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RIO PARNAÍBA: DINÂMICA E MORFOLOGIA DO CANAL FLUVIAL NO TRECHO DO MÉDIO CURSO

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RIO PARNAÍBA: DINÂMICA E MORFOLOGIA DO CANAL FLUVIAL NO TRECHO DO MÉDIO CURSO

IRACILDE MARIA DE MOURA FÉ LIMA1 CRISTINA HELENA RIBEIRO ROCHA AUGUSTIN2

1 Universidade Federal do Piauí Iracildefelima@ufpi.edu.br

2 Universidade Federal de Minas Gerais chaugustin@ymail.com

Resumo

O rio Parnaíba apresenta uma extensão total de cerca de 1.350 Km e uma bacia hidrográfica com área de 330.020 Km2, sendo cerca de 75% no Piauí; 19% no Maranhão; e 6% no estado do Ceará. Ele tem grande importância em termos socioeconômicos para o Piauí e se destaca também por formar o nível de base regional, e o limite entre a drenagem perene do Nordeste Ocidental subúmido e a do regime temporário do Nordeste Oriental, de clima semiárido. Buscando contribuir para ampliar o conhecimento sobre sua dinâmica e a morfologia do canal em seu médio curso foi realizada uma análise tendo como base dados na literatura, mapeamentos, imagens de satélite e trabalhos de campo. Os resultados indicam que nesse trecho o rio não alcançou o seu perfil de equilíbrio, demonstrando intensa energia erosiva e de transporte de sedimentos em suspensão, principalmente nos períodos de vazão elevada, quando aumenta sua capacidade de erosão e aprofundamento do leito que se encaixa em uma falha Mesozoica, no próprio terraço aluvial e em afloramentos de rochas areníticas Paleozoicas da Bacia Sedimentar do Parnaíba, na primeira metade do trecho estudado. Observou-se que a partir desse trecho os desníveis dos degraus litoestruturais sofrem redução, o que é acompanhado pela diminuição de sua competência e aumento da sinuosidade do canal, formando meandros, planícies aluviais, barras de sedimentos laterais e centrais, com o predomínio dos depósitos de níveis, indicando que ainda conserva energia de transporte.

Palavras-chave: Rio Parnaíba. Dinâmica Fluvial. Morfologia do Canal Fluvial.

Abstract

The Parnaíba River has a total length of about 1,350 km and a hydrographic basin area of 330 020 km², with 75% of it in Piauí State, 19% in Maranhão and 6% in Ceará. This river is very important in terms of socio-economic activities of Piauí. It also contributes to the regional base level and forms the main boundary between the perennial drainage of Western Northeast sub-humid and a system to drain the East Northeast of semi-arid climate. To contribute to a better understanding of this river, the dynamics and morphology of the river channel in its middle course were analyzed, using data from the literature, maps, satellite images and field work. The results indicate that in this stretch the river has not yet achieved its equilibrium, showing intense energy that is transformed in intense erosion and sediment transport in suspension, especially in periods of high flow, when there is an increase in its capacity of deepening its channel that is embedded into a Mesozoic fault in the first half of the studied

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stretch under its many alluvial terraces and outcrops of Paleozoic sandstone rocks of the Parnaíba Sedimentary Basin. It also has been observed that from this portion on it tends to reduce the structural steps increasing sinuosity of the channel leading to the formation of meanders, floodplains and sedimentary bars.

Key-words: Parnaíba river, Fluvial dynamic, Morphology of the river channel

1. INTRODUÇÃO

O estudo dos rios é de grande importância para o entendimento da dinâmica das paisagens, na medida em que a erosão, o transporte e a distribuição dos sedimentos gerados no canal fluvial afetam toda a bacia hidrográfica (GREGORY; WALLING, 1973).

Este é o caso do rio Parnaíba, que apresenta uma extensão total de cerca de 1.400 Km e drena uma bacia hidrográfica com área de 330.020 Km2, onde se encontram cerca de 75% do Piauí; 19% do Maranhão; e 6% do estado do Ceará (RIVAS,1996). Esse rio tem grande importância em termos socioeconômicos e também se destaca por corresponder ao nível de base regional e ao limite entre a drenagem perene do Nordeste Ocidental subúmido e a drenagem de regime temporário do Nordeste Oriental, de clima semiárido. O trecho do rio estudado corresponde ao segmento entre a foz dos rios Mulato e Poti, grandes afluentes da margem direita do Parnaíba, onde se encontra a cidade de Teresina, capital do estado do Piauí. Em função desses aspectos, torna-se importante o aprofundamento sobre a dinâmica desse rio, a partir de suas feições erosivas e deposicionais. Isto, porque, partindo-se do princípio de que a geometria do sistema fluvial resulta no ajuste do canal à sua seção transversal, ela indica a relação entre descarga líquida, carga sedimentar, declive, largura e profundidade do canal, velocidade do fluxo e rugosidade do leito (CUNHA, 1998). Considerando, ainda, que a morfologia do canal tende a refletir a dinâmica do vale, esta vai gerar padrões ao longo do perfil longitudinal dos canais fluviais, classificados em três tipos básicos: retilíneo, anastomosado e meandrante (LEOPOLD; WOLMAN, 1957).

As influências tectônicas e litológicas também afetam o gradiente do canal através do desenvolvimento de níveis de base regional e truncamento do perfil longitudinal do rio, provocando alterações na disponibilidade de energia para o

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trabalho fluvial, nos mecanismos de transporte da carga detrítica e na morfologia do canal (ZANCOPÉ; PEREZ FILHO, 2006).

Às interações entre essas variáveis, Leopold et al. (1964) acrescentaram a dimensão das que ocorrem em diferentes escalas tempo espaciais, uma vez que os padrões constituem formas que dinamicamente se ajustam às flutuações das variáveis do sistema fluvial por um conjunto ordenado de processos, sendo assim nomeados processos morfodinâmicos fluviais. Este é o caso das formas deposicionais nos canais fluviais. São denominadas de depósitos de canal as barras arenosas emersas dentro dos canais, cuja permanência e formas variam no tempo, podendo dar origem a barras arenosas ou praias fluviais, por ficarem emersas durante o período de vazante. Já os depósitos em nível são aqueles que se encontram submersos, formados no período de cheias por areias grossa e fina com estratificação cruzada, com aparência de ondas, que podem emergir no período de vazante. Todos eles se diferenciam das ilhas fluviais pela ausência de vegetação (NOVO, 2008).

Tendo como base este referencial, buscou-se ampliar o conhecimento sobre a bacia do rio Parnaíba, a partir da análise da morfologia do canal principal em seu médio curso, através do estudo do perfil longitudinal como base para a identificação da sua dinâmica fluvial, observando os elementos litoestruturais e o trabalho de erosão, transporte e deposição desse rio, refletidos em nível local.

2. METODOLOGIA

Foi analisada a dinâmica e a morfologia do rio Paranaíba em seu canal no médio curso, através de dados obtidos na literatura, mapeamentos, imagens de satélite e trabalhos de campo. A partir da delimitação da área de estudo, foram identificados os trechos com alterações mais significativas da morfologia dos canal e das suas características litoestruturais mais relevantes com base: no Mapa Geológico, escala de 1:1.000.000 (BRASIL/CPRM,2006), hidrográfico, na escala 1:250.000 (ANA,2006) e em imagem do Google Earth Profissional. O perfil longitudinal do rio foi traçado a partir da imagem Google Earth Pro, acompanhando o leito e identificando em quilômetros as distâncias e em metros as altitudes, na foz de cada um dos afluentes

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que apresentam extensão acima de 20 Km. Esse traçado foi inicialmente feito à mão sobre papel milimetrado e depois digitalizado utilizando o software ArcGis. A partir da análise desse perfil longitudinal em vários trechos e de observações de campo, foi possível sistematizar, identificar e representar os tipos de depósitos fluviais, além dos elementos lito-estruturais da área ao longo do seu vale no trecho estudado.

3.RESULTADOS

No trecho estudado, o perfil longitudinal do rio Parnaíba (Fig. 1), tem uma extensão de cerca de 176 Km, com uma declividade média de 0,21 m/Km. Esse trecho não é, no entanto, homogêneo em termos de declividade, sendo marcado por rupturas mais acentuadas de declive no segmento mais a montante, e mais suaves em direção a jusante.

Associando o traçado desse perfil aos elementos tectônicos e litológicos, observa-se que o segmento do canal fluvial mais a montante, que se apresenta quase horizontal e se limita por uma ruptura de declive relativamente acentuada, corresponde ao percurso do rio Parnaíba que se encontra encaixado numa falha de direção SE-NW, bem marcada no relevo do entorno da cidade de Amarante, Piauí. Essa falha é identificada na literatura como decorrente da reativação dos lineamentos regionais decorrentes da movimentação tectônica mesozoica, que cruzam ortogonalmente o espaço piauiense (BIZZI et al., 2003).

Nesse ponto de maior ruptura de declive do canal do rio encontra-se localizado um pouco mais a montante da foz dos riachos Riachão e Fundo II, afluentes da margem direita do rio Parnaíba. Nesse trecho o rio Parnaíba se encaixa no seu próprio terraço formado por estreitas faixas que vão se alargando em direção à jusante, passando pelo trecho onde se localizam a foz dos riachos Riachão, Fundo 2 e Cadoz, formando patamares que variam de 3 a 6 m acima do nível do leito vazante (Fig. 2A).

A partir desse ponto as rupturas de declive ocorrem de forma mais suave, mas o padrão da morfologia do canal do Parnaíba continua semelhante, ou seja, ora retilíneo, ora com suave sinuosidade. Já nas proximidades da foz do riacho dos Negros observa-se que o encaixamento do rio Parnaíba corta rochas paleozoicas

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aflorantes que compõem a formação Pedra de Fogo da Bacia Sedimentar do Parnaíba, e onde formam baixos planaltos que se encontram modelados por intensos processos erosivos, formando um forte desnível topográfico nas duas margens do rio (Fig. 3). A presença de silexitos na composição litológica dessa formação responde pela sua maior resistência aos processos erosivos (CORREIA FILHO; MOITA, 1997).

Figura 1 - Perfil Longitudinal do rio Parnaíba no trecho do médio curso

Base de Dados: Google Earth (Imagens de 25.10.2011 e 25.09.2012). Org. Lima, 2013.

Figura 2 - Seção de terraço fluvial do Parnaíba (A) e de planícies aluviais do rio Parnaíba com depósitos de canal, onde deságua o rio Poti (B).

Fonte: Google Earth (imagem de 18 jul.2011).

Encaixe em terraço (Fig.2) Encaixe em Falha Mesozoica Rio Parnaíba Riachão Piauí Maranhão Teresin a Rio Parnaíba Rio Poti

A

B

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Figura 3 – Blocos residuais nas duas margens do rio Parnaíba resultantes do forte entalhamento do rio nas rochas areníticas da Formação Pedra de Fogo, cujo leito atinge a Formação Piauí.

“Morro da Arara”,margem esquerda do rio Parnaíba, no município de São Francisco do Maranhão.

“Serra de Palmeirais”,margem direita do rio Parnaíba, no município de Palmeirais, Piauí.

Foto: Nunes, 2012. Foto: Lima, nov. 2012.

Com base nas imagens de satélite e em trabalhos de campo, observou-se que no segmento da foz do riacho dos Negros para jusante, ocorre redução dos desníveis dos degraus litoestruturais e aumento da sinuosidade do canal formando meandros, planícies aluviais, barras de sedimentos laterais e centrais, mas predominando os depósitos de níveis, indicando que nesse trecho o rio Parnaíba ainda conserva uma certa energia de transporte, principalmente de sedimentos em suspenção, observada na elevada turbidez da água, mesmo nos períodos de menor vazão (Fig. 2B).

4 CONCLUSÃO

Os resultados desta pesquisa permitem concluir que o rio Parnaíba, no seu trecho do médio curso, não se encontra em equilíbrio, apresentando formas do canal diferenciadas com dinâmicas distintas em dois segmentos deste trecho:

· O segmento mais a montante desse trecho se caracteriza por maior energia erosiva e também de transporte de sedimentos em suspensão, principalmente nos períodos de elevada vazão. Isto resulta no encaixamento de parte do seu curso em uma falha de direção SE-NW, da faixa dos Lineamentos regionais reativados no Mesozoico; no seu próprio terraço aluvial; e em afloramentos de rochas areníticas paleozoicas da Bacia Sedimentar do Parnaíba;

Rio Parnaíba

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· No segmento a jusante do primeiro, há uma redução dos desníveis dos degraus litoestruturais e aumento da sinuosidade do canal, formando meandros, planícies aluviais, barras de sedimentos laterais e centrais, mas predominando os depósitos de níveis, indicando que o rio Parnaíba ainda conserva uma certa energia de transporte.

Referências

BIZZI, L.A.; SCHOBBENHAUS, C.; VIDOTTI, R.M.; GONÇALVES, J.H. (Org.). Geologia, Tectônica e Recursos Minerais do Brasil. Brasília: CPRM, 2003.

BRASIL. Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Governo do estado do Piauí. Mapa Geológico do Estado do Piauí. Escala 1:1.000.000. Teresina: CPRM. 2ª. versão, 2006.

CORREIA FILHO, F.L.; MOITA, J.H.A. Projeto Avaliação de Depósitos Minerais para Construção Civil PI/MA. Teresina: CPRM, 1997. 2 v.

CUNHA, S.B. da. Geomorfologia Fluvial. In: GUERRA, A.J.T.; CUNHA, S.B. da. (Org.). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998, p. 211-252.

GOOGLE EARTH PROFISSIONAL. Imagens. License key: JCPMTNZCSM1VZC2. (mar. 2012 a mar. 2013).

GREGORY, K. J., WALLING, D. E. Drainage Basin, Form and Process. London: Ed Edward Arnold, 1973.

LEOPOLD, L.B.; WOLMAN, M.G;. River patterns, braided, meandering and straight. U.S. Geological Survey Profissional Paper, 282-B, p.1-85, 1957.

LEOPOLD, L.B.; WOLMAN, M.G; MILLER, J.P. Fluvial processes in Geomorphology São Francisco: W. F. Freeman and Co., 1964.

LIMA, I. M.M.Fé. Morfodinâmica e Meio Ambiente na Porção Centro-Norte do Piauí, Brasil. 2013. Tese (Doutorado). 2013, 303f. Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Geociências. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2013.

NOVO, E.M.M. Ambientes Fluviais. In: FLORENZANO, T. G. Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. São Paulo: Oficina de textos, 2008, p. 219-246.

PIAUÍ. Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos - SEMAR. Plano Estadual de Recursos Hídricos: Relatório Síntese. Teresina: SEMAR, 2010.

RIVAS, M. P. (Coord.). Macrozoneamento geoambiental da bacia hidrográfica do rio Parnaíba. Rio de Janeiro: IBGE, 1996. (Série Estudos e Pesquisas em Geociências, n.4).

ZANCOPÉ, M.H. de C.; PEREZ FILHO, A. Considerações a respeito da distribuição das planícies fluviais do Rio Mogi Guaçu. Revista Brasileira de Geomorfologia, ano 7, no 1, p. 65-71, 2006. Agradecimentos: Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia do IGC/UFMG/Projeto de Doutorado Interinstitucional (DINTER-UFPI/UFMG), à minha orientadora, a Prof. Drª. Cristina Helena Ribeiro Rocha Augustin e aos demais colaboradores da pesquisa. Este resumo compõe parte resultados da tese de doutorado apresentada em 2013, na UFMG.

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