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(1)

AN ´

ALISE COMPLEXA E EQUAC

¸ ˜

OES DIFERENCIAIS,

aulas te´oricas

PARTE II: EQUAC

¸ ˜

OES DIFERENCIAIS (Breve introdu¸c˜ao

`as equa¸c˜oes com derivadas parciais)

Lu´ıs Sanchez

Faculdade de Ciˆ

encias da Universidade de Lisboa, 2014

As equa¸c˜oes com derivadas parciais est˜ao relacionadas com modelos matem´aticos de importˆancia fundamental na ciˆencia e na t´ecnica. A teoria correspondente tem tamb´em um lugar central na Matem´atica e ´e objecto de investiga¸c˜ao muito activa. Por limita¸c˜ao de tempo, n˜ao poderemos neste curso dar sen˜ao uma introdu¸c˜ao ao estudo de algumas equa¸c˜oes lineares de tipos bastante simples.

As derivadas parciais de uma fun¸c˜ao u ser˜ao representadas no que segue com nota¸c˜ao do tipo ux, ut, etc. Limitar-nos-emos a considerar fun¸c˜oes (inc´ognitas) com duas vari´aveis.

1

Equa¸c˜

oes lineares de primeira ordem

Consideremos a equa¸c˜ao

aux+ buy = 0 (1)

onde ~v = (a, b) 6= (0, 0) ´e um vector constante. Se recordarmos o conceito de derivada de uma fun¸c˜ao real segundo um vector, vemos que (1) ´e o mesmo que

D~vu = 0 (2)

significando que u ´e constante em cada recta com a direc¸c˜ao de ~v:

u(x, y) (de classe C1) satisfaz (1) se e s´o se, para cada constante k, u toma um valor fixo em

todos os pontos tais que bx − ay = k.

O mesmo ´e dizer:

u(x, y) (de classe C1) satisfaz (1) se e s´o se, existe f ∈ C1(R) tal que u(x, y) = f (bx − ay).

Podemos chegar `a mesma conclus˜ao usando uma mudan¸ca de vari´aveis independentes:

ξ = bx − ay, η = x (3)

Aqui estamos a supˆor, para fixar ideias, que a 6= 0, a segunda equa¸c˜ao (3) ´e de alguma forma arbitr´aria e apenas nos interessa que a mudan¸ca seja invert´ıvel; o objectivo ´e provar que a fun¸c˜ao composta U (ξ, η) = u(x, y) n˜ao depende de η. Como

(2)

confirmamos a partir de (1):

Uη= 0

o que conduz a U (ξ, η) = f (ξ) ou, regressando `as vari´aveis iniciais, `a conclus˜ao j´a enunciada u(x, y) = f (bx − ay).

Consideremos seguidamente uma equa¸c˜ao linear com um termo na fun¸c˜ao inc´ognita

aux+ buy+ cu = 0 (4)

e, usando o caso anterior como motiva¸c˜ao, consideremos a mudan¸ca de vari´aveis independentes:

ξ = bx − ay, η = ax + by (4) Obtemos ent˜ao, para a fun¸c˜ao composta U ,

(a2+ b2)U

η+ cU = 0

que, para cada ξ fixo ´e uma equa¸c˜ao diferencial ordin´aria, cuja solu¸c˜ao tem a forma

U = f (ξ)e− c a2 +b2η e concluimos u = f (bx − ay)e− c a2 +b2(ax+by).

Passemos `a equa¸c˜ao linear de primeira ordem geral, com coeficientes vari´aveis

a(x, y)ux+ b(x, y)uy+ c(x, y)u = f (x, y) (5)

e procuremos uma mudan¸ca de vari´aveis conveniente

ξ = φ(x, y), η = ψ(x, y). (6)

Feitos os c´alculos, vemos que a fun¸c˜ao composta U satisfaz

(φxa + φyb)Uξ+ (ψxa + ψyb)Uη+ cU = F (7)

onde omitimos as vari´aveis para al´ıvio da escrita. A mudan¸ca “conveniente”´e a que satisfaz

ψxa + ψyb = 0 (8)

visto que transforma a equa¸c˜ao original nesta mais simples:

(φxa + φyb)Uξ+ cU = F (9)

Ora, para determinar ψ observamos o seguinte:

Se ψ(x, y) ´e constante nas traject´orias do sistema

x′

= a(x, y), y′

(3)

ou se ψ(x, y) = const constitui uma fam´ılia de solu¸c˜oes de dy

dx = b(x, y) a(x, y) (supondo, para fixar ideias, a 6= 0) ent˜ao verifica-se (8).

Ora, encontrado um tal ψ(x, y), e supondo para fixar ideias ψy6= 0, para completar a mudan¸ca

de vari´aveis basta fazˆe-lo da maneira mais simples, pondo

φ(x, y) = x.

A nova equa¸c˜ao ´e ent˜ao (A, C, F s˜ao as fun¸c˜oes compostas de a, c, f respectivamente com a mudan¸ca de vari´avel escolhida: s˜ao fun¸c˜oes de ξ e η)

Uξ+

C AU =

F A que tem como solu¸c˜ao geral

U (ξ, η) = e−P(ξ,η)

[d(η) + R(ξ, η)]

onde

P ´e, como fun¸c˜ao de ξ, primitiva de C A e

R ´e, como fun¸c˜ao de ξ, primitiva de ePF A. Voltando `as vari´aveis iniciais obtemos a solu¸c˜ao do problema proposto.

As curvas ψ(x, y) =const chamam-se caracter´ısticas da equa¸c˜ao dada.

2

Equa¸c˜

ao das ondas unidimensional (na recta e num

inter-valo limitado)

Vamos fazer referˆencia a m´etodos elementares para trabalhar com dois tipos de equa¸c˜oes com derivadas parciais lineares de segunda ordem. Come¸camos pela equa¸c˜ao das ondas

utt= c2uxx (1)

onde c ´e uma constante positiva. Por serem constantes os coeficientes das derivadas, imediatamente se reconhece que (1) ´e equivalente ao sistema em u e v

vt− cvx= 0, ut+ cux= v. (2)

De acordo com a t´ecnica das caracter´ısticas, estudada anteriormente, a primeira equa¸c˜ao tem a solu¸c˜ao geral

v(x, t) = h(x + ct)

onde h ´e uma fun¸c˜ao C1 em R. Quanto `a segunda, o segundo membro sugere que procuremos

solu¸c˜oes da forma f (x+ct): de facto, substituindo, conclui-se que basta tomar para f uma primitiva de 2c1h.

(4)

Para obtermos qualquer outra solu¸c˜ao C2basta adicionar as solu¸c˜oes (de classe C2) da equa¸c˜ao

homog´enea ut+ cux = 0 que s˜ao, como tamb´em sabemos, da forma g(x − ct). Concluimos que

qualquer solu¸c˜ao de (1) pode ser representada na forma

u(x, t) = f (x + ct) + g(x − ct) (2) onde f e g s˜ao fun¸c˜oes arbitr´arias (de classe C2!). Inversamente, ´e trivial verificar que (2) representa

solu¸c˜oes de (1).

Se considerarmos o problema de valor inicial      utt= c2uxx, u(x, 0) = φ0(x), ut(x, 0) = φ1(x)

obtemos, atendendo a (2), φ0(x) = f (x) + g(x), φ1(x) = cf′(x) − cg′(x) e daqui um sistema linear

em f′ e g′ que conduz a 2cf′ (x) = cφ′ 0(x) + φ1(x), −2cg ′ (x) = −cφ′ 0(x) + φ1(x), de onde f (x) =1 2φ0(x) + 1 2c Z x 0 φ1(s) ds, g(x) = 1 2φ0(x) − 1 2c Z x 0 φ1(s) ds.

A solu¸c˜ao do problema de valor inicial ´e ent˜ao (f´ormula de d’Alembert)

u(x, t) = 1 2[φ0(x + ct) + φ0(x − ct)] + 1 2c Z x+ct x−ct φ1(s) ds. (3)

Reciprocamente, esta express˜ao define uma solu¸c˜ao do problema de valor inicial desde que φ0∈ C2

e φ1∈ C1.

Exerc´ıcio. Se φ0 e φ1 s˜ao fun¸c˜oes pares, a solu¸c˜ao dada por (3) ´e par na vari´avel x.

Por vezes admite-se que φ0 e φ1 possam ter menos regularidade (por exemplo, que n˜ao sejam

diferenci´aveis em certos pontos isolados) e falamos ent˜ao de solu¸c˜ao generalizada do problema (mas n˜ao damos aqui defini¸c˜ao formal deste conceito). Estas solu¸c˜oes verificam a equa¸c˜ao diferencial excepto numa fam´ılia numer´avel de rectas da forma x ± ct = k.

Consideremos agora o caso do problema n˜ao homog´eneo

     utt= c2uxx+ f (x, t), u(x, 0) = φ0(x), ut(x, 0) = φ1(x)

onde a fun¸c˜ao das vari´aveis independentes, f , que figura no segundo membro, ´e pelo menos cont´ınua em R2.

Suponhamos determinada uma solu¸c˜ao particular da equa¸c˜ao diferencial n˜ao homog´enea, pre-cisamente a solu¸c˜ao v com condi¸c˜oes iniciais nulas:

     vtt= c2vxx+ f (x, t), v(x, 0) = 0, vt(x, 0) = 0.

(5)

Ent˜ao, os argumentos usuais de linearidade permitem concluir que a solu¸c˜ao do problema n˜ao homog´eneo obt´em-se somando a v a express˜ao que figura na f´ormula de d’Alembert.

Vamos, pois, deduzir uma express˜ao para v.

Consideremos um ponto (x0, t0) arbitr´ario e o triˆangulo Ω limitado pelas caracter´ısticas que

passam neste ponto e pelo eixo dos xx. A fronteira de Ω ´e a uni˜ao de trˆes segmentos: S, b, a e vamos consider´a-la percorrida no sentido positivo do plano xt para aplicar o teorema de Green. (A a figura esquematiza a situa¸c˜ao, com t0> 0.)

Z Z Ω f (x, t) dx dt = Z Z Ω (vtt− c2vxx) dx dt = Z [S∪b∪a] (−c2vxdt − vtdx).

Ora, em S, t ´e constante (´e zero) e v = 0 por hip´otese; logo o integral de caminho em S ´e nulo. Em b temos x + ct = x0+ ct0e portanto dx = −c dt. Assim, encontramos o integral de um campo

primitiv´avel em b, concluindo-se Z b (−c2vxdt − vtdx) = c Z b (vxdx + vtdt) = c(v(x0, t0) − 0) = cv(x0, t0).

No segmento a temos, analogamente, dx = c dt e calcula-se Z b (−c2v xdt − vtdx) = −c Z a (vxdx + vtdt) = −c(0 − v(x0, t0)) = cv(x0, t0). Obtemos, finalmente, v(x0, t0) = 1 2c Z Z Ω f (x, t) dx dt. (∗)

Este c´alculo mostra que a solu¸c˜ao v procurada s´o pode ser dada por esta express˜ao. Se admi-tirmos que f ´e C1, facilmente se conclui que efectivamente (*) ´e a solu¸c˜ao (exerc´ıcio).

(6)

Corda vibrante (problema homog´eneo) com extremos fixos. A f´ormula de d’Alembert determina uma solu¸c˜ao do problema de valor inicial definida para todo o x e todo o t. Mas h´a interesse tamb´em em resolver problemas em dom´ınios limitados no espa¸co, como ´e o caso do seguinte problema misto no intervalo [0, L] onde h´a condi¸c˜oes iniciais e de fronteira:

               utt= c2uxx, u(x, 0) = φ0(x), ut(x, 0) = φ1(x), 0 < x < L u(0, t) = 0, u(L, t) = 0, t ∈ R. (4)

Trata-se do problema da corda vibrante com os extremos fixos.

Observemos que para que o problema admita solu¸c˜oes regulares tˆem de se verificar as condi¸c˜oes de compatibilidade φ0(0) = 0, φ0(L) = 0, φ1(0) = 0, φ1(L) = 0, φ ′′ 0(0) = 0, φ ′′ 0(L) = 0

(as duas ´ultimas resultam das condi¸c˜oes de fronteira e da pr´opria equa¸c˜ao). ´

E f´acil ent˜ao verificar o seguinte: Se considerarmos as extens˜oes ´ımpares e 2L-peri´odicas de φ0,

φ1 e continuarmos a represent´a-las por estas letras, a f´ormula de d’Alembert (3) d´a uma solu¸c˜ao

do problema (4).

Efectivamente, (3) define uma fun¸c˜ao C2 que verifica as condi¸c˜oes iniciais e de fronteira

(exerc´ıcio simples).

Exerc´ıcio. A solu¸c˜ao de (4) ´e peri´odica na vari´avel t?

Com menos exigˆencia de regularidade sobre os dados poderemos utilizar ainda a express˜ao (3) como solu¸c˜ao generalizada do problema da corda vibrante.

3

Equa¸c˜

ao do calor (num intervalo limitado) - separa¸c˜

ao de

vari´

aveis e m´

etodo de Fourier

Vamos considerar nesta sec¸c˜ao a equa¸c˜ao linear de segunda ordem

ut= duxx (1)

onde d ´e uma constante positiva e, concretamente, procuraremos solu¸c˜oes u(x, t) de (1) em [0, L] × [0, ∞) que satisfa¸cam as condi¸c˜oes inicial e de fronteira seguintes:

     u(x, 0) = f (x), 0 < x < L u(0, t) = 0, u(L, t) = 0, t > 0. (2)

Ilustramos com este problema o m´etodo de separa¸c˜ao de vari´aveis. Procuremos em primeiro lugar solu¸c˜oes (n˜ao triviais) da forma

X(x)T (t)

que satisfa¸cam as condi¸c˜oes de fronteira: teremos ent˜ao X(0) = X(L) = 0 e X(x)T′

(t) = dX′′

(7)

e portanto, para todo o x e todo o t T′ (t) dT (t)= X′′ (x) X(x).

Como as vari´aveis x e t s˜ao independentes, esta igualdade s´o pode dar-se se ambos os membros s˜ao uma constante −λ:

X′′

+ λX = 0, X(0) = X(L) = 0.

Este problema s´o tem solu¸c˜oes n˜ao triviais para λ > 0, como facilmente se reconhece. Na ver-dade um c´alculo simples conduz `as ´unicas solu¸c˜oes (a menos de uma constante multiplicativa, obviamente) Xn(x) = sin nπx L , correspondentes a λn = n2π2 L2 .

Para cada n temos ent˜ao T′

(t) + dλnT (t) = 0 e portanto (tamb´em a menos de uma constante

multiplicativa)

T (t) = e−dn2 π2 t

L2 .

Ent˜ao, ´e f´acil verificar que qualquer fun¸c˜ao da forma

N X n=1 Ane −dn2 π2 t L2 sinnπx L (3)

com os An constantes, satisfaz (1) e as condi¸c˜oes de fronteira em (2); para que tamb´em satisfa¸ca

a condi¸c˜ao inicial em (2) ´e necess´ario e suficiente que

f (x) = N X n=1 Ansin nπx L . (3)

Podemos concluir que, no caso particular em que o dado f (x) ´e combina¸c˜ao linear finita de senos como em (3), encontr´amos uma solu¸c˜ao para o problema. Mas, procurando maior generalidade, suponhamos que f (x) = ∞ X n=1 Ansin nπx L . (4)

´e o desenvolvimento de f em s´erie de senos. Mais precisamente, para fixar ideias, suponhamos

(H) f cont´ınua em [0, L], f (0) = f (L) = 0 e f seccionalmente C1.

Sabemos da teoria das s´eries de Fourier que, sob a condi¸c˜ao (H), a s´erie no segundo membro de (4) n˜ao s´o converge uniformemente para f mas tamb´em existe uma constante M > 0 tal que

|An| ≤

M

n2. (5)

Podemos ent˜ao concluir que sob a condi¸c˜ao (H),

u(x, t) = ∞ X n=1 Ane −dn2 tπ2 t L2 sinnπx L (6)

constitui uma solu¸c˜ao do problema (1)-(2) que ´e cont´ınua em [0, L] × [0, ∞) e diferenci´avel em [0, L] × (0, ∞), verificando aqui a equa¸c˜ao diferencial (1).

(8)

Efectivamente: devido a (6) e ao crit´erio de Weierstrass para a convergˆencia uniforme de s´eries, a s´erie em (6) converge uniformemente, e por isso representa uma fun¸c˜ao cont´ınua, em [0, L]×[0, ∞); em cada dom´ınio [0, L] × [t0, ∞) com t0> 0, a mesma s´erie ´e deriv´avel termo a termo (um n´umero

arbitr´ario de vezes!) porque cada deriva¸c˜ao faz surgir uma nova s´erie com termos majorados em valor absoluto por

|An|nke

−dn2 π2 t0

L2

o que implica que a s´erie obtida por deriva¸c˜ao termo a termo ´e tamb´em uniformemente convergente. Como cada termo verifica a equa¸c˜ao (1), a soma da s´erie verifica a equa¸c˜ao (1) em [0, L] × [t0, ∞).

Como t0> 0 ´e arbitr´ario, u verifica a equa¸c˜ao (1) em [0, L] × (0, ∞).

Observemos que, tal como na sec¸c˜ao anterior, para que se obtenham solu¸c˜oes regulares no sentido cl´assico, tamb´em aqui o dado inicial f (x) deve satisfazer condi¸c˜oes de compatibilidade impostas pelas condi¸c˜oes de fronteira e pela pr´opria equa¸c˜ao diferencial. Neste caso, tais condi¸c˜oes s˜ao

f (0) = f (L) = 0; f′′

(0) = f′′

(L) = 0.

Se f ´e C2e satisfaz tais condi¸c˜oes n˜ao ´e dif´ıcil concluir que u satisfaz todas as condi¸c˜oes (inicial e

de fronteira) (2).

Noutros casos falamos de “solu¸c˜ao generalizada”do problema (1)-(2).

O problema n˜ao homog´eneo. A mesma t´ecnica pode ser usada para resolver o problema          ut= duxx+ g(x, t), 0 < x < L, t > 0 u(x, 0) = f (x), 0 < x < L u(0, t) = 0, u(L, t) = 0, t > 0. (7)

Vamos delinear o procedimento. Para cada t fa¸camos o desenvolvimento de g(·, t) em s´erie de Fourier como fun¸c˜ao de x

g(x, t) = ∞ X n=1 gn(t) sin nπx L .

Procuremos a solu¸c˜ao do novo problema sob a forma de s´erie de Fourier relativamente a x,

u(x, t) = ∞ X n=1 Tn(t) sin nπx L . Substituindo em (7) obtemos ∞ X n=1 T′ n(t) sin nπx L + d ∞ X n=1 (nπ L ) 2T n(t) sin nπx L = ∞ X n=1 gn(t) sin nπx L .

Dado que o sistema ortogonal {sinnπxL | n ∈ N} ´e completo, esta equa¸c˜ao ´e equivalente a um sistema infinito de equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias independentes

T′ n+ d( nπ L ) 2T n= gn(t)

onde a derivada se faz em ordem a t. Para cumprir a condi¸c˜ao inicial, teremos Tn(0) = An, n ∈ N.

(9)

Resolvendo estas equa¸c˜oes lineares de primeira ordem obtemos Tn(t) = Ane −d(nπ L) 2 t+Z t 0 e−d(nπ L) 2 (t−τ )g n(τ ) dτ

o que conduz `a solu¸c˜ao pretendida:

u(x, t) = ∞ X n=1 Ane −d(nπ L) 2 tsinnπx L + ∞ X n=1 sinnπx L Z t 0 e−d(nπ L) 2(t−τ ) gn(τ ) dτ.

Uma vez mais, reconhecemos nesta express˜ao a soma de uma “solu¸c˜ao geral”do problema ho-mog´eneo (com condi¸c˜ao inicial), com a “solu¸c˜ao particular”que resulta da presen¸ca de g(x, t).

4

Duas quest˜

oes de unicidade

Nesta sec¸c˜ao vamos abordar a quest˜ao de unicidade de solu¸c˜ao do problema da corda vibrante e do problema que estud´amos para a equa¸c˜ao do calor.

Consideremos duas solu¸c˜oes u1 e u2 do problema da corda vibrante

               utt= c2uxx, u(x, 0) = φ0(x), ut(x, 0) = φ1(x), 0 < x < L u(0, t) = 0, u(L, t) = 0, t ∈ R. (1)

Ent˜ao a diferen¸ca w = u1− u2´e uma fun¸c˜ao C2 que satisfaz

               wtt= c2wxx, w(x, 0) = 0, wt(x, 0) = 0, 0 < x < L w(0, t) = 0, w(L, t) = 0, t ∈ R. (2)

Consideremos a fun¸c˜ao (“energia”’)

E(t) = 1 2[ Z L 0 wt(s, t)2ds + c2 Z L 0 wx(s, t)2ds].

Pelas regras de deriva¸c˜ao de integrais param´etricos, temos

E′ (t) = [ Z L 0 wt(s, t)2wtt(s, t) ds + c2 Z L 0 wx(s, t)wxt(s, t) ds]. Ora, wtt(s, t) = c2wxx(s, t) e portanto E′ (t) = c2 Z L 0 [wt(s, t)2wxx(s, t) + wx(s, t)wxt(s, t) ds] = c2 Z L 0 ∂ ∂x[wx(s, t)wt(s, t)] ds. Atendendo `as condi¸c˜oes de fronteira em (2), vem

E′

(10)

Por conseguinte, E(t) ´e constante, e ent˜ao E ≡ E(0) = 0 (j´a que, pelas condi¸c˜oes de (2), wt(s, 0) =

0 = wx(s, 0)). Logo, wt= wx= 0 para todo o t e todo o x, e concluimos w = 0.

Este argumento prova a unicidade de solu¸c˜ao de (1).

Do mesmo modo, se forem u1e u2solu¸c˜oes do problema (onde β > 0)

         ut= βuxx u(x, 0) = f (x), 0 < x < L u(0, t) = 0, u(L, t) = 0, t > 0. (3)

a diferen¸ca w = u1 − u2 ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua em [0, L] × [0, ∞) e diferenci´avel um n´umero

qualquer de vezes em [0, L] × (0, ∞), que satisfaz          wt= βwxx w(x, 0) = 0, 0 < x < L w(0, t) = 0, w(L, t) = 0, t > 0. (4)

Para demonstrar a unicidade em (3) basta ver que w = 0 em (4). Isso resulta do seguinte lema, muitas vezes referido como princ´ıpio do m´aximo.

Lemma 4.1 Seja w(x, t) cont´ınua em D = [0, L] × [0, ∞) e satisfazendo em [0, L] × (0, ∞) a inequa¸c˜ao diferencial

wt− βwxx≥ 0.

Se w ≥ 0 na fronteira de D, ent˜ao w ≥ 0 em D.

Demonstra¸c˜ao. Com vista a uma contradi¸c˜ao, suponhamos que existe (x0, t0) ∈ D tal que

u(x0, t0) = −N < 0. Escolhamos T > t0 e consideremos o rectˆangulo R == [0, L] × [0, T ]. A

fun¸c˜ao

v(x, t) = w(x, t) − ǫ(x − x0)2

onde 0 < ǫ < N/(2L2) atinge em R um m´ınimo absoluto (teorema de Weierstrass) necessariamente menor ou igual a v(x0, t0) = −N. A fronteira de R ´e composta pelos segmentos

t = 0, 0 ≤ x ≤ L, x = 0, 0 ≤ t ≤ T, x = L, 0 ≤ t ≤ T, e

t = T, 0 ≤ x ≤ L.

Nos trˆes primeiros, pela hip´otese, tem-se v ≥ −ǫ(x − x0)2 ≥ −ǫL2 ≥ −N/2. Logo, o m´ınimo

absoluto de v ´e certamente atingido num ponto (x1, t1) do interior de D ou do quarto segmento

da fronteira. Em qualquer dos casos, pelo facto de se tratar de um m´ınimo, temos (considerar separadamente as duas situa¸c˜oes!)

0 ≥ vt(x1, t1) − βvxx(x1, t1) = wt(x1, t1) − βwxx(x1, t1) + 2βǫ

e, pela desigualdade da hip´otese,

0 ≥ 2βǫ o que ´e contradit´orio e termina a demonstra¸c˜ao.

(11)

Corol´ario 4.1 Seja w(x, t) solu¸c˜ao de

wt− βwxx≥ 0

em D = [0, L] × [0, ∞) com β > 0. Se existe a ∈ R tal que w ≥ a na fronteira de D, ent˜ao w ≥ a em D.

Para a demonstra¸c˜ao, basta aplicar o lema `a fun¸c˜ao w(x, t) − a.

Corol´ario 4.2 Seja u(x, t) solu¸c˜ao de

ut− βuxx= 0

em D = [0, L] × [0, ∞) com β > 0. Se existem a, b ∈ R tal que a ≤ u ≤ b na fronteira de D, ent˜ao a ≤ u ≤ b em D.

5

Equa¸c˜

ao de Laplace num disco e f´

ormula de Poisson

Nesta sec¸c˜ao faremos uma breve referˆencia ao problema relativo `a equa¸c˜ao de Laplace dm dimens˜ao 2 num disco: ∂2u ∂x2 + ∂2u ∂y2 = 0, x 2+ y2< R2. (1)

Mais precisamente, vamos apenas referir o problema de determinar a solu¸c˜ao de (1) no disco BR,

centrado em (0, 0) e raio R, e que ´e cont´ınua na aderˆencia BR e satisfaz a condi¸c˜ao de fronteira

u|∂BR = g (2)

onde g ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua dada na fronteira ∂BR daquele disco.

Comecemos por observar que uma fun¸c˜ao de classe C2 que satisfa¸ca (1) num disco (isto ´e,

uma fun¸c˜ao harm´onica nesse disco) ´e parte real de uma fun¸c˜ao holomorfa f no mesmo disco. Para simplificar a discuss˜ao, suponhamos que u ´e harm´onica num disco “ligeiramente”maior que o dado, isto ´e, com raio R′

> R. Ent˜ao u ´e parte real de uma fun¸c˜ao holomorfa f definida num disco que cont´em ¯BR. Ora, para uma tal fun¸c˜ao tem-se1

f (a) = 1 2πi Z γ R2− a¯a (z − a)(R2− z¯a)f (z) dz, a ∈ BR. (3)

onde γ ´e ∂BR percorrida uma vez no sentido directo. De facto, verifica-se facilmente que

R2− a¯a

(R2− z¯a)f (z)

´e holomorfa em ¯BR com o valor f (a) em z = a: por isso o res´ıduo da integranda em (3) ´e

precisamente f (a), o que prova (3).

Escrevendo a = reiθe exprimindo o integral em (3) atrav´es da parametriza¸c˜ao de ∂B

Robtemos (para r < R) f (reiθ) = 1 2π Z 2π 0 R2− r2 R2− 2Rr cos(θ − t) + r2f (Re it) dt.

(12)

A parte real de f ´e, pois: u(reiθ) = 1 2π Z 2π 0 R2− r2 R2− 2Rr cos(θ − t) + r2u(Re it) dt. (4)

Ora, t 7→ u(Reit) ´e a representa¸c˜ao do valor de u em ∂B

R: ´e a fun¸c˜ao g a que se alude em (2) (que

pode ser pensada como uma fun¸c˜ao peri´odia de per´ıodo 2π). Podemos dizer ent˜ao que a solu¸c˜ao de (1)-(2) ´e u(reiθ) = 1 2π Z 2π 0 R2− r2 R2− 2Rr cos(θ − t) + r2g(Re it) dt (4)

pelo menos no caso em que u ´e harm´onica num disco ligeiramente maior. Na verdade este resultado ´e v´alido em condi¸c˜oes mais gerais:

Se g ´e cont´ınua em ∂BR, o segundo membro de (4) define uma fun¸c˜ao cont´ınua em ¯BR,

harm´onica em BR e que ´e solu¸c˜ao de (1)-(2).

Al´em disso, mesmo que g seja apenas seccionalmente cont´ınua, (4) representa ainda uma fun¸c˜ao harm´onica que se pode considerar solu¸c˜ao generalizada do problema

∂2u

∂x2 +

∂2u

∂y2 = 0 em BR, u|∂BR= g

pois pode demonstrar-se que u fica C2no interior e cont´ınua em B

R com excep¸c˜ao dos pontos de

∂BR onde falha a continuidade de g.

A igualdade (4) ´e conhecida como f´ormula de Poisson.

Nota: que nos leva a escrever a equa¸c˜ao (3)? Sabemos, utilizando o teorema dos res´ıduos, que para a ∈ BRtem-se

f (a) = 1 2πi Z γ ϕ(z)f (z) z − a dz

onde ϕ ´e uma qualquer fun¸c˜ao holomorfa em ¯BRcom ϕ(a) = 1. O que pretendemos ´e escolher ϕ de

modo a facilitar-nos a separa¸c˜ao da parte real no integral j´a escrito em termos de parametriza¸c˜ao:

f (a) = 1 2π

Z 2π

0

ϕ(Reit)Reitf (Reit)

Reit− a dt.

Este segundo membro ´e igual a 1

2π Z 2π

0

ϕ(Reit)Reit(Reit

− ¯a)f (Reit) (Reit− a)(Reit − ¯a) dt = 1 2π Z 2π 0

ϕ(Reit)(R2− Reit¯a)f (Reit)

R2− 2Rr cos(θ − t) + r2 dt

onde a = reiθ. O objectivo ´e que o coeficiente de f (Reit) seja real, pois isso permite-nos separar a

parte real de f (a) do modo mais simples poss´ıvel. Ent˜ao basta que

ϕ(Reit)(R2− Reit¯a)

seja uma constante real, e para que ϕ(a) = 1 facilmente concluimos que podemos tomar

ϕ(z) =R

2− a¯a

(13)

Efectivamente, esta fun¸c˜ao tem apenas um polo fora de ¯BR, no ponto R2/¯a.

A express˜ao que aparece na integranda de (4), R2− r2

R2− 2Rr cos(θ − t) + r2

´e designada por n´ucleo de Poisson. Trata-se de uma fun¸c˜ao positiva, porque o denominador da frac¸c˜ao ´e maior ou igual a um quadrado. E tem-se

1 2π Z 2π 0 R2− r2 R2− 2Rr cos(θ − t) + r2dt = 1

uma vez que a constante 1 ´e a (´unica!) fun¸c˜ao que resolve o problema (1) com condi¸c˜ao na fronteira igual a 1.

As seguintes propriedades decorrem facilmente de (4).

Proposi¸c˜ao 5.1 Se u ´e solu¸c˜ao de (1)-(2) e u|∂BR≥ 0, ent˜ao u ≥ 0 em BR.

Proposi¸c˜ao 5.2 Se u ´e solu¸c˜ao de (1)-(2) e h´a n´umeros m, M tais que m ≤ u|∂BR ≤ M , ent˜ao

m ≤ u ≤ M em BR.

Exemplo. Calculemos a solu¸c˜ao de (1)-(2) supondo g(Reit) = sin 3t. Como

sin 3t = Im(z

3

R3) se z = Re it

a solu¸c˜ao procurada ´e Im(z3

R3) =

y3

3xy2

R3 . Usando a representa¸c˜ao em coordenadas polares dada

em (4) concluimos: 1 2π Z 2π 0 R2− r2 R2− 2Rr cos(θ − t) + r2sin 3t dt = r3 R3sin 3θ.

Na verdade, mais geralmente e pelas mesmas raz˜oes 1 2π Z 2π 0 R2− r2 R2− 2Rr cos(θ − t) + r2sin kt dt = rk Rksin kθ. (6)

Exemplo. Determinemos uma solu¸c˜ao generalizada de (1)-(2) no caso em que

g(Reit) =

(

100, se 0 < t < π 0, se π < t < 2π.

Como fun¸c˜ao da vari´avel real t, com per´ıodo 2π, esta fun¸c˜ao n˜ao ´e par nem ´ımpar. Com o objectivo de usar uma s´erie de Fourier o mais simples poss´ıvel – digamos, uma s´erie de senos – observamos que g(Reit) = 50 + h(Reit) onde h(Reit) = ( 50, se 0 < t < π −50, se π < t < 2π.

(14)

A fun¸c˜ao da vari´avel t que corresponde a h ´e ´ımpar e de per´ıodo 2π. A sua s´erie de Fourier ´e a s´erie de senos ∞ X n=1 2(1 − (−1)n) nπ sin nt. Introduzindo a representa¸c˜ao de g em (4) e utilizando (6) obtemos

u(r, θ) = 50 + ∞ X n=1 2(1 − (−1)n) nπ rn Rnsin nθ.

Este resultado foi obtido sem justifica¸c˜ao formal: h´a que garantir que a integra¸c˜ao comuta com a soma da s´erie. No entanto ´e claro, a partir de estimativas simples, que a s´erie obtida converge uniformemente em qualquer disco r ≤ r0, com r0< R.

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