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Desafios Profissionais do Treinador Desportivo: Como Aprender Para Melhor Treinar. Rui Resende & Júlia Castro. Para Citar

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Desafios Profissionais do Treinador Desportivo: Como Aprender Para Melhor Treinar

Rui Resende & Júlia Castro

Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano (CIDESD), Instituto Universitário da Maia (ISMAI)

Para Citar

Resende, R., & Castro, J. (2015). Desafios profissionais do treinador desportivo: Como aprender para melhor treinar. In T. Rosário & E. Gonçalves (Eds.),

Universidade e o mercado de trabalho: Do criar saber ao saber fazer (pp. 39-47). Maia: Edições ISMAI - Centro de Publicações.

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Desafios profissionais do Treinador Desportivo: Como Aprender Para Melhor Treinar

A profissão de treinador desportivo é exercida sob um elevado escrutínio público dependendo a sua atividade da obtenção permanente de resultados para que continue o seu exercício profissional. Neste sentido, o treinador contemporâneo necessita de uma forte fundamentação científica, técnica e humana que o habilite a liderar uma equipa multidisciplinar composta por diferentes especialistas.

Nos último anos a formação de treinadores em Portugal sofreu uma grande evolução nomeadamente através da certificação do titulo de treinador – que passou do âmbito específico das federações desportivas para um organismo governamental e que culminou na publicação do Plano Nacional de Formação de Treinadores. Este

referente define a formação em quatro graus bem como estabelece uma matriz progressiva de desenvolvimento de competências. A articulação entre a formação académica e a experiência profissional emerge como uma estratégia para melhorar a qualificação dos treinadores.

A este desiderato a universidade tem que responder com propostas de inegável robustez científica em ligação com os contextos de prática, que consolidem a sua importância no processo formativo do treinador. Aliás, o próprio Plano Nacional de Formação de Treinadores no seu preâmbulo destaca que se deve estimular o acesso dos treinadores à formação académica revelando a consciência da mais valia que este percurso pode ter para a qualificação profissional do treinador.

O propósito deste exposição é colocar em evidência quais as necessidades a enfrentar no processo de formação desportiva. Consequentemente, incide o seu foco nos atuais desafios que se colocam ao profissional que exerce a sua atividade como treinador desportivo no que diz respeito ao seu reconhecimento e formação.

Perspetiva o desenvolvimento positivo dos jovens através do desporto e, por fim, centra-se nas competências do Treinador

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Em Portugal em 2012 de acordo com dados da PorData, 20.090 treinadores exerciam a função nas diversas modalidades num universo de 524.167 atletas. Regista-se que esta atividade (que se deseja profissão) é maioritariamente masculina (17.692 do sexo masculino para 2.398 do sexo feminino) e que a grande maioria dos atletas federados se situa em escalões de formação até juniores (304.217). Também ao nível dos praticantes se diferencia substancialmente a sua participação desportiva ao nível do sexo com 387.691 (74% do total de praticantes) atletas do sexo masculino por contraponto a 136.476 (26% do total de praticantes) do sexo feminino.

É neste contexto que o desafio profissional enfrentado pelo treinador desportivo em Portugal se consubstancia, através de um crescente reconhecimento social ao qual não é de todo indiferente o reconhecimento da profissão conferido através do quadro legal mencionado. No entanto, ao contrário de outras profissões como a medicina, a engenharia ou a docência, entre outras, em que o profissional vê atestada a sua competência pela certificação outorgada a nível académico superior, no caso do treino desportivo esta competência não emerge simplesmente pela obtenção de um título profissional. Com efeito, os contornos muito específicos em que se desenrola a atividade do treinador desportivo implica uma exposição e uma avaliação da sua atividade que nem sempre é rigorosa e criteriosa.

A especificidade estabelece-se desde logo pelo diferente estatuto que os treinadores desportivos podem ostentar. Podem ser treinadores voluntários que exercem a sua atividade de forma benemérita e pelo prazer que têm em estar envolvidos no processo desportivo. Concentram a sua atividade essencialmente na área da formação desportiva de jovens, constituindo-se como os iniciadores desportivos das crianças e jovens. Habitualmente este grupo de treinadores é

constituído por antigos praticantes do desporto em causa e pais que, acompanhando os filhos, participam ativamente como treinadores. Em Portugal também é muito comum observar jovens dos escalões mais velhos a servirem de monitores na iniciação

desportiva dos mais novos. Frequentemente este leque de treinadores possui pouca habilitação geral e específica para desempenhar a tarefa.

Um outro tipo de treinadores são os que apelidamos de semiprofissionais que, apesar de auferirem algum montante pecuniário pela sua atividade, este não constitui de todo o seu principal rendimento. Exercem uma profissão e, no fim do dia, ocupam os seus tempos livres exercendo a atividade de treinador desportivo. Caracterizam-se estes treinadores por serem substancialmente mais preparados para exercer a sua

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atividade, com maior formação académica e específica. Claro que, neste caso, a variável modalidade pode constituir um forte fator diferenciador no perfil destes treinadores, no entanto, o facto de a sua função ser subsidiada estabelece

inevitavelmente um quadro de exigência superior ao exercício da sua atividade. Por último, existem os treinadores profissionais. Cremos que o número destes treinadores é no espectro global muito reduzido, devendo-se confinar àqueles que desenvolvem o seu trabalho em contextos competitivos de alto rendimento desportivo nas diversas modalidades desportivas alargando-se um pouco mais o seu espectro na modalidade de futebol. Contudo, a constância desta carreira é diminuta pois, como já alertamos, a este nível a sua dependência de resultados desportivos ainda é mais manifesta.

Formação de Treinadores

As políticas de desenvolvimento desportivo passam inevitavelmente pelo incremento da exigência formativa do treinador desportivo preparando-o de forma adequada para responder às exigências da sua atividade. Numa cultura que se deseja de exigência, a qualificação dos processos de formação de treinadores é um evidência, porquanto dela depende, o desenvolvimento do desporto na sua globalidade. Este novo paradigma de formação deve ser prenunciador da afirmação socioprofissional e da consolidação da carreira de treinador.

Evidências baseadas na investigação tornam manifesto que o treinador trabalha num ambiente dinâmico, complexo e confuso e que a sua prática é

iminentemente contextual. Por outras palavras o treinador necessita de se conhecer a si próprio, conhecer os seus atletas, identificar como é que os atletas aprendem, entender o que se passa no seu mundo, que tipo de fatores são relevantes no seu espectro social entre outras realidades. Consequentemente ser treinador é muito mais do que saber, ou ter um grande conhecimento específico do desporto em causa. A panóplia de saberes adstrita a um treinador eficaz não se compadece com uma

formação estritamente alicerçada na prática desportiva, seja ela adquirida como antigo praticante (independentemente do nível competitivo atingido) ou através da

acumulação de experiências como treinador em atividade. Terá que passar

inevitavelmente por uma sólida aprendizagem das ciências que suportam a atividade física e o desporto e, acima de tudo, como é que este conhecimento se adequa a transformar os comportamentos dos atletas. É esta transformação de comportamentos

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que se pretende que o treinador seja capaz de operar, seja ao nível da execução de um técnica, ao nível de uma compreensão tática ou entendimento estratégico em relação a uma competição, ou considerando outra dimensão, como é que se deve relacionar com os pares, sejam eles parceiros ou opositores. Com esta transformação o treinador deve visar a progressiva autonomia do atleta enquanto agente consciente da busca pela performance desportiva e como pessoa, ajudando a construir um indivíduo com uma personalidade integra, adaptado socialmente e capaz de fazer valer a sua

cidadania. Forçosamente para atingir em pleno esta pretensão o treinador necessita, antes de mais, de também ele ser uma pessoa culta capaz de entender o mundo atual e, no casos dos jovens, compreender a complexidade das suas aspirações, necessidades e anseios que o seu crescimento provoca.

Reforça-se desta forma a importância que uma formação académica de base deverá ter para que o futuro treinador possa a partir daí, edificar toda a sua mestria. Esta formação deve agrupar a aquisição e domínio dos conhecimentos científicos com uma experienciação efetiva onde o treinador pode operacionalizar as suas

aprendizagens de uma forma tutorada buscando a competência profissional. Para isso a universidade terá de conter nos seus quadros professores com capacidade e

experiência pedagógica para supervisionar esta formação em contexto de trabalho. Um outro desafio para com a universidade advém da exigência de uma formação continuada durante a carreira de treinador. Esta obrigação decorre da consciência de que um treinador necessita de estar em permanente atualização dos seus saberes. Consiste assim numa oportunidade e também um desafio para que a universidade saiba utilizar os seus saberes disseminando-os de forma a potenciar o exercício profissional. Para isso deverá saber adequar a investigação aqui realizada às necessidades de formação dos treinadores no sentido em que os treinadores

reconheçam através da evidência um forte aliado no reforço das suas competências. Desenvolvimento Positivo dos Jovens Através do Desporto

Da fase em que uma criança inicia a sua participação desportiva pela mão de uma adulto até à sua fidelização e autonomia há um longo caminho a percorrer não raramente preenchido de insucessos, frustrações e consequente abandono precoce da atividade desportiva. Urge por isso refletir sobre os contornos que implicam a forma como a criança inicia a prática desportiva até que, quando já jovem, considere esta experiência como uma mais valia continua na concretização de uma vida ativa a longo

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prazo. A materializar-se, os benefícios públicos duma população fisicamente ativa seriam substanciais e com profundos reflexos na economia de um país. Porém, esta aspiração ainda conflitua com a iniciação desportiva dos jovens muitas vezes porque preocupações demasiado prematuras com o rendimento desportivo são impostas transformando a experiência desportiva frustrante.

Muir, Morgan, Abraham, e Morley (2011) indicam que existem dois tipos de abordagem ao treino de jovens e que nenhum deles aponta para as necessidades de desenvolvimento a longo prazo da criança e do jovem. Por um lado, o desporto para a performance decalcado do desporto dos adultos onde ocorre demasiadas vezes uma especialização precoce assim como a seleção de jovens com base na sua performance atual. Por outro lado, existe a preocupação de ter as crianças ativas e ocupadas onde o objetivo desportivo passa simplesmente pela participação desportiva como um

passatempo entre coisas mais importantes.

No entanto, apesar destas atividades se sustentarem na perspetiva de

desenvolvimento das crianças através da prática e pelo jogo, provavelmente, falta uma estrutura e direção suficiente para que uma aprendizagem consistente ocorra.

Consequentemente, muitas crianças correm o risco de serem expostos tanto a programas demasiado exigentes que promovem altos volumes de competição e pressão para vencer como, por outro lado, a um tipo de prática que de tão livre que é, o desenvolvimento fica deixado à sorte pelo que somente os naturalmente dotados é que se desenvolvem. É então necessário que o sistema desportivo encontre respostas no sentido de possibilitar que, tanto o jovem que deseja fruir da participação

desportiva o possa fazer de uma forma seriamente enquadrada, como aquele que pelos seus méritos e desejos procure a performance como a máximo aspiração.

O primeiro que visa como prioridade a obtenção de resultados auto

referenciados como a diversão, o desenvolvimento de habilidades e o vínculo a um estilo de vida saudável. O segundo, que pretende desenvolver competências que se evidenciam essencialmente em contextos competitivos.

É desta forma que se deverá perspetivar o desenvolvimento positivo do ser humano, onde o desporto se pode incluir como uma pedra angular e pelo qual vale a pena empenhar-se. Radica numa filosofia que encara a relação com os outros de uma forma positiva e surge com elevada pertinência no contacto com os jovens onde o desporto é um campo verdadeiramente privilegiado.

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A este propósito Orlick (2014) “comenta que pessoas que são negativas são pessoas que falharam na aprendizagem em como ser positivas” (p. 38) e que se desejamos que as crianças, jovens e adultos aprendam a viver as suas vidas de forma positiva, focados em formas de melhorar a vida, precisamos de os ensinar como fazê-lo. Com efeito, apesar de ser genericamente aceite que o desporto pode ser um meio para desenvolver competências de vida, não é consensual entre os académicos que exista evidência suficiente que suporte este facto (Gould & Westfall, 2014).

O desporto reclama para si valores como o respeito pelas regras e pelos outros, incremento da capacidade de superação, perseverança e resiliência, saber lidar com a derrota entre outros. Está associado ao aumento de autoestima e autoconfiança dos jovens, da sua realização académica e de uma maior preparação para o exercício da cidadania (Côté, Bruner, Erickson, Strachan, & Fraser-Thomas, 2010). Assim, é considerado que o desporto pode providenciar experiências positivas, porém, estas vivências não estão completamente asseguradas sem que o ambiente desportivo esteja devidamente enquadrado por forma a assegurar que o jovem usufrua plenamente do que o desporto pode efetivamente proporcionar.

Para um desenvolvimento positivo dos jovens através do desporto a qualidade das relações interpessoais que os atletas estabelecem com os treinadores (Bruner, Hall, & Côté, 2011) é fundamental, percebendo-os como professores, mentores e amigos, descrevendo-os como bons ouvintes, pacientes e profissionais dentro e fora do contexto de prática. Neste sentido, o treinador deve assumir como características fundamentais para a sua atuação uma filosofia de vitória em que o esforço e divertimento suplante o vencer a todo o custo. Deverá construir e apresentar uma abordagem positiva nas sessões de treino privilegiando na sua prática uma frequência elevada de reforços positivos e de instruções técnicas em que a preocupação e

empenho pessoal pelo desenvolvimento do atleta esteja sempre presente. A criação e estabelecimento de normas de funcionamento pelo grupo no seu conjunto enfatiza o comprometimento e as obrigações mútuas por parte dos atletas assim como fomenta a responsabilidade partilhada na tomada de decisão. Numa dimensão mais pessoal o treinador necessita de continuamente aperfeiçoar a sua autoconsciência usando os processos reflexivos de forma consistente. Aqui, recomenda-se uma reflexão escrita dos acontecimentos vivenciados pela equipa que lidera pois, o procedimento que alia a transformação do processo mental da reflexão para um discurso escrito, dá luz a

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uma maior clareza de ideias e fomenta a melhoria das ações e das atitudes subsequentes.

Competência do Treinador

Fazendo com que as premissas anteriores sejam concretizadas é fundamental que o treinador seja competente e desenvolva com eficácia a sua atividade. Neste sentido, concordámos que a eficácia do treinador consiste na aplicação consistente de um conhecimento profissional integrado, um conhecimento interpessoal e intrapessoal para melhorar os atletas (Côté & Gilbert, 2009).

O conhecimento profissional compreende (1) as áreas específicas do desporto, como os regulamentos e as regras, as instalações e equipamentos necessários assim como as técnicas e táticas inerentes ao desporto em causa; (2) os atletas,

nomeadamente através do conhecimento sobre as suas capacidades, respetivos estágios de desenvolvimento e a sua motivação; (3) as ciências do desporto onde se incluem: o crescimento e desenvolvimento do atleta; a medicina, nutrição, primeiros socorros e a prevenção de lesões; a luta contra a dopagem; a psicologia, a sociologia, a pedagogia e a didática; a biomecânica; a fisiologia; o estilo de vida; a gestão desportiva; (4) habilidades fundamentais como o domínio da comunicação oral e escrita, da matemática básica, da investigação e da tecnologia.

O conhecimento interpessoal consiste na forma como o treinador se relaciona com os demais intervenientes no ambiente desportivo  (1) o contexto social onde o treinador deve integrar a macro e a micro cultura do treino desportivo; o domínio ético e a segurança da participação desportiva por parte dos atletas; a relação com a família e com as pessoas que mais diretamente acompanham os atletas; a afinidade com os colegas treinadores; a relação com os agentes desportivos como árbitros, dirigentes e com as entidades como os clubes e as federações; a relação com os meios de comunicação social; (2) a forma como se estabelece o relacionamento através da comunicação; fomentar a empatia e simpatia; ser um bom ouvinte e questionar de forma pertinente; ter uma conduta pessoal apropriada; gerir e formar adequadamente o grupo como um todo e os atletas individualmente; (3) o conhecimento da

metodologia do treino inclui-se no conhecimento interpessoal pois enfatiza-se que o treino, pelo desenvolvimento que potencia, se efetiva no contexto da relação

estabelecida entre o treinador e o atleta. Neste contexto emergem as seguintes áreas: metodologia e teoria da aprendizagem; planeamento, organização e concretização;

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criação de um clima positivo de aprendizagem; observar, avaliar e proporcionar um feedback adequado; explicar e demonstrar, instruir de forma apropriada.

O conhecimento intrapessoal compreende a auto consciência do treinador assim como a sua capacidade reflexiva. Alia assim uma (1) filosofia pessoal do treinador que integra a sua identidade, os seus valores e crenças, assim como o seu estilo de liderança; (2) a aprendizagem ao longo da vida que exige que o treinador seja competente e proactivo na aprendizagem, seja autónomo e responsável, possua uma mentalidade adequada, use a auto reflexão de forma continua e consistente, tenha capacidade de síntese crítica, promova a inovação e a criação de conhecimento.

Todos estes conhecimentos somente serão revertidos em eficácia se o treinador exercer a sua atividade de forma empenhada.

Processo de Desenvolvimento do Atleta Através do Desporto

O processo de desenvolvimento do atleta através do desporto consubstancia-se através da sua efetiva participação em treinos e competições desportivas nas quais o treinador é o elo fundamental ao criar de forma coerente o ambiente em que o processo de desenvolvimento ocorre. Concretizando a função do treinador na sua atividade com os atletas mencionamos que o processo de treino deve ser dirigido para obter resultados dos atletas em quatro domínios: Competência, confiança, conexão e caráter (Erickson & Gilbert, 2013). Esta conceptualização expressa-se no

desenvolvimento positivo dos jovens através do desporto enquanto atleta e enquanto ser humano.

O primeiro domínio designa-se por competência. Consiste numa medida de performance e define-se como a proficiência que um atleta apresenta num

determinado domínio desportivo englobando as habilidades técnicas, táticas e físicas. O segundo domínio consiste na confiança desportiva e implica a segurança que o atleta manifesta enquanto está no ambiente desportivo, nomeadamente através da sua autoestima e autoeficácia. A conexão é o terceiro domínio e abrange as relações positivas que o atleta alcança no relacionamento que estabelece através do meio desportivo. Por último temos o carácter que se refere ao envolvimento moral e ético, assim como, a empatia que o atleta estabelece com os outros no ambiente desportivo.

Tal como temos vindo a evidenciar, a preocupação com o desenvolvimento através do desporto não se deve centrar numa via única para o alto rendimento pois existe uma população de crianças, de jovens e de adultos que deseja e merece a

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oportunidade de praticar desporto de forma enquadrada e séria, com propósitos competitivos mas não de elevado rendimento desportivo.

A Comissão Europeia para a Qualificação e Competências do Treinador (European Framework for Coaching Competence and Qualifications – EFRCCQ) estabeleceu a classificação de treinadores de participação e de performance como duas ocupações profissionais distintas na área do treino desportivo (ICCE & ASOIF, 2012).

Esta diferenciação vem colocar em evidência caminhos diferenciados na preparação dos treinadores de acordo com o público alvo com quem vão exercer a sua função.

Assim, a formação de treinadores para o desporto de participação visa todo um espectro de atletas que vai desde as etapas iniciais em que as crianças chegam ao desporto, passando pelos adolescentes até ao treino de adultos. Independentemente dos objetivos do treino desportivo do desporto de participação não serem de rendimento, isto não deve significar uma menor preparação na formação dos treinadores, pelo contrário. Tendo em conta que os níveis de motivação e adesão ao desporto passam pela fruição que o desporto permite e a promoção de um estilo de vida ativo, é determinante a capacidade do treinador em tornar consistente o programa desportivo que satisfaça este desejo.

Igualmente e refletindo nas habituais organizações dos clubes desportivos, não nos parece que seja incompatível que possam existir distintas realidades e propósitos num mesmo clube desportivo. Para isso, estes devem começar a estruturar-se no sentido de ampliarem as suas propostas de formação desportiva conciliando ambas as vertentes, participação e rendimento desportivo. Na nossa opinião podem ter tudo a ganhar pois com esta atitude alargam a sua base de apoio e consequente vínculo, ampliam eventualmente as suas receitas, ao mesmo tempo que produzem um

relevante serviço social. A este respeito a universidade deve aprofundar investigações que evidenciem a importância e relevância deste serviço criando um corpo de

conhecimento que sustente esta ideia.

De acordo com o conceito da participação desportiva os objetivos desportivos ficam melhor estabelecidos e permite aos treinadores uma melhor consciência do que se espera deles. A consequência será que a formação de treinadores também deverá refletir os diferentes percursos profissionais dos treinadores assim como os contextos de prática onde estes vão exercer a sua atividade.

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Da mesma forma, poderá possibilitar aos dirigentes desportivos ter uma visão mais assertiva do serviço a que se propõem tendo em conta a missão do seu clube.

Considerações finais

O desafio profissional do treinador passa por alicerçar a sua competência em conhecimentos científicos sólidos, disponibilizando-se para trabalhar com públicos diferenciados e atuar em conformidade. A responsabilidade da universidade torna-se evidente pela capacidade que esta possui em providenciar um corpo de conhecimentos onde o treinador poderá edificar de forma consistente a sua expertise como treinador. Para isso o futuro treinador deverá reconhecer que a aquisição de conhecimento é uma tarefa complexa mas que pode ser aprendido gradualmente através de um processo ativo de raciocínio e auto construído.

A responsabilidade social do treinador pode emergir do contributo ativo, através do desporto, no desenvolvimento positivo de cidadãos socialmente integrados e democraticamente interventivos pelo que, quanto mais cedo o seu processo de aprendizagem tiver lugar, maiores possibilidades existirão em termos um treinador sofisticado e culto.

Realça-se que a formação desportiva dos atletas se deve alicerçar numa

estratégia de desenvolvimento positivo e que este desiderato não se confine ao espaço desportivo. Deve ser objetivo de todos os que partilham a vida com os jovens. A aquisição de competências de vida por parte da criança e do adolescente com um transfere para todas as facetas da sua vida que permita a sua total e plena integração social deverá ser um forte objetivo do desporto.

Considerando o treinador como uma pedra angular no processo de formação desportiva reclama-se a sua efetiva formação para liderar um processo de treino, neste sentido, a sua formação académica deverá ser um ponto de partida inultrapassável.

Referências

Bruner, M. W., Hall, J., & Côté, J. (2011). Influence of sport type and

interdependence on the developmental experiences of youth male athletes. European Journal of Sport Science, 11(2), 131-142. doi:

10.1080/17461391.2010.499969

Côté, J., Bruner, M., Erickson, K., Strachan, L., & Fraser-Thomas, J. (2010). Athlete development and coaching. In J. Lyle & C. Cushion (Eds.), Sports coaching: Professionalization and practice (pp. 63-83). Edimburg: Elsevier.

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Côté, J., & Gilbert, W. (2009). An integrative definition of coaching effectiveness and expertise. International Journal of Sports Science & Coaching, 4(3), 307-323. Erickson, K., & Gilbert, W. (2013). Coach-athlete interactions in children’s sport. In J.

Côté & R. Lidor (Eds.), Conditions of children’s talent development in sport (pp. 139-156). Morgantown, WV: Fitness Information Technology.

Gould, D., & Westfall, S. (2014). Promoting life skills in children and youth: Applications to sport contexts. In A. R. Gomes, R. Resende, & A.

Albuquerque (Eds.), Positive human functioning from a multidimensional perspective: Promoting healthy lifestyles (Vol. 2, pp. 53-77). New York: Nova Science.

ICCE, & ASOIF. (2012). (International Council for Coaching Excellence; Association of Summer Olympic International Federations). International sport coaching framework - Version 1.1. Champaign, Illinois.

Muir, B., Morgan, G., Abraham, A., & Morley, D. (2011). Developmentally apropriate approaches to coaching children. In I. Stafford (Ed.), Coaching children in sport (pp. 17-37). Oxan, OX: Routledge.

Orlick, T. (2014). Positive hunman development: Teaching positive living skils to children and youth. In A. R. Gomes, R. Resende, & A. Albuquerque (Eds.), Positive human functioning from a multidimensional perspective: Promoting healthy lifestyles (Vol. 2). New York: Nova Science.

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