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O direito à educação, consciência jurídica e formação da personalidade

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Academic year: 2021

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U N I V E R S I D A D E F E D E R A L DE SANTA CATARINA . CURSO DE P Õ S - G R A D U A Ç Ã O EM DIRE I T O

Q. d i r e i t o  EDUCAQÃO, C O N S C I Ê N C I A JURIDICA

E

EQMáQÃQ

M 'PMSQMLIMQK

(2)

Esta D i s s e r t a ç ã o foi a p r o v a d a para a obtenção do titulo de M e s ­ tre em Ciências Humanas - E s p e c i a l i d a d e Direito, em forma final pelo P r o g r a m a de P ó s - G r a u d a ç ã o PAULO H E N R I Q U E BLASI P r o f e s s o r O r i e n t a d o r e Coordenador do Curso A p r e s e n t a d o ß ^ y a n t e a Banca E x a m i n a d o r a composta'''^do's P r o f e s s o r e s :

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"In m e m o r i a n "

Be Aehyles Wedekin dos Santos - Me u Fai e de

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Walkyria, minha esposa, c o l a b o r a d o r a e amiga;

aos meus filhos,

A c h y t l e s e R e gina Maria,

ã m i n h a mãe, Regina, a cujas lutas e s a c rifícios devo o ter chegado ã Vida e ã U n i v e r s i d a d e ;

aos meus /Netos, e aos meus Irmãos.

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A g r a d e c i m e n t o s m u i t o sinceros aos Mest r e s da Graduação e do P o s - G r a d u a ç ã o em Direito que, com g e n e r o s i d a d e e sabedoria, tudo fizeram -para a l a r g a r os meus h o r i z o n t e s .

à Daisy, pelo belo trabalho de datilografia, registro também o m eu a g r a d e c i m e n t o .

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R E S U M O

"0 D I R E I T O Â EDUCAÇÃO, CONS C I Ê N C I A JURlDICA E F O R M A ­ ÇÃO DA P E R S O N A L I D A D E " ê o tema desta dissertação.

A p r e o c u p a ç ã o m a n i f e s t a d a po r teóricos de todos os ra mos das ciências humanas quanto aos destinos da h u m a n i d a d e , é também a nossa p r e o c u p a ç ã o . 0 d i s t a n c i a m e n t o cada vez maior, se p a r a n d o os homens pobres dos homens ricos; os países ricos dos p a íses pobres; o r e l a c i o n a m e n t o sempre mais difícil^ entre, as pess o a s e entre os povos; a v i o l ê n c i a crescente; a s e l v a g e r i a ca m peando pelo m u n d o afora, levam-nos, desde logo, a p e n s a r em Deus, jã que ao homem parece f a l e c e r a capacidade de r e t o r n a r aos caminhos da Paz e da C o n c ó r d i a .

Ousamos, escudados em E R I C H FROMM, discordar de F R E U D e de sua famosa "teoria da libido", qüe p referimos ver s u b s t i ­ tuída pela "teoria do c a r ã t e r " .

VaníssimOj e n t e n d e m o s , - e p r o c u r a m o s j u s t i f i c a r esse en t e n d i m e n t o - o d e s e n v o l v i m e n t o m a t e r i a l que se p r o c e s s a ao ar repio da justiça, da moral e da lei, em que o h o m e m ■ e o a m b i e n ­

te são meros i n s t r u m e n t o s de ap e t i t e s f a l a c i o s o s , e s u g erimos que ã E d u c a ç ã o compete m o r a l i z a r os c o s t u m e s , a que a lei e a o r d e m devem o b e d i ê n c i a . P or outro lado, entendemos que a Consti tuição Fede r a l é clara ao e s t a b e l e c e r os fundamentos da E d u c a ­ ção, e a legislação m e n o r omissa no que tange aos seus ideais. ■

Aos M e s t r e s não p a s s a r ã o desape r c e b i d o s os ci r c u n l o - quios, como nao p a s s a r ã d e s a p e r c e b i d o o fato de haver sido abor^ dado o tema de m a n e i r a por vezes, i m p r e c i s a como se bus c a s s e o alvo sem lograr e n c o n t r ã - l o .

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espécie, fizemos r e f e r e n c i a ao genesis e lembramos o a p o c a l i ­ pse. Dir-se-á, talvez, que se não p r e c i s a r i a ir tão longe ... Eu digo que não lhes ap res e n t o uma tese, mas uma d i s s e rt açã o na qual pre tendo d e m o n str ar a an gús tia que nos oprime sem que luz no fundo do túnel se divise, como a m ostrar um novo a l v o r e c e r .

Cépticos no que existe, confiantes no que hã de vir, esperamos que num "insight" m a r a v i l h o s o , num r e p e n t e , o homem se dê conta dos seus m elh ores desígnios e recue, em tempo, a n ­ tes de, ir remediavelmente, tombar nos abismos insondáveis da ca^ tãstrofe nuclear, para se f r a t e r n i z a r com o semelhante, rumo ao Estado U n i v e r s a l , num mun do sem f r o n t e i r a s , em h a r m o n iza ção com_ pleta.

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COMPTE RENDU

“LE DROIT A L'EDUCATION, A LA CONSCIENCE

JURIDIQUE ET A LA FORMATION DE LA PERSONNALÎPE” , voilà le

sujet de ce mémoire.

La préoccupation qu'ont manifesté des

théoriciens de tous les domaines des sciences humaines con­

cernant les destinées de l'humanité est aussi la nôtre.

L'écart qui sépare les hommes pauvres des hommes riches va

en augmentant et il en va de même pour celui qui sépare les

pays riches des pays pauvres; les rapports entre les per­

sonnes et les peuples sont de plus en plus difficiles; la

violence va en croissant; la sauvagerie prend place par­

tout - voilà ce qui, dès le départ, nous mène à penser en

Dieu puisqu*à l'homme semble maintenant manquer la capa­

cité de revenir sur le chemin de la Paix et de la Concorde,

En nous appuyant sur ERICH FROMM, nous

osons nous opposer â FREUD èt à sa bien connue ’’théorie de

la libido", à laquelle nous préférons la ”théorie du ca­

ractère” .

Nous entendons qu'est tout â fait vain

le développement matériel qui se fait au détriment de la

justice, de la morale, de la loi, et où l'homme et son

environnement ne sont que de simples instruments d*appétits

fallacieux et cherchons à justifier cet entendement; nous

suggérons par ailleurs que c'est à 1 'Education qu'il revient

de moraliser les moeurs, auxquelles la loi et l'ordre

doivent obéissance. Nous entendons en outre que la Consti­

tution Fédérale est claire en ce qui concerne les fonde­

ments de 1 'Education et que la législation mineure s'est

omise dans la définition de ses idéaux.

Aux Maîtres les circonlocutions ne

passeront pas inaperçues tout comme ils ne manqueront pas

de remarquer l'imprécision avec laquelle le sujet a.-pa^oi^,;

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-

2

-jamais réussir à l'atteindre.

Partant du général vers le particulier,

du genre vers l'espèce, nous en sommes venu à faire réfé­

rence à la genèse et rappelé l'apocallypse. Peut-être

dira-t-on qu'il n'était pas necéssaire d'aller aussi

loin... Je dirai que je ne vous présente pas une thèse

mais un mémoire dans lequel

ne souhaite que mettre à

jour l'angoisse qui nous opprime sans que la lumière au

bout du tunnel soit perceptible pour nous indiquer le

chemin à suivre.

Nous sommes sceptiques par rapport à

ce qui existe et faisons confiance dans ce qui viendra;

nous espérons que dans une sorte de merveilleuse perspi­

cacité, soudainement, l'homme puisse se rendre compte du

fait qu'il a des desseins autrement plus dignes et qu'il

reviendra en arrière, à temps, avant qu'il ne tombe, de

façon irrémédiable, dans les abîmes insondables de la

catastrophe nucléaire, pour qu'il fraternise enfin avec

son semblable, vers l'Etat universel, dans un monde sans

frontières, en complète harmonie.

FIÎDSRi.L DÆ i. r-E CO I-.'i^ N:C^Ç .-\C E V-.;, . . ■ ; r A û v . ; ' - : o û e l î h g u a e "-'i, / ‘J-'" % / Ü F S C ' X

\ \

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1*N D I C E FÃGI N A Deus e a C i ê n c i a 01 0 Cará t e r e as Coisas OZ A T o m a d a de C o n s c i ê n c i a . 0 7 Ideal F a l h a d o 09

0 E g o í s m o e a F o l u i ç ã o das Fontes do Direito 15 f A C a p a c i d a d e de " V i r-a-Ser" H omem 27 A Fe 4.5 A C o n s c i ê n c i a J u r í d i c a 50 0 P r o t e c i o n i s m o E x p l o r a d o r 56 D e s e n v o l v i m e n t o E s d r ú x u l o 62 Des e n v o l v i m e n t o e Gra n d e z a 6? B i b l i o g r a f i a 75

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DEUS E A CIÊNCIA

R O B E R T O Y A S T R O W , Dir e t o r do I n s t i t u t o G o d d a r d de Estu dos E s p a c i a i s da N.A.S.A. e P r o f e s s o r de A s t r o n o m i a e Geo l o g i a da U n i v e r s i d a d e de Columhia, Nova York, em arti g o p u b l i c a d o na e d ição de 25 de junho de 1978, do New York Times M a g a z i n e , sob o título "Foi Deus que os A s t r o n a u t a s E n c o n t r a r a m ? " diz que "a c i ê n c i a p r o v o u que o U n i v e r s o explodiu, formando-se em dado m o ­ m e n t o ” e que "os teologos em geral, f icam e ncantados com a p r o ­ va de que o U n i v e r s o teve um princípio, mas, curiosamente, os a s t r ô n o m o s estão preocup a d o s " . E termina o a r t i g o com estas p a ­

lavras: "Para o c i e n t i s t a que v i v e u na fê do p o d e r da razão, a h i s t ó r i a t e r m i n a como um pesadelo. E s c a l o u as mo n t a n h a s da igno r â n c i a e está quase a c o n q u i s t a r o pico mais alto, mas q u ando se ergue sobre a rocha final, ê a pludido por um grupo de t e ó l o ­ gos que es t á lá sentado hâ séculos".

A Verdade C i e n t í f i c a r e c o n h e c e a Verdade T e o l ó g i c a e f u n d e m - s e , ambas, numa só Verdade U n i v e r s a l .

Os estudos que levaram a essa c o n c l u s ã o tiveram i n í ­ cio em 1912, quan d o o a s t r ónomo n o r t e - a m e r i c a n o Vesto M e l v i n S l i p h e r v e r i f i c o u que todas as g a láxias se a f a s t a v a m da Terra a v e l o c i d a d e s fantásticas. Afinal, esses e s t u d o s , cor r o b o r a d o s p £ la T e o r i a da R e l a t i v i d a d e Geral de Einstein, f oram c o n c l u s i v o s : em d e t e r m i n a d o m o m e n t o algo f a n t a s t i c a m e n t e c o n c e n t r a d o e x p l o ­ diu, f o r m a n d o o u n i v e r s o que, p e r m a n e n t e m e n t e , se expande.

As ilações que se p o d e m extrair desse fato nao serão muitas, mas todas i m p o r t a n t í s s i m a s pa r a o destino da h u m a n i d a ­

de .. 0 que seria esse "algo" tao f a n t a s t i c a m e n t e c o n c e n t r a d o ? Q u e "causa m a i o r " o teria levado ã ex p l o s ã o ? Não fora p o r tudo o mais, só p or isso .jã se estaria diante de um Poder i n c o m e n s u r á v e l capaz de p r o v o c a r tal explosão e c o n t r o l a r - l h e os efeitos.,

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dan-do um o r d e n a m e n t o pe r f e i t o ao U n i v e r s o . A esse P oder I n c o m e n s u ­ rável c h amamos Deus, que "criou o Ceu e a Terra e tudo quanto neles existe". (Genesis)

A or i g i n a l i d a d e está na cons t a t a ç ã o do fato p e l a cien cia a s t r o nômica, eis que, p e l a ciência infusa, t e o l o g i c a m e n t e , ele é, há séculos dogma insofismável.

Isso h á . de c o n s t i t u i r ^ s e em fator decisivo para a dig n i f i c a ç ã o e o respeito d a s . ciências exatas, pela ciência infusa p a r a qu e m esta talvez não f osse mais do que espec u l a ç ã o fantasi^ osa de f e n ô m e n o s para os quais aquelas ainda não h o u v e s s e m a l ­ cançado a devida explicaçao. Na intenção, f r e q u e n t e m e n t e a n s i o ­ sa de alguns, de m e n o s c a b a r o c o n h e c i m e n t o t e o l ó g i c o , a ciência r e g u l a r vem, com o tempo, q u e b r a n d o a clavícula.

0 crescente p r e s t i g i o das questões relativas ao conhe_ cim e n t o de Deus e das leis que r e g e m o Universo, haverá, p o r ex tensão, de d e t e r m i n a r atenção m a i o r p a r a com o r e g r a m e n t o da cond u t a h u mana em. função do r e l a c i o n a m e n t o do h omem pa r a c o n s i ­ go p r ó p r i o e para com Deus. Em f u n ç ã o desse prestigio, a M oral e a É t i c a enco n t r a r ã o apoio mais dec i d i d o da ciência jurídica, com o c o n s e q u e n t e r e s t a b e l e c i m e n t o da relação ■ Direito-J u s t i ç a , há tanto d i v e r c i a d o s .

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0 C A Rl l E R E AS COISAS

S i g m u n d Freud, na f a mosa "teoria de l i h i d o " , em "Frin oípio do Poder"j p r o p õ e a su p r e s s ã o das barreiras mora i s e r e l ^ giosas que, no seu e n t e n d i m e n t o , limitam a liberdade do h omem na busca do amor e do prazer.

Ja E rich Fromm, f i l o s o f o e p s i c a n a l i s t a da E s c o l a de F r a n c k f u r t d i v e r g i n d o de Freud, em sua "teoria do c a r ã t e r " não ve, no f u n d a m e n t o do c a r ã t e r do homem, tipos de organização' da libido, mas "tipos e s p e c í f i c o s de r e l a c i o n a m e n t o da p e s s o a com o mundo". Diz ele: "No curso da vi d a o h o m e m r e l a c i o n a - s e com o mundo:

1) - a d q u i r i n d o e a s s i m i l a n d o coisas, e

2) - r e l a c i o n a n d o - s e com pessoas e consigo m e s m o " . ! Da forma como se p r o c e s s a esse r e l a c i o n a m e n t o , depende a f o r m a ­ ção do carãter..

A p a r t i r da "teoria do c a r ã t e r " , p a rece mais f ã c i l ao homem a busca do a u t o ^ a p e r f e i ç o a m e n t o e.do a p e r f e i ç o a m e n t o de suas i n s t i t u i ç õ e s porque, se na base do carãter se e n c o n t r a m "tipos e s p e c í f i c o s de r e l a c i o n a m e n t o da p e s s o a com o mundo", I sempre p o s s í v e l e n c o n t r a r e m - s e maneiras, através da educação, de e q u a c i o n a r os p r o b l e m a s de r e l a c i o n a m e n t o da p e s s o a cons i g o p r ó p r i a e com os outros, e da forma de aquisição e a s s i m i l a ç a o de coisas.

É fora de d ú vida que o ser humano não pode v iver sozi nho e de s l i g a d o do s e m e l h a n t e , da m e s m a forma que tem que adqui rir e a s s i m i l a r coisas p a r a o a t e n d i m e n t o de suas n e c e s s i d a d e s ,

Como não é dado ao homem criar, do nada, alguma coisa, ele as

1. Analrse do Homem, Zahar Ed., 10a Ed,, pg. 58

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veae h e ou as retira de fonte e x t e r i o r , p o rque carece delas e tu do farã p a r a obte-las, na m e d i d a em que a n e c e s s i d a d e ,f î s i c a ou p s i c o l ó g i c a , for m a i o r ou m e n o r , Hâ a figura do furto f a m e l i c o no extremo da neces s i d a d e f î s i c a e a cleptomania na e x t r e m i d a d e da n e c e s s i d a d e psicológica. Na o r i g e m de ambos os delitos atua sobre o i n d i v í d u o uma f o r ç a i n c o n t r o l ã v e l que o domina e s u b j u ­ ga, e em ambos os casos ele busca em fonte exterior a s a t i s f a ­ ção da n e c e s s i d a d e . Em q u a l q u e r h i p ó t e s e , fica desde logo claro que a p e s s o a u sarã de todos os meios ao seu alcance pa r a suprir as necessi d a d e s , sejam elas físi c a s ou p s i s o l ó g i c a s ; p r i m á r i a s ou secundárias; naturais ou adquiridas.

A satis f a ç ã o das n e c e s s i d a d e s obedece a uma s i s t e m á t ^ ca nat u r a l rígi d a e i n f l e x í v e l que consiste na aquisição, a s s i ­ m i l a ç ã o (ou rejeição) e eliminação, de tal forma que uma vez sa

tis f e i t a s , o indivíduo se m a n t e m r e a l i z a d o e tranquilo dura n t e um p e r í o d o c í c l i c o , ate que essas nec e s s i d a d e s se f a z e m n o v a m e n te p r e s e n t e s e devem ser supridas, num processo- p s i c o s s o m á t i c o p e r manente, que pr o s s e g u e durante toda a existencia,

>ls n e c e s s i d a d e s o r g â n i c a s , como n e c e ssidades f u n d a m e n tais, são inerentes a todos os seres vivos, A ameba, p r o t o z o á ­ rio unicelular, também apreende, a s s i m i l a e elimina. Sob esse a s p e c t o , p o r t a n t o , o homem não se distingue dos p r o t o z o á r i o s co^ mo, de resto, não d i s t i n g u e dos demais seres vivos; de um c o g u ­ melo ou de uma serpente.

Havia, contudo, que d i g n i f i c a r o homem, "rei da c r i a ­ ção", e Deus dotou-o ãe cére b r o capaz de " i n t e l i g i r " , isto é, capaz de e n tender o m u n d o que o cerca, e adaptá-lo ãs suas c o n ­ veniências. É verdade que a f i r m a r - s e que essa capac i d a d e humana adveio de Ser S uperior é p r o f u n d a m e n t e metafísico, mas eu a d m i ­ to por uma questão t r a n s c e n d e n t a l de FÓ, enquanto p r o v a s em con t r á r i o nao forem e x i b i d a s . Mas há outras questões t r a n s c e n d e n ­

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mo d e m o n s t r a r c i e n t i f i c a m e n t e se a capacidade humana de e n t e n d ^ mento e a d a p t a ç a o é de ser u t i l i z a d a como a t i v i d a d e - m e i o ou a t ^ v i d a d e - f i m . Se essa c a p a c i d a d e for u t i l izada no sentido ünico de, e n t e n d e n d o o mundo, a d a p t ã - l o ãs suas conveni ê n c i a s e, em seguida viver em "far niente", ela terã sido u t i l i z a d a como a t ^ v i d a d e - f i m . Nesse caso, o homem terã, a final, as suas r e c o m p e n sas: v i verã ã f a r t a e com um exercito de robÔs a servt-lo, de tal f orma que as suas energias- serão p o upadas atê o p o n t o de p r e s c i n d i r delas.

Mas, as dot a ç o e s são d e s i g u a i s , e o mundo, com tudo quanto nele existe, e finito. P or isso, os mais d o t a d o s , ao se ap o d e r a r e m dos bens - que são finitos - farão com que os menos dotados, e que são a maioria, sejam d e s a p o s s a d o s , num m u n d o de u l t r a - p o d e r o s o s e u l t r a - m i s e r ã v e i s ,

Ora, se se admi t e a exist ê n c i a de um C r i a d o r , um Ser Sup e r i o r capaz de d a r . um o r d e n a m e n t o p e r f e i t o ao U niverso e que dotou o homem de i n t e l i g ê n c i a capaz de transformar o m u n d o , não se pode, c o e r e n t e m e n t e , adm i t i r essa u t i l i z a ç ã o da c a p a c i d a d e de " i n t e l i g i r " , de f o r m a a con d u z i r ã d e s i g u l a d a d e , ã i n j u s t i ­ ça, ã d e s a r m o n i a . Ou então esse P o d e r I n c o m e n s u r ã v e l , a que cha^ mamos Deus, não existe, e Jesus Cristo ê balela; e Thomaz de A q u i n o e Y a s t r o w e S l i p h e r e tantos outros que seria f a s t i d i o s o e n u m e r a r , estão e r r a d o s ; não houve explosão alguma e o o r d e n a ­ m ento nat u r a l p e r f e i t o é fruto do acaso.. Além do que, nessa, h i ­ pótese, a i n t e l i g ê n c i a h u mana nada mais terã c o n s e g u i d o , ( nem conseg u i r a ) do qUe fa.cilitar o seu trabalho no a t e n d i m e n t o das n e c e s s i d a d e s i m e d iatas d i s t a n c i a n d o pouco, o homem, do c o g u m e l o . Outras vantagens não terã tido a condição humana, além de c riar pr o blemas e en r e d a r - s e neles, pa r a inventar soluções.

Mas, p or outro lado, a utilizaçao da i n t e l i g ê n c i a co- mp a t i v i d a d e - m e i o conduz a resul t a d o s inteiramente d i f e r e n t e s , aonde tudo se h a r m o n i z a e completa.

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0 uso da razão pa r a o e n t e n dimento do m u n d o è dos fe- nomenos naturais, de p e r si, permite ao homem r a zoável b e m - e s ­ tar, Isso r e p r e s e n t a p r o b l e m a de difícil solução que, contudo, só não se acha i n t e i r a m e n t e re s o l v i d o porque inter e s s e s s u b a l ­ ternos têm interferido. E aí está o busílis,

A d e v a s t a ç ã o das matas,] a po l u i ç ã o dos rios, do ar, do mar, a m i s é r i a do nordeste, as enchentes do sul, as favelas e os favelados, os " b ó i a s - f r i a s " , são con s e q ü ê n c i a dos i n t e r e s ­ ses de quem. se p e r m i t e u t i l i z a r - s e da razão como a t i v i d a d e - f i m . Essa u t i l i z a ç ã o não lhes p e r m i t e r a c i o c i n a r senão em termos im^ diatos, f i n a l i s t a s , pa r a quem as árvores não têm outra finalida^ de senão a de serem serradas em táboasj os rios como correntes de desp e j o p a r a j o g a r - s e ã di s t â n c i a os detritos i n d u s t r i a i s ; o m ar como enorme l i x e i r a ; o s emelhante como m ã o - d e - o b r a d e s c a r t ^ vel.

Nesse molde se funde o m o delo de d e s e n v o l v i m e n t o n a c ^ ona l .

0 f o r t a l e c i m e n t o do caráter p r o m o v e r á o d e s l o c a m e n t o dos i n t e r e s s e s i m e d i a t i s t a s , p r e j u d i c i a i s ao ambiente e ao ser humano, no s e n t i d o de interesses maiores, "a p o s t e riori", sem danos ao homem e à ecologia, através de maneiras novas de a q u i ­ sição e a s s i m i l a ç ã o de coisas é no r e l a c i o n a m e n t o da p e s s o a con sigo m e s m a e com o semelhante.

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A TOMADA DE C O N SCIÊNCIA

Ja foi dito alhures que n i n g u é m ama o que nao c o n h e ­ ce, como também é rep e t i d o pela s a b e d o r i a p o p u l a r o r e frão que diz que "o que os olhos não ve e m o coração não sente".

 m e d i d a em que a t e c n o l o g i a avança, criando e a m p l i ­ ando c o n d i ç õ e s de vida, e de conforto, no m e s m o p asso em que as c o m u n i c a ç õ e s levam aos confins do Globo todo um aparato de "mar keting", cr i a m - s e e se d e s e n v o l v e m nas m e ntes das p e s s o a s neces_ sidades que, se não s a t i s f e i t a s , f r u s t r a m , a n g u s t i a m e r e c a l ­ cam. 0 p r o c e s s o se inicia por leve a n s i e d a d e , e cresce e se avo

luma na m e d i d a em que os componentes do círculo social a que a p e s s o a pertence, vão suprindo essas n e c e s s i d a d e s , enq u a n t o ela p r ó p r i a não co n s e g u e suprí-las. Da toma d a de c o n s c i ê n c i a da e x i s t ê n c i a da coisa decorre n e c e s s i d a d e p s i c o l ó g i c a tanto m a i o r q u anto m a i o r f or o "status" social que essa coisa representar, e s t a b e l e c e n d o uma rela ç a o entre o ele m e n t o mat e r i a l - a coisa - e o ele m e n t o p s í q u i c o - a n e c e s s i d a d e criada -, dando o r igem ao sist e m a vigente: produção, distribuição, consumo. É de n otar-se que o s i s t e m a serve a ambos os interesses; tanto ãs n e c e s s i d a ­ des físi c a s ou orgânicas, quanto ãs psíquicas.

Na m e d i d a em que hã h a rmonia entre a p r o d u ç ã o e o con sumo, o s i s t e m a vige, a economia p r o s p e r a e a s o c i edade se esta biliza. Desde, porém, que se v e r i fique d e s e q u i l í b r i o a c e n t u a d o entre esses elementos, o sistema se d e s e s t a b i l i z a e a sociedade' se agita, 0 d e s e q u i l í b r i o se pode dar p or uma série de fatores^' tanto pelos que a c a r r e t a m a queda da p r o d u ç ã o como pelos qíué^

íiJ b l o q u e i a m o consumo, porque, em q u a l q u e r dos casos, r o m p e n d o - s é a relação, o s i s t e m a fenece.

0 e l e m e n t o catalizador, e s s e n c i a l ao aume n t o d e / v e l o ­ cidade do s i s t e m a é o c a p i t a l . Ele é tão n e c e s s ã r i o ã p r o d u ç ã o

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q u anto ao aonsumo dos hens produz-Ldos. A sua escassez^ depois de um p e r í o d o de a c e l e r a ç ã o do processoj d e t ermina a d i m i n u i ç ã o de uma e de outro^ p r o v o c a n d o desajuste^ tanto m a i o r quanto m a ^ ores f o r e m as exigências das p e s s o a s e ■ dos setores envolvidos.

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I DEAL F A L M D O

0 d e s e n v o l v i m e n t o humano exige r e f l e x ã o e m a t u r a ç ã o e, aqui, o e lemento c a t a l i z a d o r ê o tempo, que permite a e s t r a ­ ti f i c a ç ã o - p e l a re f l e x ã o e m a t u r a ç ã o - da educação e da c u l t u ­ ra. A ac,eleração do p r o c e s s o de d e s e n v o l v i m e n t o humano deixa, f r e q u e n t e m e n t e , seqüelas capazes de levar o homem ã c o n c epção de uma espécie de id e a l i s m o f a l h a d o , d i r e t o r da vontade no s e n ­ tido da f o r m a ç ã o do ego p u r a m e n t e material, p r i v i l e g i a n d o o

"ter" em d e t r i m e n t o do "ser". Esse é um fen o m e n o típico dos dias atuais, quan d o a cultura, a ç o d a d a m e n t e obtida, é p o s t a a s e r v i ç o e x c lusivo da técnica, com vistas ao aumento da p r o d u ç ã o e do consumo, através de variadas e s t r a t é g i a s de m a r k e t i n g . A e s t r a t é g i a de lançamento e de s u s t e n t a ç ã o de d e t e r minados p r o d u tos no m e r c a d o interno ou internacional, que se vale, i n c l u s i ­ ve, de um tipo de p r o p a g a n d a imoral, d e n o m i n a d a s u b l i m i n a r ,v e m , s i s t e m a t i c a m e n t e , m i n a n d o , a r e s i s t ê n c i a nat u r a l da p e s s o a h u m a ­ na ãs coisas novas, r e s i s t ê n c i a essa que p r o v é m exatamente das e x i g ê n c i a s de ref l e x ã o e m a t u r a ç ã o , e que, ãs vezes, nos espiri tos menos l ú c i d o s , atinge ãs raias do m i s o n e i s m o .

0 b o m b a r d e i o re p e t i d o de i n f o r m a ç õ e s , nem sempre c o n ­ d i zentes com o p r o c e s s o de d e s e n v o l v i m e n t o do homem, mas que, todavia, servem ao p r o c e s s o de d e s e n v o l v i m e n t o econômico, faz com que este se p r o c e s s e em d e t r i m e n t o daquele, o que, e v i d e n t ^ mente, r e s u l t a em p r e j u í z o da espécie humana, levando o homem ã pratica, durante a. vida, de atos de i n t e r e s s e p u r a m e n t e m a t e ­ rial, sem nenh u m enleio e s p i r i t u a l .

Ora, a cadá dia que p a s s a mais a ciência se .. convence de que o ser humano é um complexo de tres v a r i ãveis d i s t i n t a s , que se conhece por corpo, mente e espírito, 0 corpo, el e m e n t o material, é o i n s t r u m e n t o de que se serve a mente para f azer

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a u m p r i r os ideais do esp í r i t o - e l emento imaterial - e as n e c e ^ sidades da matériaj ou seja, o a t e n d i m e n t o do homem p o r i n t e i ­ ro. '

Por isso, desde que re l e g a d o s os ideais do e s p í r i t o , o homem p a s s a a v iver em função de, intere s s e s m a t e r i a i s , com a c o n s e ­ quente a t r o f i a do e s p í r i t o , o que r e p r e s e n t a risco sério p a r a a p r e s e r v a ç ã o da espécie.

Em todos os tempos guerras houveram, e o saque e os d e s p o j o s , e a am p l i a ç ã o do p o d e r se c o n s t i t u í r a m no seu m e c a n i ^ mo d i s p a r a d o r ; no fundo- de todas as guerras os i nteresses subaT^ ternos, porque, colocado o in t e r e s s e m a t e r i a l da posse, do p o ­ der e das coisas, sobre os i n t e r e s s e s morais e e s p i r i t u a i s , se estã i n v e r t e n d o os valores, s u b a l t e r n a n d o o espírito ao corpo, com vistas p r i m o r d i a l m e n t e , aos intere s s e s da m a t é r i a que, por si, nada cria e tudo d e s t r o i ; e a cons equencia é o d i v o r c i o : a p s icologia, da ética; a sociologia, do direito; a lei, do bem

comum e o d i r e i t o , da justiça.

Não p r e t e n d o , aqui, a f i r m a r que não sejam i m p o r t a n t e s os fato r e s e c o n ô m i c o s ,. in c l u s i v e p a r a a vida em s o c i e d a d e ; o que p r e t e n d o é que a e c onomia seja p o s t a a serviço do homem, co_ mo convém, nao o homem c a u d a t ã r i o da mãquina, como a c o n t e c e . De tal forma se estã enredado no sis t e m a que jã não se con s e g u e d^ v isar o f u t u r o . m a i s i m ediato da eco n o m i a mundial, nem m e s m o da e co n o m i a nacional, e n g o l f a d a em um labirinto de túneis dos quais o p r i n c i p a l é "aquele em que estamos andando às cegas £az a l ­ guns meses; o tünel da q u e d a de liquidez externa e dos atrasos de p a g a m e n t o s internacionais", como disse o e conomista e c o m e n ­ t arista econômico' M arco A n t Ô n i o Bocha, em recente a r tigo p u b l i ­ cado no I n f o r m a t i v o D inâmico lOB (n9 1.12>8, de 20.05.82). N i n ­ guém mais con t r o l a a m ã q u i n a p o rque se encontram todos, g r a n d e s e p e q u e n o s , ricos e pobres, na d e p e n d ê n c i a uns dos outros; a re_ tomada do d e s e n v o l v i m e n t o depende da c apacidade de s o l v e r os c o m p r o m i s s o s , sô .possível com a c o m p r e e n s ã o dos d i r i g e n t e s dos

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país e s riooSj que d e v e m p r e s e r v a r o fluxo de f i n a n c i a m e n t o s aos país e s e n d i v i d a d o s , o que quer dizer que eles se devem e n d i v i ­

dar a inda mais. Novos f i n a n c i a m e n t o s i m plicam em m a i o r e s s e r v i ­ ços da d í v i d a que, de resto, exigem m a i o r liquidez externa.

Mas, como c h egar lã se a rec e s s ã o é mundial, com todo o m u n d o qu e r e n d o e x p o r t a r mais e comprar menos?. Dentro do m o d e l o atual p a r e c e - n o s até mais f ã c i l ohter o consenso p o l í t i c o p a r a a m e d ^ da p r o p o s t a p e l a O r g a n i z a ç ã o para Cooperação e D e s e n v o l v i m e n t o Econômico, d o . q u e , com ela, e n c o ntrar a solução eco.nÔmica que

todos buscam.

0 Japonês, p o v o m i s o n e í s t a p or excelência, e n c e r r a d o em suas tradições m i l e n a r e s , viu-se, depois da derr o t a total na Seg u n d a Guerra Mundial, i nvadido pelos exércitos a m e r i c a n o s , com p o stos de jovens i n t e i r a m e n t e d e s c o m p r o m e t i d o s com tudo o que r e p r e s e n t a s s e t radiçao e cultura o r i e n t a i s , Com os e x é r c i t o s , os "jeans" e a "c o c a - c o l a " , todo o Japão a d eriu ã m o d e r n i z a ç ã o e, -do cãos, d e ntro do sist e m a o c i d e n t a l , galg o u as p r i m e i r a s po_ sições entre os i n d u s t r i a l i z a d o s .

Mas, "todo o sist e m a atual repousa no fato de que os japoneses t r a b a l h a m d o z e : h o r a s por dia, não gozam ferias e se a m o n t o a m aos dez em cômodos de peças desprovidas de q u a l q u e r conforto. Graças a esse nível, o dinherio e c o n o m i z a d o ë, o mais cedo, r e i n v e r t i d o na e c o n o m i a nacional. ... Que a c o n t e c e r a se, em vez que e c onomizar, os operários p a s s a r e m a con s u m i r essa m e s m a p o u p a n ç a ? A que p o n t o chegarão se p a s s a r e m a e x igir melho res casas, a u t o - e s t r a d a s , transportes p ú b l i c o s ,c o n f o r t á v e i s ? Es sas r e i v i n d i c a ç õ e s p a r a m e l h o r i a substancial de sua sorte afeta r ã o , c e r t a m e n t e , o sistema". ^

"Um So c i o l o g o diz: D o m i namos a p o b r e z a clássica. P o ­ rem muito cedo, t r a v a r e m o s conh e c i m e n t o de uma outra forma de

1. Cios, Max pg. 43, obr. cit.

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pobreza, a q u e l a que afeta a alma e o e s pírito das p e s s o a s , v i ­ vendo dent r o de uma sociedade que se torna cada dia mais desuma na. Esse é um fen ô m e n o clássico nos países desenvolvidos. E nos estamos, não há dúvida, n e s s a c a t e g o r i a ” .^

P e s s o a l m e n t e , não vejo por que lutar para a l c a n ç a r tal tipo ãe d e s e n v o l v i m e n t o que tem o fim em si mesmo, vazio de conteúdo êtico, m o r a l ' e espiritual; pelo contrario, em que pese o de s v a r i o do gesto, compre endo o d e s e spero e o i n c o n f ormismo daquele m o n g e b u d i s t a que, insano, lança fogo ãs vestes e m b e b i ­ das em c o m b u s t í v e l e, qual pira humana, grita ao mundo toda a sua a n g ú s t i a .

"0 c o m p l e t o domínio do impulso pela vontade, algumas vezes p r e g a d o p o r m o r a l i s t a s e, muitas vezes, forçado pela n e ­ cessidade econôm i c a , não é realmente desejável. Uma vi d a d i r i g ^ da por p r o p o s i t o s e desejos, com a exclusão dos impulsos, é uma vida extenuante. E s gota a vitalidade, tornando o homem, afinal, in d iferente aos objetivos mesmos que tentava a t i n g i r .Q u a n d o uma nação int e i r a vive desse modo, tende a debilitar-se, a p e r d e r a capac i d a d e s u f i c i e n t e para r e c o n h e c e r e transpor os o b s t á c u l o s aos seus desejos. 0 i n d u s t r i a l i s m e e a o r g anização v ê m c o n s t a n ­ temente for ç a n d o as nações civilizadas a viver cada vez mais pe los p r o p o s i t o s do que pelos impulsos. A longo termo, tal mo d o de existência, q u a n d o não estanca de todo as fontes da vida,, dá . o r igem a n o v o s impulsos, de espécie diversa daqueles que a v o n ­ tade se h a b i t u o u a controlar, ou de que o p e n s a m e n t o esta c o n s ­ ciente. Esses novos impulsos p o d e r ã o ser piores, em seus e f e i ­ tos, do que os que foram reprimidos. A disci p l i n a e xcessiva, e£ p e c i a l m e n t e q u a n d o imposta de fora, resulta f r e q u e ntemente, em impulsos de c r u e l d a d e e destruição: essa ê uma razão po r que o m i l i t a r i s m o tem más consequências sobre o caráter nacional. Se os impulsos e s p o n t â n e o s não c o n s e g u e m e n c o n t r a r uma saída, o re

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s u l t a d o sera, sempre falta de vitalidade, ou impulsos o p r e s s i ­ vos e c o n t r á r i o s a vida. Os impulsos de um h o m e m não estão p r e ­ fixados p ó r d i s p o s i ç õ e s inatas; dentro de certos limites, b a s ­ tante amplos, são p r o f u n d a m e n t e m o d i f i c a d o s pelas c i r c u n s t â n ­ cias e p e l o seu modo de vida''.^

É ainda B e r t r a n d Russel, c o n s i d e r a d o o m a i o r f i l o s o f o dos nossos tempos que diz que: " E x i s t e m do lado da vida, três forças que não e x i g e m qua l q u e r dote mental excepcional. Não mui^ to raras atualmente, p o d e r i a m ser m u i t o comuns sob inst i t u i ç õ e s sociais mais perfeitas. São elas, o amor, o instinto c o n s t r u t i ­ vo e a a l e g r i a de viver. Os três,estão, hoje em dia, repri m i d o s e e n f r a q u e c i d o s pelas condições sob que os homens v i v e m não s5 os a p a r e n t e m e n t e menos afortunados, como tamb é m a m a i o r i a dos abastados. As n o ssas instituições ap5iam-se na i n j u stiça e na autoridade. Apen a s fechando o coração ã s i mpatia e o esp í r i t o ã verd a d e é que p o d e m o s suportar as opressões e as injustiças de que tiramos partido. A concepção conv e n c i o n a l sobre o que c o n s ­ titue ê xito leva a m a i o r i a dos homens a viver uma v i d a em que se s a c r i f i c a m os i m p u l s o s .mais vitais e onde a alegria da vida se perde n u m tedio indiferente. Nosso sistema e c o n ô m i c o obriga quase todos os h o mens a r e a l i z a r e m os objetivos alheios em lu­ gar dos seus p r o p rios, fazendo-os s e n t i r e m - s e i m portantes na a- ção e capazes, apenas, de garantir uma quanti d a d e m í n i m a de pra zer passivo. Todas essas coisas d e s t r õ e m o vigor da comunidade, as afeições expan s i v a s dos indivíduos e a faculdade de olhar pa ra o m u n d o com generosidade. Todas elas são d e s n e c e s s á r i a s e po dem ser e x t i r p a d a s com e n e r g i a e coragem. Se o fossem a vida i m p u l s i v a dos homens t o r n a r - s e - i a i n t e i ramente diferente e a ra ça h u m a n a p o d e r i a enc a m i n h a r - s e pa r a uma nova felici d a d e e um novo v i g o r " .^

T*i Russelj Bertrand, pgs. 7 e 8, obr. cit. 2. Id. pgs. 11 e 12

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E n q u a n t o issOj a p o b r e z a se transmite às g e r a ç õ e s f u ­ turas p o r q u e ã m e d i d a em que novas fontes de bens e de serviços se desenvolvem^ descobrem^ ou i n v e n t a m são a p r opriadas petos ma i s oapazes, isto é, pelos o r i g i n a r i a m e n t e mais ricoSj que t r a n s m i t e m às suas gerações riq u e z a s oada vez maiores e mais concentradasj em virtude de defe i t o na Zei das s u c e s s õ e s .

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Q E G O l m O E A P O L U I Ç Ã O DAS F O N T E S DO DIREITO

É ainda Evioh F r o m m quem diz que ”na êtica a u t o r i t á ­ ria uma a utoridade enu n c i a o que ê b o m para o h o m e m e p r o m u l g a as leis e normas de conduta; na ê tica humanista, o p r ó p r i o h o ­ m e m ê qu e m fixa as n o rmas e a elas se sujeita, sendo ao m e s m o

tempo a sua fonte formal, ou 5rgão regulador, e seu tema. 0 e m ­ pr e g o da p a l a v r a " a u t o r i t a r i o " torna n e c e s s á r i o e s c l a r e c e r o con c e i t o de autoridade. Existe tanta confusão em torno deste te ma porque geralmente se crê que nos achamos confrontados com a a l t e r n a t i v a de ter uma a u t o r i d a d e d itatorial e irraci o n a l ou não ter autoridade alguma. Essa alternativa, sem embargo, ê fa]^ sa. 0 p r o b l e m a v e r d a d e i r o ê saber que espécie de autor i d a d e d e ­ vemos ter. Quando falamos em autoridade, referimo-nos ã a u t o r i ­ dade racional ou i r r a c i o n a l ? A a utoridade racional tem sua o r i ­ gem na "competência". A p e s s o a cuja autoridade é r e s p e i t a d a exerce com c o m p e t ê n c i a a tarefa que lhe foi confiada p elos que lhe c o n f e r i r a m tal autoridade. Não p r e c i s a intimida-los n e m de £ p e r t a r sua a d m i ração p or meio de q u a l i d a d e s m á g i c a s ;enq u a n t o e na m e d i d a em que ela ê c o m p e t e n t e m e n t e útil, ao invês de e x p l o ­ rada, sua a utoridade b a s e i a - s e em mot i v o s racionais e não c a r e ­ ce de um r e speito irraci o n a l cheio de medo. A a utoridade r a c i o ­ nal não s5 permite como requ e r constante exame e crítica dos que a ela estão subordi n a d o s ; ela ê sempre, temporária, e ,sua a c e itação depende de sua atuação. Pelo contrário, a fonte de au toridade irracional ê i n v a r i a v e l m e n t e o poder sobre as pessoas. Esse p o d e r pode ser físico ou mental, pode ser real ou apenas relativo, em função da ansiedade e do desamparo da p e s s o a a ela subordinada. 0 poder, de um lado, e o medo, de outro, são s e m ­ pre os esteios em que se apoia a autoridade irracional. A c r í t ^ ca ã autoridade não so ê d e s n e c e s s á r i a como até ê proibida. A autori d a d e r acional b a s e i a - s e na igualdade da a utoridade e do subordinado, que so d i f e r e m quanto ao grau de c o n h e c i m e n t o ou h a b i l i d a d e em d e t e r m i n a d o setor. A a utoridade irracional, p or

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sua p r ó p r i a natureza, a l icerça-se na desigualdade, i m p l i c a n d o d i f e r e n ç a de valor. No emprego da e x p r e s s ã o "ética a u t o r i t á r i a " s u b e n t e n d e - s e a autor i d a d e irracional, adotando-se o uso c o rren te da p a l a v r a " a u t o r i t á r i o " como sinônimo dos sistemas t o t a l i t ã rios e a n t i d e m o c r á t i c o s " . !

A h u m a n i d a d e vive hoje dias de ansiedad,e, num m u n d o dividido entre a dit a d u r a comunista, subjugada "ã é t i c a a u t o r i ­ tária de uma a u t o r i d a d e irrac i o n a l " de um lado e, de outro, as d e m o c r a c i a s o c i d e n t a i s aonde a p s i c o l o g i a está d i v o r c i a d a da êtica; a lei, do bem comum, e o direito da Justiça.

Na m o d e r n a sociedade de consumo o homem e tratado e se sente, ao m e s m o tempo, como v e n d e d o r e como m e r c a d o r i a a ser vendida no mercado, porque, "se tiver sucesso será v alioso; se não, será i m p r e s t á v e l ” . E, em virt u d e disso, ê enorme o g r a u de i n s e g u r a n ç a em que vive, uma vez que "por isso", a p e s s o a e com p e l i d a a lutar i n c e s s a n t e m e n t e pelo s u c e s s o , e qua l q u e r r e t r o ­

cesso é uma. grave a m eaça à sua estima própria; o r e s u l t a d o d i s ­ so são os s e n t i m e n t o s da i n c a p a c i d a d e , i n s egurança e i n f e r i o r i ­ dade . "Se as v i c i s s i t u d e s do m e r c a d o são os juizes do v a l o r da gente, d e s a p a r e c e o senti m e n t o de dignidade e de b r i o " . ^

Esse é o espirito que nor t e i a as democracias o c i d e n ­ tais quando, pe l a n a t u r e z a do regime, d everiam ser o r i e n t a d a s pe l a ética humanista, e n t e ndida a existe n c i a de uma ética racio nal p r i v i l e g i a n d o o homem pelo que ele é, não pelo que tem, Na medida, pois, em que i n d i viduo i n seguro e complexado atin g e p o ^

tos de coma n d o - sem capacidade de liderança - ele t r a n s f e r e a i n s e g u r a n ç a e o complexo p a r a as normas que traça, p o l u i n d o as fontes do d i r e i t o com o forte conteúdo emocional que n o r t e i a os seus atos.

'2. Frorm, Erich, pg. 19, obr, cit. 2. Idem, idem, pg. 69

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No m e u e n t e n d i m e n t o esse é o m o t i v o m a i o r de i n s t a b i ­ lidade das r e p u b l i c a s centro e sul-americanasj bem como das n o ­ vas c o m u n i d a d e s a f r icanas e dos países ãrabes recém e n r i q u e c i ­ dos p e l o petróleoy aonde gras s a m os d e s e n t e n d i m e n t o s e as conse_ quen t e s c o n v u l s õ e s intestinas^ só abafadas p e l a Violência. Essa ê uma das r a zões pór' que não vejo como consertar^ entre nós, o r e l a c i o n a m e n t o p o v o - g o v e r n o (especialmente na 'ãrea econÕmica) através da assembljéia con s t i t u i n t e p o r q u e q u a l q u e r c o n s t i t u i ç ã o vige apenas e n q u a n t o i n t e r e s s a r aqueles que detém ou que vi^ rem a d e t e r o poder; serãj enquanto p e r m a n e c e r o "status quo", m e d i d a m e r a m e n t e paliativa.

D e s s a forma, o caráter e s c o r r e i t o ,em que é tida a demo crac i a fica a b a l a d o , não no c o n c e i t o , que se m a n t ê m indene, mas na pratica, d e t e r i o r a d a pela corrupção e pelo suborno. A luta do i n d i v i d u o pe l o s u c e s s o , fazendo d e s a p a r e c e r nele o s e n t i m e n ­

to de d i g n i d a d e e de~ brio, leva-o ã corrupção, ativa ou p a s s i ­ va, e justifica, pa r a si mesmo, os meios utiliz a d o s pelos fins colimados, eis que a n e c e s s i d a d e p s i c o l ó g i c a de êxito cria nele uma f orça maior, que o .compele ao, s u c e s s o . 0 i n d i v í d u o , no s i s ­ tema, nao serã, claro, n e c e s s a r i a m e n t e c o r r u p t o r a co r r u p ç ã o sur_ ge quando, tendo a l c a n ç a d o r elativo sucesso, ele ve a m e a ç a d a a sua posição., com p o s s i b i l i d a d e de r e t r o c e s s o , o que na sua c o n ­ cepção ê v e x a t ó r i o e r ü i n o s o . É evidente que essa ótica é defor mada, p o rque são c o n t i n g ê n c i a s da p r ó p r i a vida os altos e b a i ­ xos com que as c i r c u n s t â n c i a s naturais brin d a m o homem. C o n t u ­ do, ê assim, na s o c i e d a d e de consumo porque as d i f i c u l d a d e s com que o indiv.íduo se def r o n t a no p r o c e s s o de a q u i s i ç ã o e assimila^ çao de coisas, e no r e l a c i o n a m e n t o com o mundo, levam-no a i s ­ so, estimulado, ademais, pela educação di r i g i d a pa r a a. c o m p e t i ­ ção e. não p a r a a cooperação.

P o d e r - s e - i a p e r g u n t a r em que se baseia o a u t o r para a f i r m a r que a e d u c a ç ã o esta dirigida para a c o m p e t i ç ã o e não pa ra a c o o p e r a ç ã o .

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Se se considerar o v o c á b u l o e d ucação em seu sentido mais usual e restrito^ a p e r g u n t a terá p r o c e d ê n c i a porque^ i n e ­ gave l m e n t e ^ a t r ansmissão de oonhecimentos^ de per si, é uma f o r m a de c o o p e r a ç ã o que se e s t a b e l e c e na relação d o c e n t e - d i s c e n te. J a no que se refere ao c o m p o r t a m e n t o dos c o m ponentes dos corpos d o c e n t e e d i s c e n t e , entre si, é visí v e l a c o m p e t i ç ã o a p a r t i r da c l a s s i f i c a ç ã o , através do j u l g a m e n t o da apti d ã o para o exercício, da p r o f i s s ã o e -para o i n g r e s s o ao estudo regular. Ao se e s t a b e l e c e r essa c l a s s i f i c a ç ã o está e s t a b e l e c i d a a c o m p e ­

tição, e não é raro ver-se entre as c r i a n ç a s , e s p e c i a l m e n t e na p r é - e s c o l a r i d a d e e no p r i m e i r o grau, agressões a p a r e n t e m e n t e d e s m o t ivadas, dos i n t e l e c t u a l m e n t e mais bem dotados pelos f i s i ­ camente ma i s fortes. É a c o n s e q ü ê n c i a a inda i n c o n s c i e n t e , do sen timento de i n f e r i o r i d a d e de um em r e l a ç ã o ao outro. Esse s e n t i ­ m e n t o p o d e r á a c o m p a n h a r o i n d i v í d u o p e l a vida afora, p r o v o c a n d o d i s t o r ç õ e s do co m p o r t a m e n t o e do c a r á t e r . A su b j e t i v i d a d e de ca da um d e t e r m i n a r á o grau de p r o f l i g a ç ã o da v i r t u d e .

Porém, se a educação b u s c a r meios de fazer com que se_ jam r e s s a l t a d a s as compensações, de forma a que as habi l i d a d e s de um sejam c o m paráveis ãs a p tidões do outro, e s t a b e l e c e r - s e - á e q u i l í b r i o capaz de evitar desvios do c o m p o r t a m e n t o . A d i f i c u l ­ dade c o n s i s t e em que a educação está, também nos lares,mas p r i n cipalmente, nas escolas, res t r i t a à instrução. .A d e s i g u a l d a d e dos inú m e r o s tipos _ h u m a n o s , p or r a zões atávicas, sociais, econ'^ micas, a m b ientais, etc..., é evidente, e é i nadequado p r o c u r a r e d u c a r - s e da m e s m a mane i r a pess o a s d i f e r e n t e s . 0 direito ã e d u ­ cação, r e s t r i t o ã instrução, em bases f ormuladas pela b u r o c r a ­ cia do ensino, conduz ã uma c o n c e p ç ã o de m o n o tipos humanos abso_

lutamente i n e x i s t e n t e s . Essa c o n c e p ç ã o não permite d i s t i n ç õ e s , i n c l usive porque, no atual sistema de ensino, com as salas de aulas su p e r l o t a d a s , os p r o f e s s o r e s não teriam como e s t a b e l e c e r as d i f e r e n ç a s e adequar os currículos.

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sent i d o da f o r m a ç ã o do caráter, q u ando mais p resente ainda se faz, na vida cotidiana, a a h u s i v a c o m p e t i ç ã o .

Há con f l i t o entre as n e c e s s i d a d e s humanas e o tipo de ed u c a ç ã o recebida. 0 homem é educado pa r a a c o m p e t i ç ã o , de um lado e, de outro, na do u t r i n a de que o "amor p r ó p r i o " e o mal supremo, su g e r i n d o que o i n d i v í d u o deve abandonar-se aos i n t e ­ resses dos outros. N e g a n d o - s e a si m e s m o e ã sua i n d i v i d u a l i d a ­ de, o homem chega aos extremos: ou se a b andona i n t e i r a m e n t e , des p i n d o - s e do.s p r ó p r i o s intere s s e s em b e n e fício dos outros, ou a b a n d o n a o s e m e l h a n t e e a f r o u x a Os laços com Deus, p o n d o - s e e x ­ c l u s i v a m e n t e ao seu p r ó p r i o serviço. Mas, não há como p o s s a o i n d i v í d u o negar-se a si mesmo, ou ao seu semelhante sem que dis so r e s u l t e m sérios p r e j u í z o s p a r a si e pa r a a h u m a n i d a d e . Criam -se, assim, os e x p l o r a d o s , e os exploradores; os devorados e os d e v o r a d o r e s , o que, se, na natureza, serve ao equilíbrio e c o l ó ­ gico pe l a s o b r e v i v ê n c i a dos mais fortes, subordina e e s c r a v i z a os homens uns aos outros sem nen h u m a razão moral ou ética que o a u t o r i z e , como no c a p i t a l i s m o sel v a g e m a r r e p i a n d o os povos.

Na v e r d a d e , o egoísmo, como todo excesso, é p e r n i c i o - so, o que não impede que o in d i v í d u o cultive o caráter e p r e z e a p r ó p r i a p e r s o n a l i d a d e ^ c o m o — uma n e c e s s i d a d e , a c e i t a n d o - s e e ad m i r a n d o - s e naqu i l o que, em si próprio, também merece a d m i r a ç ã o e r e s p e i t o .

H a ' n o r m a l m e n t e ,. nas p e s s o a s , p r e d i s p o s i ç ã o pa r a a com_ p r e e n s ã o do.s p r o b l e m a s e das d i f i c u l d a d e s com que se d e f r o n t a m as outras p e s s o a s , em sua busca de dignidade e i n t e g r i d a d e , e é nessa p r e d i s p o s i ç ã o que o amor a s s e n t a as suas bases, tanto mais sólidas quanto mais bem f o r m a d o o caráter. Não há, p o r isso, amor sem c o m p r e e n s ã o , como não há c o mpreensão entre i n d i v í d u o s de caráter flácido. A f o r m a ç ã o do caráter, portanto, r í g i d o e forte, em p e r s o n a l i d a d e equilibrada, deve ser o objetivo da edu

cação, para que o egoí s m o e x a c e r b a d o e o altruísmo n e u r ó t i c o

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dam lugar ao a l t r u í s m o equilibrado. "Altruísmo e q u i l i b r a d o " e aquele em que o d e s p r e n d i m e n t o não chega a c o m p r o m e t e r o amor que o i n d i v í d u o deve ter p or si próprio, porque, sendo- o amor um s e n t i m e n t o i n t e r i o r que extravasa, inexistindo am o r p r ó p r i o não hâ e x t r a v a s a m e n t o a a t i n g i r o s e m e l h a n t e . Esse e x t r a v a s a m e n to não se dâ em razão da " q u a n t i d a d e " de amor que o i n d i v í d u o porte, mas da c a p a c i d a d e de s u b l i m a ç ã o dele, tanto mais sublime quanto mais sólidos o c a r ã t e r e a p e r s o n a l i d a d e em que esta a s ­ sente. A c a r a c t e r í s t i c a de s u b l i m i d a d e do amor é que faz com que g r a n d e s .p e r s o n a l i d a d e s da história, dentre os q u a i s , o m a i o r deles, Jesus Cristo, c o n c e n t r e m no semelhante a sua c a p a c i d a d e de amar, i n d e p e n d e n t e m e n t e de q u a l q u e r - c o n d i ç ã o , ao c o n t r a r i o do p e n s a m e n t o de F r e u d que i m a g i n a que "quanto mais amor eu der pa r a o m u n d o exterior, tanto menos sobrara para mim, e v i e e - v e r sa".l F r e u d de s c r e v e o f e n ó m e n o do amor como um e m p o b r e c i m e n t o do a m o r - p r ó p r i o da p e s s o a poisque "toda a libido se v o l t a pa r a um objeto a ela e x t e r i o r " q u a n d o ,. segundo Fromm "as a t itudes pa ra com os outros e p a r a conosco mesmos, longe de serem c o n t r a d ^ torias , são f u n d a m e n t a l m e n t e conjuntivas; isso quer dizer que o amor aos outros e o amor a nos mesmos não são alternativos. P e ­ lo contrario, uma atitude de amor p a r a com eles p r o p r i o s será e n c o n t r a d a e m todos os que sao capazes de amar os outros".

Porem, há que d i s t i n g u i r - s e , face mesmo ã enorme dis- tãnica que os separa, os conceitos de- amor - p r Ó p r i o e do i n t e r e ^ se p r ó p r i o " com o sentido que tem atualmente e que e, talvez, o símbolo m a i o r da so c i e d a d e moderna.

P o r q u e n i n g u é m ama aquilo que não c o n h e c e , e n e c e s s á ­ rio , p r i m e i r o que tudo, que o homem conheça a si prÓprio. Sem

se conhecer, ignora quais as suas p o t e n c i a l i d a d e s e reais n e c e ^ s i d a d e s , a d m i t i n d o como legítimas as necessidades f o r j a d a s por outros homens em sua mente, o que vem a d eterminar qual será o

1. Fromm, pg. 114, obr. cit. 2. Idem, idem, pg. 115

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seu 'interesse p r ó p r i o , não mais no sentido que lhe e m p r e s t a v a Spinoza, de in t e r e s s e no d e s e n v o l v i m e n t o de suas p o t e n c i a l i d a ­ des, mas i n t e r e s s e em vantagens m a t e r i a i s de p o d e r e sucesso pessoal. A q u i l o que seria uma virtude p a s s o u a ser vicio e d e ­ f o r m a ç ã o do c a r á t e r e o homem, que p e n s a estar agindo em prol do seu i n t e r e s s e , nada mais e do que um elo na c o rrente que aci_ ona a máquina- que o envolve e subjuga.

As p o t e n c i a l i d a d e s humanas se a t r o f i a m na b u s c a de uma s e g u r a n ç a falaciosa, f u n d a m e n t a d a na riqu e z a e no p o d e r que, para serem a l c a n ç a d o s e m a n t i d o s , s a c r i f i c a m a l i b e r d a d e , o c a r á t e r , a d i g n i d a d e e o brio, e f azem do ser humano um fanto che operado pelas mãos ávidas de grupos de poder. 0 homem m o d e ^ no ê criado p a r a s e rvir ao senhor " poderoso" que se c o n v e n c i o ­ nou c h amar e m p r e g a d o r ; e desemp r e g o ê s i nÓnimo de f r u s t r a ç ã o e de r e c a l q u e p o r q u e a f o r m a ç ã o da p e s s o a se dá nesse sen t i d o de servir, não a quem p r e c i s a de ajuda pa r a supe r a r as suas d i f i ­ culdades v i v e n c i a i s do dia a dia, mas àquele que e serv i d o pa r a se tornar mais ri c o e, em consequência, mais poderoso; de tal forma que se mede o valor de ,uma -pessoa por sua capac i d a d e de e x p l o r a r um n ú mero oada vez m a i o r de pes s o a s que o s e rvem,e que julgam e star a g i n d o em prol de seu i n t e r e s s e . As escolas e u n i ­ versi d a d e s f o r m a m . 0 homem para que ele tenha m e l h o r capac i d a d e de uso p or outros homens, quando dev e r i a m f o r m á - l o no sentido de d e s e n v o l v e r as suas p o t e n c i a l i d a d e s de " v ir-a-ser" homem..Tor isso, vêm-se os g o v e r n a n t e s a braços, cada vez mais, com a n e ­ cessidade, sempre maior, da criação de novos e m p r e g o s .

0 corpo sadio e a mente aguçada, o jovem d eixa a u n i ­ ve r s idade pa r a cair de d e s e ngano em d e s e n g a n o , de f r u s t r a ç ã o em frustração, sem e n c o n t r a r o rumo que só o d e s e n v o l v i m e n t o do po tencial do e s p í r i t o lhe oferece porque, i l u d i d o , deixou que suas impor t a n t e s p o t e n c i a l i d a d e s humanas permanecessem, a t r o f i a d a s , ' imagi n a n d o que a q u i l o era o m e l h o r pa r a si; enquanto fora p r o c u r a o emp r e g o pára o qual foi p r e p a r a d o . Mas o s i s t e m a está

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seriamente d e s e q u i l i b r a d o ; a crise atropela os g o v e r n a n t e s de todo o m u n d o que imp l o r a m do e m p r e s a r i a d o a criação de novos em pr egos pa r a a t r a n q ü i l i d a d e opiãcea da massa humana r e p r e s e n t a ­ da p e l a m ã o - d e - o b r a ociosa que^ criada para servir e não para imaginar^ se d e s c o n t r o l a e agita^ a m e açando a cada p a s s o a paz e a ordem constituída. Em face disso^ as ideologias t o t a l i t á ­ rias a s s a c a m críticas ã d e m o c r a c i a sob a a l egação de que o capi talismo está m o r a l m e n t e errado^ esquecidos de que o c a p i t a l i s m o é apenas uma das pe c u l i a r i d a d e s do regime d e m o c r á t i c o , consti- t u í n d o - s e , p r e c i s a m e n t e , no seu. "calcanhar de Aquiles"^ o que^ nos reg i m e s t o t a l i t á r i o s , e ainda m u i t o mais d r a m á t i c o . Daí a n e c e s s i d a d e de r e f o r m u l a ç ã o da ordem i n t e r n a c i o n a l , não apenas econômica, .mas geral, a p a r t i r da ref o r m u l a ç ã o do h omem e dos seus i n t e r e s s e s , Isso, p a r e c e - m e claro, somente será c o n s e g u i ­ do , p e l a E d u c a ç ã o a nível do espírito, e s pecialmente através do e n t e n d i m e n t o a n a l í t i c o - f i l o s ó f i c o da realidade da p e s s o a humana para consigo própria.

Nem tão d i f i c i l m e n t e se chegará a isso, se se conside_ rar o gra u . d e i n s a t i s f a ç ã o i n t e r i o r do homem mode r n o em f u nção das desiluç-ões que vem s o f r e n d o na busca "da falácia do seu i n ­ teresse proprio".

IBSEN, em "Peer Gynt", analisa - "0 Eu de Gunt" - "Um exé r c i t o ê o que ele é, de desejos, apetites e v o n t a ­ des! 0 Eu de Gynt! E um mar de caprichos, r e i v i n d i c a ­ ções e aspirações; de fato, é tudo o que arfa em m e u peito e me faz ser o que sou, e viver como vivo".

"No fim da vida ele reconhece que se enganara; em e m ­ bo r a adotasse o p r i n c í p i o do interesse proprio; deixa

ra de r e c o n h e c e r quais eram os interesses do seu,, eu real e h a v i a p e r d i d o o prop r i o eu que b u s c a r a conser- =var. D i z e m - l h e que ele nunca h a v i a sido ele m e s m o e que, por isso, será lançado de volta ao cadinho para

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ser tratado como m a t é r i a prima. Ele descobre que v i ­ v e u de acordo com o p r i n c í p i o dos Trolls".

" B a ste-se a si mesm o " - que é o oposto do p r i n c í p i o humano: "Seja fiel a si mesmo". E dominado pelo h o r ­ ror do n a d a a que, ele que não tem eu, não pode e s c a ­ p a r q u a n d o são retirados ou s e r i a m e n t e abalados os s u s t e n t á c u l o s do p s e u d o eu, do sucesso e das posses. E forçado a recon h e c e r que ao tentar ganhar todas as r i quezas do mundo, ao ir i n c a n s a v e l m e n t e empós do que p a r e c i a ser seu interesse, ele p e r d e r a sua alma ou,

c o nforme p r e f i r o dizer, seu eu".^

A i n s a t i s f a ç ã o interior, que leva à ang ú s t i a -pela sen sação ãe h aver p e r d i d o o seu "eu", não e p r i v i l é g i o de classes, e sufo c a a todos. As greves que se sucedem, os frequ e n t e s "loc­ kout s " n a s - f r e n t e s de trabalho; os d e s a j u s t e s em todos os s e t o ­ res da vida pública, econômica e social, são c o n s e q u ê n c i a s d e s ­ sa i n s a t i s f a ç ã o i n t e r i o r , que so a E d u c a ç ã o pode s u p e r a r .

Jã a f i r m a m o s que ha d e s o r i e n t a ç ã o m e t o d o l ó g i c a na for m a ç ã o do c a r á t e r , em c o n s e q u ê n c i a do d i r e c i o n a m e n t o da educação no sentido à x c l u s i v o do p o l i m e n t o i n t e l e c t u a l dos indivíduos.

Tor e v i d e n t e , a i n s t r u ç ã o , de per si, não é capaz de satis fazer às n e c e s s i d a d e s p s í q u i c a s do ser humano; p e l o contra rio, em f u n ç ã o da relação existente entre os p r o c e s s o s ment a i s e os p r o c e s s o s e mocionais s u b jacentes ao c o m p o r t a m e n t o humano, quanto mais i n s t r u í d o for o i n d i v í d u o , tanto maio r e s serão as suas e x i g ê n c i a s emocionais, desde que o seu d e s e n v o l v i m e n t o m o ­ ral não. se dê "pari p a s s u " com o d e s e n v o l v i m e n t o i n t e l e c t u a l .. A c o n t e c e que o p r o c e s s u s de educação r e g u l a r tem deixado para as calendas o p r o c e s s o de d e s e n v o l v i m e n t o moral, o c u p a n d o - s e ex

1. Fromm, Erich, pg. 2 22, obr. cit.

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