp. para bovinos do norte da América Central (GUGLIELMONE, 1995).

No Brasil, Osaki et al. (2002) relataram que, de 642 amostras de soro de bovinos de Umuarama, Estado do Paraná, 64,2% resultaram positivas para anticorpos contra Babesia bovis e Souza et al. (2000) relataram que, de 532 amostras de soro de bovinos da região norte do Estado do Rio de Janeiro, 69,7% resultaram positivas para Babesia bigemina, não encontrando diferença entre as raças, idade e sexo dos animais.

As infecções primárias em bezerros com menos de sete meses de idade normalmente não resultam no aparecimento de sinais clínicos e o desenvolvimento de uma imunidade duradoura não é dependente de re-infecção. Portanto, os riscos de ocorrência de perdas econômicas relevantes são mínimas em rebanhos mantidos com altas ou baixas taxas de inoculação de Babesia sp. O

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maior problema ocorre em rebanhos expostos a uma taxa intermediária de inoculação de babesia, sendo que o clima, o tipo de solo e o biotipo do gado modulam a capacidade da região em suportar as populações de Boophilus

microplus e, portanto, a taxa de infecção de Babesia sp. (GUGLIELMONE,

1995).

Estudos comparativos em rebanhos de Bos taurus e Bos indicus mantidos em condições de pastagens idênticas demonstraram menor parasitemia de B.bovis e

B.bigemina em Bos indicus (MAHONEY, 1981; PARKER et al. 1985; AGUIRRE

et al. 1990; VIANNA et al., 1992; GUGLIELMONE, 1995; BOCK et al., 1997; BOCK et al., 1999a).

No Brasil, Vieira et al. (2000) e Mendonça et al. (2003) estudaram os comportamentos clínico e hematológico na infecção experimental de B.bigemina em bezerros Nelore com idades, respectivamente, de seis e entre sete e nove meses, observando alterações clínicas e hematológicas leves, como leucocitose e hipercelularidade da série eritróide.

5.2. Anaplasmose

A anemia hemolítica em bovinos por anaplasmose é causada por duas espécies de ricketsia: Anaplasma marginale nas regiões tropicais e subtropicais e

A.centrale na América do Sul e sul da África. A A.marginale é considerada mais

patogênica do que a A.centrale. A A.marginale aparece no esfregaço sangüíneo como 1 ou 2 inclusões basofílicas intracelulares, normalmente localizadas na periferia das hemácias. A morfologia da A.centrale é semelhante, porém tem localização celular mais central. A A.marginale causa anemia hemolítica no gado adulto com mortalidade mais freqüente nos animais com três anos de idade ou mais velhos (GAUNT, 2000).

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A distribuição geográfica da A.marginale nas Américas do Sul e Central é semelhante à distribuição da Babesia bovis e B.bigemina com exceção do sul da Argentina. A A.marginale é endêmica na Argentina em áreas onde o carrapato

B.microplus está erradicado e surtos esporádicos de anaplasmose ocorrem em

zonas temperadas naturalmente livres de carrapatos. A epidemiologia da anaplasmose é difícil de compreender já que a A.marginale é geralmente considerada transmitida pelo carrapato B.microplus (GUGLIELMONE, 1995).

Segundo Gaunt (2000), os bezerros com menos de um ano de idade são resistentes aos efeitos patogênicos da A.marginale. Entretanto, Valeska et al. (2001) estudaram a dinâmica das infecções naturais por A.marginale em bezerros da raça Holandesa criados no Estado de Minas Gerais, relatando que animais nascidos entre março e julho sofreram infecção entre outubro e novembro, independente da idade, enquanto que os que nasceram no período de setembro e dezembro adquiriram a infecção nos primeiros dias de vida, com parasitemia patente a partir dos 30 dias de idade e, durante o período patente, o hematócrito reduziu na primeira semana de infecção variando entre 20 e 23%.

Ao contrário do observado na babesiose bovina, vários estudos demonstraram não haver diferença na resistência à anaplasmose entre as sub-espécies Bos

indicus e Bos taurus (OTIM et al., 1980; WILSON et al., 1980; BOCK et al.,

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Materiais e métodos

1. Locais e datas de execução

A etapa de coleta de dados e amostras deste trabalho foi realizada, entre os dias seis e 18 de agosto do ano de 2004, na Fazenda Cananéia, com área de 3.800 hectares, localizada no Município de Linhares, região norte do Estado do Espírito Santo. O transporte rodoviário dos animais ocorreu no dia sete de agosto de 2004, nos 25 Km de estrada não pavimentada que liga a propriedade à cidade de Linhares.

As análises laboratoriais foram realizadas nos meses de agosto a novembro nos seguintes locais: Laboratório da Fazenda Cananéia, Linhares-ES (VG, contagem de leucócitos e confecção das lâminas), Laboratório Clínico Veterinário do Centro Universitário Vila Velha – UVV, Vila Velha-ES (albumina e ALT),

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Laboratório MDVet, Vitória-ES (leucometria diferencial, pesquisa de hemoparasitos, AST, GGT, fosfatase alcalina, glicose, uréia e creatinina) e Laboratório do Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UNESP, Campus de Botucatu-SP (cortisol).

2. Animais

Foram utilizados 40 bovinos da raça Nelore, machos e fêmeas, com idades entre sete e oito meses, criados em regime de pasto de Brachiaria decumbens, na Fazenda Cananéia, Município de Linhares, ES. Os animais, no momento do experimento, não haviam sido vacinados ou vermifugados.

3. Desmame

Os animais foram desmamados na idade convencional de sete a oito meses. Na primeira noite os novilhos permaneceram no curral, com água ad libitum. No dia seguinte foram alocados no pasto e mantidos sem qualquer contato visual com as mães. Não foram fornecidas ração ou qualquer outra suplementação animal.

4. Transporte

Para o transporte rodoviário dos animais, utilizou-se um caminhão marca Mercedes Benz, modelo L1316, ano de fabricação 1985, com tara 7.500 e lotação de 15.000 kg.

Os 20 animais transportados foram distribuídos em dois compartimentos, com aproximadamente 8 e 11 m2. A densidade nestes compartimentos foi de, respectiva e aproximadamente, 140 e 200 Kg/m2, com um animal/m2.

Os animais trafegaram pela estrada não pavimentada e em péssimas condições de conservação, causada em grande parte pela época das chuvas na região, que liga a Fazenda Cananéia à cidade de Linhares, ES.

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O total do percurso de ida e volta à propriedade, totalizou exatos 50 km, que foram percorridos no tempo de quatro horas e dois minutos.

Os 20 animais não transportados permaneceram confinados no curral no período do transporte.

5. Delineamento experimental.

Os animais foram distribuídos em quatro grupos, cada um composto por cinco fêmeas e cinco machos de bovinos da raça Nelore, com idades entre sete e oito meses, perfazendo um total de 40 animais. O grupo de animais lactentes (GL) foi composto por animais que permaneceram com as mães. O grupo de animais desmamados (GD) foi composto por animais que foram desmamados no primeiro momento do experimento. O grupo de animais desmamados e transportados (GDT) foi composto por animais desmamados no primeiro momento do experimento e transportados 12 horas depois em caminhão, percorrendo 50 km de estrada não pavimentada por quatro horas. O grupo de animais desmamados a sete dias e transportados (GD7T) foi composto por animais desmamados sete dias antes do primeiro momento do experimento e transportados em caminhão juntamente aos animais do GDT.

As variáveis foram avaliadas em cinco momentos, como mostra a seguir: - Momento do desmame e 12 horas antes do transporte (MD0T-12): os

animais do GL retornaram ao convívio com as mães após a coleta de dados e amostras; os animais do GD e do GDT foram mantidos isolados das mães após a coleta de dados e amostras; os animais do GD7T estavam a sete dias apartados das mães e foram mantidos nesta condição após a coleta de dados e amostras.

Referências

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