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O protestantismo mineiro do século XIX

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Academic year: 2021

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O Protestantismo Mineiro do Século XIX

Martin N. Dreher I. INTRODUÇÃO

Em nossos dias fala-se m u ito de um a c ris e de iden tid a d e no p ro te sta n tism o brasileiro. Tal c ris e faz-se s e n tir e specialm en te entre dois tip o s de pro te sta n tism o : o p ro te sta n tism o de m issão e o pro te sta n tism o de im igração. As o rig e n s dessa crise devem ser pro cu ra d a s no m om ento h is tó ric o -s o c ia l do Brasil à é p o ca em q u e se in icia a im p la n ta çã o do p ro te s ta n tis m o em n ossa pátria. O Brasil de 1824, ano em q u e com eçam a p e n e tra r c o n tin g e n te s de p ro te s­ tantes no país, está s a in d o de um a s o cie d a d e c o lo n ia l tra d icio n a l, na qual p re d o m in a o ca p ita lism o d e m ercado, e está in g re ssa n d o na so cie d a d e lib e ra l-m o d e rn o -b u rg u e sa , na qual vai p re d o m in a r o ca p ita lism o ind u stria l. No cam po p o lítico estão triu n fa n d o as c o rre n ­ tes liberais-m oderniza doras, q u e produzem as c o n d iç õ e s para o in g re sso d o pro te sta n tism o . Não é po r acaso que, p o r exem plo, na cham ada “ q u e stã o re lig io s a ” o p ro te sta n tism o virá a dar total ap o io aos p o lítico s liberais e a apoiar-se na m a ç o n a ria (l). São os liberais qu e convidam p ro te sta n te s a in g re ssa r n o país co m o im igrantes e vão c o n v id a r sociedad es m issionárias. Exem plo para esse ú ltim o asp e cto é o R egente Pe. D iogo A n tô n io Feijó, q u e c o n vid o u os Irm ãos M oravianos a virem se e sta b e le ce r no país. Os M oravianos não puderam c o rre s p o n d e r à s o lic ita ç ã o de Feijó em v irtu d e dos p a rco s re cu rso s h um anos q u e tinham à disp o siçã o , mas o fa to está a fa la r p o r si(2). De um m odo geral tinha-se, no Brasil, a co n v ic ç ã o de qu e o p ro te sta n tism o fa v o re c e ria a tra n siçã o para a so cie d a d e m oderna. Em 1828, Pedro de A ra ú jo Lima afirm a: “ A p o p u la çã o d o Im pério aum enta dia a dia; com um clim a am eno, com solo fé rtil, o Brasil tem que v e r c re s c e r o núm ero de seus filh o s no m ínim o na m esm a p ro p o rç ã o qu e os Estados U nidos da A m érica do

(1) Cf. q u a n to a esse a sp e c to V IE IR A , D av id G u eiro s. O protestantism o, a m açonaria e a q u estão religiosa no Brasil. B rasília, E d ito ra U n iv e rsid a d e de B rasília, 1980, p assim .

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Norte... O c o m é rc io e scravagista dim in u i e nós nos e n co n tra m o s dia n te da necessida de de p re e n ch e r esta lacuna. Temos qu e pro te g e r a pessoa e a p roprieda de. Tem os qu e c ria r liberdades para a a g ric u ltu ra e a indústria, g a ra n tir os c o n tra to s e n tre p ro p rie tá rio s e a rrendatá rio s, e specialm en te em se tra ta n d o de estrangeiro s, fa c ili­ ta r a a q u isiçã o de m eios de su b sistê n cia . Isso a tra irá braços, d in h e iro e in d ú stria ...! O Brasil necessita de b ra ço s la b o rio so s e tra b a lh a d o re s ” (3) Essas palavras de A ra ú jo Lim a são reveladoras, em mais qu e um sentido, co m o ain d a verem os no d e c o rre r de nossa exposição . Elas apontam para o p ro je to , no qual o p ro te sta n te vai ser inserido, e nos falam tam bém d o uso q u e o p ro je to vai fazer do protestante.

Se o ideário p ro te sta n te estava presente nos círc u lo s d irig e n ­ tes brasileiros, tam bém estava pre se n te nas ju n ta s am ericanas q u e enviaram seus m issionários ao Brasil. O m esm o deve ser d ito em relação às sociedad es m issionárias alem ãs. No “ am erican way o f life ” ou n o “ d eustsche s W esen” o m undo a lca n ça rá a redenção. Crê-se no “ d e stin o m a n ife s to ” . Os m issionários virão c o n v ic to s de q u e trazem o "p ro g re s s o ” ju n ta m e n te com o Evangelho. A p olêm ica pro te sta n te - espe cia lm e n te do p ro te sta n tism o de m issão - , d e ixa n d o -se de lado a polê m ica do u trin a l, vai a rg u m e n ta r q u e o ca to lic is m o é o b scu ra n tista , re tró g ra d o , etc. O p rotestantism o , ao c o n trá rio , é a religião q u e cria o espírito do p ro g re sso (4). Não será p o r a caso q u e um dos p rim eiros re presenta ntes da S ociedad e B íblica A m ericana c ria rá no Rio de Janeiro um a “ S ociedade de A m igos do P ro g re sso ” (5). A pregação p ro te sta n te vai se r do tip o evange lístico: tra n sfo rm a o c o n v e rtid o em tip o ideal para a nova so cie d a d e q u e se quer cria r: individua lista . Ele é sujeito de sua p ró p ria existência. A religião é dele e não mais da família. B ásica é a relação: Eu e Deus. O novo hom em da co n ve rsã o é o hom em m oderno: responsável, honesto, progressista, busca cu ltu ra . O ca tó lico , não co n ve rtid o , será para ele o c o n trá rio de tu d o isso: irresponsável, desone sto, re a cio n á rio e in cu lto .

(3) Cf. D R EH ER , M a rtin N o rb e rto . Igreja e G erm anidade. Estudo crítico da história da Igreja E vangélica de C on fissão L uterana no Brasil. S ã o Leopoldo, S inodal, P o r to A legre, E scola S u p e rio r de T e o lo g ia S ã o L o u re n ç o d e B rindes, C ax ias d o Sul, E d ito ra d a U n iv e rsid ad e de C a x ia s d o Sul, 1984, p. 29s.

(4) A re c e n te p u b lic a ç ã o d e R EILY , D u n c an A. H istória d ocum en tal do protestantism o no Brasil. S ão P au lo , A STE, 1984, tr a z e x c e le n te m a te ria l p a ra d o c u m e n ta r esse a sp e c to . Cf., p.ex., p. 34-37.

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São essas as c o lo ca çõ e s que e n co n tra m o s e n tre os d irig e n ­ tes brasileiros, e n tre as lideranças das s o cie d a d e s m issionárias e en tre os p ró p rio s m issionários enviados ao Brasil. No entanto, essa não é to d a a realidade. Q uando se fala em p ro te sta n tism o no Brasil, não se pode apenas fa la r dos m issionários e do povo q u e esses m issionários vão c ria n d o a sua im agem e sem elhança. Fato é q u e e n tre os m uitos im igrantes q u e o p ro je to liberal vai tra ze n d o ao Brasil e n co n tra m o s tam bém m ilhares de p ro te sta n te s que vão dar u m a c a ra c te rís tic a to d a especial a parte do p ro te sta n tism o brasileiro. E, mais im p o rta n te ainda, esse p o vo estab e le ce -se no Brasil m uito antes da vin d a dos m issio n á rio s p rotestantes. Ele cria a sua pró p ria vida eclesiástica. Sem a presença d e m issionários, vai sendo usado pelo sistem a lib e ra l-m o d e rn iza d o r b ra sile iro e, e n q u a n to vai sendo usado, cria a sua vida religiosa, ou, m elhor, recria-a no Brasil. P rocurarem os e vid e n cia r esse asp e cto no presente estudo.

E studarem os o p ro te sta n tism o m ineiro d o sé cu lo XIX, q u e é basicam ente p ro te sta n tism o de im igração, v e rific a n d o se e n c o n ­ tram os nele as mesmas ca ra cte rística s q u e vam os e n c o n tra r no p retestantism o de im igração do Sul do Brasil, o n d e sabidam en te c o n c e n tro u -s e a m aior parte desse tip o de protestantism o .

Vejam os quais os aspectos q u e se destacam .

II. O POVO MIGRANTE NO CONTEXTO DOS INTERESSES M U N­ DIAIS

Não foram apenas P ortugal e o Im pério do Brasil q u e se beneficiaram , em seu projeto, com o ingresso de gra n d e s c o n tin g e n ­ tes de im igrantes, e n tre os quais se destacam , inicialm ente, alemães e italianos. De fato, p ra tica m e n te to d a a E u ro p a C entral e a In g la ­ te rra tam bém se beneficia ra m com as m igrações d o sé cu lo XIX. As m igrações tra n so ce â n ica s, o ê xo d o rural, a in d u stria liza çã o e a u rbanizaçã o aceleradas são to d a s a spectos de um e o mesmo fenôm eno. O so n h o p o r um pedaço de te rra na A m érica é mola p ro p u lso ra q u e faz m ilhões de europeus, à beira do pauperism o, a bandonarem seu to rrã o natal. Não é p o r acaso que nas aldeias do P alatinado, na Alem anha, as p opula ções m igrantes vão cantar: ‘ ‘Adeus pátria mal agradecid a, vam os para um a o u tra terra, vam os para o Brasil, deixam os apenas as d ívid a s” . Ou, p a rtin d o em b u sca da te rra prom etida, qual o p a tria rc a A braão, vão dizer: ‘ Deus nos

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seguind o o seu m a n d a d o ” (6). P ro fu n d o s d e se q u ilíb rio s d e m o g rá fi­ cos e e co n ô m ico s na Itália, na Alem anha, na França, na Inglaterra, nos p ró p rio s países ibéricos, fizeram com que, ao m enor aceno, gra n d e s c o n tin g e n te s se m ostrassem d isp o sto s a em igrar. A E u ro p a do s é cu lo XIX está repleta de fa to re s de repulsão de c o n tin g e n te s hum anos e stigm atizado s pela pobreza, fa lta de tra b a lh o , fa lta de terra. A u rb a n iza çã o e a in d u stria liza çã o m ostram -se incapazes de a b so rve r os exceden tes p opula cionais. E o ca p ita lism o industrial vai se valer desses excedentes, p ro m o ve n d o a m igração. A plicam -se im ensos capitais na m arinha m ercante. Os navios passam a tra n s­ p o rta r m igrantes e gên e ro s q u e esses m igrantes, saudoso s d a p á ­ tria, consom em avidam ente. Na volta, tra n sp o rta m m atérias prim as para as ind ú stria s européias. Os ca p ita lista s de H am burgo, na A lem anha, cria rã o a sua p ró p ria co lô n ia em D ona Francisca, S anta C atarina; para ela levarão os m igrantes, para lá tra n s p o rta rã o m ercadorias e de lá trazem para a E u ro p a as m atérias prim as, num a c o n s ta n te realim entação(7). Assim, arm adores, co n stru to re s, in d u s ­ triais se beneficiam . Não m enos ben e ficia d a s são as nações qu e perm item a saída de seus cid a d ã o s e m p o b re cid o s: livram -se de p a rte do “ problem a s o c ia l” . Não é po r a caso q u e com unas suíças c u ste a rã o as despesas d e viagem d e seus mais pobres cidadãos, tra n sfe rin d o -o s para Joinville, no Brasil(8).

Á vidas p o r a tre la r o Brasil ao ca p ita lism o industrial, as elites d irig e n te s brasileiras irão de e n c o n tro às e xp e cta tiva s ta n to d o ca- talism o europeu, q u e se lança em b u sca de m ercados e de fo n te s de m atérias prim as, - bem co m o de espaços para seus excedentes p o p u la cio n a is - , q u a n to de anseios internos. D entro desse p ro je to global, os m igrantes vão ser usados. Seu uso pelos interesses e u ro p e u s já delineam os acim a, seu uso pelo sistem a brasileiro descreverem os abaixo. A ntes d e passarm os a essa descriçã o , no entanto , ca b e lem brar, um a vez mais, q u e é d e n tro desse jo g o q u e se d á a inserção de consideráve l fa tia do p ro te sta n tism o no Brasil.

(6) Cf. D R EH ER , M a rtin N o rb e rto . op. cit., p. 36s.

(7) Cf. SCH RAM M , P e rc y E rn st. D ie d e u ts c h e S ie d lu n g sk o lo n ie D o n a F ra n c is c a (B rasilien: St. C a ta rin a ) in R a h m e n g le ic h z e itig e r P ro je k te u n d V e rh a n d lu n g e n , ln: J a h r b u c h fü r die G a sc h ic h te v o n S ta a t, W irts c h a ft u n d g e se lls c h a ft L a te in a m e rik a s, 1964: 283-324.

1964: 283-324.

(8) Cf. T SC H U D I, J o h a n n J a k o b von. R eisen durch Südam erika. Vol. 3. Leipzig, B ro c k h au s, 1866, p. 358.

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III. O USO DO POVO MIGRANTE PELOS INTERESSES BRASILEI­ ROS

Foram vários os c o n te x to s d e n tro dos quais o sistem a brasileiro usou o im ig ra n te e, com isso, o protestantism o . E num ero- os, apresento dados e, ao final, fa ç o um a p anh ado geral de m inhas descobertas.

1. O branqueamento da raça

E ntre 1807 e 1810 o co rre ra m diversos levantes de negros na Bahia. Tais levantes provocaram um enorm e su sto na elite b aiana e, por extensão, no restante da Colônia. A im pressão qu e os levantes devem te r ca usado fic a ainda mais patente, caso lem brarm os q u e em 1804, no Haiti, os escravos in s u rg id o s haviam liq u id a d o com a pop u la çã o branca. Em 1825, a França te ve q u e re c o n h e c e r a

ind e p e n d ê n cia d o Haiti, d irig id o p o r negros. Em tra ta d o ce le b ra d o com a Inglaterra, em 1810, D. Jo ã o VI d e cla ro u -se "plenam ente c o n v e n c id o da in ju stiça e má p o lítica do c o m é rc io de e s c ra v o s ” (9). O tra ta d o foi im p o sto pela Inglaterra, mas n o fu n d o a d e cla ra çã o c o rre s p o n d e ao pensam ento do rei português. Ao ch e g a r ao Brasil, D. João VI depara-se com um Brasil negro. Esse fato, a liado aos levantes baianos e à re vo lu çã o haitia n a criaram no seio da classe d irig e n te brasileira a id e o lo g ia racista do b ra n q u e a m e n to da raça. B oa parte das leis a b o licio n ista s foram fo rm u la d a s para im pedir a e n trada de escravos, d im inuindo , assim, a p o ssib ilid a d e de um a suprem acia negra no país (Lei Eusébio de Q ueirós).* A busca po r im igrantes b ra n co s na E uropa a in d a d u ra n te o período do Brasil- C olônía e nos p rim ó rd io s do Brasil in d e p e n d e n te é, pois, p o lítica d irig id a c o n tra o negro, a se rviço da id e o lo g ia da su p re m a cia da raça branca no Brasil. O c o lo n o b ra n co vai re ce b e r a te rra q u e o negro não recebe e vai fic a r p ro ib id o de ser p ro p rie tá rio de escravos. Para po d e r fa ze r c o n c o rrê n c ia ao la tifu n d iá rio deverá ter fam ília num erosa, c o n trib u in d o assim, in diretam en te, para o bran­ queam ento da raça(10). R acista não é, pois, o im igrante, mas a

(9) C lá u su la X do T ra ta d o . Cf. BER G M A N N , M ichel. N a sce um povo. Estudo a n trop ológico da p op ulação brasileira: co m o surgiu, co m p o siçã o racial, ev o lu ç ã o futura. 2. ed. P etró p o lis, V ozes, 1978, p. 32.

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classe d irig e n te brasileira q u e o usa. O liveira V ia n n a dirá, ainda em 1934(1): “ Para nós, po rta n to , q u e pelo fa to m esm o de term os um a fo rm a ç ã o em que predom inam d o is sangues in fe rio re s (o negro e o índio), som os um povo de eug e n ism o p o u c o elevado, o grande p ro b le m a é a aria n iza çã o in te n siva de nossa co m p o s iç ã o étnica. T u d o q u a n to fize rm o s em s e n tid o c o n trá rio a essa aria n iza çã o é o b ra crim inosa e im p a trió tic a ” (1 1).

2. A eliminação de nações indígenas

Um dos asp e cto s que nos cham a a a tenção , q u a n d o e stu d a ­ m os a g e o g ra fia da c o lo n iza çã o p o r m eio de im ig ra n te s desde 1824, é a lo ca liza çã o dos im igrantes em áreas infestadas de indígenas ou em árêa nas q uais os indígenas acabaram de se r elim inados. Assim, os c o lo n o s lo ca liza d o s em São P edro de A lcâ n ta ra (1828), em Santa Catarina, em Rio N egro (1828), no atual E stado d o Paraná, em Caxias d o Sul ( = C am po dos Bugres), no Rio G rande do Sul, são lo ca liza d o s em áreas em q u e a estra d a lig a n d o São Paulo, via Rio N egro e Lages, às V acarias, e m ais ta rd e a P o rto Alegre, p re cisa ser d e fe n d id a de a taque s indígenas. Em to d a s essas áreas, os co lo n o s vão liq u id a r o indígena, se g u in d o um a tra d iç ã o de “ g u e rra o fe n si­ v a ” , decla ra d a p o r D. Jo ã o VI, em 1808, qua n d o in icia a m atança dos botocud os(12). Aliás, para re p o vo a r o te rritó rio d o Espírito Santo, o n d e os b o to c u d o s são d izim ados após haverem sido presentea dos com peças de ro u p a infectada s com pústulas de varíola, o g o ve rn o brasileiro vai lan ça r m ão de im igrantes, lo ca liza d o s em S anta Izabel ( = D om ingos M artins) e S anta Leopoldina, n ú cle o s iniciais da c o lo n iza çã o em te rra s capixabas. No Vale d o Itajaí, em Santa C atarina, os c o lo n o s são lo ca liza d o s em áreas, nas quais serão organizad as expediçõ es c o n tra os indígenas, à fre n te das quais se e n c o n tra M artin h o Bugreiro.

E ssa p ro le n u m e ro s a c e r ta m e n te n ão se d e v e a um e sp e c ia l a m o r p e lo s p e q u e n in o s e n tre a le m ã e s e ita lia n o s. O c o lo n o q u e n ã o tiv esse filh o s e s ta v a c o n d en a d o à fa lê n c ia eco n ô m ica. (11) C ita d o em SC H O R E R PETR O N E, M aria T h e re z a . O im igran te e a pequena propriedade (T udo

é h is tó ria 38). S ão P au lo , B rasilien se, 1982, p. 43.

(12) Cf. BEO ZZO , Jo sé O scar. Leis e R egim entos das M issões. P olítica Indigenista no Brasil (C o le ç ão "M issão A b e rta ” — VI), S ão P au lo , Loyola, 1983, p. 71-74.

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3. A segurança nacional

Se observarm os os n ú cle o s in icia is em q u e foram localizado s os im igrantes alem ães, que form am a base para a Igreja L u te re n a no Brasil, verem os fa c ilm e n te q u e sua u b ica çã o se deveu a questões de segurança nacional. B aseado na c ria çã o extensiva de gado, o a ntig o p o voam en to d o Rio G rande d o Sul d e sp re zo u as áreas em to rn o d o nú cle o inicial d e c o lo n iza çã o alem ã n aque le Estado, São Leopoldo. H istoricam ente, porém , o te rritó rio do Rio G rande do Sul sem pre foi área de litígio com a c o ro a e sp a n h o la e, posteriorm ente , com os Estados d o Prata. A p o p u la çã o ligada à cria çã o d o gado não poderia, de vid o a sua baixa d ensidade, g a ra n tir a posse do te rritó rio . C o lo ca n d o os im igrantes na área de São Leopo ldo, lig a n d o -o s ao sistem a da peque na p ro p rie d a d e e fo rç a n d o -o s a uma prole n u m e ro ­ sa para poderem fa ze r c o n c o rrê n c ia aos la tifu n d iá rio s, o g o ve rn o b ra sile iro c rio u as bases para a g a ra n tia e a posse d o te rritó rio . Fato sem elhante p odem os observar, q u a n d o ve rifica m o s a loca liza ­ ção dos núcleos iniciais da c o lo n iza çã o em S anta C atarina e no atual Estado do Paraná. São Pedro de A lcântara, cria d a em 1828, foi lo ca liza d a n o ca m in h o que levava d o Litoral até Lages. Os c o lo n o s m antêm livre a estrada, eis q u e estão em d is p u ta com os indígenas, e e stabele cer um m arco na d e fesa fre n te a possíveis incursões do Prata. Além d isso vão fo rn e c e r a lim ento para os m ilitares a q u a rte la d o s em Lages e responsáveis pela defesa d a estrada qu e lig a o C entro ao Sul do país. A p ro d u ç ã o de g ê n e ro s alim entícios para as fo rça s m ilitares aquartela das em Rio N egro e responsáveis pela estrada d e ligação do C e ntro ao Sul tam bém vai ser m otivo q u e leva à cria çã o da C olônia Alem ã de Rio Negro. No início deste século, ainda seria cria d a a C olônia de T errenos, no Mato Grosso, para p ro p ic ia r alim e n ta çã o para a C olônia M ilitar de C am po Grande. M otivos de se g u ra n ça tam bém devem te r e stado por trás da localiza çã o dos nú cle o s esta b e le cid o s no E spírito Santo. E lim inada a pop u la çã o b o to cu d a , c rio u -s e um v á cu o p o p u la cio n a l q u e tin h a q u e ser pre e n ch id o . Daí a cria çã o dos núcleos de Santa Isabel e de S anta Leopoldina.

4. A valorização fundiária

O a sp e cto no qual a elite d o m in a n te b ra sile ira jam ais se a p ro ve ito u do im ig ra n te foi, sem dúvida, o a sp e cto da va lorização fu n d iá ria . Os p rim eiros nú cle o s c o lo n ia is fo ra m localizado s em

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áreas que perm itissem um mais fá cil e sco a m e n te o da produção . Veja-se o exem plo da lo ca liza çã o de São Leop o ld o : próxim a de P orto A legre e às m argens do Rio d o s Sinos. Via de regra, porém , p ro cu ro u -se lo ca liza r os im igrantes em áreas q u e estavam à espera de valorização. As duas co lô n ia s já m encionad as no E spírito S anto (S anta Izabel e S anta Leo p o ld in a ) podem ser aponta das co m o exem plo. Em Santa C atarina, os núcleos iniciais de co lo n iza çã o estão to d o s eles lo ca liza d o s em te rra s insalubres. Jo in ville localiza- se naquela parte das terras d o P ríncipe de Jo in ville qu e foram vendidas ao H am burger K olonisa tio n sve re in . O p rín cip e reservou p a ra si as partes m ais altas, qu e foram por ele vendida s q u a n d o estavam valorizadas. A cid a d e de Jo in ville e n co n tra -se lá o n d e foi iniciada: n o m angue! O tra b a lh o d o im ig ra n te v a lo rizo u as terras vizinhas - B rusque e B lum enau não se e n co n tra m em áreas m enos insalubres qu e as de Joinville. Os aldeam en teos iniciais favoreceram a va lorização das terras. No Rio G rande do Sul, as co lo n iza çõ e s iniciais tam bém estão em áreas baixas, sujeitas às inundações.

Interessados na v a lo riza çã o das terras, os políticos, p ro p rie ­ tá rio s e co lo n iza d o re s jam ais deram a tenção à questão relativa à c o rre ta m edição das terras. Assim , p ra tica m e n te to d a s as áreas de im ig ra çã o são áreas de c o n flito de terra. Já po r vo lta de 1850, o e m b a ixa d o r p ru ssia n o von E ichm ann vai se d irig ir aos hom ens do g o ve rn o b ra sile iro para a lertá-los s o b re o fa to . Na época, os lotes iniciais de São L e o p o ld o ain d a não estavam conven ie n te m e n te m arcados(13).

5. A mão-de-obra barata

A c o lo n iza çã o d o Estado de São Paulo é exem plo típ ico de com o to d a a po lítica d e im igração visava a tra ir m ão-de-obra barata para os la tifú n d io s carentes de braços. Ali, a p e que na propriedade, tra b a lh a d a pelo im igrante, é elem ento co m p le m e n ta r d o la tifú n d io . O im ig ra n te passa por um “ e s tá g io ” na fa ze n d a antes de receber a terra. Na p rá tica o q u e a c o n te c e é que o fa ze n d e iro loteia as terras não p ró p ria s para o café, fic a n d o nas p ro xim id a d e s da fazenda com uma p o p u la çã o que, para m e lh o ra r seus rendim ento s, o fe re cia sua fo rça de tra b a lh o para as atividade s d a fazenda. C onh e cid o s são

(13) Cf. o s re la tó rio s d e v o n EICH M A N N . In: R evista d o A rchivo P ublico do Rio Grande do Sul. P o rto A legre, O f ic in a s ^ r a p h i c a s d a E sc o la de E n g e n h a ria , 1924, p. 291-300.

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os a c o n te c im e n to s em to rn o das te rra s d o S enado r V ergueiro e relatadas p o r Thom as D avatz(14).

6. A construção e conservação de estradas

M uitas vezes os núcleos co lo n ia is ficam lo ca liza d o s no final de uma estrada. Veja-se os e xem plos de T e ó filo O ttoni e de Juiz de Fora, em M inas Gerais. Para ligar te rra s ou m esm o P rovíncias ao litoral, c o n s tru iu -s e estradas com o c o n c u rs o de im igrantes, aos quais se prom etia acesso às te rra s q u e seriam p o r eles p ró p rio s torn a d a s acessíveis. A o lon g o dessas m esm as estradas c rio u -s e n ú cle o s c o lo n ia is q u e possibilitasse m a c o n se rva çã o dessas ro d o ­ vias. No caso das loca lid a d e s m ineiras, os im igrantes tiveram qu e pagar ca ro pelas te rra s qu e eles p ró p rio s ajudaram a v a lo riza r(1 5).

7. A criação de uma classe média brasileira

Isolado até 1808, o Brasil passa a lig a r-se aos grandes a co n te cim e n to s m undiais com a vinda de C orte p o rtu g u e sa e com a a b e rtu ra dos portos. Tema geral das grandes d iscu ssõ e s de e n tã o é a m odernizaçã o e a in te g ra ç ã o do Brasil à co m u n id a d e mais ampla, m oldada e ntão pelo ca p ita lism o ind u stria l. P ouco após a ch e g a d a da fam ília real p o rtu g u e sa com eçam a ser dados os p rim eiros passos para a im p la n ta çã o d a p e que na p ro p rie d a d e no país. Pensava-se q u e essa p e q u e n a p ro p rie d a d e poderia d esenvo lver-se ao lado da g ra n d e propriedade, sem com ela co n c o rre r. A peque na p ro p rie d a ­ de o c u p a ria os espaços vazios, p ro m o ve n d o a va lorização fundiária, co m o já vimos, e prom overia o s u rg im e n to de uma classe social interm ediária e n tre os escravos e os la tifu n d iá rio s. Essa classe in te rm e d iá ria seria a um só te m p o m ercado co n su m id o r, o fe re ce ria b raços (16) e p ro d u ziria aqueles gêneros q u e o la tifú n d io não

(14) Cf. D A V A TZ, T h o m as. M em órias de um co lo n o no Brasil (1850) (B ib lio teca H istó rica B rasileira). S ão Pau lo , M artin s, U n iv e rsid ad e de S ão Paulo, 1972. LA Z ZA R I, B ea triz M aria. Im igração e ideologia. R eação d o Parlam en to Brasileiro à política de co lo n iza çã o e im igração (1850-1875) P o r to A legre, Escola S u p e rio r de T e o lo g ia S ão L o u re n ç o d e B rindes, C ax ias do Sul, U n iv e rsid ad e d e C ax ias do Sul, 1980. H OLLOW AY, T h o m a s H. Im igrantes para o café. C afé e socied ad e em São Paulo, 1866-1934. São Paulo, P az e T e rra , 1984.

(15) V eja-se a b aix o m in h a s c o n sid e ra ç õ e s a re s p e ito d e J u iz d e F o ra e de T eó filo O ttoni. (16) V eja-se as p a la v ra s de A ra ú jo L im as, a cim a, p. 1.

(10)

produzia. Esperava-se q u e essa classe in te rm e d iá ria criasse as co n d içõ e s para um a m udança social e e c o n ô m ic a n o país. Esses mesmos planos da e lite brasileira são tam bém os planos da nação dom in a n te no ca m p o e co n ô m ico : a Inglaterra. Não podem os esque­ ce r qu e a In g la te rra é no p e ríodo a g ra n d e p ro m o to ra d a cam p a n h a a b o licio n ista in te rn a cio n a l. O tra b a lh o e scra vo é visto co m o o g ra n d e c o n c o rre n te , p e rig o so c o n c o rre n te , para o tra b a lh o in d u s ­ trial assalariado. Viram os ingleses tam bém q u e a e co n o m ia e scra ­ vista im pedia a c irc u la ç ã o de m ercadorias, pois o e scra vo não p ode com prar. E, finalm ente, a In g la te rra com eça a ver a Á fric a co m o seu im pério co lo n ia l e p ro c u ra afastar P ortugal d a Á frica ! Os interesses e co n ô m ico s ingleses, incom patíveis com a escravidão, levam ao interesse inglês no s u rg im e n to de uma cla sse m édia no Brasil. Assim , casam -se os interesses e co n ô m ico s e so cia is de dois g ru p o s q u e vão usar o im ig ra n te c o n tra o n e g ro para p ro p ic ia r o su rg im e n to da classe m édia b ra sile ira (1 7). Esse fato é básico para a realidade de q u e o p ro te sta n tism o de im igração foi até p o u c o s anos, e n qua nto d u ro u o p ro je to libera l-m o d e rn iza d o r, p ro te sta n tism o de classe média. Por m otivos óbvios a s itu a çã o vai se in ve rte n d o p a u la tin a ­ m ente e, hoje, o d e sce n d e n te d o im ig ra n te usado nos diversos a sp e cto s q u e enum eram os até aqui vai e n g ro ssa n d o os g ru p o s daque les q u e deixam o Brasil, in d o buscar novas fro n te ira s no P araguai ou na Bolívia.

Vejam os a g o ra quais dos asp e cto s acim a m e ncionad os vam os e n c o n tra r no p ro te sta n tism o m ineiro do sé cu lo XIX.

IV. NÚCLEOS DE IMIGRAÇÃO PROTESTANTE EM MINAS GE­ RAIS NO SÉC. XIX

São basicam ente dois os nú cle o s de im ig ra çã o e co lo n iza çã o p ro te sta n te em Minas Gerais no século XIX: Juiz de Fora e Teófilo O ttoni.

1. Juiz de Fora

Após uma viagem q u e fize ra aos E stados U nidos e à Europa, o m ineiro M ariano P ro có p io Ferreira Lage p ro p ô s ao

(11)

g o v e rn o d o Im pério a c o n s tru ç ã o e co n se rva çã o , p o r sua p ró p ria c o n ta e risco, de um a rodovia, a qual, p a rtin d o de Petrópolis, passaria po r Juiz de Fora e B arbacen a até a tin g ir a capital da Província, O uro Preto. Através d o d e c re to n5 1031, d e 7 de agosto de 1852, o G overno Im perial c o n c e d e u -lh e a a u to riz a ç ã o e o p rivilégio d e explo rá -la p o r um prazo de 50 anos. Para e x e cu ta r os planos foi fu n d a d a a C om panhia União e Indústria, co m um capital de 5.000.000$000. Esse capital foi d iv id id o em 10.000 ações no va lo r de 500$000, co lo ca d a s e n tre os p ro p rie tá rio s de te rra s qu e seriam be n e ficia d o s com a rodovia. É e vidente que a estrada persegue clara m e n te o a sp e cto da va lo riza çã o de terras, e n tre as q uais se en co n tra m as p ró p ria s terras de M ariano P ro có p io Lag e (1 8).

Com a fin a lid a d e de c o n s tru ir a rodovia, a C om panhia União e Indústria c o n tra to u na Alem anha, em 1853, d iversos té c n ic o s (engenh eiros, arq u ite to s, a grim ensores e to p ó g ra fo s ) e, em 1856, devido à fa lta de m ão-de-obra especializada, d iversos m estres (20 no total), m estres de ofício, q u e vieram com um c o n tra to de dois anos (19). Neste g ru p o e no ca p ita l p ro ve n ie n te do c u ltiv o do café vam os e n c o n tra r a base para a in d u s tria liz a ç ã o de Juiz de Fora. Para a c o n s tru ç ã o da estrada, no entanto , faltavam “ b ra ç o s ” . Na d é ca d a de 1850, co m o sabem os, há fa lta de “ braço e s c ra v o ” . Para s u p rir essa fa lta de braços, o C o ngresso apro vo u , em 18 de setem bro de 1850, a Lei Geral n Q 601. Essa Lei Geral deu legislação d e fin itiva à c o lo n iza çã o , de fin iu o s ig n ific a d o de te rra s devolutas, aboliu a g ra tu id a d e d o s lotes aos c o lo n o s e d e fin iu co m o ú n ico título d e posse a com pra. Além disso, c rio u a R e partição Geral de Terras P úblicas. Essa R epartição teve a seu c a rg o a d elim itação, divisã o e p ro te çã o de te rra s devoluta s e a p ro m o çã o da co lo n iza çã o . A Lei foi regulam en tada através do d e cre to n5 1318, de 30 de ja n e iro de 1854, pelo regulam en to de 8 de maio de 1854, pela p o rta ria n 9 385, de 19 de dezem bro de 1855, e pelo d e c re to n 5 6129, de 23 de feve re iro de 1876. Em ja n e iro de 1857, estip u lo u o g o ve rn o q u e seriam 50.000 os c o lo n o s que deveriam e n tra r no país para s u p rir a fa lta de braços. Im ediatam ente criaram -se um a série de c o lo n iza d o ra s particulares, as quais desejam rece b e r os re cu rso s g overnam e ntais para a colonização(20). Assim , a C om panhia U nião e Indústria, cria d a com a fin a lid a d e de c o n s tru ir uma estrada, e n tra na c o rrid a colon iza d o ra .

(18) Cf. T S C H U D I, J o h a n n Ja k o b , op. cit. Vol I. 1866, ST EH LIN G , Luiz Jo sé. Os a le m ãe s em Ju iz de F o ra. In: FA C U LD A D E DE FILO SO FIA D A U N IV E R SID A D E FED ER A L DO RIO G R A N D E DO SUL. Ed. I C olóquio d e E studos T euto-B rasileiros. P o rto A legre, 1966, p. 267s. (19) Cf. STEH LIN G , Luiz José. op. cit., p. 268s.

(12)

Em 25 de abril de 1857, M ariano P rocópio m anda um pre p o sto a ssin a r c o n tra to para im p o rta r 2.000 alem ães, q u e deveriam ser in sta la d o s em áreas d e te rra s q u e co m p ra ra para essa finalidade. Em hom enagem ao Im perador, d e n o m in a essa co lô n ia D. Pedro II. No prim e iro a rtig o do c o n tra to ce le b ra d o e n tre a C om panhia U nião e In d ú stria e o G o ve rn o lê-se: “ A C om panhia União e Indústria o b rig a -se a im p o rta r q u a tro ce n ta s fam ílias em três anos, a c o n ta r do dia 1e de ju lh o p ró xim o fu tu ro , sendo cem (100) no prim eiro ano; ce n to e q u a re n ta (1 4 0 )n o s e g u n d o ano; c e n to e sessenta (160) no te rc e iro ano. Cada fam ília terá, te rm o m édio, c in c o in divíduo s e, se q u a tro ce n ta s fam ílias não co n tive re m duas mil pessoas, a C om pa­ nhia im p o rta rá ta n ta s fam ílias e mais quantas forem preciso para perfazer o núm ero in d ic a d o de in d iv íd u o s ” . (21). A C om panhia enviou um seu e ngen heiro, o Dr. Cari C hristian Gieber, à A lem anha e este c o n se g u iu q u e a firm a Dr. F. S ch m id t assum isse o re cru ta m e n to d os c o lo n o s. Para o tra n s p o rte fez-se o c o n tra to com o arm ador Ja cq u e s Donati, d e H am burgo (22).

Uma p e rg u n ta fica: Por q u e M ariano P rocópio, cu jo o b je tivo era o de c o n s tru ir um a estrada, to rn o u -s e co lo n iza d o r? Um aspecto p a re c e evidente: há necessidade de m ão-de-obra. Essa mão- d e -o b ra pod e rá re n d e r para a C om panhia de p o is de desm obilizada, pois co m p ra rá te rra s valorizadas pela c o n s tru ç ã o da estrada. Mas existe mais um aspecto. Em livro, p u b lic a d o em 1866, Johann Jakob von Tschudi escre ve qu e tem dúvidas q u a n to ao fa to de a estrada da C om panhia U nião e Indústria vir algum dia a render dividend os. S egund o Tschudi, nos balancetes da C om panhia, M ariano P rocópio c o m u n ic a aos a cio n ista s qu e seu capital está perdido, não há d ividend os. C onsola os acionistas com o fa to de a estrada ser e m p reend im e nto p a trió tic o (23). Não é e vidente qu e a vinda de c o lo n o s é uma m aneira de c o n s e g u ir re cu rso s do gove rn o para su p rim ir o d é fic it da C om panhia?

No ano de 1857, num prazo de 59 dias, chegaram a P araibuna 1.162 alemães. Faltavam 838 para c o m p le ta r os 2.000. A C om panhia U nião e In d ú stria suspend eu a vin d a dos dem ais e sacou ju n to à R epartição Geral de Terras P úblicas a q uantia de Rs 200:000$000, à qual, s e g u n d o o co n tra to , fazia jus: havia c o n s e g u i­ d o braços para o Brasil!(24)

(21) Cf. STEH LIN G. Luiz Jo sé. op. cit., p. 269.

(22) Cf. STEH LIN G , Luiz Jo sé . op. cit., p. 270; T S C H U D I, J o h a n n J a k o b von. op. cit., vol. 1, p. 259s. (23) cf. TS C H U D I, J o h a n n J a k o b von. op. cit., vol. 1, p. 258.

(13)

S egund o o c o n tra io ce le b ra d o e n tre a Firma Dr. Fr. S chm idt, prom eteu-se te rra aos c o lo n o s para logo após a c o n c lu s ã o da estrada. Num to ta l de 225 fam ílias com 1.100 pessoas, além de um total de 62 pessoas solteiras, os im igrantes provin h a m das seguinte s regiões: Hessen, Tirol, Holstein, Prússia, Baden, S chlesw ig, Baviera, W ürttem berg, Hannover, Saxônia, Nassau, B raunschw e ig, H am bur­ go, M ecklenburg , Luxen & irg o e Dinam arca. S egu n d o Tschudi(25), os g ru p o s mais num erosos são os p ro ve n ie n te s de Hessen e do T i­ rol, se g u in d o -se os de H olstein, Prússia e Baden. Em relação à C om ­ panhia U nião e Indústria, os im igrantes ficaram sendo devedores. C hegaram devendo as passagens e co n tin u a ra m devendo, pois a alim entação lhes era ve ;uida a cré d ito . Não adm ira, pois, que, em 1860, a C olônia D. Pedro tenha 1005 alm as (26) e q u e q u a tro anos mais ta rd e o Pastor Stroeíle escreva, dize n d o que o n úm ero de m oradores da C olônia c o n tin u e a decrescer, apesar do nascim ento de inúm eras criançasç??).

Q uais as causas do decréscim o? Houve, é claro, m o rta lid a d e entre os im igrantes. O ce m ité rio lu te ra n o de ju iz de Fora apresenta um g ra n d e núm ero de tunm los infantis. S troelle nos c o n ta ainda que a mais alta taxa de mo - > ! 'i e o c o rre u e n tre os tiroleses, devido ao

gra n d e consum o J ; :,28). Mas há ainda o u tro s m otivos.

Q uando os im igrante., chegaram à C olônia, não haviam sido tom adas as medidaè iieceüsárias para a su a instalação . H ouve epidem ias de tifo. Assim co n ta -n o s T schudi(29), a s itu a çã o era de p ro fu n d a depressão e., co lo n o s; havia tam bém d e s c o n te n ta ­ mento. As queixas c o -Vh>-.wam em 1866, é p o ca em que T schudi ca ra cte riza a situ a çã o u_ b e frie d ig e n d ", aceitável(30). As terras foram m edidas em co lô n ia s de 20.000 braças q uadrad as e leiloa- das(!) entre os c o lo n o s A C om panhia, q u e com p ra ra as terras por um e meio réis a braça quadrada, alcança com o leilão um lu c ro de 45 e meio réis por I : •■-. quadrada. Os co lo n o s, porém , não

e ncontram m ercadc :s seus p ro d u to s e as vendas que

conseguem fazer não . icientes para a co m p ra de vestim entas.

M uitas m ulheres e me m que se p ro s titu ir para o b te r d in h e iro para a família(31).

(25) op. cit. vol. 1, p, 260.

(26) Cf. T SC H U D I. Jo h a n n J . i i - . r - i;> cit. vol ],p . 260.

(27) Cf. o re la tó rio do P. G m dicN S ir o ;;-.‘ e n v ia d o ao in sp e to r d a S o c ie d a d e M issio nária de B asiléia e p u b lic a d o em BILLROTH, A " •; Ein E v a n g e lis t in B rasilien . A us d em N a ch la ss d es v o rm a lig e n P fa rre rs d e r d e u tsc h -e v a n g e lisc h e n G e m ein d e in Rio d e J a n e iro , H e rm a n n B illro th . Brem en, V erlag v ;■ J. M üller, 1867, p. 251s.

(28) op. cit., p. 251. (29) op. cit., vol. 1, p. 260 (30) op. cit., vol I. p. 260. (31) op. cit., p. 252.

(14)

Em breve a s itu a çã o re lig io sa vai ser de desm oralização, especialm en te e n tre os protestantes. M etade d o s im igrantes era p ro te sta n te e, para eles, a C o n stitu içã o do Im pério não previa igu a ld a d e de d ire ito s. S egu n d o a C o n stitu içã o , em seu p a rá g ra fo 5, os pro te sta n te s eram tolerados(32). Seus m atrim ô n io s eram co n s i­ dera d o s c o n c u b in a to . Os im igrantes c a tó lic o s foram a te n d id o s pelo Pe. T iago M endes R ibeiro. Para os protestantes, a C om panhia de sig n o u um m úsico negro, d a n d o -lh e um sa lá rio anual de 2000 M ilréis(33). Em ca so de m atrim ô n io s in te rco n fe ssio n a is, fazia-se necessária a a u to riza çã o do b ispo de M ariana, co m o p o d e n d o ver da se g u in te sentença:

“ F rancisco R odrigues de Paula, da O rdem de Cristo, O ficial da Rosa, A rc ip re s te da Catedral, P ro viso r e V ig á rio Geral G. S.

Faço saber q u e não p o d e n d o c o n tra ir o sa cra m e n to do M atrim ô n io com o pedem , im pedidos os senhores ab a ixo declarado s, dei a m inha se n te n ça de te o r seguinte : VISTO estes autos de dispensa do Sr. C arlos T aucher e Eva T ebanu, residentes na freguesia d a c id a d e de P araibun a de ste Bispado, am bos alemães da naçã o deles dem onstraram serem os p ró p rio s ligados com o im pedim ento de “ C ultos D isp a ritu s” por se r esta p ro te sta n te e aq uele c a tó lic o rom ano. P rovando -n os ser a se n h o ra p o b re e ó rfã de mãe, e m esm o o se n h o r com seu o fício e a g ê n cia a pode am parar e ela não foi raptada. S egundo vistos pela ju s tific a ç ã o ju n to , te n d o eles provado e stado livre e a s e n h o ra assin a d o te rm o de não em b a ra ça r seu c o n s o rte no e xe rcício de sua relig iã o c a tó lic a e de e d u c a r e c ria r seus filh o s (q u a n d o os te n h a ) na religião católica, u sando dos poderes c o n c e d id o s aos Exmos. Srs. B ispos do Brasil, pelo Santíssim o Padre Pio IX no breve que com e ça - UNIVERSI DOMINICE GREGIS - e xpedid o em Roma aos 17 de m a rço de 1848, e a mim co m e tid o p o r sua Exa. Revma., d isp e n so os referidos senhores do m e n cio n a d o im ped im e n to - C ultos D isparitus - para q u e se possam re ce b e r em M atrim ônio que será celebrado , fora da

igreja e sem bênção ou outra formalidade religiosa, e nesta form a se lhes

dê su a sentença.

Mariana, 26 de o u tu b ro de 1858.

(32) Cf. CA STR O , T h e re z in h a de. H istória D o cum entai do Brasil. R io d e J a n e iro / S ã o Paulo, R eco rd , 1968, p. 150.

(33) R e la to d o M in istro P le n ip o te n c iá rio P ru ss ia n o M eu se b ac h . C ita d o em SC H R Ö D E R , F e rd in a n d . B rasilien und W ittenberg. Ursprung und G estaltu n g d eu tsch en e v a n g elisch en K irchentunis in B rasilien. B erlin & L eipzig, V e rta g W a lte r d e G ru y te r Co, 1936, p. 341.

(15)

Francisco Rodrigues de Paula, B is p o " (34)

91

A ata d o casam ento reza:

“ Aos dez dias de n ovem bro de mil o ito c e n to s e c in q ü e n ta e oito, na casa de m in h a residência, nesta cid a d e de S anto A n tô n io do Paraibuna, a c h a n d o -se presentes os c o n tra ta n te s C arlos Paulo T a u ch e r e Eva Tebanu, e as testem unha s a b a ixo assinadas presen­ tes ao c o n tra to m atrim onial do d ito C.C. p e rante as ditas te ste m u ­ nhas. E para c o n s ta r fa ç o este assento em q u e assino com os presentes.

C idade do Paraibuna, 10 de novem bro de 1858.

Padre Tiago Mendes Ribeiro, V igário

Júlio Amberzo Hermann Baxter

Maria Sebastiana do Enjo”. (35)

Com a ‘a s s is tê n c ia ’ q u e lhes d e ra a C om panhia, os co lo n o s foram o b rig a d o s a o rg a n iz a r a sua p ró p ria vida religiosa. C o n stru í­ ram um a escola, na qual aos dom ingos, p rim e iro os c a tó lic o s e d e p o is os protestantes, assistidos pelo p ro fe s s o r W altenberg, reali­ zavam seus cultos. Os m atrim ônios p ro te sta n te s eram ce le b ra d o s na p resença d o p ro fe s s o r e do d ire to r da C olônia, em cuja presença assinava um d o cu m e n to . Na realidade o fa to era co n c u b in a to . S om ente o D ecreto 1.144, de 11 de sete m b ro de 1861, viria a trazer uma a lteração na s ituação. (36)

Em 1861, q u a n d o da visita de D. P edro II a Paraibuna, os c o lo n o s pro te sta n te s d irig ira m -se ao Im perador, so lic ita n d o -lh e que fosse cu m p rid a a dete rm in a çã o da c o n d iç ã o sexta do c o n tra to assinado pela C om panhia para im p o rta r c o lo n o s: “ O G overno Im perial a uxiliará com a q u a n tia d e Rs. 4:000$000 (q u a tro c o n to s de réis) a c o n s tru ç ã o no p rin cip a l e sta b e le cim e n to da C om panhia, de uma casa de o ra çã o sem fo rm a d e tem plo, para os c o lo n o s que não seguirem o c u lto ca tó lico . Este auxílio será realizado lo g o qu e haja um n úm ero de relig iã o d issid e n te s u p e rio r a q u a tro c e n to s ’ ’(37). Na épo ca eram 507 os p ro te sta n te s em Paraibuna. Pedro II atendeu à s o lic ita ç ã o dos c o lo n o s e o rd e n o u qu e o P astor da C olónia de

(34) Cf. STEH LIN G , Luiz Jo sé. op. cit., p. 274s.

(35) Cf. ST EH LIN G , L uiz José. op. cit., p. 275. A p a re n te m e n te o te x to e s tá in c o m p le to o u co rro m p id o .

(36) Cf. CO LEÇ À O D E LEIS D O IM PÉ R IO DO BRA SIL, Vol. 15, 1863, p. 85-91. (37) Cf. STEH LIN G, Luiz Jo sé. op. cit., p. 276.

(16)

Petrópolis, na P rovíncia do Rio de Janeiro, atende sse a C olônia D. Pedro 11(38). Os prim e iro s cu lto s foram cele b ra d o s pelo P. B ernhard Pflüger, p a sto r de Rio Novo, na Província d o E spírito Santo, e, p o steriorm ente , pelo Pastor G o ttlie b Strõlle.

Strõlle, nascido a 19 de feve re iro de 1834 em O berlenningen, no te rritó rio de W ü rtte m b e rg /A le m a n h a , e stu d o u te o lo g ia na Casa de M issão de B asiléia e foi enviado ao Brasil em 1862, perm anece n­ do até o ano de 1866 co m o P astor em P etrópolis. Faleceu em N e u c h a te l/W ü rtte m b e rg , em 1899. S trõlle d e ixo u -n o s interessantes relatos de suas atividade s em P etrópolis e algum as referências a respeito de Juiz de Fora. S egund o seus relatos, os p rotestantes puderam c o n stru ir, ao te m p o em q u e os p astoreou , uma casa de oração, na qual e xistia um alta r e um harm ónio. A fre q ü ê n c ia aos cu lto s era m uito boa e o pastor c a ra c te riz a os o uvintes de atentos. Os luteranos têm escola, mas a fo rm a çã o das c ria n ça s é deficiente. O mal dos alemães, o alcoolism o, está m uito d ifu n d id o . S troelle nos co n ta tam bém a respeito de suas pregações: o fa to de p regar em idiom a alem ão fez com q u e tam bém m uitos im igrantes ca tó lic o s passassem a ouvi-lo. A a u to rid a d e ecle siá stica local consegu iu, então, q u e fo sse co lo c a d o um c a p u c h in h o tirolês, tra n s fe rid o do E spírito Santo, em Juiz de Fora. O p ro ce d im e n to deste sacerdote, no entanto, foi tão mau qu e M ariano Lage o bteve sua rem oção. Desde 1869, os alem ães c a tó lic o s teriam seu p ró p rio cu ra d ’almas na pessoa do Frei E m erich H offer de Praga. Para a tende r os evangéli­ cos de Juiz de Fora, S troelle deslocava -se um a vez p o r mês de P etrópolis, perm a n e ce n d o três dias em M inas Gerais. As viagens eram feitas nas d ilig ê n cia s da C om panhia U nião e Indústria. Pelos se rviço s prestados, o Pastor recebia pro ve n to s anuais de 600 M ilréis(39).

Com a vo lta de S troelle para a Alem anha, Juiz de Fora c o n tin u o u a ser a te n d id a pelo Pastor B ernhard P flüger (1837-1909), o qual de 1868-1870 assum iu o p astoreio de P etrópolis. Com o seu antecessor, P flüger obteve sua form a çã o em Basiléia. Sua form ação pie tista tro u x e -lh e d ificu ld a d e s de re lacionam e nto, fo rç a n d o -o a deixar P etrópolis em 1 870(40).

H erm ann B o rch a rd veio a se to rn a r p a sto r de P etrópolis de 1870-1872. Desse p eríodo tem os um relato, no qual B orchard, m aravilhado com o qu e vè em Juiz de Fora em term os de té c n ic a e de progresso, ain d a faz as seguinte s observaçõe s a respeito dos

(38) Cf. STEH LIN G , Luiz José. op. cit., p. 276.

(39) Cf. as c a r ta s e re la tó rio s de S trõ lle em BILLROTH, A lbert., op. cit., p. 219-260. (40) Cf, SC H RÖD ER, F e rd in an d , op. cit., p. 325.

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protestantes: “ No d o m in g o pela m anhã, os evan g é lico s reuniram -se em g ra n d e núm ero para o culto. O p ro fe sso r c a tó lic o é co n co m ita n - te m e n te sa cristã o da c o m u n id a d e evangélica. O relacio n a m e n to de am bas as co n fissõ e s é. pois, bom, do que m uito c u id a o D iretor M ariano. A fre q ü ê n cia à escola, em co n tra p a rtid a , é má. A tarde, visitei a C olônia Pedro S egundo, a qual c o n ta com 1.130 almas, en tre as quais 423 prbtestantes. As fam ílias não podem su b sistir em suas pequenas lavouras, a não ser que os hom ens sejam e m prega­ dos e pagos pela C o m panhia "(4 1).

Os sucessores de B o rch a rd c o n tin u a ra m com o a te ndim en to de Juiz de Fora até 1886, ano em q u e a C om panhia União e Indústria deixou de existir. A C om unidad e Evangélica de Juiz de Fora recebeu da C om panhia o te rre n o em que se achavam co n stru íd a s a igreja e a escola e in icio u a c o n s tru ç ã o de um novo tem plo, q u e foi c o n c lu íd o em 1886. A liderança local d irigiu-se, então, ao C onselho D iretor da Igreja Evangélica da Prússia e s o lic ito u o envio de um pastor. O período dessa so lic ita ç ã o foi p ropício, pois a Prússia em expansão p ro cu ra va novos m ercados para os seus p ro d u to s e utilizava-se da igreja, qu e no E stado P russiano era um d e p a rta m e n to do Estado, para m anter o c a rá te r germ â n ico das co lô n ia s de im igrantes alem ães no exterior(42). A 30 de sete m b ro de 1887, o P astor Johann Caspar S chm ierer (1848-1896), que de 1876 a 1886 fo ra Pastor em Sapiranga, no Rio G rande do Sul, assum ia o p a storado de Juiz de Fora. Neste ano, Juiz de Fora já estava ligada p o r via férrea ao Rio de Janeiro. S chm ierer foi pastor de Juiz de Fora até 1896, q u a n d o por ocasião de um a s u b s titu iç ã o no Rio de Janeiro foi vitim ado pela fe b re am arela. Nos relatos q u e fez de seu tra b a lh o , S chm ierer dá c iê n c ia de estar a te n d e n d o p ro te sta n te s em Mar de Espanha, num to ta l de 15 fam ílias, to d a s elas d e scend entes de três fam ílias em igradas de R udolstadt, na A lem anha(43). No século XIX, Juiz de Fora ainda co n ta ria com a c o la b o ra ç ã o dos pastores A lfred A ndreas Precht, de 1896-1898, e Johann J a ko b Zink, de 1 899-1908.

Quem fala da presença p ro te sta n te em Juiz de Fora no sé cu lo XIX não pod e deixar de m encio n a r a p enetraçã o dos m etodistas. C oncluo, pois essas m inhas c o lo ca çõ e s sobre Juiz de Fora, a p re se n ta n d o a lg u n s dados sobre os m etodistas. Desde maio de 1884 os m etodistas iniciam tra b a lh o m issionário em Juiz de Fora.

(41) Cf. 49 R elató rio d o C o m ité p a ra os A lem ães P ro te s ta n te s na A m é ric a do Sul, c ita d o em SC H R Ö D ER, F e rd in a n d , op. cit., p. 341.

(42) Cf. D R EH ER , M a rtin N o rb erto . T ra n s fo rm a ç õ e s do lu te ra n is rn o b rasileiro . In: E studos T eológicos, S ão Leopoldo, 24(1): lOss, 1984; SC H R Ö D E R , F erd in a n d , op. cit., p, 342.

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P reparand o esse tra b a lh o foram enviados, inicia lm e n te , três c o lp o r- tores a Ju iz de Fora: Sam uel Elliot, H erm ann G a rtn e r e L u d g e ro de M iranda. Estes distribuíram e venderam Bíblia e lite ra tu ra religiosa, a lugaram uma casa à Rua S anto A n tô n io n9 10 e, em seu piso térreo, m ontaram um a casa de cu lto s p úblicos. D u ra n te três sem anas p re g o u ali o Rev. Jam es L. Kennedy. Os tem pos não eram m ais os m esm os de qu e falava H erm ann B orchard, em 1871, q u a n d o o p ro fe s s o r c a tó lic o era co n co m ita n te m e n te sa c ris tã o p rotestante. As pregaçõe s de K ennedy foram in te rro m p id a s p o r um sa ce rd o te ca tó lic o e a casa de c u lto apedrejada. H ouve in d ig n a çã o no seio d a p o p u la çã o e o p a d re te ve q u e deixa r Juiz de Fora, às pressas. L ogo c rio u -s e um a c o n g re g a ç ã o no c e n tro d a cidade. Com a a tividade de H erm ann G artner e n tre os alem ães, nas p ro xim id a d e s d a estação de M ariano P rocópio, su rg iu tam bém uma E scola D om inical em lín g u a alemã, d a qual surg ira m algum as conversões ao m etodism o(44).

Em dezem bro d e 1885, o jo rn a l “ B u sca -P é ” tra zia a rtig o de A lb e rto Besouchet, e n titu la d o “ C orre p o r aí’ ’, com palavras s ig n ifi­ cativas para a situ a çã o cria d a com a pen e tra çã o do pro te sta n tism o d e m issão em Juiz de Fora: Os dois pastores que estavam a pregar na cid a d e eram “ dois satans pre g a n d o c o n tra a religião do Estado (...), a fim de a balar as crenças religiosas dos bons cristã o s e se duzi-los ao m esm o tem po para com erem o pão q u e o d ia b o am assou e beber vin h o quassia e a s s o fe tid a ” . Dizia ainda: “ Também batizam ilegalm ente, sustentam te o ria s falsas e h o rrip ila n te s q u e são inco n ve n ie n te s para o lar d o m é s tic o ” (45). Desde ja n e iro de 1886, os m etodistas com eçaram a publicar, em Juiz de Fora, o “ M etodista C a tó lic o ” , com o qual procuravam re b a te r os ataques qu e lhes eram feitos. A c o n g re g a çã o c o n ta va com um total de 33 m em bros. A capela teve to d o s os seus vid ro s q u e b ra d o s e os m etodistas tiveram q u e s o lic ita r a p ro te çã o da polícia. Em fe ve re iro de 1886, os m etodistas iniciavam tra b a lh o em Mar de Espanha, mas o p re g a d o r foi intim ado a d e ixa r a cid a d e pelo D elegado de Polícia. Em Rio Novo veio a a c o n te c e r fa to sem elhante, q u a n d o o p re g a d o r m etodista foi preso po r dois praças e um cabo. O tip o de p re g a çã o m issionária estava tra ze n d o divisão re lig io sa para d e n tro das fam ílias, e a reação não se fazia esperar. Em 1890, criavam os m etodistas um a escola em Juiz de Fora(46).

(44) Cf. SALVADOR, Jo sé G o n çalv es. H istória do M etodism o no BrasD. V o lu m e I: D os P rim ó rd io s a té à P ro c la m a ç ã o d a R ep ú b lica (1835 a 1890). S ã o B ern ag d o do C am po, Im p re n s a M eto d ista , 1982, p. 147-149.

(45) SALVADOR, Jo sé G o n çalv es, op. cit., p. 182. (46) SALVADOR, Jo sé G o n çalv es, op. cit., p. 182ss.

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2. Philadelphia ou Teófilo Ottoni

No in ício d o século XIX o N ordeste da p ro vín cia de Minas G erais é área d e g ra n d e pobreza. F alta-lhe um c e n tro de gra vid a d e e c o n ô m ic a e, além disso, é a b so lu ta a fa lta de estradas. Na área há densas florestas e m uita m aleita. A p o p u la çã o é fo rm a d a basicam en­ te p o r diversos g ru p o s indígenas, q u e recebem a designa ção g e n é rica de bo to cu d o s. Para essa área são desen vo lvid o s os p lanos d o p o lítico liberal T h e o p h ilo B e n e d icto O ttoni(47), um dos a póstolo s m ineiros do “ p ro g re s s o ” . O ttoni planeja c ria r um a nova Província no Im pério, a qual a b ra n g e ria as co m a rca s de São M ateus, no E spírito Santo, J e q u itin h o n h a e São Francisco, em M inas Gerais, e Caravelas e P orto Seguro, n a Bahia. C apital dessa nova P rovíncia e c e n tro de g ravidade e co n ô m ic a d a região seria a cid a d e q u e O ttoni planejava cria r:P h ila d e lp h ia , nom e q u e expressa os ideais liberais de Jefferson.

Para to rn a r possível a c o n c re tiz a ç ã o d esse plano, O ttoni, com o rep re se n ta n te da Firma O tto n i & Cia, subm eteu ao G overno Imperial, em 1847, um m em orando sobre “ C ondiçõe s para a In co rp o ra çã o de Uma C om panhia de C om ércio e N avegação do Rio M ucuri, qu e se D enom inará Cia. d o M u c u ri” (48). A re so lu çã o do Governo, ap ro va n d o a c ria ç ã o da C om panhia, fo i assinada a 31 de m aio de 1847. A C om panhia recebeu d iversos privilégios: a) E xclusi­ vidade da n avega ção a v a p o r de São José de P orto A legre até a Bahia e ao Rio de Janeiro; b) E xclu sivid a d e de navegação a v a p o r no M ucuri e afluente s; c) D ireito d e e sta b e le cim e n to de fretes; d ) D ireito de c o b ra r d o G overno o va lo r das despesas com obras, q u e houvessem sido contraídas, após q u a re n ta anos; e) C oncessão de área de terras para e sta b e le ce r colo n iza çã o (4 9 ). Além disso, a Assem bléia P rovincial de M inas G erais a u to riz o u a C om panhia a c o n s tru ir estradas e a c o b ra r pedágio nas m esmas. C oncedeu-lhe, ain d a isenção p o r 80(!) anos dos im p o sto s p ro vin cia is. Para pro te g e r a C om panhia c o n tra os selvícolas, a P rovíncia com prom eteu-se , ainda, a c o n s tru ir um quartel(50). Ju n to a esse quartel seria estabelecida, mais tarde, a C olônia M ilita r de U rucu.

A C om panhia o rg a n izo u -se d e fin itiva m e n te em 1852 com um capital de mil e d u ze n to s co n to s de réis, re presenta dos po r q u a tro mil ações no v a lo r de tre ze n to s m il-réis. O ttoni deteve um o ita vo do

(47) P a re c e -m e q u e a m e lh o r b io g ra fia so b re O tto n i c o n tin u a a s e r a q u e la da a u to ria de CHAGAS, P au lo P in h eiro . T eófilo O tto n i M inistro d o P ovo. 3 e d . Belo H o riz o n te , Ita tia ia , 1978.

(48) Cf. CHAGAS, Pau lo P in h eiro , op. cit., p. 154. (49) Cf. CHAGAS, Pau lo P in h eiro , op. cit., p. 155.

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total(51). Neste ano foi fundad a a locaiid-.do de P hiiadelphia, ju n to

ao Rio de T odos os Santos, e iniciada o de uma estrada

q u e ligaria P hiiadelp hia à lo ca lid a d e de •"•.v.rs. ju n to ao M ucuri.

Dois anos mais ta rd e ja existiam arm azé-’ m P hiiadelp hia e em

S anta Clara.

Para c o n s e g u ir a m ão-de-obra para a c o n s tru ç ã o da estrada e para co lo n iz a r as terras c o n ce d id a s pelo G overno Imperial, O ttoni c e le b ro u c o n tra to com a Firma M orgenstern & S chlobach , de Leipzig. E stabeleceu-se que os c o lo n o s re v e ria m te r um capital m ínim o de 200 táleres, ou tre ze n to s e sessenta m il-réis. Os p rim eiros c o lo n o s chegaram a 23 de ju lh o de 1856, perfa ze n d o um total de 1.031 pessoas. Eram suíços e alem ães(52) C om o co n tin u a sse a falta de m ão-de-obra e co m o nem to d o s os inte re ssa d o s pudessem d is p o r da q uantia estipulada, O ttoni re c o rre u à im p o rta çã o de im ig ra n te s de P otsdam , ond e foram esvaziados os presídios, repetindo -se assim o q u e já a co n te c e ra no Rio G rande do Sul com a im p o rta çã o de p re sid iá rio s de M ecklenburg(53). Com o tam bém estes im igrantes não fossem su ficie n te s e m uitos se evadissem da C olônia, O ttoni re co rre u à A sso cia çã o Central de C olonização, no Rio de Janeiro, q u e lhe enviou c o lo n o s suíços que haviam tra b a lh a ­ do em sistem a de p a rce ria em fazendas de caie, na P rovíncia de São Paulo(54). S eguiram -se im igrantes vmdos cia França, B élgica e Holanda, que foram localizado s às mó- ^ r ; do Rio Urucu, e ainda levas m enores p ro ce d e n te s da A lem ann a

Com o a co n te ce u com a m aioria acs em preend im e ntos c o lo ­ niais, as prom essas feitas aos a g ricu lto re s foram m aiores do que as p ossibilidad es de cu m prim ento. Q uando da chegad a dos prim eiros nem m esm o te to havia q u e os pudesse abrigar. Os relatos sobre a situ a çã o de m iséria em q u e são e n c o n tra d o s esses prim eiros im igrantes são deprim entes: há su b n u triç ã o e fom e; em m eio à estrada uma m ulher dá à luz seu filho, há aíías taxas de m ortalidade infantil. Altas são tam bém as taxas de r^ - ; validade e n tre os adultos: de 28 suíços assentad os ju n to ao M ucuri J 3 m orreram . Os s o b re v i­ ventes foram reassentados na lo c a lid a c t de Boa Vista, ond e mais c in c o m orreriam . O trá g ico desse úIím ;.-to é que esses suíços a n te rio rm e n te haviam tra b a lh a d o n o sita?;..-a ue pa rce ria do S enador Vergueiro, em São Paulo, e estavam m i y i ^ i d o pela segunda vez em

(51) Cf. CHAGAS, Paulo P in h eiro , op. cit., p. 173. (52) Cf. CHAGAS, Paulo P in h eiro , op. cit., p. 21 lss.

(53) Cf. H U N SC H E, C arlo s H. O B iênio 1824/25 da Imigr „ o ^ m z a ç ã o A le m ã no Rio Grande do Sul (P rovíncia de São Pedro). 2. ed. P o rto A legre, a ; ) 7 5, p. 62-74.

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b u sca de m elhor sorte. D ificuldade s fin a n ce ira s levaram a q u e a C om panhia do M ucuri, em ce rto s períodos, não pudesse fo rn e c e r nem m esm o alim entos aos im igrantes(55).

V iolento é o c h o q u e dos c o lo n o s com os indígenas. Também na área de Philadelphia, o im ig ra n te é in s tru m e n to usado na liq u id a ç ã o do indígena. Isso deve ser afirm ado, m esm o qua n d o se sabe da g rande p re o c u p a ç ã o de T h e o p h ilo B e n e d icto O ttoni com os indígenas(56). J.J. von T sch u d i nos dá relatos deprim ente s a respeito da liq u id a çã o dos povos indígenas nessa área. Cita o fato de u m co m a n d a n te m ilitar atacar uma aldeia b o to c u d a e liq u id a r 150 indígenas e tra ze r co m o tro fé u trezentas orelhas de indígenas(57). Q uando os so ld a d o s atacam uma aldeia, em “ expediçõ es de repre sá lia ” , p ro cu ra m não m atar as crianças, as quais, p o s te rio r­ mente, vendem a razão de 100 m il-réis cada. C râneos de indígenas tru c id a d o s são ve n d id o s a m useus a n tro p o ló g ic o s da Europa(58). É a in d ú stria da m orte. O c o lo n o q u e vai re ce b e n d o te rra s de índio ch o ca -se com este, defe n d e -se e mata.

Não m uito lo n g e de P hiladelp hia foi lo ca liza d a a C olônia M ilitar de U rucu para p ro te g e r os e m p re e n d im e n to s da C om panhia do M ucuri e os tra n s p o rte s de m ercadorias. Esses sold a d o s p a rtic i­ param do exterm ínio dos indígenas. C riada por d e c re to de 24 de fevereiro de 1854, a C olônia M ilitar de U rucu recebeu, em 1858, da R epartição Geral de Terras Públicas, 164 holandeses e belgas. Após 8 meses de assentam ento, 1 /3 dos im igrantes havia m o rrid o em co n se q ü ê n cia d a in ca p a cid a d e a d m in istra tiva da C olônia e em virtude de doenças(59). A c ria ç ã o da C olônia M ilita r e a lo calização de co lo n o s em sua proxim id a d e evidencia, mais um a vez, a tese q u e apresentam os no início desta e xposição : m uitas vezes, os co lo n o s são localizado s nas proxim id a d e s de a cam pam en tos m ilitares para supri-los com gê n e ro s alim entícios.

Com a vin d a dos im igrantes p rin c ip ia tam bém o período de desbravam ento e de va lo riza çã o das terras. Log o surgem fa ze n d e i­ ro s de o u ta s áreas de M inas G erais, q u e se in sta la m nas p roxim idade s de P hiladelphia. Em 1861, já c h e g a a 30 o núm ero de fa zende iro s na região, os quais trazem co n sig o os seus escravos. Só Joaquim José de A ra ú jo Maia, cu n h a d o de O ttoni, possuía mais de

(55) Cf. os re la to s d e H ö lle rb a c h em BILLROTH, A lbert, op. cit., p. 278s. (56) Cf. CHAGAS, P aulo P in h eiro , op. cit., p. 182ss.

(57) Cf. TS C H U D I, J o h a n n J a k o b von. op. cit. vol. 2, p. 263. (58) Cf. T S C H U D I, J o h a n n J a k o b von. op. cit. vol. 2, p. 264. (59) Cf. T S C H U D I, J o h a n n J a k o b von. op. cit. vol. 2, p. 342.

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cem escravos. O u tro fa ze n d e iro da área é M anoel Esteves O tto- ni(60). O fa ze n d e iro p ode d e d ica r-se à m o n o cu ltu ra , e n q u a n to qu e o im igrante vai lhe fo rn e c e r a b a ix o c u s to os dem ais gên e ro s alim entí­ cios, pois não há c o n d iç õ e s de e s c o a r a p ro d u ç ã o do colono.

Em fe ve re iro de 1858 viviam em to d a s as co lô n ia s do M ucuri 1013 pessoas e, n o d e c o rre r d o m esm o ano, o n úm ero subiu para 1768 indivíduos(61). Em v irtu d e das d ific u ld a d e s fin a n ce ira s da C om panhia M ucuri, da p ró p ria fam ília O ttoni e de questõe s de ordem política, o G overno Im perial assum iu as C olônias d a C om panhia do M ucuri, no a n o de 1861. Neste an o viviam em to d a s as colônias tã o -so m e n te 487 colonos. Na C olônia de S anta Clara havia 78 indivíd u o s (58 em M acaco, 11 em B arreado e 9 em São Mateus), nas C olônias de P hiladelp hia e do Rio de T odos os Santos havia 409 (7 em Cana Brava, 3 em Santa A na , 27 em S anta Maria, 83 em T odos os Santos, 136 em São Jacinto, 55 em S anto A n tô n io , 62 em São B enedito e 36 em P hiladelphia). S egundo o c re d o religioso, 270 eram protestantes, 165 c a tó lic o s e 52 c ria n ç a s não haviam sido batizadas(62). Na C olônia M ilitar de U rucu viviam , em 1861, 221 co lo n o s. Destes, 151 eram c a tó lic o s e 70 protestantes.

Os pro te sta n te s das c o lô n ia s d o M ucuri ficaram sem acom ­ p anha m e nto re lig io so reg u la r até o a n o de 1863. É c e rto que de 1856 a 1863 os p ró p rio s co lo n o s p ro te sta n te s devem te r o rg a n iza d o sua vida religiosa, mas é p o u co o q u e sabem os desse período. Q uando T schudi visita a C olônia em fe ve re iro de 1858 já estava sen d o c o n s tru íd a um a igreja p ro te sta n te em Philadelphia. R espon­ sável pela c o n s tru ç ã o fo i o e n g e n h e iro p ru ssia n o Burow (63). T sch u ­ di inform a-nos ain d a que para a c o n s tru ç ã o dessa igreja o G overno Im perial c o n trib u íra com a q u a n tia de 4 co n to s de réis. O tem plo foi c o n c lu íd o em 1860(64). Q uando da visita de T sch u d i à colônia, d iversos im igrantes suíços s o lic ita ra m -lh e q u e se em penhasse na c o n s e c u ç ã o de um pastor(65). A s in stâ n cia s de Tschudi, a S ocie­ d ade M issionária de Basiléia enviou, em 1862, o P astor Johann Leonh ard H ollerbach. H ollerbach nascera a 9 de o u tu b ro de 1835, em W ertheim , Baden, e fo ra até os seus 23 anos professor. Em 1858

(60) Cf. TSCH U D I, J o h a n n J a k o b von. op. cit., vo l.2, p. 307. (61) Cf. TSCH U D I, J o h a n n J a k o b von. op. cit. 2, p. 345. (62) Cf. TS C H U D I, J o h a n n J a k o b von. op. c i t vol. 2, p. 245s. (63) Cf. T SC H U D I, J o h a n n J a k o b von. op. cit. vol. 2, p. 237.

(64) Cf. T SC H U D I, J o h a n n J a k o b von. op. cit. vol. 2, p. 237, o n d e se e n c o n tra re p ro d u z id a g ra v u ra d e s ta p rim e ira c a s a de o ra ç ã o p ro te s ta n te .

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ingressou no S em inário de M issão de Basiléia, ond e recebeu sua fo rm a çã o teológica(66). A 5 de abril de 1862, H ollerbach, ju n ta m e n te com o P astor G o ttlie b S troelle, que já co n h e ce m o s de P etrópolis e de Juiz de Fora, ch egava ao Rio de Janeiro. Em 23 de m aio de 1862 dava-se a festiva re ce p çã o do P astor em Philadelphia. O relato qu e nos legou é expressão e lo q ü e n te da alegria desses im igrantes protestantes, que após sete anos recebiam a prim e ira visita pasto- ral(67).

Em ju lh o de 1863, H ollerbach havia c o n c lu íd o o prim e iro levantam ento dos pro te sta n te s que haveria de pastorear. Ao lo n g o d o M ucuri, “ num esp a ço de mais de c in q ü e n ta h o ra s ” viviam ce rca de 400 protestantes, naturais de Baden, W ürttem berg, Alsácia, Hessen, Prússia-R enana, Pom erânia, Saxônia, Suíça, B élgica, Ho­ landa (ce rca de 70), e sem pre um francês, um belga, um o rig in á rio d e Holstein, um de H am burgo e um de Hannover. Diz H ollerbach qu e tem dia n te de si a “ am ada A lem anha em m in ia tu ra ” (68). Essa expressão vale em to d a a sua am plitude, pois H ollerbach tem dia n te de si to d o o asp e cto das tra d iç õ e s litú rg ic a s das Igrejas T e rrito ria is A lem ãs e dos países vizin h o s da A lem anha. A qui é necessário q u e se d ig a que, em algum as Igrejas T erritoriais, a litu rg ia era algo quase qu e inexistente, em o u tra s era m uito rica. Um m em bro lu te ra n o c h e g a a afirm ar: “ Q uando não posso o u v ir a liturgia, não hou ve c u lto para mim, e não irei mais à ig re ja ” (69). Os holandeses calvinistas, no entanto , rejeitam as tra d iç õ e s lu te ra n a s trazidas por H ollerbach, não querem o c ru c ifix o , o ‘A fg o d ’ (ídolo) (70). O utros, q u e se dizem p o ssu id o re s d e um espírito p ro g re ssista dizem ao Pastor: “ Eu sei q u e o se n h o r tem q u e e n sin a r assim com o ensina; sei que gostaria d e a co m p a n h a r o espírito da nossa época, mas não p o d e ” (71). Mas, o P astor tam bém sabe in fo rm a r q u e em P hiladelphia o so cia l-d e m o cra ta c o n v ic to passa a fre q ü e n ta r os c u lto s da co m u n id a d e luterana(72). Assim, entre luteranos e calvinistas, entre ateus e ex-ateus, enceta-se a cam inhada p ro te sta n te em Teófilo

(66) Cf. SC H LU PP, W a lte r J. V asos de Barro ou D eus c a ça m esm o co m gatos. S ão L eopoldo, R o te rm u n d , 1983, p. 70s.

(67) Cf. BILLROTH, A lbert, op. cit., p. 262ss. (68) Cf. BILLROTH, A lbert, op. cit., p. 264. (69) Cf. BILLROTH, A lbert, op. cit., p. 264. (70) Cf. BILLROTH, A lbert, op. cit., p. 267. (71) Cf. BILLROTH, A lbert, op. cit., p. 268.

(72) C a r t a d e H o l l e r b a c h .d e 10 d e a g o sto d e 1881. em : R O TH E, M ax (org.X 100 a n o s de co lo n iza çã o a lem ã em Teúfilo O tto n i M inas Gerais. Ijuí, M ich aelsen & Cia, 1956, p. 24.

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