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Cartilha - Diversidade sexual na escola

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Academic year: 2021

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O Projeto Diversidade Sexual na Escola é uma realização da O Projeto Diversidade Sexual na Escola é uma realização da Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com a Secretaria de versidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (Secad/MEC). É um dos mais de 30 projetos, nacionalmente Educação (Secad/MEC). É um dos mais de 30 projetos, nacionalmente selecionados e conveniados pela Secad/MEC, em 2007, no âmbito da selecionados e conveniados pela Secad/MEC, em 2007, no âmbito da Formação de Prossionais da Educação para a Promoção da Cultura Formação de Prossionais da Educação para a Promoção da Cultura de Reconhecimento da Diversidade Sexual e da Igualdade de Gênero de Reconhecimento da Diversidade Sexual e da Igualdade de Gênero,, em cumprimento ao Programa Brasil Sem Homofobia.

em cumprimento ao Programa Brasil Sem Homofobia.

Universidade Federal do Rio de Janeiro Universidade Federal do Rio de Janeiro

Aloísio Teixeira Aloísio Teixeira Reitor Reitor Pró-Reitoria de Extensão Pró-Reitoria de Extensão Laura Tavares Laura Tavares Pró-Reitora Pró-Reitora Isabel Cristina Alencar Isabel Cristina Alencar Superintendente Geral de Extensão Superintendente Geral de Extensão

Ana Inês Souza Ana Inês Souza

Superintendente Acadêmica de Extensão Superintendente Acadêmica de Extensão

Programa Papo Cabeça Programa Papo Cabeça

José Leonídio José Leonídio Coordenador Coordenador

Projeto Diversidade Sexual na Escola Projeto Diversidade Sexual na Escola

Alexandre Bortolini Alexandre Bortolini Coordenador Coordenador Bolsistas Bolsistas Luan Barros Cassal Luan Barros Cassal Instituto de Psicologia Instituto de Psicologia

João Márcio Dias João Márcio Dias Escola de Belas Artes Escola de Belas Artes

Autor Autor Alexandre Bortolini Alexandre Bortolini Colaboradores Colaboradores Majorie Marchi Majorie Marchi Regina Bortolini Regina Bortolini Luan Barros Cassal Luan Barros Cassal

Projeto Gráco Projeto Gráco João Márcio Dias João Márcio Dias Alexandre Bortolini Alexandre Bortolini Revisão e Copydesk Revisão e Copydesk Sergio Franco Sergio Franco 1ª Edição 1ª Edição Pró-Reitoria de Extensão/UFRJ Pró-Reitoria de Extensão/UFRJ Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008 2008

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Autor Autor Alexandre Bortolini Alexandre Bortolini Colaboradores Colaboradores Majorie Marchi Majorie Marchi Regina Bortolini Regina Bortolini Luan Barros Cassal Luan Barros Cassal

Projeto Gráco Projeto Gráco João Márcio Dias João Márcio Dias Alexandre Bortolini Alexandre Bortolini Revisão e Copydesk Revisão e Copydesk Sergio Franco Sergio Franco 1ª Edição 1ª Edição Pró-Reitoria de Extensão/UFRJ Pró-Reitoria de Extensão/UFRJ Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008 2008

Ao longo de 2006 e 2007 o projeto realizou Ao longo de 2006 e 2007 o projeto realizou uma série de ocinas em mais de 10 escolas do uma série de ocinas em mais de 10 escolas do interior e da região metropolitana do Rio de interior e da região metropolitana do Rio de Janeiro, atingindo mais de 400 prossionais da Janeiro, atingindo mais de 400 prossionais da educação e licenciandos. A partir dos relatos educação e licenciandos. A partir dos relatos re-colhidos durante essas ocinas, das dúvidas, dos colhidos durante essas ocinas, das dúvidas, dos debates e da interação com os educadores, debates e da interação com os educadores, sele-cionamos alguns temas que hoje compõem este cionamos alguns temas que hoje compõem este material de orientação.

material de orientação.

A idéia aqui não é trazer respostas prontas, A idéia aqui não é trazer respostas prontas, receitas de bolo, dizer o que é certo e o que é receitas de bolo, dizer o que é certo e o que é errado, se o educador deve agir desse ou errado, se o educador deve agir desse ou daque-le modo. O que se pretende é criar um momento le modo. O que se pretende é criar um momento de reexão sobre alguns aspectos relativos à di de reexão sobre alguns aspectos relativos à di --versidade sexual na Escola.

versidade sexual na Escola.

Como em tudo que se faz, foi neces

Como em tudo que se faz, foi necessário tam-sário tam-bém aqui fazer escolhas. Muitas questões não bém aqui fazer escolhas. Muitas questões não couberam nas páginas, vários assuntos acabaram couberam nas páginas, vários assuntos acabaram cando de fora, para que pudéssemos fazer um cando de fora, para que pudéssemos fazer um material leve e acessível. Mas isto com certeza material leve e acessível. Mas isto com certeza será apenas um estímulo para aqueles que será apenas um estímulo para aqueles que quise-rem se aprofundar nos temas.

rem se aprofundar nos temas.

O que a gente espera é que, depois de ler O que a gente espera é que, depois de ler este material, de alguma forma, você possa este material, de alguma forma, você possa re-pensar, reconstruir o seu olhar sobre alguns dos pensar, reconstruir o seu olhar sobre alguns dos assuntos aqui abordados. E que este trabalho assuntos aqui abordados. E que este trabalho não sirva apenas como um material de leitura, não sirva apenas como um material de leitura, mas como um incentivo à ação, à ação transfor mas como um incentivo à ação, à ação transfor --madora.

madora.

Como a escola pode lidar com situações

Como a escola pode lidar com situações

liga-das à orientação sexual dos alunos? A sexualidade

das à orientação sexual dos alunos? A sexualidade

dos alunos e alunas é um problema da Escola? E a

dos alunos e alunas é um problema da Escola? E a

discriminação e a violência que sofrem os jovens

discriminação e a violência que sofrem os jovens

homossexuais dentro da Escola? O que uma pro

homossexuais dentro da Escola? O que uma

pro--fessora pode fazer diante de um ato de

fessora pode fazer diante de um ato de

discrimi-nação?

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Ao longo de 2006 e 2007 o projeto realizou Ao longo de 2006 e 2007 o projeto realizou uma série de ocinas em mais de 10 escolas do uma série de ocinas em mais de 10 escolas do interior e da região metropolitana do Rio de interior e da região metropolitana do Rio de Janeiro, atingindo mais de 400 prossionais da Janeiro, atingindo mais de 400 prossionais da educação e licenciandos. A partir dos relatos educação e licenciandos. A partir dos relatos re-colhidos durante essas ocinas, das dúvidas, dos colhidos durante essas ocinas, das dúvidas, dos debates e da interação com os educadores, debates e da interação com os educadores, sele-cionamos alguns temas que hoje compõem este cionamos alguns temas que hoje compõem este material de orientação.

material de orientação.

A idéia aqui não é trazer respostas prontas, A idéia aqui não é trazer respostas prontas, receitas de bolo, dizer o que é certo e o que é receitas de bolo, dizer o que é certo e o que é errado, se o educador deve agir desse ou errado, se o educador deve agir desse ou daque-le modo. O que se pretende é criar um momento le modo. O que se pretende é criar um momento de reexão sobre alguns aspectos relativos à di de reexão sobre alguns aspectos relativos à di --versidade sexual na Escola.

versidade sexual na Escola.

Como em tudo que se faz, foi neces

Como em tudo que se faz, foi necessário tam-sário tam-bém aqui fazer escolhas. Muitas questões não bém aqui fazer escolhas. Muitas questões não couberam nas páginas, vários assuntos acabaram couberam nas páginas, vários assuntos acabaram cando de fora, para que pudéssemos fazer um cando de fora, para que pudéssemos fazer um material leve e acessível. Mas isto com certeza material leve e acessível. Mas isto com certeza será apenas um estímulo para aqueles que será apenas um estímulo para aqueles que quise-rem se aprofundar nos temas.

rem se aprofundar nos temas.

O que a gente espera é que, depois de ler O que a gente espera é que, depois de ler este material, de alguma forma, você possa este material, de alguma forma, você possa re-pensar, reconstruir o seu olhar sobre alguns dos pensar, reconstruir o seu olhar sobre alguns dos assuntos aqui abordados. E que este trabalho assuntos aqui abordados. E que este trabalho não sirva apenas como um material de leitura, não sirva apenas como um material de leitura, mas como um incentivo à ação, à ação transfor mas como um incentivo à ação, à ação transfor --madora.

madora.

Como a escola pode lidar com situações

Como a escola pode lidar com situações

liga-das à orientação sexual dos alunos? A sexualidade

das à orientação sexual dos alunos? A sexualidade

dos alunos e alunas é um problema da Escola? E a

dos alunos e alunas é um problema da Escola? E a

discriminação e a violência que sofrem os jovens

discriminação e a violência que sofrem os jovens

homossexuais dentro da Escola? O que uma pro

homossexuais dentro da Escola? O que uma

pro--fessora pode fazer diante de um ato de

fessora pode fazer diante de um ato de

discrimi-nação?

nação?

SEXUALIDADE

SEXUALIDADE

por todos os cantos

por todos os cantos

Nos anos 60, teve início um Nos anos 60, teve início um pro-cesso de aprofundamento das cesso de aprofundamento das mu-danças sociais com relação ao danças sociais com relação ao com-portamento e à sexualidade. Os dois portamento e à sexualidade. Os dois movimentos que mais contribuíram movimentos que mais contribuíram para essas transformações foram o para essas transformações foram o movimento feminista e, mais tarde, movimento feminista e, mais tarde, os movimentos gay e lésbico . os movimentos gay e lésbico . Ain-da hoje, vivemos um momento de da hoje, vivemos um momento de transição, de transformação dos transição, de transformação dos pa-radigmas de comportamento sexual radigmas de comportamento sexual e afetivo da nossa sociedade. e afetivo da nossa sociedade.

Como em todo momento de Como em todo momento de mudança, a realidade de hoje mudança, a realidade de hoje guar-da várias contradições. Ao mesmo da várias contradições. Ao mesmo tempo em que vemos e convivemos tempo em que vemos e convivemos cada dia mais com uma diversidade cada dia mais com uma diversidade sexual cada vez mais rica e menos sexual cada vez mais rica e menos rotulada, se mantêm e até se rotulada, se mantêm e até se re-forçam atitudes preconceituosas, forçam atitudes preconceituosas, discriminatórias e violentas de discriminatórias e violentas de pes-soas, grupos e instituições soas, grupos e instituições conser-vadoras. Esse embate entre o novo vadoras. Esse embate entre o novo e o conservador, entre a conquista e o conservador, entre a conquista dos direitos e a repressão dos dos direitos e a repressão dos pre-conceitos se dá em todo o corpo conceitos se dá em todo o corpo social, em diferentes lugares e social, em diferentes lugares e mo-mentos. Na família, no círculo de mentos. Na família, no círculo de amigos, na comunidade, no amigos, na comunidade, no traba-lho e, é claro, na Escola.

lho e, é claro, na Escola.

Mas a Escola fala sobre sexo? Mas a Escola fala sobre sexo? Fala sobre sexualidade? Michel Fala sobre sexualidade? Michel Foucault, em seu livro História da Foucault, em seu livro História da

Sexualidade, defende que, nos Sexualidade, defende que, nos últimos séculos, ao contrário de últimos séculos, ao contrário de uma sistemática repressão uma sistemática repressão sexu-al, o que houve foi uma produção al, o que houve foi uma produção massiva de discursos sobre o sexo. massiva de discursos sobre o sexo. O sexo tornou-se objeto de O sexo tornou-se objeto de análi-se cientíca, alvo da medicina, da se cientíca, alvo da medicina, da psiquiatria, da pedagogia. Se antes psiquiatria, da pedagogia. Se antes as relações de poder que as relações de poder que perpas- perpas-savam a questão sexual estavam savam a questão sexual estavam focadas na aliança, nos laços de focadas na aliança, nos laços de matrimônio e na ocialização de matrimônio e na ocialização de uma parceria, agora as relações de uma parceria, agora as relações de poder se projetam sobre o corpo, poder se projetam sobre o corpo, sobre o prazer e suas sobre o prazer e suas manifesta-ções. Produzem-se discursos sobre ções. Produzem-se discursos sobre o corpo da mulher, a sua o corpo da mulher, a sua afetivi-dade, o seu papel de “mãe”; a dade, o seu papel de “mãe”; a sexualidade infantil é vista como sexualidade infantil é vista como algo precoce e se torna alvo da algo precoce e se torna alvo da pe-dagogia; a reprodução e o sexo se dagogia; a reprodução e o sexo se tornam de interesse das políticas tornam de interesse das políticas públicas de saúde e população e a públicas de saúde e população e a psiquiatria cria uma série de psiquiatria cria uma série de cate-gorias, conceitos e nomenclaturas gorias, conceitos e nomenclaturas especícas para descrever com especícas para descrever com--portamentos sexuais “perversos”. portamentos sexuais “perversos”. Ou seja, a rede de poder que Ou seja, a rede de poder que per-passa a sexualidade seria baseada, passa a sexualidade seria baseada, portanto, não em um movimento portanto, não em um movimento de repressão, de silêncio, de de repressão, de silêncio, de mu-tismo e até de invisibilidade. Mas, tismo e até de invisibilidade. Mas, mais que isso, numa dinâmica mais que isso, numa dinâmica

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po-SEXUALIDADE

SEXUALIDADE

por todos os cantos

por todos os cantos

Nos anos 60, teve início um Nos anos 60, teve início um pro-cesso de aprofundamento das cesso de aprofundamento das mu-danças sociais com relação ao danças sociais com relação ao com-portamento e à sexualidade. Os dois portamento e à sexualidade. Os dois movimentos que mais contribuíram movimentos que mais contribuíram para essas transformações foram o para essas transformações foram o movimento feminista e, mais tarde, movimento feminista e, mais tarde, os movimentos gay e lésbico . os movimentos gay e lésbico . Ain-da hoje, vivemos um momento de da hoje, vivemos um momento de transição, de transformação dos transição, de transformação dos pa-radigmas de comportamento sexual radigmas de comportamento sexual e afetivo da nossa sociedade. e afetivo da nossa sociedade.

Como em todo momento de Como em todo momento de mudança, a realidade de hoje mudança, a realidade de hoje guar-da várias contradições. Ao mesmo da várias contradições. Ao mesmo tempo em que vemos e convivemos tempo em que vemos e convivemos cada dia mais com uma diversidade cada dia mais com uma diversidade sexual cada vez mais rica e menos sexual cada vez mais rica e menos rotulada, se mantêm e até se rotulada, se mantêm e até se re-forçam atitudes preconceituosas, forçam atitudes preconceituosas, discriminatórias e violentas de discriminatórias e violentas de pes-soas, grupos e instituições soas, grupos e instituições conser-vadoras. Esse embate entre o novo vadoras. Esse embate entre o novo e o conservador, entre a conquista e o conservador, entre a conquista dos direitos e a repressão dos dos direitos e a repressão dos pre-conceitos se dá em todo o corpo conceitos se dá em todo o corpo social, em diferentes lugares e social, em diferentes lugares e mo-mentos. Na família, no círculo de mentos. Na família, no círculo de amigos, na comunidade, no amigos, na comunidade, no traba-lho e, é claro, na Escola.

lho e, é claro, na Escola.

Mas a Escola fala sobre sexo? Mas a Escola fala sobre sexo? Fala sobre sexualidade? Michel Fala sobre sexualidade? Michel Foucault, em seu livro História da Foucault, em seu livro História da

Sexualidade, defende que, nos Sexualidade, defende que, nos últimos séculos, ao contrário de últimos séculos, ao contrário de uma sistemática repressão uma sistemática repressão sexu-al, o que houve foi uma produção al, o que houve foi uma produção massiva de discursos sobre o sexo. massiva de discursos sobre o sexo. O sexo tornou-se objeto de O sexo tornou-se objeto de análi-se cientíca, alvo da medicina, da se cientíca, alvo da medicina, da psiquiatria, da pedagogia. Se antes psiquiatria, da pedagogia. Se antes as relações de poder que as relações de poder que perpas- perpas-savam a questão sexual estavam savam a questão sexual estavam focadas na aliança, nos laços de focadas na aliança, nos laços de matrimônio e na ocialização de matrimônio e na ocialização de uma parceria, agora as relações de uma parceria, agora as relações de poder se projetam sobre o corpo, poder se projetam sobre o corpo, sobre o prazer e suas sobre o prazer e suas manifesta-ções. Produzem-se discursos sobre ções. Produzem-se discursos sobre o corpo da mulher, a sua o corpo da mulher, a sua afetivi-dade, o seu papel de “mãe”; a dade, o seu papel de “mãe”; a sexualidade infantil é vista como sexualidade infantil é vista como algo precoce e se torna alvo da algo precoce e se torna alvo da pe-dagogia; a reprodução e o sexo se dagogia; a reprodução e o sexo se tornam de interesse das políticas tornam de interesse das políticas públicas de saúde e população e a públicas de saúde e população e a psiquiatria cria uma série de psiquiatria cria uma série de cate-gorias, conceitos e nomenclaturas gorias, conceitos e nomenclaturas especícas para descrever com especícas para descrever com--portamentos sexuais “perversos”. portamentos sexuais “perversos”. Ou seja, a rede de poder que Ou seja, a rede de poder que per-passa a sexualidade seria baseada, passa a sexualidade seria baseada, portanto, não em um movimento portanto, não em um movimento de repressão, de silêncio, de de repressão, de silêncio, de mu-tismo e até de invisibilidade. Mas, tismo e até de invisibilidade. Mas, mais que isso, numa dinâmica mais que isso, numa dinâmica

po-sitiva, de produção de discursos e sitiva, de produção de discursos e comportamentos.

comportamentos.

Nesse contexto, a Escola, Nesse contexto, a Escola, enten-dida como uma instituição formada dida como uma instituição formada por seres humanos, pais e mães, por seres humanos, pais e mães, professores, alunos e funcionários, professores, alunos e funcionários, muitas vezes não é vista como um muitas vezes não é vista como um lugar onde a sexualidade deva ser lugar onde a sexualidade deva ser expressada ou discutida. Em seu expressada ou discutida. Em seu aparente silêncio, na verdade, ela aparente silêncio, na verdade, ela fala o tempo todo sobre fala o tempo todo sobre sexuali-dade. “O espaço da sala, a forma dade. “O espaço da sala, a forma das mesas, o arranjo dos pátios de das mesas, o arranjo dos pátios de recreio, a distribuição dos recreio, a distribuição dos dormi-tórios, os regulamentos elaborados tórios, os regulamentos elaborados para a vigilância do recolhimento e para a vigilância do recolhimento e do sono, tudo fala silenciosamente do sono, tudo fala silenciosamente da maneira mais prolixa da da maneira mais prolixa da sexu-alidade

alidade das das crianças.” crianças.” Para Para citarcitar exemplos mais modernos, a divisão exemplos mais modernos, a divisão por sexo nas aulas de Educação por sexo nas aulas de Educação Físi-ca - e os

ca - e os esportes atribuídos a meni-esportes atribuídos a meni-nos ou meninas; as las de menimeni-nos nos ou meninas; as las de meninos e de meninas na Educação Infantil; e de meninas na Educação Infantil; as distinções sexistas de vestuário as distinções sexistas de vestuário - meninos não podem usar brincos - meninos não podem usar brincos nem cabelo comprido; a forma dos nem cabelo comprido; a forma dos professores tratarem alunos professores tratarem alunos ho-mens ou mulheres, com rispidez mens ou mulheres, com rispidez ou com delicadeza; a tolerância da ou com delicadeza; a tolerância da violência, verbal e até mesmo violência, verbal e até mesmo físi-ca, entre meninos; a preocupação ca, entre meninos; a preocupação constante com a manifestação da constante com a manifestação da sensualidade das adolescentes. Só sensualidade das adolescentes. Só para citar alguns exemplos. para citar alguns exemplos.

Por outro lado, uma pesquisa Por outro lado, uma pesquisa recente da

recente da UNESCO UNESCO levantou que,levantou que, se para alguns pais a escola não é se para alguns pais a escola não é “lugar para ensinar saliências”, “lugar para ensinar saliências”, a maior parte dos responsáveis e, a maior parte dos responsáveis e, em maior escala, de educadores e em maior escala, de educadores e estudantes, é favorável à discussão estudantes, é favorável à discussão direta sobre sexualidade na Escola. direta sobre sexualidade na Escola.

Nesse debate se opõem, de um Nesse debate se opõem, de um lado, uma visão higienista, lado, uma visão higienista, biolo-gizante, onde se apresenta uma gizante, onde se apresenta uma verdade única e “cientíca” e onde verdade única e “cientíca” e onde cabe apenas a um professor, o de cabe apenas a um professor, o de Ciências, a responsabilidade de Ciências, a responsabilidade de tratar o tema. De outro lado, uma tratar o tema. De outro lado, uma perspectiva interdisciplinar, onde perspectiva interdisciplinar, onde a sexualidade seja tratada em a sexualidade seja tratada em di-ferentes momentos e sob diversas ferentes momentos e sob diversas perspectivas, em todos os seus perspectivas, em todos os seus as-pectos (biológicos, sociológicos, pectos (biológicos, sociológicos, culturais, afetivos, etc.) numa idéia culturais, afetivos, etc.) numa idéia de pluralidade e tolerância. de pluralidade e tolerância.

Tudo isso nos mostra que a Tudo isso nos mostra que a Es-cola, a despeito do que se creia, é cola, a despeito do que se creia, é sim um espaço onde a sexualidade se sim um espaço onde a sexualidade se manifesta e mais, onde se produzem manifesta e mais, onde se produzem comportamentos, onde se instigam comportamentos, onde se instigam ou superam preconceitos, onde se ou superam preconceitos, onde se difundem conhecimentos e valores. difundem conhecimentos e valores. E a Escola, com seu

E a Escola, com seu papel formativo,papel formativo, tem sobre si uma enorme tem sobre si uma enorme responsa-bilidade, proporcional aos seus bilidade, proporcional aos seus desa-os, no que diz respeito à superação os, no que diz respeito à superação dos preconceitos e à defesa irrestrita dos preconceitos e à defesa irrestrita dos direitos humanos.

dos direitos humanos.

Mas o que orienta as posições Mas o que orienta as posições institucionais da Escola? Como cada institucionais da Escola? Como cada estabelecimento se coloca estabelecimento se coloca dian-te das questões da sexualidade e, te das questões da sexualidade e, especicamente, da diversidade especicamente, da diversidade sexual de seus/suas alunos/as e sexual de seus/suas alunos/as e professores/as? Como cada escola professores/as? Como cada escola lida com episódios de conito, de lida com episódios de conito, de agressão e de discriminação? A es agressão e de discriminação? A es --cola trabalha para a superação cola trabalha para a superação des-ses preconceitos ou, ao contrário, ses preconceitos ou, ao contrário, adota, nas suas práticas cotidianas, adota, nas suas práticas cotidianas, regras, rótulos e posturas que regras, rótulos e posturas que ten-dem a reproduzir, armar e incre dem a reproduzir, armar e incre --mentar atitudes discriminatórias, mentar atitudes discriminatórias, sexistas e homofóbicas?

sexistas e homofóbicas?

Eu dei aula numa escola de 1ª a 4ª, justamente o primeiro segmento, e eu Eu dei aula numa escola de 1ª a 4ª, justamente o primeiro segmento, e eu tive uma situação em que cou nítido, por falta de argumento do professor, tive uma situação em que cou nítido, por falta de argumento do professor, aí você sai por aquele caminho do senso-comum. Uma aluna fazendo uma aí você sai por aquele caminho do senso-comum. Uma aluna fazendo uma ba- gunça, perturbando, perturbando, perturb

 gunça, perturbando, perturbando, perturbando, aí ando, aí chegou uma hora em chegou uma hora em queque não agüentei mais e z assim

não agüentei mais e z assim “porque você não pára com isso, que saco, vê“porque você não pára com isso, que saco, vê isso ca bem, uma menina agindo dessa forma!”. E aí

isso ca bem, uma menina agindo dessa forma!”. E aí a turma virou e faloua turma virou e falou assim: “professor

assim: “professor, é um , é um menino”. Aí minha cara foi no chão, não menino”. Aí minha cara foi no chão, não por eu ter por eu ter  errado o sexo, mas aí eu percebi o quanto de preconceito estava naquela errado o sexo, mas aí eu percebi o quanto de preconceito estava naquela  fala. “Do mesmo jeito, tanto faz se é menino ou menina”. Aí, na verdade,  fala. “Do mesmo jeito, tanto faz se é menino ou menina”. Aí, na verdade,

eu já tava dando esporro em mim mesmo. Mas

eu já tava dando esporro em mim mesmo. Mas tem essa coisa, eu acho que atem essa coisa, eu acho que a  gente acaba reforçando a postura social e

 gente acaba reforçando a postura social e cultural. Por não ter argumento,cultural. Por não ter argumento, acabei falando “vê se ca bem

acabei falando “vê se ca bem numa menina”. Não interessa se ela é numa menina”. Não interessa se ela é meninamenina ou se é menino.

ou se é menino.

Professor  Professor 

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sitiva, de produção de discursos e sitiva, de produção de discursos e comportamentos.

comportamentos.

Nesse contexto, a Escola, Nesse contexto, a Escola, enten-dida como uma instituição formada dida como uma instituição formada por seres humanos, pais e mães, por seres humanos, pais e mães, professores, alunos e funcionários, professores, alunos e funcionários, muitas vezes não é vista como um muitas vezes não é vista como um lugar onde a sexualidade deva ser lugar onde a sexualidade deva ser expressada ou discutida. Em seu expressada ou discutida. Em seu aparente silêncio, na verdade, ela aparente silêncio, na verdade, ela fala o tempo todo sobre fala o tempo todo sobre sexuali-dade. “O espaço da sala, a forma dade. “O espaço da sala, a forma das mesas, o arranjo dos pátios de das mesas, o arranjo dos pátios de recreio, a distribuição dos recreio, a distribuição dos dormi-tórios, os regulamentos elaborados tórios, os regulamentos elaborados para a vigilância do recolhimento e para a vigilância do recolhimento e do sono, tudo fala silenciosamente do sono, tudo fala silenciosamente da maneira mais prolixa da da maneira mais prolixa da sexu-alidade

alidade das das crianças.” crianças.” Para Para citarcitar exemplos mais modernos, a divisão exemplos mais modernos, a divisão por sexo nas aulas de Educação por sexo nas aulas de Educação Físi-ca - e os

ca - e os esportes atribuídos a meni-esportes atribuídos a meni-nos ou meninas; as las de menimeni-nos nos ou meninas; as las de meninos e de meninas na Educação Infantil; e de meninas na Educação Infantil; as distinções sexistas de vestuário as distinções sexistas de vestuário - meninos não podem usar brincos - meninos não podem usar brincos nem cabelo comprido; a forma dos nem cabelo comprido; a forma dos professores tratarem alunos professores tratarem alunos ho-mens ou mulheres, com rispidez mens ou mulheres, com rispidez ou com delicadeza; a tolerância da ou com delicadeza; a tolerância da violência, verbal e até mesmo violência, verbal e até mesmo físi-ca, entre meninos; a preocupação ca, entre meninos; a preocupação constante com a manifestação da constante com a manifestação da sensualidade das adolescentes. Só sensualidade das adolescentes. Só para citar alguns exemplos. para citar alguns exemplos.

Por outro lado, uma pesquisa Por outro lado, uma pesquisa recente da

recente da UNESCO UNESCO levantou que,levantou que, se para alguns pais a escola não é se para alguns pais a escola não é “lugar para ensinar saliências”, “lugar para ensinar saliências”, a maior parte dos responsáveis e, a maior parte dos responsáveis e, em maior escala, de educadores e em maior escala, de educadores e estudantes, é favorável à discussão estudantes, é favorável à discussão direta sobre sexualidade na Escola. direta sobre sexualidade na Escola.

Nesse debate se opõem, de um Nesse debate se opõem, de um lado, uma visão higienista, lado, uma visão higienista, biolo-gizante, onde se apresenta uma gizante, onde se apresenta uma verdade única e “cientíca” e onde verdade única e “cientíca” e onde cabe apenas a um professor, o de cabe apenas a um professor, o de Ciências, a responsabilidade de Ciências, a responsabilidade de tratar o tema. De outro lado, uma tratar o tema. De outro lado, uma perspectiva interdisciplinar, onde perspectiva interdisciplinar, onde a sexualidade seja tratada em a sexualidade seja tratada em di-ferentes momentos e sob diversas ferentes momentos e sob diversas perspectivas, em todos os seus perspectivas, em todos os seus as-pectos (biológicos, sociológicos, pectos (biológicos, sociológicos, culturais, afetivos, etc.) numa idéia culturais, afetivos, etc.) numa idéia de pluralidade e tolerância. de pluralidade e tolerância.

Tudo isso nos mostra que a Tudo isso nos mostra que a Es-cola, a despeito do que se creia, é cola, a despeito do que se creia, é sim um espaço onde a sexualidade se sim um espaço onde a sexualidade se manifesta e mais, onde se produzem manifesta e mais, onde se produzem comportamentos, onde se instigam comportamentos, onde se instigam ou superam preconceitos, onde se ou superam preconceitos, onde se difundem conhecimentos e valores. difundem conhecimentos e valores. E a Escola, com seu

E a Escola, com seu papel formativo,papel formativo, tem sobre si uma enorme tem sobre si uma enorme responsa-bilidade, proporcional aos seus bilidade, proporcional aos seus desa-os, no que diz respeito à superação os, no que diz respeito à superação dos preconceitos e à defesa irrestrita dos preconceitos e à defesa irrestrita dos direitos humanos.

dos direitos humanos.

Mas o que orienta as posições Mas o que orienta as posições institucionais da Escola? Como cada institucionais da Escola? Como cada estabelecimento se coloca estabelecimento se coloca dian-te das questões da sexualidade e, te das questões da sexualidade e, especicamente, da diversidade especicamente, da diversidade sexual de seus/suas alunos/as e sexual de seus/suas alunos/as e professores/as? Como cada escola professores/as? Como cada escola lida com episódios de conito, de lida com episódios de conito, de agressão e de discriminação? A es agressão e de discriminação? A es --cola trabalha para a superação cola trabalha para a superação des-ses preconceitos ou, ao contrário, ses preconceitos ou, ao contrário, adota, nas suas práticas cotidianas, adota, nas suas práticas cotidianas, regras, rótulos e posturas que regras, rótulos e posturas que ten-dem a reproduzir, armar e incre dem a reproduzir, armar e incre --mentar atitudes discriminatórias, mentar atitudes discriminatórias, sexistas e homofóbicas?

sexistas e homofóbicas?

Eu dei aula numa escola de 1ª a 4ª, justamente o primeiro segmento, e eu Eu dei aula numa escola de 1ª a 4ª, justamente o primeiro segmento, e eu tive uma situação em que cou nítido, por falta de argumento do professor, tive uma situação em que cou nítido, por falta de argumento do professor, aí você sai por aquele caminho do senso-comum. Uma aluna fazendo uma aí você sai por aquele caminho do senso-comum. Uma aluna fazendo uma ba- gunça, perturbando, perturbando, perturb

 gunça, perturbando, perturbando, perturbando, aí ando, aí chegou uma hora em chegou uma hora em queque não agüentei mais e z assim

não agüentei mais e z assim “porque você não pára com isso, que saco, vê“porque você não pára com isso, que saco, vê isso ca bem, uma menina agindo dessa forma!”. E aí

isso ca bem, uma menina agindo dessa forma!”. E aí a turma virou e faloua turma virou e falou assim: “professor

assim: “professor, é um , é um menino”. Aí minha cara foi no chão, não menino”. Aí minha cara foi no chão, não por eu ter por eu ter  errado o sexo, mas aí eu percebi o quanto de preconceito estava naquela errado o sexo, mas aí eu percebi o quanto de preconceito estava naquela  fala. “Do mesmo jeito, tanto faz se é menino ou menina”. Aí, na verdade,  fala. “Do mesmo jeito, tanto faz se é menino ou menina”. Aí, na verdade,

eu já tava dando esporro em mim mesmo. Mas

eu já tava dando esporro em mim mesmo. Mas tem essa coisa, eu acho que atem essa coisa, eu acho que a  gente acaba reforçando a postura social e

 gente acaba reforçando a postura social e cultural. Por não ter argumento,cultural. Por não ter argumento, acabei falando “vê se ca bem

acabei falando “vê se ca bem numa menina”. Não interessa se ela é numa menina”. Não interessa se ela é meninamenina ou se é menino.

ou se é menino.

Professor  Professor 

Para começar: você sabe qual a Para começar: você sabe qual a diferença entre SEXO e GÊNERO? O diferença entre SEXO e GÊNERO? O que você sabe sobre estes dois que você sabe sobre estes dois con-ceitos?

ceitos?

Bom, num primeiro momento Bom, num primeiro momento vamos pensar que sexo é tudo vamos pensar que sexo é tudo aqui-lo que está relacionado às caracte lo que está relacionado às caracte--rísticas físicas de um ser humano. O rísticas físicas de um ser humano. O órgão sexual, o genoma, o formato órgão sexual, o genoma, o formato do corpo, dos seios, enm, tudo do corpo, dos seios, enm, tudo aquilo que é característica aquilo que é característica relacio-nada diretamente à materialidade. nada diretamente à materialidade. Assim, teríamos pessoas do sexo Assim, teríamos pessoas do sexo masculino, do sexo feminino ou masculino, do sexo feminino ou (raramente) intersexuais.

(raramente) intersexuais. E gênero? O conceito de gêne E gênero? O conceito de gêne--ro, por outro lado, está ligado às ro, por outro lado, está ligado às características comportamentais, características comportamentais, culturais, sociais e históricas, culturais, sociais e históricas, cons-truídas socialmente. Entre um bebê truídas socialmente. Entre um bebê do sexo masculino e um homem, na do sexo masculino e um homem, na forma como a nossa sociedade o forma como a nossa sociedade o concebe – no seu jeito de ser, de concebe – no seu jeito de ser, de falar, de andar, de vestir, de agir falar, de andar, de vestir, de agir – há uma grande distância. Antes – há uma grande distância. Antes mesmo de uma criança nascer ela mesmo de uma criança nascer ela já tem um nome, que é masculino já tem um nome, que é masculino ou feminino; já tem um enxoval, ou feminino; já tem um enxoval, que é mais rosa ou mais azul; já que é mais rosa ou mais azul; já tem expectativas de vida dos seus tem expectativas de vida dos seus pais sobre ela, que tem a ver com o pais sobre ela, que tem a ver com o fato dela ser menino ou menina. fato dela ser menino ou menina.

Não há nada na genética do Não há nada na genética do ca-belo da mulher que diga que ele é belo da mulher que diga que ele é mais propenso a car comprido do mais propenso a car comprido do que o do homem. Não há nada no que o do homem. Não há nada no formato do quadril de um homem formato do quadril de um homem que o impeça de usar saia. Essas que o impeça de usar saia. Essas convenções são construídas convenções são construídas social-mente, através da História e das mente, através da História e das nossas culturas.

nossas culturas.

Poderíamos aqui dividir as Poderíamos aqui dividir as pes-soas no gênero masculino ou soas no gênero masculino ou

femi-nino, mas, nesse caso, esta divisão nino, mas, nesse caso, esta divisão se torna cada vez mais articial. se torna cada vez mais articial. Anal, para que ela faça sentido é Anal, para que ela faça sentido é preciso que a gente tenha um perl preciso que a gente tenha um perl de masculinidade e de feminilidade de masculinidade e de feminilidade claramente estabelecidos. Apesar claramente estabelecidos. Apesar destes estereótipos existirem, eles destes estereótipos existirem, eles são a cada dia mais e mais são a cada dia mais e mais ques-tionados. Esta divisão estanque tionados. Esta divisão estanque entre masculino e feminino vai entre masculino e feminino vai sendo relativizada e vão se criando sendo relativizada e vão se criando identidades de gênero que não se identidades de gênero que não se encaixam exatamente em nenhum encaixam exatamente em nenhum extremo.

extremo.

Complicado? Pois ainda dá para Complicado? Pois ainda dá para complicar um pouco mais. Por complicar um pouco mais. Por exemplo: qual é o sexo hoje de exemplo: qual é o sexo hoje de uma pessoa que nasceu com o sexo uma pessoa que nasceu com o sexo masculino, mas fez uma operação masculino, mas fez uma operação de mudança de sexo? É masculino de mudança de sexo? É masculino ou feminino? O que é determinante ou feminino? O que é determinante nesse caso? O sexo de nascença? O nesse caso? O sexo de nascença? O sexo que ela tem agora? As caracte sexo que ela tem agora? As caracte--rísticas físicas? Mas quais? O genó rísticas físicas? Mas quais? O genó --tipo? (Ela continua XY) Ou o fenó tipo? (Ela continua XY) Ou o fenó--tipo? (Ela tem seios, quadril, rosto, tipo? (Ela tem seios, quadril, rosto, vagina, toda a compleição física de vagina, toda a compleição física de uma mulher) Mas ela não pode ter uma mulher) Mas ela não pode ter lhos. E as mulheres que nascem lhos. E as mulheres que nascem ou cam estéreis? Não são mulhe ou cam estéreis? Não são mulhe--res? O que dene uma mulher? É a res? O que dene uma mulher? É a sua capacidade de reproduzir? Ou sua capacidade de reproduzir? Ou seja, num caso como esse, há seja, num caso como esse, há ar-gumentos físicos e biológicos para gumentos físicos e biológicos para armar que essa pessoa é do sexo armar que essa pessoa é do sexo masculino. E há argumentos físicos masculino. E há argumentos físicos e biológicos para armar que ela é e biológicos para armar que ela é do sexo feminino. No m de tudo, do sexo feminino. No m de tudo, percebemos que o sexo também percebemos que o sexo também não é um conceito tão denitivo as não é um conceito tão denitivo as--sim e pode ser tão relativo quanto sim e pode ser tão relativo quanto o conceito de gênero.

o conceito de gênero.

A Biologia, como todas as A Biologia, como todas as

ciên-cias, foi criada pelos seres

cias, foi criada pelos seres humanos,humanos, num determinado momento da num determinado momento da His-tória, num determinado tipo de tória, num determinado tipo de so-ciedade. Ela é, portanto, assim como ciedade. Ela é, portanto, assim como todas as outras ciências, relativa. todas as outras ciências, relativa.

No m, o que percebemos é que No m, o que percebemos é que os conceitos de sexo e gênero, os conceitos de sexo e gênero, ape-sar de distintos, são ambos relativos e sar de distintos, são ambos relativos e a percepção sobre eles irá mudar de a percepção sobre eles irá mudar de acordo com o momento histórico, a acordo com o momento histórico, a

cultura e a visão pessoal de cada um. cultura e a visão pessoal de cada um. Sobre a transexual, pense Sobre a transexual, pense ape-nas uma coisa: se você decidir que nas uma coisa: se você decidir que o sexo dela é masculino, vai fazer o sexo dela é masculino, vai fazer alguma diferença para você na sua alguma diferença para você na sua vida cotidiana? E para ela? Se você vida cotidiana? E para ela? Se você decidir que o sexo dela é feminino, decidir que o sexo dela é feminino, vai fazer alguma diferença para você vai fazer alguma diferença para você na sua vida cotidiana? E para ela? na sua vida cotidiana? E para ela?

U

Umm  g gruru p poo d d ee cciieennttiissttaass ccoololoccoouu ccininccoo mmaaccaaccooss nnuummaa  j jaauullaa.. N

Noo mmeeiioo d d aa j jaauullaa,, uummaa eessccaad d aa ee ssoobbr r ee eellaa,, uumm ccaacchhoo d d ee bbaannaannaass.. Q 

Q uuaannd d oo uumm mmaaccaaccoo ssuubbiaia nnaa eessccaad d aa  p paar r aa  p pee g gaar r  aass bbaannaannaass,, ooss cciieennttiissttaass j joo g gaav v aamm uumm jjaattoo d d ee áá g guuaa f  f r r iiaa,, nnããoo nnoo qquuee ssuubbiaia,, nnooss qquuee e

essttaav v aamm nnoo cchhããoo.. DDee p pooisis d d ee aall g guunnss jjaattooss d d »»áá g guuaa,, qquuaannd d oo uumm mmaaccaaccoo tteennttaav v aa ssuubbiir r aa eessccaad d aa,, ooss oouuttr r ooss oo eess p paannccaav v aamm.. CCoomm mmaaiiss aall g guumm tteemm p poo,, nneennhhuumm mmaaccaaccoo ssuubbiiaa mmaaiiss aa eessccaad d aa,, aa p peessaar r  d d aa tteennttaaççããoo d 

d aass bbaannaannaass.. E 

E nnttããoo,, ooss ccieiennttiissttaass ssuubbssttiittuuíír r aamm uumm d d ooss mmaaccaaccooss ppoor r uumm nnoov v oo..  A

 A p pr r iimmeeiir r aa ccooiissaa qquuee oo nnoov v aattoo f f eezz f f ooi,i, lloo g giiccaammeennttee,, ssuubbiir r aa eessccaad d aa.. M

Maass  f  f ooii iimmeed d iiaattaammeennttee ssuur r r r aad d oo  p peellooss oouutr tr ooss.. DDee p pooiiss d d ee aalglguummaass ssuur r r r aass,, oo nnoov v oo ininttee g gr r aannttee d d oo  g gr r uu p poo ttaammbbéémm nnããoo ssuubbiiaa mmaaiiss nnaa e

essccaad d aa.. E E mm ssee g guuiid d aa,, ooss ccieiennttiissttaass ssuubbssttiittuuíír r aamm oouuttr r oo mmaaccaaccoo.. CCllaar r oo,, o

o nnoov v aattoo fo foii d d iir r eettoo tteennttaar r susubbiir r aa eessccaad d aa.. E E ccllaar r oo,, f f ooii eess p paannccaad d oo p poor r  ttood d ooss ooss oouutr tr ooss,, iinncclluussiiv v ee aaqquueellee p pr r iimmeeiir r oo mmaaccaaccoo ttr r ooccaad d oo..

E aassssiimm f  f ooii,, mmaaccaaccoo aa mmaaccaaccoo,, ooss ccieiennttiiststaass ssuubbssttiittuuíír r aamm ttood d ooss  p

 poor r nnoov v ooss iinnttee g gr r aanntteess.. NNoo  nnaall d d ee ttuud d oo,, oo ggruru p poo d d ee cciinnccoo mmaaccaaccooss,, ttood d ooss ttr r ooccaad d ooss,, mmeessmmoo nnuunnccaa tteennd d oo ttoommaad d oo uumm úúnniiccoo bbaannhhoo f  f r r iioo,, ccoonnttiinnuuaav v aamm bbaatteennd d oo eemm qquuaallqquueer r  uumm qquuee tteenntatasssseemm  p pee g gaar r  aass b

baannaannaass..

SSee d d eessssee p paar r aa aa g geennttee p peer r  g guunnttaar r  p paar r aa aall g guumm d d eeleless ppoor r qquuee eelleess e

ess p paannccaav v aamm qquueemm tteennttaassssee ssuubbiir r aa eessccaad d aa,, p pr r oov v aav v eellmmeennttee uumm d d eeleless iiaa r r eess p poonnd d eer r :: ««nnããoo sseeii,, ssóó sseeii qquuee sseemm p pr r ee f  f ooii aassssiimm..»»

B

(7)

Para começar: você sabe qual a Para começar: você sabe qual a diferença entre SEXO e GÊNERO? O diferença entre SEXO e GÊNERO? O que você sabe sobre estes dois que você sabe sobre estes dois con-ceitos?

ceitos?

Bom, num primeiro momento Bom, num primeiro momento vamos pensar que sexo é tudo vamos pensar que sexo é tudo aqui-lo que está relacionado às caracte lo que está relacionado às caracte--rísticas físicas de um ser humano. O rísticas físicas de um ser humano. O órgão sexual, o genoma, o formato órgão sexual, o genoma, o formato do corpo, dos seios, enm, tudo do corpo, dos seios, enm, tudo aquilo que é característica aquilo que é característica relacio-nada diretamente à materialidade. nada diretamente à materialidade. Assim, teríamos pessoas do sexo Assim, teríamos pessoas do sexo masculino, do sexo feminino ou masculino, do sexo feminino ou (raramente) intersexuais.

(raramente) intersexuais. E gênero? O conceito de gêne E gênero? O conceito de gêne--ro, por outro lado, está ligado às ro, por outro lado, está ligado às características comportamentais, características comportamentais, culturais, sociais e históricas, culturais, sociais e históricas, cons-truídas socialmente. Entre um bebê truídas socialmente. Entre um bebê do sexo masculino e um homem, na do sexo masculino e um homem, na forma como a nossa sociedade o forma como a nossa sociedade o concebe – no seu jeito de ser, de concebe – no seu jeito de ser, de falar, de andar, de vestir, de agir falar, de andar, de vestir, de agir – há uma grande distância. Antes – há uma grande distância. Antes mesmo de uma criança nascer ela mesmo de uma criança nascer ela já tem um nome, que é masculino já tem um nome, que é masculino ou feminino; já tem um enxoval, ou feminino; já tem um enxoval, que é mais rosa ou mais azul; já que é mais rosa ou mais azul; já tem expectativas de vida dos seus tem expectativas de vida dos seus pais sobre ela, que tem a ver com o pais sobre ela, que tem a ver com o fato dela ser menino ou menina. fato dela ser menino ou menina.

Não há nada na genética do Não há nada na genética do ca-belo da mulher que diga que ele é belo da mulher que diga que ele é mais propenso a car comprido do mais propenso a car comprido do que o do homem. Não há nada no que o do homem. Não há nada no formato do quadril de um homem formato do quadril de um homem que o impeça de usar saia. Essas que o impeça de usar saia. Essas convenções são construídas convenções são construídas social-mente, através da História e das mente, através da História e das nossas culturas.

nossas culturas.

Poderíamos aqui dividir as Poderíamos aqui dividir as pes-soas no gênero masculino ou soas no gênero masculino ou

femi-nino, mas, nesse caso, esta divisão nino, mas, nesse caso, esta divisão se torna cada vez mais articial. se torna cada vez mais articial. Anal, para que ela faça sentido é Anal, para que ela faça sentido é preciso que a gente tenha um perl preciso que a gente tenha um perl de masculinidade e de feminilidade de masculinidade e de feminilidade claramente estabelecidos. Apesar claramente estabelecidos. Apesar destes estereótipos existirem, eles destes estereótipos existirem, eles são a cada dia mais e mais são a cada dia mais e mais ques-tionados. Esta divisão estanque tionados. Esta divisão estanque entre masculino e feminino vai entre masculino e feminino vai sendo relativizada e vão se criando sendo relativizada e vão se criando identidades de gênero que não se identidades de gênero que não se encaixam exatamente em nenhum encaixam exatamente em nenhum extremo.

extremo.

Complicado? Pois ainda dá para Complicado? Pois ainda dá para complicar um pouco mais. Por complicar um pouco mais. Por exemplo: qual é o sexo hoje de exemplo: qual é o sexo hoje de uma pessoa que nasceu com o sexo uma pessoa que nasceu com o sexo masculino, mas fez uma operação masculino, mas fez uma operação de mudança de sexo? É masculino de mudança de sexo? É masculino ou feminino? O que é determinante ou feminino? O que é determinante nesse caso? O sexo de nascença? O nesse caso? O sexo de nascença? O sexo que ela tem agora? As caracte sexo que ela tem agora? As caracte--rísticas físicas? Mas quais? O genó rísticas físicas? Mas quais? O genó --tipo? (Ela continua XY) Ou o fenó tipo? (Ela continua XY) Ou o fenó--tipo? (Ela tem seios, quadril, rosto, tipo? (Ela tem seios, quadril, rosto, vagina, toda a compleição física de vagina, toda a compleição física de uma mulher) Mas ela não pode ter uma mulher) Mas ela não pode ter lhos. E as mulheres que nascem lhos. E as mulheres que nascem ou cam estéreis? Não são mulhe ou cam estéreis? Não são mulhe--res? O que dene uma mulher? É a res? O que dene uma mulher? É a sua capacidade de reproduzir? Ou sua capacidade de reproduzir? Ou seja, num caso como esse, há seja, num caso como esse, há ar-gumentos físicos e biológicos para gumentos físicos e biológicos para armar que essa pessoa é do sexo armar que essa pessoa é do sexo masculino. E há argumentos físicos masculino. E há argumentos físicos e biológicos para armar que ela é e biológicos para armar que ela é do sexo feminino. No m de tudo, do sexo feminino. No m de tudo, percebemos que o sexo também percebemos que o sexo também não é um conceito tão denitivo as não é um conceito tão denitivo as--sim e pode ser tão relativo quanto sim e pode ser tão relativo quanto o conceito de gênero.

o conceito de gênero.

A Biologia, como todas as A Biologia, como todas as

ciên-cias, foi criada pelos seres

cias, foi criada pelos seres humanos,humanos, num determinado momento da num determinado momento da His-tória, num determinado tipo de tória, num determinado tipo de so-ciedade. Ela é, portanto, assim como ciedade. Ela é, portanto, assim como todas as outras ciências, relativa. todas as outras ciências, relativa.

No m, o que percebemos é que No m, o que percebemos é que os conceitos de sexo e gênero, os conceitos de sexo e gênero, ape-sar de distintos, são ambos relativos e sar de distintos, são ambos relativos e a percepção sobre eles irá mudar de a percepção sobre eles irá mudar de acordo com o momento histórico, a acordo com o momento histórico, a

cultura e a visão pessoal de cada um. cultura e a visão pessoal de cada um. Sobre a transexual, pense Sobre a transexual, pense ape-nas uma coisa: se você decidir que nas uma coisa: se você decidir que o sexo dela é masculino, vai fazer o sexo dela é masculino, vai fazer alguma diferença para você na sua alguma diferença para você na sua vida cotidiana? E para ela? Se você vida cotidiana? E para ela? Se você decidir que o sexo dela é feminino, decidir que o sexo dela é feminino, vai fazer alguma diferença para você vai fazer alguma diferença para você na sua vida cotidiana? E para ela? na sua vida cotidiana? E para ela?

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A cor de menino é azul e A cor de menino é azul e de me-de me-nina, rosa. Homem usa calça, nina, rosa. Homem usa calça, mu-lher usa saia. É o homem que tem lher usa saia. É o homem que tem que pagar a conta. Menina brinca que pagar a conta. Menina brinca de boneca, menino de carrinho. de boneca, menino de carrinho. Homens são mais brutos. Mulheres Homens são mais brutos. Mulheres mais delicadas. Estas são só mais delicadas. Estas são só algu-mas das idéias que existem, que mas das idéias que existem, que nós acreditamos e reproduzimos, nós acreditamos e reproduzimos, mas que a gente não faz idéia de mas que a gente não faz idéia de onde surgiram. Em que momento onde surgiram. Em que momento

da história se decidiu que azul era da história se decidiu que azul era cor de menino e rosa cor de cor de menino e rosa cor de meni-na? Você sabe? Ninguém sabe, mas na? Você sabe? Ninguém sabe, mas nós agimos como se isso fosse a nós agimos como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo. Basta coisa mais óbvia do mundo. Basta esticar um pouco o olhar sobre esticar um pouco o olhar sobre ou-tros povos ou sobre a

tros povos ou sobre a nossa próprianossa própria história para que a gente perceba história para que a gente perceba como esses conceitos são relativos. como esses conceitos são relativos. E, se são relativos, eles podem ser E, se são relativos, eles podem ser transformados...

transformados...

Os seres humanos não são Os seres humanos não são com-pletos em si mesmos, e buscam pletos em si mesmos, e buscam prazer em muitas fontes externas prazer em muitas fontes externas – a gente viaja, come, trabalha, – a gente viaja, come, trabalha, estuda, vê lmes, tem lhos... O estuda, vê lmes, tem lhos... O porquê das pessoas terem porquê das pessoas terem vonta-des tão variadas e as diferenças des tão variadas e as diferenças na sua realização é um complexo na sua realização é um complexo que combina elementos culturais, que combina elementos culturais, biológicos e sociais. A ciência biológicos e sociais. A ciência ain-da não dá conta dessas respostas. da não dá conta dessas respostas. Esses sentimentos são direcionados Esses sentimentos são direcionados a um objeto externo a si

a um objeto externo a si mesmo, emesmo, e não dizem respeito ao que a pessoa não dizem respeito ao que a pessoa é ou o que ela faz, mas é uma é ou o que ela faz, mas é uma von-tade subjetiva.

tade subjetiva.

Uma das formas de Uma das formas de encontrar-mos prazer e completude nas mos prazer e completude nas nos-sas vidas é o amor e o sexo. O sas vidas é o amor e o sexo. O de-sejo, nesse caso, é pelo

sejo, nesse caso, é pelo outro. Paraoutro. Para dar um nome acadêmico, a gente dar um nome acadêmico, a gente

chama esse desejo de orientação chama esse desejo de orientação sexual e afetiva. A partir de um sexual e afetiva. A partir de um de-terminado momento, começamos terminado momento, começamos a criar categorias que tentassem a criar categorias que tentassem classicar a enorme diversidade classicar a enorme diversidade desses desejos.

desses desejos.

O termo orientação sexual O termo orientação sexual (ago-ra acrescido da expressão afetiva) ra acrescido da expressão afetiva) é usado com uma innidade de é usado com uma innidade de sig sig--nicados – até mesmo com o senti nicados – até mesmo com o senti--do de educação sexual. Aqui vamos do de educação sexual. Aqui vamos trabalhar com este conceito signi trabalhar com este conceito signi--cando a atração, o desejo sexual e cando a atração, o desejo sexual e afetivo que uma pessoa sente por afetivo que uma pessoa sente por outras. Para montar as outras. Para montar as “catego-rias” nós vamos nos basear no rias” nós vamos nos basear no gê-nero e não no sexo, no

nero e não no sexo, no papel socialpapel social interpretado e não na genitália. interpretado e não na genitália.

Assim podemos dividir as Assim podemos dividir as orien-tações (se é que isso é possível de tações (se é que isso é possível de fato) basicamente em:

fato) basicamente em:

O

(8)

A cor de menino é azul e A cor de menino é azul e de me-de me-nina, rosa. Homem usa calça, nina, rosa. Homem usa calça, mu-lher usa saia. É o homem que tem lher usa saia. É o homem que tem que pagar a conta. Menina brinca que pagar a conta. Menina brinca de boneca, menino de carrinho. de boneca, menino de carrinho. Homens são mais brutos. Mulheres Homens são mais brutos. Mulheres mais delicadas. Estas são só mais delicadas. Estas são só algu-mas das idéias que existem, que mas das idéias que existem, que nós acreditamos e reproduzimos, nós acreditamos e reproduzimos, mas que a gente não faz idéia de mas que a gente não faz idéia de onde surgiram. Em que momento onde surgiram. Em que momento

da história se decidiu que azul era da história se decidiu que azul era cor de menino e rosa cor de cor de menino e rosa cor de meni-na? Você sabe? Ninguém sabe, mas na? Você sabe? Ninguém sabe, mas nós agimos como se isso fosse a nós agimos como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo. Basta coisa mais óbvia do mundo. Basta esticar um pouco o olhar sobre esticar um pouco o olhar sobre ou-tros povos ou sobre a

tros povos ou sobre a nossa próprianossa própria história para que a gente perceba história para que a gente perceba como esses conceitos são relativos. como esses conceitos são relativos. E, se são relativos, eles podem ser E, se são relativos, eles podem ser transformados...

transformados...

Os seres humanos não são Os seres humanos não são com-pletos em si mesmos, e buscam pletos em si mesmos, e buscam prazer em muitas fontes externas prazer em muitas fontes externas – a gente viaja, come, trabalha, – a gente viaja, come, trabalha, estuda, vê lmes, tem lhos... O estuda, vê lmes, tem lhos... O porquê das pessoas terem porquê das pessoas terem vonta-des tão variadas e as diferenças des tão variadas e as diferenças na sua realização é um complexo na sua realização é um complexo que combina elementos culturais, que combina elementos culturais, biológicos e sociais. A ciência biológicos e sociais. A ciência ain-da não dá conta dessas respostas. da não dá conta dessas respostas. Esses sentimentos são direcionados Esses sentimentos são direcionados a um objeto externo a si

a um objeto externo a si mesmo, emesmo, e não dizem respeito ao que a pessoa não dizem respeito ao que a pessoa é ou o que ela faz, mas é uma é ou o que ela faz, mas é uma von-tade subjetiva.

tade subjetiva.

Uma das formas de Uma das formas de encontrar-mos prazer e completude nas mos prazer e completude nas nos-sas vidas é o amor e o sexo. O sas vidas é o amor e o sexo. O de-sejo, nesse caso, é pelo

sejo, nesse caso, é pelo outro. Paraoutro. Para dar um nome acadêmico, a gente dar um nome acadêmico, a gente

chama esse desejo de orientação chama esse desejo de orientação sexual e afetiva. A partir de um sexual e afetiva. A partir de um de-terminado momento, começamos terminado momento, começamos a criar categorias que tentassem a criar categorias que tentassem classicar a enorme diversidade classicar a enorme diversidade desses desejos.

desses desejos.

O termo orientação sexual O termo orientação sexual (ago-ra acrescido da expressão afetiva) ra acrescido da expressão afetiva) é usado com uma innidade de é usado com uma innidade de sig sig--nicados – até mesmo com o senti nicados – até mesmo com o senti--do de educação sexual. Aqui vamos do de educação sexual. Aqui vamos trabalhar com este conceito signi trabalhar com este conceito signi--cando a atração, o desejo sexual e cando a atração, o desejo sexual e afetivo que uma pessoa sente por afetivo que uma pessoa sente por outras. Para montar as outras. Para montar as “catego-rias” nós vamos nos basear no rias” nós vamos nos basear no gê-nero e não no sexo, no

nero e não no sexo, no papel socialpapel social interpretado e não na genitália. interpretado e não na genitália.

Assim podemos dividir as Assim podemos dividir as orien-tações (se é que isso é possível de tações (se é que isso é possível de fato) basicamente em:

fato) basicamente em:

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Outro conceito importante para Outro conceito importante para começarmos a entender toda essa começarmos a entender toda essa história é o de identidade sexual. história é o de identidade sexual. Cada um de nós possui uma Cada um de nós possui uma diver-sidade de identidades: prossional, sidade de identidades: prossional, religiosa, étnica, racial, familiar religiosa, étnica, racial, familiar e, dentre tantas, uma identidade e, dentre tantas, uma identidade sexual. Diferente da orientação sexual. Diferente da orientação sexual e afetiva, que está sexual e afetiva, que está direta-mente relacionada ao meu desejo mente relacionada ao meu desejo

pelo outro, a identidade sexual tem pelo outro, a identidade sexual tem a ver com como eu

a ver com como eu me coloco dian-me coloco dian-te da sociedade, com quais grupos, te da sociedade, com quais grupos, representações e imagens eu me representações e imagens eu me identico e me reconheço. identico e me reconheço.

Claro que a nossa cultura, ávida Claro que a nossa cultura, ávida por classicações, foi, ao longo dos por classicações, foi, ao longo dos tempos, em especial das últimas dé tempos, em especial das últimas dé--cadas, criando identidades sexuais. cadas, criando identidades sexuais. Algumas das mais conhecidas são: Algumas das mais conhecidas são:

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Essas categorias, assim como

Essas categorias, assim como to-das as classicações, não dá conta das as classicações, não dá conta da enorme diversidade humana. Se da enorme diversidade humana. Se pensarmos no campo do desejo pensarmos no campo do desejo se-xual e afetivo, provavelmente um xual e afetivo, provavelmente um heterossexual é tão diferente de heterossexual é tão diferente de um homossexual quanto de outro um homossexual quanto de outro hetero. Para viajar um pouco mais, hetero. Para viajar um pouco mais, podemos então pensar que existem podemos então pensar que existem

heterossexualidades, heterossexualidades, homossexu-alidades, etc. Ou que talvez o alidades, etc. Ou que talvez o de-sejo humano possa ser como um sejo humano possa ser como um gradiente, que vai da gradiente, que vai da homossexua-lidade absoluta à heterossexualida lidade absoluta à heterossexualida--de absoluta (com a bissexualidaheterossexualida--de de absoluta (com a bissexualidade absoluta exatamente no meio). A absoluta exatamente no meio). A maioria de nós estaria em algum maioria de nós estaria em algum lugar dentro deste

lugar dentro destedegradêdegradê..

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O mais importante aqui é que a gente consiga diferenciar na nossa cabeça O mais importante aqui é que a gente consiga diferenciar na nossa cabeça o que são esses quatro conceitos: SEXO / GÊNERO / ORIENTAÇÃO SEXUAL E o que são esses quatro conceitos: SEXO / GÊNERO / ORIENTAÇÃO SEXUAL E AFETIV

AFETIVA / IDENTIDADE SEXUAL. A maioria de nós, desde A / IDENTIDADE SEXUAL. A maioria de nós, desde criança foi ensinadacriança foi ensinada que só existiam duas possibilidade de combinações aí: SEXO: MASCULINO + que só existiam duas possibilidade de combinações aí: SEXO: MASCULINO + GÊNERO: MASCULINO + ORIENTAÇÃO: HETERO + IDENTIDADE: HOMEM HETERO GÊNERO: MASCULINO + ORIENTAÇÃO: HETERO + IDENTIDADE: HOMEM HETERO ou SEXO: FEMININO +

ou SEXO: FEMININO + GÊNERO: FEMININO + ORIENTAÇÃO: HETERO + IDENTIDA-GÊNERO: FEMININO + ORIENTAÇÃO: HETERO + IDENTIDA-DE: MULHER HETERO

DE: MULHER HETERO

Mas as coisas não são tão simples assim – para o

Mas as coisas não são tão simples assim – para o desespero de alguns e paradesespero de alguns e para a felicidade de muitos. Assim, diferentes seres humanos foram inventando a felicidade de muitos. Assim, diferentes seres humanos foram inventando diferentes formas de combinar todas essas

diferentes formas de combinar todas essas experiências.experiências.

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Estas identidades não têm a ver só Estas identidades não têm a ver só com a atração sexual e afetiva, mas, com a atração sexual e afetiva, mas, mais do que isso, têm a ver com um mais do que isso, têm a ver com um jeito de ser, de se sentir, de vivenciar jeito de ser, de se sentir, de vivenciar o seu afeto, com o compartilhamento o seu afeto, com o compartilhamento de uma determinada cultura, música, de uma determinada cultura, música, lugares de encontro, até mesmo com lugares de encontro, até mesmo com uma

uma atitude atitude política.política.

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Ao longo destes textos você vai Ao longo destes textos você vai poder perceber que nós sempre poder perceber que nós sempre usa-remos a palavra homossexualidade, remos a palavra homossexualidade, ao invés de homossexualismo. O ao invés de homossexualismo. O su-xo ISMO é de origem grega e car xo ISMO é de origem grega e car--rega dois sentidos principais: a idéia rega dois sentidos principais: a idéia de uma doutrina, seita ou conjunto de uma doutrina, seita ou conjunto de idéias (Cristianismo, Judaísmo, de idéias (Cristianismo, Judaísmo, Marxismo) ou a idéia de doença Marxismo) ou a idéia de doença (ta-bagismo, alcoolismo, botulismo). Já bagismo, alcoolismo, botulismo). Já o suxo DADE traz um sentido de ex o suxo DADE traz um sentido de ex--pressão, manifestação humana pressão, manifestação humana (iden-tidade, felicidade, espontaneidade, tidade, felicidade, espontaneidade, sexualidade).

sexualidade).

Assim, o termo Assim, o termo homossexualis-mo carrega uma idéia conservadora mo carrega uma idéia conservadora que enxerga os homossexuais como que enxerga os homossexuais como doentes ou desviantes. Já a doentes ou desviantes. Já a pala-vra homossexualidade nos remete à vra homossexualidade nos remete à idéia de que ela é

idéia de que ela é apenas mais umaapenas mais uma

expressão da sexualidade ou da expressão da sexualidade ou da identidade humana.

identidade humana.

O termo homossexualismo foi O termo homossexualismo foi cria-do no nal cria-do século

do no nal do século XIX por médicos,XIX por médicos, como a classicação de uma doença. como a classicação de uma doença. Nas últimas décadas do século XX, Nas últimas décadas do século XX, os códigos de doenças (CID-X e DSM os códigos de doenças (CID-X e DSM IV) retiraram a homossexualidade IV) retiraram a homossexualidade de suas classicações e, em 1990, a de suas classicações e, em 1990, a Organização Mundial de Saúde (OMS) Organização Mundial de Saúde (OMS) aboliu a homossexualidade como aboliu a homossexualidade como do-ença de todas suas listas. Além ença de todas suas listas. Além dis-so, em 2001 o Conselho Federal de so, em 2001 o Conselho Federal de Psicologia do Brasil proibiu todos os Psicologia do Brasil proibiu todos os prossionais da área de realizarem prossionais da área de realizarem qualquer tratamento que vise uma qualquer tratamento que vise uma possível “cura” da possível “cura” da homossexualida-de, visto que não é uma doença. O de, visto que não é uma doença. O prossional que faça isso pode até prossional que faça isso pode até mesmo ter seu registro cassado. mesmo ter seu registro cassado.

Referências

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