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IMPACTOS DE PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO SOBRE COMUNIDADES RURAIS DE SÃO LUÍS: O CASO DA INSTALAÇÃO DA UTE PORTO DO ITAQUI.

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IMPACTOS DE PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO SOBRE

COMUNIDADES RURAIS DE SÃO LUÍS: O CASO DA INSTALAÇÃO

DA UTE PORTO DO ITAQUI.

Ana Lourdes da Silva Ribeiro

1. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA

A comunidade de Camboa dos Frades localiza-se à região noroeste da Ilha do Maranhão com as respectivas coordenadas: 57,15’,75” S e 97,39’,22,2” W, está voltada para a baía de São Marcos, no Golfão Maranhense (PEREIRA, 2007) e está inserida na zona de retroporto do Porto do Itaqui.

Ilustração 1: Mapa de localização da comunidade de Camboa dos Frades

Cajueiro Cajueiro Vila Limoeiro Vila Limoeiro Vila Maranhão Vila Maranhão Cajueiro Cajueiro Rio dos Cachorros Rio dos Cachorros Porto Grande Porto Grande Taim Taim Vila Conceição Vila Conceição São Benedito São Benedito Camboa dos Frades Camboa dos Frades Vila Madureira Vila Madureira Ilhinha Ilhinha Iilha do Chicó Iilha do Chicó Fonte: IBAMA/CNPT-MA, 2007 2. HISTÓRIA DA COMUNIDADE Conforme Pereira (2007),

No início do séc. XX, mais precisamente no ano de 1920, o povoado de Camboa dos Frades começou a ser habitado por famílias de pescadores oriundos do interior do estado, atraídos devido a sua localização e a rica biodiversidade do ambiente estuarino preservado, propício à pesca, a criação de animais e extração vegetal.

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O povoado Camboa dos Frades, em 2009, acompanhou de perto o deslocamento compulsório do povoado vizinho, a Vila Madureira, área onde está sendo implantada a Usina Termelétrica (UTE) – Porto do Itaqui e, no início negociação entre a empresa e o governo do estado, a mesma fazia parte da área almejada pelo empreendedor. A Vila Madureira foi deslocada e ficaram em torno de 35 famílias que vivem na sua grande maioria em casas de taipa, sem infraestrutura adequada e sem acesso às políticas públicas e faz parte da Área de Influência Direta (AID) do empreendimento.

A Vila Madureira e Camboa dos Frades possuíam, até então, uma única Associação de Moradores, representada pelo Sr. Zacarias Passos, presidente da então Associação dos Moradores da Vila Madureira, que teve o papel preponderante de mediador entre os povoados e a MPX (empresa do Grupo EBX) e, após a empresa não precisar utilizar a área (pelo menos por enquanto), e como não havia interesse na empresa em deslocar a Camboa dos Frades, logo dona Maria Ramos rompeu com o presidente da Associação.

Inicia, então, o medo do Povoado Camboa dos Frades em ter que sair à força e sem nenhuma indenização, e seus moradores fundam a Associação dos Moradores da Camboa dos Frades, tendo como presidente eleita a Sra. Maria dos Ramos, que veio morar na comunidade após ter casado com o Sr. Albertran, que nasceu no povoado e tem hoje 40 anos. Dona Maria passa então a coordenar as ações da atividade e ver a divisão da comunidade com dois grupos distintos: 1. os que querem sair devidamente indenizados; 2. os que não querem sair, gerando, então, conflitos diversos, o que fez com que a comunidade buscasse a organização social que decidiu resistir, o que acabou gerando diversos conflitos internos.

A Vila Madureira é deslocada para o Residencial Nova Canãa, no município de Paço do Lumiar, no dia 12 de abril de 2009, segundo o Sr. Zacarias em entrevista no mês de maio de 2009, que é o atual Presidente da Associação de Moradores do Residencial Nova Canãa.

A comunidade de Camboa dos Frades ficou isolada entre o oceano e a BR 135 e com a sua área ameaçada e se decidiu, então, criar a Associação dos Moradores da Camboa dos Frades visando, através desta, ter acesso a Políticas Públicas para seus moradores que, conforme relata a moradora: “Não aceitamos que aconteça conosco o que aconteceu com a Vila Madureira” (entrevista com dona Maria dos Ramos, Presidente da

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Associação dos Moradores da Camboa dos Frades); “Queremos ficar e lutar para trazer benefícios” (entrevista com Ana Célia, 60 anos, moradora do local há 54 anos).

Cerca de 30 famílias moram na área. Conforme conta-nos o Seu Leandro Euzébio, hoje com mais de 90 anos, chegou ao povoado aos oito anos de idade. Dona Ana Célia Serra Soares que tem hoje 60, diz ter chegado com dez anos de idade. Estes relatos nos fazem acreditar que a comunidade existe há mais de 50 anos e foi ocupada com pessoas oriundas do interior do estado que vinham em busca de maiores oportunidades e qualidade de vida devido à biodiversidade do local, que era rico em recursos naturais como o pescado e propício ao extrativismo vegetal e a criação de animais de pequeno porte. Hoje, a situação é diferente devido à implantação de indústrias ao entorno que lançam seus dejetos, poluindo os igarapés que mantém a alimentação da comunidade, conforme a fala de um morador: “A gente vê o material deles descendo do Igarapé” (JORNAL DO SINTRAJUF, maio de 2009).

Além do pescado, que segundo os moradores antes era em quantidade maior, vivem ainda do aproveitamento da palmeira do babaçu: as mulheres, no período das férias escolares das crianças, mandam as mesmas para casa de familiares nos bairros do entorno (Anjo da Guarda, Vila Embratel), onde os mesmos têm parentes, para dedicarem-se a quebra do coco babaçu, para extraírem o óleo e vender na feira do Anjo da Guarda. Os homens pescam, catam caranguejo e vendem o excedente, assim, como vivem de pequenos serviços de capina e venda da palha do coco babaçu.

A maioria dos moradores da comunidade é analfabeta e não conseguiria, segundo eles, viver fora da região, já que é dela que tira o alimento do dia-a-dia, apesar de atualmente está bastante escasso, pois, além das empresas que poluem ainda vêm pescadores de municípios próximos, como São José de Ribamar e Icatu, pescar e quando estão com barcos, na maioria das vezes, para atravessadores não os deixam pescar e muitos ainda utilizam a pesca predatória, o que faz com que os peixes fiquem cada vez mais escassos.

Apesar de toda problemática, como a falta de escolas, postos de saúde e outras políticas de direitos de todo cidadão, a comunidade resiste e busca na nova liderança, dona Maria dos Ramos, uma nova forma de ter mais autonomia e acesso aos seus direitos. E foi a partir dessa nova experiência de vida que a representante da comunidade, dona Maria cria forças e busca através da troca de experiência com as outras comunidades que passam pelo mesmo processo de expulsão do seu território, é que busca através da Defensoria

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Pública assegurar o direito de ir e vir da comunidade, pois, com a instalação da UTE - Porto do Itaqui muda completamente o modo de vida. E, além de ser diretamente atingida pela poluição, tiveram ainda sua via de acesso modificada, pois, para entrar e sair das suas casas passavam pela Vila Madureira, que hoje é ocupada pela UTE - Porto do Itaqui, e ficaram sem o direito de ir e vir das suas próprias residências, o que resultou num TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) pois a comunidade entrou com um recurso através da Defensoria Pública com o apoio do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA), e a empresa foi obrigada a fazer outro acesso para a mesma. Ainda dentro dessa perspectiva de mudança do seu modo de vida, com a vinda do empreendimento, a empresa contratou vigilantes armados e a comunidade sentia-se amedrontada e coagida dentro da sua área, além do ir e vir de pessoas desconhecidas nas proximidades.

A empresa usa, no seu discurso de Responsabilidade Social, a promessa de oferecer empregos à comunidade como forma de “compensar” os danos causados pela sua presença, o que até na data atual não foi cumprido, pois, segundo a empresa, a comunidade precisa passar por cursos de capacitação para se enquadrar nas normas que a mesma busca, o que é quase impossível devido ao grau de escolaridade da comunidade e sendo que esse é um problema pelo qual a empresa não se sente na obrigação de se responsabilizar, por ser esse um problema social. Sendo que a comunidade sempre conseguiu sobreviver com os recursos oriundos do lugar e que antes da implantação do empreendimento não era um problema aos mesmos e que hoje precisam se adequar aos padrões exigidos pela empresa, pois, tem seu próprio modo de viver, que é próprio da zona rural e não precisa se adequar a esses referidos padrões estabelecidos pelo capital.

Na comunidade, vivem hoje cerca de 15 crianças em idade escolar que freqüentam a escola mais próxima, que fica na Vila Maranhão. A dificuldade de acesso à BR 135 no período chuvoso é grande. As crianças acordam às 05h00min da manhã para estarem às 06h20min na BR 135 à espera do transporte escolar que as levam até a escola. Isso faz com que as mães, muitas vezes, fiquem impossibilitadas de realizar suas atividades domésticas devido à distância que seus filhos andam (cerca de 1 km) e o período que passam na escola, já que muitas vezes retornam as suas casas às 10h00min, isso quando o motorista do transporte escolar os deixa pegar o transporte, pois, no período chuvoso, o acesso fica pior ainda e o motorista faz com que as crianças tenham que retornar para suas casas devido aos pés estarem sujos de lama. A comunidade buscou seus direitos no

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Ministério Público Estadual, através do Promotor da Educação Dr. Paulo Avelar e a Assistente Social visitaram a comunidade, e viram de perto a situação constrangedora pela qual as crianças passam, o criou que um fato político para a comunidade, que saiu mais fortalecida quando o promotor obrigou a Prefeitura Municipal a colocar um carro à disposição das crianças e buscá-las nas proximidades das suas casas, minimizando o problema de deslocamento das mesmas. Mesmo com todas as dificuldades, os moradores mais antigos querem ficar na área e ter a vida tranqüila como era antes.

3. O PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL DO EMPREENDIMENTO

Os problemas ambientais e os conflitos que vêm sendo ocasionados pela implantação da UTE – Porto do Itaqui surgem ainda partir no processo de Licenciamento Ambiental, com o fluxo de pessoas desconhecidas entrando e saindo da comunidade, gerando insegurança e incertezas acerca do futuro daquela comunidade

A Política Nacional de Meio Ambiente, Lei nº 9.638, de 1981 determina que na execução dessa política deva ser observados os princípios da manutenção do equilíbrio ecológico (SILVA, 2004). Tendo em vista que, entre outros objetivos, a mesma visa compatibilizar o desenvolvimento econômico-social, com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico (SILVA, 2004). Apesar disso, o processo de Licenciamento Ambiental foi marcado pela ausência de participação popular.

Primeiramente, o tempo de pesquisa para a elaboração de um EIA- RIMA de um empreendimento de alto poder contaminante, mesmo seguindo os trâmites legais, foi insuficiente para que possa ser avaliado o grau de poluição que um empreendimento desse porte irá causar numa região insular. Uma estação ônibus foi instalada na comunidade de Vila Madureira para verificar a direção dos ventos e outros instrumentos de verificação de poluição que permaneceram instalados na comunidade apenas um mês, através do qual não se poderá obter resultados satisfatórios e medidas de mitigar os impactos causados pelo empreendimento.

A Licença Prévia nº 043/2007 por meio de um procedimento simplificado e sem a exigência do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), que foi suspensa por reconhecimento de que teria que ser do IBAMA a competência para a realização do licenciamento ambiental. No entanto, a empresa logo conseguiu a licença e deu início à terraplanagem. A partir de então, começaram as obras de supressão da vegetação e terraplanagem e com elas os primeiros impactos ambientais.

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Foram totalizadas 102 condicionantes para a instalação do empreendimento. Dentre elas, a de número 2.39 da LI- 601-09, que se refere ao Seminário de Apresentação e Avaliação dos Programas Básicos Ambientais da MPX ITAQUI, que aconteceu nos dias 11 e 12 de março no Hotel Abbeville, de 09h as 18h, com as seguintes temáticas: Meio Biótico - Apresentação do Programa de Monitoramento e Controle do Meio Biótico; Meio Socioeconômico – Programa de Conscientização para o Tráfego; Meio Socioeconômico – Programa de Monitoramento da Qualidade do Ar; Meio Socioeconômico – Programa de Monitoramento e Controle das Condições de Saúde e seus subprogramas; Meio Socioeconômico – Programa de Educação Ambiental e Integração com os Demais Programas Ambientais. Esses temas foram apresentados pelos funcionários da empresa e contratados e estavam presentes o IBAMA, a Secretaria de Meio Ambiente Municipal, muitos funcionários da empresa e de outras empresas e poucos representantes da sociedade civil, assim como estava ausente o Ministério Público Federal.

A divulgação desse evento não foi feita de forma adequada. Via-se pelo número de participantes, além dos poucos moradores da Vila Madureira, a Camboa dos Frades não estava presente e nem foi citada do Programa de Capacitação, conforme apresentação feita pela empresa. Em momento algum, a comunidade de Camboa dos Frades aparece nem mesmo como área de Influência Direta (AID).

Segundo a condicionante da LI – 601-2009: “Realizar, a cada ano de ocorrência da LI, seminários de avaliação e devolução das ações do Programa Básico Ambiental (PBA), trabalhando as interfaces entre o conjunto dos Programas com a participação efetiva de lideranças e acompanhamento técnico do IBAMA, junto aos três bairros da AID e para os assentados da Vila Madureira”.

Pode-se observar com isso a falta de comprometimento da referida empresa com as comunidades atingidas o que faz com que a comunidade torne-se mais vulnerável no processo de instalação dos conflitos socioambientais.

4. O DESLOCAMENTO DA VILA MADUREIRA

A Vila Madureira foi deslocada para o Residencial Nova Canaã, no qual os moradores, segundo projeto de realocação da MPX, foram remanejados para o município de Paço do Lumiar, com 100 casas, 94 famílias. As casas são mobiliadas com geladeira, computador e todos os móveis e há a promessa de instalação de uma infraestrutura. Além das casas, existe uma área com 58 hectares à 6 km do local de moradia, sendo que desses

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58 hectares, 19 ficam para área de preservação e 6 hectares para o cultivo de hortaliças com apoio técnico no qual o agrônomo deverá atender a demanda da comunidade através de reuniões sistemáticas e o trabalho será coletivo, através da organização de uma cooperativa para que, após o período de acompanhamento da empresa, eles possam continuar a produzir. Ainda possui 3 igrejas (2 evangélicas, 1 católica), escola mantida pela prefeitura Municipal de Paço do Lumiar, assim como a coleta de lixo, que faz a coleta três vezes por semana, a associação de moradores do Residencial Nova Canaã, da qual o presidente é o mesmo Sr. Zacarias Passos que negociou todo o deslocamento da comunidade e sempre está com a empresa, apresentando-se como representante da comunidade e somente o mesmo fala em nome de todos.

Atualmente, as condições oferecidas não têm suprido as necessidades das pessoas que tiveram seu modo de vida totalmente modificado e hoje muitos apresentam problemas psicossociais por não ter se adaptado, após um ano de deslocamento. Essa situação é admitida pela própria empresa no Seminário dos Programas Básicos Ambientais realizado como uma das condicionantes para a implantação do projeto quando a equipe técnica apresenta esse fato como desafio a ser enfrentado por todos e buscando soluções através do acompanhamento da comunidade pelo Serviço Social da MPX.

Dentro desses aspectos, veremos a seguir como a Educação Ambiental pode auxiliar no empoderamento da comunidade.

5. O PAPEL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONFLITO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

O Estatuto das Cidades, Lei Federal nº 10.257, de 10 de julho de 2001, regulamentou os artigos 182 e 183 da Constituição Federal e estabeleceu parâmetros e diretrizes da política urbana do país (Plano Diretor de São Luís, 2006).

Art.182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público Municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem estar dos seus habitantes (C.F. 88).

Entre as leis complementares ao Plano Diretor podemos relacionar a Lei de Perímetro Urbano, a Lei de Parcelamento do Solo, a Lei do Sistema Viário, o Código Municipal de Obras, o Código de Posturas, o Código Municipal de Meio Ambiente e o Código Sanitário Municipal (Plano Diretor de São Luís, 2006, p.9).

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Apesar do município de São Luís possuir um plano diretor e desde 2006 estarmos já discutindo a mudança da Zona Rural em Zona Industrial, esse instrumento de suma importância para a sociedade, pois, o mesmo “define as funções sociais da cidade, organiza os espaços habitáveis e pode proporcionar melhores condições do exercício da cidadania pela sua população” (PLANO DIRETOR DE SÃO LUÍS, 2006, p. 9). Dos diversos mapas existentes no mesmo, nenhum menciona a existência do Povoado Camboa dos Frades, o que nos faz perceber a ausência da participação popular no seu processo de elaboração. Consta no referido documento que “a população do município de São Luís está distribuída em 112 bairros (que constituem a zona semi urbana) e 122 povoados (que formam a zona rural)”.

No mapa da Localização Geográfica e limites dos municípios da Ilha (PLANO DIRETOR, 2006, p. 10) não consta os povoados de Vila Madureira, nem Camboa dos Frades e com a implantação da UTE – Porto do Itaqui, nas audiências públicas, essas comunidades aparecem uma para ser deslocada e outra fica na área de Influência Direta da Termoelétrica dando início ao conflito pelo Uso e Ocupação do Solo.

Dentro desse atual contexto, busca-se através do acompanhamento da comunidade, promover uma Educação Ambiental diferenciada e direcionada à mudança de vida e a forma de se organizar em busca de defesa pelo território.

A Educação Ambiental efetivou-se como uma preocupação no âmbito da educação há mais ou menos duas décadas (GRUN, 2003). Após várias Conferências Internacionais ocorridas no mundo todo visando discutir a crise ambiental oriunda do modelo de desenvolvimento ora instalado, a Educação Ambiental (EA) oferece não de forma sistematizada parâmetros mínimos ou marcos conceituais preliminares para situar o debate do ponto de vista epistemológico (GRUN, 2003).

Conforme o disposto na Lei nº 9.795 de 27 de Abril de 1999, que dispõe sobre a educação ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) :

Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à qualidade de vida e de sua sustentabilidade (COLEÇÃO DE DIREITO AMBIENTAL, 2003).

Auxiliar no desenvolvimento das habilidades antes desconhecidas que é o fato de buscar seus direitos, ir ao encontro da empresa e viabilizar através de um TAC uma forma harmoniosa de convívio, conhecer a experiência de outras comunidades que estão

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em constante conflito pela luta pelo seu território, faz com que a comunidade torne-se autônoma e mais consciente da necessidade de estar reunida em busca de políticas públicas adequadas para continuar a viver no local que escolheram devido a fatores diversos como: Exôdo Rural, algumas mulheres casaram-se com homens que nasceram na comunidade (como é o caso de dona Maria, que há mais de onze anos vive com o senhor Aldifran) e o respeito a forma de viver das comunidades foi um papel desempenhado pela EA no Povoado de Camboa dos Frades.

Configura-se, então, no conflito o desejo de uma parte da comunidade querer ficar e continuar a utilizar os recursos naturais que ainda se encontram em bom estado de conservação, porém, o suposto deslocamento do povoado gera também a vinculação de que a área fica mais valorizada e a busca de pessoas que não possuíam casa no local em ocupar a área, fazendo suas casas no intuito de garantir uma indenização, o que de certa forma prejudica as pessoas que moram lá e que não pretendem sair.

O papel da EA nesse trabalho é fortalecer a comunidade no sentido de garantir melhores condições de vida, independente se vão ou não sair do local. A questão da EA é, antes de tudo, a questão da educação, da necessidade inadiável da democratização da cultura, do acesso e permanência da escola e da elevação do nível cultural da população para compreender os avanços científicos tecnológicos de nossa época e as perspectivas de soluções abertas para o mesmo processo (CARVALHO et al, 2002). Foi assim no decorrer do acompanhamento da comunidade, enfatizando a necessidade de organização e realizando o desdobrar das ações que buscavam serem percebidos como parte interessada no processo de desenvolvimento da cidade e em defesa do seu modo de vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os desafios enfrentados pela EA na atualidade são inúmeros. Dentro desse contexto atual, no qual o Poder Público e os gestores pregam a importância do desenvolvimento com a implantação de inúmeros empreendimentos de grandes impactos ambientais. A partir dessa condição, apresentamos nesse trabalho uma EA atuando na comunidade e tendo em vista que “O desafio da EA é sair da ingenuidade e do conservadorismo (biológico e político) a que se viu confinada e propor alternativas sociais considerando a complexidade das relações humanas e ambientais” (REIGOTA, 2002).

Pensando nessa complexidade que temos em relação às questões ambientais e como a EA pode estar inserida de forma prática e atuante no processo de uso e ocupação

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do solo, que através dessa pesquisa demos um enfoque diferenciado no trabalho de EA no Povoado de Camboa dos Frades. Baseada na própria PNEA (Política Nacional de Educação Ambiental, 1999) realizamos as seguintes atividades:

Acompanhamento das lideranças e pessoas da comunidade em busca do reconhecimento do Poder Público enquanto pessoas de direito e legítimas através do Núcleo de Direito a Moradia;

Acompanhamento em audiência entre representantes da comunidade com a MPX – empresa do grupo EBX da Ute-Porto do Itaqui, que resultou num Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) por duas vezes através do qual foi dado à comunidade o direito de ir e vir e a construção de uma via de acesso alternativa àquela que foi obstruída pelo empreendimento;

Audiência com o Promotor da Educação Dr. Paulo Avelar na qual foi exposta pela comunidade a situação constrangedora vivenciada pelas crianças da comunidade devido ao acesso à escola, da qual resultou na conquista do transporte público escolar da Prefeitura Municipal de São Luís sendo obrigado a ir buscá-los nas proximidades das suas residências;

Incentivo a participação da comunidade nas audiências públicas referentes às políticas de desenvolvimento e expansão de grandes projetos, como especificamente a Refinaria Premium I ;

Viabilização do cumprimento das 102 condicionantes, dentre elas o I Seminário de Apresentação de Avaliação dos Programas Básicos Ambientais da MPX;

Promoção de Oficinas relacionadas a experiências de outras comunidades, realizando uma troca de experiências entre várias comunidades atingidas por grandes projetos de desenvolvimento aplicados no Brasil e no Maranhão, buscando conquista da autonomia e de conhecimento de seus direitos de cidadãos e acesso a políticas públicas;

Acompanhamento do processo de deslocamento compulsório da Vila Madureira e, a partir dessa experiência, junto à comunidade motivação à resistência em busca de permanecer no seu território.

Esse trabalho faz parte da primeira etapa de um projeto maior intitulado: Conflitos Ambientais no Maranhão executado pelo Grupo de Estudos, Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente - GEDMMA - vinculado a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) financiada pelo CNPQ/FAPEMA e dentro do planejamento realizado terá continuidade até 2012.

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O mesmo foi idealizado, no intuito de colocar a academia em contato com o povoado, trazendo resultados viáveis a partir do modelo complexo de desenvolvimento e como os mesmos modificam completamente o modo de vida das comunidades e na perspectiva de que, se houver o deslocamento ou a comunidade permanecer na área, acompanhar de perto o cumprimento das condicionantes impostas pelo órgão licenciador e minimizar os impactos causados pelo empreendimento na vida das pessoas pois, a mesma localiza-se na Área de Influência Direta (AID) da Usina Termoelétrica, já que o “ grande trunfo que este empreendimento trouxe ao seu favor foi a justificativa de que traria o desenvolvimento, emprego e renda, sendo um discurso recorrente da grande maioria de empreendimentos semelhantes a este” (SANT’ANA JÚNIOR, 2010).

A Política Ambiental Brasileira apesar de ser uma das mais avançadas do mundo, tem deixado muitas lacunas quando se refere às comunidades, na maioria das vezes, favorecendo os grandes empreendimentos, que colocam em risco social e vulnerabilidade os cidadãos que possuem direitos garantidos por lei, pois, os empreendimentos, ao se instalarem, geram lucros privados e ônus públicos.

Diante desses fatos, é possível acreditar que a EA pode transformar e assegurar as comunidades uma política ambiental de forma que minimize os efeitos da expansão do capitalismo e seus direitos através das informações, fazendo assim, com que as mesmas superem o sentimento de impotência e garantindo aos mesmos a participação como atores sociais no processo de desenvolvimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACSERALD, Henri (Org). Conflitos ambientais no Brasil. RJ: Editora Relume Dumará, 2004.

CARVALHO, Vilson Sérgio. Educação Ambiental e Desenvolvimento Comunitário. Wak Editora: Rio de Janeiro, 2002.

Coleção de Leis de Direito Ambiental. Edições Jurídicas. Editora Manole, 2004.

Ética e Educação Ambiental: Uma conexão necessária. 7ª ed. Ed. Papirus: Campinas,

2003. Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico.

Jornal do Sindicato dos Trabalhadores de Judiciário Federal e MPU do Maranhão – SINTRAJUF. São Luis, Ano XIV, nº 127, maio, 2009.

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Plano Diretor de São Luis. Instituto de Pesquisa e Planificação da Cidade: São Luis,

2006.

REIGOTA, Marcos. Coleção Questões da nossa época. 5ª edição, Ed. Cortez: SÃO PAULO, 2002.

SANT’ANA JÚNIOR, Horácio Antunes; PEREIRA, Madian de Jesus Frazão; ALVES, Elio de Jesus Pantoja; PEREIRA, Carla Regina Assunção (Orgs). Ecos dos conflitos

ambientais: A RESEX de TAUÁ MIRIM. EDUFMA/GEDMMA: São Luís -MA 2010.

SILVA, Vicente Gomes da. Legislação ambiental comentada. 2ª ed. Editora Fórum: Belo Horizonte, 2004.

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